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FLORESTAS FAMILIARES:

Um pacto sócio-ambiental entre a indústria


madeireira e a agricultura familiar na Amazônia

Eirivelthon Lima
Antônio Abelardo Leite
Daniel Nepstad
Kemel Kalif
Claudia Azevedo-Ramos
Cássio Pereira
Ane Alencar
Urbano Lopes Silva Jr.
Frank Merry

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia


2003
Capa: Milena del Rio do Valle e Kemel Kalif
Revisão: Luciana Miranda Costa e Almira McGrath
Fotos:  Edson Queiroz e  Janduari Simões
Coordenação Gráfica: Milena del Rio do Valle
Editoração: Ione Sena
Impressão: Gráfica Supercores
Fotolito: Pontopress

Afiliações Institucionais
1 Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia - IPAM
Av. Nazaré, 669
Belém, Pará, Brasil, 66035-170

2 Centro de Pesquisa Woods Hole - WHRC


Woods Hole, MA, EUA, 02543-0296
P.O. Box 296

3 Manejo Florestal e Prestação de Serviços - MAFLOPS


Rodovia Santarém-Cuiabá, km 88
Belterra, Pará, 68.143-000

4 Universidade Federal do Pará -UFPA


Núcleo de Altos Estudos - NAEA
Campus Universitário do Guamá
Rua Augusto Corrêa, 01
Belém, Pará, 66075-110

Lima, E., Leite, A., Nepstad, D., Kalif, K.,


Azevedo-Ramos, C., Pereira, C., Alencar, A.,
Lopes, U. e Merry, F. 2003. Florestas
Familiares: Um pacto sócio-ambiental entre
a indústria madeireira e a população rural
carente da Amazônia. Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia (IPAM), Belém, Brasil.
70 p.; il.
SUMÁRIo

AGRADECIMENTOS 9
PREFÁCIO 11
APRESENTAÇÃO 15
SUMÁRIO EXECUTIVO 17
INTRODUÇÃO 23
PARTE I A INDÚSTRIA MADEIREIRA NA AMAZÔNIA: 27
A lógica econômica da atividade madeireira 29
A cultura das fraudes 34
Novas estradas na floresta:
A atividade madeireira em transição 37
Perda dos beneficios sociais,
econômicos e ambientais:
Empobrecimento social e econômico das
populações rurais 41
Empobrecimento ecológico da floresta 46
PARTE II: PRINCIPAIS INICIATIVAS PÚBLICAS E PRIVADAS DE
GOVERNANÇA DA ATIVIDADE MADEIREIRA: 55
Iniciativas governamentais
Implementação das leis ambientais 57
Florestas públicas 59
Iniciativas Privadas 64
Certificação florestal 64
Compra dos direitos de desenvolvimento 67
PARTE III: FLORESTAS FAMILIARES: A EXPERIÊNCIA DA MAFLOPS 69
PARTE IV: RECONHECENDO O PAPEL DAS POPULAÇÕES
RURAIS CARENTES NO SETOR FLORESTAL: 79
Sinergias entre populações rurais
carentes e empresas madeireiras 81
Sinergias entre populações rurais carentes,
terceiros e governos 86
Desenvolvimento Rural Integrado e a
Governança da Indústria Madeireira 89
CONCLUSÃO 95
BIBLIOGRAFIA 97
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Malha rodoviária, pólos madeireiros, portos, e


hidrovias planejadas na Amazônia. Entre as estradas
destacam-se: (A) Cuiabá-Santarém, (B) Rodovia
Transamazônica, (C) Rodovia Manaus-Boa Vista,
(E, F) Rodovia Transandina, e (G) Rodovia Humaitá.
As cidades mencionadas incluem: (1) Cuzco, (2) Puno,
(3) Puerto Maldonado, (4) Pucallpa, (5) Novo Progres-
so, (6) Trairão, (7) Itaituba, (8) Vitória do Xingu,
(9) Altamira, (10) Cuiabá, (11) Humaitá, (12) Rio Bran-
co e (13) Paragominas. As fontes para os dados sobre
volume de madeira em tora são de: Nepstad et al.
1999a e Veríssimo and Lima 1998, os dados contidos
nesse mapa foram atualizados através das expedi-
ções científicas realizadas nos corredores A, B, e E
em 2000 e 2001 (D. Nepstad, A. Alencar and
E. Mendonza, relatório não publicado). Desenho: Paul
Lefebvre e Michael Ernst., 30
Figura 2. Danos típicos causados por uma exploração
florestal de alta intensidade e predatória
(>30 m3/ha) e conseqüentes danos ao dosel florestal.
Fazenda Vitória, Paragominas, 1987., 33
Figura 3. Previsões de desmatamento e exploracão ma-
deireira, áreas protegidas, e áreas vulneráveis a
incendio florestal na Amazônia. Com o asfaltamento
de estradas propostas pelo governo, a fronteira vai
avancar, provocando grandes areas de expansão
agricola e madeireira principalmente nas rodovías
Transamazônica, Cuiabá-Santarém, e Porto Velho-
Manaus. As rodovias com grandes concentraces de
agricultores (Transamazonica e norte do Cuiabá-
Santarém) devem ser alvo da ampliacão de “florestas
familiares”. Fonte: Previsões de desmatamento e
exploracão madeireira, U. Lopes Jr., D. Nepstad, não
publicado., 47
Figura 4. Perda da água do solo no período de
2001/2002 durante o episódio do El Niño. Perda de
30% da água do solo está associada ao alto risco de
fogo (Nepstad et al. submitted). A atividade madei-
reira está concentrada nas áreas de secas sazonais
intensas e baixa pluviosidade durante os períodos de
El Niño. Freqüentemente, isso leva a fogos
acidentais., 48
Figura 5. Ciclo vicioso entre exploração madeireira, in-
cêndios florestais e susceptibilidade da floresta a in-
cêndios florestais. Tanto a exploração madeireira
quanto os incêndios florestais danificam a floresta,
tornando-a mais aberta e susceptível ao fogo., 50
Figura 6. Resumo dos principais impactos ecológicos da
atividade madeireira sobre os serviços do ecossistema
e a biodiversidade., 53
Figura 7. Mapa de localização das áreas com potencial
para o estabelecimento das florestas públicas na Ama-
zônia. Essas florestas foram escolhidas eliminando
as áreas de alto valor para conservação da
biodiversidade, não sobrepondo-as a outras unida-
des de conservação, estando próximas a estradas e
tendo mínima ocupação humana. Fonte: Veríssimo
et al, 2002., 60
Figura 8. Casas construída pela MAFLOPS na foto de
cima e casas construído por outras prestadora de ser-
viços na foto de baixo. Na construção da MAFLOPS, a
casa é toda de tijolos com telhas de barro. Na cons-
trução das outras prestadoras de serviço, o alicerce
da casa é de tijolos, em cima disso, eles utilizam
madeira de baixa qualidade e telhas de amianto para
cobertura., 75
Figura 9. Familias da Comunidade Anta reunidas para
discutir a negociação da madeira e construção das
estradas., 76
Figura 10. Imagem de satélite mostrando as estradas
principais, secundárias e o padrão de exploração flo-
restal dos pequenos produtores rurais., 82
Figura 11. Número de péssoas assentadas pelo governo
federal desde 1995., 82
Figura 12. Mapa de localização e delineamento da pro-
priedade individual do pequeno produtor., 83
Figura 13. Exemplo típico de danos causados às estra-
das das comundiades durante a estação chuvosa que
inviabilizam o escoamento da produção agricola das
comundiades no período de safra., 84
AGRADECIMENTOS

Esta publicação foi possível graças ao apoio financei-


ro da Agência Americana para o Desenvolvimento Inter-
nacional (USAID), da Fundação Tinker, e da Fundação
Hewlitt. Paulo Moutinho, Elsa Mendoza, Jack Putz, Sergio
Rivero, Anthony Anderson, Daniel Zarin, Ana Cristina Oli-
veira e um revisor fizeram contribuições valiosas à versão
original do manuscrito.
PREFÁCIO

“Florestas Familiares” abre um debate crucial que


deveria ter acontecido e chamado atenção da sociedade
brasileira há muito tempo. Como as populações
economicamente marginalizadas da Amazônia poderiam
se beneficiar da grande riqueza dos recursos madeireiros
de forma sustentável.
Até agora, a riqueza gerada pela exploração
madeireira tem beneficiado pequenos grupos nacionais
e elites locais. Madeira tem gerado pouca arrecadação
de impostos para o governo e pouca renda para as
populações detentora dos recursos florestais. Isso é
injusto e não precisa acontecer desta forma.
A maioria dos pequenos produtores, extrativistas,
e povos indíginas não têm capital, habilidades, e contatos
para participar ativamente da indústria madeireira
(embora algumas vezes isso aconteça). Como resultado,
eles têm vendido a madeira em pé por praticamente
nada. Agências do governo e organizações não
governamentais têm estabelecido projetos para apoiar
comunidades na área de produção florestal, mas com
pouco sucesso devido a experiência limitada dos grupos
envolvidos e as grandes dificuldades administrativas
enfrentadas ao tentar operar legalmente.
“Florestas Familiares” propõe uma solução com
maior potencial. Isso quer dizer, governos e organizações
não governamentais trabalhando juntos para facilitar
parcerias entre empresas madeireiras e pequenos
produtores para beneficiar ambos. Pequenos produtores
e populações indígenas receberiam preços maiores e

11
outros benefícios, ao mesmo tempo, madeireiros teriam
uma fonte de madeira estável, com poucas dificuldades
administrativas, e potencialmente teriam acesso a
mercados com preocupações socioambientais. Uma vez
que os proprietários da floresta percebam o verdadeiro
valor de suas florestas, eles também podem se
interessar pelo manejo florestal. A recente experiência
da MAFLOPS, no Estado do Pará, mostra que essas
parcerias são possíveis.
Para que essas parcerias funcionassem em larga-
escala, empresas madeireiras teriam que ter poucas
opções para comprar madeira além das florestas privadas.
Os madeireiros teriam poucos incentivos para
negociarem madeira com pequenos produtores e com
grupos indígenas, caso os madeireiros tivessem fontes
de matéria-prima proveniente da ilegalidade ou da
florestas públicas. O governo também teria que alocar
recursos substâncias para promover essas parcerias e
enfocar menos os requerimentos administrativos e as
organizações não governamentais também teriam que
participar ativamente desse processo.
Isso é exatamente o contrário do que tem sido
proposto. O plano é criar grandes áreas de florestas
nacionais e torná-las disponível às empresas
madeireiras através de concessões florestais. Isso cria
uma nova fonte de madeira que, inevitavelmente,
competirá com a madeira vinda das áreas dos pequenos
produtores e grupos indígenas. E o sistema sofisticado
de monitoramento proposto irá provavelmente aumentar
as dificuldades administrativas. Essa estratégia deixaria
poucos recursos para implementar uma agenda pró-
pobre. “Florestas Familiares” incentiva a criação de
novas florestas nacionais, mas como um meio de manter

12
essas áreas de florestas protegidas e fora do alcance
dos madeireiros para incentivar manejo florestal nas
áreas existentes, ao invés de abrir novas áreas em
fronteiras distantes.
Ainda é muito cedo para dizer se a proposta do
IPAM irá funcionar em larga escala na Amazônia e se
trará todos os benefícios socais e ambientais descrito
aqui. Mas como essa proposta está vindo de uma das
organizações mais reconhecida e respeitada da
Amazônia, ela merece uma séria consideração. O forte
comprometimento do governo com as populações rurais
pobre abre uma oportunidade sem igual para pensar de
forma criativa sobre novos caminhos para assegurar
que mais benefícios dos recursos naturais da Amazônia
sejam direcionados às pessoas que realmente precisem
deles.
Parabéns IPAM pela iniciativa. Essa é uma hora
oportuna para começar a pensar sobre esses temas.

