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Quer ser
tatuado
pelo Led’s?
saiba como na página 105

ANO II r Nº 9 r 2009
C
Caetano
CAETANO O’MAIHLAN

O’Maihlan
M

É ele quem dá as cartas.


CM

MY

CY

CMY

“Não me sinto
PECADOR”
K

Internacional
Análise do mercado
editorial gay em
Londres
ISSN 1982-9558

R$ 13,90
C 7.00
$ 22,00

9
Sem título-2 2 8/12/2008, 12:48
Sem título-2 3 8/12/2008, 12:49
EDITORIAL
ANO II r Nº 9 r 2009

N
o mês de junho, a AIMÉ aproveitou para lançar uma edição
comemorativa do Mês do Orgulho Gay. Dentre as reportagens
relacionadas, teve destaque a matéria “Que Parada é essa?”. Nela,
falamos sobre a importância do evento que se tornou a maior
parada LGBT do mundo e, ainda, mostramos como foram as preparações (o
chamado bastidor).
Mesmo com retornos positivos, os meses subsequentes à edição não
foram somente de festa. Os casos de agressão – e até mesmo morte – que
marcaram a parada inquietaram a redação da AIMÉ. E foi então que decidi-
mos tratar de um assunto que, mesmo em tempos modernos, parece não se
transformar: o preconceito.
Nesta edição, a repórter Lívia Velasco, na matéria “A pior forma de mani-
festação: o preconceito”, mostra como concepções equivocadas podem
levar a situações extremas. Também expõe a maneira como a homossexuali-
dade é encarada em outro país. Será o preconceito maior no Brasil?
Fernanda Faria, na reportagem “O sonho de ser pai”, trata de outro tema
delicado: a vontade de muitos homossexuais de ter filhos. Essa decisão, que
deveria ser pessoal ou resolvida entre quatro paredes, não foge aos julga-
mentos preestabelecidos. A sociedade ainda não está preparada para o
conceito de diversidade familiar.
Na Seção Comportamento, revelamos de que forma a discriminação
afeta o atendimento ao homossexual. Segundo pesquisa realizada durante
uma das paradas de São Paulo, 50% dos jovens gays afirmaram evitar uni-
dades de saúde, o que dificulta o diagnóstico precoce de doenças.
Não por acaso, a experiente jornalista Isabel Vasconcellos inaugura sua
coluna na AIMÉ com o seguinte tema: “O preconceito dissimulado”. Nas
próximas edições, Isabel focará outros tantos assuntos que fogem da abor-
dagem da mídia.
Com essas e outras reportagens, a AIMÉ privilegia o espaço para debates
com a esperança de que estes resultem em transformações. Assim, quem
sabe chegue um momento em que ninguém mais se lembre do que um dia
foi o preconceito.

Boa leitura!

Ana Maria Sodré

AIMÉ
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A mente humana anda as voltas com o medo, violência, insônia, depressão e cada vez mais com baixa estima. As químicas artificiais
não alcançam os resultados esperados, e uma grande parte da sociedade trabalha com dor. Mais e mais pessoas estão doentes, isto é, as
forças vitais em desarmonia provocam alteração da química natural da pessoa. As células aceleram ou diminuem sua produção energéti-
ca, sendo necessário ingerir a química artificial, intoxicando a corrente sanguínea, advindo novas patologias.
Na Clinica Luz e Paz, é possível recuperar esse manancial energético, necessário para a saúde manifestar-se, que apenas está
latente dentro de você.
Venha conhecer como obter harmonia, paz, amor e dignidade. Sentirás através do tratamento, o equilíbrio físico, mental, emocional
e espiritual. Obterás a combinação especial entre a consciência cientifica e mística, fora do âmbito religioso.
A Clinica Luz e Paz faz um trabalho conjunto com o IRELP – Instituto de Recuperação Energética Luz e Paz, que tem como objetivo,
“O despertar da consciência por meio da Técnica Terapêutica Reiki, equilibrando a energia do ser humano e ao seu redor, gerando alegria,
amor, luz e paz interior”. Esse trabalho tem a função de angariar fundos para a construção do Instituto e lar para crianças abandonadas,
onde serão educadas e tratadas por mestres formados nessa instituição, capacitado-os para serem humanos solidários, com equilíbrio
emocional, mental, espiritual e físico. Formando um futuro construtivo com mentes elevada, unidas com o Universo.

Terapia em grupo Terapia Individual


CURSOS: Através da Clinica Lua e Paz realizamos tratamentos individuais
REIKI I “O Despertar” com uso das técnicas a seguir:
“Uma experiência de auto-libertação” Reiki
Alinhamento de Chakras
REIKI II “Transformação” Reflexologia
“É um processo que permite a participação do Universo na vida AMMA / Shiatsu
do indivíduo”. Massagem Interativa
Massagem de Recuperação da medicina chinesa
REIKI III “Realização” (Tui Na e Tui Na ortopédico)
“Realização significa ser integral (Holístico – Todo)”. Meditação conduzida
Conscientização energética
MESTRADO EM REIKI “Consciência de Luz”
“Ninguém cura outra pessoa, apenas a ajuda curar a si mesma, Obtenção de cura e melhora nos seguintes casos:
infundindo-lhe uma carga energética”. Síndrome do pânico
Estado de coma
Infantil “REIKI I para as crianças de 10 a 13 anos”. Depressão / Câncer
Todos os cursos são terapêuticos, eliminam o estresse, ­ Debilitados fisicamente
depressão e ativa os órgãos, sistema nervoso e une o ser Cardiopatias
com a Energia Universal. Estabilização do sistema imunológico (H.I.V.)
Recuperação de maus hábitos e vícios
EMPRESAS “Energia, mente e prosperidade” Equilíbrio Emocional
“Integração da equipe empresarial para um maior rendimento, Clareza de Pensamentos
união, compromisso e ação saudável”. Saúde Física / Força Espiritual

Rua Luís Antonio Rodrigues, 150 - 06503-112


Itaim Mirim - Santana do Parnaíba - SP
Tel: 11 4154-7002 - Cel: 11 8196-3449
www.irelp.com.br
contato@irelp.com.br

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ANO II r Nº 9 r 2009
colaboradores

Márcio Delgado Internacional Felipe Teram Teatro


Fernanda Faria Especial Natalia Barenha Literatura e Cinema Isabel Vasconcellos Opinião
Joaquim Andrade Around Adriano Zanni Sexo
Léo Shehtman Decor Davi Dantas Ensaio de Capa

Lopso EDITORA
Lopso
Lívia Velasco Extra

EDITORA
Marco Túlio Neves Arte

E X P E D I E N T E

Lo p s o EDIT
ORA
Lopso
Issn: 1982-9558 Aimé é uma publicação bimestral da Editora Lopso Comunicação Ltda. Rua Vieira de Morais, 420 8º andar Campo Belo São Paulo (SP) CEP 04617-000 Tel. (11) 5096-2456.
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2456 Distribuição em Bancas: Fernando Chinaglia
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11 5096-2456 | 11 7734-4848 Números atrasados: A Editora Lopso atenderá aos pedidos, havendo disponibilidade em estoque, ao preço da edição atual, por intermédio de jornaleiros.

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C M Y CM MY CY CMY K
ANO II r Nº 9 r 2009
índice

10 variedades 20 literatura 42 entrevista


Inspiradas na experiência que tiveram na França, as Caio Fernando Abreu teve uma existência atribulada No banheiro feminino do restaurante, Albert troca as
psicólogas e parceiras de longa data na cozinha Elis pela constante necessidade de experiências novas e calças jeans, a camiseta e os tênis pelas extravagantes
Feldman e Maria Lyra conceberam o Ateliê no Escuro pelos sentimentos sempre à flor da pele. roupas e aos poucos Dindry aparece.
Gastronomia.

22 opinião 48 arte
14 música Foi quando o ser humano inventou a monogamia A avenida 23 de maio é um dos cenários escolhidos
Segundo a revista especializada em música NME, “os para a mulher que todos os problemas sexuais da pelo artista Eduardo Kobra para o projeto Muro das
La Roux são a grande sensação da música britânica humanidade começaram. Memórias.
do momento”.

24 decor 52 sexo
16 teatro Diferente da decoração de casas e apartamentos, Um gay bem resolvido, uma esposa desinformada
A Dama do Cabaré, retrata a boemia, os excessos e a no Barco Chacal tudo foi pensado em termos de e, no vértice principal da figura, um marido, pai de
malandragem do Rio de Janeiro dos anos 30. praticidade e buscou-se aproveitar o espaço. família, ávido por experiências sexuais com pessoas
do mesmo sexo.

18 cinema 30 capa
Três anos depois do sucesso mundial e controverso O modelo e ator Caetano O’Maihlan acredita que já 58 boys
do personagem Borat, Sacha Cohen vive um repórter está mais do que na hora de quebrar a barreira do Algumas páginas cheias de homens lindos e olhares
austríaco homossexual no filme Bruno. preconceito. sedutores.

AIMÉ
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66 luxo 84 comportamento 98 led’s
Depois de atrair a atenção da crítica especializada Segundo pesquisa feita durante a 12º Parada do As tatuagens conquistaram a pele de modelos,
e virar “queridinho” entre os habitués da Micasa, o Orgulho Gay, 82% dos LGBTT avaliam os serviços de patricinhas, modernosos, adolescentes e, como já era
arquiteto e designer Guilherme Torres comemora: a saúde como inadequados e só buscam assistência de se esperar, viraram figurinhas fáceis entre o público
icônica mesa JET feita com exclusividade para a loja médica em casos de urgência. gay – sempre atento a todas as tendências.
de Houssein Jarouche é só sucesso!

86 extra 102 around


“Nunca [sofri] nenhum tipo de agressão física. Mas Nova York: como aproveitar o verão na “capital do
70 especial já fui chamado de viadinho, pederasta e escória da mundo”.
Como realizar a vontade de ter filhos e ainda enfrentar sociedade.”
o preconceito tão evidente nos tempos modernos.
106 ensaio lúdico
90 internacional Ai, que ar bucólico!
74 sos Variedade de revistas para o público gay na Inglaterra
Maurício* era um incompreendido. Tinha alguns não atende a todos os gostos, até os de quem não tem
tão poucos hábitos que o isolavam até mesmo do dinheiro. 114 perdido e achado
mais simples convívio social. Garoto de praia!
Para se divertir, não poderia ser diferente, o garoto
92 ensaio indiano joga futebol e adora surfar!
76 moda Aproveitando a moda Índia, preparamos este ensaio
Nada de pretinho básico. Agora a vez é do branco. lindo. Are Baba!

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[variedades]

140Gay
Acompanhando a onda do
Twitter, a rede de relacionamento
Club Be Yourself criou o 140 Gay,
um microblog para a comunidade
GLBTT que permite a inserção de, no

Jantar à luz de velas, não! máximo, 140 caracteres.


Para ter acesso às publicações,
A moda é comer no escuro! basta se registrar e começar a
escrever e receber as novidades
Inspiradas na experiência que – são borrifadas essências florais e de seus amigos e de outros portais
tiveram na França, as psicólogas e outros estímulos sensoriais ao som cadastrados.
parceiras de longa data na cozinha de música ao vivo e as vendas são Quem quiser conhecer, o en-
Elis Feldman e Maria Lyra conceber- retiradas. Além do cardápio que dereço é http://140gay.com
am o Ateliê no Escuro Gastronomia, apresenta sabores e texturas varia-

Madonna
para oferecer uma vivência sensorial das, o ambiente também é pensado
diferente a partir de um novo con- para explorar o paladar, audição, tato
tato com o alimento. e olfato.

fora do
Na entrada do salão os partici- O Jantar no Escuro acontece em
pantes são vendados e acompanha- São Paulo, toda penúltima terça-feira

YouTube
dos para o jantar por um guia. De- do mês, no restaurante Capim Santo.
pois do jantar – com duas entradas, As inscrições são feitas pelo e-mail
um prato principal e uma sobremesa atelie@noescurogastronomia.com.br.

Madonna fora do YouTube

Campanha pelo casamento gay As gravadoras Universal Music,


Sony Music Entertainment e EMI
O estilista americano Marc Jacobs Music já renovaram o contrato com
lança camisetas com estampas em o YouTube para liberar o acesso a
prol do casamento homossexual. clipes de seus artistas, mas a War-
Com a frase “I pay my taxes. I want ner ainda discute os termos para a
my rights” – em português, “Eu pago renovação.
meus impostos. Eu quero meus dire- A primeira gravadora a comparti­
itos” –, o estilista faz campanha para lhar os videoclipes de seu hall de
a legalização da união entre pessoas artistas, como Madonna e Green Day,
do mesmo sexo. até agora não chegou a um acordo
As camisetas estão à venda nas sobre os termos financeiros com o
lojas da linha Marc by Marc Jacobs e site de vídeos.
custam US$ 24 (cerca de R$ 45,00). Enquanto isso, nada de clipes ofi-
ciais da estrela Madonna no YouTube.
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O ator Sérgio Abreu aparece nu sob as
lentes do fotógrafo Mauri Granado
Para divulgar sua carreira de
vocalista da Banda Projeto SA, que
fez um show intimista de estreia no
Teatro Galharufa, na Praça Roosevelt,
em São Paulo, o ator Sérgio Abreu
aparece nu em ensaio fotográfico.
Para o novo show, Sérgio compôs

Videogame para o duas canções: Cadê e Você.


Na televisão, Sérgio também
mundo gay se prepara para um novo desafio.
Para quem gosta de videogame, Depois de viver o galã romântico
a Rockstar Games, produtora do GTA Lucas na novela Revelação, do SBT,
IV (Grand Theft Auto), lança a versão Sérgio agora se prepara para entrar
gay do jogo. na segunda fase de Vende-se um Véu
Em The Ballad of Gay Tony o joga- de Noiva, na mesma emissora. No
dor será Luis Lopez, braço direito de folhetim de Janete Clair, adaptado
um dos empresários mais poderosos por Íris Abravanel, o ator vai interpre-
do “mundo gay” de Liberty City que tar Leonardo, um empresário bem-
já apareceu em outra versão do sucedido e mau caráter.
vi­deogame, mas como um persona-
gem secundário.
A versão gay será lançada para o
XBOX 360. Conselho Federal de Psicologia
aplica censura em psicóloga que
Consumo diz “curar” gays
de fibras em
versão stick O Conselho Federal de Psico-
logia decidiu aplicar uma censura
Em 2007, uma ONG de defesa dos
direitos de homossexuais, sediada
Com a correria da vida moderna, pública como punição à psicóloga em Nova Iguaçu, entrou com uma re­
comer bem e de forma saudável Rozângela Alves Justino, que ofere- presentação no Conselho Regional de
ficou cada vez mais difícil. Pensando cia terapia para que gays e lésbicas Psicologia do Rio de Janeiro pedindo
em solucionar tal problema, a Novar- deixassem de ser homossexuais. De a cassação do registro profissional
tis lançou o Benefiber Stick Sachet. O acordo com a decisão, ela infringiu da psicóloga. O conselho decidiu por
consumo regular de fibras, associado o Código de Ética da Psicologia uma censura pública. A psicóloga
a uma dieta equilibrada e a hábitos e uma resolução do conselho, de recorreu ao Conselho Federal de Psi-
de vida saudáveis, é fundamental 1999, segundo a qual a “homos- cologia, que manteve a punição.
para a garantia da saúde do intestino sexualidade não constitui doença, Rozângela Justino afirma que
e do bem-estar. Na versão stick, será nem distúrbio e nem perversão”. considera a homossexualidade um
possível manter os hábitos alimenta- Segundo o Conselho Federal de distúrbio, provocado principalmente
res e garantir o consumo diário de fi- Psicologia, Rozângela demonstrou por abusos e traumas sofridos
bras em quantidades suficientes para tratar a homossexualidade como durante a infância. Ela atua como
o organismo, misturando Benefiber a uma doença ao oferecer terapia psicóloga há 28 anos e diz ter “alivi-
sucos ou outros alimentos. para que gays passassem a ser ado o sofrimento” de vários homos-
Mais informações no site www. heterossexuais. sexuais.
benefiber.com.br
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Show
confirmado
A cantora inglesa Lily Allen confir-
mou dois shows no Brasil para o mês
de setembro.
Parte da turnê de lançamento
do álbum It’s Not Me, It’s You, as
apresentações serão nos dias 16,
no Via Funchal, em São Paulo, e 17,
na HSBC Arena, no Rio de Janeiro. A
cantora está na fase europeia dessa buns lançados pela EMI, e já alcançou
turnê. o topo das paradas radiofônicas com a
Seleção de Lily Allen esteve no País durante música de trabalho The Fear, incluída

elenco para o Festival Planeta Terra, em 2007. No na trilha da novela Caras e Bocas, da

seriado gay Brasil, a jovem artista teve seus ál- TV Globo.

