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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

CURSO ANUAL
OPÇÃO 3
Direito Econômico e Financeiro
Direito Eleitoral
Direito Internacional
Direito Previdenciário
Direitos Humanos
Medicina Legal

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Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO ADMINISTRATIVO
Licitação

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DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Licitação

Prof. Márcio Fernando Elias Rosa

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O Poder Público não tem a liberdade que possuem os particulares para contratar,
seja para atender as suas necessidades ou as da coletividade. Ao celebrar contratos o Poder
Público deve preservar o interesse público, observando dois valores distintos:

• isonomia: o administrador público deve tratar igualmente os administrados e,


em especial, os que tenham interesse em contratar;

• probidade: o Poder Público deve sempre escolher a melhor alternativa para a


garantia dos interesses públicos, seja em razão do preço ou da técnica necessária.

Extraímos, desses valores que a licitação possui duas finalidades:

a) permitir a melhor contratação possível (seleção da proposta mais vantajosa);

b) possibilitar que qualquer interessado possa validamente participar da disputa


pelas contratações.

2. CONCEITO

Licitação é o procedimento administrativo por meio do qual o Poder Público,


mediante critérios preestabelecidos, isonômicos e públicos, busca escolher a melhor
alternativa para a celebração de um ato jurídico (conceito amplo, que envolve tanto os atos
administrativos quanto os contratos).

Na realidade, vale ressaltar que independe a fixação da designação, se processo ou


procedimento, porquanto ambos são aceitos na doutrina (a Constituição Federal emprega a
expressão “processo de licitação”).

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3. OBJETO

De acordo com o artigo 1.º da Lei n. 8.666/93, constituem objeto possível para o
certame licitatório obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, locações,
concessões e permissões, quando contratadas pela Administração.

4. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR EM MATÉRIA DE LICITAÇÃO

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 22, inciso XXVII, estabelece que
compete privativamente à União legislar sobre normas gerais em matéria de licitações.

A União não possui competência privativa para legislar sobre normas específicas.
Todos os entes federativos têm competência para legislar sobre normas específicas, desde
que não extrapolem os limites das normas gerais, ou seja, a edição de leis sobre licitação
deve obedecer às normas traçadas pela União.

Assim, temos que, a competência para legislar em matéria de licitação é


concorrente.

As normas legislativas provenientes da União são de âmbito nacional ou federal


(esta aplicável somente à União), são normas que abarcam uma generalidade maior do que
a da lei comum. Disso se extrai que a norma geral traz um comando genérico, permitindo
que outra norma trate do mesmo assunto.

O legislador estabeleceu, na Carta Magna, as normas gerais de caráter essencial para


a licitação, tendo em vista a existência de entes federativos díspares. Com isso, visou
unificar a licitação em todo o país.

5. LICITAÇÃO E ATO LICITATÓRIO

No Direito brasileiro, o ato licitatório (contrato) não faz parte do procedimento da


licitação.

O vencedor da licitação pode não ser contratado, pois tem apenas uma expectativa
de direito.

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6. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DA LICITAÇÃO

O inciso XXI, do artigo 37, da Constituição Federal, consagra o dever de licitar. A


Administração direta ou indireta tem o dever de efetivar a licitação, para contratar
regularmente.

“Art. 37.(...)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras


e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à
garantia do cumprimento das obrigações.”

O artigo 173, § 1.º, inciso III, da Constituição Federal, impõe sobre o dever de
licitar para as sociedades de economia mista e empresas públicas que exploram atividades
econômicas.

O caput do artigo 175 da Constituição Federal afirma que as concessões e as


permissões de serviços públicos devem ser antecedidas de licitação.

7. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL DA LICITAÇÃO

O Decreto-Lei n. 200/67, conhecido como a Reforma Administrativa Federal, foi


baixado na época da ditadura e até hoje continua em vigor. Porém, a parte que dispunha
sobre licitação foi revogada pelo Decreto-Lei n. 2.300/86. Este, por sua vez, foi revogado
pela Lei n. 8.666/93 que disciplina as normas gerais da licitação.

O problema da lei é que ela é centrada em licitações de obras públicas e serviços de


engenharia tratando, superficialmente, de obras não públicas e serviço que não de
engenharia. Também não possui sistematização, sendo alguns assuntos tratados no início,
no meio e no fim da lei.

Pergunta: A quem se aplica essa lei (Lei n. 8.666/93)?

Resposta: O artigo 1.º da Lei n. 8.666/93 dispõe que a lei estabelece normas gerais
que se aplicam no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.

No entanto, a lei não contém apenas normas gerais e que são dirigidas a todos os
Entes da Federação e aos Três Poderes da República. Estados, Municípios e o Distrito-

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Federal devem legislar, adaptando suas normas às normas gerais previstas na Lei n.
8.666/93.

As normas gerais são as de conteúdo amplo, como as que indicam o procedimento,


as modalidades, os tipos de licitação, as hipóteses de dispensa e de inexigibilidade, as
regras contratuais, dentre outras.

As normas específicas, no entanto, são dirigidas apenas à Administração Federal.


Assim, o Estado-membro não pode legislar para ampliar as hipóteses de contratações
diretas, mas poderá legislar para restringi-las.

8. PRINCÍPIOS GERAIS DA LICITAÇÃO

O artigo 3.º da Lei n. 8.666/93 estabelece os princípios da licitação (legalidade,


impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa, vinculação
ao instrumento convocatório e julgamento objetivo) e termina sua redação observando: “...
e dos princípios que lhe são correlatos”. Verifica-se que o rol de princípios previstos nesse
dispositivo não é exaustivo.

8.1. Princípio da Legalidade, da Impessoalidade, da Publicidade e da


Moralidade
O artigo 3.º, caput, da Lei n. 8.666/93 faz referência aos princípios da legalidade,
impessoalidade, publicidade e moralidade, não relacionando o princípio da eficiência
porque, quando do surgimento da lei, em 1993, ainda não existia no caput do artigo 37 da
Constituição Federal a sua menção, que somente apareceu em 1998, com a Emenda
Constitucional n. 19. O que não implica dizer que tal princípio não deva ser observado.

8.2. Princípio da Isonomia (Igualdade Formal, ou Igualdade)


Previsto no caput do artigo 5.º da Constituição Federal.

Esse princípio não se limita ao brocardo “os iguais devem ser tratados igualmente;
os desiguais devem ser tratados desigualmente, na medida de suas desigualdades”.

O fato de se exigir licitação para a celebração de negócios com particulares não


representa simplesmente o anseio estatal de alcançar o melhor serviço ou produto com
menores ônus, mas também, na obrigação de conceder aos particulares a oportunidade de
disputar em igualdade de condições, como já ressaltado.

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Para o Professor Celso Antonio Bandeira de Mello, é errado imaginar que o


princípio da isonomia veda todas as discriminações. Discriminar (retirando seu sentido
pejorativo) é separar um grupo de pessoas para lhes atribuir tratamento diferenciado do
restante, assim assevera: “Isonomia é igualdade entre os iguais, isto é, entre os que
preencham as mesmas condições ou se encontram em situações comparáveis”.1

Pergunta: Quando a discriminação da norma é compatível com o princípio da


isonomia?

Resposta: Deve-se confrontar o fato, discriminado pela norma, com a razão jurídica
pela qual a discriminação é feita, a fim de verificar se há ou não correspondência lógica e
respeito ao princípio da isonomia.

Exemplos didáticos:

• Abertura de concurso público para o preenchimento de vagas no quadro


feminino da polícia militar. Qual é o fato discriminado pela norma? É o sexo
feminino. Qual é a razão jurídica pela qual a discriminação é feita? A razão
jurídica da discriminação é o fato de que, em determinadas circunstâncias,
algumas atividades policiais são exercidas de forma mais adequada por
mulheres. Há, portanto, correspondência lógica entre o fato discriminado e a
razão pela qual a discriminação é feita, tornando a norma compatível com o
princípio da isonomia.

• Uma licitação é aberta, exigindo de seus participantes um determinado


equipamento. Qual é o fato discriminado pela norma? É o determinado
equipamento. Qual é a razão jurídica pela qual a discriminação é feita?
Responde-se com outra indagação: o equipamento é indispensável para o
exercício do contrato? Se for, a discriminação é compatível com o princípio da
isonomia.

8.3. Princípio da Probidade


Veicula o princípio da moralidade administrativa e obriga a todos: o administrador
que necessita contratar e o particular que quer ou pretender ser contratado. Ser probo nas
licitações é escolher objetivamente a melhor alternativa para os interesses públicos, não
gerando prejuízo ou não se aproveitando da incúria do administrador. Por isso, a lei
também reprime o ajuste entre os participantes da licitação, a fraude ou devassa das
propostas etc. A probidade, como dito, obriga a todos.

1
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 14.ª ed. Malheiros Editores, 2002. p.
58.
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8.4. Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório


O instrumento convocatório é o ato administrativo que chama os interessados a
participarem da licitação; é o ato que fixa os requisitos da licitação. É nomeado, por alguns
autores, de “lei daquela licitação”, ou de “diploma legal que rege aquela licitação”.
Geralmente vem sob a forma de edital (princípio da vinculação ao edital - artigo 41 da Lei
n. 8.666/93), exceção é o convite.

O processamento de uma licitação deve estar rigorosamente de acordo com o


estabelecido no instrumento convocatório. Os participantes da licitação têm a obrigação de
respeitá-lo.

8.5. Princípio do Julgamento Objetivo da Proposta


Esse princípio afirma que as licitações não podem ser julgadas por critérios
subjetivos e discricionários. Os critérios de julgamento da licitação devem ser objetivos e
uniformes para as pessoas participantes (v. artigo 45 da Lei n. 8.666/93). Exemplo: em uma
licitação é estabelecido o critério do menor preço. A definição do que seja o menor preço
deve atender a critérios técnicos, objetivos e capazes de serem alcançados por todos os
participantes.

8.6. Princípio do Procedimento Formal


Estabelece que as formalidades prescritas para os atos que integram as licitações
devem ser rigorosamente obedecidas. Constitui direito público subjetivo a sua fiel
observância. A realização do certame segundo as regras legais não interessa apenas à
Administração ou aos participantes, mas a qualquer cidadão ou a toda coletividade.

8.7. Princípio da Adjudicação Compulsória


Esse princípio tem denominação inadequada.

Afirma que, se em uma licitação houver a adjudicação, esta deverá ser realizada em
favor do vencedor do procedimento (artigo 50 da Lei n. 8.666/93).

A impropriedade da nomenclatura encontra-se no fato de que nem sempre a licitação


leva à adjudicação, na medida em que pode o contrato não vir a ser celebrado. Afinal, o
licitante vencedor não tem direito adquirido à futura contratação, possui apenas uma
expectativa de direito em relação a ela.

Importante ressaltar que o licitante vencedor tem a obrigação de manter os termos


da proposta inicialmente formulada durante o prazo de 60 dias, contados da data de sua

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entrega. A adjudicação indica, assim, que em havendo contratação o vencedor terá direito a
celebrá-la.

8.8. Princípio do sigilo das propostas


Estabelece que as propostas de uma licitação devem ser apresentadas de modo
sigiloso, sem que se dê acesso público aos seus conteúdos. Devassar conteúdo de proposta
apresentada é crime (Lei n. 8.666/93, artigo 94) e, ainda, prática de ato de improbidade
administrativa (Lei n. 8.429/92, artigo 10, inciso VIII). O princípio está diretamente
relacionado a outro (o da probidade) e quer evitar a fraude realizada pelos participantes
com ou sem o conluio de agentes públicos.

8.9. Princípio da competição ou competitividade


Trata da impossibilidade de serem colocadas cláusulas e regras em uma licitação
com o intuito de eliminar ou reduzir o âmbito normal de competição de um procedimento
licitatório.

Quanto maior a competição melhor para a Administração Pública.

8.10. Princípio da Ampla Fiscalização da Licitação


A fiscalização é essencial para a garantia de todos os princípios expostos, e pode ser
feita não apenas pelos participantes da licitação como por qualquer cidadão ou órgão
público.

A manutenção de respeito ao procedimento formal (visto anteriormente) constitui


direito público de todos, e admite toda forma de fiscalização. Assim, qualquer pessoa que
demonstrar legítimo interesse poderá examinar os autos do procedimento administrativo
em que se realiza a licitação e, eventualmente, impugnar os atos praticados.

A fiscalização instrumentaliza, sobretudo, o controle externo da atividade


administrativa.

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DIREITO CIVIL
Contratos

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DIREITO CIVIL

Contratos

Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. CONTRATO DE COMPRA E VENDA

1.1. Conceito
Contrato de compra e venda é o contrato pelo qual o vendedor se obriga a entregar
um bem corpóreo ou incorpóreo, e o comprador compromete-se a pagar o preço em
dinheiro ou valor fiduciário correspondente (título de crédito).

O contrato de compra e venda não transfere a propriedade: trata-se de um justo


título, uma causa para que a propriedade se transmita. O artigo 481 do Código Civil
demonstra que o acordo apenas obriga as partes reciprocamente, ocorrendo a transmissão
do domínio com a tradição (para bens móveis, artigo 1.267, parágrafo único, do Código
Civil), ou registro (para imóveis, artigo 1.246 do Código Civil).

1.2. Características do Contrato de Compra e Venda


• Bilateral: gera obrigação para ambos os contratantes;

• Oneroso: os contraentes auferem vantagem que corresponde a um sacrifício,


existindo equilíbrio econômico;

• Consensual: a manifestação de vontade torna perfeito o contrato (artigo 482 do


Código Civil);

• Informal: não exige forma predeterminada, salvo se o bem for imóvel;

• Comutativo e aleatório: em princípio é comutativo – pode-se antever as


obrigações das partes; no entanto, será aleatório na incidência dos artigos 458 a
461 do Código Civil.

Contrato aleatório, como o próprio nome explica, é aquele que possui uma álea
(risco, sorte) que torna impossível a previsão da prestação de uma ou das duas partes.

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Há dois tipos de álea no contrato de compra e venda:

a) Álea de coisa futura

É aquela em que o risco recai sobre um objeto que não existe no plano real, no
momento da manifestação de vontade. Existem duas hipóteses de coisa futura:

• Artigo 458 do Código Civil – emptio spei (esperança de venda): o objeto é


imaterial, existindo mera probabilidade de sua existência. No momento do
cumprimento da obrigação (por exemplo, lançar a rede para pegar os peixes), o
comprador obriga-se a pagar pelo lanço, ainda que nada advenha.

• Artigo 459 do Código Civil – emptio rei speratae (esperança sobre a coisa
vendida): compra-se um objeto futuro indeterminado em sua quantidade (diz a
lei) e qualidade (acrescenta a doutrina). Tomando o exemplo anterior, o
comprador obriga-se a pagar pelo peixe, não pelo lanço da rede, o que traz maior
segurança para o comprador.

Obsesrvação: o artigo 1.119 do Código Civil contém um erro gráfico em seu


parágrafo único – não é adquirente, é alienante. O erro foi corrigido na atual redação do
parágrafo único do artigo 459.

b) Álea de coisa exposta a risco

O objeto é certo e determinado; porém nem o comprador nem o vendedor conhecem


sua qualidade no momento do cumprimento da prestação.

Dispõe o artigo 460 do Código Civil que, se o risco for assumido pelo adquirente, o
alienante terá direito ao preço, ainda que a coisa não exista, no todo ou em parte, no
instante do cumprimento do contrato – por exemplo, envio de mercadoria por meio de
transporte de segurança duvidosa.

1.3. Elementos do Contrato de Compra e Venda

1.3.1. Objeto

a) Existência

A existência deve ser real ou potencial.

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b) Comerciabilidade

O objeto deve estar no comércio. Estará fora do comércio se a lei, a ordem natural
ou a vontade das partes (cláusula de inalienabilidade – artigo 1.911 do Código Civil) assim
estipular. Não se pode colocar cláusula de inalienabilidade em negócio oneroso; somente
em doação ou testamento.

c) Exeqüibilidade

O objeto deve ser possível de ser levado à hasta pública e possuir liquidez; para isso
deve-se conhecer o gênero e a quantidade.

d) Transferibilidade

Poder que o vendedor tem sobre a coisa para transmiti-la ao comprador. Exceção:
transferibilidade retroativa – ocorre quando o alienante transfere a propriedade de um bem
que adquirirá posteriormente. Exemplo: A empresta uma caneta para B, que a vende para C
(alienação de coisa alheia, não permitida pelo nosso Direito); acontece que, em ato
seguinte, A vende a caneta a B – deu-se, então, a superveniência do domínio que torna
perfeita a alienação de B para C.

1.3.2. Preço

a) Pecuniariedade

O bem deve permitir sua conversão imediata em dinheiro.

b) Seriedade

Seriedade é a equivalência do preço com o objeto.

c) Certeza

É a determinação do preço no momento da manifestação de vontade das partes.


Exceções:

• quando houver fator de indexação (preço estabelecido em bolsa ou mercado de


balcão);
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• quando as partes nomearem árbitro, mandatário, para fixar o preço. Esse


mandato é irrevogável.

1.3.3. Consentimento
O consentimento é uma limitação subjetiva ao poder de contratar e requer
capacidade das partes.

Um cônjuge não pode alienar bem imóvel ao outro cônjuge (fere o regime de bens).
Dissolvido o casamento, não há qualquer impossibilidade. Ainda: um cônjuge somente
poderá alienar um bem imóvel com expressa autorização do outro.

O ascendente, para alienar um bem a um descendente, precisa da expressa anuência


dos demais descendentes, sob pena da anulabilidade da compra e venda. Para doação não
há necessidade de anuência.

Ocorrendo a venda, o bem não é chamado à colação, visto ter havido pagamento em
troca do bem.

• Doação aos descendentes: há presunção de que recai sobre a legítima;

• Doação a terceiros: sai da parte disponível.

1.4. Efeitos da Compra e Venda


O vendedor deverá fazer a entrega da coisa e o comprador pagar o preço.

Se houver ausência de determinação no contrato, o comprador deve pagar primeiro,


seguindo-se a entrega do objeto pelo vendedor (artigo 491 do Código Civil).

No caso de perecimento do bem, quem perde é o vendedor (res perit domino – a


coisa perece para o dono), se ainda não ocorreu a tradição da coisa móvel ou o registro do
imóvel.

1.5. Compra e Venda de Imóveis

a) Ad corpus

É aquela em que o comprador adquire um bem certo e determinado,


independentemente da metragem desse objeto, como, por exemplo, compra do imóvel X,
seja qual for sua medida.

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b) Ad mensuram

A metragem é fator essencial do negócio; o preço é avaliado com base na extensão


do imóvel.

O nosso sistema autorizou as duas hipóteses: quando houver dúvida, o juiz deve
considerar a venda como um todo, ad corpus, sendo a referência dimensional apenas
enunciativa, conforme dispõe o § 1.º do artigo 500, do Código Civil.

O Código de Defesa do Consumidor proíbe a compra e venda ad corpus, pois a


publicidade e as informações as sempre essenciais.

O Código Civil, no artigo 501, estabeleceu que o prazo para propor ação redibitória
ou ação "quanti minoris" ou mesmo a "actio ex empto" (complemento da área) é de um (1)
ano decaindo a contar do registro do título. Lembre que o prazo anterior era de 20 (vinte)
anos.

1.6. Cláusulas Especiais da Compra e Venda


Cláusulas especiais da compra e venda são preceitos que implicam uma
variabilidade no contrato de compra e venda, dando poder de disposição às partes
contratantes. As cláusulas podem ser adjetas ou adjetivas.

1.6.1. Retrovenda
Cláusula acessória, acidental ou adjeta é a que vem unida ou jungida à principal,
estando subordinada a ela. A retrovenda ou pactum de retrovendum é a cláusula adjeta à
compra e venda, pela qual o vendedor se reserva o direito de reaver, em certo prazo, o
imóvel alienado, restituindo ao comprador o preço, mais as despesas por ele realizadas,
inclusive as empregadas em melhoramentos do imóvel (artigos 505 e seguintes. do Código
Civil).

Exemplo: Fulano, em dificuldade financeira transitória para arranjar capital, vende


seu imóvel a Sicrano, sob a condição de recobrá-lo no prazo pactuado ou legal, mediante
restituição do preço e demais despesas feita pelo comprador.

O pacto de retrovenda só é admissível se o objeto for bem imóvel e torna a


propriedade resolúvel, já que tem o condão de restituir as partes ao status quo ante. O
imóvel vendido retorna ao patrimônio do alienante que restituir ao adquirente o preço e
todas as demais despesas, inclusive as de escritura, impostos de transmissão de bens
imóveis, emolumentos de registro e melhoramentos.

O vendedor conserva ação contra terceiros adquirentes do imóvel em que se


estipulou a retrovenda, ainda que esses desconheçam a cláusula de retrato (artigo 507 do
Código Civil); isso ocorre porque o comprador tem propriedade resolúvel do imóvel
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(artigo 1.359 do Código Civil). É o próprio exercício do direito de seqüela do vendedor


que, pelo princípio da aderência, buscará o bem onde quer que se encontre. Resolve-se a
propriedade mesmo que o pacto de retrovenda não tenha sido averbado no Registro
Imobiliário.

Dispõe o artigo 505 do Código Civil que o prazo para o retrato não pode exceder
três anos, reputando-se não-escrito o excesso convencionado pelas partes e presumindo-se
estipulado o máximo do tempo se os contratantes silenciarem.

1.6.2. Venda a contento e sujeita a prova


A venda a contento é a cláusula que subordina o contrato à condição de ficar
desfeito o negócio se o bem não agradar o comprador. É a venda que se realiza sob a
condição de só se tornar perfeita e obrigatória se o comprador declarar que a coisa
adquirida lhe satisfaz. O comprador precisa aceitar o bem alienado.

Qualquer que seja o objeto, é possível estabelecer a cláusula que terá mais eficácia
nos contratos de gêneros que se costuma provar, medir, pesar, ou experimentar antes de
aceitos (artigo 509 do Código Civil). Exemplo: venda de roupas sob medida.

Nesses contratos estabelece-se uma condição suspensiva, não se aperfeiçoando a


avença até que o adquirente se sinta satisfeito. É possível, porém, o estabelecimento de
cláusula resolutiva, dissolvendo-se o contrato ante o desagrado do comprador. Se
estabelecida a condição suspensiva, o comprador assume a condição de comodatário
(artigo 511 do Código Civil), com o dever de restituir a coisa que lhe foi emprestada,
respondendo por perdas e danos em caso de culpa ou mora. O comprador não se
responsabiliza pelo caso fortuito.

1.6.3. Preempção
A preempção ou preferência, de acordo com Caio Mário, é o pacto adjeto à compra
e venda em que o comprador de coisa móvel ou imóvel fica com a obrigação de oferecê-la
a quem lha vendeu, para que esse use de seus direitos de prelação em igualdade de
condições, no caso de pretender vendê-la ou dá-la em pagamento (artigo 513 do Código
Civil). Tal cláusula dá ao vendedor a condição de readquirir o bem que já foi seu, caso o
comprador resolva aliená-lo.

O prazo decadencial varia conforme a natureza do objeto: tratando-se de bem


móvel, decai em três dias; se bem imóvel, em sessenta dias, contados da oferta, isto é, da
data em que o comprador notifica o vendedor (artigo 516 do Código Civil). Ressalte-se que
o prazo anterior para o bem imóvel era de 30 dias segundo o velho artigo 1.153. Após esse
prazo, o comprador poderá vender a terceiros.

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P.: É possível a prelação parcial?

R.: Segundo Caio Mário, não é possível. Porém, se a pessoa adquiriu cotas ideais de
diversos condôminos, a preferência poderá ser exercida pró-parte.

Se o comprador não notificar o vendedor da alienação, responderá por perdas e


danos (artigo 518 do Código Civil). O atual dispositivo legal acresceu que o adquirente
responde solidariamente quando procede de má-fé. Tal disposição não existia no Código
Civil de 1916. Não é possível ao ex-proprietário reaver o bem e somente será indenizado
pelas perdas e danos. O mesmo ocorre na desapropriação, caso o poder expropriante
pretender vender o imóvel expropriado e deixar de oferecê-lo ao ex-proprietário pelo
mesmo preço. O expropriado tem cinco anos para mover ação de retrocessão, pleiteando
perdas e danos – que consistem no valor do bem no instante que deveria ter sido oferecido
ao expropriado, caso o expropriante respeitasse a preferência.

1.6.4. Pacto de melhor comprador


O instituto foi revogado pelo atual Código Civil, porém era previsto no sistema
anterior e deve ser mantido apenas para um conhecimento histórico –evolutivo.

O pacto de melhor comprador ou pactum addictiones in diem era a estipulação em


que se dispunha que a venda de imóvel ficaria desfeita caso se apresente, dentro do prazo
não superior a um ano, outro comprador oferecendo preço mais vantajoso.

O prazo de um ano era decadencial, não se prorrogando nem se suspendendo.

1.6.5. Pacto comissório


O instituto acima era previsto pelo Código Civil de 1916, não tendo sido acolhido
pelo atual sistema legal, pelo simples fato do instituto da compra e venda com reserva de
domínio ser muito mais moderno e abarcar todas as situações prestigiadas pelo pacto
comissório. A manutenção do instituto também tem apenas um cunho histórico – evolutivo.
A venda com reserva de domínio, muito embora prevista pelos artigos 521 a 528 do
Código Civil, não deve ser estudada no Direito Civil, pois já que se trata de instituto
processual devendo ser analisado quando da análise modular do Código de Processo Civil.

O pacto comissório, pactum de comissium, era a cláusula inserida no contrato pela


qual os contraentes anuíam que a venda se desfizesse, caso o comprador deixasse de
cumprir suas obrigações no prazo estipulado.

A venda remanescia sob condição resolutiva; se no prazo estipulado o comprador


não pagasse o preço, poderia o vendedor desfazer o negócio ou pedir o preço.

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O vendedor podia optar, no caso de inadimplemento, em pedir o preço ou desfazer a


venda, sendo que, passados dez dias do vencimento do prazo e não existindo reclamação
do preço pelo vendedor, estaria desfeito o negócio. Desnecessária era a interpelação para a
constituição em mora.