David Kaimovitz
Diretor Geral
Centro para Pesquisa Florestal Internacional – (CIFOR)
Bolgor, Indonesia

13
APRESENTAÇÃO

Como conciliar o desenvolvimento socioeconômico


com a conservação dos recursos naturais na região
Amazônica? As Florestas Familiares, fruto do pacto social
entre agricultores familiares e a indústria madeireira,
representam um importante passo neste sentido. Estas
florestas estão localizadas em terras privadas e são
manejadas por famílias ou por comunidades que
fornecem madeira para a crescente indústria madeireira
na Amazônia, sob condições de barganha justas.
Sob este enfoque, este trabalho analisa as
perspectivas para a governança da indústria madeireira
na Amazônia. Partimos da premissa de que o objetivo
principal da governança é defender o interesse público
na floresta Amazônica. Uma governança bem sucedida,
portanto, deve maximizar os benefícios sociais e
econômicos gerados pela indústria e, ao mesmo tempo,
minimizar as ameaças representadas pela atividade
madeireira à ecologia das florestas da região.
O estudo está organizado em quatro partes. A
primeira parte faz uma breve apresentação da indústria
madeireira na Amazônia, os seus impactos sobre a
floresta e as populações rurais carentes que dependem
da floresta. A segunda parte apresenta o “status quo”
das iniciativas governamentais e privadas na governança
da indústria madeireira, e avalia se essas iniciativas
têm, de fato, promovido desenvolvimento sócio-ambiental
na região. A terceira parte apresenta o modelo “florestas
familiares”. A última parte do relatório mostra as diversas
sinergias existentes que podem potencializar a
governança da indústria madeireira na Amazônia.
SUMÁRIo EXECUTIVO

Atualmente a maior parte da demanda por madeira


em tora das empresas madeireiras na Amazônia é
suprida por florestas dos pequenos agricultores, povos
indígenas, ribeirinhos e extrativistas. Esses grupos são
bastante distintos em relação ao tamanho da área de
floresta que detêm, à cultura, e à participação na
economia de mercado. Embora, reconheçamos essas
diferenças, nesse livro essa diversidade de atores é
agrupada de acordo com um único critério: a dependência
e controle dos recursos florestais. Assim, essa
diversidade de atores é categorizada como populações
rurais carentes que dependem da floresta.
Nesse contexto, o Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia apresenta o modelo de gestão florestal que
chamamos de “florestas familiares”, o qual está surgindo
espontaneamente na região e demonstra grande
potencial transformador das relações entre a indústria
madeireira, florestas e a população rural carente. Este
livro traz, ainda, uma revisão de alguns pontos críticos
relacionados com a nova Política Nacional de Floresta e
busca, desta forma, ampliar o debate sobre a governança
da industria madeireira na Amazônia. Esse livro também
mostra que as políticas criadas para governar a indústria
madeireira devem reconhecer o potencial da madeira e
de outros recursos florestais no financiamento do manejo
sustentável dos recursos naturais das populações rurais
carentes, podem reforçar a dependência da indústria
madeireira em relação às populações rurais carentes e
devem evitar a entrada das industrias em florestas pouco

17
perturbadas pelo homem. Os principais resultados desse
estudo são os seguintes:

♦ A madeira é um produto chave na economia rural da


Amazônia e pode trazer grandes benefícios para os
agricultores familiares, e para as populações agro-
extrativistas e indígenas que vivem nas florestas. Pode
também servir para capitalizar estas comunidades nas
suas próprias terras, servindo como um subsídio
importante para estabelecer sistemas de produção
sustentáveis. No entanto, esta oportunidade está
sendo perdida. Os inúmeros acordos fechados entre
empresas madeireiras e população rural carente são
inadequados, resultando em propriedades rurais
degradadas e trazem poucos benefícios sociais e
econômicos.

♦ A política florestal deveria atuar como um elemento


facilitador para a realização dos benefícios potenciais
que a madeira pode gerar para as comunidades rurais.
Algumas indústrias madeireiras estão mostrando que
é possível alcançar estes benefícios através de acordos
justos, que visam estruturar propriedades rurais para
o manejo florestal sustentável. Esse é o caso, por
exemplo, de uma indústria madeireira localizada
próxima ao município de Santarém, no oeste do Estado
do Pará. As ações desta empresa englobam: (a) a
facilitação para titulação da terra; (b) investimento
no plano de manejo comunitário; (c) investimento no
manejo florestal em lotes individuais; e (d) preço justo
pela madeira, que é extraída a partir de métodos de
impacto ecológico reduzido. Este tipo de experiência
mostra que produtores rurais podem incorporar as

18
“florestas familiares” nos seus sistemas de produção,
aumentando a renda familiar através da venda
ordenada de madeira e de outros produtos florestais.

♦ Os princípios do acordo citados acima podem vir a ser


ampliados ao longo das rodovias que estão sendo
recuperadas e que, conseqüentemente, tendem a
estimular a expansão da atividade madeireira. Se por
um lado as populações rurais carentes que dependem
das florestas necessitam de capacitação em
negociação, por outro, as indústrias madeireiras
deveriam perceber a necessidade (e as vantagens) de
investir nas comunidades fornecedoras da madeira.
O governo, por sua vez, deveria reconhecer a relação
direta entre a indústria madeireira e as populações
rurais como um elemento central da política florestal.

♦ O potencial das florestas familiares para o


abastecimento de madeira é grande. Os
assentamentos de trabalhadores rurais estabelecidos
nos últimos seis anos, por exemplo, poderiam
abastecer a indústria madeireira por vários anos. Para
isso, bastaria que fossem oficializados e
operacionalizados acordos justos entre madeireiras
e comunidades, como o já citado acordo em Santarém.
Desta forma, o abastecimento das empresas
madeireiras poderia ser garantido através da madeira
advinda de áreas a serem desmatadas para produção
agrícola.

♦ A ampliação do modelo florestas familiares na Amazônia


pode reduzir a exploração madeireira ilegal. As
indústrias clandestinas que se beneficiam da

19
ignorância e da falta de fiscalização que predominam
nas novas áreas de fronteira da região amazônica se
tornariam cada vez menos viáveis na medida em que:
(a) um maior número de proprietários cobrarem um
preço justo por sua madeira; (b) houvesse um aumento
do número de operações madeireiras legais e de
impacto ecológicas reduzido; e, (c) forem realizados
investimentos em planos de manejo e em sistemas
de estradas locais duradouras.

♦ A certificação florestal pode ter uma contribuição


importante para sustentabilidade da exploração
madeireira. Para isso, é necessária a inclusão na lista
dos beneficiários atuais (grandes empresas e
comunidades) outros atores importantes: agricultores
familiares, populações tradicionais e indígenas. Até
agora, a certificação florestal tem se expandido
lentamente, atingindo apenas 0,3% das empresas
madeireiras.O Programa Nacional Florestal (PNF) através
da criação de florestas públicas(FLONAS) pode fortalecer
as florestas familiares. A ampliação das áreas de
florestas públicas reduziria a área de florestas
disponível para a atividade madeireira. Isso
aumentaria a dependência da indústria por madeira
proveniente das florestas familiares. No entanto, os
objetivos do PNF são criar as florestas públicas e
disponibilizar 50% da área destas florestas para a
atividade madeireira. Isso pode alterar
significativamente a demanda por madeira das
florestas familiares. Por isso, o sistema de concessões
para a indústria madeireira ainda carece análises e
discussões mais aprofundadas antes da sua
ampliação.

20
♦ São três os riscos principais da ampliação do sistema
de concessões na Amazônia brasileira (que hoje conta
com apenas uma experiência): (a) ao fornecer acesso
subsidiado a florestas menos perturbadas na região,
as concessões poderão iniciar novos pólos madeireiros
e degradação florestal desnecessários; (b) a produção
madeireira proveniente das concessões poderá
concorrer com a produção das indústrias madeireiras
que vem atuando de forma responsável e dentro da
realidade, inclusive, aquelas que participam das
florestas familiares; e, (c) as concessões poderão excluir
as populações rurais caren tes da região de uma
grande fatia dos benefícios econômicos gerados pela
extração e venda da madeira.

♦ A realização do potencial das florestas familiares na


governança da indústria madeireira vai depender do
refinamento e disseminação de modelos de acordos
entre as empresas madeireiras e a população rural
carente. Somado a isso, deve ocorrer a capacitação
de agricultores e de funcionários da indústria
madeireira no planejamento, negociação e execução
destes acordos em larga escala. A integração das
diversas iniciativas governamentais, como por exemplo
PNF e PROAMBIENTE, podem fortalecer a expansão
do modelo florestas familiares em larga-escala na
Amazônia. O incentivo para que as comunidades e as
empresas participem destes acordos depende de um
sistema mais eficiente de controle das indústrias
ilegais.

21
INTRODUÇÃO

A Amazônia é a maior reserva de madeira tropical


do mundo 1 . Anualmente, cerca de duas mil serrarias
processam 30 milhões de metros cúbicos de madeira,
extraídos de 10 a 15 mil quilômetros quadrados de
floresta 2 . Apesar disso, a indústria madeireira na
Amazônia ainda está em seu estágio inicial de
desenvolvimento. A maior parte das áreas de floresta
primária da região ainda está inacessível e encontra-se
protegida das moto-serras pelo simples fato de que o
corte de madeira nestas áreas não é lucrativo. A
proteção “passiva” destas florestas, porém, vai acabar
nos próximos anos devido à pavimentação das estradas
em áreas remotas da Amazônia 3 . O aumento da área
explorada para retirada de madeira na Amazônia também
será motivado pela exaustão da principal fonte atual de
madeira tropical: o sudeste da Ásia4 . É no contexto da
iminente transformação da indústria madeireira
amazônica que a perspectiva de orientar esta indústria
torna-se urgente.
O objetivo da governança da atividade madeireira
na Amazônia é defender os interesses públicos nas
florestas da região, garantindo tanto sua conservação
quanto uma distribuição justa dos benefícios no uso de
seus recursos. Tais interesses vão desde a caça e a

1
Uhl et al., 1997.
2
Nepstad et al., 1999a; Veríssimo e Lima, 1998, Veríssimo et al. 2002c.
3
Carvalho et al., 2001; Laurance et al., 2001; Nepstad et al., 2000,
2001.
4
Uhl et al., 1997.

23
coleta de castanhas e óleos pelos habitantes da floresta,
até a estabilização dos regimes locais de chuva e o papel
da floresta como abrigo para quase um terço das espécies
do planeta. Nossa análise tem como base a idéia de que
a madeira representa um dos commodities amazônicos
mais importantes para conciliar o desenvolvimento sócio-
econômico rural com a conservação dos recursos
naturais da região5 . Assim, medimos o progresso rumo
a governança usando dois critérios: (a) maximização dos
benefícios sociais e econômicos da indústria madeireira;
e, (b) minimização dos danos ecológicos.
Os 250 mil empregos diretos gerados pela atividade
madeireira e os U$ 2,5 bilhões de receita anual da
indústria são exemplos dos benefícios sócio-econômicos
que a indústria madeireira proporciona. Freqüentemente
estes benefícios são citados como justificativa para o
amplo apoio do governo a esta indústria6 . No entanto,
além das oportunidades sazonais de geração de emprego,
via de regra, insalubres, a indústria madeireira tem o
potencial de melhorar as condições de vida das
populações rurais de baixa renda da Amazônia de uma
forma mais direta, contribuindo com a consolidação da
infra-estrutura agrária e aumentando a renda das
comunidades rurais.
A indústria madeireira pode capitalizar
inicialmente tanto a infra-estrutura (estradas, pontes)
de comunidades rurais, como os investimentos nos
sistemas de produção agrícolas e no planejamento do
uso das propriedades rurais. O conceito de “florestas
familiares”, introduzido no início desta publicação, é um

5
Schneider et al. 2000; Uhl et al. 1997.
6
Verissimo et al., 2002a,b,c.

24
exemplo de como melhor governar a indústria
madeireira.
Nossa análise sobre a indústria madeireira
amazônica está concentrada no Brasil, uma vez que
apenas 2 a 3% da produção de madeira em tora da
Amazônia ocorre em outros países. No futuro, este padrão
pode mudar devido à expansão da malha rodoviária em
direção à Amazônia Ocidental e ao longo dos Andes, e
também devido a exaustão dos estoques de madeira nas
regiões de fronteira antiga da Amazônia brasileira,
resultando na migração da indústria para novas áreas.

25
PARTE I
A INDÚSTRIA MADEIREIRA NA AMAZÔNIA:
Lógica econômica, fraudes, novas estradas
e a perda dos benefícios sócio-ambientais
A LÓGICA ECONÔMICA DA ATIVIDADE MADEIREIRA

A infra-estrutura de acesso é um fator chave na


lógica da indústria madeireira, pois madeira em tora
chega a pesar até dez toneladas, encarecendo o
transporte especialmente em áreas remotas de floresta.
Na ausência de estradas, as primeiras ondas de
exploração madeireira na Amazônia seguiam as margens
dos rios, onde as toras de madeira flutuavam para fora
da floresta, rio abaixo, em direção às serrarias 7 . Nos
anos 60, a pavimentação da rodovia Belém-Brasília deu
início a exploração madeireira nas florestas de terra
firme interfluviais da Amazônia, proporcionando acesso
a uma imensa e, até então, inexplorada área de floresta.
Tal acesso aumentou a intensidade de exploração de 2
a 5 metros cúbicos para 30 a 40 metros cúbicos por
hectare.
As florestas de terra firme tornaram-se o principal
alvo da atividade madeireira. A exaustão dos estoques
de madeira da Mata Atlântica contribuiu também para o
crescimento da atividade da Região Amazônica 8 .
Atualmente, a maioria das duas mil serrarias da
Amazônia está concentrada ao longo do arco sul da
Amazônia em pólos madeireiros próximos a estradas que
cortam as florestas de terra firme (Figura 1).

7
Barros et al., 1995.
8
Uhl et al., 1997.

29
Figura 1. Malha rodoviária, pólos madeireiros, portos, e hidrovias planeja-
das na Amazônia. Entre as estradas destacam-se: (A) Cuiabá-Santarém, (B)
Rodovia Transamazônica, (C) Rodovia Manaus-Boa Vista, (E, F) Rodovia
Transandina, e (G) Rodovia Humaitá. As cidades mencionadas incluem:
(1) Cuzco, (2) Puno, (3) Puerto Maldonado, (4) Pucallpa, (5) Novo Progresso,
(6) Trairão, (7) Itaituba, (8) Vitória do Xingu, (9) Altamira, (10) Cuiabá, (11)
Humaitá, (12) Rio Branco e (13) Paragominas. As fontes para os dados
sobre volume de madeira em tora são de: Nepstad et al. 1999a e Veríssimo
and Lima 1998, os dados contidos nesse mapa foram atualizados através
das expedições científicas realizadas nos corredores A, B, e E em 2000 e
2001 (D. Nepstad, A. Alencar and E. Mendonza, relatório não publicado).
Desenho: Paul Lefebvre e Michael Ernst.