O seriado gay Arouche by Night Mario Queiroz lança sua


está selecionando elenco para a coleção de underwear
produção da primeira temporada, O estilista Mario Queiroz, em parceria com a
que conterá 11 episódios de 40 empresa TKTS Underwear, lançou na edição de verão
minutos cada. O seriado contará a da São Paulo Fashion Week (SPFW) a coleção “Just
história de Robson, um adolescente for Mario Queiroz”. Ela se diferencia em formas,
gay de família humilde que resolve materiais, combinações de cores e estampas, e
sair de casa para morar com um apresenta desde cuecas caneladas, passando por
amigo de infância, o qual acaba se modelos confeccionados com malhas tecnológicas,
transformando em uma espécie de até as feitas de 100% algodão.
guru e irmão mais velho do rapaz. As estampas e as cores seguem a coleção “Verão
Na nova vida, Robson conhece e se 2009/10 Mario Queiroz”: os riscas de giz interrompidas
apaixona por Mauro, quarentão e e as miniorquídeas aparecem também no underwear.
soropositivo. Além das tradicionais peças em preto e branco,
Outros personagens também destacam-se as combinações inusitadas de cores,
se envolvem em conflitos afetivos – como amarelo, vermelho e azul.
como um casal gay que se vê frente
a frente com a realidade da traição
e da infidelidade conjugal, e um Campanha Não
professor de educação física he­ Homofobia será
terossexual e prestes a se casar que divulgada na TV
tem seu noivado rompido quando A campanha Não Homofobia, idealizada pelo
a noiva descobre que ele teria tido Grupo Arco-Íris de Conscientização LGBT, do Rio
uma experiência sexual com o irmão de Janeiro, ganhou um filme publicitário que será
dela. veiculado em emissoras como Sony, MTV, TV Cultura,
A proposta de Arouche by Night AXN e Animax.
é mostrar o universo gay e seus per- O vídeo, assinado pela agência de propaganda
sonagens como realmente são, sem Giacometti, de São Paulo, e cedido ao Grupo Arco-Íris,
crucificar o homossexual e também tem 30 segundos.A campanha Não Homofobia tem
sem transformá-lo em pobre coitado como objetivo colher assinaturas virtuais para a
ou em dono da verdade. aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC)
Mais informações no site www. nº 122/06, que criminaliza a homofobia no País.
arouchebynight.com.br Até o momento, o abaixo-assinado já contou com a O filme da campanha pode ser encontrado no
participação de 55.034 pessoas. site www.youtube.com
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[musica] Por Fernanda Faria

A potência de The Gossip é com certeza o hit do momento.


A música exalta a voz estridente
e marcante de Ditto, além de ser
O trio está de volta com seu quarto álbum: Music for Men. E o sarcasmo a preferida para quem quer se
começa pela capa jogar na pista. 8th Wonder mostra
que, apesar de o disco ser mais
e o amadurecimento do trio. E está dançante, o rock também marca
cheio de provocações também. A presença. Vertical Rhytm tem tudo
começar pela capa, estampada com para ser o segundo single, já que
a bela foto de Hanna Billie. Quem tem a combinação perfeita: guitar­
olhar rapidamente para a foto irá ras e sintetizadores. O resultado:
pensar que Billie é um homem. uma explosão de sons que estarão
O grupo apostou na parceria embalando muitos garotos e garo­
com o produtor Rick Rubin, que já tas por esse mundo afora.
trabalhou com artistas como Red Para conhecer o trabalho dos
Hot Chili Peppers e Green Day e divertidos e irônicos integrantes
mostrou aos integrantes a direção do The Gossip é só acessar:
exata de suas habilidades. Heavy www.thegossipmusic.com ou
Cross, o primeiro single do álbum, www.myspace.com/gossipband

Talentosa, polêmica e eleita


a pessoa mais fantástica do rock
pela conceituada revista de música
britânica NME. É claro que só podía­
mos estar falando de Beth Ditto,
vocalista da banda The Gossip. Se
mesmo assim você não se lembra
dela, com certeza deve ter dançado
muito ao som de Standing the Way
of Control, que tocou até os ouvidos
cansarem da voz potente de Ditto.
A afiada vocalista reúne todas as
qualidades capazes de fazer a dife­
rença no cenário musical: é lésbica,
ativista dos direitos humanos e
não tem vergonha de ser gordinha.
Apesar de não se enquadrar nos
padrões ditados pela indústria da
moda, a vocalista acabou reco­
nhecida como ícone fashion e
vanguardista da atualidade, e suas
músicas embalam as melhores
festas hypes e modernetes de todo
o mundo. Ainda integram o Gossip,
o guitarrista Brace Paine e a bate­
rista Hanna Billie. O álbum Music for
Men mostra com clareza a coesão

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La Roux – La Roux
(Polydor, 2009)
Segundo a revista especializada em música
NME, “os La Roux são a grande sensação da
musica britânica do momento”. O duo inglês
é composto pela cantora e compositora Elly
Jackson e o coescritor e coprodutor Ben Lang­
maid. Os dois fazem um autêntico eletro rock,
deixando evidente a influência dos anos 80 e
de artistas que marcaram essa época, como De­
peche Mode, Tears for Fears, David Bowie, além
das bandas do cenário eletrônico atual como
Daft Punk, Justice, Hot Chip, entre ou­tros. O que
eles têm em comum? Todos usam e abusam de
sintetizadores e a dupla britânica adora isso. É
praticamente impossível não cantarolar “I’m go-
ing in for the kill, I’m doing it for a thrill... uuuuuh!”,
refrão da bonitinha In for the Kill, single que já
conquistou o segundo lugar nas paradas ingle­
sas. Sem dúvida, La Roux é a revelação do rock
eletrônico este ano.
Para conhecer, ouvir e gostar, basta acessar
www.laroux.co.uk

Matt & Kim – Grand


(Fader, 2009)
Matt toca teclado e Kim, bateria, e os dois
também cantam. O duo veio do Brooklin e chega
para mostrar como é possível fazer boa música
com poucos e essenciais instrumentos, e, é
claro, com muita criatividade. Apesar de Grand,
segundo álbum da dupla, ter sido lançado no
começo de 2009, eles ficaram conhecidos por
aqui recentemente, devido ao sucesso de Yea
Yeah, música do álbum de estreia, lançado em
2006. Dois singles já foram lançados, Daylight e
Lessons Learned, que rendeu um clipe polêmico,
no qual Matt e Kim seguem pelas ruas da Times
Square, em Nova York, fazendo um striptease
durante um dia bem frio (http://www.youtube.
com/watch?v=bJkymylTNU4). Os dois estiveram
há pouco tempo no Brasil, durante um festival de
música indie e alguns espectadores garantiram
que eles fazem uma apresentação enérgica, com
direito a muitos pulos e até alguns moshs.
Para saber mais sobre Matt & Kim acesse:
www.myspace.com/mattandkim

AIMÉ
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[teatro] Por Felipe Teram

Tirania da existência

O que se passa na cabeça e no coração daqueles que espectador. Isso pode ser percebido no figurino dos atores
governam? Esse é um questionamento bastante cor- e na confecção do cenário, ambos compostos de retalhos
riqueiro – ainda mais quando assistimos a escândalos (ou coloridos – parecidos com a estética da brasileira festa
crises) protagonizados por caprichos pessoais de nossos junina. Trata-se de um jeito moderno de desconstruir o cli-
políticos. Atrás do poder asseado pelo protocolo, há toda a ma soturno dos castelos, das vestimentas hiperelaboradas
imperfeição emocional do ser humano que o exerce. Inco- e de toda pompa over que envolvia a vida da corte inglesa
modar-se com isso não é apenas sinal de que o assunto é naquela época – através de um outro, e mais colorido, tipo
pertinente ao tempo presente, mas sim de que a questão de excesso estético.
é tão velha quanto as próprias instituições de poder. A composição da trilha sonora parece seguir a mesma
A montagem da peça Liz, da companhia paulistana lógica do cenário: a música popular contemporânea ocupa
Satyros, percorre essa discussão balizando-se em um texto o lugar da música de época. Roberto Carlos, Velvet Under-
do autor cubano Reinaldo Montero sobre a rainha inglesa ground, Beatles e até Amy Winehouse são apenas algumas
Elisabete I e suas aflições pessoais à frente do poder, em das referências utilizadas para dar emoção à vida palaciana
pleno século 16. A direção da peça é assinada por um dos de Liz. O grupo Satyros já tem 20 anos de fundação, e não
fundadores da companhia, Rodolfo García Vázquez. hesita em arriscar alto no sincretismo de referências: seja
O vigor com que fez valer suas vontades pessoais, junto na concepção de seu espaço, na trilha sonora, ou mesmo
com a sagacidade sustentadora de um reinado que sofreu no cruzamento de temáticas.
diversas tentativas de golpe fizeram de Elisabete I uma per- Com todo esse aparato, não é surpresa a peça con-
sona intrigante, ótima para ser retratada nas artes. No filme seguir um uníssono entre o tempo histórico da trama e as
do diretor Shekhar Kapur, Elizabeth (1998), os dispositivos de preocupações da realidade do público. A fragilidade, no
coerção política, acompanhados por um entrelace amoroso entanto, reside na pressa com que os atores emitem suas
mal resolvido, dão a tônica da história da rainha. Por outra via, falas: isso pode fazer o espectador estranhar o cortante
Liz prende atenção ao mostrar o lado mais íntimo da perso­ texto de Montero, na medida em que a história de Elisa-
nalidade de Elisabete, que suportou o peso de ser ao mesmo bete corre o risco de se passar por mais confusa do que
tempo uma mortal e a representação física do poder de uma complexa. Não é grave problema: é possível que seja disso
nação. Se no cinema as questões sociopolíticas têm tamanho que a peça inteira trate.
condizente com a importância do reinado elisabetano para a
história do Reino Unido, já no texto de Montero as tensões da Serviço:
arte de governar ganham sabor de angústia ao aproximar o Liz
espectador do mundo interior da rainha. Quando: sexta-feira e sábado, 21h
Contar uma história do século 16 no teatro não é fácil: Onde: Espaço dos Satyros Um, Pça. Roosevelt, 214, São Paulo
Quanto: R$ 30,00; R$ 15,00 (estudantes, classe artística e terceira idade);
as formalidades da corte, o jeito despótico de se governar,
R$ 5,00 (oficineiros dos Satyros e moradores da Praça Roosevelt)
a vida sombria nos castelos, tudo parece oposto ao modo Duração: 80 min
como vivemos hoje. Para a imersão nesse universo, alguns Classificação: 14 anos
arranjos cênicos são necessários a fim de aproximar o Temporada: 12 de junho a 29 de agosto

AIMÉ
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O tropeço que deu samba
O crítico, produtor, colunista e figu­ Carmen Miranda. No entanto, a peça das de impostação de falas, mostram
rão da música brasileira Nelson Motta padece de dificuldades para, a partir debilidade em aproveitar o potencial
publicou certa vez num jornal um do universo de ascensão do samba, afetivo, próximo que o teatro oferece
texto que continha o seguinte título: “O desenvolver uma trama surpreen- para envolver o espectador. Na sala
samba não morreu, ele está no poder.” dente para o espectador. experimental do Teatro Augusta os
Ponderado e incisivo, esse comentário Em meio ao cotidiano dionisíaco dos atores esperam no próprio palco pelo
parece dar conta das mudanças que cabarés (e de suas longas noites), a peça início do espetáculo com a mesma
fizeram do “ritmo de bamba” o principal parece insistir em um tipo de narrativa disposição que o público. Nesse
estandarte da música brasileira erguido inóspita para esse universo, principal- momento eles não atuam - o que seria
pelas elites intelectuais, e pelo mercado mente quando tenta atribuir ao samba uma boa estratégia de ambientação
fonográfico. A mudança de rumo que um tom comportado, familiar, quase do espaço - e tão-só conversam entre
fez o samba deixar o morro para tomar monogâmico. Trata-se de um tropeço si informalmente, com certa discrição
a identidade de uma nação inteira considerável: antes de ser combustível e de voz baixa.
demorou a se consolidar e pode-se até de um amor típico de relacionamen- Mesmo com as tenuidades, a
dizer que há pouco terminou o ciclo tos sérios, o samba carregava um montagem ainda continua válida
de fato. Um período bastante seminal sentimento anárquico das paixões de pela função de retratar um assunto
dessa transição é retratado na peça A carnaval. Endossando a preponderância importante. Faz-nos lembrar os
Dama do Cabaré, com texto e direção de tipos novelísticos, a psicologia dos primeiros caminhos que o samba teve
de Marcus Vinicius de Arruda Camargo. personagens parece não se encaixar à de percorrer para chegar onde hoje
O Rio de Janeiro dos anos 30 é forma livre do samba. Há um vilão rico está estabelecido. Se, de um tropeço, a
um lugar sugestivo para se debruçar e interesseiro que se resigna diante de mulata é capaz de ensaiar um reme­
na dinâmica desse ritmo. O contexto um “grande amor”, uma frequentadora lexo novo, de suas limitações, A Dama
da montagem por si só já é bastante assídua de cabarés que por sua promis- do Cabaré consegue deixar o assunto
propício para ser amarrado a uma tra- cuidade acaba ficando sozinha, e até do qual trata didático e direto.
ma que retrata a boemia, os excessos um compositor que quer transformar o
e a malandragem da época. Os bons ritmo em traço da identidade nacional - Serviço:
momentos da peça são exatamente quando na verdade, àquela época, essa A Dama do Cabaré
os que nos contam como era a vida e suposição de tão irreverente mal podia Quando: sexta-feira às 21h, sábado às 21h30 e
a rotina da então capital do Brasil. A ser levada em conta. domingo às 19h
Onde: Teatro Augusta, Rua Augusta, 943, São Paulo
montagem envolve ficção e realidade A performance dos atores segue a
Quanto: R$ 30,00; R$ 15,00 (estudantes)
ao mostrar a vida de seus personagens mesma tendência televisiva pela qual Duração: 65 min
convivendo com figuras como Noel a narrativa se sustenta. Nitidamente Classificação: 14 anos
Rosa, Francisco Alves, Mario Lago e até infuenciados por técnicas pouco flui- Temporada: 19 de junho a 20 de setembro

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[cinema] Por Natalia Barrenha
*colaborou Isaac Pipano
performance no MTV Movie Awards na qual o per-

Deliciosa jornada?
sonagem entrou flutuando sobre a plateia vestido
de anjo e “aterrissou” as nádegas no rosto do rapper
Eminem; a presença de Brüno na capa da chiquérri-
ma revista britânica GQ; e a publicação de um ensaio
Três anos depois do sucesso mundial e contro- em Borat, traz mais uma ficção que se passa por docu- insólito com ele e a modelo brasileira Alessandra
verso de Borat – O segundo melhor repórter do glo- mentário, e na qual permanece uma linha tênue entre Ambrósio na edição de julho da revista Marie Claire
rioso país Cazaquistão viaja à América, o comediante o ridículo e o engraçado. O filme mostra Sacha como do Reino Unido – sem contar os processos judiciais
inglês Sacha Baron Cohen volta aos cinemas com o o austríaco gay, fashionista e repórter de moda que que já começam a surgir.
já polêmico filme Brüno, que teve estreia mundial resolve levar seu programa de tevê para os Estados Enquanto isso, os ativistas gays estão divididos
em 10 de julho e chegou às telas brasileiras no dia Unidos. Ironizando o mundo fashion, o ator excêntrico quanto ao filme: alguns acreditam nos efeitos
31 do mesmo mês. expõe a intolerância dos entrevistados, e passa longe positivos da obra contra a intolerância, e há os que
Com um subtítulo nada convencional – Deli- do humor politicamente correto. enxergam que o novo personagem de Baron Cohen
cious journeys through America for the purpose of A divulgação do filme já vem ocorrendo desde pode reforçar a homofobia. Vindo da mesma mente
making heterosexual males visibly uncomfortable in o ano passado, com ações inusitadas que vão desde de onde saiu o inconveniente (e sem graça) Borat, é
the presence of a gay foreigner in a mesh t-shirt, algo a invasão de um desfile em Milão por Brüno; uma de se esperar que o resultado de Brüno não seja dos
como Deliciosas jornadas através da América pelo mais interessantes.
propósito de fazer homens heterossexuais visivelmente
desconfortáveis na presença de um estrangeiro gay Brüno (Brüno). Direção: Larry Charles. EUA. 2009.
numa camiseta de malha –, Baron Cohen, assim como Comédia. Duração: não divulgada.

