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Hipólito Reis
Fisiologia cardíaca e cardio-circulatória
- Revisão da anatomia do coração e grandes vasos. Actividade eléctrica cardíaca. Potencial de membrana. Condução nas fibras
musculares cardíacas. Excitabilidade da célula cardíaca. Sistema de condução cardíaco. Electrocardiografia. Músculo cardíaco.
Ciclo cardíaco.
-- Regulação da frequência cardíaca e da tensão arterial. Influência do sistema nervoso sobre o coração. Regulação da função
miocárdica. Função cardíaca sistólica e diastólica. Débito cardíaco e factores de regulação. Circulação coronária.
Fisiopatologia da isquemia do miocárdio. Treino e adaptação cardiovascular ao esforço.
Bibliografia
Hipólito Reis
29/05/2009
Fisiologia cardíaca e cardio-circulatória
Sumário
- Introdução
- Potencial de membrana.
- Electrocardiografia.
- Músculo cardíaco.
- Ciclo cardíaco.
Fisiologia cardíaca e cardio-circulatória
Introdução
Coração órgão altamente sofisticado / apesar do baixo peso ( ≈ 300 g) e tamanho é capaz de
desempenhar um trabalho especializado durante as 24 horas do dia, ano após ano.
• 100.000 batimentos/dia
Funções
Introdução
• defesa
Composição
• coração (bomba)
• vasos arteriais (tubos de condução e distribuição do sangue aos tecidos, mantendo a pressão
intravascular e o fluxo adequada)
• capilares (sistema extenso de vasos finos que permitem trocas rápidas de substâncias sólidas,
líquidas e gasosas entre o compartimento vascular e as células dos tecidos)
• sistema linfático (via acessória pelo qual pode fluir líquido do espaço intersticial para o sangue;
pode transportar proteínas e grandes partículas)
Sistema cardiovascular
Composição
• endotélio – camada que reveste a parte interna, participa do controle do tónus muscular e
separa o sangue dos demais constituintes
• veias – paredes delgadas em relação ao calibre interno, com quantidades semelhantes de tecido
muscular e conjuntivo, distensíveis quando vazias e semi-cheias e rígidas quando distendidas
• capilares – constituídos somente por endotélio (paredes não elásticas), com raio fixo
Sistema cardiovascular
Vasos sanguíneos
• características histológicas:
Capilares
2 bombas em série:
Fluxo de sangue:
• contínuo para os tecidos periféricos – apesar do débito cardíaco ser intermitente; propriedade de
Vertebra
Aorta
Esófago
coração
Esterno
Anatomia do coração e grandes vasos
Coração
Aorta
Aurícula esquerda
Válvula tricúspide
Válvula mitral
Ventrículo esquerdo
Septo interventricular
Aorta
Artérias pulmonares
Veia cava superior
Veias pulmonares
Aurícula esquerda
Aorta
Veia cava superior
Artérias pulmonares
Veias pulmonares
Aurícula esquerda
Ventrículo esquerdo
Ventrículo direito
Anatomia do coração e grandes vasos
Pericárdio
Pericárdio
Pericárdio
Pericárdio
• serosa constituído por dupla membrana (visceral e parietal)
• assegura a posição apropriada do coração no tórax
• tem funções de protecção
• segrega um líquido lubrificante que previne a fricção entre as 2 camadas, permitindo o suave
deslizamento das paredes do órgão durante e seu funcionamento mecânico.
Anatomia do coração e grandes vasos
Pericárdio parietal
Pericárdio visceral
Anatomia do coração e grandes vasos
Artéria circunflexa
Seio coronário
Coronária direita
Artéria descendente anterior
Tronco comum
Anatomia do coração e grandes vasos
Artérias coronárias
Coronária direita
Anatomia do coração e grandes vasos
Artérias coronárias
Coronária esquerda
Aurícula direita
Apêndice auricular
Septo interauricular
Válvula tricúspide
Ventrículo direito
Artéria pulmonar
Válvula pulmonar
Apêndice auricular
Válvula tricúspide
Anatomia do coração e grandes vasos
Ventrículo esquerdo
Aorta
Apêndice auricular
Veiaspulmonares
Ápex ventrículo esquerdo
Válvula mitral
Anatomia do coração e grandes vasos
Válvulas cardíacas
Diástole Sístole
Válvula mitral
Válvula tricúspide
Anatomia do coração e grandes vasos
Cavidades cardíacas
Aurícula esquerda
Aurícula direita
Ventrículo esquerdo
Ventrículo direito
Anatomia do coração e grandes vasos
Enervação do coração
Coração – estrutura ricamente enervada sob influência reguladora do SNC, permitindo uma
adaptação rápida e contínua às diferentes necessidades do fluxo sanguíneo ao organismo
Enervação do coração
• Controle automático
• existe também alguma influência exercida por hormonas circulantes e enzimas (controle mais
lento).