O alto custo de transporte das toras, o acesso aos


mercados e o tamanho dos estoques de madeira são
fatores que determinam as espécies e volumes de
exploração, bem como as estratégias de comercialização
dos produtos madeireiros 9 . Por exemplo, nos pólos

9
Stone, 1998.

30
madeireiros com boa infra-estrutura, com acesso barato
aos mercados consumidores e com capacidade produtiva
instalada, é lucrativo explorar espécies de árvore de baixo
valor comercial. No outro extremo, nos pólos madeireiros
com infra-estrutura precária, embora o mercado e os
estoques de madeira estejam presentes, só é lucrativo
explorar as espécies de alto valor comercial.
O maior mercado consumidor da madeira
amazônica é o mercado interno, destacando-se as regiões
Sul e Sudeste do país 10 , as quais consomem
aproximadamente 80% da madeira explorada na
Amazônia. Os grandes centros de exploração madeireira
da Amazônia Oriental (ao longo da Rodovia Belém-Brasília)
e dos estados de Mato Grosso e Rondônia, por exemplo,
surgiram, primeiramente, em função da proximidade aos
principais mercados domésticos do centro-sul. A
importância do acesso facilitado aos mercados
consumidores sobre o número de espécies exploradas e
a intensidade dessa exploração é ilustrada pelo município
de Paragominas no estado do Pará. Paragominas está
localizada as margens da Rodovia Belém-Brasília,
permitindo acesso fácil a Belém e aos mercados
consumidores do Nordeste, Sul e Sudeste do país. No
auge da exploração, a indústria madeireira de
Paragominas processava, anualmente, um total de 2,5
milhões de m 3 (quase 10% do total da Amazônia) de
madeira a uma intensidade de até 40 m3 de madeira por
hectare, utilizando mais de 100 espécies de árvores11 .
Os maiores estoques de madeira na Amazônia

10
Smeraldi e Veríssimo, 1999.
11
Veríssimo et al., 1995; Nepstad et al., 1999a.

31
Central e Ocidental, distantes de rodovias ou rios
navegáveis, estão isolados dos mercados brasileiros
devido à dificuldade de acesso. Estes estoques estão
separados pelos Andes da maioria dos centros urbanos
do Peru e da Bolívia, que consomem bem menos madeira
per capita do que os mercados brasileiros.
O volume relativamente pequeno de madeira que
é exportado para mercados internacionais da Europa,
Ásia e Estados Unidos é composto principalmente de
algumas poucas espécies de alto valor, das quais o mogno
(Swietenia macrophylla) é a que apresenta maior valor
comercial. Diferentemente das espécies de baixo valor,
o mogno pode ser extraído, com lucro, em praticamente
toda sua área de ocorrência na Amazônia Meridional,
mesmo que seja necessária a abertura de centenas de
quilômetros de estradas e trilhas na floresta para que o
acesso de caminhões seja possível 12 . Os maiores
estoques remanescentes de mogno estão localizados em
reservas indígenas do Estado do Pará e no sudoeste da
Amazônia. O mogno é ainda uma das poucas espécies
que pode ser transportada de maneira lucrativa por
estradas não pavimentadas que cruzam os Andes.
Os madeireiros, assim como os garimpeiros,
prosperam através da rápida extração dos recursos. Por
esta ótica, a madeira é vista como um recurso
extrativista não-renovável. A rapidez nas operações de
extração permite que um madeireiro obtenha mais
madeira do que seus concorrentes, acumulando estoques
de madeira para processar durante a estação chuvosa,
quando a extração é suspensa. Na corrida para extrair

12
Veríssimo et al., 1995; Grogan, 2001.

32
as toras da floresta, o planejamento cuidadoso para o
corte e para a abertura de estradas acaba sendo
secundário. Desta forma, muitas árvores derrubadas
mas nunca retiradas da floresta e utilizadas
comercialmente. Além disto, as árvores jovens de valor
comercial são desnecessariamente destruídas.
Um número de árvores muito maior do que o
necessário é danificado ou destruído durante as
atividades de extração13 .

Figura 2. Danos típicos causados por uma exploração florestal de alta


intensidade e predatória (>30 m3/ha) e conseqüentes danos ao dosel flo-
restal. Fazenda Vitória, Paragominas, 1987.

13
Barreto et al., 1998; Holmes et al., 2002.

33
A CULTURA DAS FRAUDES

A possibilidade de fraudes também é um


componente importante na lógica dos madeireiros da
Amazônia. Enquanto as empresas madeireiras ignorarem
as normas governamentais que defendem o interesse
público em relação aos recursos florestais da região, a
perspectiva de governar a indústria continuará sendo
pequena. Todas as estratégias que estão sendo
desenvolvidas atualmente para controlar a indústria
madeireira são baseadas na premissa de que as
regulamentações governamentais podem ser
implementadas.
Ainda é inexpressivo o cumprimento da
regulamentação governamental destinada a controlar a
procedência e a forma pela qual a madeira deve ser
extraída das florestas amazônicas. As empresas
madeireiras fraudam devido aos custos elevados de
cumprir as regulamentações do governo, e pela facilidade
de enganar a fiscalização.
No Brasil, o corte de madeira é legal apenas em
florestas onde o desmatamento foi autorizado para fins
de agricultura e em florestas que tiveram planos de
manejo aprovados pelo governo. Ambos os processos de
legalização envolvem custos burocráticos. Além disso,
as licenças para o corte raso (que requerem o título
legal da terra) são raras nas fronteiras madeireiras e
os planos de manejo são caros. A fiscalização da
legislação florestal na Amazônia está atrelada à
capacidade da empresa em provar que a madeira
empilhada em um pátio ou carregada em um caminhão
é proveniente de uma floresta com plano de manejo
aprovado ou de uma área de desmatamento autorizado.

34
Na perspectiva dos madeireiros criminosos, a
vantagem da ilegalidade depende dos custos envolvidos
com o cumprimento da legislação, das chances de ser
flagrado durante as infrações, das penalidades existentes
e do tempo que os acusados levam para serem julgados.
Por muitos anos, a possibilidade de ser multado ou preso
por um crime ambiental era quase inexistente na
Amazônia. No entanto, com a entrada em vigor da lei de
crimes ambientais, em 1998, o IBAMA passou a ter poder
para impor multas e prender os criminosos ambientais,
reduzindo a impunidade na indústria madeireira. Hoje,
ignorar a legislação florestal ou praticar o “falso”
cumprimento da lei – por meio de suborno ou falsificação
de documentos – são mais freqüente nas áreas de
fronteira remotas ou recentes, onde a capacidade de
fiscalização do governo é menor.
Pequenas operações clandestinas conseguem
enganar a fiscalização através do transporte de madeira
durante à noite, quando os agentes não estão
trabalhando. Nestes casos, as serrarias são pequenas
e, portanto, têm menos chances de serem visitadas pelos
agentes. As empresas maiores tendem a optar pelo
“falso” cumprimento das leis através de suborno e uso
de documentos falsificados. Uma técnica bastante usada
é aumentar o volume de madeira em áreas de
desmatamento autorizado, propiciando assim, cobertura
para a madeira ilegal que é carregada em caminhões
ou estocada em pátios. Outra estratégia comum é de
simplesmente falsificar a Autorização de Transporte de
Produtos Florestais (ATPF), documento que especifica o
volume e as espécies de madeira que a empresa pode
cortar legalmente.

35
Coletar informações sobre ilegalidade na
Amazônia não é uma tarefa fácil. Das vinte e quatro
serrarias entrevistadas por pesquisadores do IPAM ao
longo das rodovias Santarém-Cuiabá, Transamazônica
e Transoceânica (Figura 1), apenas uma admitiu a
fraude. O dono desta serraria comprou madeira de
extrações clandestinas por muitos anos. Por não possuit
ATPFs ele subornava fiscais do IBAMA para dar cobertura
legal para a madeira estocada em seu pátio. Quando
decidiu legalizar suas atividades através do
desenvolvimento de um plano de manejo para uma área
de 3.000 hectares de floresta, os próprios fiscais,
contrariados, o ameaçaram. Quando o suborno se torna
uma fonte importante de renda para os agentes
fiscalizadores nas fronteiras florestais remotas, pode ser
mais perigoso cumprir a lei do que fraudá-la.
A indústria madeireira amazônica vem adotando
nos últimos anos um padrão de “legalidade predatória”14 ,
pelo qual os pequenos proprietários e fazendeiros
fornecem a maior parte da cobertura legal para a
indústria, através das autorizações para desmatamento
de suas propriedades particulares. Desta forma, a
atividade madeireira poderia criar um incentivo perverso
para o desmatamento. Esta tendência também pode ser
interpretada de uma maneira diferente. É inevitável que
a fronteira agrícola se expanda e para evitar o disperdício
é apropriado que a madeira seja cortada em terras que
no futuro serão dedicadas à agricultura. O problema,
então, são os volumes enganosos de madeira registrados
nas ATPFs para garantir cobertura legal à madeira

14
Smeraldi et al., 2002.

36
ilegal. Também é um sério problema o incentivo ao
desmatamento que a venda de madeira pode gerar em
áreas não apropriadas para a agricultura.
Se for admitido que a área total agrícola na
Amazônia aumente dos atuais 15% da região para 20%,
mantendo-se os demais 80% sob vários níveis de
proteção 15 , o desmatamento poderia suprir a demanda
total da indústria madeireira por quase 20 anos 16 .
Colocando a questão de forma estratégica, a madeira
proveniente dos desmatamentos autorizados representa
uma espécie de “mecanismo de espera”, enquanto a rede
de florestas manejadas em propriedades privadas e em
reservas indígenas e extrativistas cresce e volta a produzir
madeira em um segundo ciclo em mais de 30 anos.

NOVAS ESTRADAS NA FLORESTA:


A ATIVIDADE MADEIREIRA EM TRANSIÇÃO

A indústria madeireira da Amazônia está passando


por uma drástica transição com a expansão da malha
rodoviária em áreas de floresta anteriormente remotas.
O governo brasileiro começou a pavimentar a primeira
estrada (BR-163) que permitirá o acesso, independente
da estação do ano, à gigantesca floresta interfluvial da
Amazônia Central (Figura 1). O governo peruano, por
sua vez, está melhorando as estradas que cruzam os

15
Nepstad et al., 2002a.
16
Se a área atual desmatada na Amazônia brasileira (aproximadamente
500.000 km2, ou 15% da área total florestal) for aumentada para 750.000
km2 (20% da área), o volume de madeira que poderia ser potencialmente
aproveitada das áreas de desmatamento seria da ordem de 250.000 km2
x 2000 m 3/km 2 = 500.000 m 3 de madeira, equivalente a 16 anos de
produção madeireira total na região.

37
Andes, ligando a Amazônia aos portos marítimos do
oceano Pacífico (Figura 1).
Uma das forças econômicas motivadoras desta
expansão rodoviária é a economia substancial que ela
poderá gerar à indústria da soja, através do acesso
facilitado aos portos amazônicos. Essa economia pode
chegar a US$ 70 milhões por ano, considerando-se os
dados sobre a produção atual de soja no Brasil central.
O potencial é ainda maior na medida em que a produção
de soja cresça no futuro17 . No entanto, há uma segunda
força econômica estimulando a pavimentação de
estradas na Amazônia Central: a madeira. Com a
diminuição dos estoques de madeira na Amazônia
Oriental e Meridional, os estoques mais próximos dos
mercados brasileiros estão localizados ao longo das
rodovias BR-163, no sudoeste do Estado do Pará; da
Rodovia Transamazônica; e da Rodovia BR-319, que liga
Porto Velho a Manaus (Figura 1).
A pavimentação de estradas reduz o custo de
transporte, levando ao rápido aumento das áreas de
floresta acessíveis e, conseqüentemente, ao número de
espécies exploradas e à intensidade (volume de madeira
por área florestal) da exploração. Em 2000 e 2001, foram
realizadas expedições de pesquisa pelo IPAM e WHRC
ao longo das três principais rodovias que estão sendo
pavimentadas (Figura 1), para avaliar os impactos da
pavimentação sobre as populações locais e sobre a
economia e os ecossistemas de cada corredor rodoviário.
Gerentes de 24 empresas madeireiras também foram
entrevistados. As expedições englobaram os 1.600 km
da Rodovia Cuiabá-Santarém, os 1.200 km da Rodovia
17
Nepstad et al., 2000, 2001, 2002a; Carvalho et al., 2001; Fearnside,
2001.

38
Transamazônica (de Novo Repartimento a Itaituba) e
1.800 km da estrada que sai de Rio Branco, no Acre, e
atravessa os Andes até Puno e Ilo (Figura 1).
Na Amazônia, muitas áreas de floresta natural ao
longo das rodovias já forneceram grandes quantidades de
mogno e outras espécies de menor valor, como cedro
(Cedrella odorata) e freijó (Cordia goeldiana), representando
impacto ainda pequeno na estrutura florestal. No entanto,
a melhoria do acesso rodoviário e o esgotamento dos
estoques de madeira nas florestas no leste e sudeste da
região amazônica estão transformando a exploração
madeireira ao longo destas rodovias, aumentando o número
de espécies exploradas e a intensidade da exploração.
Conseqüentemente, um aumento proporcional de danos
ecológicos é causado pela exploração. O ritmo dessa
transformação é alarmante. No município de Novo
Progresso, no estado do Pará (Figura 1), por exemplo, havia
três serrarias em 1997 que processavam seis a oito espécies
de madeira. Já em 2001, o número de serrarias aumentou
para 120, que passaram a serrar de 15 a 17 espécies.
Com o fim dos estoques remanescentes de
madeira ao longo da Rodovia Belém-Brasília, da PA-150,
no norte do Mato Grosso e da BR-364, em Rondônia, a
indústria madeireira que supre o mercado interno
brasileiro vai se deslocar para o norte, ao longo da BR-
163, e para o oeste, ao longo da Transamazônica. A
pavimentação das rodovias “transoceânicas” (que cruzam
os Andes) aumentará a pressão extrativista sobre as
florestas da escarpa leste dos Andes, embora o tamanho
desta expansão possa ser menor do que na Amazônia
Oriental, em virtude da existência de mercados
domésticos relativamente pequenos no Peru.