de vista da recepção de público e crítica,


como Os Idiotas, Dançando no Escuro e o
bem aclamado Dogville.
Estruturado em um prólogo, três
capítulos – “Dor”, “Luto” e “Desespero” –, e
epílogo, o filme aborda o relacionamento
de um psicanalista, interpretado por
Willem Dafoe, e uma escritora, encarnada
por Charlotte Gainsbourg, vencedora da
Palma de Melhor Atriz por este mesmo
filme. Após a morte do filho num acidente
doméstico, enquanto os pais transavam

Perturbações o diretor dinamarquês Lars von Trier


concebeu Anticristo, que estreou em
Como seria a vida se, em vez de Deus, Cannes em maio deste ano, sob vaias,
fosse o Diabo o criador do homem à sua rejeição e intolerância. Porém, “barulho”
imagem e semelhança? Partindo de tal não é propriamente algo com que Lars
prerrogativa, e de profunda depressão não esteja acostumado após a realização
que o levou a uma temporada no inferno, de obras sempre “escandalosas” do ponto

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cima
A aventura está lá em
Como dizia Walt Disney, “para cada Os personagens ainda se deparam
risada, deve haver uma lágrima”. Em Up – com um vilão inesperado e encontram
Altas Aventuras, nova animação da Pixar outros parceiros nessa inventiva nar-
que abriu o Festival de Cannes deste ano, ração. As preocupações com veros-
a lição é seguida à risca. similhança são nulas no desenrolar da
Com uma sequência inicial fabulosa história, e qualquer conexão com fatos
que sintetiza a história do vendedor reais – como o do padre brasileiro que
de balões Carl Fredricksen – que desde se amarrou a balões e desapareceu, no
criança sonhava em explorar o mundo, e Sul do Brasil, no ano passado – é mera
acabou se tornando um velho rabugento coincidência.
e solitário após a morte da esposa –, a O filme desarmou a crítica em Cannes
animação desenvolve-se entre boas doses com sua leveza, e deu um show de
de aventura e humor. bilheteria nos Estados Unidos, superando
Tudo começa quando Carl resolve re- todos os temores de que a produção não
alizar seu sonho de partir para a América possuísse apelo junto ao público.
do Sul – porém, de uma maneira muito Up é permeado de risadas – e de al-
inusitada: prendendo milhares de balões gumas lágrimas –, tem qualidade técnica
à sua casa, que sai flutuando pela cidade. impecável (o cuidado com os detalhes é
O velhinho ranzinza ainda conta com surpreendente), e momentos que lidam
um parceiro improvável que embarca de maneira mais complexa com a vida
por engano na casa voadora: o pequeno e suas frustrações, assumindo (mais
escoteiro insistentemente falante Russell, uma vez) a animação como um gênero Up – Altas Aventuras (Up). Direção: Pete Docter e
de apenas oito anos – 70 primaveras a cinematográfico independente de faixa Bob Peterson. EUA. 2009. Animação.
menos que o velho protagonista. etária. Duração: 96 minutos.

– com direito a cenas de sexo explícito e cada dia asséptica, em que os limites das aulas com o cineasta sueco Ingmar Berg-
penetração –, o marido, tentando auxiliar faculdades mentais são abalados por uma man – que possui influência notável da
a mulher na recuperação do trauma, série de acontecimentos estranhos, como psicologia em seus filmes – e algumas
decide levá-la a uma estada numa cabana se de fato a presença do mal, de modo sessões terapêuticas talvez tivessem
na floresta, um dos locais que mais a metafísico, permeasse aquele lugar. feito de Anticristo uma obra mais bem
amedrontavam na vida. Aparentemente definido como um resolvida. Mas se o cinema também é um
Porém, a permanência no local insere filme de terror, o mote não promete exercício de exposição de vísceras, Lars
o casal numa espiral de insanidade, numa muitas possibilidades. A crueza e a super- von Trier deu um passo.
descida aos recônditos de suas próprias exposição do corpo e do sexo, inclusive
fraquezas. O que seria uma espécie de com cenas de automutilação, exageram Anticristo (Antichrist). Direção: Lars von Trier.
terapia transforma-se em uma experiên- o compromisso psicanalítico com o qual Alemanha/Dinamarca. 2009. Terror/Drama.
cia sufocante de busca por uma vida a Lars procura reger seu filme. Algumas Duração: 104 minutos.

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[literatura] Por Natalia Barrenha

Prelúdio à Psicologia Afirmativa


Em sua nova obra, Terapia Afir- tem como base a identidade homos-
mativa, o psicólogo Klecius Borges sexual como uma expressão natural,
mergulha em um tema bem conhe- espontânea e positiva da sexualidade
cido por ele, explorado em seus textos humana, e a homofobia como a princi-
e praticado na sua atividade clínica: a pal responsável por muitos dos confli-
Psicologia Afirmativa. Ela já permeava tos vivenciados pelos homossexuais.
seu primeiro livro, DeSiguais (Editora Trabalhando há diversos anos com
Fábrica de Leitura, R$ 27), reunião bi e homossexuais, Klecius propõe
de artigos da coluna “Papo Cabeça” uma introdução sobre a psicologia
que assina na revista G Magazine, nos e terapia afirmativas. Com um texto
quais explora o amor e o universo simples e didático, o autor pretende
homossexual. oferecer um repertório conceitual
Os fundamentos da Psicologia básico para uma reflexão abrangente
Afirmativa consistem em um con- sobre a identidade homossexual,
logia e à
junto de pressupostos teóricos sobre a desenvolvendo um breve histórico pia Afi rm at iva : Um a introdução à psico
Tera sexuais
a gays, lésbicas e bis
homossexualidade e em uma atitude da questão da homossexualidade psicoterapia dirigida
es
clínica especificamente voltada para o na Psicologia e citando vários casos Autor: Klecius Borg
ginas
incremento de uma identidade homos- e exemplos, os quais aproximam o Edições GLS / 104 pá
sexual positiva. Vertente desenvolvida leitor do assunto – que é exposto de Preço: R$ 28,90
principalmente nos Estados Unidos maneira clara e objetiva, interessando www.edgls.com.br
e Reino Unido, a visão afirmativa tanto a leigos quanto a especialistas.

Trilha colorida
O tom político, mais do que nunca, Brasil até seus desdobramentos presentes,
foi o maior destaque da Parada Gay traçando também um panorama das
de São Paulo deste ano. Por essa e por raízes dos movimentos norte-americano e
muitas outras, o novo livro dos antropólo- europeu.
gos Júlio Assis Simões e Regina Facchini Referência obrigatória para o enten-
evidencia-se entre os lançamentos do dimento do processo de politização das
mês: Na Trilha do Arco-Íris: Do movimento identidades sexuais e de gênero ocor-
homossexual ao LGBT. rido nas últimas décadas, o livro faz um
Tomando a sexualidade como um ter- apanhado de pesquisas já existentes e
reno político por excelência, Simões (pro- organiza dados dispersos sobre o assunto
fessor do Departamento de Antropologia – cujo estudo, apesar de crescente, ainda
da Universidade de São Paulo e pesquisa- é incipiente no Brasil.
dor-colaborador do Núcleo de Estudos de A obra ainda traz luz para uma melhor
Gênero – Pagu – da Universidade Estadual compreensão da história contemporânea
de Campinas) e Facchini (pesquisadora- brasileira em todas as esferas da socie-
nto homossexual colaboradora do Núcleo de Estudos de dade, abrangendo as mudanças ideológi-
Na Trilha do Arco-Íris: Do movime
Gênero – Pagu – da Unicamp e autora do cas, sociais e políticas ocorridas a partir
ao LGBT
ina Facchini livro Sopa de Letrinhas? Movimento homos- dos anos 1970 no País, com destaque
Autores: Júlio Assis Simões e Reg
o / 194 páginas sexual e produção de identidades coletivas para a importância dos movimentos
Editora Fundação Perseu Abram
nos anos 90­– Garamond, R$ 39) narram homossexuais na construção de um pro-
Preço: R$ 38,00
a trajetória percorrida pelo movimento grama de combate ao preconceito e de
www.efpa.com.br
político em torno da homossexualidade no garantia dos direitos civis básicos.
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Para Sempre Teu, Caio F. – Cartas,
conversas, memórias de Caio
Fernando Abreu
Autora: Paula Dip
Editora Record
504 páginas
à Preço: R$ 58,00
www.record.com.br

Onde andará Caio F.? muitas


o Abreu anos 70 e 80, resgatando
O escritor Caio Fernand época.
im co mo sua musa outras figuras sublimes da
(1948-19 96 ), ass s escri-
itas vidas Um dos mais importante
Clarice Lispector, era mu 80 1990
e
Ad ela ide Am aral tores das décadas de 19
em uma só. Ma ria existência
figura de no Brasil, Caio teve uma
o descreveu como uma te necessi-
Fag un de s Tel les o atribulada pela constan
Modiglian i. Líg ia vas e pelos
paixão”. dade de experiências no
chamava de “o escritor da r da pele.
rec e um ch arm oso sentimentos sempre à flo
Por vezes , ele pa currículo
tal a vida Com muitos prêmios no
personagem de Godard to ainda em vida
e int en sa qu e tev e – sem- e reconhecimen
excitante cemente
e canetas, – a qual se acabou preco
pre às voltas com papéis os, devido à
a esc rita em seu quando ele tinha 47 an
tão insiste nte era da aids –,
contaminação pelo vírus
cotidiano. de Andará
Teu , Ca io F., a Morangos Mofados e On
Em Pa ra Sem pre ques da
a Paula Dip Dulce Veiga? são os desta
jornalista e artista plástic
e trocou sua obra.
reúne cartas e bilhetes qu Quase impossível não am
ar
mais de 20
com o polêmico Caio em s 50 4 pá-
cia e con ta de ta­ Caio durante e depois da
anos de con viv ên amando
dois. Em ginas de Paula. Caio viveu
lhes da amizade entre os Afinal, para
e cos tur a sua tra- através de seus escritos.
uma na rra tiva qu faz outra
uma deli- ele, “o bicho homem não
jetória à de Caio, Paula faz amor.
esc rito r. Re ch eado coisa a não ser pensar no
ciosa bio gra fia do ção, a luta
passou Até as relações de produ
de depoimentos de quem jogo pelo
, o tex to ain da de classes, a ecologia, o
pela vid a do au tor amor”.
írito dos poder: tudo, questão de
fotografa com primor o esp
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[opinião]

O Preconceito
Dissimulado Por Isabel Vasconcellos*

“Porque eu não quero, porque eu não devo explicar


absolutamente nada.” (Caetano Veloso, 1967)

F
oi quando o ser humano a sua absoluta liberdade sexual. é pra divertir os machos. Certo é
inventou a monogamia Mas, dessa triste invenção, decor­ homem fazer amor com mulher e
para a mulher que todos reram outras infelicidades, como mulher fazer amor com homem.
os problemas sexuais da a noção de certo e errado em Todo o resto é errado, é imoral, é
humanidade começaram. Digo matéria de amor e sexo. Certo é ilegal. Assim, com completa e to­
inventou a monogamia “para a o homem trair. Certo é existirem tal hipocrisia, nasceu a repressão
mulher” porque ele nunca, em dois tipos de mulher, uma que é e nasceram os grandes problemas
tempo algum, deixou de exercer pra casar e ter filhos e outra que da sexualidade.

preconceito
homossexualidade
heterossexualidade

certo errado
problemas
existência

trair
educação

naturalidade
bissexualidade

amor
prazer
errado
reconquistar
cultura
sexualidade

multiplicidade

feliz
desvio
moralistas

amor
ilegal

certo

sexo
repressão
sexo

direito monogamia

amor
trair

desvio
gays lésbicas explicar
sentimento educação
llibertar
medo
triste humanidade
infelicidade

opção
sexo
homofobia
consequências

liberdade
antissocial

liberação preconceito liberdade

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É, porque antes, entre povos pesquisador procurando a “causa” dos mundos. Mas a ausência de
primitivos e civilizações da Anti­ da heterossexualidade? amor não determina a ausência da
guidade, sexo era apenas sexo. Foi apenas em 1973 que a Asso­ prática sexual. Todo mundo tem
Ninguém pensava em restrições ciação Internacional de Psiquiatria direito de ser feliz, esteja ou não
sexuais. Valia tudo. Não existia deixou de considerar a homos­ vivendo um amor.
sequer a noção de homo e he­ sexualidade como doença e só em No entanto, ainda estamos
terossexualidade. No entanto, no 1990 a Organização Mundial da longe de encarar com naturalidade
mundo em que vivemos agora, Saúde a retirou da lista de doen­ a existência da multiplicidade
depois de instalada a tal da moral ças. Aí, então, além de se tornar sexual, a nossa própria bissexuali­
sexual (que Reich chamava de “re­ politicamente incorreto o termo dade latente, o nosso simples direi­
pressiva”, com toda a propriedade), “homossexualismo”, quem queria to ao prazer. E a única maneira, no
estamos tendo um trabalhão para estar na moda não podia conde­ momento, de conter a homofobia
voltar a ser como eram nossos nar a “opção sexual” dos outros. e suas desastrosas consequências
remotos antepassados: sexual­ Opção? A homossexualidade não é é a via legal. Estamos, no Brasil,
mente felizes. As mulheres lutam uma escolha. Aqueles que se julga­ precisando urgentemente de outra
pra reconquistar o prazer que lhes vam muito avançadinhos falando Marta Suplicy no Congresso Na­
foi negado por milênios, os homos­ em opção sexual estavam apenas cional, que possa reviver um velho
sexuais lutam contra aqueles a dando voz a mais um preconceito. projeto de lei que está na Câmara
quem – por alguma obscura razão Haja preconceito! Federal e que torna a homofobia
– incomodam. Mas já incomo­ Um deles, comum ainda entre tão passível de cadeia quanto o
daram mais do que hoje. as mulheres de hoje, apesar de preconceito racial.
Em 1870 a Psiquiatria tratava sua decantada “liberação”, é o do Mas só a educação (e este é um
a homossexualidade como um “só faço sexo com amor”. A hipo­ caminho lento) pode tornar a homo­
desvio comportamental de raízes crisia social que condena o prazer fobia tão antissocial quanto o cigarro
psicológicas, e mesmo mais tarde sexual, ou só o admite calçado e só a educação sexual pode nos
Freud, que admitia a bissexu­ pelo sentimento, é a mesma que libertar da incrível bagagem cultural
alidade latente, queria encontrar vê o sexo homossexual como repressiva que todos nós, homos ou
as razões que tornavam alguém apenas uma procura de prazer. No héteros, trazemos e carregamos há
homossexual. Hoje, procura-se entanto, casais de homos­sexuais muitos séculos. Se fôssemos todos
na Genética. Onde estará o gene que têm uma longa vida em co­ realmente felizes na cama, não nos
da homossexualidade? Pois essa mum desmentem a ideia de que, importaríamos a mínima com a
procura é também preconceito. para os gays e lésbicas, só existe sexualidade dos vizinhos.
Querer encontrar uma “causa” sexo sem amor. O prazer sexual
para a homossexualidade é como independe do amor, gostem ou
* Escritora e apresentadora de TV. Na Band, tem
querer encontrar uma “causa” para não gostem os moralistas. Quando uma coluna sobre sexo no programa A Noite
a existência das árvores ou dos se consegue unir as duas coisas, É uma Criança. Recentemente publicou seu
pássaros. Você já imaginou algum amor e sexo, estamos no melhor sétimo livro, O Fantasma da Paulista.
edadilauxessomoh
edadilauxessoreteh
aibofomoh
saicnêuqesnoc

odarre otrec
samelborp

aicnêtsixe

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edadilarutan
edadilauxessib

roma
rezarp
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ratsiuqnocer
arutluc
edadilauxes

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roma
lageli
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oãsserper
oxes

aimagonom otierid
riart

oivsed
racilpxe sacibsél syag
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[decor]

Luxo
em ALTO
mar
Em um projeto de arquitetura e design, é preciso antes de
tudo conhecer o cliente e entender seu estilo e necessidade.
A função de um bom arquiteto é orientar e não definir e, por
esse motivo, as ideias são sempre discutidas, agregando a
experiência do profissional ao desejo do cliente.