Prescindia de pronunciamento judicial resolutório do contrato, porque esse produzia


seus efeitos automaticamente. Desfeita a venda, a coisa voltava a integrar o patrimônio do
vendedor, que repunha ao comprador as quantias que dele recebeu. Nada impedia que o
direito do vendedor fosse exercido pelos seus sucessores e contra os sucessores do
comprador.

1.6.6. Da venda sobre documento


É uma nova cláusula especial estabelecida nos artigos 529 a 532 do Código Civil. É
uma modalidade de compra e venda na qual a tradição da coisa é ficta, isto é, é substituída
pela entrega de um título que representa o objeto do contrato de compra e venda.

O comprado ao receber o documento, que corresponde ao objeto não pode se


recusar em pagar o preço. O pagamento deve ser feito na data e no local da entrega do
documento, já que a entrega do documento é a entrega do próprio objeto.

2. CONTRATO DE TROCA OU PERMUTA

2.1. Conceito
Segundo Clóvis Bevilácqua, contrato de troca ou permuta é o contrato pelo qual as
partes se obrigam dar uma coisa por outra que não seja dinheiro.

2.2. Características
É um contrato bilateral, oneroso, comutativo, consensual e informal (salvo se um
dos bens for imóvel, quando será realizado por escritura pública).

A propriedade não se transfere com o contrato, mas sim com a tradição (bem móvel)
ou registro (bem imóvel).

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DIREITO CIVIL

2.3. Objeto
São dois os bens objeto da permuta. Não haverá escambo se a obrigação de uma das
partes for a prestação de serviços. São objetos de troca todas as coisas que podem ser
alienadas, não precisando haver uma correlação precisa de valores. Exemplo: um móvel
por um imóvel.

2.4. Relação com a Compra e Venda


A troca tem a mesma natureza da compra e venda, dela diferenciando-se em
primeiro lugar porque a prestação das partes é sempre em espécie. A segunda diferença é
que, no contrato de troca, a parte tem direito de pedir de volta o que deu, caso não tenha
recebido o outro objeto. No contrato de compra e venda isso não é possível, já que a
inexecução de uma das partes gera perdas e danos. A troca encerra uma dupla venda,
enquanto a compra e venda encerra uma única venda.

O artigo 533 do Código Civil dispõe que: “Aplicam-se à troca as disposições


referentes à compra e venda, com as seguintes modificações: I – salvo disposição em
contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da
troca; II – é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem
consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante”.

O Código Civil trata nos artigos 534 a 537 do contrato estimatório, porém a matéria
refoge a alçada do Direito Civil, pois o contrato em questão é mercantil e deve ser tratado
no lugar próprio.

3. DOAÇÃO

3.1. Conceito
O artigo 538 do Código Civil define a doação como o contrato em que uma das
partes, por liberalidade, transfere bens ou vantagens do seu patrimônio para terceiro, que os
aceita.

3.2. Características
• Contratualidade: o nosso Código Civil considerou expressamente a doação
como um contrato, exigindo para sua formação a intervenção do doador e do
donatário. Dessa maneira, temos a distinção do testamento que é uma
liberalidade causa mortis, ato unilateral.

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DIREITO CIVIL

• “Animus donand”i: é a vontade do doador de fazer uma liberalidade, que


proporciona ao donatário vantagem à custa do patrimônio daquele. O ato do
doador deve ser espontâneo.

• Transferibilidade: consiste na transferência de bens ou de direito do patrimônio


do doador para o donatário. É necessário que o donatário enriqueça e o doador
empobreça.

• Aceitação do donatário: o contrato só se aperfeiçoa quando o beneficiário


manifesta sua aceitação com relação à doação. Portanto, de um lado há o animus
donandi e do outro a aceitação do donatário, consentindo na liberalidade do
doador. Trata-se de um contrato benéfico em que o donatário não precisa ter
capacidade de fato para aceitar a doação, de acordo com o artigo 543 do Código
Civil.

3.3. Classificação
• Unilateral: somente uma das partes tem ônus; a outra aufere a vantagem, não
tendo contraprestação.

• Formal: o artigo 541 do Código Civil exige a escritura pública ou o instrumento


particular para o aperfeiçoamento da doação. A doação verbal só é válida para
bens móveis de pequeno valor, desde que a tradição seja imediata.

• Gratuito: gera para o donatário apenas enriquecimento. Caso seja imposto um


encargo ao donatário, o contrato passa a ter natureza de oneroso.

P.: Pode o nascituro receber doação?

R.: O artigo 542 do Código Civil menciona que o nascituro pode receber doação,
desde que aceita pelos pais. Caso nasça morto, caduca a doação, por ser o nascituro titular
de direito sob condição suspensiva. Se tiver um instante de vida, recebe o benefício e
transmite aos seus sucessores.

O doador pode revogar a doação, enquanto o donatário não a aceitar expressa ou


tacitamente. Após a aceitação, impossível a revogação unilateral pelo doador.

As doações feitas em contemplação de casamento futuro independem de aceitação,


que se presume com o mero casamento (artigo 546 do Código Civil).

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DIREITO CIVIL

3.4. Requisitos

a) Subjetivo

É a capacidade ativa e passiva dos contraentes, limitada pelas seguintes regras:

• os absoluta ou relativamente incapazes não podem, em regra, doar, nem mesmo


representados ou assistidos;

• os cônjuges não podem fazer doação com os bens e rendimentos comuns do


casal, a não ser que seja remuneratória ou de pequeno valor (artigo 1.647 do
Código Civil);

• a doação pelo cônjuge adúltero ao cúmplice gera anulabilidade (artigo 550 do


Código Civil);

• o mandatário do doador não pode nomear donatário; a limitação se dá porque o


próprio mandante é obrigado a, no instrumento, nomear o donatário, pois tal ato
é privativo do doador;

• as pessoas jurídicas de direito público podem receber doação de acordo com as


restrições administrativas, e as de direito privado podem receber doações
impostas pela sua natureza e estatutos constitutivos;

• o falido não pode fazer doações, porque tal ato lesa os credores, além do mesmo
não estar administrando seus próprios bens; a ação pauliana é o remédio para
anular essas doações;

• a doação do pai ao filho representa adiantamento da legítima – artigo 544 do


Código Civil. O bem deve, por conseguinte, no instante do inventário, ser
colacionado, salvo dispensa do doador. Nessa hipótese, o valor deve sair da
metade disponível da herança. Havendo excesso, considera-se doação ineficiosa
(artigo 2007 do Código Civil). É nula qualquer cláusula que altere norma
sucessória.

A capacidade passiva é a aptidão para receber doação. Não possui qualquer


limitação. De acordo com o artigo 543 do Código Civil, até as pessoas que não podem
contratar podem receber doações puras. Os nascituros (artigo 542 do Código Civil) e as
pessoas jurídicas podem receber doações, devendo haver a intervenção dos representantes
legais.

b) Objetivo

O objeto da doação precisa ser sempre coisa que esteja no comércio (bens móveis,
imóveis, corpóreos, incorpóreos, presentes, futuros etc.). Restrições:
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• É nula a doação de todos os bens do doador, sem reserva de parte ou renda


suficiente para sua subsistência (artigo 548 do Código Civil). O Código quis
evitar a penúria do doador, ainda que o donatário fique com o encargo de prover
subsistência do doador enquanto este viver (RT 515/87). A doação universal só
vale se houver usufruto dos referidos bens para proteger a pessoa do doador,
assegurando-lhe, por conseguinte, meios de subsistência (RT 440/76).

• A doação não pode gerar a insolvência do doador. Nessa hipótese, os credores


prejudicados poderão anular a doação. A doação será válida se o donatário, com
o consentimento dos credores, assumir o passivo do doador, ocorrendo uma
novação subjetiva (artigo 360, inciso II, do Código Civil).

• A doação não pode ultrapassar a parte disponível da herança (artigo 549 do


Código Civil). Nula será a doação se exceder a legítima, não na doação por
inteiro. O herdeiro lesado pode ingressar imediatamente com ação de redução da
doação. A dúvida sobre a matéria está no fato de o herdeiro poder ingressar em
Juízo somente após a abertura da sucessão ou no momento da liberalidade, isso
porque estar-se-ia litigando sobre a herança de pessoa viva. O excesso seria
apreciado no momento da doação e não no momento da sucessão. Procedente a
ação de redução, restituem-se os próprios bens, no que exceder, ou o valor deles,
se não mais existirem.

• Na subvenção periódica, o doador pode doar uma renda a título gratuito ao


donatário (pensão), que se extingue com a morte do doador por ter caráter
personalíssimo, não se transmitindo aos herdeiros. Pode o doador, porém,
estipular que remanescerá pela vida do donatário; entretanto não poderá
ultrapassá-la (artigo 545 do Código Civil).

c) Formal

A doação é um contrato solene que deve observar certa formalidade, sob pena de
não ser válida. Pode ser celebrada:

• Por instrumento particular: no caso de móveis com valores consideráveis;

• Por escritura pública: no caso de imóveis sujeitos a transcrição no registro


imobiliário;

• Verbalmente: seguida de tradição, se o objeto for móvel e de pequeno valor


(artigo 541, parágrafo único, do Código Civil). É a hipótese da doação de
presentes em aniversários, em casamentos ou para homenagens.

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3.5. Espécies de Doação


• Pura e simples: feita por liberalidade, sem nenhuma espécie de condição, termo,
encargo, prazo ou limitação. A doação contemplativa, por mérito do donatário, é
pura e simples. Exemplo: Prêmio Nobel.

• Modal: é aquela em que o doador impõe ao donatário uma incumbência, um


encargo, que pode reverter em seu benefício, de terceiro ou geral. É uma doação
onerosa. O doador pode estabelecer prazo para que o encargo se efetive.

• Remuneratória: aquela em que o doador deseja pagar por serviços prestados pelo
donatário ou por outra vantagem que haja recebido dele. Não se vislumbra o
espírito de liberalidade e sim a necessidade moral de compensar serviços que
foram prestados. Será considerada como doação se exceder o valor do serviço
remunerado; portanto, será pagamento até o montante dos serviços e, a partir
disso, doação (artigo 540 do Código Civil).

• Condicional: é a que depende de acontecimento futuro e incerto. É, por exemplo,


a doação de um imóvel feita em contemplação por casamento futuro. A doação
somente surte efeito com o casamento.

• A termo: é a hipótese de haver um evento futuro e certo final e/ou inicial. Como
exemplo, a doação de um imóvel a duas pessoas, podendo uma usá-lo por dois
anos e a outra, a partir daquela data.

• De pais a filhos (artigo 544 do Código Civil): hipótese já mencionada. Ou a


doação é levada à colação, por corresponder a adiantamento de legítima, ou não,
se sair da parte disponível.

• Conjuntiva: feita em comum a mais de uma pessoa, sendo distribuída por igual
entre os diversos donatários (artigo 551 do Código Civil). Se os donatários forem
marido e mulher, subsistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo.

3.6. Revogação
A revogação é um direito subjetivo que garante a possibilidade, em face de causa
superveniente, de resilição bilateral do contrato – somente pode ocorrer em virtude de lei:

• Pelos casos comuns a todos os contratos (artigo 555 do Código Civil);

• Por descumprimento do encargo (artigo 555 do Código Civil);

• Por ingratidão do donatário, já que esse tinha obrigação moral de ser grato ao
doador. As causas da ingratidão estão previstas no artigo 557 do Código Civil,
cujo rol é taxativo:

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- Se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de


homicídio doloso contra ele: esse ato não pode ser culposo ou em legítima
defesa, devendo ser doloso e admitir a tentativa. Não é necessária sentença
penal condenatória transitada em julgado.

- Se cometeu contra ele ofensa física: é o caso de lesão corporal, grave, leve
ou levíssima, desde que o ato seja doloso;

- Se injuriou gravemente, ou caluniou o doador: não é necessário que sofra


condenação penal, exigindo-se apenas a humilhação;

- Se, podendo ministrá-los, recusou ao doador alimentos de que este


necessitava: é a hipótese de deixar o doador na penúria.

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1. FALÊNCIA
Se o devedor é insolvente, todos os credores receberão seus créditos,
proporcionalmente, em uma execução concursal. (Princípio Pars Conditio Creditorum).

Se o devedor insolvente não é comerciante, a execução concursal se dá pelas regras


do Código Civil.

Se o devedor insolvente é comerciante, a execução de seu patrimônio obedece às


regras do Decreto-lei n. 7.661/45 – Lei de Falências.

Falência, portanto, é um processo judicial de execução coletiva, universal, dirigida


contra devedor qualificado como comerciante.

1.1. Pressupostos do Processo Falimentar


• Devedor comerciante

• Insolvência

• Sentença declaratória da falência

1.1.1. Devedor comerciante


Somente o comerciante definido pela teoria dos atos do comércio ou o assim
considerado por força de lei, por exemplo, empresas de construção e sociedades por ações,
submetem-se à falência.

Prestadora de serviço não se subordina à falência, por ser excluída do conceito de


comerciante. A empresa de publicidade, porém, pode sujeitar-se ao regime falimentar, pois,
além de prestar serviço, pode vender espaço de propaganda, praticando ato de comércio.

Interessante salientar que, anteriormente, havia limitação quanto à falência de


alguns comerciantes – dentre eles as empresas públicas e as sociedades de economia
mista. Essas encontravam expressa exclusão, em face do determinado no art. 242 da
LSA. Atualmente, a Lei 10.303/02 revogou tal dispositivo.

A Lei de Falências exclui parcialmente de suas regras determinados comerciantes,


por exemplo, as sociedades seguradoras, as instituições financeiras etc., que podem falir,
mas não têm acesso à concordata.

Observações:
1
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• Falência do comerciante de fato ou irregular.

O comerciante de fato ou irregular é aquele que deixa de arquivar seus atos


constitutivos na Junta Comercial; pode falir, pois, para a Lei de Falências a formalidade do
arquivamento não é relevante e, sim, se o comerciante desenvolve atividade comercial e é
insolvente.

Não pode requerer concordata nem tem legitimidade para o pedido de falência de
outro comerciante. Deve requerer a autofalência, quando for o caso (art. 8.º, da LF).

• Falência do ex-comerciante.

De acordo com a Lei, o comerciante continua sujeito à falência por um período de


24 meses, a contar da data do arquivamento dos atos dissolutórios na Junta Comercial ou
do cancelamento da inscrição, se comerciante individual.

A doutrina faz prevalecer, no entanto, que o início da contagem dos 24 meses


acontece da data em que, de fato, o comerciante deixou de desenvolver atividade
comercial.

• Falência da sociedade e efeitos em relação ao sócio.

O art. 20 do Código Civil distingue a pessoa jurídica da pessoa física que a compõe.
Assim, a falência da sociedade comercial não importa a dos sócios.

• Falência da sociedade em conta de participação.

Trata-se de sociedade definida pelo art. 325 do Código Comercial– não pode
ser registrada e não tem personalidade jurídica e, assim, não pode falir. Somente o
sócio ostensivo, como informa o art. 328 do Código Comercial, está sujeito à
falência, sendo essa na condição de “empresário comercial individual, ou da
sociedade que se prestar à condição de sócio ostensivo” ( RUBENS REQUIÃO).

1.1.2. Insolvência jurídica


No sentido econômico, insolvência significa ter mais dívida do que patrimônio.

Para efeitos de declaração da falência, considera-se a insolvência jurídica (e não a


econômica)– definida nas hipóteses criadas pelo legislador, as quais, verificadas de fato,
pressupõem a insolvência, ensejando a falência. Os arts. 1.º e 2.º , da Lei de Falências,
descrevem tais hipóteses:

• Art. 1.º: incorporou o sistema da impontualidade injustificada. Considera-se


falido o comerciante que, sem relevante razão de direito, deixa de pagar
obrigação líquida. Para que se possa pedir a falência com base nesse artigo, é
preciso levar a Juízo o título protestado, para caracterizar a impontualidade.

2
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• Art. 2.º: descreve atos de falência– são comportamentos que pressupõem a


insolvência.

– Inc. I: comerciante executado que não paga e não nomeia bens à penhora. O
exeqüente deve requerer uma certidão ao juiz, para distribuição do pedido de
falência. A partir desse momento, o exeqüente deve desistir da execução.

– Inc. V: alienação de estabelecimento comercial sem anuência dos credores, e


sem deixar bens suficientes para garantia das dívidas.

– Inc. VII: abandono do estabelecimento pelo comerciante.

Pode ocorrer também “Insolvência Confessada”, quando o comerciante pede sua


autofalência, prevista no art. 8.º da Lei de Falências.

1.1.3. Sentença declaratória da falência


É pressuposto do processo falimentar (será abordada oportunamente).

2. ASPECTOS PROCESSUAIS DA FALÊNCIA

2.1. Aplicabilidade do Código de Processo Civil


As regras do Código de Processo Civil aplicam-se subsidiariamente à Lei
Falimentar, exceto no que se refere aos recursos. A Lei de Falências contempla um sistema
próprio de recursos, no entanto, a jurisprudência vem entendendo cabível os embargos
infringentes – não previstos pela Lei de Falências.

2.2. Fluência de Prazos


Os prazos no processo falimentar são peremptórios e contínuos, correm em cartório,
independentemente da intimação das partes, inclusive em férias forenses.

Para fins de recurso, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que o termo inicial é a
data da intimação da parte (Súmula n. 25 do STJ).

2.3. Competência
É competente para conhecer de um pedido de falência o Juízo no qual se localiza o
principal estabelecimento do devedor (art. 7.º da LF).
3
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DIREITO COMERCIAL

Existem duas correntes que procuram definir o que é principal estabelecimento:

• Uma entende ser aquele onde o devedor administra suas atividades.

• Outra entende ser aquele em que estão concentrados, em maior proporção, os


bens do devedor. É o economicamente mais relevante, e não o
administrativamente.

Na doutrina menos atualizada prevalece a primeira corrente; porém, os tribunais já


vêm decidindo pela aplicação da segunda corrente.

2.4. Universalidade do Juízo Falimentar


O Juízo Falimentar atrai todas as ações e interesses da massa, tem vis atractiva –
força de atração.

Embora a universalidade seja a regra, existem exceções. Não são atraídas para o
Juízo da :

• as reclamações trabalhistas;

• as execuções fiscais;

• as execuções individuais com hasta já realizada ou designada.

3. FASES DO PROCESSO FALIMENTAR

|___________________|____________________|__________________|

Pré-falimentar Falimentar Pós-falimentar

3.1. Pré-falimentar
Começa com o pedido de falência e termina com uma sentença declaratória ou
denegatória da falência.

O que se objetiva é a análise e o deferimento, ou não, do pedido de falência.

3.2. Falimentar
Começa com a sentença declaratória da falência e termina com a sentença de
encerramento da falência.

4
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A fase falimentar subdivide-se em duas etapas distintas:

• cognitiva, ou de conhecimento;

• satisfativa, de liquidação, ou executiva.

3.2.1. Etapa cognitiva / conhecimento


Tem por objetivo apurar o ativo, o passivo e eventual prática de crime falimentar.

Para apuração do ativo, há o procedimento de arrecadação dos bens e correlatos.

Para apuração do passivo, há o procedimento de verificação de créditos.

Para apuração de eventual prática de crime falimentar, é previsto o inquérito


judicial.

Encerradas as apurações, passa-se para a segunda etapa.

3.2.2. Etapa executiva / liquidação / satisfativa


Seu objetivo é a realização do ativo (venda dos bens) e o pagamento do passivo
(pagamento dos credores).

Vendidos os bens e pagos os credores, no que for possível, o juiz profere uma
sentença de encerramento da falência, que não significa, porém, que acabaram as
obrigações do falido.

3.3. Pós-falimentar
O objetivo é a reabilitação do falido, que se dá por meio da extinção de suas obrigações,
por sentença. Essa fase começa com a sentença de encerramento da falência e termina com a
sentença de extinção das obrigações do falido.

Não é fase obrigatória. Se, no curso do processo falimentar, as obrigações do falido


forem cumpridas, não haverá necessidade dessa fase.

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Federação

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Federação

1. MUNICÍPIOS

Dos requisitos típicos das Unidades Federadas, os Municípios não dispõem de Poder
Judiciário próprio e representante no Senado Federal, o que permite a ampla discussão
doutrinária sobre ser ou não o Município um ente da Federação, abordada no módulo
anterior.

A criação, incorporação, fusão ou desmembramento de Municípios depende de


estudos quanto à viabilidade do ente que se quer formar (Emenda Constitucional n. 15, de
setembro de 1996); da aprovação, por plebiscito, das populações das áreas envolvidas
(segundo prevalece na doutrina, população da área desmembrada e população da área que
poderá ser emancipada); da observância dos requisitos previstos em lei complementar
federal que disciplina a matéria; e de lei estadual (em São Paulo, Lei Complementar n.
651/90).

Observa-se, porém, que há precedente do Supremo Tribunal Federal, anterior à


Emenda Constitucional n. 15/96, no sentido de que população diretamente interessada
no objeto da consulta popular é apenas aquela da área que se desmembra (ADIn n.
733/92).

Havendo empate no plebiscito, fica vedada a criação do novo Município, conforme


já decidiu o Supremo Tribunal Federal no julgamento da ação rescisória n. 798/83.

Ao julgar o Conflito de Competência n. 2.530/92, o Superior Tribunal de Justiça


concluiu que compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Eleitoral, processar e julgar
mandado de segurança contra ato do plenário da Assembléia Legislativa que determine a
realização de plebiscito objetivando a emancipação de Distrito. A competência da Justiça
Eleitoral, no processo emancipacionista, restringe-se a: prestar informações sobre o
eleitorado da área e proceder à realização e à apuração do plebiscito.

Os municípios possuem Lei Orgânica e não Constituição, assim como o Distrito


Federal, como será visto no tópico específico.

Pelo princípio da simetria, as regras previstas nas Leis Orgânicas Municipais não
podem desatender comando previsto na Constituição Estadual para hipótese similar.

Desde a Constituição Federal de 1988, cada Município elabora sua própria Lei
Orgânica, votada em dois turnos, com intervalo mínimo de dez dias entre eles, e aprovada
por 2/3 de todos os membros da Câmara Municipal, que a promulgará (artigo 29, caput, da
Constituição Federal).

1
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DIREITO CONSTITUCIONAL

Mediante lei complementar estadual (na vigência da Constituição Federal/67,


dependia de lei complementar federal) os Estados podem instituir Regiões Metropolitanas,
Aglomerações Urbanas e Microrregiões – agrupamento dos Municípios limítrofes que têm
por objetivo integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de
interesse comum dos integrantes (combate a enchentes, transportes etc); artigo 25, § 3.º, da
Constituição Federal.

No Estado de São Paulo, assim dispõe a Constituição Estadual:

“Art. 153 – O território estadual poderá ser dividido, total ou parcialmente, em


unidades regionais constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, mediante lei
complementar, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções
públicas de interesse comum, atendidas as respectivas peculiaridades.

§ 1.º – Considera-se região metropolitana o agrupamento de municípios limítrofes


que assuma destacada expressão nacional, em razão de elevada densidade demográfica,
significativa conurbação e de funções urbanas e regionais com alto grau de diversidade,
especialização e integração sócio-econômica, exigindo planejamento integrado e ação
conjunta permanente dos entes públicos nela atuantes.

§ 2.º – Considera-se aglomeração urbana o agrupamento de municípios limítrofes


que apresente relação de integração funcional de natureza econômico-social e urbanização
contínua entre dois ou mais municípios ou manifesta tendência nesse sentido, que exija
planejamento integrado e recomende ação coordenada dos entes públicos nela atuantes.

§ 3.º – Considera-se microrregião o agrupamento de municípios limítrofes que


apresente, entre si, relações de interação funcional de natureza físico-territorial,
econômico-social e administrativa, exigindo planejamento integrado com vistas a criar
condições adequadas para o desenvolvimento e integração regional.

Artigo 154 – Visando a promover o planejamento regional, a organização e


execução das funções públicas de interesse comum, o Estado criará, mediante lei
complementar, para cada unidade regional, um conselho de caráter normativo e
deliberativo, bem como disporá sobre a organização, a articulação, a coordenação e,
conforme o caso, a fusão de entidades ou órgãos públicos atuantes na região, assegurada,
nesses e naquele, a participação paritária do conjunto dos municípios, com relação ao
Estado.

§ 1.º – Em regiões metropolitanas, o conselho a que alude o caput deste artigo


integrará entidade pública de caráter territorial, vinculando-se a ele os respectivos órgãos
de direção e execução, bem como as entidades regionais e setoriais executoras das funções
públicas de interesse comum, no que respeita ao planejamento e às medidas para sua
implementação.

2
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 2.º – É assegurada, nos termos da lei complementar, a participação da população


no processo de planejamento e tomada de decisões, bem como na fiscalização da
realização de serviços ou funções públicas em nível regional.

§ 3.º – A participação dos municípios nos conselhos deliberativos e normativos


regionais, previstos no "caput" deste artigo, será disciplinada em lei complementar.

Artigo 155 – Os municípios deverão compatibilizar, no que couber, seus planos,


programas, orçamentos, investimentos e ações às metas, diretrizes e objetivos estabelecidos
nos planos e programas estaduais, regionais e setoriais de desenvolvimento econômico-
social e de ordenação territorial, quando expressamente estabelecidos pelo conselho a que
se refere o art. 154.

Parágrafo único – O Estado, no que couber, compatibilizará os planos e programas


estaduais, regionais e setoriais de desenvolvimento, com o plano diretor dos municípios e
as prioridades da população local.”

Prevalece, portanto, que, na instituição das Regiões Metropolitanas, o interesse


geral deve se sobrepor aos interesses locais, razão porque a aplicação das regras comuns
previstas na Lei Complementar Estadual não depende do consentimento individual de
cada município, que obrigatoriamente deve participar das ações conjuntas. Conforme
deliberou o Supremo Tribunal Federal no julgamento da medida cautelar requerida na
ADIn n. 1.841 (j. de 18.6.98), “discrepa do § 3.º do artigo 25 da Constituição Federal
norma de Carta de Estado que submete a participação de município em região
metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião à aprovação prévia da câmara
municipal. Liminar deferida para suspender a eficácia do preceito em face do concurso da
relevância da argumentação jurídico-constitucional, da conveniência e do risco de manter-
se com plena eficácia o preceito, obstaculizada que fica a integração e realização das
funções públicas de interesse comum” .

