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Fernando Marmolejo R.
COPPE/UFRJ Programa de Engenharia de Sistemas e Computação
Cx. Postal 68511 - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 21945-970 - marmolej urbi.com.br
Guilber Dumans
COPPE/UFRJ Programa de Engenharia de Produção
Cx. Postal 68507- Rio de Janeiro - RJ - CEP: 21945-970 - guilber openlink.com.br
Abstract
This paper analyzes the impacts of the Information and Communication
Technologies (ICT) on productive restructuring in the globalization context, at the
Brazilian automobile industry. After identifying the dynamics of this industry, it was
studied how ICT help deep transformations on competitive strategies, organization
functions and on the choice of administration and production models. For the coordination
of the different actors of the productive chain the use of peripherical and corporative webs
is very important. The emphases of this work was the study of the changes on the
relationship between companies, on the company structure, on the production system, and
on the work organization.
Key words:
Technological Innovation, Information Technology, Automobile Industry
1. Introdução.
O presente estudo foi motivado pela importância estratégica conferida ao complexo
automotriz em função de sua repercussão na economia do Brasil (13,8% no PIB industrial
em 1996), do número de empregos diretos gerados nas montadoras (104 mil em 1997)1, do
processo de modernização técnico-organizacional adotado por essa indústria, do interesse
em instalar doze novas fábricas investindo 9 bilhões de dólares sendo que cinco projetos já
estão em fase de implantação experimentando novos modelos organizacionais, e finalmente
pelo fato desse setor ser pioneiro na introdução de Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs).
Este estudo tem como objetivo principal analisar os impactos da adoção das TICs
dentro de um contexto de reestruturação produtiva e organizacional do setor
automobilístico no Brasil. Será estudado como a adoção destas tecnologias têm
reconfigurado a produção, a organização do trabalho, a gestão e a distribuição na cadeia
produtiva, interligando computadores de diferentes empresas e de fornecedores de matérias-
primas aos usuários finais.
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veículo ou encontrar uma peça numa das 820 concessionárias espalhadas pelo país. Essa
Montadora instalou, em março de 1997, um sistema eletrônico de compra de peças,
permitindo hoje fazer 10 mil cotações de preços em cerca de 500 fornecedores do Brasil, 90
do Mercosul, e centenas de outros mundiais. Segundo o Engº Boschetti, "uma cotação que
demorava 80 dias, é feita hoje em 15 dias" (Boschetti, 1997).
A Scania conectou suas 110 concessionárias via EDI. O acesso on-line à
informações ajuda tanto nas vendas, oferecendo produtos customizados, como também na
gestão, através da melhoria do planejamento e controle da produção.
O intenso fluxo de informações comerciais impôs a necessidade de padronização do
layout dos documentos utilizados por fornecedores de autopeças e montadoras, tendo sido
criado um padrão Anfavea e a Rede Nacional de Dados, que passou a utilizar, ainda que
não exclusivamente, o STM-400 da Embratel como meio de comunicação. Atualmente,
aproximadamente 1.500 fornecedores comunicam-se com as montadoras por intermédio
desse sistema (Anfavea, 1996).
Segundo Tigre e Sarti (1997), no futuro próximo a Internet será o sistema que se
perfilará como modelo padrão de transmissão de dados eletrônicos via EDI, já que este
sistema permitirá a um maior número de pequenas empresas o acesso a esta tecnologia.
Durante o ano 1996 foram realizadas, com certo êxito, as primeiras experiências. Ainda
falta solucionar detalhes a nível de segurança de dados para garantir seu uso a um maior
número de usuários.
As autopeças que possuem sistemas CAD (Computer Aided Design) de pequeno
porte se comunicam com as montadoras no envio e recebimento de desenhos, através da
Internet. Por causa das diferenças na infra-estrutura computacional a comunicação é
realizada através da intermediação de empresas especializadas na tradução dos desenhos
desenvolvidos em sistemas de pequeno porte nas autopeças, para grande porte nas
montadoras. A terceirização desse serviço ampliou o acesso de pequenas empresas à
comunicação de dados pela Internet.
parte elétrica, do motor e do acabamento é feito com o software CATIA, disponível via
rede em todas as unidades do grupo mundial (Boschetti, 1997).