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D
iferente da decoração de casas e espaço, abusando dos materiais tecnológicos –
apartamentos, na qual o trabalho que permitem fácil manuseio e manutenção.
permite maior ousadia e liberdade, A busca de materiais tecnológicos, no entan-
no Barco Chacal, o pouco espaço e a to, não ficou só na escolha de eletrodomésticos
preocupação com a funcionalidade restringiram ou eletrônicos. A sala, com estilo contemporâ-
as opções. Dessa maneira, tudo foi pensado em neo, tem sofá branco em seda sintética imper-
termos de praticidade e buscou-se aproveitar o meável para ninguém se preocupar quando

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entrar molhado – um exemplo da tecnologia com destaque para as almofadas de seda em
aplicada em todos os lugares. O carpete em tons fortes, que possibilitaram o contraste. Nada
buclê é antialérgico e antifungo e contrasta com de estampas florais para não deixar o ambiente
a madeira de mogno laqueada. As esculturas pesado. Destaque para a bancada de estudo com
e os vasos de murano são da Grifes e Design. pufe em tecido de seda sintética emborrachada,
A bandeja de prata e cristal é Swarovski e a e madeira mogno laqueada com equipamento e
luminária prata, de Philip Stark. luminárias embutidos com foto óptica Zona D.
Os tons calmos foram predominantes princi- A marcenaria fixa com cantos arredondados
palmente para não abusar dos espaços peque- para não atrapalhar a circulação tem aproveita-
nos, que poderiam se tornar cansativos. Nos mento total de nichos, para que nada fique fora
quartos, a escolha foi por tons sóbrios nas camas do lugar.
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Na cozinha, tecnologia é a palavra. O cook-
top elétrico de quatro bocas tem uma grade de
segurança para as panelas não saírem do lugar
e um misturador italiano compõe a cuba de
Corian.
Para um banho agradável, box em acrílico
transparente curvo com ducha de teto. Marce-
naria especial em laca mogno e com espelhos
nos armários acima da pia. A cor fica por conta
dos acessórios de resina transparente verde da
Vallvê.

Por Léo Shetman Arquitetura e Design


arqshehtman@terra.com.br
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ultracontour (tratamento de gordura localizada) | accent (tratamento para
celulite) | titan (laser para tratar a flacidez do rosto e do corpo)

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botox | preenchimento | peeling químico | micro transplante | capilar |
dermatologia

Tramento coporais:
drenagem linfática | shistsu | massagem modeladora e anti-stress | gomage |
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[capa]

b i t
g a m Edição e Stylist: Davi Dantas
Foto: Carol Beiriz - www.carolbeiriz.com.br
Make-up: Rafael Senna

Antes de realizar um trabalho, o modelo e ator Caetano


O’Maihlan tenta integrar-se ao ambiente, misturando-se
ao cenário e sentindo até mesmo a textura das paredes. “O
lugar e a relação que se estabelece com o fotógrafo fazem
surgir novas sensações”, afirma.
Para Caetano, realizar um ensaio fotográfico para uma re-
vista gay não foi nenhum problema. Ele acredita que já está
mais do que na hora de quebrar a barreira do preconceito e
levantar a bandeira da homossexualidade. “Só contribui um
heterossexual fazer fotos sensuais para uma revista gay.”
Depois de trabalhar por anos como modelo, o dono do cor-
po esculpido por deuses fez novelas, foi bandido e mocinho,
e ainda assim encara cada novo trabalho com um “friozinho”
na barriga. “Você se expõe”, justifica.
Hoje, no Rio de Janeiro, Caetano se dedica à Companhia de
Teatro Íntimo (grupo que tem como proposta estreitar a
distância entre palco e plateia) e ao mais novo projeto: um
especial de Dia das Crianças com Renato Aragão.

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Camisa Xadrez Wollner / Calça Jeans Colcci / Coturno US Army / Luvas DTA

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Camisa Xadrez Jonny Size / Calça Colcci / Coturno US Army

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[entrevista]

Esta drag é um homem. E

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. Este homem é uma drag.
Texto: Nina Rahe / Foto: Paulo Pampolin

Seis da tarde, restaurante L’Open, São Paulo. Chego ao en-


contro marcado com a drag queen Dindry Buck cerca de 15
minutos atrasada. Apressada, passo direto por ela e um dos
funcionários me adverte: “Aquela é Dindry.” Ela tampouco
se importa. Naquele momento, de fato, ela ainda não era a
famosa drag queen. Quem estava à minha frente não era
Dindry, mas sim o tímido e discreto criador da personagem:
Albert Roggenbuck.

N
o banheiro feminino do restaurante,
Albert troca as calças jeans, a camiseta e
os tênis pelas extravagantes roupas, e aos
poucos Dindry aparece. As formas da drag
queen surgem ao mesmo tempo em que se esvaziam
as duas enormes sacolas (contendo roupas, peitos,
perucas e uma porção de maquiagens). Na transfor-
mação, não é só Albert que vai embora, mas junto
com ele desaparecem a timidez e o recato.
Durante o início de sua carreira, Dindry custou a
se acostumar com a dicotomia entre ela e seu criador.
No início, espantava-se com a falta de educação das
pessoas que, conhecendo-a da noite, viravam a cara
durante o dia. Foi somente depois de um tempo que
percebeu que as pessoas que conheciam Dindry não
conheciam Albert e vice-versa.
Talvez por isso, hoje, quando fala de Albert, Din-
dry se refere a ele sempre na terceira pessoa. O eu às
vezes é Albert, outras tantas é Dindry, e assim esses
personagens tão diferentes dividem o dia a dia. Em
comum, alguns amigos íntimos que conhecem tanto
um quanto outro.
AIMÉ
43

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Você disse que existem três tipos: transfor-
mista, drag queen e andrógeno. Qual é a
diferença entre os três?
A transformista se assemelha mais a cover do ci-
nema, aquela que faz a Marilyn, que faz a Cher. Tem
a maquiagem mais leve porque precisa se caracteri-
zar como a personagem. A drag não; ela pega tudo
que a mulher não utiliza no dia a dia (tem mulher
que quer ser meio drag queen) e coloca nela. A drag
é como se fosse um palhaço de luxo. Ela é paga pra
animar uma festa de uma forma totalmente femi-
nina, mas um pouco exagerada. E os andrógenos
são aqueles que não parecem nem homens nem
mulheres. Podem estar com maquiagem feminina e
roupa masculina ou roupa feminina e maquiagem
mais masculinizada.

Primeiro de tudo, queria saber quem irá Para você, qual é a essência de uma drag
responder as perguntas, Dindry Buck ou queen?
Albert? Como eu venho do teatro, é algo mais artístico.
É a Dindry, é claro. Ela que está em cena agora. Eu me monto, tento me assemelhar ao máximo às
formas femininas, mas para levar alegria, bom humor,
Você mesma já disse que para cada ocasião colorido, diversão a qualquer ambiente que eu vá
costuma escolher um personagem. Qual foi fazer algum tipo de performance. Já fiz aniversário de
o personagem escolhido para a AIMÉ? crianças e até aniversários de senhores de 80 anos.
O meu forte são telegramas animados. Geralmen- Não diferencio trabalho, quero levar alegria e bom
te, o cliente que me contrata passa os dados do ani- humor aonde quer que eu vá.
versariante ou do homenageado da festa e em cima
desses dados eu monto o personagem. Então, tanto Você é ator? Qual é a sua formação?
pode ser uma amante revoltada como uma amiga Eu fiz um curso básico do (Teatro Escola) Ma-
de infância e, em cima disso, monto a maquiagem, o cunaíma, depois fiz várias oficinas. Eu sou forma-
figurino. Hoje eu estou mais glamorosa, drag mesmo. do em Publicidade e Propaganda, sou também
A coisa do exagero. jornalista, já escrevi para vários veículos de comu-
nicação LGBT. A drag surgiu de uma personagem
que eu fiz no teatro, na peça Fulaninha e Dona
Coisa. Eu fiz a Fulaninha, que era a empregada da
Dona Coisa. Foi quando eu descobri que podia
viver uma personagem feminina sem interferir
no meu dia a dia. Eu não tinha uma visão do
que seria uma drag. Depois, quando descobri o
mundo encantado da noite, aí que pude ver que
eu poderia ganhar dinheiro e sobreviver com o
trabalho da drag.

Mas na experiência do teatro você era drag


queen?
Não, eu era transformista. Eu era mais persona-
gem. Tanto é que tinha uma maquiagem leve, um
cabelo liso. Era mais uma empregada doméstica. Eu
não sabia o que era uma drag queen.
AIMÉ
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Quando foi que você descobriu?
Foi em 1998, por aí. Comecei a frequentar a noite
de São Paulo. A primeira drag que eu vi foi a Dimmy
Kieer. Ela é o ícone da noite, conhecida não só no Bra-
sil, mas mundialmente e referência de drag. A Dimmy
é coloridona.

Quando você passou a ter vontade?


Eu comecei como transformista, mas logo vi que
não era a minha praia. A transformista não tem tantas
possibilidades como uma drag. Porque a drag, além de
fazer show, pode ser recepcionista de uma casa notur-
na, pode animar uma festa, não necessariamente GLS. Eu vivo o momento. Se alguém quer ficar comigo,
Alguns amigos me deram toque, me influenciaram e fico e só. Nada de dar satisfação para ninguém. Eu
me incentivaram, e eu fui moldando a minha carreira. gosto da liberdade.

Como foi a primeira vez que você se mon- Mas quem faz mais sucesso, a Dindry ou o
tou? Albert?
Nossa, é muito estranho porque eu sou uma pes- A Dindry, é lógico! (risos)
soa do sexo masculino. Um amigo meu me maquiou,
mas quando olhei no espelho, não acreditei que era eu Como é?
que estava ali no espelho. É como se fosse uma outra Não podemos classificar que os homens que
pessoa olhando para você. O Albert, que é o criador da saem com uma drag ou com uma travesti são gays
criatura Dindry, é muito tímido, é introvertido. Ele veio porque a fantasia deles é estar com uma pessoa
do interior de Minas Gerais, de uma cidadezinha que montada de mulher, só que tem algo a mais. Se eu
nem existe no mapa. Se o Albert consegue ser mais estiver desmontada, eles não vão sentir atração por
sedutor, mais extrovertido, são elementos da Dindry. mim. Então eu seduzo mais, tenho mais retorno com
Quando ela chega, ela se faz notar. Ela consegue sedu- a Dindry do que com o Albert.
zir mesmo na brincadeira. Foram elementos que me
ajudaram como ser humano.

Existe preconceito?
Como drag, eu nunca senti preconceito, feliz-
mente. Agradeço a Deus sempre. É muito raro uma
drag sofrer preconceito porque a proposta é levar
alegria para as pessoas e as pessoas estão abertas pra
receber. Preconceito é somente quando aparece um
grupinho de cinco ou seis homens e um quer mostrar
que é mais macho que o outro; então têm umas brin-
cadeiras que a gente já tirou de letra e sabe muito
bem como sair disso.

E os relacionamentos?
Eu sou de todos e não sou de ninguém. Não sou
chegado a isso. Tenho a minha mãe, que é o amor da
minha vida. Então, eu falo: tenho um caso com a mi-
nha mãe e acabou a história. Não sou Édipo, mas não
tenho paciência com um relacionamento. Relaciona-
mento você tem que ligar, tem que dar satisfação e
isso eu faço com a minha mãe.
AIMÉ
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entrar na boate. Mas depois eu pensei bem e acabei
deixando ele entrar. E no final ficamos juntos (risos).Foi
uma das conquistas mais irreverentes que eu tive.

E alguma vez você conheceu alguém como


Dindry e depois quis mais como Albert?
Isso é o complicado, porque o gay que fica com
gay não gosta da drag. Tem a drag apenas como íco-
ne. Gosta dela fazendo show, mas nunca se relaciona-
ria com uma drag. É algo um tanto quanto impossível
numa noite. Já o cara que gosta da drag não vai gos-
tar da pessoa desmontada, porque a fantasia dele é a
figura feminina. Você não tem um consenso. Então é
por isso também que eu não me relaciono. Quem for
namorar o Albert, não vai entender nunca o trabalho
da Dindry e quem namorar a Dindry não vai entender
como o Albert vive.

Como o Albert vive?


Supercaseiro, superdesencanado. E, paralelamen-
te ao trabalho de drag, eu trabalho como designer,
faço trabalhos para casas noturnas de São Paulo. Al-
gumas pessoas fora do circuito GLS já me conhecem
e me chamam para realizar trabalhos. Então tem esse
outro leque de opções de trabalho que o Albert faz.

Quanto ganha uma drag queen?


Cada uma tem seu preço, mas, por exemplo, um
telegrama animado, que dura em torno de 30, 40
minutos... o meu trabalho sai R$ 400.

Existe rivalidade entre as drag queens?


Na noite, como envolve a vaidade, a coisa do apa-
recer, sempre vai ter uma que vai criticar o trabalho
Relacionamento você tem que da outra. É como no mundo da televisão, no mundo


ligar, tem que dar satisfação e da moda, sempre tem um modelo que brilha mais
isso eu faço com a minha mãe. que o outro. É um mundo de vaidade.

Entre as drag queens, qual é o modelo que


mais brilha?
Já aconteceu algum relacionamento duran- A Dimmy Kieer, que é a referência de drag. Todo
te o trabalho como drag queen? mundo sabe quem é a Dimmy. Ela é uma referência
Quando eu trabalhava em uma das boates como para mim.
hostess ali no centro, chegou um rapaz bem moleco-
te, e eu estava com um corpete de zíper, a fila estava A maioria das vezes você usa saia e já disse
gigante, e eu recepcionando. E ele chegou nas minhas que não se sente bem tendo que esconder o
costas e abriu o zíper todinho. Fiquei só de saia e sem pênis. Por quê?
o corpete. Eu nunca desço do salto, mas foi uma das A maioria das drags faz algo mais sensual, que
poucas vezes em que eu desci do salto na minha vida. mostra mais o sex appeal da drag. Ela tem que
Briguei, briguei, e avisei ao segurança: ele não vai mostrar então que é um homem, mas consegue ser
AIMÉ
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uma mulher. Então tem que colocar o pênis para trás A Dindry nunca fica triste?
para ficar bem feminina. É uma coisa que eu nunca Não pode. É um palhaço de luxo. O Albert pode
consegui fazer. Eu fiz uma vez, foi totalmente incô- estar triste, mas a Dindry nunca, porque é a persona-
modo, e por causa disso a maioria das minhas roupas gem. Eu posso estar triste como pessoa, mas a Dindry
tem algo meio bailarina, para não ter esse problema não pode estampar isso. A Dindry tem que estar
de me incomodar. Se quero ir ao banheiro, eu vou. irradiando bom humor.
As drags às vezes passam a noite inteira sem ir ao ba-
nheiro porque é um collant muito apertado. Elas não Quando foi que aconteceu de o Albert estar
bebem. Eu não, a minha drag é uma diversão! triste?
Quando minha mãe ficou doente e eu tive que ir
Enquanto você estava se vestindo, mencio- trabalhar. Quando está no trabalho, fervendo, você
nou que um dos motivos é não ter medo de consegue desligar um pouco, mas quando chega ao
ver um bofe e... camarim, você lembra e bate uma coisa. Parece que
Ah, claro, porque somos drags e somos do sexo a Dindry sai e o Albert fica um pouquinho. Eu posso
masculino. Não somos como as mulheres, todas mei- ficar abatida no carro, mas na festa não.
guinhas, que não terão nenhuma metamorfose no
corpo. Aparece um bofe lindo, maravilhoso, encosta, Então a tristeza só aparece quando está o
claro que vai acontecer algo no corpo. Então é uma Albert?
das vantagens de não ter nada preso lá embaixo. Com certeza.

AIMÉ
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[arte]

Por

AIMÉ
48

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r
Por Marco Túlio

A engarrafada Avenida 23 de Maio não está mais


monocolor. Quem passa por ali – mesmo nas horas
de maior movimento, que são acompanhadas pelo
estresse do trânsito – consegue um pouco de en-
tusiasmo vendo o maior mural feito em grafite em
uma via pública da cidade de São Paulo, com cerca
de mil metros quadrados. Através da reprodução
de imagens do centro da cidade do início do século
passado é possível voltar no tempo, resgatar memó-
rias ou simplesmente conhecer a história de outra
época. O mural faz parte do projeto Muro das Me-
mórias, criado pelo artista Eduardo Kobra em 2007.