A posição de prevalência dos interesses regionais sobre os interesses locais não é


pacífica. Michel Temer sustenta que a região metropolitana não é dotada de personalidade
e que suas decisões não obrigam os municípios que a compõem, em respeito à autonomia
municipal.

De acordo com as suas respectivas populações, os municípios terão entre 9 e 55


vereadores (artigo 29, inciso IV, da Constituição Federal). Prevalece no Tribunal de Justiça
de São Paulo que a fixação do número, dentro dos limites constitucionais, é da
competência exclusiva da legislação municipal.

3
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DIREITO CONSTITUCIONAL

Tribunal de Justiça de São Paulo:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Pretendida fixação de número de vereadores com


vinculação ao de habitantes do Município – Redução que implicaria em violação da
descrição outorgada pelo constituinte ao Legislativo de cada ente autônomo – Própria
Constituição que não fixou o critério rígido e vinculativo para estabelecer o número de
representantes do Órgão Municipal, predeterminando um número certo – Judiciário que
não pode invadir a esfera de poderes do Legislativo para decantar a determinação no que
concerne à quantidade de participantes do Órgão – Recurso não provido. (Apelação Cível
n. 75.943-5 - Bauru – 7.ª Câmara de Direito Público – Relator: Guerrieri Rezende – 28.
6.99 – V. U., Juis Saraiva 21)

Cremos, porém, que os princípios da razoabilidade (artigo 111 da Constituição


Estadual de São Paulo) e da moralidade administrativa (artigo 37 da Constituição
Federal) autorizam que flagrantes desproporcionalidades sejam corrigidas pelo Poder
Judiciário.

A idade mínima para ser eleito Senador é 35 anos, para Deputado estadual ou
federal 21 anos, e para Vereador 18 anos (artigo 14, § 3.º, inciso VI, da Constituição
Federal).

2. TERRITÓRIOS

Para a criação de um território (tramitam propostas de criação de pelo menos 5


territórios na região amazônica) exige-se a aprovação da proposta pela população diretamente
interessada, mediante plebiscito (a ser proposto por 1/3 dos Deputados federais ou por 1/3 dos
Senadores), e da aprovação pelo Congresso Nacional por lei complementar – que exige o voto
favorável da maioria de todos os membros de uma casa legislativa (artigos 18, § 3.º, e 69,
ambos da Constituição Federal), depois de ouvidas as Assembléias Legislativas das áreas
afetadas.

Os Territórios podem ser divididos em Municípios (artigo 33, § 1.º, da Constituição


Federal) e não são considerados entes da Federação (como são os Estados-membros). São uma
descentralização administrativa e territorial da União, com natureza de mera autarquia. O
Território não elege Senador (pois não é ente federado), mas sua população elege quatro
deputados federais (representantes do povo do Território).

O Governador do Território é nomeado pelo Presidente da República, após a


aprovação do seu nome pelo Senado Federal (inciso XIV do artigo 84 da Constituição
Federal) e, naqueles Territórios Federais com mais de 100.000 habitantes, haverá órgãos
judiciários de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e defensores
públicos federais (§ 3.º do artigo 33 da Constituição Federal).
4
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO CONSTITUCIONAL

3. DISTRITO FEDERAL

O Distrito Federal integra a Federação, elege Senadores e Deputados federais, tem


eleição direta para Governador, mas não pode ser desmembrado em Municípios (artigo 32,
caput, Constituição Federal). Nele está situada a capital federal, Brasília.

Nos termos do artigo 32 da Constituição Federal, o Distrito Federal é regido por lei
orgânica, observados os princípios da Constituição Federal, votada em dois turnos, com
intervalo mínimo de dez dias entre as votações, e aprovada por 2/3 dos membros da
Câmara Legislativa, que a promulgará.

Discute-se a natureza jurídica do Distrito Federal, prevalecendo tratar-se de pessoa


jurídica criada diretamente pela Constituição Federal e que se equipara aos Estados-
membros, desfrutando das competências legislativas municipais e estaduais.

Observe-se, porém, que a autonomia do Distrito Federal não é tão ampla quanto
aquela verificada nos Estados-membros, já que parte de sua estrutura administrativa é
organizada e mantida pela União (Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública,
Polícia Civil, Polícia Militar e Bombeiro Militar– nos termos dos incisos XIII e XIV do
artigo 21 da Constituição Federal). JOSÉ AFONSO DA SILVA classifica o Distrito Federal como
“uma unidade federada com autonomia parcialmente tutelada”.

4. DIVISÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Competência é parcela de poder. Para orientar a repartição da competência, a


Constituição Federal adota o princípio da Predominância do Interesse Público.

A divisão da competência pode ser horizontal (quando os entes se encontram no


mesmo patamar para o exercício de suas competências) ou vertical (quando os entes
inferiores devem observar os comandos dos entes superiores); material (não-legislativa ou
administrativa) ou legislativa (legiferante); comum (em conjunto) ou concorrente (cada
ente federado legisla no seu campo de atuação, fixando a União normas gerais e os demais,
normas específicas, competência suplementar – se a União deixar de exercer sua
competência ou o fizer de forma incompleta surge para os Estados e Distrito Federal a
possibilidade de supressão dessa lacuna, pelo exercício da competência supletiva, quando
inexistir a norma, ou complementar, quando traçar planos específicos limitados pela
atuação genérica da União. A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspenderá,
mas não revogará, a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

O artigo 21 da Constituição Federal enumera a competência material da União.


Trata-se de competência exclusiva, indelegável.
5
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO CONSTITUCIONAL

O artigo 22 da Constituição Federal trata das competências legislativas da União;


essa competência é privativa, passível de delegação aos Estados, por lei complementar
(parágrafo único).

Há leis nacionais (que regulam interesses gerais em todo o País) e leis meramente
federais (dirigidas especificamente à organização de interesses da própria União).

O artigo 23 da Constituição Federal trata da competência comum que não se refere


unicamente à União. O artigo dispõe sobre a competência não- legislativa, comum a todos
os entes federados.

A competência mencionada no artigo 24 da Constituição Federal , é legislativa


concorrente. Quanto à possibilidade de o Município participar dessa competência, há duas
correntes:

• O Município não participa da competência do artigo 24 da Constituição Federal,


pois não há previsão de sua atuação no texto constitucional; caso o legislador
constituinte quisesse abarcar o Município, teria feito expressamente.

• O Município participa dessa competência, tendo em vista o artigo 30 da


Constituição Federal , inciso II. Abre-se a possibilidade de suplementar a
legislação federal e a estadual no que couber.

Aos municípios compete legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar a


legislação federal e a legislação estadual no que couber, respeitando as diretrizes nacionais
e regionais.

Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos


Estados e Municípios, exceto quanto à organização do Poder Judiciário, Ministério
Público, Defensoria Pública, Polícia Civil, Polícia Militar e Bombeiro Militar, que serão
organizados por lei federal, nos termos dos incisos XIII e XIV do artigo 21 da Constituição
Federal .

6
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO DO TRABALHO E
PROCESSO DO TRABALHO

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

DIREITO DO TRABALHO E

PROCESSO DO TRABALHO

1. TÉRMINO DO CONTRATO DE TRABALHO

O contrato de trabalho pode ter o seu término de três formas: pela extinção, pela
dissolução ou pela caducidade.

1.1. Extinção
O contrato por prazo determinado termina pela sua execução integral. Nesse caso, o
empregado:

• não recebe indenização (multa de 40% do FGTS);

• não há aviso prévio a ser pago;

• recebe as férias vencidas e proporcionais;

• recebe o 13.º integral proporcional;

• terá direito a levantar o FGTS (Lei n. 8.036/90).

1.2. Dissolução
Ocorre a dissolução devido à ineficácia superveniente do contrato.

A dissolução se dá quando o contrato não está integralmente executado e uma das


partes interfere para seu fim.

São hipóteses de dissolução: a resolução e a rescisão ou resilição.

1.2.1. Resolução
A resolução do contrato ocorre quando aparecem os seguintes requisitos:

• Inexecução contratual de um dos contraentes.

• É exigido um provimento judicial que declarará a resolução do contrato– trata-se de

1
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

uma sentença constitutiva.

Hipótese importante de resolução de contrato de trabalho é o inquérito para apuração de


falta grave do empregado estável, previsto no art. 853 da CLT.

Na CLT havia a previsão de estabilidade decenal (art. 492), ou seja, aquele


empregado que contasse com mais de 10 (dez) anos de serviço, na mesma empresa,
adquiriria uma estabilidade absoluta e só poderia ser dispensado por motivo de falta grave
ou força maior –comprovada por ação judicial. Posteriormente, foi criado um regime
alternativo, o do FGTS, pelo qual o empregado poderia optar desde que renunciasse ao
regime da estabilidade. O empregado já estável também poderia optar pelo FGTS.

Com o advento da atual Constituição Federal, o regime do FGTS foi generalizado


para todos os trabalhadores. A Constituição Federal não recepcionou o regime da
estabilidade decenal, que permaneceu apenas para aqueles que tinham direito adquirido.

Discute-se se o inquérito é necessário em caso de estabilidades provisórias. Ex.: mulher


grávida, dirigente sindical etc. A jurisprudência vem entendendo que não é necessário no caso
da mulher grávida, do acidentado de trabalho, do representante dos empregados na CIPA.
Caso um desses empregados pratique falta grave, o empregador poderá dispensá-lo
sumariamente.

Já, quanto ao dirigente sindical, a jurisprudência vem entendendo que é necessário o


inquérito. O dirigente sindical possui estabilidade desde o momento da candidatura até um
ano após o término do mandato. Nesse caso, só a sentença do juiz pode rescindir o
contrato.

Recentemente, pela redação da Lei n. 9.958/00– que criou as comissões prévias de


conciliação, formadas por representantes dos empregados e dos trabalhadores –,o inquérito
para resolução do contrato de trabalho desses representantes dos trabalhadores passou a ser
exigido, em caso de falta grave.

1.2.2. Rescisão ou resilição


Rescisão é a hipótese em que o contrato termina pela manifestação de vontade das
partes. Pode ser manifestação bilateral ou unilateral.

A manifestação bilateral é o distrato (artigo 472 do Código Civil), que normalmente


vem acompanhado de uma transação (artigos 840 a 850 do Código Civil).

A transação não se confunde com o distrato. A transação é meio de extinção das


obrigações decorrentes do contrato e, para ser válida, tem alguns requisitos específicos de
validade: exige concessões mútuas e renúncia recíproca.

A transação faz coisa julgada entre as partes, portanto, o que foi transacionado não
poderá ser discutido posteriormente na Justiça.

2
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Questão interessante é saber se é possível a transação extrajudicial no âmbito do


Direito do Trabalho. A jurisprudência é muito resistente, mas é uma resistência
injustificada, pois não há nada que impeça a transação. Por isso temos hoje na Justiça do
Trabalho vários processos para efetivá-la.

A Lei n. 9.958/00 criou as Comissões Prévias de Conciliação, com as seguintes


características:

• comissão paritária (empregador e empregado);

• facultativa;

• pode ser instituída no âmbito das empresas, sem participação do sindicato;

• pode ser criada também no âmbito coletivo, com a participação do sindicato;

• o representante do empregado tem garantia de emprego;

• trata-se de instância prévia extrajudicial, alternativa, para solução dos conflitos.


Uma vez existente a comissão, nenhuma ação poderá ser proposta na Justiça sem
antes ser analisada por ela. Trata-se de um pressuposto processual. É facultativa,
mas, uma vez instituída, é uma condição da ação. Esse fato suscitou grandes
controvérsias, pois restringiria o acesso à Justiça, tendo, inclusive, a OAB
ingressado com uma Ação Declaratória de Inconstitucionalidade.

O termo de conciliação tem um valor de título executivo extrajudicial, portanto,


pode ser executado sem a ação trabalhista. Tem efeito de transação extrajudicial (eficácia
liberatória), assim, quita-se o que se transacionou. É uma eficácia liberatória genérica, só
não quita o que expressamente se ressalvou. A ressalva tem que ser específica, por isso ela
é muito criticada.

A reclamação protocolada na comissão suspende o prazo prescricional, para interpor


a ação trabalhista.

A rescisão unilateral ocorre devido à vontade de uma das partes. Se a iniciativa for
do empregador, trata-se de dispensa, despedimento. Se a iniciativa for do empregado, trata-
se de demissão.

A rescisão unilateral ocorre por uma declaração da vontade; ela se aperfeiçoa pela
simples ciência, não havendo necessidade de aceitação; trata-se de direito potestativo de
uma das partes.

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MÓDULO VI

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO


FINANÇAS PÚBLICAS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Finanças Públicas na Constituição de 1988

1. CONCEITO

As finanças públicas representam a gama de dispêndio utilizada pelo Estado para o


atendimento das necessidades públicas, ou seja, para a realização dos seus próprios fins.

Inúmeros são os dispositivos constitucionais que cuidam do Direito Financeiro e das


finanças, a saber (cuja leitura é recomendada):

• artigo 31: fiscalização do município;

• artigo 48, inciso II: competências do Congresso Nacional – institutos financeiros;

•artigo 49, incisos IX e X: competência exclusiva do Congresso Nacional –


fiscalização e controle;

•artigo 52, incisos I, II, V, VI, VII, VIII, IX e parágrafo único: competência privativa
do Senado Federal – julgar crimes de responsabilidade das pessoas mencionadas nos
incisos; fiscalizar e controlar e impor limites globais relativos a operações de
crédito, dívida fundada, dívida mobiliária de todos os entes federativos.

artigo 61, §1.º, inciso II, alínea “b”: leis de iniciativa privativa do Presidente da

República;

• artigo 63, inciso I: proibição do aumento de despesas;

•artigo 70: controle externo e interno consistente na fiscalização contábil, financeira,


orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da Administração
direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das
subvenções e renúncia de receitas;

•artigo 71: competência do Tribunal de Contas da União; (Súmula 346 – Supremo


Tribunal Federal: “O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode
apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público.”)

• artigo 72: solicitação de esclarecimentos pela Comissão Mista Permanente;

•artigo 73: características do Tribunal de Contas da União – estrutura organizacional


- composição;

•artigo 74: controle interno exercido pelos Poderes Legislativo, Executivo e


Judiciário;

1
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

•artigo 75: aplicabilidade das normas supra na organização, composição e fiscalização


dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e
Conselhos de Contas dos Municípios;

• artigos 157, 158 e 159: dispositivos acerca da repartição das receitas tributárias;

•artigo 160: vedação da retenção ou restrição à entrega e ao emprego dos recursos


atribuídos aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios;

•artigo 161: competência da lei complementar em matéria de repartição das receitas


tributárias;

•artigo 162: divulgação da União quanto aos montantes de cada um dos tributos
arrecadados, recursos recebidos, valores de origem tributária entregues e a entregar,
e a expressão numérica dos critérios de rateio;

• artigo 163: competência da lei complementar, em matéria de finanças públicas;

• artigo 164: exercício exclusivo do Banco Central na emissão de moeda;

•artigo 165: leis de iniciativa do Poder Executivo – plano plurianual, diretrizes


orçamentárias e orçamentos anuais;

•artigo 166: normas sobre apreciação dos projetos de lei relativos ao plano
plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais;

•artigo 167: vedações no tocante ao orçamento, regras quanto aos créditos especiais
extraordinários;

•artigo 168: prazo para entrega dos recursos correspondentes às dotações


orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos
órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério Público;

artigo 169: limitação da despesa com o pessoal ativo e inativo da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

2. ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS

•artigo 33: pagamento do valor dos precatórios judiciais, pendentes na data da


promulgação da Constituição;

• artigo 35: forma de cumprimento do artigo 165, § 7.º;

•artigo 36: ratificação pelo Congresso Nacional dos fundos existentes na data da
promulgação da Constituição;

2
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

•artigo 38: limitação pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios de despesas
com pessoal;

• artigo 71: instituição do Fundo Social de Emergência;

• artigo 72: rol dos valores que integram o Fundo Social de Emergência;

•artigos 74 e 75: dispõem sobre a contribuição provisória sobre movimentação


financeira (CPMF);

• artigo 76: desvinculação de 20% de algumas receitas da União;

•artigo 77: recursos mínimos a serem aplicados nas ações e serviços públicos de
saúde;

• artigo 78: normas sobre liquidação de precatórios;

• artigo 79: instituição do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza;

•artigo 80: discrimina as receitas integrantes ao Fundo de Combate e Erradicação da


Pobreza;

•artigo 81: regras sobre o Fundo constituído pelos recursos recebidos pela União em
decorrência da desestatização de sociedades de economia mista ou empresas
públicas por ela controladas;

artigo 82: regras referentes à criação de Fundos de Combate à Pobreza pelos



Estados, Distritos Federal e Municípios;

•artigo 84: prorrogação da cobrança da CPMF até 31 de dezembro de 2004 e


disciplina a destinação do produto arrecadado;

• artigo 85: elenca hipóteses de não incidência da CPMF;

• artigos 86, 87 e 88: regras relativas a precatório.

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MÓDULO VI

DIREITO ELEITORAL

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DIREITO ELEITORAL

DIREITO ELEITORAL

1. PARTIDOS POLÍTICOS

A Constituição Federal garante o pluralismo político e o pluripartidarismo, ou seja,


observadas as regras do artigo 17 da Constituição Federal, é livre a criação, fusão,
incorporação e extinção dos partidos políticos, qualquer que seja a sua ideologia. Tal
liberdade, porém, não é irrestrita, pois todos os partidos devem resguardar a soberania
nacional, o regime democrático, o próprio pluripartidarismo e os direitos fundamentais da
pessoa humana.

Desde a Lei n. 9.096/95, os partidos políticos estão expressamente classificados


entre as pessoas jurídicas de Direito Privado (artigo 16, inciso III, do Código Civil). Para a
sua constituição, inicialmente são registrados no Cartório de Registros Civil das Pessoas
Jurídicas, da Capital Federal (artigo 114, inciso III, da Lei dos Registros Públicos – Lei n.
6.015/73, combinado com os artigos 7.º e 8.º da Lei Orgânica dos Partidos Políticos – Lei
n. 9.096/95) e, após adquirirem personalidade jurídica, são registrados no Tribunal
Superior Eleitoral (artigo 17, § 2.º, da Constituição Federal).

Para ter seu estatuto registrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral, e assim
desfrutar dos recursos do fundo partidário e do acesso gratuito ao rádio e à televisão, o
partido deve ter caráter nacional, ou seja, o apoio de eleitores em número correspondente a
0,5% dos votos dados na última eleição para a Câmara dos Deputados (não computados os
votos nulos e os votos em branco), distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados, com o
mínimo de um décimo por cento do eleitorado que haja votado em cada um desses Estados.

As principais proibições impostas aos partidos políticos são:

• receber recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros, ou manter


subordinação a esses;

• utilização de organização paramilitar.

Os partidos têm direito ao fundo partidário (constituído pelas multas aplicadas com base
na legislação eleitoral, doações e dotações orçamentárias da União fundadas no número de
eleitores – artigo 38 da Lei n. 9.096/95) e acesso gratuito ao rádio e à televisão, nos termos da
Lei n. 9.504/97. De acordo com a alínea “c” do inciso VI do artigo 150 da Constituição
Federal, atendidos os requisitos da lei, não incidem impostos (imunidade) sobre patrimônio,
rendas e serviços dos partidos políticos.

1
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO ELEITORAL

O parágrafo único do artigo 52 da Lei n. 9.096/95 estabelece que as emissoras de


rádio e televisão têm direito a compensação fiscal pela cedência do horário gratuito
previsto naquela norma.

Ao contrário da Constituição Federal anterior, que até a Emenda Constitucional n.


25/85 exigia a fidelidade partidária e previa a perda do mandato para o parlamentar que
abandonasse o partido pelo qual fora eleito (artigo 152, § 5.º), a Constituição Federal de
1988 remete a questão da fidelidade partidária ao estatuto de cada partido (artigo 17, § 1.º).

Mestres do porte de WALTER CENEVIVA sustentam ser de bom direito admitir que o
estatuto do partido possa prever, mediante processo que assegure plena defesa, a perda de
mandato do parlamentar, eleito sob a sua legenda, que:

• deixar o partido;

• votar contra diretriz partidária legítima.

Outros estudiosos do tema, porém, sustentam que, para os casos de infidelidade e


indisciplina partidária, os estatutos partidários podem prever sanções que vão da
advertência até a exclusão, mas acrescentam que a Constituição Federal de 1988 não
permite a perda do mandato por infidelidade partidária.

Diante do sistema adotado pela legislação eleitoral, que demonstra ser o partido
político veículo indispensável para alguém obter um mandato (acolhendo inclusive o
sistema proporcional e o quociente partidário para a eleição de deputados e vereadores –
artigo 45 da Constituição Federal), entendo que a razão está com WALTER CENEVIVA, exceto
quanto à hipótese de perda do mandato por votar contra as diretrizes partidárias, já que os
parlamentares são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos.

Nem mesmo a regra geral de que ninguém é obrigado a associar-se ou a permanecer


associado se aplica na hipótese, pois, no caso específico, a filiação a partido político é
obrigatória (pela Constituição Federal) para que alguém dispute um mandato eletivo.

Observa-se, contudo, que a questão é bastante polêmica e que o TRE/SP já deliberou


que os estatutos, no máximo, podem impor ao faltoso a expulsão, sem a perda do mandato
(Acórdão 123.930, publicado no DOJ de 1.º.3.1996, p. 41).

No mesmo sentido, merece destaque a seguinte decisão do Paraná :

“ACÓRDÃO: 16121

DESCRIÇÃO: Apelação Cível

RELATOR: Des. Pacheco Rocha

COMARCA: Foz do Iguaçu – 4.ª Vara Cível

ÓRGÃO JULGADOR: Primeira Câmara Cível

2
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO ELEITORAL

PUBLICAÇÃO: 12.4.1999

Ementa

Decisão: acordam os desembargadores integrantes da Primeira Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de
votos, em negar provimento à apelação.

Ementa: Vereador – mudança de partido político – infidelidade –


compromisso anterior – impossibilidade jurídica do pedido – a mudança
de partido político, ainda que rotulada de infidelidade partidária, não
acarreta a perda do mandato conferido ao eleito Vereador – por força do
ordenamento jurídico, o mandato conferido pela eleição proporcional é
pertinente única e exclusivamente ao eleito e constitui um bem indisponível,
do que se segue que pedir em Juízo acerca do mandato e dos seus
consectários, como a percepção de subsídios, contra esse mesmo
ordenamento, caracteriza uma impossibilidade jurídica do pedido.”

Os artigos 25 e 26 da Lei n. 9.096/95, de péssimas redações, estabelecem que o


parlamentar que deixar o partido pelo qual se elegeu, ou votar contra as diretrizes
partidárias, perderá o cargo e a função que exerce na respectiva Casa Legislativa em
virtude da proporção partidária. Prevalece, porém, que os dispositivos atingem os cargos
internos (secretário da Mesa Diretora, por exemplo), mas não o mandato parlamentar.

O mestre FÁVILA RIBEIRO esclarece que “a matéria não pode escapar do


disciplinamento estatutário, por ser terreno defeso à ingerência da lei, caracterizando-se
abuso de poder normativo, por usurpação da competência reservada pela Constituição
Federal aos partidos políticos...”. 2

Em síntese, entende-se que somente os estatutos partidários podem prever as


hipóteses de infidelidade partidária e suas conseqüências (cláusula de reserva estatutária),
ainda assim, respeitando a inviolabilidade dos parlamentares quanto às suas opiniões,
palavras e votos.

Acredito, por isso, ser legítima a perda do mandato pelo parlamentar que,
voluntariamente, abandona o partido pelo qual foi eleito, desde que a sanção esteja prevista
no estatuto do partido; mas incabível a sanção na hipótese de voto contrário às orientações
partidárias (pela inviolabilidade que o parlamentar desfruta quanto às suas opiniões,
palavras e votos). Ou seja, as hipóteses de perda do mandato previstas no artigo 55 da
Constituição Federal não são taxativas (essa posição é minoritária, pois prevalece que as
hipóteses do artigo 55 são taxativas e que infidelidade partidária pode, no máximo,
implicar a expulsão do partido, sem que isso acarrete a perda do mandato).

De acordo com o Conflito de Competência 3.024-8/SC – STJ, j. de março de 1993,


compete à Justiça Comum (e não à Justiça Eleitoral) julgar ação declaratória de perda do
2
Direito Eleitoral. 5.ª ed. Rio de Janeiro: 1999. p. 331.
3
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO ELEITORAL

mandato por infidelidade partidária. Em regra, a competência da Justiça Eleitoral se esgota


com a diplomação definitiva do eleito.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VI

DIREITO INTERNACIONAL
Tratados Internacionais e
Outras Questões Importantes

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DIREITO INTERNACIONAL

DIREITO INTERNACIONAL

Tratados Internacionais e Outras Questões Importantes

Prof. Carlos Husek

1. INTRODUÇÃO

O número de Tratados Internacionais cresceu vertiginosamente nas últimas décadas.


Existem tratados e cláusulas convencionais referentes a quase todas as matérias
imagináveis e de interesse do Estado, principalmente aquelas que envolvem direitos e
deveres na área econômica.

Assim, para especificar quais os principais Tratados Internacionais, é necessário antes


delimitar o campo em que tais tratados podem ser encontrados.

Podemos enumerar alguns deles, propiciando ao estudante uma pálida idéia dos
tratados considerados mais importantes, sob a luz de um estudo sistematizado do Direito
Internacional.

Vamos separá-los por matéria:

• Sobre Tratados

– Convenção sobre o direito dos tratados – Viena/1969.

– Convenção sobre o direito dos tratados entre Estados e Organizações


Internacionais – Viena/1986.

• Sobre Agentes Diplomáticos

– Convenção de Viena sobre relações diplomáticas – 1961.