• A informação é colectada por células nervosas especiais que têm receptores sensíveis a diferentes
tipos de estímulo.
• Condução dos estímulos ao SNC por vias nervosas sensitivas (vias aferentes).
• O SNC (cérebro e medula) processa a informação, transmitindo depois sinais de resposta através de
vias eferentes para os músculos e glândulas.
Anatomia do coração e grandes vasos
Enervação do coração
Constituição
proteína
Membrana celular
Constituição
Membrana celular
• Difusão passiva
• Difusão “facilitada”
• Transporte activo
• Endocitose e exocitose
• Transporte epitelial
Membrana celular
• Lipossolubilidade
Na+
• Tamanho da molécula
• Difusão
• Canais
• Carga eléctrica
K+
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de repouso
Gradiente de concentração
• este estímulo leva à despolarização da membrana e se neste processo o potencial de membrana atinge
um determinado limiar gera-se um potencial de acção.
• os potenciais de acção normais são sempre idênticos na forma e na amplitude (norma de tudo ou nada).
• os canais iónicos são macromoléculas que formam poros na membrana celular – são vias de baixa
resistência à condução dos iões (Na+, K+, Ca2+ e Cl-); a sua abertura ou encerramento depende das
condições eléctricas da membrana.
• Alteração do potencial durante o potencial de acção é devida ao fluxo transmembrana de vários iões:
Na+, K+ e Ca2+.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
• Potencial da acção alteração do potencial de membrana desencadeado sempre que um estímulo tem
intensidade suficiente para atingir um limiar de excitação.
Potencial de acção
• Deve-se à difusão dos iões de K+ para fora do espaço intracelular seguindo o gradiente de concentração.
• Processo passivo (não é necessário dispêndio de energia para manter um potencial de difusão).
Potencial de acção
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
5 fases:
Potencial de acção
• o potencial de membrana altera-se e ao atingir o limiar de excitação (-70 a –65 mV) desencadeia a
abertura explosiva dos “canais rápidos de Na+”.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
• o influxo de Na+ para dentro da célula, inverte rapidamente a distribuição de cargas em relação à
membrana, tornando o espaço intracelular positivo em relação ao extracelular – potencial de membrana
atinge valores de +20 a +35 mV.
• após a espícula inicial do potencial de acção ocorre um rápido período de repolarização com o potencial
de membrana a atingir valores próximos de 0 mV.
• esta fase ocorre pela inactivação da corrente rápida de Na+ e pela saída de K+.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
Fase 2 – plateau
• período em que a membrana permanece despolarizada por 0,2 a 0,3 seg., criando um plateau
(característica do potencial de acção do músculo cardíaco); ao mesmo tempo o fluxo de K+ para fora da
célula aumenta e inicia-se um influxo de Ca2+ para dentro da célula - estas duas corrente de iões
equivalem-se mantendo o potencial de membrana +/- constante.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
Fase 3 – repolarização
• com o encerramento dos canais lento de Ca2+ e com a restauração da alta permeabilidade ao K+ (a
corrente de K+ predomina), inicia-se um período de repolarização rápida (duração aproximada de 50 ms) -
durante esta fase a célula miocárdica retorna ao seu potencial de repouso.
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de acção
Fase 4 – repouso
• o Na+ acumulado no espaço intra-celular nas fases 0 e 2 é trocado pelo K+ extracelular que deixou as
células nas fases 2 e 3 pela actividade da bomba Na+ - K+ - ATPase.
• são eliminados 3 iões Na+ por cada 2 K+ recapturados, criando uma corrente de perda de cargas
positivas como resultado o potencial intracelular negativo é restabelecido e a membrana repolariza-se
voltando ao potencial de repouso da membrana.
• este potencial de acção descrito é encontrado nas células de músculo cardíaco contráctil e nas células
de Purkinje, conhecidas com células de resposta rápida.
Actividade eléctrica cardíaca
Repolarização
Potencial
de acção
ventricular
Actividade eléctrica cardíaca
1. A voltagem negativa máxima das células especializadas (células “pacemaker”) é menor (-60 mV) que as células
musculares auriculares e ventriculares (-90 mV).