AIMÉ
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considerados cinzentos,feios, empo-
brecidos, e os reveste com sua arte.
Com a revolução contracultural de
1968, ocupou os muros de Paris – os
grafiteiros queriam espaço para suas
ideias. E o movimento ganhou fama
no final dos anos 70, quando virou
mania na periferia de Nova York e
tornou-se uma verdadeira bandeira
dos grupos excluídos, sem visibilida-
de nas grandes galerias e no mercado
de arte.
A história de Kobra, sem
dúvida, dialoga com a história des‑
crita acima. E quem se depara com

M
o trabalho do artista hoje (já valo-
as para entender um pouco rizado) jamais relembra o início de sua traje-
melhor o trabalho de Kobra e o tória, quando, por volta de 1987, dedicava-se
de tantos outros que levam mais à pichação com um grupo de amigos. O ato
cores para o cenário urbano em de pichar um muro está ligado à demarcação
que vivem – geralmente áreas decadentes de de uma área através da caligrafia, enquanto o
grandes cidades – é preciso voltar a um tempo grafite valoriza o desenho. O que une as duas
em que se cantava assim:

“ Pensem nas crianças mudas telepáticas,


Pensem nas meninas cegas inexatas,
Pensem nas mulheres rotas alteradas,


Pensem nas feridas como rosas cálidas,
Mas, oh, não se esqueçam da rosa de Hiroshima.

A bomba de Hiroshima foi o marco sim-


bólico do surgimento do pós-moderno. Ali, a
modernidade encerrou seu capítulo na história
ao superar o poder criador pela força destrui-
dora, segundo Jair Ferreira dos Santos, no livro
O que É o Pós-Moderno. Junto a uma série de
manifestações artísticas, que dei-xaram trans-
parecer o sentimento diante de tal compor-
tamento humano – como exemplo, o poema
acima, de Vinícius de Moraes – vieram outras
consequências: vazio, ausência de valores,
hiper-realidade, sedução, saturação. Se antes, no
modernismo, as pessoas lidavam com a criação,
agora, lidam constantemente com a informação.
E é justamente no meio desse bombardeio que
o grafite, uma técnica criada ainda no Império
Romano, é retomado e adquire outro valor. Com
ele, o artista toma “posse” dos espaços públicos,
AIMÉ
50

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manifestações é unicamente o su-
porte: o muro.
Foi somente no início da
década de 90 que Kobra teve con-
tato com o grafite propriamente
dito, aquele intitulado de marginal
(realizado sem a autorização dos
proprietários do local). Nessa época,
empenhado em imprimir sua arte
nos muros tão cinza de São Paulo, o
artista foi detido duas vezes. Em uma
delas, estava em um túnel localizado
em frente ao Parque do Ibirapuera e
foi surpreendido por uma viatura. Era
época de Copa do Mundo e o delega-
do logo avisou aos três amigos: “Se o
Brasil perder, vocês ficarão dois dias em pé sem tem se dedicado ao muralismo. E nessa pers-
sair daqui.” Por sorte, a seleção saiu vitoriosa e pectiva, surgiu o Muro das Memórias, projeto
eles puderam ir embora. Perderam o material, com objetivo de transformar a paisagem urbana
que ficou detido. através da arte. É um trabalho que exige maior
Essa época de grafite marginal, no elaboração e tempo e, para ser produzido, de-
entanto, parece hoje perdida na memória. Kobra mora no mínimo uma semana. As criações ricas
em detalhes, extremamente realistas, de estética
perfeita já figuram em 19 pontos da cidade.
Entres eles, murais nas Avenidas Sumaré, Paulista,
Rebouças, Hélio Pelegrino, Rangel Pestana, Henri-
que Schaumann e no bairro da Vila Madalena. “Já
entreguei 19 murais para a cidade de São Paulo
e pretendo presentear a capital com muito mais
obras”, diz Kobra com entusiasmo. Segundo ele,
o trabalho na Avenida 23 de Maio tem possibili-
dade de ser expandido para 2 mil metros quadra-
dos, tornando-se o maior mural do mundo.
Atualmente, Kobra desenvolve sua
produção pessoal, que passa pela pesquisa de
materiais reciclados e novas tecnologias, como
a pintura em 3D sobre pavimentos (realizada
também por nomes internacionais, como Julian
Beever e Kurt Wenner), além de reciclar e recriar
momentos e formatos da história da arte e das
cidades. No mesmo caminho dos grandes grafi-
teiros que, de artistas marginais, passaram a ser
conhecidos e requeridos, Kobra vem recebendo
convites por parte de agências de publicidade,
órgãos públicos e arquitetos de interiores de
São Paulo e outras capitais do Brasil. A ideia é
que o Muro das Memórias invada outras cida-
des. Mas enquanto isso não acontece, os paulis-
tanos – mais que privilegiados – não têm do que
reclamar.
AIMÉ
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[sexo]

AIMÉ
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Triângulo
escaleno
Por Adriano Zanni

Um gay bem resolvido, uma esposa desinformada e, no vértice principal da figura, um


marido, pai de família, ávido por experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo. O
conturbado triângulo amoroso, com três lados completamente distintos, pode propor-
cionar aventuras, mas também boas doses de frustração e constrangimento

R
elacionar-se com homens casados
é o target deles. A atração por pais
de família, senhores engravatados,
figuras supostamente mais masculi­
nizadas, envolve o cotidiano de muitos gays,
bem resolvidos até, mas que não dispensam
uma inu­sitada aventura. O problema, segundo
muitos terapeutas, é quando eles caem em si
e se veem envolvidos emocionalmente com
alguém que não pretende amarrar nenhuma
espécie de nó. Pelo contrário, irá sim deixá-los
completamente de mãos atadas. Afinal, nessa

AIMÉ
53

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relação, quem costuma dar as cartas é quase sempre. Tínhamos certa cumplicidade, além
sempre o “pulador de cerca”. da química no sexo.”
“Já saíamos há quase dois anos. Não supor-
tava mais aquele tipo de relação, apesar de Divisor de águas
todo meu fetiche por homens casados, mais Mas só isso não foi suficiente para segu-
velhos e enrustidos. Queria que ele compartil- rar a relação. O divisor de águas aconteceu
hasse mais seu tempo comigo. Mas, depois em uma balada, quando Adolfo viu o affaire
do gozo na cama, vinha sempre a história da acompanhado da esposa. “Lembro-me como
esposa, dos filhos, da pressão da sociedade.” se fosse hoje. Ela era da idade dele, alta,
O relato de Adolfo*, 29 anos, residente em bonita, simpática. O tempo todo ele ficou
Bauru, interior de São Paulo, expressa fiel- me flertando na frente dela. Tinha medo que
mente a dimensão do relacionamento conser- acontecesse alguma situação constrangedora.
vado por meses apenas entre quatro paredes. Fui ao banheiro, ele veio atrás, me puxou pelo
O jornalista viveu uma espécie de romance braço e disse que precisava me ver naquela
com outro homem, cerca de 20 anos mais semana”, relata.
velho, casado, pai de dois filhos e que lançava E, de fato, se viram. Mas Adolfo colocou
mão da agenda de compromissos profis- um ponto final na história, embora conserve
sionais, sempre lotada, para restringir seu até hoje as saídas esporádicas com homens
tempo com o amante, que ainda tinha que ser casados. “Eles me atraem muito. Mas não é o
dividido com a família. tipo de relacionamento que desejo para mim.
A história começou em frente à vitrine Afinal, não vai muito além de uma cama. Hoje,
de uma loja de roupas, no shopping da ci- consigo ver melhor isso.”
dade. Foram dois encontros casuais, troca Para a terapeuta sexual Maria Lucia Biem,
de olhares, sorrisos e pronto. A curiosidade quando um indivíduo opta por viver na
estava aguçada. “Dias depois, o reencontrei, condição de amante, é importante que ele
por acaso, em um chat. Quando lhe perguntei tenha estrutura emocional para manter esse
a descrição física, não tive dúvida: era ele. O relacionamento sem sofrimento, uma vez
cara também me reconheceu. Marcamos logo que não terá a companhia dessa pessoa em
o primeiro encontro, que acabou na cama de momentos especiais de sua vida.
um motel. Mas, para mim, o lance representou “A possibilidade de a relação ser assumida
bem mais do que isso”, garante Adolfo. socialmente é pequena, mas em alguns casos
Depois do debut, quase uma dezena de pode ocorrer, quando ambos se apaixonam
novos encontros, sempre nos horários em e esse homem casado resolve lidar com seus
que o jovem senhor, personalidade conhecida conflitos sexuais. Mas, na maioria das oportu-
na cidade – segundo Adolfo – estava livre. nidades, o amante é tão somente um objeto
“Quando o conheci no shopping, não tinha de desejo sexual, cercado de adornos, discur-
certeza de que era casado. Mas, depois que o sos prontos e falsas promessas”, diz.
vi com os filhos, fiquei ainda mais interessado. Adolfo ainda revela que, por intermédio
Era todo engra­vatado, charmoso, me ligava de conhecidos, ficou sabendo que o compan-
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heiro fazia parte de uma espécie de confraria A Internet como ferramenta de caça
de homens casados da cidade que se reuniam Apesar de descolado e com experiência em
para comentar seus casos amorosos e, o mais aventuras, o músico não hesita em dizer que já
espantoso, promover um intercâmbio de par- se apaixonou à primeira vista por um homem
ceiros – ou seja, gays que estariam dispostos a casado que conheceu em site de relaciona-
levar aquele tipo de relacionamento adiante, mento. Hoje em dia, há centenas de perfis com
no maior sigilo. “Aquilo me chocou e pensei: a descrição da tão cobiçada espécie, isto é, que
preciso me valorizar mais”, comenta. expõem claramente os pré-requisitos para o
posto de amante: ter local próprio para encon-
“Amélia” tros, ser discreto, não pegar no pé e não telefo-
George*, 36 anos, músico, confessa ter nar em horários impróprios.
sorte nos seus relacionamentos com homens “O Ricardo deixava claro que era apenas uma
casados. Para ele, a fórmula pode funcionar pulada de cerca. Ele tinha 32 anos e 1,86 m de
adequadamente. “Tive um relacionamento altura. Descendente de italianos, cabelos pretos.
em que o cara já estava praticamente no fim Acertou em cheio na minha preferência. Nos
de seu casamento heterossexual, pronto para víamos dentro das possibilidades dele, somente
embarcar de vez numa relação homossexual. durante a semana, duas ou três vezes. Eu não
Che­guei a ficar com ele durante um ano. ligava à noite. Aliás, não ligava nunca. Passava
Depois, terminamos e ele não voltou para a o dia esperando um telefonema. Terminou
esposa e está em outro relacionamento ho- quando a mulher desconfiou de uma conversa
mossexual. O truque pra não se ferir é pôr um no MSN. Ela chegou de surpresa, ele fechou
limite, é realmente não se entregar por inteiro. a tela abruptamente e engasgou-se quando
Não se apaixonar! Você sempre será o outro”, ela indagou com quem ele conversava”, relata
ensina o músico. George.
Maria Lúcia concorda e afirma que, nesse Maria Lucia Biem acredita que, assim como
triângulo amoroso, é comum o amante não nas relações formais, é preciso haver transpar-
sentir ciúmes da esposa, uma vez que ela é ência, cumplicidade e confiança. Relaciona-
a traída. No entanto, não admite a hipótese mentos velados também carecem de regras
de outro gay na história. “E talvez isso possa mínimas que sejam boas para ambos. “Mesmo
explicar por que alguns gays se sentem mais que o homem casado decida assumir sua
‘Amélias’ do que nunca”, dispara. orientação homossexual, em que pé irá ficar
Para George, o fato de dividir a cama com a confiança do parceiro gay? Será que ele não
alguém supostamente heterossexual é como vai ter sempre uma indagação consigo próprio
ganhar um troféu. Mesmo assim, confessa sobre a possibilidade de existir uma traição
que há coisas que irritam muito em um futura? Lealdade e respeito são fundamentais.
relacionamento. “Cheguei a brigar com um Sem isso, não há como levar adiante”, esclarece
cara que me cobrava fidelidade, mas não me a terapeuta.
dava exclusividade. Ele tinha outros na cama
certamente.” * Os nomes foram alterados a pedido das fontes
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[especial]

Ilustração: Edson Novaes Neves / Cor: Hudson Calasans

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O sonho
de ser pai Por Fernanda Faria

Como realizar a vontade de ter filhos e ainda enfrentar o


preconceito tão evidente nos tempos modernos

“T
enho um de- desejado pelos casais gays. que passarão por uma seleção
sejo forte de “Prefiro a inseminação artifi- na qual só os melhores serão
ser pai.” A frase cial pois, apesar de a adoção escolhidos e, posteriormente,
dita por João*, ser um gesto muito bonito e injetados no útero da mulher
23 anos, deixa claro o anseio louvável, visualizo em um filho durante o período de ovula-
de muitos gays que têm o uma parte de mim, genetica- ção. Muitos gays contratam
sonho de ter um filho. Trocar mente falando”, confessa João. uma mãe de aluguel para
fraldas, levar ao colégio, fazer E muitos gays pensam como gerar seu bebê por meio da
a lição de casa. Vontades que ele. Para se sentirem comple- inseminação artificial. Porém,
são partilhadas tanto por gays tos precisam saber que uma o nascimento de uma criança
quanto por heterossexuais. parte de cada um deles está gerada por esses procedimen-
A família gay é um modelo presente na célula a partir da tos não dá direito aos pais de
que atualmente vem ganhan- qual seu filho será gerado. registrarem seus filhos com o
do maior notoriedade den- nome de dois pais ou de duas
tro da sociedade moderna. Medicina a favor mães.
Cada vez mais o espaço está A inseminação artificial Atualmente uma nova
aberto para novas formas de pode acontecer de duas técnica vem sendo desen-
constituição familiar; as várias maneiras: a inseminação de volvida por pesquisadores da
opções de produção indepen- embrião ou de espermatozoi- Universidade Federal do Rio
dente por parte de pessoas des. Na primeira, a ovulação é de Janeiro (UFRJ). Através da
solteiras possibilitam que estimulada por uma medica- descoberta de que qualquer
homens e mulheres homosse- ção, os óvulos são colhidos e célula do nosso corpo tem
xuais assumam a maternidade fecundados fora do corpo da potencial para retornar a um
e a paternidade conforme mulher (fecundação in vitro) estado primitivo e versátil,
seus ideais. com espermatozoides do fu- pesquisadores começam a
Para que o tão sonhado turo pai. Logo depois o óvulo investigar a possibilidade de
desejo de ter filhos aconteça, fecundado é colocado no úte- homens serem capazes de
gays e lésbicas optam pela ro materno, gerando assim o produzir óvulos e mulheres
adoção, através de meios chamado “bebê de proveta”. O terem a chance de gerar
legais, ou então pela insemi- segundo método consiste em espermatozoides. Ou seja,
nação artificial, método mais retirar os espermatozoides, casais gays poderiam ter
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filhos biológicos. O grande ça são os mesmos utilizados gays podem criar seus filhos
responsável são as chamadas para os casais heterossexuais, da mesma forma que um casal
células iPS (sigla inglesa de pelo menos teoricamente. São hétero: “As dificuldades de
“células-tronco pluripotentes realizadas entrevistas, conver- aceitação da homoparentali-
induzidas”), cujas capacidades sas com familiares, é averigua- dade têm como base argu-
aparentemente miraculosas da a estabilidade financeira mentos de ordem biológica,
ainda estão em fase de estu- etc. No entanto, algumas religiosa e psicológica. Esses
dos. Elas são funcionalmente entrevistas são muito subjeti- argumentos são: não é natural,
idênticas às células-tronco vas e as formas de o assistente é pecado e é disfuncional, já
embrionárias, que compõem social explorar os critérios em que a criança necessita de um
o organismo de embriões com questão podem ser diferentes: pai e de uma mãe. Embora
poucos dias de vida e con- quando se comparam casais esses argumentos sejam facil-
seguem dar origem a todos heterossexuais e homossexu- mente questionáveis, a força
os tecidos do corpo humano, ais, chama atenção o maior cultural por trás deles é ainda
dos músculos do coração aos interesse em conhecer a vida muito grande.”
neurônios do cérebro. sexual de casais de gays e de Em consequência desse
Sendo assim, para possi- lésbicas, o que não chega a fato, casais gays temem a
bilitar o nascimento de bebês ser tão relevante quando o rejeição dos filhos. Especia­
com o DNA de dois pais (ou investigado é heterossexual. listas orientam que essa nova
de duas mães), seria necessá- Diferente da maioria, há estrutura familiar seja tratada
rio obter amostras de células muitos gays que não sentem o quanto antes, isto é, que a
do casal e reprogramá-las vontade de ser pais, seja criança seja preparada e possa
para produzir o tipo de célula através da adoção, seja da se acostumar com o con-
sexual do sexo oposto – es- inseminação artificial. É o caso ceito de diversidade familiar.
permatozoides no caso de de Roberto*, de 20 anos. Ele Klecius ressalta que “é preciso
mulheres, óvulos no caso de conta que já trabalhou com que a criança aprenda desde
homens. Por causa da ausên- crianças e considera esse pro- cedo a aceitar e a respeitar as
cia do sistema reprodutor jeto uma empreitada enorme: diferenças. Com o tempo, ela
feminino, um casal de homos- “Acho que posso colaborar poderá compreender melhor,
sexuais do sexo masculino com o mundo de outra ma- mas a formação da atitude
precisaria de uma mãe de neira e também não tenho não preconceituosa deve se
aluguel para gerar seu bebê; medo de solidão na velhice. dar o mais cedo possível”.
já mães lésbicas poderiam Muitos gays têm essa para- João sabe que enfrentará
decidir qual das duas daria à noia.” Mas será que só a ausên- obstáculos para alcançar o
luz a seu filho biológico. cia de medo de envelhecer sonho de ter um filho bioló-
sozinho pode ser uma justifi- gico, contudo está disposto a
Enfrentando o cativa para não querer deixar superar todas as barreiras em
preconceito herdeiros? O preconceito e a busca de seu maior objetivo:
Já em casos em que a discriminação também são ser pai. Além disso, muitos
adoção é escolhida, o casal fatores que influenciam o gays, aqui representados por
necessita cumprir uma série desejo de não ter filhos. João, desejam um futuro dife-
de trâmites legais e buro- Na opinião de Klecius Bor­ rente para seus descendentes:
cráticos para concretizar o ges, psicólogo que trabalha “Desejo muito que as pesso-
procedimento. Mesmo assim, com a Terapia Afirmativa para as deixem de olhar para os
no Brasil esse ainda é o meio Gays e Lésbicas há nove anos outros se achando melhores
mais procurado por gays que no Estado de São Paulo, o ou superiores, não há certo ou
querem ter filhos. preconceito ainda lidera as errado quando tratamos de
Os critérios para a avalia- discussões sobre o assunto. A relações humanas.”
ção de um casal homossexual sociedade está aprendendo a * Os nomes foram alterados a pedido das
que deseja adotar uma crian- lidar com o fato de que casais fontes.
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[SOS]