A Volkswagen utiliza igualmente o sistema TOUCH SCREEN que permite o
acompanhamento da montagem de veículos. Este sistema implantado no “chão” da fábrica
em São Bernardo e Anchieta e operado pelos montadores. Permite sinalar em tempo real a
toda a cadeia produtiva, onde há falhas na montagem e possibilita sanar o problema antes de
o veículo sair da linha de produção.
Na fábrica da Volkswagen, em Resende, foi adotado um ambiente CAPP no chão de
fábrica que permitiu montar uma base de dados única, facilitando a integração dos
processos desenvolvidos por cada parceiro em cada módulo. Esse sistema agiliza o cálculo
do tempo de operação e do custo de mão-de-obra na montagem dos veículos, permitindo
reduzir o lead-time do processo. Além disso facilita a elaboração da documentação, a
padronização do processo, o treinamento dos trabalhadores, e a geração das folhas de
operação através da utilização de desenhos e fotografias, disponibilizando a atualização
constante das listas de ferramentas e de peças.
A Scania do Brasil também implantou uma rede interligando as diretorias com as
áreas de engenharia industrial, de exportação e a de sistemas de informações. Mas a maior
importância da rede é que, por intermédio do aluguel de um canal de satélite da Embratel,
foi possível conectar a matriz da Suécia e a filial brasileira. Por essa rede são transmitidas
imagens utilizadas na criação e adoção de projetos para a confecção de cabines, motores e
pequenas peças dos veículos fabricados pela empresa ( Revista Informática Exame, 1995).
O fluxo de informações dentro da própria organização também ocorre nas áreas
onde são implantados Sistemas Flexíveis de Manufatura e automação industrial, como
máquinas automáticas, máquinas ferramentas CNC (Comando Numérico Computadorizado)
e robôs. A seqüência de produção é enviada diretamente pela rede local de dados, iniciando
a operação das máquinas automáticas e o processo de fabricação no qual pode ocorrer fluxo
de informação entre as máquinas. A informação sobre a produção retorna automaticamente
pela rede alimentando bancos de dados que posteriormente são tratados e analisados.
5. Conclusão.
As TICs são fundamentais na dinâmica do próprio processo de globalização
produtiva das empresas do setor automobilístico facilitando profundas modificações nas
estratégias competitivas, na arquitetura das funções organizacionais e na escolha de
sistemas de gestão e produção dos diferentes atores da cadeia produtiva se apoiando no uso
de redes periféricas e corporativas.
A tendência futura é a incorporação das TICs no produto através da eletrônica
embarcada determinada por pesquisas conjuntas das montadoras Volvo, Renault, Peugeot,
BMW, com a empresa France Telecom. Por exemplo, através da instalação de sensores que
controlam a velocidade do carro e o fluxo de veículos nas estradas indicando a urgência de
freiar em caso de necessidade. Outra aplicação é a utilização de sistemas multimídia para
consultar páginas na Web para obter informações sobre o transito ou a meteorologia através
de um terminal de computador instalado no carro (programa de pesquisa europeu
“Promise”) (Revista Le Point, 1998).
As TICs têm aumentado o acesso ao mercado , seja pelo aumento das oportunidades
de negócios ofertando produtos customizados, seja pela melhoria dos serviços de venda e
pós-venda aos clientes (ex. sistemas de ajuda ao diagnostico), e ainda pelo monitoramento
do mercado. Através do acompanhamento on-line, as empresas podem revisar as previsões
das vendas e ajustar o processo produtivo à demanda. No modelo tradicional fordista, o
papel do sistema de distribuição era simplesmente comercializar produtos padronizados. Em
um regime de demanda instável e com tendência pela diversidade, o papel da rede de
distribuição é de pesquisar as preferencias do consumidor e as tendências do mercado,
constituindo assim, um ponto de referencia das atividades de produção.
Sendo as TICs uma tecnologia para facilitar a troca intensiva de dados, seus
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