– Convencion sobre las misiones especiales – New York/1969.

– Convenção sobre a representação dos Estados em suas relações com as


Organizações Internacionais de caráter universal – Viena/1975.

• Sobre Cônsules

1
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DIREITO INTERNACIONAL

– Convenção sobre agentes consulares – Havana/1928

– Convenção de Viena sobre relações consulares – 1963.

• Sobre Direitos do Mar

– Convenção das Nações Unidas sobre direitos do mar – 1982.

– Acordo relativo à implementação da parte XI da Convenção das Nações


Unidas sobre direito do mar – Nova Iorque/1994.

• Sobre o Meio Ambiente

– Declaração do Rio de Janeiro sobre o meio ambiente e desenvolvimento –


1992.

– Convenção sobre diversidade biológica – Rio de Janeiro/1992.

• Sobre Espaço Exterior

– Tratado sobre os princípios reguladores das atividades dos Estados na


exploração e uso do espaço cósmico, inclusive a Lua e demais corpos
celestes – 1967.

• Sobre Sucessão de Estados

– Vienna convention on succession of states in respect of treaties –


Viena/1978.

– Convenção sobre sucessão de Estados, em matéria de bens, arquivos e


dívidas do Estado – Viena/1983.

• Sobre Direitos do Homem

– Declaração Universal dos Direitos do Homem – 1948.

– Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – ONU/1966.

– Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de


discriminação racial – ONU/1966.

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DIREITO INTERNACIONAL

– Convenção americana sobre direitos humanos – São José da Costa


Rica/1969.

– Convenção sobre os Direitos da Criança – Nova Iorque/1989.

• Sobre Segurança Coletiva

– Tratado de proscrição das experiências com armas nucleares na atmosfera,


no espaço cósmico e sob a água – Moscou/1963.

– Tratado de proscrição de armas nucleares na América Latina – México/1967.

– Tratado de não-proliferação de armas nucleares – 1948.

• Sobre Solução dos Litígios Internacionais

– Tratado americano de soluções pacíficas (Pacto de Bogotá) – 1948.

– Estatuto da Corte Internacional de Justiça – 1945.

– Protocolo de Brasília sobre a solução de controvérsias (âmbito do Mercosul)


– 1991.

• Sobre Organizações Internacionais

– Carta das Nações Unidas – 1945.

– Carta da Organização dos Estados Americanos – Bogotá/1948 e Buenos


Aires/1967.

– Tratado para a constituição de um mercado comum entre a República


Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a
República Oriental do Uruguai (Tratado de Assunção) – Assunção/1991.

– Protocolo adicional do Tratado de Assunção sobre a estrutura institucional


do Mercosul (Protocolo de Ouro Preto) – Ouro Preto/1994.

– Carta da Organização Internacional do Trabalho – OIT no Tratado de Paz de


Versailles – 1919.

Esses são alguns dos tratados que podem ser destacados pela importância que têm
hoje no mundo.

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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO INTERNACIONAL

2. PONTOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

O Direito Internacional Público não deve assustar o candidato nos concursos


públicos, apesar da densidade da matéria.

Temos observado que alguns pontos são fundamentais, como os que abaixo
descrevemos:

• Tratados: conceito, elementos, espécies, validade interna e internacional.

• O Homem nas Relações Internacionais: direitos humanos– violações.

• O Direito Penal Internacional: tribunais internacionais, crimes, princípios.

• Direito de Asilo: asilo territorial e asilo diplomático.

• Território no Direito Internacional: mares, águas interiores, plataforma


continental.

• Proteção do Meio Ambiente.

• Órgãos de Relação Exterior do Estado: ministro das Relações Exteriores, corpo


diplomático– imunidades.

• Arbitragem, mediação, solução judiciária.

• Conflitos de leis no espaço, elementos de conexão (Lei Introdução ao Código


Civil).

• Homologação de sentença estrangeira, cartas rogatórias.

• Nacionalidades, cidadania, vistos.

• Adoção internacional.

• Pessoa Jurídica: nacionalidade, empresas multinacionais.

Observação: Este curso, acompanhado de livros e de uma pesquisa jurisprudencial,


proporciona uma boa base para o candidato.

3. DESTAQUES NA JURISPRUDÊNCIA

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DIREITO INTERNACIONAL

3.1. Posição do Supremo Tribunal Federal quanto aos Tratados e à


Vigência Interna dos Mesmos
O Supremo Tribunal Federal nem sempre tem andado numa linha reta, no que
concerne aos tratados e à vigência interna dos mesmos. O assunto é naturalmente polêmico
e a nossa Constituição Federal não se mostra clara e objetiva.

A doutrina tem afirmado que a lei não pode modificar tratado, no entanto, em
pronunciamentos recentes o Supremo Tribunal Federal vem decidindo que não há
hierarquia constitucional entre tratado e lei.

Observe-se que o tratado obriga o Estado na ordem internacional e a sua revogação


se faz por meio de denúncia. O Supremo Tribunal Federal, no entanto, atém-se à Carta
Magna e, em resumo, tem-se pautado pelas seguintes idéias:

• o processo legislativo está previsto na Constituição Brasileira;

• não consta, no processo legislativo, qualquer indicação sobre tratados;

• se tratado revoga lei, por ser a ela posterior, a lei também pode revogá-lo,
embora no plano internacional o Brasil continue obrigado;

• deve ser preservada a autoridade da lei fundamental do Estado.

Entendemos que o exame da constitucionalidade de uma lei não deve cingir-se à


verificação de compatibilidade com as normas constitucionais, mas, também, há que se
levar em conta os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. Afinal, os tratados
no Brasil passam pelo crivo do Congresso Nacional (ratificação interna) para somente
depois serem ratificados internacionalmente. Está na Constituição Federal, nos artigos 49,
inciso I, e 84, inciso VIII. A questão é interpretativa. O Estado brasileiro, na área
internacional, não é visto de forma compartimentada. Como o Estado é um só e não se
manifesta por intermédio de seus poderes internos, é de se crer que, quando o Brasil assina
e/ou ratifica um tratado, o faz de acordo com as suas leis fundamentais (pelo menos, assim
pensam os parceiros internacionais). Quando o aplicador interno da norma desconsidera
um tratado, tal atitude pode causar um mal-estar internacional. Caso o tratado seja
realmente incompatível, é preferível denunciá-lo.

As decisões do Supremo Tribunal Federal, todavia, têm razão de ser, sob o aspecto
estritamente técnico (Constituição, leis internas, tratados). Faz-se necessária uma melhor
sistematização dos tratados na Carta Magna.

O próprio Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de entender de forma


diversa, no passado, ao dizer que as disposições de uma lei interna não podem prevalecer
sobre as do tratado (artigo 5.º, § 2.º, da Constituição Federal).

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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO INTERNACIONAL

Esse é um tema que dá ensejo a respostas bem fundamentadas e que, portanto,


demandam estudo apurado.

3.2. A Questão do Depositário Infiel


Outro destaque é a questão do depositário infiel.

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos não contempla essa


possibilidade. Essa Convenção é o chamado Pacto de São José da Costa Rica, firmado e
ratificado pelo Brasil (Decreto n. 678, de 6.11.92).

No entanto, o artigo 5.º, inciso LXVII, da Constituição Federal diz: “Não haverá
prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentar e a do depositário infiel”.

Ao apreciar a matéria no habeas corpus n. 72.131, o plenário do Supremo Tribunal


Federal julgou, por maioria de votos, regular a prisão do depositário infiel. Na ocasião,
foram vencidos os Ministros Marco Aurélio, Francisco Rezek, Carlos Velloso e Sepúlveda
Pertence.

Na verdade, o que foi decidido é que o Pacto de São José, por se tratar de norma
infraconstitucional (artigo 105, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal), não pode se
contrapor à Lei Maior. O referido pacto constituir-se-ia em norma de caráter geral, que não
derroga as normas infraconstitucionais especiais, como aquela referente à prisão civil do
depositário infiel.

3.3. Homologação de Sentença Estrangeira


Outra matéria que causa certa polêmica é a homologação de sentença estrangeira,
em face do Protocolo de Las Leñas. Esse Protocolo, firmado no âmbito do Mercosul
(1997), tem por principal objetivo conferir caráter extraterritorial a sentenças emanadas de
países do Mercosul. A sentença proveniente de um dos países integrantes do Mercosul
produzirá efeitos diretamente em outro, sem o procedimento de homologação de sentença
estrangeira. Desse modo, o vencedor, em ação judicial promovida em qualquer dos Estados
(Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), poderá requerer a execução da sentença em
qualquer dos demais países, desde que preenchidas certas condições, como, por exemplo,
emanar a sentença de órgão jurisdicional competente, ou não contrariar princípios de
ordem pública dos Estados (artigo 20 do Protocolo).

Parece-nos que o Supremo Tribunal Federal não enfrentou com abrangência essa
questão, mantendo a tendência de exigir sempre a homologação.

As sentenças dotadas de eficácia extraterritorial não dependem de carta rogatória,


expedida pelo juiz do processo, para requerer o reconhecimento no Brasil. O interessado, pura e

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DIREITO INTERNACIONAL

simplesmente, inicia o processo de execução no Brasil, instruindo o pedido com os documentos


relacionados no artigo 20 do Protocolo.

3.4. Jurisprudência de Outros Tribunais


Outros tribunais (Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho,
Tribunais Regionais do Trabalho, Tribunais Regionais Federais), nos limites de suas
competências, têm decidido matérias internacionais, incluindo assuntos relativos ao Direito
Internacional Privado.

Podemos destacar, como exemplo, as Súmulas n. 20 e n.124 do Superior Tribunal de


Justiça. A Súmula n. 20 estabelece que “A mercadoria importada de país signatário do
GATT é isenta de ICM, quando contemplado com esse favor o similar nacional”. A Súmula
n. 124 dispõe que “A Taxa de Melhoramento dos portos tem base de cálculo diversa do
Imposto de Importação, sendo legítima sua cobrança sobre importação de mercadorias de
países signatários do GATT, da ALALC ou ALADI 3”.

Lembramos que o GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio – foi substituído pela
OMC – Organização Mundial do Comércio – a partir de 1995. O GATT não era uma
organização internacional, embora importante, compondo o tripé da economia mundial –
FMI4, BIRD5 e GATT–, era um simples acordo de comércio, enquanto a OMC é um
organismo com estrutura complexa.

A ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio – foi criada pelo


Tratado de Montevidéu de 1980. A ALADI é sucessora da ALALC.

Observação: Há uma preocupação em relação aos produtos vindos dessas


organizações e de outras de que o Brasil faz parte. Tal preocupação se justifica por ser o
Brasil membro dos organismos internacionais e dever atuar no mundo de forma coerente
com seus compromissos.

Tais tratados tiveram a participação dos seguintes países: Brasil, Argentina, Chile,
México, Paraguai, Peru e Uruguai, mas não obtiveram o sucesso desejado, que era criar uma
integração comercial na América Latina.

Tanto é assim, que Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru constituíram um


subgrupo regional por meio do Acordo de Integração Sub-regional de Cartagena em 1969,
e também foi criada, em julho de 1973, a CARICOM – Comunidade do Caribe – pelas
repúblicas de Barbados, Guiana, Jamaica, Trinidad e Tobago, com a adesão de Granada,
República Dominicana, Santa Lúcia, Belize e Antígua, pelo Tratado de Chaguaramas.

Todo esse movimento de uniões regionais acabou por resultar na criação do


Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai –, pelo Tratado de Assunção, em 1991.
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Associação Latino-Americana de Livre Comércio ou Associação Latino Americana de Desenvolvimento e
Integração
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Fundo Monetário Internacional
5
Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento
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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO INTERNACIONAL

Os tribunais internos – Judiciário e de cada país – pertencentes às diversas


Comunidades Regionais e à Comunidade Internacional, não podem, por lógica, contrariar os
compromissos assumidos pelo País, sob pena de fazê-lo credor internacional. Por esse
motivo, os tratados, quando assinados e ratificados, devem ser obrigatórios na ordem interna.
Claro que sobra eventual discussão sobre a contrariedade a alguma norma de ordem pública
e à Carta Magna.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO PENAL

Da Extinção da Punibilidade

__________________________________________________________________
Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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DIREITO PENAL

DIREITO PENAL

Da Extinção da Punibilidade

Prof. Fernando Capez

1. DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

1.1. Causas Extintivas da Punibilidade


São aquelas que extinguem o direito de punir do Estado.

O artigo 107 do Código Penal traz um rol exemplificativo de causas extintivas da


punibilidade.

2. PRESCRIÇÃO

É a perda da pretensão de punir do Estado, ou de executar a punição imposta, face à


sua inércia em satisfazê-la dentro dos prazos legais.

Fundamentos: combate à desídia do Estado; inconveniência de se punir o infrator


muito tempo depois do crime.

Natureza jurídica: é um instituto de Direito Penal, pois é uma causa de extinção da


punibilidade.

A prescrição, em regra, alcança todas as infrações penais; porém, a Constituição


Federal traz duas infrações imprescritíveis:

• crimes de racismo (artigo 5.º, inciso XLII);

•crimes referentes a ações de grupos armados, civis ou militares, contra ordem


constitucional e o Estado democrático, como por exemplo, ações de terrorismo
(artigo 5.º, inciso XLIV).

Atenção: o crime de tortura prescreve.

Espécies de prescrição:

• prescrição da pretensão punitiva;


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DIREITO PENAL

• prescrição da pretensão executória.

O não-exercício da pretensão punitiva acarreta a perda do direito de impor a sanção.


Então, só ocorre antes de transitar em julgado a sentença final. O não-exercício da
pretensão executória extingue o direito de executar a sanção imposta. Só ocorre, portanto,
após o trânsito em julgado da sentença condenatória.

2.1. Prescrição da Pretensão Punitiva (artigo 109 do Código Penal)


É a perda da pretensão de aplicar a sanção penal.

O direito de punir é abstrato, genérico e impessoal. Com a prática da infração, esse


direito se concretiza e se transforma em pretensão para punir aquele determinado infrator.

Espécies de prescrição da pretensão punitiva:

• prescrição da pretensão punitiva propriamente dita;

• prescrição da pretensão punitiva intercorrente, superveniente ou posterior;

• prescrição da pretensão punitiva retroativa;

• prescrição da pretensão punitiva perspectiva, projetada, antecipada ou virtual.

Conforme estabelece o artigo 111 do Código Penal, a prescrição da pretensão


punitiva (antes de transitar em julgado a sentença final) começa a correr:

•do dia em que o crime se consumou (constitui exceção à adoção da teoria da


atividade);

• no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;

• nos crimes permanentes, da data em que cessou a permanência;

•nos delitos de bigamia (artigo 235 do Código Penal) e de falsificação ou


alteração de registro civil (artigo 299 do Código Penal), da data em que o fato
se tornar conhecido da autoridade (Juiz de Direito, Promotor de Justiça ou
Delegado de Polícia).

Nas hipóteses de concurso de crimes (crime continuado, concurso formal e


concurso material), a prescrição incide isoladamente sobre cada crime (artigo 119 do
Código Penal).
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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

Como se conta o prazo prescricional?

Conta-se de acordo com a regra do artigo 10 do Código Penal, computando o dia do


começo e contando os meses e anos pelo calendário comum. O prazo é fatal e
improrrogável, pouco importando que termine em sábado, domingo, feriado ou férias.

Como se calcula o prazo prescricional?

O prazo prescricional varia de acordo com a pena privativa de liberdade. Para saber
qual o prazo de prescrição da pretensão punitiva, deve-se verificar o limite máximo da pena
imposta in abstracto, no preceito sancionador, e enquadrá-lo em um dos incisos do artigo
109 do Código Penal.

As causas de aumento e de diminuição devem ser consideradas, pois permitem que


a pena saia de seus limites legais.

Tabela do Prazo Prescricional

Pena (em anos) Prazo prescricional (em anos)

menos de 1 2

de 1 a 2 4

mais de 2 a 4 8

mais de 4 a 8 12

mais de 8 a 12 16

mais de 12 20

Se o agente for menor de 21 anos na data do fato, ou maior de 70 anos na data da


sentença, a prescrição deve ser reduzida pela metade. Esclarecemos que o artigo 115 do
Código Penal não foi alterado pelo artigo 5.º do novo Código Civil, pelos mesmos
fundamentos relacionados ao artigo 65, inciso I.

Contravenção penal sempre prescreve em dois anos.

2.2. Causas Interruptivas da Prescrição (artigo 117 do Código Penal)


São aquelas que obstam o curso da prescrição, fazendo com que este se reinicie do
zero, desprezando-se o tempo já decorrido. São as seguintes:

• Recebimento da denúncia ou da queixa. Na hipótese de co-autor ou partícipe não


identificado, a interrupção se estende a todos. O recebimento do aditamento não
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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

interrompe a prescrição. Se, no entanto, o aditamento incluir outra infração


penal, o seu recebimento interrompe a prescrição, mas só com relação a esse
novo crime.

• Publicação da sentença de pronúncia. A pronúncia interrompe a prescrição do


crime doloso contra a vida e também dos delitos conexos. Se houver recurso
contra a pronúncia, o acórdão confirmatório também interrompe a prescrição.

• Publicação da sentença condenatória. A publicação se dá na data em que o juiz


entrega a sentença ao escrivão. Atenção: o acórdão que confirma a sentença
condenatória não interrompe a prescrição. Mas, se a sentença for absolutória, o acórdão
condenatório interrompe a prescrição. Sentença absolutória não interrompe a
prescrição. Sentença que concede perdão judicial não interrompe a prescrição
(Súmula n. 18 do Superior Tribunal de Justiça). Sentença que julga extinta a
punibilidade não interrompe a prescrição.

2.3. Prescrição da Pretensão Punitiva Intercorrente, Posterior ou


Superveniente à Sentença Condenatória
É a prescrição que ocorre entre a data da publicação da sentença condenatória e o
trânsito em julgado. Seu prazo é calculado com base na pena concretamente fixada na
sentença e não com base no máximo cominado abstratamente. Depois de proferida a
sentença condenatória, não existe mais qualquer justificativa para continuar-se calculando
a prescrição pela pior das hipóteses (a maior pena possível), uma vez que já se conhece a
pena para aquele caso concreto. Assim, a partir da publicação da sentença condenatória, a
prescrição deve ser calculada de acordo com a pena aplicada na sentença.

Por isso, o artigo 110, § 1.º, do Código Penal, determina que, após o trânsito em
julgado da condenação para a acusação, a prescrição é regulada pela pena fixada na
sentença. Note que a condenação precisa transitar em julgado para a acusação. Destarte, se
a acusação se conformou com a pena fixada, esta passou a ser a maior pena possível, pois
não poderá ser aumentada em recurso exclusivo da defesa (non reformatio in pejus), razão
pela qual poderá servir de base para o cálculo da prescrição.

Há outras hipóteses em que a prescrição deverá ser calculada com base na pena
concreta:

A primeira ocorre quando o recurso for improvido. Explica-se: a acusação poderia


pretender ingressar com um recurso somente para evitar o trânsito em julgado e, assim,
impedir o cálculo da prescrição pela pena concreta. Desse modo, negado provimento ao
seu recurso, é como se nunca tivesse recorrido, devendo o tribunal calcular a prescrição de
acordo com a pena fixada na sentença.

A segunda ocorre quando o recurso da acusação não visa o aumento da pena.

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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

Resumindo, a prescrição será calculada com base na pena concreta em três


situações:

- trânsito em julgado para a acusação;

- quando o recurso do Ministério Público for improvido;

- quando o recurso do Ministério Público não visar aumento de pena.

2.4. Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa


É também calculada pela pena fixada na sentença, desde que haja trânsito em
julgado para a acusação ou desde que improvido o seu recurso. Aliás, tudo o que foi dito
com relação à prescrição intercorrente é válido para a prescrição retroativa, com uma única
diferença: enquanto a intercorrente ocorre entre a publicação da sentença condenatória e o
trânsito em julgado para a defesa, a retroativa é contada da publicação dessa decisão para
trás (por isso chama-se retroativa). Assim, com base na pena fixada na sentença, pode ser
que tenha ocorrido a prescrição entre marcos anteriores. Por isso, se o tribunal constatar
que não ocorreu prescrição pela pena concreta entre a publicação da sentença condenatória
e o acórdão, passará imediatamente a conferir se o novo prazo prescricional, calculado de
acordo com a pena concreta, não teria ocorrido entre:

• a data do fato e o recebimento da denúncia ou queixa;

• o recebimento da denúncia ou queixa e a pronúncia;

• a pronúncia e sua confirmação por acórdão;

• a pronúncia ou seu acórdão confirmatório e a sentença condenatória;

• o recebimento da denúncia ou queixa e a publicação da sentença condenatória


(no caso de crimes não-dolosos contra a vida).

2.5. Prescrição Antecipada, Projetada, Perspectiva ou Virtual


É a prescrição reconhecida antecipadamente, geralmente ainda na fase extrajudicial,
com base na provável pena concreta que será fixada pelo juiz no momento futuro da
condenação.

Exemplo: o Promotor de Justiça, deparando-se com um inquérito policial versando


sobre furto simples tentado, cometido há 5 anos, não pode requer seu arquivamento com
base na prescrição, uma vez que, como vimos, antes da condenação, aquela é calculada
com base na maior pena possível. Ocorre que a maior pena possível do furto simples é de 4
anos, e a menor redução decorrente da tentativa, 1/3 (como se busca a maior pena possível,
deve-se levar e conta a menor diminuição resultante da tentativa, pois quanto menos se
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DIREITO PENAL

diminui maior fica a pena). Tomando-se 4 anos menos 1/3 chega-se à pena de 2 anos e 8
meses de reclusão. O prazo prescricional nesse caso é de 8 anos (artigo 109, inciso IV, do
Código Penal). O Promotor observa que o indiciado é primário e portador de bons
antecedentes e que não estão presentes circunstâncias agravantes. Assim, tudo leva a crer
que a pena será fixada no mínimo legal e não no máximo. Confirmando-se essa
possibilidade, teria ocorrido a prescrição, pois a pena seria inferior a 1 ano e o prazo
prescricional seria de 2 anos (no exemplo, o crime ocorreu a 5 anos).

A prescrição antecipada fundamenta-se no princípio da economia processual, uma


vez que de nada adianta movimentar inutilmente a máquina jurisdicional com processos
que já nascem fadados ao fracasso.

A doutrina e a jurisprudência não aceitam a prescrição virtual sob o fundamento de


que falta previsão legal.

2.6. Causas Suspensivas da Prescrição (artigo 116 do Código Penal)


Na suspensão da prescrição, o tempo decorrido antes da causa é computado no
prazo, ou seja, cessado o efeito da causa suspensiva, a prescrição recomeça a correr,
computando-se o tempo decorrido antes dela.

Suspende-se a prescrição:

• Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o


conhecimento da existência do crime: trata-se da questão prejudicial, que é
aquela cuja solução implica num pré-julgamento da causa, pois, dependendo de
como se julgar a questão prejudicial, estará se decidindo a causa principal.
Observação: a suspensão do processo enquanto se aguarda a verificação da idade
do acusado, bem como o incidente de insanidade mental, não suspendem a
prescrição, pois nenhuma das duas é questão prejudicial.

• Enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro por qualquer motivo (salvo se o


fato for atípico no Brasil).

• Suspensão condicional do processo (artigo 89 da Lei n. 9.099/95).

• Suspensão parlamentar do processo: a partir da Emenda Constitucional n. 35


(20.12.2001), não há mais necessidade de licença prévia da Casa respectiva para
a instauração de processo contra deputado ou senador. O Supremo Tribunal
Federal pode receber a denúncia, sem solicitar qualquer autorização ao Poder
Legislativo. Há, no entanto, um controle posterior, uma vez que, recebida a peça
acusatória, o Poder Judiciário deverá cientificar a Câmara dos Deputados ou o
Senado Federal, conforme o caso, os quais, por maioria absoluta de seus
membros (metade mais um), em votação aberta, que deverá realizar-se dentro de
prazo máximo de 45 dias, poderão determinar a suspensão do processo. A

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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

suspensão do processo suspenderá a prescrição, enquanto durar o mandato


(artigo 53, §§ 3.º a 5.º, da Constituição Federal) .

• Hipótese do artigo 366 do Código de Processo Penal: suspensão do processo


quando o réu, citado por edital, não comparece nem constitui defensor. Aqui
surge a seguinte questão: até quando a prescrição ficará suspensa? Antes de
responder a essa questão, devemos lembrar que os casos de imprescritibilidade
estão delimitados na Constituição Federal, logo a prescrição não poderá ficar
indefinidamente suspensa. Entendemos que a solução assim se coloca: o prazo
de suspensão será o prazo prescricional máximo, calculado com base na maior
pena abstrata cominada ao crime. Após o decurso desse período, o processo
continua suspenso, mas a prescrição voltará a correr.

• Expedição de carta rogatória: estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido,


será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se o prazo de prescrição até seu
cumprimento.

2.7. Prescrição da Pretensão Executória


Na prescrição da pretensão executória, o decurso do tempo sem o seu exercício faz
com que o Estado perca o direito de executar a sanção imposta na sentença condenatória.

A prescrição da pretensão executória ocorre após o trânsito em julgado da sentença


condenatória.

Nos termos do artigo 110, caput, a prescrição, depois de transitar em julgado a


sentença condenatória, regula-se pela pena imposta e verifica-se nos prazos fixados no
artigo 109, os quais são aumentados de 1/3 se o condenado é reincidente. A
reincidência aumenta em 1/3 a prescrição da pretensão executória futura, mas
interrompe a prescrição da pretensão executória que está em andamento.

O prazo da prescrição da pretensão executória é reduzido pela metade nos casos


do menor de 21 anos à época do fato e do maior de setenta à época da sentença.

A prescrição da pretensão executória é sempre calculada pela pena


concretamente fixada.

O reconhecimento da prescrição da pretensão executória somente impede a


execução da pena, subsistindo os efeitos secundários penais e extrapenais da condenação.

Quando o prazo começa a correr?

• da data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação;

• da data da decisão que revoga o livramento condicional ou o sursis (não corre a


prescrição da pretensão executória durante o período de prova do sursis e do
livramento condicional);
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DIREITO PENAL

• do dia em que a execução da pena é interrompida por qualquer motivo.