Diário
deMaurício
Por Nina Rahe

O dia a dia de um ambientalista incompreendido

Maurício* era um incompreendido. Tinha alguns não tão


poucos hábitos que o isolavam até mesmo do mais simples
convívio social. Era paciência tanta que precisava ao ver fa-
miliares, amigos e conhecidos, que julgava mais confortável
a sua solidão. Momento em que não precisava aceitar calado
aos desperdícios ou evitar olhares de espanto aos mais cor-
riqueiros afazeres.
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A
cordava todos os dias às cinco da manhã. assim, era possível encontrar no lixo de recicláveis dúzias
Queria estar desperto ao despontar da mais de hastes de cotonetes (sem o algodão, é claro), algumas
pequena claridade para aproveitar ao máximo folhas de papel devidamente utilizadas (em sua frente e
o Sol, este que preferia chamar de a mais bonita verso) e umas poucas embalagens.
fonte de energia renovável. Há tanto tempo eram iguais Na empresa de jornalismo onde trabalhava, indignava-
seus dias que não se lembrava quando foi a última vez que se com a quantidade espantosa de papéis que se acumula-
precisou recorrer a alguma lâmpada. Ou melhor, lembrava vam na impressora. Discreto, Maurício separava cada uma
vagamente. Estava hospedando um de seus pequenos so- daquelas folhas para utilizar seu verso. Fazia a conta: além
brinhos e, ao ouvir berros e mais berros durante a madru- da derrubada de árvores, 50 mil folhas de papel por mês
gada, espantou-se a ponto de agir sem pensar: acendeu as (cem pacotes de 500 folhas), representam, indiretamente,
luzes antes mesmo de recorrer às velas dispostas na cabe- 128.000 litros de água mensais (utilizados na fabricação). E
ceira. E nessa atitude impensada – ou insensata, como logo pensava: se metade do papel utilizado passasse a ser
preferiu nomear – engoliu tamanho ódio ao descobrir que usado dos dois lados, o consumo cairia 25%. Mas Maurício
tantos gritos eram simples pesadelo. era um só e não conseguiria em vida usar o verso de todos
Maurício vivia em um tempo cronometrado, no qual aqueles papéis. Logo as pilhas se acumulavam, ocupavam
cada segundo representava contenção de gastos de tudo espaço desnecessário e então Gentil – o encarregado de
o que se pode nomear como fonte não renovável. Todo sumir com tamanho “lixo” – aparecia. A Maurício, restava
dia, ainda no escuro, aproveitava para realizar o toalete. observar com pesar o sumiço sabe-se lá para onde daque-
A ducha era ligada por uma fração de segundo, tempo las folhas mal aproveitadas.
mais que suficiente para molhar o corpo. Então Maurí- Acostumado a viver na metrópole, Maurício fez do som
cio se ensaboava lentamente, convicto de que naquela das ruas e do arrancar dos carros a sua música. Gostava
pequena medida de economia, naquele pequeno de elogiar zumbidos, justificando como eram bons esses
gesto, estava salvando seu planeta. Embora tal conta já sons assimétricos e desrítmicos da rua: incomparáveis a
soubesse decor, não havia dia em que não recalculava qualquer outra melodia. Há tanto havia incorporado esse
os gastos: uma ducha gasta em média 160 litros de água discurso que nem se lembrava quando, certa vez, cansado
durante um banho de 10 minutos; fechando o chuveiro dos olhares tortos ao discorrer sobre economia e uso
para se ensaboar ou lavar os cabelos, a economia será de racional de energia (não admitia aparelhos de som ligados
30 mil litros de água em um ano. A essa conta, Maurício junto com televisores e tantos quantos aparelhos eletrôni-
acrescentava o fato de realizar o mesmo procedimento cos fossem possíveis para atrapalhar o silêncio – tendo
há 20 anos e então sorria satisfeito ao lembrar dos 600 consequências apenas para o meio ambiente), inventou
mil litros de água economizados. tal excentricidade: “gostar do som das ruas!” Agora, toda
Mais satisfeito ficava quando aproveitava para urinar vez que chegava em um desses ambientes de tamanha
durante o banho. Era extremo o prazer ao imaginar a poluição sonora – e ambiental – dizia: “Por obséquio, po-
economia dos 12 litros de água gastos a cada descarga. demos ouvir o som dos automóveis?”
Mesmo assim, ainda se lamentava com as outras duas Longe de se considerar galã de cinema, Maurício
vezes que utilizava o banheiro no trabalho (impossível esperava com não pouca esperança o seu happy end. Um
realizar o mesmo procedimento). Embora não gostasse dia, no entanto, cansado de tanta batalha, não conteve
de admitir, não foram poucas as vezes que, vendo que o o choro (afinal, super-heróis também têm sentimentos)
banheiro estava ocupado antes de sua entrada, pensou ao mais uma vez encontrar embalagens atiradas ao chão,
em alertar: “Não dê descarga! Espere que eu dou por nós donas de casa lavando a calçada com a água do planeta,
dois.” Jamais seria compreendido. além da enorme fila de carros engarrafados (cada um
O ritual de higiene, no entanto, só terminava quando, deles com apenas uma pessoa dentro). Nesse dia, encon-
após utilizar o cotonete, colocava em lixos separados o trou refúgio, porto seguro, fortaleza: em prantos, correu
algodão e a haste. Antes de sair para o trabalho, Maurício até a árvore mais próxima. Ali, chorou, rezou e, no último
ainda recolhia qualquer vestígio de materiais recicláveis. lamento, disse sábias palavras: “Mãe-geradora-de-vida
Não eram muitos, pois – inconformado com a quantidade (era assim que chamava a sua árvore), perdoai-os. Eles não
de embalagens do tipo caixinha-dentro-de-um-saquinho- sabem o que fazem.”
dentro-da-sacola-dentro-do-sacolão – há tempos havia * Personagem de ficção
reduzido seu cardápio a produtos não industrializados, **As informações foram obtidas por
alimentando-se basicamente de frutas e verduras. Mesmo intermédio do Instituto Akatu.
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[aime moda]
Modelo: Daniel Grah
Edição de Moda: Fernanda Kazalla
Produção de Moda: Leandro Lourenço
Maquiador: Robson Almeida
Fotografia: Marcio Amaral

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ONDE ENCONTRAR
A Minha Vó Tinha: 11. 3865-1759
Fernando Moreira: 11. 2594-1735
João Pimenta: 11.3034-2415
Superga: www.superga.com.br
Tony Jr.: 11. 2574-1337
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Mario Queiroz: 11. 3062-3982
Danilo Costa: 19. 9795-2105
Marcelo Ferraz: 11. 7605-1801

Macacão - Danilo Costa / Flores - Fernando Moreira

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Blazer - João Pimenta / Bermuda - Marcelo Ferraz / Tenis - Superga / Cartola - Fernando Moreira

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[comportamento]

Atendimento
personalizado Por Raphaella B. Rodrigues

Discriminação faz com que os LGBTTs


evitem unidades de saúde

“N
inguém mandou ser gay, é por isso que está nunca soube de nenhuma atitude assim.”
com dor.” Foi o que ouviu Ricardo*, 26 anos, Uma pesquisa realizada pela Secretaria de Saúde de São
de um proctologista durante a consulta. Hoje, Paulo durante a 12ª Parada do Orgulho Gay mostrou que
passando a mão na franja comprida que 59% dos jovens gays evitam procurar unidades de saúde por
insiste em cair no rosto, Ricardo conta que logo que entrou medo de sofrer preconceito. Do total de 576 entrevistados,
na sala do consultório foi muito bem atendido. “O médico foi 527 se declararam LGBTT. Segundo a pesquisa, 82% avaliam
simpático e o início da consulta foi bom.” Foi somente depois os serviços de saúde como inadequados e a maioria afirma
que Ricardo revelou que era homossexual que o atendimento buscar assistência médica somente em casos de urgência.
mudou e até mesmo a expressão do especialista se transfor- Mesmo com uma amostragem pequena, a pesquisa aponta a
mou. “A feição do rosto dele fechou. Ele se tornou seco, me existência de discriminação na área de saúde, o que pode im-
mandou tirar a calça e me arrumar para fazer o exame.” pedir o diagnóstico precoce de doenças e até mesmo trazer
De acordo com o Departamento de DST e Aids do complicações pela falta de atendimento e de tratamento
Ministério da Saúde, a orientação sobre o atendimento está adequado.
especificada no terceiro princípio da Carta dos Direitos dos No Centro de Referência de Tratamento de Aids, onde
Usuários da Saúde, publicada em 2006, que “assegura ao está localizado o Ambulatório de Saúde Integral para Tra-
cidadão o atendimento acolhedor e livre de discriminação, vestis e Transexuais – inaugurado em junho de 2009, na R.
visando à igualdade de tratamento e a uma relação mais Sta. Cruz, 81, em São Paulo –, os profissionais perceberam a
pessoal e saudável”. necessidade de um atendimento especializado. “O objetivo
Segundo o Dr. Joaquim de Almeida Claro, chefe de aten- é oferecer saúde integral para esse público que sofre com a
dimento do Ambulatório do Homem, no Hospital Brigadeiro, falta de habilidade dos profissionais de saúde”, afirma a Dra.
em São Paulo, não existe nenhuma orientação em relação Maria Filomena Cernicchiaro, diretora do ambulatório.
ao tratamento dispensado ao homossexual no hospital. O ambulatório atende desde pessoas com gripe, até
“Do mesmo jeito que não perguntamos qual é a religião do pessoas com necessidade de uma atenção mais especia-
paciente, não perguntamos sobre a sua opção sexual. Não lizada, como acompanhamento do tratamento hormonal
existe nenhuma política especial de atendimento”, afirma. ou mesmo aquelas que estão na espera pela cirurgia de
Embora a orientação sexual ou mesmo a religião não readequação sexual (feita somente no Hospital das Clínicas).
devessem ser fatores de discriminação, na prática, é cons- Segundo a diretora, a escolha dos especialistas passa por
tante a manifestação preconceituosa de alguns médicos. O uma avaliação do perfil do profissional para que não sejam
Dr. Claro acredita que, se a pessoa for preconceituosa, isso se contratados os que não possuem afinidade com a população
manifestará em qualquer profissão que ela seguir. “Se antes do centro.
de se formar médico já existia uma visão preconceituosa, não A equipe de profissionais para o atendimento nas áreas
tem como não ser um médico cheio de preconceitos. Vai de de Urologia, Proctologia, Ginecologia, Psiquiatria, Endocrino-
acordo com a pessoa”, explica ele, e logo antecipa: “Aqui eu logia, Dermatologia e também Assistência Social, não está
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completa. “Por causa desse processo de análise do perfil, A política do Sistema Único de Saúde (SUS) orienta que os
ainda buscamos médicos para algumas áreas”, afirma a Dra. hospitais públicos aceitem o nome social.
Filomena. No ambulatório, a Dra. Filomena diz que cumpre essa
Por falta de um atendimento especializado, Alessandra política durante o atendimento e coloca os dois nomes na ficha:
Saraiva, designer, transexual e coordenadora da Secretaria de o social e o civil. No entanto, com o começo das operações no
Travestis e Transexuais da Associação da Parada do Orgulho ambulatório, descobriu-se que para a equipe do laboratório
LGBT, não tem boas recordações das consultas médicas. Ela é necessário fichar com o nome civil. “Existem muitas Paolas,
acredita ser necessário um ambulatório para dar apoio e con- Sabrinas, Priscilas, precisamos de um nome completo no registro
dições de tratamento para quem quer mudar de sexo. Ela, para que não ocorra troca de exames”, afirma a médica.
que hoje só espera a resolução do juiz para ser considerada Alessandra relata que diversas vezes passou por cons-
legalmente mulher, explica que sempre se sentiu como uma trangimentos por causa do nome. “Já fiz barraco no hospital,
mulher e foi somente através do apoio de sua terapeuta que mesmo morrendo de dor, para ser atendida”, reclama. Como
conseguiu se assumir como tal. a transexual ainda não teve o nome alterado, consta nos
Para sua transição física, Alessandra precisava de um documentos e no plano de saúde o nome masculino. “A
acompanhamento endocrinológico e não conseguiu obtê-lo partir do momento em que a pessoa não muda aquela vogal
em Manaus. Com um tom irônico, ela conta que a primeira e mantém o nome do registro, todo o resto é insuportável,
médica endocrinologista que procurou a encaminhou para você só tem problemas e constrangimentos”, reitera.
o tratamento no Rio de Janeiro. “Morava em Manaus e para Com medo de sofrer mais discriminação, Ricardo arranjou
chegar até o Rio de Janeiro não era só atravessar a ponte ou uma espécie de solução preventiva: só procura médicos
pegar um ônibus.” Segundo Alessandra, essa foi a mais sim- indicados por amigos e conhecidos. “Não vou arriscar ser
pática, já que outra médica disse que não tinha experiência discriminado de novo.”
no assunto e a dispensou. Como resultado dessas experi- A Dra. Maria Filomena espera que o ambulatório seja
ências, Alessandra passou a ter medo de endocrinologista. apenas o início de uma sensibilização maior e que o trabalho
“Costumava brincar dizendo que tinha pavor de endocrinolo- realizado por ele envolva outros municípios. “Quem sabe da-
gista, porque toda vez saía chorando. Você não tem nenhum qui a algum tempo não precise ter um centro específico para
tipo de apoio.” atender essa população. Eles têm o direito de ser atendidos
Ricardo também não tem boas lembranças da discrimi- em um hospital ou pronto-socorro como toda a população”,
nação sofrida ao procurar o proctologista. Desconcertado, acredita a médica.
ele não retornou nem mesmo para mostrar os exames. “Já é
constrangedor para um homem fazer um exame proctológi- * O nome foi alterado a pedido da fonte
co, imagine depois de ouvir que a culpa das minhas dores era
a minha escolha sexual?”
Como ele, Alessandra passou a evitar ao máximo as unida-
des de saúde. Logo depois da cirurgia para mudar de sexo, so-
freu com uma complicação renal por causa da cicatrização e só
procurou um médico nove meses depois. “Tinha tanto medo
de o médico me tratar mal, que meu problema se agravou e
precisei fazer duas cirurgias. Passei milhões de situações cons-
trangedoras, de urinar em supermercado, em fila de banco,
com incontinência urinária, porque não queria ir ao médico.”
Para os transexuais, além do atendimento inadequado,
outro problema é decorrente do nome social do paciente. A
Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde garante o direito do
cidadão de ser registrado com o nome que deseja ser chama-
do. Portanto, além da identificação pelo nome e sobrenome,
deve existir em todo documento de identificação das institui-
ções de saúde um campo para se anotar o nome pelo qual o
paciente prefere ser chamado, independentemente do registro
civil, não se podendo tratá-lo por número, nome da doença,
códigos, de modo genérico, desrespeitoso ou preconceituoso.
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A pior manifestação:
o preconceito Por Lívia Velasco