39
A indústria exportadora de madeira também está
crescendo devido à melhoria das condições das estradas,
embora em lugares diferentes. Os portos fluviais de
Vitória (ao norte de Altamira, no Rio Xingu), de Itaituba
(na Rodovia Cuiabá-Santarém), de Itacoatiara (próximo
a Manaus) e o porto marítimo de Lima determinam a
distribuição espacial da exploração de madeira destinada
à exportação (Figura 1). Com o asfaltamento da BR-
163, o porto de Santarém substituirá o porto de Itaituba
e a extração de madeira para exportação se expandirá
até o município de Novo Progresso e ao longo de toda a
extensão da Rodovia Transamazônica. A estrada que liga
Humaitá a Manaus (BR-319) será uma fonte de madeira
menos importante para os mercados internacionais, pois
atravessa uma região com baixos volumes e,
provavelmente, será a última das principais estradas
da região a ser asfaltada. A pavimentação das estradas
também tornará viável a extração e a exportação de várias
espécies de madeira de valor baixo e médio, aumentando,
conseqüentemente, os danos florestais associados à
extração de madeira para exportação.
A pavimentação de estradas é um dos fatores que
determina o tipo de exploração madeireira. Por exemplo,
antes da pavimentação da Rodovia Pucallpa-Cuzco, a
indústria madeireira de Pucallpa explorava apenas
mogno para exportação, a mesma situação acontece em
Puerto Maldonado atualmente. Após a pavimentação,
esta indústria cresceu e passou a explorar outras 15
espécies de madeira amazônica para os mercados
peruanos de Cuzco e Lima18 .

18
D. Nepstad and E. Mendoza, dados não publicados.

40
PERDA DOS BENEFÍCIOS SOCIAIS,
ECONÔMICOS E AMBIENTAIS

Empobrecimento social e econômico das


populações rurais

As populações rurais carentes da Amazônia


ocupam aproximadamente um terço das florestas da
região, mas detêm uma parcela mínima da riqueza
gerada pela indústria madeireira. Essas populações
totalizam seis milhões de pessoas, incluindo agricultores
familiares, populações tradicionais (caboclos e
ribeirinhos) e grupos indígenas. A inclusão desses grupos
diretamente na exploração e venda de madeira é limitada
parcialmente pelo próprio “peso” das toras de madeira,
as quais não podem ser facilmente transportadas,
dificultando o envolvimento direto das populações rurais
pobres com esta indústria.
Estas populações encontram-se impossibilitadas
financeiramente de comprar o maquinário necessário
para o transporte de toras da área de extração até a
serraria. Alguns empreendedores rurais encontram
maneiras de adquirir moto-serras e caminhões
rudimentares 19 , e desenvolvem métodos rústicos de
extração, o que lhes permite obter benefícios monetários
maiores da indústria madeireira. Entretanto, via de
regra, as populações rurais carentes, detentoras de
áreas com floresta, têm fornecido matéria-prima e mão-
de-obra barata e não qualificada para a indústria, ao
vender as árvores de suas propriedades às empresas
madeireiras e ao trabalhar na extração de árvores e no
19
Guimarães e Uhl, 1997; Uhl et al., 1991.

41
processamento da madeira nas serrarias. Estes grupos
também se beneficiam indiretamente quando as
empresas madeireiras melhoram as estradas que ligam
áreas remotas a centros urbanos e também ajudam a
transportar produtores rurais, crianças em idade escolar
e doentes. Estes benefícios não são triviais. A construção
de estradas para exploração madeireira e as “caronas”
oferecidas pelos madeireiros facilitam o acesso das
comunidades rurais a escolas, hospitais e mercados. Este
serviço prestado pelo madeireiro pode ser, literalmente,
a diferença entre a vida e a morte para algumas famílias
rurais isoladas. O dinheiro proveniente da venda de
árvores da floresta representa uma importante fonte de
renda para as populações rurais carentes, cuja principal
é a venda de farinha de mandioca por menos de US$ 500
anuais por família.
Contudo, os benefícios sócio-econômicos oferecidos
pela indústria madeireira, até o presente momento, estão
muito abaixo de seu real potencial. As oportunidades
para trabalhadores rurais são escassas na maior parte
da Amazônia embora a indústria madeireira empregue
diretamente cerca de 250.000 trabalhadores em
serrarias e nas operações de extração e
processamento20 . Este grande benefício sócio-econômico
é freqüentemente citado como o principal motivo para o
desenvolvimento de políticas públicas de apoio à indústria
madeireira na Amazônia21 . Os empregos nas empresas
madeireiras são predominantemente sazonais e a
dispensa de funcionários é determinada pelo
esgotamento de estoques de madeireira nos pátios

20
Veríssimo e Lima, 1998; Veríssimo et al, 2002c; Lima et al., 2002;
Lentini et al., no prelo.
21
Veríssimo et al., 2002a,b.

42
durante a estação chuvosa. As condições de trabalho
geralmente são severas, as partículas de argila e
serragem suspensas no ar causam problemas
respiratórios aos trabalhadores das serrarias e suas
famílias. Há pouco equipamento de segurança disponível,
e os acidentes são comuns. Além disso, a ausência da
fiscalização contribui para a violação de direitos humanos
tanto nas serrarias como na operação de corte, com a
ocorrência de trabalho infantil, condições inadequadas
e horas excessivas de trabalho.22
O maior benefício potencial da indústria
madeireira para as populações rurais não vem sendo
realizado. Como donos e/ou controladores de vastos
recursos florestais, os agricultores familiares, as
populações tradicionais e os grupos indígenas da
Amazônia poderiam receber um fluxo de renda
permanente e, ao mesmo tempo, conservar outros
recursos e serviços ecológicos de suas florestas através
do manejo e da venda de seus recursos madeireiros.
Vários projetos-piloto demonstram o papel que uma
negociação justa entre pequenos produtores e
madeireiros pode desempenhar na melhoria das
condições de vida na região. Após o ciclo econômico da
madeira no estuário amazônico, as famílias de caboclos
que adquiriram conhecimento e prática na atividade
madeireira começaram a manejar e explorar suas
florestas secundárias para vender madeira23 . Da mesma
forma, comunidades caboclas da Reserva Extrativista
Tapajós-Arapiuns aumentaram sua renda com a venda
de móveis rústicos feitos de árvores caídas naturalmente

22
Rohter, 2002.
23
Pinedo et al., 2001.

43
em suas terras24 . Os índios Xikrins do Estado do Pará
tiveram aprovado seu plano de manejo de mogno. Pelo
menos outras 14 iniciativas florestais comunitárias estão
em andamento na Amazônia brasileira25 .
No entanto, a exemplo do que ocorre com projetos
semelhantes no Perú e na Bolívia 26 , a inexperiência
das comunidades rurais quanto ao gerenciamento de
empreendimentos comerciais tem impedido a rápida
multiplicação destas iniciativas. Os projetos de manejo
comunitário que promovem a instalação de serrarias em
comunidades, por exemplo, falham com freqüência por
falta de experiência e capacidade das populações rurais
carentes em dirigir empreendimentos comerciais.
Muitas iniciativas comunitárias excluem as empresas
madeireiras, detentoras de tecnologia e maquinário para
retirar e processar toras de madeira. Desta forma, as
comunidades acabam tendo que desenvolver tais
capacidades de maneira independente 27 . Um modelo
bem sucedido de transferência de benefícios da indústria
madeireira para pequenos agricultores assentados pelo
governo – a maior população e a que mais cresce entre
as populações pobres da Amazônia – notadamente,
inexiste.

24
McGrath et al.
25
Amaral e Amaral, 2000; Muchagata e Amaral Neto, 2001.
26
Smith e Wray, 1996.
27
Cunha, 2002; Muchagata e Amaral Neto, 2001; Melo et al., 2001;
McGrath et al.

44
Quadro 1. O manejo florestal comunitário na Amazônia

Uma das principais propostas de participação social na


industria madeireira tropical tem sido o “manejo florestal comu-
nitário” (MFC). Ao contrário dos acordos entre proprietários e
empresas madeireiras, o princípio norteador do MFC é a
verticalização da produção de madeira dentro da própria comuni-
dade, desde o planejamento da exploração madeireira e do mane-
jo florestal, até o processamento e venda do produto final (Amaral
& Neto, 2000; Melo et al., 2001; Muchagata & Neto, 2001; Olivei-
ra, 2002). Vários grupos de populações rurais vêm se envolvendo
em iniciativas de manejo comunitário de recursos naturais como
alternativa à degradação dos recursos comuns de que dependem.
Em levantamento feito em 1998 e 1999 (Amaral & Neto, 2000), 14
experiências de manejo florestal comunitário, em planejamento
ou em execução, foram identificadas na Amazônia. Fazendo uma
análise do modelo de manejo comunitário atualmente dissemi-
nado, pode-se apontar três desafios a serem vencidos. Primeiro é
a alto investimento técnico-financeiro para implementação do ma-
nejo, conseqüentemente a baixa autonomia dos comunitários
sobre o processo de manejo. O segundo, é a falta de diversifica-
ção de atividades econômicas, o que confere um caráter de
vulnerabilidade à atividade. Terceiro, ao se optar pelo domínio
tecnológico das fases de produção de madeira, compete-se com
industrias já estabelecidas em um mercado que exige, além da
qualidade do produto, entregas de volumes não compatíveis com
a produção comunitária. Menos da metade destas iniciativas po-
deriam ser chamados de bem-sucedidas no momento.
Uma outra abordagem de MFC está sendo ensaiada na Re-
serva Extrativista Tapajós-Arapiuns. Nessa região, algumas fa-
mílias, assessoradas pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia, resolveram investir na produção de móveis artesanais
feitos com árvores mortas encontradas na comunidade. A renda
mensal obtida com a venda dos móveis passou a ser igual aos
ganhos anuais com agricultura. No momento, estudos de manejo
florestal estão em andamento para que futuramente as famílias
possam utilizar o excedente do crescimento da floresta como fon-
te de matéria-prima para a produção dos móveis.
Enquanto estas experiências importantes de MFC são aper-
feiçoadas e ampliadas nos próximos anos, a inserção social na
indústria madeireira vai depender de uma abordagem mais am-
pla, e uma multiplicabilidade maior.

45
EMPOBRECIMENTO ECOLÓGICO DA FLORESTA

Talvez, a maior ameaça ecológica provocada pela


expansão da indústria madeireira na Amazônia seja a
substituição, devido a incêndios recorrentes e de
grande escala, das florestas altas amazônicas por
florestas severamente degradadas. A atividade
madeireira favorece tal substituição ao aumentar a
suscetibilidade da floresta ao fogo que escapa de áreas
agrícolas. Esta ameaça é maior quando três fatores
ocorrem simultaneamente: o corte intensivo de
madeira (alto volume por área), a seca sazonal e a
prática de sistemas agrícolas dependentes do emprego
das queimadas 28 . A convergência destes fatores ocorre
atualmente no leste e sudeste da Amazônia, ao longo
da Rodovia Belém-Brasília e no norte do estado do
Mato Grosso.
O empobrecimento florestal ocasionado pelo fogo
deverá seguir a expansão das fronteiras madeireira e
agrícola para o norte, ao longo da rodovia Santarém-
Cuiabá, e para o oeste, ao longo da rodovia
Transamazônica, onde a seca sazonal é severa,
particularmente durante os eventos de El Niño
(Figura 3).

28
Nepstad et al., 1999b; Alencar et al., no prelo.

46
Figura 3. Previsões de desmatamento e exploracão madeireira, áreas prote-
gidas, e áreas vulneráveis a incendio florestal na Amazônia. Com o
asfaltamento de estradas propostas pelo governo, a fronteira vai avancar,
provocando grandes areas de expansão agricola e madeireira principal-
mente nas rodovías Transamazônica, Cuiabá-Santarém, e Porto Velho-
Manaus. As rodovias com grandes concentraces de agricultores
(Transamazonica e norte do Cuiabá-Santarém) devem ser alvo da ampliacão
de “florestas familiares”. Fonte: Previsões de desmatamento e exploracão
madeireira, U. Lopes Jr., D. Nepstad, não publicado.

A magnitude desta ameaça é ilustrada pelo severo


evento de El Niño de 1997 e 1998, quando uma área de
aproximadamente 40 mil km2 de floresta – o equivalente
a três quartos da área da Costa Rica – pegou fogo na
Amazônia brasileira29 . A maior parte desta área já havia
sido explorada para retirada de madeira. Com a expansão
das fronteiras madeireiras e agrícolas, incêndios
florestais poderão transformar muitas florestas do leste
e sudeste da Amazônia em áreas degradadas.
29
Diaz et al., 2002.