- o potencial transmembrana menos negativo causa inactivação dos canais de Na+
2. Fase 4 não é estável: depende da entrada de iões Na+, mas por canais diferentes dos canais “rápidos” de Na+
da fase 0 das células musculares.
Aos – 40 mV (limiar) abrem-se os canais “lentos” de Ca++.
3. Despolarização (fase 0) menos rápida e menor amplitude (os canais “rápidos” de Na + estão inactivados).
Actividade eléctrica cardíaca
Repolarização
A repolarização das células contrácteis e das células “especializadas” (células pacemaker e células de
condução) é semelhante:
• Automaticidade
• Excitabilidade
• Condução
• Refractoriedade
Actividade eléctrica cardíaca
Automaticidade
Excitabilidade
Condução
• capacidade de propagação do estímulo eléctrico, gerado num determinado local, ao longo de todo o
orgão.
Despolarização
Nó sinusal
Músculo auricular
Nó AV
Fibras de Purkinje
Músculo ventricular
Despolarização
Actividade eléctrica cardíaca
Refractoriedade
• é a propriedade da célula cardíaca que define o período de recuperação necessário para haver nova
excitação das células cardíacas por um estímulo
• período refractário:
• absoluto
• efectivo
• relativo
• período supranormal
Repolarização
Período Refractário
Repolarização
Período Refractário
1. A duração do potencial de acção das células cardíacas é muito maior que nas células musculares esqueléticas.
Isto determina um período refractário prolongado, durante o qual o miocárdio não pode ser re-estimulado.
2. Este fenómeno é fisiologicamente importante porque:
• a) Permite que haja tempo para um preenchimento diastólico eficaz
• b) “Protege” o coração contra frequências cardíacas anormalmente elevadas
Actividade eléctrica cardíaca
Cardiomioplastia
Actividade eléctrica cardíaca
Potencial de
membrana
Contracção
Sistema de condução cardíaco
FEIXE DE HIS
NÓDULO SINUSAL
RAMO ESQUERDO
RAMO DIREITO
NÓDULO
AURÍCULO-VENTRICULAR
SISTEMA PURKINJE
Sistema de condução cardíaco
Nó sinusal
Fibras de Purkinge
Feixe de His
Sistema de condução cardíaco
Aorta
Artéria pulmonar
Aurícula esquerda
Ventrículo esquerdo
Electrocardiografia básica
• Nó SA - início da despolarização
• Nó AV - lentifica a condução
Electrocardiografia básica
Electrocardiografia básica
Electrocardiografia
Electrocardiograma
• Electrocardiograma – gráfico obtido quando os potenciais de um campo eléctrico com origem no coração
são registados à superfície do organismo.
• Sinais – detectados por eléctrodos metálicos ligados aos membros e à parede torácica, sendo depois
amplificados e registados pelo electrocardiógrafo
Electrocardiografia
Electrocardiograma
1º electrocardiógrafo
Electrocardiografia
Electrocardiograma
1 mm = 0.1 mV
Papel electrocardiográfico
Triângulo de Eithoven
Electrocardiografia
Electrocardiografia básica
Electrocardiografia básica
ECG
ECG
Histologia básica
• Miocárdio – composto por células individuais de músculo estriado (fibras), normalmente com 10 a 15 μm de
diâmetro e de 30 a 60 μm de comprimento.
• cada fibra contém múltiplos filamentos com estrias transversais (miofibrilhas), que correm ao longo da
fibra e que são compostas de uma estrutura que se repete em série – sarcómero – unidade de contracção
estrutural e funcional.
• o citoplasma remanescente, situado entre as fibrilhas, contém outros constituintes celulares como o núcleo
Histologia básica
• Discos intercalares
Estrutura do sarcómero
Proteínas contrácteis
Músculo cardíaco
Histologia básica
Membrana celular
Sistema Tubular
Reticulo sarcoplásmico
Cisterna lateral
Mitocondria
Disco intercalar
Capilar
NÚCLEO
Linha Z
Eritrócito
Miofibrilha
Músculo cardíaco
Histologia básica
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Sístole
Contracção isométrica
isovolumétrica
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Sístole Diástole
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
Normal
EJECÇÃO
Sístole
PRESSÃO
ISOVOLUMÉTRICA ISOVOLUMÉTRICA
Relaxamento Sístole
VOLUME
Ciclo cardíaco
Ciclo cardíaco
• Ciclo cardíaco – corresponde ao período compreendido entre um determinado fenómeno e a sua repetição
no ciclo seguinte (período de diástole e sístole cardíacas com intervalos intercalados).