Observação: nos casos de interrupção da execução da pena pela fuga do


condenado e de revogação do livramento condicional, a prescrição é regulada pelo
tempo que resta da pena.

2.7.1. Causas interruptivas


São aquelas que obstam o curso da prescrição, fazendo com que este se reinicie do
zero, desprezando-se o tempo já decorrido. São as seguintes:

• início do cumprimento da pena;

• continuação do cumprimento da pena;

• reincidência (o prazo é interrompido quando o agente pratica o crime e não


quando é condenado).

2.7.2. Causas suspensivas


A prisão por qualquer outro motivo que não a condenação que se pretende executar.

2.8. Prescrição da Multa


Primeiro é preciso verificar se tratamos de prescrição da pretensão punitiva ou
prescrição da pretensão executória.

O artigo 114 do Código Penal trata apenas da prescrição da pretensão punitiva: se a


pena de multa for a única prevista ou a única aplicada, o prazo será de 2 anos; se a multa é
prevista cumulativa ou alternativamente no tipo com pena privativa de liberdade, seu prazo
de prescrição será o mesmo da pena privativa de liberdade; se a multa é aplicada
cumulativamente com a pena privativa de liberdade, o prazo de prescrição é o mesmo da
pena privativa.

A prescrição da pretensão executória da multa dar-se-á sempre em 5 anos, e a


execução será feita separadamente da pena privativa de liberdade perante a vara da
Fazenda Pública, uma vez que a nova lei determinou que, para fins de execução, a pena
pecuniária fosse considerada dívida de valor. Dessa forma, o prazo prescricional, as causas
interruptivas e suspensivas da prescrição, a competência e o procedimento para a cobrança
passam a ser os da legislação tributária.

8
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

3. MORTE DO AGENTE

Trata-se de causa personalíssima de extinção da punibilidade que não se


comunica aos co-autores e partícipes.

A morte só pode ser provada por certidão de óbito. No caso de sentença


extintiva da punibilidade transitada em julgado, proferida com base em certidão
falsa, só restará ao Ministério Público processar os autores da falsidade, pois não
existe revisão criminal pro societate.

4. ANISTIA, GRAÇA E INDULTO

São formas de renúncia do Estado ao direito de punir.

São chamadas de indulgência, clemência soberana ou graça em sentido amplo.

4.1. Anistia
É uma lei federal penal de efeitos retroativos, ou seja, é uma lei feita para o passado.

Pode ser concedida antes do trânsito em julgado (anistia própria) ou depois do


trânsito em julgado (anistia imprópria).

Atinge os efeitos penais (principais e secundários). Os efeitos extrapenais


subsistem. Se, todavia, for concedida antes do trânsito em julgado afasta também os efeitos
extrapenais.

Uma vez concedida, não pode ser revogada, já que sua revogação implicaria em
retroatividade dos efeitos anteriores, prejudicando o agente.

A anistia é de atribuição do Congresso Federal (artigo 48, inciso VIII, da


Constituição Federal).

Qual a diferença entre anistia e abolitio criminis?

A anistia apaga o fato e a abolitio criminis revoga a norma.

4.2. Graça e Indulto


• Semelhanças:
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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

– só podem ser concedidos após o trânsito em julgado;

– são concedidos por decreto do Presidente da República, que pode delegar essa
atribuição ao Procurador Geral da República ou ao Advogado Geral da União
ou, ainda, ao Ministro da Justiça;

– só extingue o efeito principal que é a pena (pode ser extinta ou comutada).

• Diferenças:

– a graça é individual e depende de pedido do sentenciado;

– o indulto é uma medida coletiva e é concedida de ofício (não depende de


provocação).

4.3. Crimes Insuscetíveis de Anistia, Graça e Indulto


Crimes hediondos, terrorismo e tráfico de drogas.

Quanto à tortura, a Lei n. 9.455/97 só proibiu a anistia e a graça. Prevalece,


assim, o entendimento de que no caso da tortura admite-se a concessão do indulto.
Não é esse nosso entendimento, pois para nós a Constituição Federal, no artigo 5.º,
inciso XLIII, ao mencionar a graça, o fez em sentido amplo, abrangendo também o
indulto.

5. ABOLITIO CRIMINIS

A lei penal retroage, atingindo fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor,
sempre que beneficiar o agente de qualquer modo (artigo 5.º, inciso XL, da
Constituição Federal). Se a lei posterior deixa de considerar o fato como criminoso,
isto é, se a lei posterior extingue o tipo penal, retroage e torna extinta a punibilidade
de todos os autores da conduta antes tida por delituosa.

6. DECADÊNCIA

A prescrição extingue o direito de punir (afeta a pretensão punitiva do Estado).


A decadência extingue o direito do ofendido, de oferecer a queixa ou a representação.
10
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

A decadência está prevista como causa extintiva de punibilidade porque, extinto o


direito de queixa ou de representação, não há processo e, sem esse, não pode ser exercida a
pretensão punitiva do Estado. Assim, a decadência afeta indiretamente o direito de punir do
Estado.

Como regra geral, o prazo da decadência é de seis meses, a contar do conhecimento


da autoria. Trata-se de prazo de direito penal (artigo 10 do Código Penal).

No caso da queixa subsidiária, o prazo começa a contar do término do prazo para o


Ministério Público oferecer a denúncia (artigo 103 do Código Penal). Nesse caso, porém, o
decurso do prazo decadencial não provoca a extinção da punibilidade, pois o Ministério
Público poderá oferecer a denúncia enquanto não ocorrer a prescrição. Aqui, o prazo de 6
meses conta-se nos termos do artigo 798 do Código de Processo Penal, pois não há a
extinção da punibilidade.

7. PEREMPÇÃO

É uma sanção processual ao querelante desidioso. Só ocorre na ação penal


exclusivamente privada (artigo 60 do Código de Processo Penal).

Hipóteses:

• querelante que deixa de dar andamento ao processo durante 30 dias seguidos


(para que ocorra a extinção da punibilidade o querelante deve ser previamente
notificado a agir);

• querelante que não comparece sem motivo justo a qualquer ato a que deva estar
presente;

• falta de pedido de condenação nas alegações finais;

• querelante que morre ou fica incapaz sem deixar sucessor, ou sucessores que
não comparecem para assumir o processo nos 60 dias após a sua morte ou
incapacidade;

• além dessas hipóteses, há também perempção quando morre o querelante nos


crimes de ação penal privada personalíssima.

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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

8. RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA E PERDÃO ACEITO

a) Diferenças:

• a renúncia é anterior à queixa, ao passo que o perdão é posterior;

• a renúncia é unilateral, enquanto o perdão depende da aceitação do querelado


(ato bilateral).

b) Cabimento:

Só na ação penal exclusivamente privada. Isso porque só nela vigoram os princípios


da oportunidade e da disponibilidade.

A renúncia e o perdão podem ser expressos ou tácitos. A renúncia é tácita quando o


ofendido pratica ato incompatível com a vontade de dar início à ação penal privada
(exemplo: vai jantar na casa do ofensor após a ofensa). O perdão será tácito quando o
ofendido praticar ato incompatível com a vontade de dar continuidade à ação penal
privada.

A aceitação do perdão também pode ser expressa ou tácita. Será tácita se, notificado
a dizer se aceita ou não o perdão, permanecer em silêncio por mais de 3 dias.

Observação: o recebimento da indenização pelo dano resultante do crime não


caracteriza renúncia tácita, salvo no caso da Lei n. 9.099/95, quando o acordo entre o
ofensor e o ofendido homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação.

No caso de ofendido menor de 18 anos, cabe ao representante legal a concessão do


perdão ou a renúncia. Com a entrada do novo Código Civil, não há mais a figura do
representante legal para o ofendido maior de 18 e menor de 21 anos.

Nos termos do artigo 48 do Código de Processo Penal, a queixa deve ser oferecida
contra todos os autores do crime em face do princípio da indivisibilidade da ação penal
privada. O ofendido deve processar todos ou não processar ninguém. Se o querelante deixa
de processar alguém, há renúncia tácita quanto a este que ficou fora, sendo que esta
renúncia se estende àqueles que foram processados. Aqui, surge a seguinte questão: pode o
Ministério Público aditar a queixa para incluir os outros ofensores? Há duas posições:

• entendemos que não, pois usurparia a legitimação do ofendido, que não quis
processá-los;

• há entendimento no sentido de que o Ministério Público deve aditar a queixa


para incluir os outros querelados, nos termos do artigo 45 do Código de Processo
Penal, velando, assim, pela indivisibilidade da ação penal privada.
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DIREITO PENAL

9. RETRATAÇÃO DO AGENTE

Extingue-se a punibilidade pela retratação do agente, nos casos em que a lei admite.
Retratar é voltar atrás, retirar o que disse.

Só extingue a punibilidade nos casos permitidos em lei:

• Calúnia e difamação (artigo 143 do Código Penal): até a sentença de 1.º grau.
Extingue a punibilidade somente de quem se retratou, ou seja, a retratação não se
comunica aos demais ofensores. Se o crime é praticado por meio da imprensa,
admite-se a retratação inclusive na injúria.

• Falso testemunho (artigo 342, § 3.º, do Código Penal): até a sentença de 1.ª grau
do processo em que ocorreu o falso. A retratação nesse caso comunica-se aos
partícipes, pois o artigo diz que “o fato deixa de ser punível”. Lembre-se que o
crime de falso testemunho não admite co-autoria, pois se trata de crime de mão-
própria.

10. CASAMENTO SUBSEQÜENTE

• Do agente com a vítima (artigo 107, inciso VII, do Código Penal): nos crimes
contra os costumes, definidos nos Capítulos I, II e III do Título VI da Parte
Especial do Código Penal. Extingue inclusive nos casos de estupro e atentado
violento ao pudor, praticados com violência real. Não extingue a punibilidade se
da violência resulta lesão corporal de natureza grave, pois esta forma qualificada
encontra-se no Capítulo IV do Título VI. Essa causa é comunicável a todos os
co-autores e partícipes.

• Da vítima com terceiro (artigo 107, inciso VIII, do Código Penal): nos mesmos
crimes, desde que cometido sem violência real ou grave ameaça, e desde que a
vítima não requeira o prosseguimento da ação penal ou do inquérito policial nos
60 dias após o matrimônio. Trata-se de prazo de natureza penal.

11. PERDÃO JUDICIAL

Nada tem a ver com o perdão do ofendido. O perdão judicial é concedido pelo juiz.
O perdão do ofendido só é possível na ação penal exclusivamente privada, ao passo que, o
perdão judicial é possível, tanto na ação pública como na ação privada, desde que a
hipótese esteja prevista em lei.
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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

a) Conceito

Segundo o Prof. Damásio de Jesus, “é o instituto pelo qual o juiz, não obstante
comprovada a prática da infração penal pelo sujeito culpado, deixa de aplicar a pena em
face de justificadas circunstâncias”6.

b) Natureza jurídica

É uma faculdade do juiz e não um dos direitos públicos subjetivos do réu. O juiz,
portanto, tem a discricionariedade de conceder ou não. Trata-se de causa extintiva da
punibilidade.

c) Hipóteses legais

• homicídio culposo, se as conseqüências da infração tornarem desnecessária a


aplicação da pena (artigo 121, § 5.º, do Código Penal);

• lesão corporal culposa, se as conseqüências da infração tornarem desnecessária a


aplicação da pena (artigo 129, § 8.º, do Código Penal);

• no crime de injúria, quando o ofendido, de forma reprovável, provocou


diretamente a injúria, ou no caso de retorsão imediata que consista em outra
injúria (artigo 140, § 1.º, do Código Penal);

• no crime de apropriação indébita previdenciária, se o agente for primário e de


bons antecedentes (artigo 168-A, § 3.º, do Código Penal).

• art. 176, parágrafo único, do Código Penal;

• receptação culposa, dependendo das circunstâncias (artigo 180, § 5.º, do Código


Penal);

• adultério, se os cônjuges já estavam separados de fato ou se o querelante havia


dado causa à dissolução da sociedade conjugal (artigo 240, § 4.º, do Código
Penal);

• alteração de registro civil, se realizada por motivo de reconhecida nobreza


(adoção à brasileira) (artigo 242, parágrafo único, do Código Penal);

• subtração de incapazes, no caso de restituição do menor ou do interdito, se este


não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena (artigo
249, § 2.º, do Código Penal);

6
Direito Penal. 23.ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1999. vol. 1.
14
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

• crime falimentar (fatos: inexistência dos livros obrigatórios ou sua escrituração


atrasada, lacunosa, defeituosa ou confusa; falta de apresentação do balanço
dentro de 60 dias após a data fixada para o seu encerramento, a rubrica do juiz
sob cuja jurisdição estiver o seu estabelecimento principal), se o comerciante
tem pouca instrução e explora comércio exíguo (artigo 186, parágrafo único, do
Decreto-lei n. 7.661/45);

• erro de direito na Lei das Contravenções Penais (artigo 8.º do Decreto-lei n.


3.688/41).

Qual a natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial?

Há duas posições:

• Condenatória: só se perdoa quem errou. O juiz condena o réu e deixa de aplicar


a pena. Observe-se que, se foi preciso criar um artigo para afastar a reincidência
(artigo 120), significa que a sentença teria esse efeito na ausência de disposição
legal. É a nossa posição.

• Declaratória da extinção da punibilidade: da sentença não surte nenhum efeito


penal ou extrapenal (Súmula n. 18 do Superior Tribunal de Justiça). É a posição
majoritária.

12. DOS EFEITOS DA SENTENÇA PENAL

12.1. Introdução
A condenação irrecorrível produz efeitos:

• principais: imposição da pena privativa de liberdade, restritiva de direitos, de


multa ou de medida de segurança;

• secundários: possuem natureza penal e extrapenal.

Efeitos secundários:

• De natureza penal: induz à reincidência (artigo 63 do Código Penal); impede,


em princípio, o sursis e causa a sua revogação (artigos 77, inciso I, e 81, inciso I
e § 1.º, do Código Penal); causa a revogação do livramento condicional (artigo

15
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

86 do Código Penal); aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória


(artigo 110, caput, in fine, do Código Penal); causa a revogação da reabilitação
(artigo 95 do Código Penal); tem influência na exceção da verdade no crime de
calúnia (artigo 138, § 3.º, incisos I e III, do Código Penal); impede o privilégio
dos artigos 155, § 2.º; 170; 171, § 1.º; e 180, § 3.º, 1.ª parte, em relação ao
segundo crime; todos do Código Penal.

• De natureza extrapenal:

− genéricos: tornar certa a obrigação de reparar o dano resultante do crime


(artigo 91, inciso I, do Código Penal); confisco (artigo 91, inciso II, do Código
Penal); suspensão dos direitos políticos, enquanto durar a execução da pena
(artigo 15, inciso III, da Constituição Federal);

− específicos: perda de cargo, função pública ou mandato eletivo (artigo 92,


inciso I, do Código Penal); incapacidade para o exercício do pátrio poder,
tutela ou curatela (artigo 92, inciso II, do Código Penal); inabilitação para
dirigir veículo (artigo 92, inciso III, do Código Penal).

12.2. Efeitos Extrapenais Genéricos


Decorrem de qualquer condenação criminal e não precisam ser expressamente
declarados na sentença. São, portanto, efeitos automáticos de toda e qualquer condenação.

12.2.1. Reparação civil


O direito à indenização é assegurado pela Constituição Federal no artigo 5.º, inciso
V; pelo Código Civil no artigo 186; pelo Código Penal no artigo 91, inciso I; e pelo Código
de Processo Penal no artigo 63.

A sentença penal condenatória é declaratória quanto à indenização civil, pois não há


mandamento expresso que obrigue a indenizar; no entanto, a lei concede-lhe natureza de
título executório. Após prévia liquidação, deve-se ingressar com a execução do valor
apurado.

O efeito civil da reparação do dano persiste, mesmo quando ocorrer a extinção da


punibilidade (após o trânsito em julgado da sentença condenatória).

Se o titular do direito à reparação for pobre, a execução será feita, a seu


requerimento, pelo Ministério Público (artigo 68 do Código de Processo Penal).

O ofendido, quando da ocorrência do delito, poderá:

16
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DIREITO PENAL

• aguardar o desfecho na esfera penal e, advindo o trânsito em julgado da sentença


penal condenatória, ingressar no Juízo Cível com o pedido de execução para
efeito de reparação do dano;

• ou ingressar diretamente no Juízo Cível, com a ação civil de reparação do dano


(actio civilis ex delicti).

Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o
julgamento definitivo daquela (artigo 64, parágrafo único, do Código de Processo Penal).

Ocorrendo o arquivamento do inquérito policial, ou mesmo que a decisão decrete a


extinção de punibilidade, o ofendido terá direito a actio civilis ex delicti.

A princípio, a sentença absolutória no juízo penal não impede a actio civilis ex


delicti, em razão da independência das esferas (artigo 66 do Código de Processo Penal).

12.2.2. Confisco
É a perda de bens do particular em favor do Estado.

O confisco, como efeito da condenação, será (artigo 91, inciso II, do Código Penal):

• dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico,


alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; trata-se dos instrumentos
sceleris, objetos empregados para a realização do crime, mas somente os
descritos é que podem ser confiscados;

• do produto e do proveito do crime: produto é a vantagem direta auferida pela


prática do crime (exemplo: o relógio furtado); proveito é a vantagem decorrente
do produto (exemplo: o dinheiro obtido com a venda do relógio furtado).

12.2.3. Suspensão dos direitos políticos


Enquanto durar a execução da pena, nos termos do artigo 15, inciso III, da
Constituição Federal.

12.3. Efeitos Extrapenais Específicos


Decorrem da condenação criminal pela prática de determinados crimes em hipóteses
específicas, e devem ser motivadamente declarados na sentença condenatória. Não são,
portanto, automáticos, nem ocorrem em qualquer hipótese.

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DIREITO PENAL

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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PENAL

12.3.1. Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo


Ocorrerá em duas hipóteses:

• prática de crimes funcionais previstos no Código Penal, artigos 312 a 326, desde
que seja imposta pena igual ou superior a 1 ano;

• qualquer que seja o crime praticado se a pena for superior a 4 anos.

12.3.2. Incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou


curatela
Requisitos:

• que o crime seja doloso;

• que seja cominada pena de reclusão;

• filho, tutelado ou curatelado como vítimas;

• declaração expressa na sentença.

12.3.3. Inabilitação para dirigir veículo


Depende de três requisitos:

• que o crime seja doloso;

• que o veículo tenha sido usado como meio para a prática do delito;

• declaração expressa na sentença.

Distinções com a pena restritiva de direitos de suspensão de habilitação para dirigir


veículo (artigo 47, inciso III, do Código Penal):

• a inabilitação para dirigir veículo é efeito da condenação, e não pena principal;

• a inabilitação é permanente e só pode ser cancelada mediante reabilitação


criminal, enquanto a suspensão tem a duração limitada ao tempo da pena
privativa de liberdade que substituiu (artigo 55 do Código Penal);

• a inabilitação aplica-se a crimes dolosos, em que o veículo é utilizado como


instrumento do crime (homicídio doloso praticado com veículo etc.), enquanto a
suspensão se aplica aos delitos culposos de trânsito.
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___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VI

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Benefício em Espécie
Benefícios Devidos aos Segurados

__________________________________________________________________
Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Benefícios em Espécies

1. SALÁRIO MATERNIDADE

Esse benefício encontra-se disciplinado nos artigos 201, inciso II e 7.º, inciso XVIII, ambos
da Constituição Federal e nos artigos 71 a 73 da Lei n. 8.213/91.

Segundo Sérgio Pinto Martins, o salário-maternidade consiste na remuneração paga pelo


Instituto Nacional de Seguridade Social à segurada gestante durante seu afastamento, de acordo
com o período estabelecido por lei e mediante comprovação médica.

Existem várias denominações para este benefício, como licença à gestante – artigo 7.º da
Constituição Federal, licença-maternidade e salário-maternidade. Todavia, consoante o autor
acima citado, licença-maternidade ou licença-gestante é apenas o período de 120 dias de
afastamento da empregada, e o salário-maternidade corresponde ao próprio pagamento realizado
pelo Instituto Nacional de Seguridade Social do benefício no período de afastamento da segurada
gestante.

Tem por objetivo a proteção da mulher e do bebê.

A legislação trabalhista concede a licença maternidade, ficando a mulher afastada do


trabalho; e, nesse período, ela recebe o benefício. Atualmente, conforme a Lei n. 9.876/99,
o salário maternidade é pago a todas as seguradas.

1.2. REQUISITOS PARA RECEBER O BENEFÍCIO

1.2.1. Condição de segurada


Para receber o benefício, a mulher deve ter a condição de segurada (artigo 71 da Lei
n. 8.213/91), ou seja: segurada empregada, trabalhadora avulsa, empregada doméstica,
segurada especial, contribuinte individual ou até mesmo facultativa.

A Lei n. 10.421, de 15.04.2002, acrescentou o artigo 71-A na Lei n. 8.213/91,


estendendo tal benefício à segurada que adotar ou obtiver a guarda judicial para fins de
adoção de criança, estabelecendo uma relação entre a idade da criança e o período de dias
devidos como salário-maternidade, como segue:

1
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Dias devidos de salário Idade da criança


maternidade

120 até 01 ano

60 01 a 04 anos

30 04 a 08 anos

1.2.2. Período de Carência


Esse benefício possui carência móvel: em princípio, a carência é de 10 contribuições
mensais, mas, se o parto for antecipado, a carência será reduzida conforme o número de
meses da antecipação. A carência será, sempre, o período de gestação acrescido de um mês.
Exemplo: 7 meses de gestação = carência de 8 contribuições mensais. Assim, ocorrendo
antecipação do parto em 02 meses, a carência será reduzida de 10 meses para 08 meses.

A segurada empregada, a empregada doméstica e também a trabalhadora avulsa não


têm carência, portanto, no momento em que se filiarem à Previdência, já terão direito. As
seguradas facultativa e contribuinte individual seguem a regra geral acima explicada.

A segurada especial, para exercer o direito que tem a um benefício no valor de um


salário mínimo, deve comprovar que exerceu essa atividade nos 12 meses anteriores ao
requerimento da prestação, independentemente de contribuição.

1.3. Termo Inicial e Final


Pelo fato de a mulher estar grávida e dar à luz, o benefício será concedido por 28
dias antes e 91 dias depois do parto, totalizando 120 dias de salário maternidade (somando-
se o dia do parto).

Havendo requerimento após o parto, a data do início do benefício será fixada na do


afastamento do trabalho constante do atestado médico apresentado pela segurada, se a do
afastamento for anterior à data de nascimento da criança.

Tratando-se de parto antecipado, ainda que ocorra parto de natimorto, comprovado


mediante atestado médico, a segurada terá direito aos 120 (cento e vinte) dias previstos na
lei.

Vale observar que a legislação previdenciária considera o parto como o fato gerador
da prestação e que, para fins de concessão da prestação, parto é o evento ocorrido a partir

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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

da 23ª semana (6.º mês de gestação), inclusive em caso de natimorto (artigo 236, § 2.º, da
Instrução Normativa INSS/DC, n. 78, de 16 de julho de 2002).

Em caso de aborto, é necessário saber se se trata de aborto espontâneo ou


provocado. Se espontâneo, a mulher terá direito a duas semanas de salário-maternidade.
Se o aborto for provocado, há duas hipóteses:

• Hipóteses de aborto legalmente autorizado: a mulher tem direito a duas semanas.


Na hipótese de autorização judicial (exemplo: o feto não tem vida autônoma fora do
útero materno), ela também terá o mesmo direito.

• Nas hipóteses não permitidas e sem autorização judicial: a mulher não tem
direito ao benefício.

Resumindo:

• no caso de aborto não criminoso, a segurada tem direito a duas semanas de


salário-maternidade;

• em caso de natimorto, 120 dias de salário-maternidade;

• parto bem sucedido, 120 dias de salário-maternidade, com início 28 dias antes e
término 91 dias após (com possibilidade de antecipação/prorrogação de duas
semanas, a critério médico).

1.4. Valor do Benefício


• Para a segurada empregada, será o valor total de sua remuneração mensal. Exemplo:
se ela é registrada com remuneração mensal de R$ 3.000,00, terá direito ao valor
integral. Se a pessoa que estiver ocupando o lugar da segurada durante sua licença
maternidade receber aumento, a segurada também terá direito de recebê-lo.

• Para a empregada doméstica, o valor do benefício será o valor do salário de


contribuição registrado em carteira.

• Para a trabalhadora avulsa, o valor será calculado com base na última


remuneração.

• Para a segurada especial, o valor é de 1 salário mínimo.

• Para a contribuinte individual e facultativa será igual à metade da soma dos


últimos 12 salários-de-contribuição, apurados em período não superior a 15
meses, respeitado o limite do teto previdenciário.

3
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

O salário-maternidade é uma exceção à regra de que os benefícios previdenciários


não podem ultrapassar o teto máximo do salário-de-contribuição, pois para as seguradas
empregada e trabalhadora avulsa há identidade entre o valor da remuneração percebida e o
valor do salário-maternidade. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIN 1.946,
j. 29.04.99 – Rel. Min. Sydney Sanches, DJU I 10.05.99 – p. 30, que analisava a
constitucionalidade do teto estabelecido pelo artigo 14 da Emenda Constitucional n. 20/98,
entendeu que referido limite não se aplica ao salário-maternidade concedido às empregadas
e trabalhadoras avulsas.

2. AUXÍLIO-ACIDENTE

Este benefício encontra-se disciplinado no artigo 86 da Lei n. 8.213/91.

O auxílo-acidente será concedido, como indenização, ao segurado que, após


consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, apresentar seqüelas
que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia.

A legislação atual, vigente desde a edição da Lei n. 9.528/97, prevê que o auxílio-
acidente será pago até que a pessoa se aposente. Pela legislação anteriormente vigente, a
prestação era vitalícia. Dessa forma, se o segurado adquiriu o direito ao auxílio-acidente
antes da edição daquela Lei, a superveniência de aposentadoria não pode extinguir sua
prestação, pois se trata de direito já incorporado ao seu patrimônio jurídico (direito
adquirido).

