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[Versão preliminar e muito parcial: são apresentadas apenas as duas primeiras seções
(versão em princípio final), e a primeira parte da seção 3 (versão preliminar).]
Sumário
Introdução
1. Para uma exposição mais extensa, de cunho didático, sobre os conceitos introduzidos neste primeiro
segmento da introdução, v. “Mercadoria, mercantilização e mercado” (Oliveira, 2009).
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2. Nesta e nas demais citações de Polanyi a seguir, o número de página indicado refere-se à edição
brasileira (Polanyi, 1980); a tradução entretanto foi feita a partir do original (Polanyi, 2001).
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Reagan nos Estados Unidos em 1980. Outro marco importante nessa história foi a queda
do comunismo em 1989, que muito contribuiu para que o neoliberalismo viesse a se
tornar hegemônico. (cf. Harvey, 2007, p. 19 ss., Anderson, 1995, p. 9 ss., Paulani, 2008,
p. 106 ss.)
3. Samuelson e Nordhaus, 1999, p. 8. Cf. também Heilbroner, 1971, p. 19: “Assim, o que produzir, como
produzir e a quem entregar o produto constituem os problemas básicos da Economia, que toda ordem
social deve enfrentar de uma maneira ou de outra”. Embora (por razões que não precisam ser aqui
discutidas) este princípio seja posto como fundamento de maneira tão explícita apenas na tradição
ortodoxa, ele nada tem de contraditório com o pensamento de Marx e de Polanyi, podendo mesmo ser
dito que está implícito em suas concepções.
4. Cf. Samuelson e Nordhaus: “Uma economia de mercado é aquela em que os indivíduos e as empresas
privadas tomam as decisões mais importantes acerca da produção e do consumo. Um sistema de preços,
de mercados, de lucros e prejuízos, de incentivos e recompensas determina o quê, como e para quem”.
(Ibid., p. 8-9).
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(num total de oito, como é fácil calcular), mas carentes de significado econômico
relevante.
Como se percebe, com a análise dimensional o conceito de mercadoria se
transforma de um conceito simples – no sentido de que a pergunta feita a respeito de
uma categoria X de bens “X é uma mercadoria?” admite como resposta um “sim” ou
um “não” –, em um conceito complexo – no sentido de que a pergunta deve ser
respondida com um “sim” ou um “não” para cada uma das três dimensões.
Se uma categoria de bens pode ou não ser mercadoria em cada uma das três
dimensões de forma independente (tese em que se baseia a análise dimensional do
conceito de mercadoria), isto significa que os processos de mercantilização também
devem atuar da mesma forma, ou seja, que cada um dos processos de mercantilização
que afeta uma determinada categoria de bens localiza-se em uma das três dimensões da
vida econômica (corolário em que se baseia a análise dimensional do conceito de
mercantilização).
Nas três seções a seguir veremos como a análise se aplica ao caso da ciência –
como prática social, isto é, com seus aspectos econômicos e sociológicos, além dos
epistemológicos – considerando em sequência os processos de mercantilização situados
em cada uma das três dimensões, bem como as articulações entre eles. O objetivo
principal é mostrar – adaptando metáfora de Platão – que a análise dimensional
efetivamente trincha pelas juntas o processo de mercantilização da ciência como um
todo.
A época crucial na história da ciência do ponto de vista da mercantilização é a
que vai do fim da Segunda Guerra até os dias de hoje. Na literatura relevante, há uma
concordância generalizada a respeito de uma visão que identifica no desenvolvimento
da ciência nessa época duas fases principais, com uma fase de transição entre elas,
situada na década de 70. Dois livros importantes em que tal periodização figura com
clareza, como elemento estruturador das idéias expostas, são Prometheus bound:
science in a dynamic steady state , de John Ziman (1994) e Pasteur’s quadrant: basic
science and technological innovation , de Donald Stokes (1997). Cada um deles
entretanto usa um termo bem definido apenas para uma das fases: Stokes refere-se à
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5. Comentando a transição para a fase da ciência do estado estacionário, diz Ziman: “Em menos de uma
geração testemunhamos uma transformação radical, irreversível e de alcance mundial na maneira como a
ciência é organizada e praticada.” (Ziman, 1994, p. 7) Em Real science: what it is, and what it means
Ziman (2000) muda a designação para “ciência pós-acadêmica”.
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6. “A recepção de Science, the endless frontier teve muito de irônico, pois o plano organizacional de Bush
foi derrotado, enquanto sua ideologia triunfou.” (Stokes, 1997, p. 50). “Meia década depois [a partir da
publicação do relatório], a concepção de ciência básica e sua relação com a inovação tecnológica
apresentadas no relatório Bush tornou-se o fundamento da política científica do país nas décadas do pós-
guerra.” (Ibid., p. 2) “Os cânones de Bush deixaram uma impressão profunda e forneceram o paradigma
dominante para o entendimento da ciência e sua relação com a tecnologia na segunda metade do século
XX. Essas ideias ainda podem ser ouvidas nas comunidades da ciência e da política científica, nos meios
de comunicação, e no público informado. E a liderança dos Estados Unidos na ciência do pós-guerra lhes
deu ampla circulação na comunidade internacional.” (Ibid, p. 4)
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do significado com que o conceito veio a ser usado, que o distingue o conceito de
invenção, na seguinte passagem:
Devemos a Schumpeter a distinção extremamente importante
entre invenções e inovações, que foi desde então em geral
incorporada à teoria econômica. Um invenção é uma ideia , um
esboço ou um modelo para um novo ou aperfeiçoado
dispositivo, produto, processo ou sistema. Tais invenções podem
frequentemente (não sempre) ser patenteadas porém não
conduzem necessariamente a inovações técnicas. Na verdade a
maioria não faz isso. Uma inovação no sentido econômico é
conseguida apenas com a primeira transação comercial
envolvendo o novo produto, processo, sistema ou dispositivo,
embora a palavra seja usada também para descrever o processo
todo. (Freeman, 1974, p. 22; itálicos no original.)
.........
[Desculpem o encerramento tão abrupto da exposição, mas foi até aqui que consegui
chegar. Pensei em escrever um resumo da parte não escrita, mas devido à pressa e a
necessidade de ser muito conciso, temi que o resultado ficasse ininteligível, poderia
atrapalhar em vez de ajudar.]
(Tratei dos temas desta seção em dois trabalhos recentes, “A avaliação neoliberal na
Universidade e a responsabilidade social dos pesquisadores”
(http://www.scientiaestudia.org.br/revista/PDF/v6n3a06.pdf), e “A estratégia dos bônus:
três pressupostos e uma consequência”.)
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Apêndice
“A ciência não é uma mercadoria” e “Uma outra ciência é possível” como lemas
para o FMCD; mercantilização como seu conceito unificador
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. Wallerstein, “Uma política de esquerda para o século XXI? ou teoria e práxis novamente” (In
LOUREIRO, I., CEVASCO, M. E. e LEITE, J. C. (orgs.) O espírito de Porto Alegre. São Paulo: Paz e Terra,
2002), p. 36.
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Referências Bibliográficas