“Deus fez o homem e a mulher [com sexos diferentes] para que


cumpram seu papel e tenham filhos.”
(Frase popular, anônima, que tem a concordância de 11 em cada 12 brasileiros)

“N
unca [sofri] nenhum tipo de Os dois jovens não se conhecem, estão em
agressão física. Mas já fui cha- contextos bastante distintos, mas concordam
mado de ‘viadinho, pederasta com uma afirmação, e certamente a dividem
e escória da sociedade’ por um com a maioria dos homossexuais: a homofobia
cara desconhecido que me viu beijando um na- existe no Brasil e ela se manifesta de diferentes
morado em frente de casa. O cara parou o carro maneiras. Para enxergá-la basta ter um olhar
só pra vomitar as ofensas e foi embora. Também mais crítico e menos permissivo. Manifestações
já soube que pessoas que me tratavam normal- tidas como piadas, apelidos pejorativos e até
mente costumavam se referir a mim como ‘o mesmo assassinatos são muito mais frequentes
viadinho da turma’.” Esse exemplo de agressão do que se pode imaginar.
moral foi relatado por Luis Augusto Suassuna e De acordo com uma pesquisa do Grupo Gay
Bega, estudante de 23 anos, que mora em Cam- da Bahia – mais antiga associação de defesa dos
po Grande, Mato Grosso do Sul. direitos humanos dos homossexuais no Brasil –,
Do outro lado do Atlântico, em Barcelona, na publicada no relatório “Assassinatos de Homos-
Espanha, o pós-graduando em Gestão Cultural, sexuais no Brasil (2005)”, São Paulo e Pernambu-
Leonardo Lopes, de 25, que mora na cidade co são os Estados mais violentos. No relatório,
há dois anos conta uma outra realidade: “Aqui empresários, cabeleireiros, padres, pais de santo
o preconceito é muito menor, mas bem, bem, e funcionários públicos estão entre as principais
bem menor do que no Brasil. Ser gay é normal. vítimas e, no topo, estão os afro-descendentes.
Vira e mexe você anda nas ruas e encontra Outra constatação surpreendente é que menos
casais de mãos dadas e trocando carinhos. No de 10% dos criminosos são levados a julgamen-
Brasil os homofóbicos são mais ignorantes.” to.
Leonardo e Luis Augusto estão em conti- Ainda segundo a pesquisa, o Brasil se desta-
nentes diferentes. De um lado, a capital sul-ma- ca com índices homofóbicos no cenário mun-
togrossense, conhecida por suas ruas largas e dial. Numa lista de 25 nações sobre as quais há
arborizadas, escala de turistas do mundo inteiro informações disponíveis – incluindo Irã, Arábia
com destino a Bonito e Bodoquena; do outro, Saudita, Somália, Argentina, Peru e Colômbia,
bem longe, a cosmopolita Barcelona, terra do além dos principais países europeus – o Brasil
pintor Joan Miró, que deslizou seus pincéis com ocupa o vergonhoso primeiro lugar, com mais
influências do Fauvismo e do Cubismo. de cem crimes homofóbicos por ano, seguido
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Existência de preconceito contra LGBT no Brasil

92 92 90 93 91

70 69 73 71
64

18 20 22
16 17
4 5 2 4 5 3 5 6 4 3 5 3 4 5 4
gays lésbicas bissexuais travestis transexuais

Existência de preconceito pessoal contra LGBT

72 71 70 69 69

26 27 27 29 28
14 15 15 15
9 10 10 12 14 11
2 2 3 2 5 2 2 2 2 3
gays lésbicas bissexuais travestis transexuais

Existe preconceito Um pouco Muito


Não sabe se muito ou pouco Não existe preconceito Não sabe se existe

do México, com 35 mortes anuais, e dos Estados Grupo vulnerável


Unidos, com 25. Diante dessa enxurrada de números alar-
Outro relatório divulgado no começo deste mantes, uma pergunta fica no ar: por que, com
ano, com o título “Diversidade Sexual e Homofo- essa enorme quantidade de casos, há ainda
bia no Brasil. Intolerância e respeito às diferen- poucas denúncias? Para Margarete Barreto,
ças sexuais”, produzido pela Fundação Perseu delegada titular da Delegacia de Crimes Raciais
Abramo e coordenado pelo sociólogo Gustavo e de Delitos de Intolerância (DECRADI), “o medo
Venturi, aponta que 92% dos entrevistados re- da exposição entre familiares e amigos pode
conheceram que há preconceito contra os LGBT, inibir a denúncia. Receber uma intimação no
sendo que 45% revelaram que o preconceito serviço ou em casa pode trazer mais transtor-
ocorre de forma velada. Na segunda fase da pes- nos, dependendo do caso, o que desestimula a
quisa, restrita ao público homossexual, 59% dos prática da denúncia”.
entrevistados disseram ter sofrido discriminação Embora atos de homofobia não sejam con-
por serem gays ou lésbicas. siderados criminosos, muitos dos casos podem
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Grau de aversão ou intolerância a grupos de pessoas (estimulada e única, em %)

Gente que não acredita em Deus 17 25 39 3 16 Repulsa / ódio


5 17 38 35 4 Antipatia
Gente muito religiosa
Indiferença
Travestis 9 13 66 7 6 Satisfação / alegria
Gente muito rica 4 16 67 10 3 Outras

Pobres 1 2 57 24 17

Transexuais, que mudam de sexo 10 14 64 5 8

Gente com aids 3 6 57 7 26

Ex-presidiários 5 16 56 6 17

Usuários de drogas 17 24 37 3 19

Gays 8 11 67 8 6

Lésbicas 8 12 67 6 6

Bissexuais 8 11 68 6 8

Prostitutas 8 14 64 5 9

Garotos de programa 10 16 61 3 10

ser enquadrados como crimes de intolerância. lência chega ao extremo e a pessoa paga com
A delegada explica que “se uma pessoa queima a vida pelo preconceito sofrido. Foi o caso de
a casa da outra, agride, constrange por meio de Marcelo Barros, chef de cozinha, espancado logo
palavras por causa da homossexualidade, o cri- após a Parada Gay em São Paulo. Margarete
me é de intolerância”. E acrescenta: “Nem todas está à frente das investigações e, para manter o
as ocorrências relacionadas aos homossexuais sigilo do caso e não atrapalhar o andamento das
estão ligadas ao preconceito, mas esse grupo se investigações, não quis tecer comentários. Mar-
tornou vulnerável pela não denúncia por medo celo Barros tinha 35 anos e era gay assumido.
da exposição.” O crime de homofobia poderia ser punido, se o
Leonardo nunca passou por situações em Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 122/06,
que julgou necessário recorrer ao amparo que criminaliza ataques por orientação sexual,
policial. Para ele, “a denúncia é somente quan- fosse aprovado no Senado.
do a situação chega a um ponto nocivo. Se for
um constrangimento fraco, eu acho que o gay
tem que sair dessa por cima, ou ignorando ou Serviços:
devolvendo de maneira que a pessoa se colo- Para mais informações acesse: www.naohomofobia.com.br
que no seu devido lugar. A denúncia existe para Gráficos retirados da pesquisa produzida pela Fundação Perseu
amparar, mas pra acabar como preconceito, não Abramo sobre “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil. Intole-
é a única maneira eficiente.” rância e respeito às diferenças sexuais”.
Infelizmente, existem casos em que não há Imagens retiradas do link: http://www.informes.org.br/docu-
chances de denúncia por parte da vítima. A vio- mentos/FPA_Pesquisa.pdf
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[Internacional]

Leitura
do tamanho
do bolso
Por Márcio Rodrigo Delgado

Variedade de revistas para o público gay na Inglaterra atende


a todos os gostos, até os de quem não tem dinheiro.

C
om uma população gay estimada em quase 3 milhões ca algumas das principais revistas que circulam na Inglaterra,
de pessoas com mais de 16 anos de idade, não é de entre elas a internacional GT (leia-se: Gay Times), DIVA e o
se estranhar que a Inglaterra tenha desenvolvido um jornal quinzenal Pink Paper – que, vítima do atual cenário
mercado editorial dirigido ao público homossexual. econômico, acaba de sair de circulação e, depois de 20 anos
Praticamente, há uma revista para cada gosto, dos mais exigen- no mercado, torna-se on-line.
tes aos que preferem ler o que encontram de graça pela frente. De graça
E a cada semestre novas publicações invadem as ruas do Cerca de 50% das revistas GLS chegam às mãos do leitor
Soho, o bairro GLS de Londres, com capas coloridas, modelos de completamente grátis. É a conhecida fórmula de fazer com
tirar o fôlego e conteúdo de qualidade muitas vezes duvidosa. que o anunciante pague a conta. Entre as publicações que
Em comum, todas têm pelo menos uma coisa: visam atingir não custam um centavo estão as revistas semanais Boyz e
o coração (e o bolso) de uma fatia de consumidores que no ano QX, que circulam desde a década de 90. Para cobrir custos
passado gastou mais de 2 bilhões de libras comprando livros, de impressão e distribuição, ambas contam com propagan-
revistas e CDs, 10 bilhões em roupas, e ainda outros 5 bilhões das de clubes, bares, imobiliárias, sites de relacionamento,
em produtos de beleza e decoração. Valores que, somados empresas que oferecem sexo através do telefone e garotos
e convertidos para o real, passam de 50 bilhões em artigos de programa. Já entre as revistas que cobram pelo conteúdo
supérfluos. estão a GT, a mais cara entre as revistas pagas com preço de
O fenômeno não é algo recente. Desde 1974, por exemplo, £ 3,75 (R$ 12,00), e as moderninhas reFresh e Attitude, que
o grupo Millivres Prowler explora o mercado gay e hoje publi- custam £ 3,25 (R$ 10).

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QX
O que chega às mãos do leitor: Semanal e gratuita, tem como ponto forte o extenso guia
Boyz Magazine de eventos de Londres e cobertura da noite gay da capital
Após lançar novo design em 2007 para amenizar a enorme inglesa. A pouca atenção a matérias mais elaboradas é visível
quantidade de conteúdo pornográfico, a publicação começou a já a partir da capa, geralmente trazendo um milimetricamente
focar mais em notícias, incluindo assuntos de saúde e beleza. perfeito modelo visto pelas lentes de um renomado fotógrafo,
O novo enfoque chamou a atenção não apenas da comu- mas sem manchetes e raríssimas menções de reportagens. De
nidade gay. No ano passado, a Boyz acabou servindo de fonte fato, folhear a revista é como visitar uma versão impressa do
para um programa da BBC após publicar reportagem sobre MySpace ou Facebook, com fotos em todos os lugares possíveis,
três jovens atores ingleses que foram infectados com o vírus títulos coloridos e quase nenhum conteúdo.
HIV durante filmagens de um filme pornô. Bent
Attitude Distribuída em mais de 400 bares no Reino Unido, é edi-
Distribuída em vários países, a revista, que surgiu em 1994, tada na cidade de Leeds e tem como destaque a cobertura de
faturou prêmios e aposta em moda, estilo e “attitude” para eventos, colunas de fofocas, lançamentos de filmes e paradas
atrair o leitor disposto a pagar para comprá-la nas bancas. A de sucesso. Para reforçar o faturamento, a cada dois meses é
banda McFly, os cantores Will Young e Sam Sparro, e até o vita- lançada uma versão catálogo da revista, vendendo os produ-
minado jogador de futebol sueco Freddie Ljungberg (garoto- tos de beleza, roupas, sapatos e acessórios fotografados para
propaganda da Calvin Klein), já deram o ar da graça na capa da os editoriais da mesma. A compra é feita pelo correio, bem ao
publicação. estilo antigo: uma espécie de Avon gay.
AXM Diva
Se a revista Capricho fosse gay e escrita em inglês, ela se Voltada para lésbicas e simpatizantes, a publicação mensal
chamaria AXM. Voltada para o público jovem gay e bissexu- foi criada em 1994 e seu principal atrativo são entrevistas com
al, durante quase dez anos a AXM mesclou cor e informação, ídolos gays e cobertura sobre mercado de trabalho. A banda
frequentemente com atores de seriados adolescentes e cantores Tatu e a cantora Pink já foram capa, mas seguindo a premissa
populares na capa. ‘delicadeza-é-coisa-de-mulherzinha’, Diva tem uma diagra-
Porém, em dezembro do ano passado, a publicação deixou mação enfadonha que lembra o boletim de um sindicato de
as bancas e passou a ter conteúdo exclusivamente on-line. trabalhadores rurais, com blocos imensos que parecem ter sido
Gay Times (GT) copiados da internet sem a ajuda do Photoshop.
Dirigida para um público mais adulto, e também distribu- reFresh
ída para diversos países ao redor do mundo, a GT explora os Bimensal e em tamanho maior do que o das concorren-
aspectos políticos que interessam ao cidadão gay no século 21, tes, reFresh aposta em fotos elaboradas, design e decoração,
abordando direitos e deveres, discutindo políticas e leis que uma trinca que é receita garantida para atrair gays, curiosos e
diretamente afetam o leitor GLS. deslumbrados de plantão – que não conseguiriam dormir sem
Apesar do conteúdo sério – são constantes as tentativas de descobrir o que a atriz Y estava usando no programa X .
conciliar assuntos delicados com editoriais trazendo modelos Com linguagem modernosa, a publicação não esconde a pro-
com bem pouca roupa, e a revista nunca abriu mão do fatura- posta de parecer um catálogo de artes para emergentes: no sub-
mento gerado por suas diversas páginas com anúncios de casas título do seu website, o slogan divulga o veículo como: ‘a revista
de massagem e garotos de programa. internacional de estilo perfeita para a sua mesinha de centro’.
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Bo y s
[na onda]

Concepção e produção: Luiz Eduardo Petrone / Fotografia: Sérgio Rousselet / Beleza: Erben Cau
Modelos: Vicente Ros, Carlos Lourenço e Daniel Machado / Agradecimentos: Solar do Gração pela locação e móveis

Colares e pulseira - Balai / Anéis - Rajasthan.

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Túnica e anel do pé - Rithual / Colares e anéis - Rajasthan / Almofadas e pano - Balai.

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Calça saruel preta e azul-marinho - Chifon / Turbantes - Rithual / Colares, pulseiras e anéis - Rajasthan.

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Calça pijama e pashmina - Rithual.

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Túnica caftan e calça pijama - Rithual / Pulseiras - Composit .

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Calça saruel - Sandpiper/ Anéis - Rajasthan / Cordão - Rithual.