Após a edição da Lei n. 9.528/97 (ressalvada a hipótese dos segurados que já tinham
adquirido direito ao auxílio-acidente, como explicado supra) esse benefício passou a ser
considerado no cálculo de aposentadoria.

Exemplo: “A” recebe R$ 200,00 de salário e R$ 100,00 de auxílio-doença. Quando


“A” for se aposentar, será levado em conta, para o salário benefício, o valor de R$ 300,00.
Porém, assim que começar o recebimento do benefício da aposentadoria, cessará o auxílio-
acidente. A soma desses dois valores, entretanto, não deverá ultrapassar o limite-teto do
salário de contribuição.

2.1. Objetivo
O auxílio-acidente tem por objetivo indenizar o segurado empregado (exceto o
doméstico), o trabalhador avulso e o segurado especial, por seqüelas resultantes da
consolidação de lesões de acidente de qualquer natureza.

A lesão ocorrida não impede o segurado de trabalhar, mas a seqüela existe (pode ser
inclusive de natureza estética) e possui caráter de definitiva, por isso passível de
indenização.
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

2.2. Requisitos
São requisitos para o recebimento do auxílio-acidente:

• condição de segurado;

• existência de seqüela resultante de acidente de qualquer natureza;

• redução definitiva da capacidade para o trabalho.

Quanto ao terceiro dos requisitos acima apontados, vale observar que para a
concessão da prestação basta que o segurado apresente redução da capacidade para o
trabalho, ainda que a mesma represente somente um maior esforço para o desempenho da
função que exercia na data do infortúnio.

Essa observação se faz necessária porque antes da edição da Lei n. 9.032, de 27 de


abril de 1995, havia gradações na redução da capacidade, de forma que quanto mais grave
a lesão, maior era a indenização.

Havia três situações básicas:

a) redução da capacidade, sem necessidade de mudança de função;

b) redução de capacidade, com necessidade de mudança para outra função de igual


nível de complexidade e;

c) redução da capacidade, com necessidade de mudança para função de menor


nível de complexidade.

Pela atual redação do artigo 86 da Lei n. 8.213/91, não há diferença de indenização


para essas diversas situações. A obrigação do Instituto Nacional de Seguridade Social é
quantitativamente igual, independente, por exemplo, de o segurado estar enquadrado na
situação “a” (menos grave) ou “c” (mais grave).

2.4. Termos Inicial e Final


O termo inicial será contado do dia seguinte àquele em que cessou o auxílio-doença.

Exemplo: auxílio-doença cessa dia 16, conseqüentemente o auxílio-acidente será


contado a partir do dia 17.

Nas hipóteses em que o trabalhador requer o benefício diretamente ao Judiciário, há


divergência jurisprudencial quanto ao início do benefício. Há julgados no sentido de que o
benefício será devido a partir da data da citação do Instituto Nacional de Seguridade
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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Social, momento em que há constituição da mora; outros julgados, principalmente do


Superior Tribunal de Justiça, determinam que a data do início do benefício deverá
coincidir com a data da apresentação do laudo médico-pericial em juízo.

O termo final da prestação se dá no momento em que o segurado falece ou se


aposenta; nesse último caso, desde que o auxílio-acidente tenha sido concedido a partir da
vigência da Lei n. 9.528/97, conforme explicado acima.

2.5. Valor do Benefício


A legislação anterior previa valores que variavam segundo as situações indicadas no
item 2.2., em percentuais que incidiam sobre o salário-de-benefício ou sobre o salário-de-
contribuição do dia do acidente, o que fosse mais vantajoso para o segurado. Os
percentuais eram: a) 30%, para as situações que não exigiam mudança de função; b) 40%,
para os casos que determinavam mudança para outra função do mesmo nível de
complexidade e c) 60%, nas hipóteses em que o obreiro era readaptado em função de nível
inferior de complexidade.

Hoje em dia (a partir da Lei n. 9.032/95), o benefício é calculado com base no


percentual único de 50%, incidente sobre o salário-de-benefício do segurado, independente
da graduação já explicada.

Em regra, os segurados que fazem “jus” a esse benefício receberão 50% do valor do
salário de benefício que deu origem ao auxílio-doença (lembrando que o valor do auxílio-
doença é de 91 % do salário de beneficio).

Exemplo – salário benefício que deu origem ao auxílio-doença: R$ 200,00; auxílio-


acidente: R$ 100,00.

O benefício de auxílio-acidente poderá ser pago em valor inferior a um salário


mínimo. Ressalte-se que só podem ser pagos benefícios inferiores a um salário mínimo nos
casos em que os mesmos não subsistem à remuneração. Assim ocorre com o auxílio-
acidente, que representa indenização em virtude de perda parcial e definitiva da capacidade
laborativa do segurado.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Processo de Execução

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Processo de Execução

Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. INTRODUÇÃO

Na execução, não há uma sentença de mérito, mas uma resposta de mérito, ou seja,
o juiz toma providência para a satisfação do pedido, que, no processo de execução, é a
satisfação do direito (crédito). A execução é, portanto, uma ação, já que há uma resposta de
mérito. Existe, portanto, necessidade de preencher as condições da ação, a saber :
possibilidade jurídica do pedido, legitimidade de parte e interesse de agir.

Quem tem legitimidade ativa é o credor, o espólio ou herdeiros, e o cessionário.

Para o credor efetuar a cessão de crédito, não é preciso o consentimento do devedor.


É necessário, porém, notificar o devedor sobre essa cessão de crédito. Iniciada a execução,
o credor pode ceder seu crédito. O Supremo Tribunal Federal, porém, diz que, no processo
de execução, não se aplica o artigo 42 do Código de Processo Civil, porque, havendo
execução de um crédito, esse crédito pode ser cedido a terceiro; o artigo 42 diz que a ação
continua correndo entre as partes originárias, contudo, o Supremo afirma que, no processo
de execução, não continua entre as partes originárias, mas sim entre o cessionário
(adquirente) e o devedor.

No processo de execução é muito comum haver litisconsórcio. Basta que, no título


executivo, haja mais de um credor ou mais de um devedor.

Quanto à intervenção de terceiros, é impossível ocorrer no processo de execução. O


que se admite é a figura de assistência nos embargos à execução, que têm natureza de
processo de conhecimento.

O artigo 570 do Código de Processo Civil trata de situações em que há um título


executivo judicial e o credor não toma a iniciativa da execução. O devedor assume a
iniciativa para que o credor seja citado e venha receber. O artigo estabelece que o
devedor assume, no processo, posição idêntica à do exeqüente. Esse artigo permite que
o devedor use o mesmo processo, os mesmos autos em que foi condenado, para
promover contra seu credor uma ação de consignação em pagamento.

Quem tem legitimidade passiva – para figurar num processo de execução – é


o devedor que figurar como tal no título executivo.

A cessão de débito, porém, é possível, desde que com a anuência do credor. Isso
porque quem responde pelas dívidas do devedor é seu patrimônio.

1
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Haverá interesse de agir quando houver necessidade e adequação. A execução será


necessária quando houver um inadimplemento do devedor. Por isso, se não houver vencido
a dívida, falta interesse para a execução. A execução é adequada pela existência de um
título executivo.

O artigo 592 do Código de Processo Civil permite que a execução atinja bens de
terceiros, que não os do devedor, desde que os terceiros tenham responsabilidade
patrimonial. Ex.: bens da esposa, desde que a dívida reverta em proveito do casal.

2. REQUISITOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

Para uma execução, é necessário o preenchimento de dois requisitos essenciais: o


inadimplemento do devedor e a existência de um título executivo.

No processo de execução, parte-se do princípio de que já se sabe quem está com a


razão, visto que o autor possui um título executivo judicial (que se caracteriza por uma
sentença), ou um título executivo extrajudicial. Esses títulos executivos só podem ser
criados por lei, ou seja, o rol enumerado nos artigos 584 e 585 do Código de Processo Civil
é taxativo (numerus clausus).

O título executivo contém uma obrigação, que se reveste de atributos de liquidez,


certeza e exigibilidade.

Liquidez consiste na determinação ou determinabilidade do quantum debeatur


(quantidade devida ao credor), a partir dos elementos contidos no título. Um título tem
liquidez quando, a partir dele próprio, se chega ao valor devido ao credor.

Exigibilidade decorre do alcance do termo da obrigação. A título de exemplo, cite-


se que o cheque é sempre exigível, por ser uma ordem de pagamento à vista.

Certeza consiste na determinação do objeto do direito a ser satisfeito.

A execução tem que ser feita no documento original, exceto no caso de o título fazer
parte da instrução de um outro processo, a exemplo de um processo criminal, quando a
jurisprudência admite cópia autenticada. Exemplo: ladrão que rouba cheque e é pego. O
cheque deve ser juntado ao processo-crime.

Outra exceção é o caso das apólices de seguro, que podem ser executadas por meio
de cópias autenticadas.

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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

2.1. Títulos Executivos Judiciais (art. 584 do CPC)


O primeiro título é a sentença civil condenatória. Vale lembrar que essa sentença não
precisa transitar em julgado para que se possa iniciar a execução, bastando apenas que não
caibam mais recursos dotados de efeito suspensivo, ocasião em que será possível a utilização
da execução provisória.

O segundo título é a sentença penal condenatória transitada em julgado. Essa, sim,


precisa transitar em julgado, como o próprio nome já diz, para que se possa iniciar a
execução. A razão para esse trânsito é a obediência ao Princípio da Presunção de
Inocência.

A sentença penal condenatória transitada em julgado, porém, apesar de funcionar


como título executivo, necessita da liquidação, visto que essa espécie de sentença não
trata do montante do prejuízo sofrido pela vítima e, mesmo que quisesse, não poderia
fazê-lo, em função da falta de participação da própria vítima no processo criminal.

Exemplos:

a) Atropelamento

De um atropelamento resultam dois tipos de ação: penal e civil. Imaginemos


que as duas foram propostas. Podem ocorrer, entre outras, duas situações:

• A ação penal foi julgada improcedente por falta de provas e, nesse caso, a ação
civil pode perfeitamente prosseguir;

• A segunda situação possível é a ação penal ser julgada procedente. Nesse caso,
a ação civil perde seu interesse jurídico, visto que a condenação penal transitada
em julgado já é um título executivo. O juiz, dessa forma, teria que extinguir a
ação civil por falta de interesse superveniente. Vale ressaltar que as custas
ficariam a cargo do réu, visto já ter sido apurada sua responsabilidade penal.

Encontramos exceção quando a ação estiver bem adiantada, já na fase de avaliação


do quantum debeatur, perfazendo uma perícia bastante onerosa, por exemplo. Nessa
situação, o juiz não extinguiria a ação civil, mas também não mais falaria sobre a culpa do
réu (visto já ter sido condenado penalmente), trataria apenas da liquidação do prejuízo.

b) Duas ações: uma penal e uma civil

A ação civil foi julgada improcedente e transitou em julgado por incompetência do


advogado. A ação penal condena o réu. Nesse caso, pode a vítima, que perdeu a ação no
âmbito civil, usar a sentença penal como título executivo? A opinião do STJ é que a
vítima não pode usar a sentença penal condenatória – mesmo após o trânsito em julgado –
como título executivo, visto que na esfera cível deve prevalecer a coisa julgada que, neste
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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

caso, especificamente, se formou em primeiro lugar. Uma única saída talvez fosse
possível nessa situação: a ação rescisória com a finalidade de anular a ação civil.

A sentença arbitral, regulamentada na nova Lei de Arbitragem, é prevista como título


executivo judicial.

O quarto título é a sentença homologatória de acordo. Quando o juiz homologa um


acordo, isso implica extinção do processo com julgamento de mérito, nos termos do artigo
269 do diploma processual. Ressalte-se que não é a homologação judicial que atribui
eficácia ao acordo, pois o que vale é a manifestação de vontade das partes, já que depende
disso. Depois de feito o acordo e antes de homologado, portanto, a parte não pode desistir
sem a anuência da outra.

As reformas operadas em dezembro de 2001, regulamentam de forma a não deixar


dúvidas quanto à natureza de títulos executivos judiciais da sentença arbitral e
homologatória de acordo. Assim, as alterações da lei incluem como títulos executivos
judiciais, no artigo 584 do diploma adjetivo, a sentença homologatória de conciliação ou de
transação, ainda que verse matéria não posta em juízo (reforçando a possibilidade legal de
autocomposição), e também a sentença arbitral.

O quinto título é a sentença estrangeira. Sobre esse título, vale dizer que é necessária
a homologação da sentença pelo Supremo Tribunal Federal.

O sexto título é o formal e a certidão de partilha, expedido após o inventário ou


arrolamento. Aquilo que consta do formal de partilha vale como título executivo.

A decisão do juiz, que defere a tutela antecipada, vale como título executivo judicial,
pois já pode ser efetivada, de acordo com a atual expressão utilizada pela lei, mesmo que
provisoriamente. O rol legal de títulos executivos é taxativo e, como a tutela antecipada foi
criada por lei, não fere a taxatividade.

2.2. Títulos Executivos Extrajudiciais


Os títulos executivos extrajudiciais encontram previsão no artigo 585 do Código de
Processo Civil, a exemplo do cheque, nota promissória, duplicata, letra de câmbio etc.

Quanto ao cheque, só é possível promover a sua execução enquanto não estiver


prescrito, podendo ser cobrado, quando assim estiver, por ação de cobrança ou ação
monitória.
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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A duplicata é um título causal, ou seja, só pode ser emitido com base em uma
determinada fatura (como a venda mercantil ou uma prestação de serviços). Se ela for
aceita (aceite do devedor), por si só já é suficiente para a execução. Se não aceita, poderá
ser executada, se vier acompanhada de dois documentos – nota fiscal, com respectivo
comprovante de entrega de mercadoria ou prestação do serviço, e o instrumento de
protesto.

A escritura pública e o instrumento particular feito pelo devedor e assinado por duas
testemunhas, também são títulos executivos extrajudiciais.

A lei considera título executivo o acordo firmado por duas pessoas e assinado por
seus advogados.

O contrato de locação tem validade de título executivo extrajudicial. Não é preciso


estar assinado por duas testemunhas.

O boleto de cobrança de condomínio não é título executivo extrajudicial e, portanto,


para ser cobrado, deve ser acionado em ação de cobrança, não em execução direta.

2.3. Da Competência para o Processamento das Execuções


As regras a respeito da competência para o processamento das execuções
encontram-se previstas nos artigos 575 a 579 do Código de Processo Civil, e diferenciam-
se a depender da natureza do título executivo.

a) Título executivo Judicial

A execução fundada em título executivo judicial tem como foro competente, em


regra, o juízo em que se decidiu a causa, em primeiro grau ou nos casos de competência
originária.

Exceção é apontada pelas disposições do artigo 575, inseridas pela reforma de


dezembro de 2001. Com efeito, a lei define a competência para a execução da sentença
arbitral como sendo o juízo cível competente, via de regra, o do local em que o laudo
arbitral foi efetivado. A mesma previsão de competência vale para a execução da sentença
penal condenatória transitada em julgado. Ambas as sentenças são títulos executivos
judiciais.

b) Título executivo extrajudicial

As regras de competência utilizadas para a execução dos títulos executivos


extrajudiciais são as mesmas utilizadas para a propositura de ações de conhecimento,
sendo, via de regra, o domicílio do réu, o local de cumprimento da obrigação, ou ainda, as
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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

previsões especiais, a exemplo do foro do alimentando para a execução de alimentos.


Remete-se ao estudo da competência.

3. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

A execução pressupõe título executivo que seja líquido e, portanto, pode ser
precedida de um processo de liquidação.

A liquidação será necessária quando houver condenação genérica (é aquela que não
estabelece o quantum debeatur ou não individualiza a coisa objeto da obrigação).

A liquidação, assim, é objeto de um novo processo, que complementa o processo de


conhecimento e prepara o processo de execução. Pode ter duas formas, segundo o Código
de Processo Civil: por artigos e por arbitramento.

Com a nova redação do artigo 604 do Código de Processo Civil, foi suprimida a
liquidação por cálculos do contador; se a apuração do crédito depender de uma operação
aritmética, o credor deve apresentar uma memória do cálculo e desde logo promover a
execução.

Para se opor a esse cálculo, o devedor se utiliza dos embargos do devedor.

Parte da doutrina entende que esse dispositivo (art. 604 do CPC) não se aplica à
Fazenda Pública, porque ele faz menção à execução por penhora, e a execução da Fazenda
Pública tem seu regime especial. Ressalta-se, também, a indisponibilidade do interesse
público.

O artigo 604 é inaplicável, em se tratando de pensão alimentícia, quer pela


indisponibilidade, quer pelo fato de a prisão poder ser decretada. Na execução de pensão
alimentícia, a prisão é uma das formas, e, além disso, quando o devedor é citado para pagar
sob pena de prisão, a ele é dado justificar as razões, quer já tenha pagado ou haja
impossibilidade de fazê-lo.

A supressão da liquidação por cálculo do contador não impede que o juiz se valha
do seu auxiliar da Justiça, que é a Contadoria. Aliás, outras não são as disposições
engendradas no texto do artigo 604 pela reforma operada no sistema, por meio da Lei n.
10.444/02 , in verbis:

"Art. 604...........................................................................

§ 1o Quando a elaboração da memória do cálculo depender de dados existentes


em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do credor, poderá
requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o cumprimento da
diligência; se os dados não forem, injustificadamente, apresentados pelo

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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

devedor, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo credor e a


resistência do terceiro será considerada desobediência.

§ 2o Poderá o juiz, antes de determinar a citação, valer-se do contador do juízo


quando a memória apresentada pelo credor aparentemente exceder os limites da
decisão exeqüenda e, ainda, nos casos de assistência judiciária. Se o credor não
concordar com esse demonstrativo, far-se-á a execução pelo valor
originariamente pretendido, mas a penhora terá por base o valor encontrado
pelo contador. ”(NR)

Em relação às execuções por quantia, o referido artigo já havia extirpado do


sistema, quando da mini-reforma de 1994, a liquidação por cálculo do contador, por
considerar acertadamente que, quando é necessário somente cálculo aritmético para a
apuração do quantum devido, com efeito, a sentença já é líquida. Assim, exige-se do
credor, em regra, a apresentação da memória de cálculo discriminada, e, se a memória
depender de dados em poder do devedor ou de terceiros para ser apresentada, o juiz deve
exigir a apresentação desses dados. O mecanismo utilizado é o mesmo referente à exibição
de documento ou coisa, tratando-se de verdadeiro ônus para a parte devedora, ou seja, a
partir da omissão o credor tem o direito de demonstrar seu crédito.

Porém, para o terceiro, é dever a apresentação em juízo dos dados solicitados, sob
pena de responder por crime de desobediência.

As modificações operadas pelo parágrafo 2.º referem-se à possibilidade de o juiz


controlar superficialmente, com o auxílio do contador do juízo, e sem homologação, o
valor apresentado pelo credor. Discordando o credor da correção preliminar feita em juízo
no valor do cálculo, a execução prosseguirá pelo valor originalmente apresentado por este;
todavia, a penhora terá como valor máximo o quantum apurado na correção feita em juízo,
visando a evitar danos irreparáveis decorrentes de excesso de execução. Assim, é reforçado
o entendimento que prevê o amplo cabimento de exceções de pré-executividade,
reconhecível de ofício pelo juiz, e fora dos embargos, portanto, sem necessidade de
garantir a execução.

3.1. A liquidação por Artigos


Essa modalidade de liquidação tem lugar quando é preciso alegar e provar fato
novo, para se chegar ao quantum debeatur. Sempre que houver insuficiência de provas na
liquidação por artigos, a sentença será de extinção sem julgamento de mérito (diferente do
processo de conhecimento, em que a sentença será de improcedência).

3.2. A Liquidação por Arbitramento


Nesta modalidade de liquidação, não há necessidade de se alegar fato novo, mas
apenas de quantificar o que já está expresso, em termos qualitativos, pela sentença.
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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Exemplo: alguém danificou determinado bem da pessoa. É preciso, apenas, determinar o


valor da indenização.

Para isso a lei estabelece que o juiz se valha de um perito, pois, com efeito, arbitramento
nada mais é que modalidade de perícia valorativa, geralmente atribuindo valor a bens que
não sejam objeto de avaliação, a exemplo dos incorpóreos, ou ainda nos casos de serviços
prestados.

Tanto na liquidação por artigos quanto na liquidação por arbitramento, teoricamente,


é possível chegar à liquidação zero, ou seja, apesar de reconhecido o dever de pagar, em
concreto a obrigação não ter valor.

A sentença que a decretar é uma sentença de mérito e, como tal, fará coisa julgada
material. Para outra parte da doutrina, se o autor não provar, na liquidação, o quantum debeatur,
ele pode promover outra liquidação para prová-lo.

O processo de liquidação finda por sentença, que é apelável, sendo recebida


somente no efeito devolutivo. Excepcionalmente, quando houver liquidações incidentais, a
exemplo de obrigações de entrega de coisa cujo objeto haja perecido, convolando-se em
perdas e danos, a liquidação será finda por meio de interlocutória, e será atacável pelo
recurso de agravo.

Não se confunde sentença de liquidação, que é apelável, com decisões sobre


atualizações de valores, que são agraváveis.

Na liquidação, é vedado discutir novamente a lide. É a regra da fidelidade da


liquidação ao título executivo (art. 610 do CPC).

A liquidação precisa respeitar a coisa julgada e a eficácia preclusiva da coisa


julgada.

4. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL

Inicialmente, é necessário distinguirmos débito de responsabilidade. No


débito, o sujeito deve, sendo ele o titular da obrigação de pagar. Na
responsabilidade, a pessoa responde, com o seu patrimônio, pelo pagamento do
débito.

Na maioria das vezes, quem possui o débito possui também a responsabilidade


(obrigações civis). Todavia, há determinados casos em que a pessoa tem o débito, mas não
a responsabilidade (a exemplo das obrigações naturais. Exemplo clássico é o da obrigação
natural de um devedor de jogo proibido – tem o débito, mas não existe uma forma de
acioná-lo judicialmente, visto que o objeto é ilícito, causando a carência da ação. Outro
exemplo é a dívida prescrita).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Outra situação corrente se dá quando a pessoa não tem o débito, mas tem a
responsabilidade, a exemplo da fiança – contrato pelo qual alguém sujeita seu patrimônio
a uma dívida que não é sua.

Para a execução, só pode ser sujeito passivo quem tem o débito, porém, a execução
admite que a ação recaia sobre o patrimônio de quem tem a responsabilidade, mesmo que
essa pessoa não seja o titular do débito. Exemplo: empresa fantasma – o sócio abre uma
empresa com amigos e faz empréstimos em um determinado banco em nome da empresa,
não investindo o dinheiro, adquirido pelos empréstimos, na empresa, apesar de o
empréstimo ter esta finalidade. Quando da execução, o juiz percebe que a empresa não
possui nada em seu nome e desconfia da fraude. O juiz pode decretar a desconsideração
da personalidade jurídica da empresa e penhorar os bens dos sócios, mesmo que eles não
integrem o pólo passivo da relação jurídica (banco x empresa). Caso os sócios queiram
contestar essa decisão do juiz, podem opor embargos de terceiros (seria esse o recurso,
pelo fato de os sócios não fazerem parte do pólo passivo da relação), argumentando a
inexistência de fraude na relação, o que obrigaria o juiz a se estender um pouco mais no
estudo da eventual fraude.

Indaga-se: um dos cônjuges contrai uma dívida (emite uma promissória) sem a
assinatura do título pelo outro cônjuge. Nesse caso, o cônjuge que não assinou o título
responde pela dívida contraída pelo outro? Depende. Se a dívida beneficiar apenas o
cônjuge que contraiu a dívida, o outro não responderá. Por outro lado, se a dívida
contraída pelo cônjuge for revertida em proveito da família, então o outro responderá por
ela também, e aqui encontramos uma presunção relativa de que qualquer dívida, contraída
por um dos cônjuges, beneficia aos dois. Nesse caso, o outro cônjuge tem que provar que
não adquiriu nenhum benefício proveniente da dívida, ou seja, o ônus da prova é do
cônjuge que não contraiu dívida nenhuma. Existem duas exceções a essa regra.
Importante ressaltar que as regras dispostas a seguir valem para qualquer regime de bens:

• Dívida de aval: se um dos cônjuges der o seu aval, apenas os bens dele
respondem pela obrigação assumida. Diferentemente da fiança, que obriga a
existência da outorga uxória.

• Dívida decorrente de ato ilícito.

Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, no caso de um dos


cônjuges ser acionado pelo banco, o outro cônjuge, apesar de não ser devedor, pode
escolher qual embargo prefere opor: se embargos de devedor (caso queira discutir a
dívida) ou embargos de terceiro (caso queira livrar os seus bens). No caso do cônjuge
preferir opor embargos de devedor, surge uma situação de legitimação extraordinária ou
substituição processual oriunda da jurisprudência, não da lei, que é a regra.

Existem duas formas para calcular a meação:

• Soma de todos os bens em dinheiro e divisão pela metade.

• Cálculo global: calcula-se bem a bem, dividindo-se o valor de cada um pela


metade.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O cálculo admitido pela doutrina e a jurisprudência é o global.

No caso de dívida contraída por um cônjuge, que não reverteu para a família, o
bem vai inteiro a hasta pública e a metade é devolvida ao outro cônjuge, sem prejuízo.
Nesse caso, quando a penhora recair sobre bem imóvel, o outro cônjuge tem que ser
citado – ato que abre o prazo para o outro cônjuge opor embargos de terceiro.

Outra situação interessante sobre responsabilidade patrimonial é a fraude na


execução, que ocorre quando a pessoa do devedor vende bens e fica insolvente. A fraude
aqui é mais grave, porque já existe a demanda contra ele.