47
A atividade madeireira aumenta a vulnerabilidade
das florestas tropicais ao fogo. Por toda a região tropical,
uma grande extensão de florestas explorada sofre
períodos anuais de seca severa, que duram vários meses.
Nesses períodos, a quantidade de água perdida pela
floresta, na forma de vapor d’água (via
evapotranspiração), é muito maior do que a quantidade
de água adquirida pela floresta em forma de chuva30
(Figura 4).

Intensidade
da Seca

Dezembro 2001

Risco de incêndio

Baixo risco Alto risco


% estoque de água no solo

Figura 4. Perda da água do solo no período de


2001/2002 durante o episódio do El Niño. Perda de 30% da água do solo
está associada ao alto risco de fogo (Nepstad et al. submitted). A atividade
madeireira está concentrada nas áreas de secas sazonais intensas e baixa
pluviosidade durante os períodos de El Niño. Freqüentemente, isso leva
afogos acidentais.

30
Nepstad et al., 1999a.

48
Vale ressaltar que as operações de extração de
madeira são concentradas em regiões de seca sazonal,
o que garante maior eficiência durante a estação seca,
especialmente em áreas com solos argilosos, onde
máquinas pesadas atolam quando chove. Em seu estado
natural, o denso dossel foliar, abastecido com água pelo
sistema de raízes profundas, protege as florestas da
perda de folhas e da queda de umidade em seu interior,
garantindo baixa susceptibilidade ao fogo31 .
O corte intensivo de madeira na Amazônia
Oriental (30 a 40 m3 por hectare) pode reduzir a cobertura
proporcionada pelo dossel florestal de 95% (em florestas
não perturbadas) para 50%. Além disso, no caso das
florestas naturais, pode aumentar a quantidade de
combustível orgânico no chão após a extração de madeira
de 60 toneladas por hectare para 180 toneladas por
hectare32 . Como resultado destas mudanças, durante a
estação seca, as clareiras criadas pela extração de
madeira ficam vulneráveis ao fogo em apenas duas
semanas sem chuva, ao contrário dos meses sem chuva
que seriam necessários para tornar uma floresta intacta
suscetível a incêndios33 .
O efeito da exploração madeireira na
inflamabilidade da floresta é proporcional à intensidade
do corte da madeira. Com alta intensidade, muitas partes
da floresta são convertidas em clareiras altamente
inflamáveis. Neste caso, a possibilidade do fogo se
deslocar dentro da floresta, de uma clareira a outra,
aumenta.

31
Nepstad et al., 1994, 2002b, 2002 (JGR); Jipp et al., 1998.
32
Uhl e Kauffman, 1990; Uhl e Vieira, 1989.
33
Uhl e Buschbacher, 1985; Uhl e Kaufman, 1990; Cochrane e Schulze,
1999; Nepstad et al., 1999b.

49
Uma vez queimada, a probabilidade de que a
floresta volte a queimar aumenta, caracterizando um
ciclo positivo que se auto-alimentação (Figura 5) 34 .
Algumas florestas exploradas da Amazônia Oriental já
queimaram mais de sete vezes em menos de 20 anos e
hoje são áreas severamente degradadas, altamente
suscetíveis a novos incêndios, dominadas por capim e
plantas lenhosas de baixa estatura 35 . O risco de
“savanização” é maior no leste e no sul da Amazônia,
onde os períodos de seca severa estão associados a
eventos de El Niño (Figura 3).

Figura 5. Ciclo vicioso entre exploração madeireira, incêndios florestais e


susceptibilidade da floresta a incêndios florestais. Tanto a exploração
madeireira quanto os incêndios florestais danificam a floresta, tornando-a
mais aberta e susceptível ao fogo.

34
Nepstad et al., 1995; Cochrane e Schulze, 1999; Cochrane et al. 1999.
35
Cochrane and Schulze, 1999.

50
A extração de madeireira de impacto ecológico
reduzido pode minimizar substancialmente os danos
ecológicos da exploração madeireira 36 . Neste caso, a
floresta, antes do corte, é inventariada, as árvores
comerciais são mapeadas e os cipós são cortados. Além
disso, a derrubada de árvores e a abertura de pátios de
estocagem e ramais de arraste são atividades
planejadas. Ao deixar uma grande parte do dossel
intacta, este sistema evita o aquecimento e secagem
excessivos no interior da floresta e diminui a quantidade
de material combustível acumulado no solo. A
suscetibilidade das florestas ao fogo é bem menor após
a extração de madeira pelo sistema de baixo impacto,
do que após a extração pelo sistema convencionalmente
utilizado pela indústria 37 . O mais interessante do
sistema de baixo impacto é que sua lucratividade é
semelhante ao das operações convencionais, pois o
aproveitamento das toras é maior38 . Vale observar que
a lucratividade do sistema de baixo impacto foi calculada
em áreas de exploração florestal experimentais, esses
cálculos ainda precisam ser feitos para operações
madeireiras das empresas, ou seja, temos que
contabilizar a lucratividade das operações de madeireira
de baixo impacto fora da escala experimental.
A exploração madeireira causa, ainda, uma série
de danos mais sutis às florestas tropicais, incluindo
compactação do solo devido às operações de arraste e
empilhamento de toras, mudanças na composição de
espécies e na estrutura genética das populações de

36
Barreto et al., 1998; Johns et al., 1996.
37
Holdsworth e Uhl, 1997.
38
Barreto et al., 1998; Holmes et al., 2002.

51
plantas e animais. Estes efeitos variam bastante de
acordo com a intensidade do corte, com as técnicas
empregadas e com a escala pela qual estes efeitos são
medidos 39 .
Em um dos poucos estudos sobre os efeitos da
exploração madeireira na fauna da Amazônia, Azevedo-
Ramos et al.40 e Kalif et al.41 compararam a composição
das comunidades de répteis, mamíferos, pássaros e
formigas entre blocos de floresta explorada de 100 ha.
Um bloco foi explorado pelo sistema convencional (com
intensidade de 26 m3 por hectare), o outro pelo sistema
de impacto reduzido (23 m3 por hectare), e um terceiro
não havia sofrido exploração (bloco de controle). Ambos
os sistemas de exploração reduziram consideravelmente
a riqueza de espécies nativas em comparação ao bloco
de controle.
A perda de espécies animais nativas associada à
exploração de madeira variou de 17 a 26% na área de
extração convencional (17 % para os répteis, 18 % para
os mamíferos, 24 % para os pássaros e 26 % para as
formigas), e de 17 a 24% na área de impacto reduzido
(17 % para os répteis, 18 % para os mamíferos, 19 %
para as formigas e 24 % para os pássaros).
A perda de espécies animais pode significar
também o aumento do tempo necessário para que
algumas espécies arbóreas regenerem. Na área
explorada pelo sistema convencional, a perda de espécies
de formigas, por exemplo, reduziu em mais de 30% o
número de sementes de espécies de valor econômico
potencialmente dispersas 41 . Ainda são necessários

39
Revisado por Putz et al., 2000.
40
Dados não publicados.
41
Kalif et al., 2001b.

52
estudos mais aprofundados para entender o ritmo de
restabelecimento de espécies animais florestais em
áreas exploradas. No entanto, ficou evidente que a perda
de espécies animais associada à extração de madeira é
menor do que a associada a outros tipos de uso da terra
na Amazônia, principalmente pastagem e agricultura
rotativa (Figura 6).

✓ Savanização
✓ Aumento da susceptibilidade ao fogo
✓ Compactação do solo
✓ Mudanças na composição das espécies
✓ Perda da biodiversidade
✓ Mudanças na estrutura genética
Figura 6. Resumo dos principais impactos ecológicos da atividade madeireira
sobre os serviços do ecossistema e a biodiversidade

53
PARTE II
PRINCIPAIS INICIATIVAS PÚBLICAS E PRIVADAS DE
GOVERNANÇA DA ATIVIDADE MADEIREIRA:
Implementação das leis florestais, Florestas públicas,
Certificação florestal e Direito de desenvolvimento
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS

Implementação das leis ambientais

De acordo com a “teoria da penalidade ótima”, os


governos deveriam investir na implementação da
legislação ambiental até o ponto em que o custo marginal
do aumento da implementação seja igual aos benefícios
sociais marginais decorrentes do aumento da
implementação da lei 42 . Os investimentos atuais na
implementação da legislação florestal estão claramente
abaixo do nível ótimo na Amazônia. Ao mesmo tempo, a
ilegalidade é o principal obstáculo às inovações mais
promissoras da indústria madeireira na região.
O sistema de implementação da legislação
florestal pode ser dividido em vários componentes, sendo
que cada um deles têm que funcionar bem para que o
sistema legal seja efetivo. Assim sendo, aumentos
expressivos nos esforços de detecção dos infratores
(fiscalização ou denúncias), detenção, processamento
judicial e condenação devem ocorrer para elevar o custo
da ilegalidade 43 . Desta forma, as tarefas para execução
da legislação florestal estão divididas entre as
populações rurais e organizações da sociedade civil
organizada (denúncias das atividade ilegais), IBAMA

42
Becker, 1968.
43
Nepstad et al., 2002a.

57
(detecção das atividade ilegais e processo
administrativo), Ministério Público (processamento
judicial das atividades ilegais e seus responsáveis) e
Juizes (julgamento dos infratores).
A probabilidade de detecção tem aumentado nos
últimos anos devido ao uso de novas tecnologias, como
por exemplo, imagens de satélite, sistemas de
posicionamento global, banco de dados espaciais, novas
técnicas de sensoriamento remoto, e denúncias por
parte das populações rurais44 . O governo do estado do
Mato Grosso mostrou, por exemplo, que o desmatamento
pode ser ordenado com auxilio de imagens de satélite
(Landsat-TM) usados para medir a área florestal que
existe em propriedades rurais 45 . No entanto, muitos
problemas ainda não foram resolvidos. Por exemplo, a
falta de agentes na fiscalização no campo, e a falta de
equipamentos para a grande área fiscalizada.
Embora a probabilidade de detecção tenha
aumentado nos últimos anos, os processos judiciais
contra os infratores ainda são poucos. Isso ocorre por
diversas razões entre as quais o preenchimento
inadequado dos autos de infração (nome do responsável,
local do crime e descrição da infração) pelos agentes.
As evidências do crime também não são coletadas, ou
são coletadas de forma insatisfatória. A falta de
sistematização das provas afeta a apuração das
denúncias e a punição dos infratores. Nessas
circunstâncias, os processos de acusação dos infratores
são mal elaborados e acabam limitando a habilidade dos
juízes em julgar uma causa apropriadamente46 .

44
Esty, 2002
45
Fundação Estadual de Meio Ambiente, 2000
46
Akella, 2002

58
FLORESTAS PÚBLICAS

Entre as políticas formuladas para governar a


indústria madeireira, a mais ambiciosa é a Política
Nacional de Florestas do Ministério de Meio Ambiente47 .
Esta política baseia-se na premissa de que a indústria
madeireira é uma fonte essencial de empregos e renda
para a sociedade amazônica, que se encontra limitada
pela ausência de florestas disponíveis para exploração.
Tal política tem como alvo a criação, até o ano de 2010,
de 50 milhões de hectares de florestas nacionais em
áreas de baixa densidade populacional. Essas florestas
não podem se sobrepor a unidades de conservação já
existentes e devem estar próximas a vias de transporte,
viabilizando economicamente a extração de madeira 48
(Figura 7).
Com a expansão da rede de florestas nacionais,
serão abertas novas concessões e as empresas
madeireiras poderão apresentar propostas para obter o
direito de explorar os recursos madeiros. A área de
concessões florestais deve atingir 28 milhões de
hectares até o ano de 2010. A proposta foi elaborada
para solucionar o problema de exploração ilegal de
madeira e conter a expansão da fronteira agrícola
(Quadro 2)

47
Ministério do Meio Ambiente, 2002; Veríssimo et al., 2002a.
48
Veríssimo et al. 2002a,b.

59
Oceano
Atlântico

Flonas Potenciais
Flonas Potenciais com alta prio-
ridade p/ conservação

Figura 7. Mapa de localização das áreas com potencial para o estabeleci-


mento das florestas públicas na Amazônia. Essas florestas foram escolhi-
das eliminando as áreas de alto valor para conservação da biodiversidade,
não sobrepondo-as a outras unidades de conservação, estando próximas a
estradas e tendo mínima ocupação humana. Fonte: Veríssimo et al, 2002.