• três eventos interdependentes, mas não simultâneos, possibilitam o ciclo cardíaco: 1) a despolarização
celular; 2) a contração miocárdica, que constituirá o ciclo fisiológico; e 3) o movimento cinético do sangue e
das valvas cardíacas que compõe o ciclo cardíaco propriamente dito. Apenas este último é o que determina
o que estudamos como ciclo cardíaco. Assim devemos compreender que os eventos contrácteis, são
precedidos dos eventos de excitação elétrica e, por sua vez, os eventos hemodinâmicos sucedem os
eventos contrateis.
• os fenómenos nas cavidades direitas são qualitativamente semelhantes; a diferença entre os 2 lados do
coração manifesta-se apenas por:
Contracção isovolumétrica
Contracção isovolumétrica
• como a válvula aórtica também está encerrada o volume intraventricular mantém-se constante.
Fase de ejecção
Fase de ejecção
Fase de ejecção
Fase de ejecção
• a inversão do gradiente de pressão VE/Ao na presença de um fluxo sanguíneo contínuo do VE para a aorta
(provocado pelo movimento do fluxo) fica a dever-se ao armazenamento de energia potencial nas paredes
estiradas das artérias o que provoca uma diminuição da velocidade de fluxo.
• o pico da curva de fluxo coincide com o ponto de inversão dos gradientes de pressão – a curva de pressão
aórtica intersecta a curva de pressão ventricular.
• a manutenção deste gradiente de pressão invertido faz com que o fluxo aórtico continue a diminuir durante a
fase de ejecção lenta.
Ciclo cardíaco
Fase de ejecção
Fase de ejecção
• são os pequenos eixos ventriculares (antero-posterior e septo-lateral) que diminuem mais durante a ejecção
25% (80 – 90% do volume de ejecção) / grande eixo ventricular 9%.
• a pressão auricular diminuiu imediatamente após o início da ejecção ventricular em virtude da descida da base
ventricular e do consequente estiramento das aurículas.
• durante o restante tempo da fase de ejecção a pressão auricular aumenta progressivamente à medida que o
sangue retorna às aurículas.
• no final da fase de ejecção um determinado volume de sangue permanece na cavidade ventricular esquerda
(volume residual).
Ciclo cardíaco
Relaxamento isovolumétrico
Relaxamento isovolumétrico
• caracteriza-se por uma queda acentuada da pressão ventricular sem alterações concomitantes do volume.
• o encerramento da válvula aórtica origina a incisura no ramo descendente da curva de pressão aórtica e
algumas vibrações na curva de pressão auricular.
• a pressão auricular continua a aumentar durante esta fase dando origem à onda “V”.
Ciclo cardíaco
• inicia-se com a abertura da válvula mitral quando a pressão no ventrículo esquerdo se torna inferior à pressão
na aurícula esquerda, sendo responsável pela maior parte do enchimento ventricular.
• durante a fase inicial desta fase a pressão no ventrículo diminuiu apesar do volume aumentar.
• isto é devido relaxamento miocárdio ainda em curso e ao recuo elástico da contracção que o precede
(fenómeno fisiológico conhecido por sucção ventricular).
Diástole
Diástole
• durante este período as pressões auriculares e ventriculares são praticamente iguais diminuição acentuada
do fluxo aurículo-ventricular.
• o fluxo que subsiste deve-se à energia cinética criada pelo retorno venoso da circulação sistémica no caso do
ventrículo direito e da circulação pulmonar no caso do ventrículo esquerdo.
• este aumento relativamente lento do volume ventricular determina um aumento igualmente lento das pressões
auricular e venticular.
Ciclo cardíaco
Contracção auricular
Contracção auricular
• apesar de não existirem válvulas na junção das veias cavas com a aurícula direita, nem na junção das veias
pulmonares com a aurícula esquerda, a maior parte do sangue é bombeado, em condições normais para os
ventrículos, uma vez que a inércia provocada pelo retorno venoso opõe-se ao movimento retrógrado do sangue
para as veias cavas ou pulmonares.
• em condições basais a contracção auricular não é indispensável ao enchimento ventricular; pode assumir, no
entanto, crucial importância em condições patológicas e durante o exercício; manifesta-se pela onda “a”na
curva de pressão auricular.