Para a caracterização da fraude na execução, é necessário o preenchimento de dois


requisitos: alienação de bens e insolvência na execução. Para que haja esse tipo de fraude, é
preciso que o devedor efetue a alienação dos bens a partir da citação do processo de
conhecimento; mas o juiz do conhecimento não pode decretar a citada fraude, visto que o
devedor pode repor o bem que alienou. A fraude à execução só pode ser decretada na fase de
execução, quando finda a possibilidade de o devedor voltar a ser solvente.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Teoria Geral da Prova

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Teoria Geral da Prova

Prof. Fernando Capez

1. DA PROVA

1.1. Conceito
Prova é todo elemento trazido ao processo, pelo juiz, pelas partes ou por terceiros
(exemplo: peritos), destinado a comprovar a realidade de um fato, a existência de algo ou a
veracidade de uma afirmação. Sua finalidade é fornecer subsídios para a formação da
convicção do julgador.

1.2. Objeto de Prova


São objetos de prova os fatos principais e secundários capazes de influenciar a
responsabilidade criminal do réu, a aplicação da pena e a medida de segurança. Alguns fatos,
entretanto, não podem ser objetos de prova. São eles:

• O direito não pode ser objeto de prova, pois o juiz o conhece (iura novit curia);
salvo se for direito consuetudinário, estrangeiro, estadual ou municipal.

• Os fatos axiomáticos, evidentes.

• Os fatos notórios. O fato axiomático é diferente do fato notório, que é aquele de


conhecimento geral, que faz parte da história e refere-se a fatos políticos, sociais
ou fenômenos da natureza.

• Os fatos irrelevantes, ou seja, aqueles incapazes de influenciar a


responsabilidade criminal do réu no caso concreto.

• Os fatos sobre os quais incide presunção absoluta (iuris et de iure). Exemplo:


incapacidade do menor de 18 anos de entender o caráter criminoso do fato; não
se admite prova em contrário.

Atenção: no Processo Penal, os fatos incontroversos também são objeto de prova;


não se aplica a regra que incide no Processo Civil.
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.3. Classificação das Provas


• Prova Direta: refere-se diretamente ao tema probandu. Exemplo: testemunha
presencial, exame de corpo de delito.

• Prova Indireta: refere-se indiretamente ao tema probandu. Exemplo: álibi


apresentado pelo acusado.

• Prova Pessoal: a prova emana de uma pessoa. Exemplo: interrogatório,


testemunha.

• Prova Documental: a prova é produzida por meio de documentos.

• Prova Material: refere-se a objetos. Exemplo: instrumentos do crime, arma do


crime.

• Prova Plena: é a prova que conduz a um juízo de certeza.

• Prova Não Plena: é a prova que conduz a um juízo de probabilidade. Para a


decisão de pronúncia aceita-se a prova não plena, mas para a condenação é
necessária a prova plena.

1.4. Meios de Prova


Meios de prova são os métodos por meio dos quais a prova pode ser levada ao
processo. Os meios de prova podem ser:

• nominados: são os documentos, acareações, reconhecimento de pessoas e objetos,


interceptação telefônica, interrogatório. São todos os meios de prova previstos na
legislação;

• inominados: são aqueles meios de prova que não estão previstos expressamente
na legislação. Exemplo: juntar fita de vídeo, contendo imagens de um programa
de TV em que o acusado aparece, a fim de mostrá-lasaos jurados.

1.5. Sujeitos da Prova


Os sujeitos da prova são as pessoas incumbidas de levar ao juiz os meios de prova.
São as testemunhas, com o depoimento; o réu, com o interrogatório; o perito, com o laudo
etc.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.6. Princípios Relativos à Prova


• Princípio da Comunhão da Prova: uma vez trazida aos autos, a prova se
incorpora ao processo. Por essa razão, a prova trazida por uma das partes pode
ser usada pela parte contrária. Além disso, uma vez admitida a prova, para que a
parte desista dela, deve haver anuência da parte contrária.

• Princípio da Audiência Contraditória: à parte contrária sempre deve ser dado o


direito de impugnar a prova produzida pelo ex adverso.

• Princípio da Liberdade dos Meios de Prova: no Processo Penal são admitidos


todos os meios de prova, nominados ou inominados, em homenagem ao
princípio da verdade real. Esse princípio, contudo, não é absoluto, pois não se
admitem as provas ilegais, que se subdividem em provas ilícitas e ilegítimas.

Prova ilícita é a prova produzida com desrespeito à regra de direito material.


Exemplo: confissão mediante tortura. Prova ilegítima é a prova produzida com desrespeito
à regra de direito processual. Exemplo: exibição em plenário de documento sem dar
ciência à parte contrária com pelo menos três dias de antecedência.

No Brasil adota-se a “teoria dos frutos da árvore envenenada” trazida do direito


norte-americano. Segundo essa teoria, a prova, ainda que lícita, mas decorrente de outra
prova ilícita, não pode ser aceita. Exemplo: o réu, mediante tortura, aponta três
testemunhas. Essas testemunhas são chamadas a Juízo. A oitiva dessas testemunhas, apesar
de lícita, será considerada ilícita, pois se originou de uma prova ilícita. Não poderá ser
aceita.

1.7. Ônus da Prova


O ônus da prova é o encargo que recai sobre as partes, impondo-lhes o dever de
provar algo, sob pena de suportar uma situação processual adversa.

A acusação deve fazer prova da autoria e da materialidade do delito. Deve fazer


prova plena desses elementos. Compete, ainda, à acusação fazer prova do elemento
subjetivo, isto é, do dolo da ação ou do elemento normativo, ou seja, a culpa: provar que o
agente agiu com imprudência, negligência ou imperícia.

A defesa deve provar os fatos impeditivos (excludentes de ilicitude), extintivos


(causas de extinção da punibilidade) ou modificativos (desclassificação ou causas de
diminuição da pena) do direito do autor. A defesa não precisa produzir prova plena, basta o
juízo de probabilidade.

3
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PROCESSUAL PENAL

1.8. Sistemas de Apreciação da Prova


Sistema Primitivo (hoje abandonado). Utilizavam-se dois sistemas: o sistema
religioso e o sistema étnico ou pagão. O sistema religioso invocava a divindade para
apreciar as provas, qualquer que fosse o julgamento (duelos etc.). No sistema étnico ou
pagão, a apreciação das provas era feita de forma empírica, sem qualquer regra.

Sistema Moderno. São três os sistemas modernos:

• Sistema da íntima convicção ou da certeza moral do julgador. Nesse sistema, a


decisão fica a cargo do juiz, que decide observando certas regras, porém, não há
necessidade de fundamentação do julgamento. Dá ensejo a abusos.

• Sistema da prova legal ou da certeza moral do legislador. A lei fixa um regime


tarifado de provas, preestabelecendo o valor de cada prova.

• Sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional do juiz. Nesse


sistema, o julgador tem liberdade para decidir, formando sua convicção pela
livre apreciação das provas, porém, com a obrigação de fundamentar seu
julgamento.

O Código de Processo Penal adota o sistema do livre convencimento motivado. Há


uma exceção estabelecida no Código: para o Tribunal do Júri aplica-se o sistema da íntima
convicção, uma vez que os jurados não podem fundamentar suas decisões.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO TRIBUTÁRIO
A CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

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___________________________________________________________________________MÓDULO XI
DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO

A Constituição do Crédito Tributário

1. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO

Quando ocorre o fato gerador in concreto, nasce a obrigação tributária. Essa, ao


surgir, apresenta um sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto.

1.1. Objeto do Crédito Tributário


Objeto do crédito tributário é a quantia a ser paga a título de tributo (quantum
debeatur). No instante em que nasce a obrigação tributária, surge o crédito tributário.
Quase sempre, porém, o crédito tributário origina-se com característica de iliquidez,
exigindo-se a liquidação de seu valor, para que se torne certo quanto à sua existência e
determinado quanto ao seu objeto.

1.2. Lançamento
É o ato administrativo de aplicação da norma tributária material ao caso
concreto. Fornece a resposta das seguintes indagações:

Quem é o contribuinte?

Quanto ele deve ao Fisco?

Onde ele deve efetuar o pagamento do tributo?

Como ele deve efetuar o pagamento do tributo?

Quando ele deve efetuar o pagamento do tributo?

O lançamento não faz nascer o tributo, que tem por fonte a lei, dela derivando
imediatamente – ato administrativo vinculado. O lançamento não passa de um mecanismo
jurídico que dá liquidez, certeza e exigibilidade ao tributo, que lhe é lógica e
cronologicamente anterior.

O lançamento, portanto, é um ato administrativo declaratório (segundo o artigo 142 do


Código Tributário Nacional), não faz nascer o tributo, apenas declara o seu montante. Seus
efeitos operam ex tunc, retroagem à data da ocorrência do fato imponível.
1
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO TRIBUTÁRIO

Pelo princípio tempus regit actum, a lei aplicável é a vigente à época da ocorrência do
fato imponível, característica da ultratividade da lei tributária:

Artigo 144 do Código Tributário Nacional: “O lançamento reporta-se à data da


ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que
posteriormente modificada ou revogada.”

1.3. Natureza Jurídica do Lançamento


Para o artigo 142 do Código Tributário Nacional, o lançamento é entendido como
“procedimento administrativo”.

Segundo HELY LOPES MEIRELLES, procedimento administrativo “é a sucessão ordenada


de operações que propiciam a formação de um ato final objetivado pela Administração” 7

A melhor interpretação, no entanto, é no sentido de que o lançamento é um ato


administrativo que pode ser resultado de um procedimento administrativo, sem com este
confundir-se.

Ocorrido o fato imponível, o tributo nasce; mas ele não pode ser voluntariamente
pago pelo contribuinte – e, muito menos, exigido pela Fazenda Pública – sem o
lançamento.

O lançamento consubstancia o crédito tributário, declarando, formal e solenemente,


quem é o contribuinte e o quanto ele deve ao Fisco.

Com o lançamento, a obrigação tributária que já existia, mas era ilíquida e incerta,
passa a ser líquida e certa, exigível em data e prazo determinados.

Segundo ALBERTO XAVIER, o lançamento não passa de um ato complementar que age
como título jurídico da obrigação tributária.8

Por ser um ato administrativo, o lançamento goza das presunções de


legitimidade e de veracidade, até prova em contrário, a ser produzida pelo contribuinte
(princípio da predominância do interesse público sobre o interesse privado).

O lançamento é um ato administrativo vinculado. O agente administrativo apenas


cumpre a lei. O agente fiscal é obrigado a lançar no estrito termo da lei. Aquele que
descumpri-la incide em responsabilidade funcional (artigo 142, parágrafo único, do Código
Tributário Nacional).

Por ser vinculado, o lançamento é apenas anulável (não é revogável). Isso porque os atos
administrativos vinculados não podem ser revogados (por conveniência e oportunidade). A
anulação do lançamento pode ser decretada, pelo Poder Executivo, de ofício ou a requerimento

7
Direito Administrativo Brasileiro. 26.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 148.
8
Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro. Resenha Tributária, 1977.
2
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO TRIBUTÁRIO

do prejudicado, ou pelo Poder Judiciário, somente mediante provocação da parte interessada


(ação anulatória de débito fiscal – prazo de 5 anos após o lançamento).

De acordo com a maior ou menor participação do contribuinte na prática do ato


administrativo do lançamento, esse pode ser:

• direto (ofício): feito diretamente pelo Fisco. O contribuinte não é chamado para
colaborar com a Fazenda Pública para que o lançamento se constitua. Exemplo:
Imposto Predial e Territorial Urbano.

• misto (por deliberação): feito pelo Fisco em concurso com o contribuinte.


Exemplos: Imposto de Importação e Imposto de Exportação.

• por homologação (autolançamento): realizado pelo contribuinte ad referendum


da Fazenda Pública, que verifica os cálculos apresentados e, se aprovados,
homologa-os. Estando em desacordo, a Fazenda Pública os glosa. Exemplo:
ICMS (Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre
prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação).

Observação: Aconselha-se ler o artigo 150 do Código Tributário Nacional.

1.4. Notificação
O lançamento é levado ao conhecimento oficial do contribuinte por meio da
notificação, que é o ato administrativo que dá eficácia ao lançamento. Deve-se operar in
persona, na pessoa do contribuinte, em princípio. Pode ser feito pelo correio com aviso de
recebimento. Sempre, porém, será dado ao contribuinte fazer prova de que não foi
notificado, sem sofrer ônus.

A notificação é acessória em relação ao lançamento. Se este é válido e aquela


nula, basta que se faça nova notificação. A recíproca, no entanto, não é verdadeira.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VI

DIREITOS HUMANOS

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DIREITOS HUMANOS

DIREITOS HUMANOS

Instrumentos Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos

1. SISTEMA GLOBAL

Vamos fazer uma breve análise dos Direitos da Mulher dentro dos Direitos
Humanos. É evidente que, quando se fala de Direitos Humanos, estamos abarcando os
direitos dos homens e das mulheres, mas, aqui, faremos uma análise mais específica das
necessidades das mulheres, pois, sem dúvida nenhuma, há sérios problemas a serem
enfrentados para que a mulher tenha seus direitos respeitados.

Nas palavras de SILVIA PIMENTEL: “Se fundamental o reconhecimento de todos e cada


ser humano, enquanto cidadão, sujeito de direitos e deveres, se fundamental a liberdade de
expressão, o direito de votar e de ser eleito, que são, dentre outros, direitos civis e políticos,
esses se revelaram insuficientes e nova geração se impôs: a dos direitos econômicos e
sociais (já estudados nos módulos anteriores). O cidadão, pessoa concreta, precisa
alimentar-se, educar-se e contar com determinadas e efetivas condições materiais para uma
vida digna. Mas esses direitos também se revelaram insuficientes, pois a sociedade é mais
do que a soma de indivíduos, ela é composta de indivíduos e grupos que dialogam e se
interpenetram. Há de se reconhecer, portanto, o direito desses grupos. Daí o surgimento dos
Direitos Coletivos, o que representou o reconhecimento de direitos fundamentais de grupos
tais como os sindicatos de trabalhadores, entidades de deficientes, indígenas, de negros,
homossexuais e especificamente os vários grupos de mulheres, com suas demandas e
pressões”.(grifo nosso)

Podemos então perguntar: Serão as mulheres consideradas como um grupo ou como


grande parte da humanidade? Na verdade a humanidade pode ser dividida em duas partes: os
homens e as mulheres. E, tendo essa situação em vista, como analisarmos a situação das mulheres
face às discriminações por elas sofridas?

Sem dúvida nenhuma, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948


veio solucionar uma série de problemas enfrentados pelas mulheres. Há um princípio
fundamental nele determinado: o da igualdade para todos os seres humanos.

O objetivo fundamental deste estudo é o de estabelecer os direitos humanos da


mulher no contexto internacional.

De acordo com a Profa. FLÁVIA PIOVESAN, para estabelecer os direitos humanos da


mulher na ordem internacional deve-se, inicialmente, examinar o chamado “processo de
especificação do sujeito de direito”, que estimulou a criação do sistema especial de
proteção dos direitos humanos. A seguir, serão analisadas as formas de Discriminação
contra a Mulher e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência

1
___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

contra a Mulher, que constituem alguns dos mais relevantes instrumentos voltados à
proteção dos direitos humanos da mulher na ordem internacional.

Ao analisarmos a História, tomamos consciência de que vozes femininas


isoladas se fizeram ouvir e de que ações audaciosas foram seguidas de reações rígidas
e algumas vezes cruéis, como confinamentos, guilhotina e outras formas de
cerceamento de direitos. Como exemplo, podemos citar o caso de Olimpe de Gouges
que, na época da Revolução Francesa, ousou reivindicar igualdade para a mulher.

Após esse prenúncio de exigência de direitos, podemos citar, em 1948, Eleonor


Roosevelt e as latino-americanas que conseguiram introduzir a palavra sexo no artigo 2.º da
Declaração dos Direitos Humanos, “que garante a todos os direitos e liberdades sem
distinção de qualquer espécie, tais como raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou
de outra natureza, origem nacional ou social, propriedade, condição de nascimento ou outra
condição”. Mas, de acordo com SILVIA PIMENTEL, “a importância desse preceito, praticamente,
não conseguiu transcender seu aspecto formal, principalmente quanto às mulheres”.

Em 1975, início do período que foi considerado a Década da Mulher, promovida


pela ONU, as instituições e os órgãos responsáveis pelo estudo e aplicação dos assuntos
relativos aos Direitos Humanos foram bastante criticados, pois os interesses e os problemas
da mulher estavam sendo esquecidos e, até mesmo, graves violações à dignidade da mulher
não eram levadas em consideração.

Como fazer, então, para que os Direitos Humanos, em sentido lato, fossem
respeitados?

Diz a Profa. FLÁVIA PIOVESAN: “A partir da Declaração Universal de 1948, começa a se


desenvolver o Direito Internacional dos Direitos Humanos, mediante a adoção de inúmeros
tratados internacionais voltados à proteção dos direitos humanos, no âmbito das Nações
Unidas.”

“Esse sistema normativo, por sua vez, é integrado por instrumentos de alcance geral
(como os Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais de 1966) e por instrumentos de alcance específico, como as
Convenções Internacionais que buscam responder a determinadas violações de direitos
humanos, como a tortura, a discriminação racial, a discriminação contra a mulher, a
violação dos direitos da criança, dentre outras formas de violação.”

“Firma-se, assim, no âmbito do sistema global, a coexistência dos sistemas geral e


especial de proteção dos direitos humanos, como sistemas de proteção complementares.”

“O sistema especial de proteção realça o processo de especificação do sujeito de


direito, no qual o sujeito passa a ser visto em sua especificidade e concreticidade (ex.:
protegem-se as mulheres, as crianças, os grupos étnicos minoritários, as vítimas de tortura
etc.). Já o sistema geral de proteção (ex.: Pacto da ONU de 1966) tem por endereçado toda
e qualquer pessoa, concebida em sua abstração e generalidade.”

2
___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

“Com o processo de especificação do sujeito de direito, mostra-se insuficiente tratar


o indivíduo de forma genérica, geral e abstrata. Torna-se necessária a especificação do
sujeito de direito, que passa a ser visto em suas peculiaridades e particularidades. Nessa
ótica, determinados sujeitos de direito, ou determinadas violações de direitos, exigem uma
resposta específica, diferenciada. Nesse sentido, as mulheres devem ser vistas nas
especificidades e peculiaridades de sua condição social. Importa o respeito à diferença e à
diversidade, o que lhes assegura um tratamento especial”. (grifos nosso).

2. CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE


DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER

Em 1979, as Nações Unidas aprovaram a “Convenção sobre a Eliminação de Todas


as Formas de Discriminação Contra a Mulher”, ratificada pelo Brasil em 1984 e, hoje, por
109 países.

Fazendo um pequeno apanhado, pode-se “retroceder a um dos primeiros


documentos históricos de proteção de direitos humanos, oriundo da Revolução Francesa
(Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789), que nos reporta, como acima
mencionado , à história de Olimpe de Gouges, escritora que morreu guilhotinada em
3.11.1793 por ousar desejar igualdade política para mulheres e homens em sua célebre
Déclaration des droitis de la Femme e de la citoyanne (1791)”.

Para nós, entretanto, interessa o passado mais próximo, com a edição da Convenção
Interamericana.

A Convenção foi aprovada pela Assembléia Geral da Organização dos Estados


Americanos em 9.6.1994 e ratificada pelo Brasil em 27.11.1995.

Essa Convenção tem como fundamentos eliminar a discriminação e assegurar


igualdade. E essa igualdade é considerada, na Convenção, como “princípio vinculante e
como um objetivo final”.

Para a Convenção, discriminação contra a mulher significa “toda distinção, exclusão ou


restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o
reconhecimento, gozo, exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, com
base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e das liberdade fundamentais
nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo”(art. 1.º).
“Logo, discriminação significa sempre desigualdade”.

A discriminação da mulher viola os princípios de igualdade de direitos e respeito à


dignidade humana, constitui um obstáculo para o aumento do bem estar da sociedade e da
família e entorpece o pleno desenvolvimento das possibilidades da mulher para prestar
serviços a seu país e à humanidade.

3
___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

A Convenção determina, portanto, a erradicação de toda discriminação contra as


mulheres, para garantir-lhes o pleno exercício de seus direitos civis, políticos, sociais,
econômicos e culturais. Estabelece a Declaração Universal em relação direta com a
indivisibilidade dos direitos humanos.

Apesar de sua abrangência e de sua importância, essa Convenção apresenta, ainda,


omissões graves, como a da violência doméstica, a não objetividade em relação às questões
ligadas à sexualidade e reprodução. Esses temas são, apesar de todos os avanços técnicos e
humanitários, considerados tabus para os Estados signatários.

Na verdade, devemos também ressaltar que essa Convenção representou um


importantíssimo reconhecimento das específicas necessidades das mulheres, embora longe
do ideal reconhecimento universal a esse respeito.

Nos dizeres de MÔNICA DE MELO e de HELENA O. L. DE FARIA, “no que toca à preocupação
com os direitos da mulher, na órbita das Nações Unidas e da Organização dos Estados
Americanos, de forma particularizada, destaca-se a Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (ONU – 1979), a Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (OEA – 1994)
e a Declaração de Pequim (1995). Todos esses documentos têm a mulher como
preocupação central, como foco principal de proteção, pois constatou-se, ao longo do
tempo, a insuficiência da fórmula de “igualdade entre todos” presente nos documentos
gerais iniciais, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU – 1948) e
repetida na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (OEA – 1948).

Nesta linha de pensamento, declara SILVIA PIMENTEL: “Embora o Comitê de Direitos


Humanos das Nações Unidas para a implementação dos Direitos Civis e Políticos tenha
declarado que os governos não podem oferecer tratamento diferente às mulheres do que o
oferecido aos homens, no que diz respeito aos seus direitos relativos à nacionalidade e
direitos inerentes ao contexto familiar, tais como consentimento ao casamento,
responsabilidades pelos filhos, divórcio, escolha de residência e nome; embora
organizações regionais de direitos humanos tais como a Comissão Européia de Direitos
Humanos e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos também tenham considerado
a discriminação em razão de sexo como uma violação aos direitos humanos, os direitos da
mulher receberam pouca atenção nas comunidades envolvidas com direitos humanos, em
níveis local e internacional.

A implementação dos direitos humanos não tem automaticamente os mesmos


resultados para o homem e para a mulher. A mudança de um governo repressivo para um
governo aberto politicamente, por exemplo, não garante que a mulher possa exercer seus
direitos civis e políticos. Elas podem ser obstaculizadas pelos costumes, pelo autoritarismo
dentro da família, que as impede mesmo de votar ou participar de encontros e reuniões.
Elas podem ser proibidas, pela lei ou pelo costume, de buscar apoio nos tribunais. Todos os
grupos ou organizações necessitam, especificamente, de interessar-se e argüir se as
mulheres estão impedidas, pela lei, cultura ou circunstâncias, de exercer seus direitos em
igualdade de condições com os homens”.

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___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

Ratificando a Convenção, os Estados-Membros assumem o compromisso de,


progressivamente, eliminar todas as formas de discriminação, no que tange ao sexo,
assegurando a efetiva igualdade entre eles. Senão vejamos: “Os Estados devem eliminar
todas as violações dos direitos humanos e suas causas, assim como os obstáculos que se
oponham à realização desses direitos”.

Enfocando esse aspecto, a Prof. FLÁVIA PIOVESAN declara tratar-se de obrigação


internacional assumida pelo Estado. Obrigação que também prevê, por exemplo, a
necessidade de adoção de políticas igualitárias, bem como de legislação igualitária e
educação não estereotipada, etc. No dizer de ANDREW BYRNES: “A Convenção, em si mesma,
contém diferentes perspectivas sobre as causas de opressão contra as mulheres e as medidas
necessárias para enfrentá-las. Ela impõe a obrigação de assegurar que as mulheres tenham
uma igualdade formal perante a lei e reconhece que medidas temporárias de ação afirmativa
são necessárias em muitos casos, se as garantias de igualdade formal devem se transformar
em realidade. Inúmeras previsões da Convenção também incorporam uma preocupação de
que os direitos reprodutivos das mulheres devem estar sob o controle delas próprias, e que o
Estado deve assegurar que as escolhas das mulheres não sejam feitas sob coerção e não
sejam a elas prejudiciais, no que se refere ao acesso às oportunidades sociais e econômicas.
A convenção também reconhece que há experiências, às quais as mulheres são submetidas,
que necessitam ser eliminadas (como estupro, assédio sexual, exploração sexual e outras
formas de violência contra as mulheres). Em suma, a Convenção reflete a visão de que as
mulheres são titulares de todos os direitos e oportunidades que os homens podem exercer;
adicionalmente, as habilidades e necessidades que decorrem de diferenças biológicas entre
os gêneros devem também ser reconhecidas e ajustadas, mas sem eliminar da titularidade das
mulheres a igualdade de direitos e oportunidades”.

A Convenção tem por escopo, portanto, extirpar toda discriminação e todas as


causas da discriminação contra a mulher e promover situações em que exista absoluta
igualdade entre ambos os sexos.

Eis aqui alguns importantes pontos consagrados:

1. O reconhecimento expresso da insuficiência/inoperância/ inadequação das


atividades das Nações Unidas no tratamento do tema dos direitos humanos. No
entender das mulheres, “em todas as regiões descobriu-se que as Nações Unidas
e os Governos, de um modo geral, fracassaram em promover e proteger os
direitos humanos das mulheres, fossem eles civis, políticos ou econômicos,
sociais e culturais”. A Declaração de Viena, por sua vez, admite a necessidade de
se racionalizar e melhorar as atividades das Nações Unidas, reforçando seus
mecanismos e propiciando os objetivos de respeito universal e observância das
normas internacionais de direitos humanos.

2. A designação de um Relator Especial sobre a Violência Contra a Mulher por meio


da Comissão de Direitos da ONU, embora não tenham sido designados relatores
para atuar em relação a outros aspectos das violações do gênero.

3. A solicitação a todos os Estados que ainda não ratificaram a Convenção sobre a


Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher para que
5
___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

fizessem até o ano 2000, embora as mulheres o tenham solicitado para 1995, ano da
Conferência Mundial sobre a Mulher, em Beijing.

4. A solicitação aos Estados para que retirem todas as reservas que sejam contrárias
aos objetivos e finalidades da referida Convenção da Mulher ou que sejam
incompatíveis com o direito internacional convencional.