60
Quadro 2. Dúvidas sobre concessões florestais na
Amazônia

Florestas Nacionais, Estaduais e Municipais (FLONAS) no


Brasil cobrem 8 milhões de hectares, ou aproximadamente 1,6 %
dos 500 milhões de hectares que constituem a Amazonia Legal.
Dentro do novo Programa Nacional de Florestas (PNF), a área de
FLONAS será aumentada para cerca de 50 milhões de hectares
adicionais - 10 milhões antes do fim de 2003 e o resto antes de
2010 – e poderia ser responsável por 50% da demanda total de
madeira para florestas Amazônicas (MMA, 2000). Esta é uma meta
ambiciosa e arrojada. Para atingir esta meta seria necessário
desenvolver modelos de concessões florestais para alocar direi-
tos de exploração para madeireiros privados, historicamente proi-
bidas em áreas de FLONAS no Brasil. As atividades de explora-
ção seriam permitidas em 50% dos 58 milhões de hectares de
florestas nacionais propostas. Este sistema de concessão brasi-
leiro quase triplicaria a área de florestas dentro de concessão na
América do Sul. A atual área de concessões na Amazônia brasi-
leira (3.000 ha na FLONA Tapajós) seria multiplicado por 9.000
vezes.
A implementação e administração efetiva das concessões
propostas na Politica Nacional de Florestas seria obviamente cen-
tral para o futuro uso, ou potencial abuso, das florestas primári-
as Amazônicas existentes. A decisão para adotar concessões está
baseado na premissa de que aumentará a rentabilidade da explo-
ração madeireira e que o governo poderá melhor monitorar e con-
trolar atividades das indústrias madeireiros a exploração for rea-
lizada em florestas públicas, reduzindo a exploração ilegal e, as-
sim, aumentando a adoção de práticas de manejo florestal.
Porém, estas metas podem não ser realizáveis. Conces-
sões podem ter efeitos colaterais negativos que precisam ser
melhor entendidos. Por exemplo, os subsídios que acompanham
a concessão—pelo preço de madeira (stumpage) muitas vezes a
abaixo do mercado, pela estrutura fundiária consolidada, pela fis-
calização prestada pelo governo, e pela infra-estrutura oferecida
pelo governo—pode aumentar a oferta de madeira no mercado,
reduzindo a competitividade daquelas industrias que operam na
margem do lucro. Concessões são experimentos importantes na
gestão de florestas tropicais, mas que enfrentaram sérias dificul-
dades em outros paises (Barbier et al. 1994, Repetto and Gillis,
1988, Gray et al. 1997). Não há garantias de que o Brasil vai ser
uma exceção à esta história infeliz de concessões madeireiras.

61
Embora os objetivos desta nova política sejam
louváveis, surgem problemas em algumas de suas
premissas quando investigadas mais a fundo. A premissa
mais importante – a de que a indústria madeireira deve
ser direcionada para longe das fronteiras agrícolas – é
questionável. A base para tal premissa reside no fato de
que é difícil para a indústria madeireira adquirir grandes
áreas de floresta para executar o manejo florestal dentro
de uma fronteira agrícola ativa. Portanto, a indústria
deveria receber grandes áreas dentro do sistema
expandido de florestas públicas. No entanto, se o objetivo
da governança é maximizar os benefícios sociais e
econômicos e, ao mesmo tempo, evitar danos ecológicos,
a demanda da indústria madeireira por madeira em tora
deveria ser estimulada nas áreas controladas por
populações rurais carentes nas áreas de fronteira
agrícola ativa.
Da forma como foi proposta, a Política Nacional de
Florestas conduz a indústria madeireira em direção às
florestas com menos de menor pressão antrópica, ao
invés de mantê-la em florestas que já estão sendo
utilizadas. Mesmo as técnicas de exploração de impacto
ecológico reduzido empobrecem as florestas tropicais49 ,
o que poderia ser evitado nas florestas com o menor
pressão antrópica da região.
Outra premissa do PNF que carece de base em
casos empíricos é a de que a governança da indústria
madeireira é melhor exercida quando o governo é o
proprietário das florestas e negocia a exploração através
de concessões 50 . A primeira experiência de concessão

49
Putz et al., 2000.
50
Barbier et al., 1994; Repetto e Gillis, 1988; Contreras-Hermosilla e
Rios, 2002.

62
na Amazônia brasileira serve para ilustrar algumas das
limitações do sistema florestal de concessões e para
alertar contra promessas de grandes benefícios sócio-
econômicos deste sistema, sem embasamento técnico e
social suficientes. As negociações para a primeira e única
concessão brasileira, em uma área de 3.200 hectares
localizada na Floresta Nacional do Tapajós, perto de
Santarém, começaram em 1998 e foram finalizadas em
2000. Uma única empresa apresentou proposta para esta
concessão. Parte do atraso para fechar o acordo deveu-
se a negociações prolongadas, mas cruciais, com as
comunidades de agricultores e caboclos que vivem na
Floresta Nacional do Tapajós. Eles vislumbravam poucos
benefícios futuros provenientes da concessão. Algumas
destas comunidades decidiram abandonar a floresta
nacional por meio de uma redefinição de limites
geográficos. E já estão colhendo os frutos de suas
negociações na forma de projetos que as ajudam a
comercializar produtos florestais não-madeireiros, como
a andiroba.
A adoção de um sistema de concessões florestais
no Brasil deve ser vista como um projeto-piloto
importante no âmbito da governança da indústria
madeireira na Amazônia. A ampliação da área de
concessões florestais em 9.000 vezes – de 3.200 hectares
para 28 milhões de hectares - sem que se tenha clareza
de como funcionará o sistema, é pouco aconselhável.
Isto não significa, porém, que o governo não deva avançar
na expansão do sistema nacional de florestas.
As florestas públicas podem ser a maneira mais
eficaz de expandir a rede de unidades de conservação
da região, mesmo que elas nunca sejam transferidas à
indústria madeireira através de concessões. As florestas

63
públicas podem ser utilizadas para restringir o avanço
das fronteiras agrícolas e madeireiras em áreas de
florestas intocadas que, atualmente, estão sob ameaça
iminente, graças à ação de madeireiros e especuladores
de terra ao longo de uma malha rodoviária em plena
expansão. Este é o caso, por exemplo, da região de Terra
do Meio, localizada ao sul da Rodovia Transamazônica.
Em alguns casos, as florestas nacionais são mais
aceitáveis do que as reservas biológicas para os governos
locais da Amazônia, que estão mais preocupados com a
geração de empregos e renda do que com a conservação
de florestas. Ao contrário das reservas biológicas, as
florestas nacionais permitem que sejam desenvolvidas
atividades econômicas dentro de seu perímetro.

INICIATIVAS PRIVADAS

Certificação florestal

A certificação florestal tem sido vista como um


mecanismo para traduzir as demandas de consumidores
preocupados com questões sociais e ambientais e
interessados em estimular a indústria a adotar sistemas
de produção sustentáveis. No entanto, o número de
empresas madeireiras extraindo e processando madeira
certificada têm crescido a passos lentos, totalizando,
atualmente, somente oito, entre as quase duas mil que
operam na Amazônia. As razões para o ritmo lento de
crescimento não são totalmente claras, mas certamente
incluem o alto custo da certificação e o baixo ágio pago
pelos consumidores pela madeira certificada. Este
segundo fator é potencializado pela grande quantidade
de madeira ilegal que entra no mercado brasileiro,

64
puxando os preços para baixo. Os produtores certificados,
que encontram dificuldades para competir com a
indústria madeireira amazônica, em grande parte ilegal,
poderiam prosperar se a extração ilegal de madeira fosse
controlada (Quadro 3)

Quadro 3. A certificação florestal


Além desses fatores que restringem a adoção da

Como a preferência do consumidor de madeira por um pro-


duto que foi produzido com maiores beneficios sociais e econômi-
cos e menores danos ecológicos pode influenciar a industria ma-
deireira amazônica? A “Certificação Florestal”, surgida em 1993,
tem representado um instrumento de mercado na tentativa de
disciplinar a exploração de madeira nas florestas do mundo intei-
ro (Baharuddin & Simula, 1994). A idéia fundamental da certificação
é recompensar empresas, produtos ou processos produtivos que
seguirem alguns padrões determinados mundialmente. Em troca
do investimento rumo a estes padrões, as madeireiras podem ser
recompensadas com a conquista de mercados do primeiro mundo.
Esta conquista está baseada na demanda existente de consumi-
dores, especialmente do hemisfério norte, por madeira que não
contribua para a desigualdade social e para a destruição das flo-
restas naturais (Baharuddin & Simula,1994). De fato, constantes
auditorias, feitas por certificadoras independentes, têm garanti-
do a contemplação de anseios destes consumidores. Todavia, ape-
sar de promissor, o modelo da certificação na Amazônia está em
sua fase inicial (8 madeireiras certificadas após 2000) e tem se
demonstrado, em parte, excludente para os pequenos produtores
e comunitários, via de regra, incapacitados financeiramente e não
organizados em uma estrutura empresarial.

certificação, um ponto que tem sido pouco levantado no


contexto tropical é o fato de que a certificação florestal
tem seus programas voltados aos dois extremos da
atividade madeireira: as empresas de grande porte e as
comunidades tradicionais. Embora estes sejam atores
sociais importantes na cadeia produtiva da madeira, esse
estudo mostra que um grupo numericamente relevante

65
e marginalmente representado são os atores que estão
controlando o acesso dos madeireiros à floresta: a
população rural carente da Amazônia.
A redução dos danos ecológicos causados pela
indústria madeireira e a inclusão de grupos rurais
marginalizados nos benefícios desta exploração são os
critérios principais para medir a eficácia da certificação
florestal na Amazônia. Apesar dessas metas serem
desafiadoras, a certificação das “florestas familiares”
permitirá que esses objetivos sejam, de fato, alcançados
(Quadro 1 e 3).
Há oportunidades de sinergismos entre
certificação florestal e florestas familiares. A certificação
florestal, além de assegurar mercados alternativos para
produção familiar, também pode atuar como um incentivo
para conservação das florestas por parte dos populações
rurais carentes. A adoção da certificação florestal pelas
populações rurais carentes, por sua vez, aumentaria a
eficácia da certificação florestal na Amazônia,
potencialmente aumentando a abrangência da
certificação na região.
A operacionalização da certificação em áreas de
populações rurais carentes encontra alguns desafios, como
por exemplo, a redução do custo da certificação florestal.
Uma forma de baratear o custo da certificação para esses
atores, que já vem sendo utilizada em outras partes do
mundo, é a certificação florestal em grupo. Esse tipo de
certificação permitiria o agrupamento das áreas de
floresta das populações rurais carentes sob a
responsabilidade de uma única organização (associação,
cooperativa ou prestadora de serviço). Nesse sistema, a
avaliação das práticas do manejo é feita por amostragem.
Se a amostragem indicar que as práticas de manejo

66
estão de acordo com os princípios e critérios da
certificadora, todas as áreas sob a responsabilidade
desta organização podem comercializar produtos
certificados.

COMPRA DOS DIREITOS DE DESENVOLVIMENTO

A Conservation International (CI) tem liderado a


aquisição de direitos de exploração como uma maneira
de conservar áreas que, de outra maneira, seriam
exploradas 51 . No primeiro exemplo desta estratégia,
direitos de extração de madeira foram adquiridos de
empresas madeireiras na Guiana por investidores
interessados em projetos com alto impacto de
conservação. A aquisição permitiu que a CI reservasse
esta floresta para conservação da biodiversidade através
de pagamentos anuais para os concessionários. Esta
abordagem pode desempenhar um importante papel na
conservação de florestas que são particularmente
valiosas, devido às espécies de plantas e animais que
abrigam.
No Brasil, no entanto, áreas com alto valor de
conservação já foram excluídas das possíveis áreas de
concessão52 . Também ainda não está claro se a compra
dos direitos de exploração com vistas à preservação pode
reduzir a área total de floresta que é afetada pela
exploração. Ou seja, a exclusão da exploração florestal
em uma área facilita a exploração em outra. Desta forma,
a compra em larga escala de direitos de exploração pode
tornar escassas as áreas de floresta para exploração

51
Gullison et al., 2001.
52
Veríssimo et al., 2002a, b.

67
em uma determinada região, aumentando o preço da
madeira e, conseqüentemente, induzindo a exploração
florestal em outra região, principalmente em áreas
anteriormente inacessíveis 53 .
Além disso, o custo deste tipo de abordagem não
termina com a compra dos direitos de desenvolvimento,
pois a proteção da terra contra invasão ou fogo é
especialmente cara na fronteira amazônica54 . À medida
que a exploração de madeira das florestas da Guiana
tornar-se economicamente viável, novos investimentos
serão necessários para proteger a floresta de invasores
e madeireiros ilegais. A compra dos direitos de
exploração pode ser vista, porém, como uma experiência
piloto importante para a governança da indústria
madeireira na Amazônia.
Este e outros tipos de abordagem são experiências
importantes, cujo sucesso, assim como o da nova política
florestal brasileira, depende de uma implementação
efetiva das regulamentações florestais em toda a
Amazônia. Todas as abordagens para conservação de
recursos naturais baseadas em noções de mercado
dependem de uma base reguladora que funcione na
prática, através da qual a posse e o controle da terra
sejam reconhecidos e defendidos. Elas também
dependem da implementação e fiscalização da legislação
ambiental, e que os investidores preocupados com
questões sociais e ambientais estejam confiantes de que
seus investimentos não serão prejudicados por atividades
ilegais.

53
Sohngen et al, 1999
54
Schneider, 1994

68
PARTE III
FLORESTAS FAMILIARES:
A experiência da MAFLOPS
E xperiências recentes demonstram a
possibilidade real de transformar a relação entre
madeireiros e pequenos produtores rurais em uma troca
eqüitativa. No modelo de produção madeireira em
propriedades de pequenos produtores, aqui definida como
“florestas familiares”, a empresa madeireira investe na
regularização fundiária, infra-estrutura e no
planejamento do manejo florestal na propriedade do
agricultor e na comunidade agrícola.
O exemplo de um pequeno empresário do setor
florestal que opera próximo à cidade de Santarém é
ilustrativo. Ele pôs em prática um sistema de florestas
familiares que é replicável e que favorece a troca justa
com pequenos produtores. Este empresário criou a
empresa Manejo Florestal e Prestação de Serviço –
MAFLOPS. O modelo desenvolvido pela MAFLOPS
proporciona às famílias assentadas a obtenção do título
da terra, uma rede de estradas, planos de manejo
florestal para cada propriedade e uma média de U$
1.50055 pela venda de parte de sua madeira à empresa.
Até agora, seis comunidades, envolvendo 360 famílias e
com uma área total de floresta de 32.000 hectares,
entraram em acordo com a MAFLOPS e durante o

55
A taxa de câmbio em setembro de 2002 era de U$1/R$3.2, considerada
artificialmente alta. Os valores em dólar aqui apresentados, portanto,
estão subestimados.