Onde encontrar:
Balai - (www.balai.com.br)
Chifon - (www.chifon.com.br)
Composit - (www.compositmoda.com.br)
Rajasthan (21) 2267-7469
Rithual (21) 2620-8367
Sandpiper (www.sandpiper.com.br)
Solar do Gração, tel. (21) 2616-1924)
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[extra 2]

nã o re con h e c id a Por Raphaella B. Ro


drigues

Foi-se o tempo em que a tatuagem era símbolo de trans-


gressão. De tão comum, virou quase acessório, tão usual
como brincos ou colares. As tatuagens conquistaram a pele
de modelos, patricinhas, modernosos, adolescentes e, como
já era de se esperar, viraram figurinhas fáceis entre o público
gay – sempre atento a todas as tendências

O
preconceito, no entanto, não é enfrentou desde o início de sua carreira. “Tra-
página virada. Embora a mudança balhamos muito para mudar aquela imagem
do conceito depreciativo tenha tétrica que um estúdio de tatuagem tinha.
começado há algum tempo, não é Mostravam a tatuagem como uma coisa under-
difícil encontrar nos dias de hoje empregadores ground e, hoje, a preferência é por mostrar um
com restrições aos desenhos tatuados no corpo. estúdio limpo, bonito e organizado”, afirma. E
E é justamente contra essa imagem negativa para driblar o preconceito em relação à tatu-
que Sérgio Maciel tem lutado há tantos anos. agem, ele acreditou que o melhor jeito seria
Mais conhecido como Led’s – apelido que informar a sociedade. “Desde o começo procurei
ganhou depois de criar o estúdio de tatuagem fazer um tipo de assessoria de divulgação e toda
Led’s Tatoo –, o tatuador explica a batalha que matéria que aparecia eu estava lá dando a cara

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para bater, enfrentando as críticas e precon- agem foi encontrada em múmias egípcias, foi
ceitos, mas esclarecendo a sociedade sobre a relatada por Heródoto quando se referiu a um
arte da tatuagem.” grupo do norte europeu na Antiguidade e por
No caso dele, o amor pela tatuagem foi ar- Darwin, em 1871, ao falar dos aborígines.
rebatador. O menino que gostava de desenhar Com as explorações no oceano Pacífico e o
e havia estudado arte descobriu na tatuagem contato do Ocidente com povos da Nova Zelân-
um mundo novo: o encanto foi porque viu a dia e Polinésia, que usavam a tatuagem em
possibilidade de trazer o que se fazia na tela ou seus rituais religiosos, não demorou muito para
no papel para a pele. A tatuagem tem o mesmo que a arte de desenhar no corpo se tornasse
princípio da arte no papel, mas com um pincel febre na Inglaterra – cultuada, principalmente,
que, na verdade, é uma agulha descartável pre- por marinheiros. E foi esse o principal motivo
sa a uma máquina eletromagnética. Com 3 mil que fez com que a tatuagem fosse associada à
batidas por minuto, a tinta é aplicada na terceira criminalidade e à marginalidade. Mas a influên-
camada da pele e fica eternizada. O que muitos cia dos marinheiros não foi apenas negativa, já
já consideraram como simples rebeldia é, na que foi nesse meio que surgiu o nome para a
verdade, uma das artes mais antigas. Figuras arte de desenhar no corpo. James Cook, capitão
rupestres mostravam desenhos de formas hu- de um navio, escreveu, em seu diário, “tattow”
manas com pinturas em seus corpos. Sinônimo para se referir à arte. Para ele, esse era o som
de força, poder, fertilidade, vaidade, estratégia que se ouvia quando as agulhas – na época, os-
de guerra ou parte de um ritual religioso, a tatu- sos finos – eram batidas com martelos contra a

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pele. No Brasil, a tatuagem também fez sucesso partículas internas e a limpeza dos instrumen-
entre marinheiros quando foi trazida, no final da tais”, conta Led’s. Outra observação feita pelo
década de 1950, pelo dinamarquês Knud Harald tatuador é que as agulhas devem ser descar-
Lucky Gregersen. Mais conhecido por Lucky táveis e abertas somente no momento da
Tatoo, ele se instalou no porto de Santos e foi utilização, as tintas colocadas em recipientes
considerado, por anos, o único tatuador profis- individuais e os fios encapados para que não
sional no País e em toda a América do Sul. ocorra infecção cruzada.
A mudança do conceito depreciativo da arte Essas mudanças ajudam a quebrar o pre-
começou na década de 1970 com os surfistas conceito contra a tatuagem e colaboram para
californianos e seus desenhos de dragões e o reconhecimento. Mas, apesar das vitórias, os
serpentes e, na mesma época, com pessoas que profissionais da área ressentem-se do fato de a
tatuavam reproduções de imagens de artistas profissão ainda não ser reconhecida pelo Minis-
famosos como Marlin Monroe, James Dean tério do Trabalho. Essa é a luta do Sindicato dos
e Jimmy Hendrix. No Japão, a tatuagem foi Tatuadores.
símbolo de uma das mais famosas máfias, a dos Na pele de pessoas de diversas tribos
Yakusas, fato que dificultou a aceitação da arte urbanas, o tatuador acredita realizar sonhos. “A
pela população. Hoje, jovens japoneses ade­ tatuagem é uma joia à prova de roubo, eterni-
riram à tatuagem. zada na pele”, diz. E como falamos de sonho, a
Led’s teve seu esforço de melhorar a escolha do que tatuar é do cliente, mas a equipe
imagem da tatuagem artística reconhecido de Led’s sempre aconselha e, algumas vezes, faz
por seguir à risca todos os procedimentos de um desenho exclusivo. Na Itália, a preocupação
biossegurança: seu estúdio tem um padrão de com as motivações da tatuagem foi ainda mais
qualidade reconhecido pela Agência Nacional longe: um grupo do Departamento de Psicolo-
de Vigilância Sanitária (ANVISA), o que lhe gia da Universidade de Milão estuda o incons­
rendeu um convite para falar a tatuadores do ciente dos tatuados e classifica os desenhos e
Paraná. “Procurei ficar bem ciente dessa parte seus significados.
de assepsia e biossegurança. Na época em que Entre os famosos internacionais, Angelina
comecei, existia só a estufa e hoje é preciso ter Jolie tatuou no braço uma homenagem a seus
um aparelho de ultrassom que faz a quebra de filhos: a latitude e longitude do lugare em que
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cada um nasceu. O jogador de futebol David
Alguns tipos de tatuagem
Beckham, casado com a ex-Spice Victoria,
encontrou na tatuagem uma forma de homena­ são aqueles desenhos tradicionais, como uma âncora
Tradicional: ou uma gaivota, aliás, os marinheiros foram os
gear sua família. Entre as celebridades brasile- (tatuagem de marinheiro)
iras, a atriz Débora Secco foi notícia quando grandes divulgadores da tatuagem pelo mundo.
tatuou no peito do pé uma frase de amor para técnica oriental que utiliza bambu em vez de agulha.
Falcão, cantor do Rappa e seu namorado na Sumi:
Geralmente os desenhos são ricos em detalhes.
época. Ta­tuagem essa que fez a atriz recorrer ao
desenhos de retratos de pessoas, pássaros e perso­
laser para apagá-la. A top das tops, Gisele Bünd- Realista:
nalidades.
chen, tem uma pequena estrelinha no punho
esquerdo feita quando foi morar em Nova York muito difundida entre os índios. A pele é dissecada,
e viu que o céu não era estrelado como o de formando desenhos com uma infinidade de cores.
Alto Relevo:
Horizontina (RS), sua cidade natal. Método praticado principalmente por aborígines de
Led’s já deixou um pouquinho de sua arte origem africana.
na pele de mais de 20 mil pessoas e, entre desenhos de origem celta com figuras entrelaçadas.
elas, também muitos famosos. “Foi gente do Celta:
Pode ser preta ou colorida.
meio político, da música, da televisão. Inclusive
desenhos em preto ou coloridos com motivos tribais.
participei da sétima edição do Big Brother Brasil
Podem ser desenhos de tribos norte-americanas,
tatuando, ao vivo, por mais de oito horas, o Tribal:
haidas, maias, incas, astecas, com formas geomé­
Cowboy. Fiz tatuagem na Daniele Winits, Zélia
tricas ou abstratos.
Duncan, Nando Reis, no piloto Tony Kanaan,
foram muitos.” trabalhos grandes, geralmente de corpo inteiro, como
Para conferir mais sobre tatuagem e as Oriental: um painel. Os desenhos são com motivos orientais,
novidades desse mundo, nos dias 16, 17 e 18 de como samurais, gueixas e dragões.
outubro acontecerá a 13ª edição da Convenção trabalho supercolorido com desenhos totalmente
Internacional de Tatuagem com tatuadores do Psocidélica:
senseless.
Brasil e de mais 24 países. “É uma forma de di-
trabalho com personagens bíblicos, como um santo,
vulgar a tatuagem e de trocar experiências com Religiosa:
uma cruz etc.
tatuadores de todo o mundo”, afirma Led’s.
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[around]

NOVA YORK Texto e fotos: Joaquim Andrade

Sou testemunha ocular do que escrevo. Nos úl-


timos meses falei apenas sobre Nova York, pois é
onde moro no momento e assim será por alguns
meses. Logo volto a rodar o mundo, contando
o que há de mais “in” na cena gay. Por enquanto,
aproveite a cidade que carinhosamente chamo de
“A capital do mundo”.

A
credite, o verão este ano não tem sido como os
outros! Quente como sempre, mas bem menos
que o esperado. A cidade fica mais surreal que
nunca, com homens de terno e sandálias ou
médicos indo trabalhar de Havaianas.
A Times Square tem cadeirinhas e vias fechadas até
dezembro.
O Museum of Modern Art (MOMA) é de graça todas as
sextas-feiras, das 16h às 20h.
A imigração tem sido “generosa” com os turistas.
O transporte (metrô/ônibus) subiu para US$ 2,25.
As famosíssimas promoções clearance sale tiveram
descontos de 80% e ainda assim as vendas foram fracas.
Valores de aluguéis de apartamentos em ambos east e
west upper side de Manhattan caíram drasticamente.

Coroa aberta!
A famosa Estátua da Liberdade teve a visi-
tação ao topo reaberta. Porém, já há espera de
um ano para conseguir ingressos. Baratíssimos
(3 dólares), podem ser comprados no site www.
estatuecruises.com. As visitas são monitoradas e
é aceito um máximo de três grupos de dez pes-
soas a cada hora.
Sugestão: deixe a poeira baixar! Vá depois,
ano que vem!

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G Lounge! Não adianta dar o truque na idade – só
Para dançar sem ser “jogação” pesada, vá ao acima de 21 anos. Carteira de motorista do Brasil
Club G. Um chiquérrimo bar, com iluminação é suficiente! Deixe o passaporte no cofre!
rosa, ar-condicionado potentíssimo e sempre os Diariamente das 16h às 4h. Mas o boom
lançamentos da minimal house music. Tem um pega mesmo após as 22h e acaba lá pelas 2h.
ar de moderníssimo, mas existe desde 1977. Já
foi considerado o orgulho do Chelsea. O bar fica O G Lounge fica na:
bem no meio do local e tem go-go boys dançan- 225 W Nineteenth St., entre a Sétima e Oitava
do em cima. Dica: ignore-os e divirta-se! Avenida.
Ponto negativo: somente cash, nada de Fone: (212) 929-1085
cartões de crédito! Site: http://glounge.com

Barnes & Noble


A maior livraria do mundo! Pelo
menos é assim que se autodenomina.
Barnes & Noble, na 5th Ave. com a Rua
18, é considerada a maior livraria do
mundo em número de volumes. O que
há de novo aí: nada, mas o interes-
sante é que, por estar localizada muito
próximo à Universidade de Nova York, à
escola de cinema New York Film Acad-
emy (NYFA) e a outras universidades, o
fluxo é intenso e sempre muito bom! É
uma das poucas livrarias que vendem
livros usados.
Vale a pena conferir os livros e os
“leitores” que passam horas lá dentro!

A “grande” Barnes & Noble fica na:


105 Fifth Ave. com Eighteenth St.
Fone: (212) 807-0099
Site: http://mainstore.bncollege.com

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Hiro Bal
room
Já dei a dica em outra edição,
mas agora, com o verão “bombando”
na ilha, ainda é amelhor opção aos
domingos. A DJ Honey Dijon, com
seu estilo wanna be Naomi Campbell,
toca o melhor da deep soul house. Para
se ter ideia, ela remixou I Miss You,
dos Rolling Stones, com Party in the
Gettho, de Crystal Waters. Quem gosta
de house music sabe do que estou
falando.
O lugar é enorme, amplo e bem
ventilado. Detalhe: a mesma bebida
que pedi no bar de cima custou 2
dólares a mais que no de baixo. Vai
entender!
Todo domingo, das 22h às 4h.
Às 3h59, luzes acessas, som
desligado e o carão para sair sendo
“levado” pelos seguranças.

O Hiro fica no:


88 Nineth Ave.
Fone: (212) 727-0212
Site: www.hiroballroom.com

Cubby
Cubby Hole
Hole
Diz a lenda que toda amiga “sa-
pata” tem uma bonita amiga “biba”.
Para quem quiser tirar a prova, sugiro
o Cubby Hole. Com uma atmosfera de
bar para frequentar após o trabalho,
há bandeirinhas penduradas no teto e
uma jukebox que realmente funciona.
Não gaste a noite toda lá, sugiro um
rápido warm up e depois somewhere!

O Cubby Hole fica na:


281 W Twelfth St.
Fone: (212) 243-9041
Site: http://www.cubbyholebar.com

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A Revista AIMÉ
marcará você
para sempre.

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Regulamento: 1. Esta é uma promoção para todos os leitores da revista Aimé. / 2. Esta promoção não tem qualquer modalidade de sorteio ou pagamento vinculada à aquisição ou ao uso de qualquer bem,
direito ou serviço, aberto a todos, exceto aos funcionários da revista Aimé. / 3. Para participar, o interessado deve enviar seus dados (nome completo, idade, endereço, telefone, e-mail e cpf) através do fale conosco
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aceitas frases até o dia 01/10/09. / 7. Cada concorrente poderá participar com apenas 1 (uma) frase, devendo conter todos os seus dados preenchidos por completo. / 8. Será escolhida a melhor frase, avaliada
pelo seguinte critério: criatividade, originalidade e adequação ao tema. / 9. Uma comissão julgadora, integrada por profissionais capacitados e indicados pela revista Aimé, se encarregará de escolher a frase ven-
cedora da promoção, sendo sua decisão soberana e irrecorrível. / 10. A frase será divulgada no dia 05/10/09 através do site www.revistaaime.com.br. / 11. O autor da frase ganhadora receberá como premio uma
tatuagem feita no Led´s Tatto, no valor de até R$ R$ 500,00 (quinhentos reais). O premio não inclui qualquer outra despesa que o ganhador venha a ter. / 12. Em nenhuma hipótese o ganhador poderá receber o
valor do premio em dinheiro ou trocar o premio. / 13. O vencedor deverá agendar sua tatuagem até o dia 30/10/2009 no estúdio do Led’s Tattoo e Piercing pelo telefone 11 5561-2351 ou diretamente no local - Av.
Ibirapuera, 3478 - Moema - São Paulo - SP. / 14. O vencedor da promoção declara, desde já, ser de sua autoria a frase encaminhada à promoção e que a mesma não constitui plágio de espécie alguma, ao mesmo
tempo em que cede a revista, sem qualquer ônus para esta, em caráter definido, todos os direitos autorais sobre a referida, para qualquer tipo de utilização, publicação ou reprodução na divulgação do resultado.
/ 15. O vencedor da promoção autoriza divulgar seu nome como ganhador da promoção no site e na revista.

Realização: Apoio:

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[ensaio lúdico]
Modelo: Marcos Viniscius
Edição de moda: Fernanda Kazalla
Produção: Raquel Lionel e Leandro Lourenço
Maquiagem: Renner Souza
Fotografo: Paulo Henrique

Moleton - Colcci (www.colcci.com.br)

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Tatoo Da Tribo - Tattoo por Alessandro Dell’arno (11. 3061-9490)

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Camisa - Dudalina (11.3885.0773) / Calça - Jeanseria (11. 3459-1255)

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Calça Jeans - John John Denim (www.johnjohnjeans.com.br) / Tatoo Da Tribo - Tattoo por Alessandro Dell’arno

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Chapéu - E-Holic (www.e-holic.com.br) / Bata - Aramis (www.aramis.com.br) / Calça Jeans - Vide Bula (www.videbula.com.br)

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[perdido e achado] 22 belos anos
de praia!
N ascido e criado nas areias de São
Vicente , litoral de São Paulo,
Gustavo Grande, 22 anos, trabalha na
área de logística em uma empresa, mas
seu sonho mesmo é fazer sucesso na
carreira de modelo!
Nascido em 15 de agosto, como
um bom leonino que adora chamar a
atenção, o moreno não tem com o que
se preocupar: sua beleza não passa des-
percebida em lugar algum, nem mesmo
fazendo compras com os amigos em
um “mercadinho” da capital. Foi passe-
ando por lá que Gustavo foi descoberto
pelo olheiro da agência Mega e mais do
que depressa foi convidado a integrar
seu casting.
Para se divertir, não poderia ser
diferente, o garoto da praia joga futebol
e adora surfar!

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