71
processo obtiveram planos de manejo florestal aprovados
pelo governo.
Durante o primeiro dos quatro anos do contrato, a
MAFLOPS determina os limites legais de cada
propriedade e prepara o Memorial Descritivo. Trata-se
de um documento que descreve o perímetro da
propriedade, as áreas de preservação permanente
(incluindo as margens dos igarapés e as áreas com
declividade, como estipulado pelo Código Florestal) e as
áreas destinadas ao desmatamento. Este documento é
registrado no Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA) e dentro de 30 dias o assentado
recebe um certificado de posse legal de sua terra.
O INCRA acelera a emissão de títulos para
agricultores que estejam trabalhando com a MAFLOPS
em virtude de um acordo maior, pelo qual a empresa
constrói estradas para a comunidade, como exige a lei.
Durante vários encontros com cada associação de
comunitários, a MAFLOPS discute a disposição das
propriedades de maneira que cada família tenha acesso
à água e às estradas.
A legalização da propriedade é chave para que a
atividade madeireira financie o desenvolvimento da rede
de estradas dos assentamentos. Uma vez que os
assentados obtêm o certificado de posse da terra, eles
podem requerer permissão para cortar a madeira da área
que irão desmatar para plantar no ano seguinte. A
MAFLOPS faz os pedidos em nome dos assentados,
compra, extrai e vende a madeira, e usa os recursos
levantados para cobrir os custos de construção das
estradas. A empresa paga ainda aos assentados pela
madeira que está localizada à frente de seus lotes, no
local por onde as estradas irão passar, muito embora
esta madeira não pertença àquele lote.

72
A construção de estradas em assentamentos
agrícolas é uma responsabilidade do governo federal.
Em assentamentos novos, o INCRA é obrigado a fornecer,
no caso das estradas de acesso ao assentamento,
U$ 4.000 por quilômetro. Em se tratando de estradas
menores, que ligam propriedades dentro do
assentamento, o valor é de U$ 950 por quilômetro. Tais
recursos, porém, raramente estão disponíveis no
momento em que as estradas devem ser construídas. A
empresa madeireira ressalta, no entanto, que caso este
dinheiro fosse liberado, ela poderia usar os custos de
abertura de 5 km de estradas para colocar cascalho em
50 km, aumentando assim sua durabilidade.
Durante o primeiro ano do contrato, também é
realizado um inventário florestal de 100% de cada lote.
O objetivo é identificar a posição, tamanho, condição e
valor de mercado de todas as espécies de árvore com
diâmetro de pelo menos 35 cm. Tal inventário indica
quais os tratamentos a serem feitos antes do corte e a
melhor estratégia de exploração. O inventário é
apresentado a cada família assentada como parte de
seu plano de manejo florestal. Não há troca de dinheiro
entre assentados e a MAFLOPS no primeiro ano de
contrato, a não ser o pagamento por árvores das
estradas, nos pontos em que elas se encontram na frente
de lotes individuais.
Nos anos subseqüentes, a MAFLOPS extrai a
madeira de acordo com os planos de manejo florestal
individuais, pagando U$ 3,10 por metro cúbico de madeira
retirada da propriedade. Um total de 45 espécies
madeireiras é explorado a uma intensidade de 13m3 por
hectare. Esta intensidade é baixa porque árvores ocas e
aquelas que são necessárias para produzir sementes

73
não são derrubadas. Cada família recebe entre U$600 e
U$3.500 (dependendo do volume de madeira no lote)
pela venda de sua madeira durante este período e conta
ainda com madeira remanescente que pode ser vendida
no futuro.
A renda obtida com a venda da madeira proporciona
capital para que pequenos produtores estabeleçam
sistemas agrícolas mais produtivos e lucrativos do que a
agricultura de corte e queima, possibilitando a
intensifação da produção agrícola em uma área menor
do que a usualmente utilizada em cada lote. A MAFLOPS
recomenda aos agricultores, por exemplo, que
diversifiquem sua produção agrícola e invista pelo menos
parte do recursos na redução de fatores limitantes ao
desenvolvvimento da produção agrícola. A MAFLOPS
também tem encorajado as comunidades a comercializar
produtos florestais não-madeireiros. Uma das
comunidades decidiu vender óleo de andiroba, obtendo
um ganho anual de U$60 por árvore. Há agricultores
que tem investido também em café e cacau. Algumas
comunidades pediram à MAFLOPS que construa casas
e prédios de boa qualidade, usando recursos fornecidos
pelo INCRA (U$ 700 por família) (Figura 8).
Vários desafios ainda precisam ser enfrentados
no âmbito dos acordos da MAFLOPS. Por exemplo, o risco
de que famílias de agricultores transformem suas
florestas em pastagens continua sendo alto nas
comunidades parceiras da MAFLOPS, apesar da grande
conscientização que estas famílias têm sobre o valor
comercial de suas florestas. Após o primeiro corte de
madeira, o fluxo de renda fornecido pela floresta às
famílias de agricultores diminui com o decréscimo da
oferta de árvores de valor comercial, extraídas em cortes

74
Figura 8. Casas construída pela MAFLOPS na foto de cima e casas construído
por outras prestadora de serviços na foto de baixo. Na construção da
MAFLOPS, a casa é toda de tijolos com telhas de barro. Na construção das
outras prestadoras de serviço, o alicerce da casa é de tijolos, em cima
disso, eles utilizam madeira de baixa qualidade e telhas de amianto para
cobertura.

subseqüentes. Quando novas espécies chegam aos


mercados locais, a venda de árvores pode continuar em
um nível baixo (Figura 9).

75
Figura 9. Familias da Comunidade Anta reunidas para discutir a negocia-
ção da madeira e construção das estradas.

No entanto, pode levar de 20 a 40 anos para que a


floresta cresça o suficiente para proporcionar um
segundo ciclo de exploração, período que está bem além
do horizonte de planejamento econômico da maioria dos
pequenos produtores da Amazônia. Ainda assim,
investimentos em manejo florestal de longo prazo como
este talvez sejam mais aceitáveis pelos pequenos
produtores do que pelas companhias madeireiras, uma
vez que os pequenos produtores têm custo de
oportunidade menor. A melhor alternativa a tal
investimento para os produtores rurais não é tão
atraente como investimentos alternativos para as
empresas. 56
56
Putz, 2000.

76
É provável que os produtores rurais se mostrem
mais dispostos a conservar suas florestas após esta
experiência, respeitando a exigência do Código Florestal
de que 80% de cada propriedade sejam mantidos como
floresta. As famílias também ganham experiência na
comercialização de sua madeira, o que as ajuda em sua
defesa contra a exploração por empresas madeireiras
no futuro. A MAFLOPS emprega membros de cada
comunidade para trabalhar no inventário florestal e na
extração da madeira, e esta especialização regional pode
aumentar as chances de que a comunidade conserve e
maneje seus recursos florestais. Existe ainda a
alternativa de introdução de sistemas de manejo e
extração de produtos não-madeireiros após o primeiro
ciclo de corte.

77
PARTE IV
RECONHECENDO O PAPEL DAS POPULAÇÕES
RURAIS CARENTES NO SETOR FLORESTAL
SINERGIAS ENTRE POPULAÇÕES RURAIS
CARENTES E EMPRESAS MADEIREIRAS

Em toda a Amazônia as populações rurais carentes


e empresas madeireiras vêm fechando acordos em
virtude dos benefícios mútuos associados à extração de
madeira. O cenário para esta iniciativa são as florestas
localizadas em áreas de projetos de assentamento
agrícola do governo federal. O potencial para que tais
acordos determinem a forma como essa florstas vão ser
utilizadas é muito grande. Desde 1995, 210 mil famílias
foram assentadas pelo governo federal em 190 mil km2
de terras (Figura 10)57 . Em um projeto de assentamento
típico, cada família recebe 100 hectares de terra em
lotes de 400 x 2500 m, os quais são ordenados ao longo
de estradas secundárias.Cada família pode usar até 20%
de seu lote para agricultura e pastagem (de acordo com
o Código Florestal brasileiro e sua regulamentação por
Medida Provisória), podendo vender a madeira da área
que será desmatada. Nos 80% restantes (reserva legal)
não são permitidos o corte raso, mas pode haver
exploração de madeira caso exista um plano de manejo
aprovado pelo IBAMA (Figura 11)

57
INCRA, 2001. Veja também BOX com infomações complementares.

81
Figura 10. Imagem de satélite mostrando as estradas principais, secundá-
rias e o padrão de exploração florestal dos pequenos produtores rurais.

60000
Famílias assentadas na Amazônia
50000
Número de famílias

40000

30000

20000

10000

1980 1985 1990 1995 2000


Ano
Figura 11. Número de pessoas assentadas pelo governo federal desde 1995

82
Os projetos de assentamento agrícola proporcionam
três grandes benefícios para a indústria madeireira.
Primeiro, eles fornecem madeira a um preço muito
atraente ao madeireiro. Segundo, o custo de transporte
é reduzido devido à existência de uma rede de estradas
do próprio assentamento. Terceiro, os assentados podem
legalizar a retirada de madeira de suas terras,
licenciando suas operações de desmatamento e
legalizando, conseqüentemente,o sistema de produção
da serraria. Os assentados, por sua vez, podem receber
benefícios da indústria madeireira através da obtenção
de um plano de manejo florestal, venda da madeira
retirada de suas terras, da melhoria em sua malha
rodoviária e do transporte fornecido pelos veículos das
madeireiras (Figura 12)

Figura 12. Mapa de localização e delineamento da propriedade individual


do pequeno produtor

83
O fluxo destes benefícios atualmente, porém, está
sendo direcionado para a indústria madeireira. As
populações rurais carentes têm pouca experiência ou
poder para negociar acordos justos com as empresas,
não recebem da indústria uma remuneração adequada
pela venda da madeira - os preços pagos são até 10 vezes
menores que os do mercado 58 -, ou sofrem calotes no
pagamento59 . Além disso, eles não têm controle sobre o
volume explorado e não conseguem influenciar as
técnicas utilizadas para derrubada e extração
(Figura 13).

Figura 13. Exemplo típico de danos causados às estradas das comundiades


durante a estação chuvosa que inviabilizam o escoamento da produção
agricola das comundiades no período de safra

58
Mattos et al., 1992.
59
Marina Campos, comunicação pessoal baseada em entrevistas ao longo
da Transamazônica.

84
O melhoramento das estradas feito pela empresa
madeireira e o transporte (carona) fornecido pelos
caminhões de madeira são benefícios efêmeros, uma
vez que sua duração é determinada pelo período da
extração. A manutenção das estradas por governos locais,
a um custo anual estimado de U$ 1.400 por quilômetro,
raramente é feita. Os municípios de Trairão e Novo
Progresso, por exemplo, têm, respectivamente, 500 e 700
km de estradas secundárias, cuja manutenção custaria
o equivalente a 60 e 70% de seus respectivos orçamentos
anuais municipais.
Após a extração da madeira, as florestas destes
pequenos produtores tornam-se mais vulneráveis a
incêndios e acabam queimando quando o fogo, iniciado
para limpar uma área para agricultura, escapa para a
mata. Incêndios acidentais danificam a floresta e
reduzem o potencial de caça e coleta de produtos não-
madeireiros, como cipós, plantas medicinais, óleos,
frutas, castanhas e resinas 60 . Em suma, os benefícios
que fluem da indústria para os pequenos produtores
rurais devem ser contrapostos aos danos desnecessários
causados à floresta (da qual os agricultores dependem),
ao baixo preço do corte da madeira pago a estes pequenos
produtores, e à curta duração dos benefícios de
transporte advindos da atividade madeireira.

60
Nepstad et al., 1999b.

85
Sinergias entre populações rurais carentes,
terceiros e governos

Essa publicação destaca alguns pontos importantes


no entendimento do potencial impacto das sinergias no
setor florestal. Primeiro, a presença incipiente das
instituições governamentais em regiões de fronteira.
Segundo,a participação ativa das populações rurais que
controlam os recursos florestais no abastecimento da
indústria madeireira. Por fim,uma ampla diversidade
de terceiros estão envolvidos na negociação e exploração
florestal nas áreas das populações rurais carentes.
Os pontos acima mostram que as agências do
governo tem pouca capacidade instalada para, de fato,
assegurar a governança da indústria madeireira. Ao
mesmo tempo, essa situação indica que o governo
poderia aproveitar a estrutura das relações existente
para delegar as responsabilidades que tem dificuldade
em executar por deficiências técnica ou financeira. Por
exemplo,a extensão florestal é uma atividade essencial
para o desenvolvimento do setor florestal, no entanto, é
praticamente inexistente na Amazônia. Assim, o governo
poderia facilitar a extensão florestal através do
treinamento dos atores que negociam a venda da madeira
e a exploração florestal e das populações rurais carentes.
Como foi apresentada anteriormente, a
fiscalização “privada” através de denúncias tem se
mostrado uma ferramenta importante na
regulamentação ambiental. As organizações não-
governamentais e os grupos da sociedade civil são fontes
valiosas de informação sobre as atividades ilegais de
criminosos ambientais e de agentes fiscalizadores do

86
governo 61 . Na Amazônia não é diferente. Organizações
das populações rurais carentes freqüentemente
denunciam atividades madeireiras ilegais ao IBAMA, mas
os madeireiros se vingam com ameaças de morte e
assassinatos.
Ao longo da Rodovia Santarém-Cuiabá, por
exemplo, houve pelo menos três ameaças de morte às
lideranças locais dos movimentos sociais porque
denunciaram atividades ilegais de madeireiros em 2001.
Um destes líderes foi encontrado morto, em julho de
2002. Mesmo a iniciativa da MAFLOPS, descrita neste
trabalho, tem sofrido ameaças pelo simples fato de que
sua atividade legalizada e transparente chamou a
atenção de fiscais, que passaram a reconhecer as
atividades ilegais na região. Ainda, e mais importante,
esta iniciativa está concorrendo para exploração dos
estoques de madeira dos assentamentos de uma
maneira bem sucedida através dos acordos de “florestas
familiares”.
As intervenções do governo podem aumentar a
eficácia da “fiscalização privada”. Primeiro, as populações
rurais carentes precisam obter benefícios maiores da
indústria madeireira. Em outras palavras, à medida que
estas populações economicamente marginalizadas, que
ocupam pelo menos 30% da Amazônia rural, começarem
a ver suas florestas como fonte de benefícios
permanente, as atividades ilegais que ameaçam estes
benefícios – tanto em suas terras quanto em outras áreas
florestais – passarão a ser menos aceitas. Maiores
benefícios fluirão da indústria madeireira para estas
populações rurais carentes somente quando as

61
Cohen, 2000; Tietenberg, 1996.

87
denúncias populares e averiguação dessas denúncias
através da fiscalização aumentarem conjuntamente.
O lado positivo de aumentar a dependência do
estado em terceiros para executar atividades públicas é
que o governo ganha aliados importantes no uso
sustentável dos recursos florestais. Contudo, perde a
habilidade de controlar as operações dos seus próprios
programas. Nesse caso, as preocupações tradicionais da
administração pública – recursos humanos, orçamentos,
estrutura organizacional e dinâmica institucional –
tornam-se menos importante para o sucesso do
programa. Assim, as relações externas das instituições
públicas com os subcontratados – associações
comunitárias, sindicatos rurais, madeireiros,
organizações não governamentais, universidades, e
outros – ganham importância especial no desenvolvi-
mento de um programa governamental.
Ao contrário das privatizações, na qual o setor
privado assume os objetivos do setor público, os atores
subcontratados são incorporados nos programas
governamentais para realizar atividades específicas. No
entanto, os objetivos, estilo operacional, habilidades,
incentivos, e prioridades dos subcontratados são
divergentes. Como conseqüência, a tarefa de
“orquestrar” esses diferentes interesses e ações torna-
se um grande desafio administrativo.
A fiscalização privada também requer um serviço
eficiente de apoio direto aos informantes. Ameaças de
morte precisam ser respondidas rapidamente com
proteção policial e investigações. As informações sobre
extração ilegal de madeira precisam ser investigadas
rapidamente por agentes vindos de fora da área de
denúncia, como forma de diminuir as chances de que

88
agentes locais estejam envolvidos no ciclo ilegal da
extração de madeira. Em suma, denunciar criminosos
ambientais deveria ser simples e seguro.

Desenvolvimento Rural Integrado e


a Governança da Indústria Madeireira

A atividade madeireira e as populações rurais


carentes da Amazônia compartilham o mesmo espaço
geográfico, infraestrutura e dependência sobre a floresta.
Essa interdependência entre populações rurais carentes
e empresários do setor madeireiro em recursos florestais
exige políticas integradas que garantam que a
governança da atividade madeireira contribua para o
desenvolvimento regional com justiça sócio-ambiental
na região amazônica. Nessa perspectiva, a eficácia de
uma política que vise a governança da indústria
madeireira esquecendo-se das populações rurais
carentes ou uma política de desenvolvimento rural que
não reconheça o papel da indústria madeireira e das
florestas na região estarão fadadas ao fracasso.
O objetivo comum a ser alcançado pela indústria
madeirera e a população rural carente da Amazônia deve
ser o manejo sustentável de suas florestas. Através do
manejo florestal as empresas madeireiras podem ter
uma fonte continua de matéria-prima e a população rural
carente uma fonte de renda por tempo indeterminado.
No entanto, devido a interesses imediatistas e ausência
governamental, essas florestas estão sendo degradadas
e as populações carentes empobrecidas. Todavia, na
melhor das circunstâncias, o manejo florestal familiar
não vai garantir a viabilidade da produção familiar. A
viabilidade da produção familiar rural depende de

89
esforços próprios das populações rurais carentes através
de suas organizações e da implementação e integração
de várias políticas públicas.
Existem várias políticas públicas sendo
desenhadas que apoiam e controlam a atvidade
madeireira e a agricultura familiar e que, portanto,
merecem destaque nesse relatório. Por exemplo, o
Programa de Desenvolvimento Sócio-Ambiental da
Produção Familiar da Amazônia (PROAMBIENTE) é a
proposta mais avançada de apoio á produção familiar
que tem grande potencial de sinergia com o modelo
florestas famialires. Da mesma forma, o Programa
Nacional de Florestas (PNF) é a principal iniciativa do
governo federal tentando de várias formas governar a
indústria madeireira na Amazônia.
O PROAMBIENTE se propõe a apoiar a implantação
e o desenvolvimento de sistemas de produção
sustentáveis compostos de atividades agropecuárias,
agroflorestais, extrativistas de manejo florestal e de
pesca artesanal que sejam capazes de produzir serviços
ambientais, melhorar a qualidade de vida e dar
sustentação econômica às famílias envolvidas. O
PROAMBIENTE propõe integrar uma série de políticas
públicas (planejamento rural, crédito, assistência técnica
e extensão rural entre outras) para o segmento da
produção familiar rural que, tradicionalmente, sempre
foram implementadas de forma desarticulada e, na
maioria das vezes, desconectadas da realidade sócio-
ambiental dos produtores familiares da Amazônia. Vale
ressaltar que o PROAMBIENTE nasceu dentro dos
movimentos sociais e atualmente está sendo
transformado em uma política pública prioritária para a
Amazônia dentro do governo federal.

90
O conceito inovador do PROAMBIENTE está no
tratamento diferenciado dado aos produtores rurais que
buscam a conciliação da produção rural com a
conservação do meio ambiente. O elemento central do
PROAMBIENTE é o Programa de Serviços Ambientais
(PSA). Esse programa (PSA) irá remunerar os produtores
rurais por serviços ambientais prestados à sociedade. A
execução desse programa exigirá o planejamento
integrado do uso e conservação dos recursos naturais
na propriedade através do Plano de Utilização da
Propriedade (PUP).Esses planos têm como propósito
operacionalizar o uso sustentável dos vários recursos
existentes na propriedade rural. Ao mesmo tempo, o
PROAMBIENTE desenvolverá os Planos de
Desenvolvimento dos Pólos (PDP). Esses planos irão
62

coordenar as operações locais (PUPs) para alcançar os


objetivos sócio-ambientais na escala da paisagem.
A outra política que está sendo definida pelo
governo federal através do Ministério do Meio Ambiente
é o Programa Nacional de Florestas (PNF). A principal
relação desse programa com a Amazônia até agora tem
sido a idéia de expandir e consolidar um sistema de
concessões florestais63 . Essa é uma iniciativa importante
para controlar a atividade madeireira, mas corre risco
de reduzir a viabilidade econômica da participação de
populaçõe carentes no setor madeireiro. Por exemplo,
se a produção de madeira em florestas nacionais –
subsidiada pelo governo – aumenta substancialmente a

62
Um Pólo do PROAMBIENTE pode abranger de 250 a 500 famílias, sendo
que seu espaço territorial deve ser definido e justificado considerando
aspectos técnicos, sociais e culturais.
63
MMA 2003 – www.mma.gov.br

91
oferta de madeira, reduzindo o preco no mercado, as
iniciativas como o MAFLOPS podem se tornar inviáveis.
Desse modo, as Florestas Familiares podem
contribuir substancialmente com a viabilização do
PROAMBIENTE. Em termos práticos, os planos de manejo
florestal elaborados para as “Florestas Familiares” podem
ser uma fonte de financiamento adicional no
desenvolvimento dos Planos de Uso das Propriedades
das famílias participantes do PROAMBIENTE. Além disso,
os benefícios relacionados à regularização fundiária,
investimentos em infra-estrutura (estradas e
construções de habitações) gerados nos contratos de
comercialização da madeira das “Florestas Familiares”
podem contribuir na consolidação das ações previstas
nos Planos de Desenvolvimento dos Pólos do
PROAMBIENTE. Ao mesmo tempo, o governo federal pode
minar essa alternativa através do PNF ao promover a
exploração florestal em florestas públicas reduzindo a
depêndencia da indústria nas áreas de floresta
controlada pelos pequenos produtores rurais.
Com a perspectiva de ações integradas, podemos
perceber que as soluções para os problemas estão
surgindo, mas precisam ser fortalecidas e integradas.
Nessa conjuntura, surge uma importante pergunta:
“Qual será a perspectiva de que a experiência da
MAFLOPS seja reproduzida em larga-escala na
Amazônia?” Experimentos em outras partes do mundo
demonstram que as parcerias entre empresas e
comunidades funcionam melhor com apoio
governamental e quando as comunidades têm interesses
fortes em suas florestas64 .

64
Mayers e Vermeulen, 2002.

92
Assim, a possibilidade de expansão está
diretamente relacionada com a capacidade do governo
integrar as iniciativas setoriais existentes na Amazônia.
PROAMBIENTE e PNF servem como um exemplo
ilustrativo. Na verdade, existem vários programas que,
caso sejam integrados, podem contribuir para a
disseminação desse modelo. Vale citar o programa de
reforma agrária do Ministério de Desenvolvimento
Agrário e a nova política indigienista ainda em fase de
formulação. Se um número suficiente de comunidades
rurais e produtores de escala intermediária protegerem
e manejarem suas florestas, ao mesmo tempo em que
intensificarem a produção agrícola em uma pequena
parte de suas propriedades, o Programa Nacional de
Floresta atingirá seu objetivo de governar a indústria
madeireira, a indústria madeireira ganhará uma
importante fonte legal de madeira para o futuro, a
agricultura familiar continuará a ter uma fonte de
capital importante, e o PROAMBIENTE incluiria na sua
lista de opções o manejo florestal, que é um elemento
central em qualquer programa de desenvolvimento rural
na Amazônia.
Os 190 mil km2 de assentamentos agrícolas que
foram criados desde 1996, por exemplo, podem suprir a
indústria com o equivalente a oito anos de extração de
madeira. Existem ainda 450 mil km2 de floresta em pé
em um raio de 50 km das estradas pavimentadas da
região (parte das quais já foi explorada). A área de
floresta acessível vai dobrar à medida em que as estradas
forem pavimentadas 65 . Um dos objetivos centrais da

65
Nepstad et al., 2001.

93
política florestal (PNF) deve ser o de assegurar que a
maior parte destas florestas seja incluída em um regime
de manejo florestal sustentável, para permitir um fluxo
constante de benefícios tanto para os pequenos
proprietários como para a indústria madeireira. O
PROAMBIENTE deve assegurar que os pequenos
agricultores vão ter condições de gerir essa renda ao
intensificarem a produção rural sustentável.

94
CONCLUSÃO

O Brasil tem avançado a passos largos rumo à


governança da indústria madeireira na Amazônia. Várias
experiências estão sendo desenvolvidas e representam
componentes promissores para uma estratégia global que
defenda o interesse público na exploração dos enormes
recursos madeireiros da Amazônia. Madeireiros, mesmo
em áreas remotas, estão cientes das políticas florestais
e do risco de prisão, multas e confisco de equipamento
associados às atividades madeireiras ilegais. A
tendência recente do debate sobre a política florestal,
porém, parece estar voltada para uma direção
equivocada.
O debate sobre a politica florestal tem sido
norteado pela premissa de que a indústria madeireira
tem que ser a principal beneficiada de uma política de
desenvolvimento para Amazônia, uma vez que se entende
que ela é uma fonte importante de acumulaçao de capital
na fronteira. A estratégia adotada é a separação entre
as fronteiras agrícola e madeireira, direcionando essa
indústria para áreas de florestas inabitadas e com o
menor nível de pressão antrópica na Amazônia. Tal
estratégia deixa de lado uma oportunidade importante
de proporcionar benefícios econômicos e sociais às
populações rurais economicamente marginalizadas, uma
vez que apenas resolve os problemas do atual sistema

95
de fornecimento de matéria prima para a indústria, ao
invés de tentar substituir este sistema com a produção
em florestas nacionais.
A estratégia mais barata, acessível e com maior
benefício socioambiental é reforçar a dependência da
indústria madeireira em relação aos agricultores, povos
tradicionais e grupos indígenas que residem nas
florestas que circundam as rodovias e hidrovias das
áreas próximas aos pólos madeireiros. Esses povos
poderiam receber um fluxo permanente de renda da
indústria madeireira e oferecer, em troca, uma fonte
sustentável de madeira. Para alcançar este objetivo, no
entanto, é preciso concentrar os esforços governamentais
e não-governamentais na promoção de sinergias e
relações justas entre as populações rurais pobres e as
empresas madeireiras. Estes esforços devem ser
apoiados pela integração entre as políticas ambientais,
agrícolas e de reforma agrária. A certificação florestal,
uma vez ampliada sua abrangência, poderia reforçar as
ações do governo e da sociedade civil na busca da
governança da indústria madeireira Amazônica.

96
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