5. O apoio à adoção de um protocolo opcional (facultativo) da Convenção da


Mulher, a fim de introduzir um direito a recurso, estabelecendo procedimentos
para a apresentação de queixas individuais por parte das mulheres.

6. O treinamento e a capacitação para o pessoal das Nações Unidas, especializado


em direitos humanos e ajuda humanitária, com o objetivo de ajudá-lo a
reconhecer e fazer frente aos abusos de direitos humanos de que são vítimas as
mulheres. Vale ressaltar que essa formação e capacitação a partir de uma
perspectiva de gênero, no entender das mulheres, deveria se estender a todo o
pessoal das Nações Unidas e não somente àquele ligado à área dos direitos
humanos.

7. A solicitação para que a Assembléia Geral aprove o Projeto de Declaração sobre


a Violência Contra a Mulher, instando a todos os Estados que examinem e
combatam a violência contra a mulher.

8. O direito fundamental das mulheres a serviços de saúde acessíveis, especialmente


numa perspectiva de planejamento familiar. Vale salientar que a proposta das
mulheres, sem dúvida, abrange direitos mais amplos, incluindo os ligados à
reprodução humana, como aborto e esterilização voluntária.

9. A necessidade de assegurar a universalidade dos direitos humanos, instando aos


governos que tomem medidas apropriadas para combater todas as formas de
intolerância, especialmente aquelas de ordem religiosa e cultural, incluindo as
práticas de discriminação contra as mulheres.

10. A Conferência ressalta “a importância do esforço destinado a eliminar a


violência contra a mulher na vida pública e privada, a eliminar todas as formas
de assédio sexual, a exploração e o tráfico de mulheres, a eliminar os
preconceitos sexistas na administração da justiça e a erradicar quaisquer
conflitos que possam surgir entre os direitos da mulher e as conseqüências
prejudiciais de certas práticas tradicionais ou costumes, de preconceitos culturais
ou do extremismo religioso”.

11. A adoção de um planejamento global que compreenda a formulação de


estratégias para abordar as causas profundas e os efeitos dos movimentos dos
refugiados, com a melhoria dos mecanismos de correção, concessão de proteção
e assistência eficazes, tendo presentes as necessidades específicas das mulheres
refugiadas”.

6
___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos possui, além das funções


administrativas ligadas à averiguação e interposição de demandas perante a Corte
Interamericana e funções jurisdicionais consubstanciadas na conciliação, também funções
políticas presentes no artigo 41 da Convenção, que estabelece que a principal função da
Comissão é o estímulo da conscientização das realidades envolvendo o respeito aos
direitos humanos entre os povos da América, formulando recomendações aos governos dos
Estados-Membros da OEA no sentido de adotarem medidas progressivas em prol dos
direitos humanos. Destarte, a Comissão Interamericana faz relatórios e visitas ad hoc para
avaliar a real importância e as possíveis violações aos direitos humanos.

A Convenção estabelece, portanto, como mecanismo de implementação dos direitos


humanos, a sistemática dos relatórios. Assim sendo, os Estados-Membros devem
encaminhar relatórios ao Comitê das Nações Unidas para a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Contra a Mulher. “Esses relatórios devem evidenciar o modo pelo qual
estão implementando a Convenção – quais as medidas legislativas, administrativas e
judiciárias adotadas para esse fim. O Estado tem, então, que prestar contas a organismos
internacionais da forma pela qual protegem os direitos das mulheres, o que permite o
monitoramento e fiscalização internacional. Muitos Estados se preocupam com o fato de o
Comitê realizar comentários positivos ou negativos acerca de sua política de direitos
humanos. Uma avaliação positiva em um fórum internacional, a respeito do desempenho e
dos esforços de um Estado, pode dar ensejo a progressos futuros. Uma avaliação crítica
pode causar embaraços ao governo, no plano doméstico e internacional, idealmente
significando um incentivo para que se empenhe mais no futuro”.

Declara a Profa. FLÁVIA PIOVESAN que aquela Convenção “é o instrumento internacional


que mais fortemente recebeu reservas dentre as Convenções Internacionais de Direitos
Humanos, considerando que ao menos 23 dos 100 Estados-Membros fizeram, no total, 88
reservas substanciais. A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra a Mulher pode enfrentar o paradoxo de ter maximizado sua aplicação universal ao
custo de ter comprometido sua integridade. Por vezes, a questão legal acerca das reservas
feitas à Convenção atinge a essência dos valores da universalidade e integridade. A título de
exemplo, quando da ratificação da Convenção, em 1984, o Estado brasileiro apresentou
reservas ao art. 15, § 4.º, e ao art. 16, § 1.º, “a”, “c”, “g” e “h”. O artigo 15 assegura a homens
e mulheres o direito de, livremente, escolher seu domicílio e residência. Já o artigo 16
estabelece a igualdade de direitos entre homens e mulheres no âmbito do casamento e das
relações familiares. Em 20.12.1994, o Governo brasileiro notificou o Secretário Geral das
Nações Unidas acerca da eliminação das aludidas reservas.

Cabe acrescentar que a Conferência de Direitos Humanos de Viena, em 1993,


reafirmou a importância do reconhecimento universal do direito à igualdade relativa ao
gênero, clamando pela ratificação universal da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Contra a Mulher. Nos termos do artigo 39 da Declaração de
Viena, ficou estabelecido que: “A Conferência Mundial de Direitos Humanos clama pela
erradicação de todas as formas de discriminação contra a mulher, tanto explícitas como
implícitas. As Nações Unidas devem encorajar a ratificação universal por todos os Estados
da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher
até o ano 2000. Ações e medidas para reduzir o particularmente amplo número de reservas
7
___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

à Convenção devem ser encorajadas. Dentre outras medidas, o Comitê de Eliminação de


Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher deve continuar a revisão das reservas
à Convenção. Estados são convidados a eliminar as reservas que sejam contrárias ao objeto
e ao propósito da Convenção ou que sejam incompatíveis com os tratados internacionais”.

Quanto aos mecanismos de monitoramento da Convenção sobre a Eliminação de


Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, a Declaração e o Programa de Ação de
Viena determinou: “40. Os órgãos de monitoramento dos tratados devem disseminar
informações necessárias que permitam às mulheres fazerem um uso mais efetivo dos
procedimentos de implementação existentes, com o objetivo do pleno e equânime exercício
dos direitos humanos e da não-discriminação. Novos procedimentos devem também ser
adotados para fortalecer a implementação da igualdade das mulheres, bem como de seus
direitos humanos. A Comissão relativa ao Status da Mulher e o Comitê de Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher devem rapidamente examinar a
possibilidade de introduzir o direito de petição mediante a preparação de um Protocolo
Optativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher”.

Declara THEODOR MERON sobre o uso das petições individuais: “Um procedimento
para a consideração de petições individuais deve ser estabelecido através de um Protocolo
Facultativo, ao qual os Estados-Membros da Convenção poderiam aderir. Essa inovação
não seria tecnicamente difícil e não haveria a necessidade de se criar órgãos adicionais para
sua implementação; o Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra a Mulher, já existente, apenas seria autorizado a acumular funções adicionais em
conformidade com o Protocolo”.

Há uma outra proposta, a de admissão de uma conversação interestatal, por meio da


qual um Estado-Membro denunciaria outro Estado-Membro, quando fosse violado algum
dispositivo da Convenção. Diz THEODOR MERON: “Embora, na prática, essa previsão não
tenha sido invocada, ela apresenta grande importância simbólica”.

Nos Sistemas Regionais de Proteção aos Direitos Humanos, entre eles o de combate à
Discriminação contra a Mulher, dois são os atos que contêm as decisões das Cortes: as
sentenças e os pareceres. As sentenças são decisões de litígios envolvendo violações às
Convenções, enquanto os pareceres são opiniões emitidas pelo Plenário das Cortes, quando
consultadas pelos Estados Signatários da Convenção (no sistema europeu) ou da OEA (no
sistema interamericano).

A Carta das Mulheres Brasileiras à Conferência Mundial Sobre Direitos Humanos


(Viena , 1993) tinha por objetivo apresentar às Nações Unidas as recomendações das
mulheres brasileiras quanto à superação da situação de desrespeito aos direitos humanos e,
em particular, a discriminação à mulher brasileira, a serem analisadas durante a Conferência
Mundial sobre os Direitos Humanos, em Viena, em 1993. Aqui, mencionaremos alguns
Atos Atentatórios aos Direitos Humanos, a seguir algumas Recomendações às Nações
Unidas e, para finalizar, algumas Recomendações ao Governo Brasileiro. Não iremos aqui
reproduzi-las todas, apenas algumas, em caráter ilustrativo:

8
___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

3. ATOS ATENTATÓRIOS AOS DIREITOS HUMANOS

1. O abuso do poder em suas diversas manifestações: física, psíquica e sexual (...).

2. A impunidade dos agressores e as absolvições fundamentadas em conceitos


legitimadores da opressão da mulher pelo homem.

3. A educação formal e informal que reproduz modelos e estereótipos que


desvalorizam a mulher e reforçam as relações de dominação.

4. O atendimento negligente, discriminatório e, por vezes, agressivo, prestado pelos


serviços públicos à mulher, principalmente nas áreas de Saúde, Segurança
Pública e Justiça.

5. As práticas discriminatórias que dificultam à mulher ocupar espaços de tomadas


de decisões em todos os níveis da sociedade.

4. RECOMENDAÇÕES ÀS NAÇÕES UNIDAS

1. Atuação efetiva dos Comitês Internacionais das Nações Unidas na verificação da


aplicação dos Acordos, Tratados, Declarações e Convenções relativas aos
direitos das mulheres, pelos países signatários.

2. Avaliação periódica das condições de vida das mulheres no mundo.

3. Exigência de relatórios periódicos, sobre a implementação das ações previstas


em Acordos e Convenções sobre os direitos da mulher, dos países signatários.

4. Reconhecimento de que todos os atos atentatórios aos direitos das mulheres


constituem claro desrespeito aos direitos humanos.

5. Vinculação de todos os programas e projetos que envolvam cooperação


internacional, com destinação de recursos de Fundos das Nações Unidas, à
perspectiva da promoção da igualdade entre homens e mulheres e do respeito aos
direitos humanos.

5. RECOMENDAÇÕES AO GOVERNO BRASILEIRO

Os movimentos de mulheres recomendam que (apenas algumas recomendações em


caráter ilustrativo):
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___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

1. sejam eliminadas as reservas à Convenção pela Eliminação de Todas as Formas


de Discriminação Contra a Mulher, pois constituem obstáculos à sua efetiva
implementação;

2. seja cumprido o compromisso de envio ao CEDAW de relatórios periódicos sobre a


atuação do Governo Brasileiro na aplicação da Convenção pela Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher;

3. os relatórios sobre a aplicação de Convenções e Tratados assinados pelo Brasil


sejam amplamente divulgados;

4. o Governo Federal priorize políticas e ações que contemplem, com especial


atenção, o cumprimento efetivo e integral dos dispositivos constitucionais que
visam a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher;

5. sejam implementadas campanhas educativas em nível federal e estimuladas


aquelas em nível regional ou estadual sobre os direitos humanos e as questões
específicas das mulheres.

E podemos acrescentar as palavras da Prof. FLÁVIA PIOVESAN: “A gramática


internacional dos direitos humanos das mulheres foi reforçada não só pela Declaração e
Programa de Ação de Viena de 1993, como também pela Declaração e Plataforma de Ação
de Pequim de 1995, ao enfatizarem que os direitos das mulheres são parte inalienável,
integral e indivisível dos direitos humanos universais. Nesse sentido, não há direitos
humanos sem a plena observância dos direitos das mulheres”.

Pelo exposto chegamos à conclusão que o assunto é “complexo e envolve medidas


judiciais, administrativas, legislativas, econômicas, sociais e culturais, sem as quais fica
impossível dar um tratamento global a esse sério problema”.

Sobre esse ponto de vista, declara NORBERTO BOBBIO que “o problema grave de nosso
tempo, com relação aos direitos humanos, não é mais o de fundamentá-los, e sim o de
protegê-los”.

Módulo elaborado pelos professores Vitor Kümpel e Luis Antonio de Souza.

BIBLIOGRAFIA:
10
___________________________________________________________________________MÓDULO VI
DIREITOS HUMANOS

PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. Max Lemonad, 1998.

______. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional.

Max Lemonad, 1996.

PIMENTEL, Silva. A Proteção dos Direitos Humanos no Direito Nacional e


Internacional: Perspectivas Brasileiras. 1991.

––––––– A Incorporação das Normas Internacionais de Proteção aos Direitos Humanos


no Direito Brasileiro. 1996.

FARIA, Helena Omena Lopes; MELO, Mônica. Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Contra a Mulher: A Convenção para Previnir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher.

FIORATI, Jete Jane. A Evolução Jurisprudencial dos Sistemas Regionais Internacionais de


Proteção aos Direitos Humanos.

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Campus, 1992.

11
___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Armas de Fogo

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Armas de Fogo

Prof. Luiz Fernando Vaggione

1. ARTIGO 10 DA LEI N. 9.437/97

“Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, expor à venda ou fornecer,
receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob guarda e ocultar arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização
e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Pena: detenção de um a dois anos e multa

§ 1.° Nas mesmas penas incorre quem:

I – omitir as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 anos ou deficiente


mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua
propriedade, exceto para a prática do desporto quando o menor estiver acompanhado do
responsável ou instrutor;

II – utilizar arma de brinquedo, simulacro de arma capaz de atemorizar outrem,


para o fim de cometer crimes;

III – disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas


adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que o fato não constitua crime
mais grave;

§ 2.° A pena é de reclusão de dois anos a quatro anos e multa, na hipótese deste artigo,
sem prejuízo da pena por eventual crime de contrabando ou descaminho, se a arma de fogo
ou acessórios forem de uso proibido ou restrito.

§ 3.° Nas mesmas penas do parágrafo anterior incorre quem:

I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de


arma de fogo ou artefato;

II – modificar as características da arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a


arma de fogo de uso proibido ou restrito;
1
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

III – possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explosivo e/ou incendiário sem
autorização;

IV – possuir condenação anterior por crime contra a pessoa, contra o patrimônio e


por tráfico ilícito de entorpecente e drogas afins.

§ 4.° A pena é aumentada da metade se o crime é praticado por servidor


público”.

1.1. Competência
A competência para processo e julgamento dos comportamentos descritos no artigo
10 da Lei n. 9.437/97 é, como regra, da Justiça Comum Estadual, muito embora tenha o
Exército a atribuição para fiscalizar a produção e a comercialização de produtos
controlados, entre esses as armas de fogo. Também não desloca a competência para a
Justiça Comum Federal a mera apreensão de arma de fogo de uso privativo das Forças
Armadas.

Contrabando de armas de fogo (artigo 334 do Código Penal) e artigo 10 da Lei n.


9.437/97: o contrabando, desde que provada a sua existência e definida a sua autoria,
atrairá os crimes definidos no artigo 10 para o âmbito da competência da Justiça Federal.

1.2. Ação Penal


Trata-se de ação penal pública incondicionada.

Considerando-se, em sua forma consumada, os delitos previstos no artigo 10,


admite-se a suspensão condicional do processo em relação ao caput e ao § 1.°, porquanto a
pena mínima prevista para ambos é de um ano de detenção.

1.3. Objetividade Jurídica


A incolumidade pública. Um certo nível de segurança para todos, enquanto valor
social coletivo, como ensina DAMÁSIO DE JESUS.

1.4. Qualificação Doutrinária


Os crimes previstos no artigo 10, à exceção do definido no § 1.°, inciso I (culposo),
são de mera conduta (não há resultado naturalístico) e dolosos.

2
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Para o Prof. Fernando Capez, trata-se de crime formal e de perigo abstrato, pois não
é exigida prova de que o bem jurídico protegido tenha sofrido risco efetivo. Luiz Flávio
Gomes, por sua vez, acompanhado de expressivo segmento doutrinário, entende que os
crimes de perigo presumido violam o princípio da ofensividade ou lesividade, pois há
imposição de pena a quem não lesou nem colocou em perigo qualquer bem jurídico.

1.5. Consumação e Tentativa


Os crimes de mera conduta satisfazem-se, para efeito de consumação, unicamente,
com a realização do comportamento típico, independentemente da demonstração de
perigo para determinada pessoa. A tentativa, como acontece com os crimes de ação
múltipla ou de conteúdo variado, é viável. Todavia, na prática, sua configuração é difícil,
haja vista a quantidade de núcleos existentes.

2. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO CAPUT DO ARTIGO 10

O caput do artigo 10 da Lei n. 9.437/97, possui 18 núcleos. Trata-se de crime de


ação múltipla ou de conteúdo variado. Se o agente praticar várias ações, desde que num
mesmo contexto fático, responderá por uma única infração penal (aplicação do princípio da
alternatividade).

O comportamento vincula-se à arma de fogo de uso permitido (objeto material do


caput), cujo conceito estudamos no módulo anterior. Não será objeto material do “caput” a
arma de fogo de uso restrito, pois nessa hipótese haverá crime qualificado punido com
pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa, sem prejuízo da pena por eventual
crime de contrabando ou descaminho (artigo 10, § 2.º, da Lei n. 9.437/97).

2.1. Núcleos do Tipo


Vejamos alguns dos núcleos do caput:

Possuir: Ter ou reter a arma de fogo de uso permitido em seu poder a qualquer título
(proprietário ou simples possuidor). Há idéia de conduta mais duradoura, em contraposição
com a mera detenção. O registro da arma de fogo torna lícito o comportamento, desde que
a arma de fogo seja mantida em casa, em dependência dessa, ou no local de trabalho.

Portar: Trazer consigo junto ao corpo, nas vestes ou em uma pasta, com
possibilidade de pronto uso. O núcleo portar não se confunde com o núcleo transportar,
pois neste o agente tem a intenção de conduzir a arma de um local para outro, em nome
próprio ou de terceiro, utilizando-se de meio de transporte, sem a possibilidade de uso
imediato. Portar várias armas de fogo configura crime único. Se entre elas houver uma que
3
__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

seja de uso restrito, aplicar-se-á o § 2.° do artigo 10.

A autorização de porte retira a ilicitude do comportamento.

Adquirir: Obter, ter incorporado ao seu patrimônio, a título gratuito ou oneroso.

O núcleo adquirir pode ser imputado ao agente, quando o porte ilegal da arma de
fogo tiver sido absorvido na condição de crime meio para a prática de outro mais grave,
como o homicídio tentado ou consumado, por exemplo.

Vender: alienar, mediante contraprestação, geralmente em dinheiro. Não se exige


habitualidade.

Fornecer: prover alguém de arma de fogo, ainda que gratuitamente. Se o agente


fornece arma de fogo a criança ou adolescente, responderá como incurso no artigo 10,
caput, da Lei n. 9.437/97, que derrogou o artigo 242 do Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei n. 8.069/90). Há posição sustentando o enquadramento no ECA.

Ter em depósito: Reter a arma à disposição de terceira pessoa.

Guardar: Ter a arma de fogo à sua disposição.

O núcleo guardar pode ser imputado ao agente, quando o porte ilegal da arma de
fogo tiver sido absorvido na condição de crime meio para a prática de outro mais grave,
como o homicídio tentado ou consumado, por exemplo.

Ocultar: Cuida-se da retenção de arma de fogo clandestina, tendo sido dificultada


sua localização por terceiros.

2.2. Elemento Normativo do Tipo


“Sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.

2.3. Excludentes de Ilicitude


•Estado de necessidade e porte ilegal: Admissível desde que devidamente provado.
Todavia, alegações que visam justificar o porte como as de transporte de valores,
temor de assalto, transporte para vendê-la etc., não excluem a antijuridicidade do
comportamento.

•Legítima defesa e porte ilegal: Se o agente arma-se para se defender, a excludente


abrangerá o porte ilegal. Entretanto, se a legítima defesa ocorre durante o porte
ilegal, o agente responderá por esse crime.

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__________________________________________________________________________ MÓDULO XI
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

2.4. Prova Pericial


Imprescindível para a configuração do artigo 10, caput. Somente a perícia poderá
provar a capacidade vulnerante da arma de fogo. Essa, sem condições de efetuar disparo, não
ofenderá o bem juridicamente tutelado (segurança coletiva).

A perícia ao examinar a arma de fogo também propiciará a sua classificação entre as


de uso permitido ou restrito.

2.5. Confisco de Arma de Fogo


Nos termos do disposto no artigo 91, II, “a”, do Código Penal, há perda dos
instrumentos do crime em favor da União, desde que consistam em coisas cujo fabrico,
alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito.

As armas de fogo, no caput do artigo 10, constituem objeto material do delito e não
instrumento da infração. Logo, no caso do caput não haverá possibilidade de confisco, que
poderá ocorrer no crime descrito no inciso III do § 1.° do artigo 10 (disparo de arma de
fogo).

A liberação da arma de fogo ao proprietário dependerá, à evidência, da sua


regularização perante a autoridade competente para o registro.

3. O ARTIGO 10, CAPUT, E A LEI DE CONTRAVENÇÕES PENAIS

O caput do artigo 10 derrogou os artigos 18 e 19 da Lei de Contravenções Penais.


Citadas contravenções aplicam-se às armas brancas e às munições.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VI

MEDICINA LEGAL

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MEDICINA LEGAL

MEDICINA LEGAL

1. LESÃO CORPORAL

A lei penal distingue lesões corporais em três tipos: leves, graves e gravíssimas.

As lesões classificam-se pelo resultado, não importando o seu lugar, o que as


produziu ou qual sua extensão. Do ponto de vista médico-legal, as lesões são classificadas
pelo resultado.

A lei dispõe “se da lesão corporal resulta (...)” e relaciona quatro resultados que
definem as lesões graves e cinco resultados que definem as lesões gravíssimas. Por
exclusão, as lesões não definidas pela lei são consideradas leves.

1.1. Lesões Corporais Graves

1.1.1. Se da lesão corporal resultar incapacidade para as


habitualidades ocupacionais por mais de trinta dias
Ocupação habitual é tudo o que a pessoa faz, desde o nascimento até a morte. É
mais do que o trabalho, embora também o inclua. O exame que comprova a incapacidade
deve ser realizado no 30.º dia após a lesão. A incapacidade não precisa necessariamente ser
absoluta.

1.1.2. Se da lesão corporal resultar perigo de vida


É a lesão que causa uma quase morte, que provoca uma periclitação vital. Não
existe, legalmente, a expressão “risco de vida”. Risco é prognóstico e não existe em
medicina legal. Perigo de vida é um momento, um instante, em que uma função vital
periclitou (ex.: parada cardíaca, estado de coma, parada cerebral etc.).

1.1.3. Se da lesão corporal resultar debilidade permanente de membro,


sentido ou função
• Membros: são os braços, antebraços, cotovelos, mãos, dedos, coxas, pernas e
pés.

1
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MEDICINA LEGAL

• Sentidos: são a visão, audição, olfato, paladar e tato.

• Função: é o conjunto de atividades de um ou mais órgãos, sistema ou aparelho


que conduz a uma atividade padrão (ex.: função digestiva, função respiratória).

• Debilidade: não é anulação da atividade, mas sim uma expressiva redução da


mesma.

• Permanente: quando cessam os meios habituais de tratamento ou recuperação.


Meios habituais de tratamento são os meios rotineiros.

Exemplos:

• debilidade permanente de membro: traumatismo no nervo do braço, devido ao qual o


indivíduo fica com uma expressiva diminuição da força;

• debilidade permanente de sentido: redução da audição por poluição sonora


violenta; traumatismo ocular que produza descolamento da retina e o indivíduo
tenha reduzida sua visão;

• debilidade permanente de função: espancamento no rim, que ocasiona


diminuição da função renal.

1.1.4. Se da lesão corporal resultar antecipação do parto


A lei protege o direito da mãe de gestar durante 40 semanas, ou do feto permanecer
em gestação por 40 semanas. Se provocar antecipação e, conseqüentemente, a perda desse
direito, a lesão corporal é considerada grave.

1.2. Lesões corporais gravíssimas

1.2.1. Se da lesão corporal resultar incapacidade permanente para o


trabalho
Permanente é a incapacidade que sobrevém no instante em que cessam os meios
habituais de tratamento. A lei diz claramente que a incapacidade diz respeito a qualquer
tipo de trabalho, e não somente para o trabalho especificamente exercido pela vítima.

1.2.2. Se da lesão corporal resultar enfermidade incurável


Incurável é aquilo que é definitivo, em face de processos normalmente utilizados
para a cura.
2
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
MEDICINA LEGAL

Enfermidade é uma anomalia, patologia permanente, resultante de um trauma


externo (ex.: ferida penetrante no tórax que ocasiona lesão grave da pleura, produzindo
uma aderência do pulmão à caixa torácica e diminuindo, assim, a capacidade respiratória
do indivíduo). Quando resulta de fator interno, é chamada de doença.

1.2.3. Se da lesão corporal resultar perda ou inutilização de membro,


sentido ou função
Nesse caso a graduação é maior do que na debilidade permanente (lesão grave).
Perda é o zeramento das funções de um órgão, sua retirada, amputação, extração.

Exemplos:

• perda de membro: amputação de quaisquer dos quatro membros;

• perda de sentido: enucleação (extração) do globo ocular;

• perda de função: pancada no rosto que arranca todos os dentes, perdendo a


função mastigadora;

• inutilização de membro: traumatismo sob o plexo braquial (embaixo do braço),


com secção de nervo, inutilizando o braço;

• inutilização de sentido: cegueira dos dois olhos;

• inutilização de função: traumatismo em bolsa escrotal que inutilize a função


reprodutora.

A questão da visão tem uma outra conotação. Quando o indivíduo enxerga com os
dois olhos, não apenas enxerga o que tem que enxergar, como também possui uma
especialização na função da visão, chamada de função estereostática (visão em
profundidade). Alguns peritos admitem que a cegueira total de um só olho não é somente
uma debilidade do sentido da visão, mas constituiria uma inutilização da função
estereostática. A surdez total unilateral retira do indivíduo a audição estereofônica: ele não
consegue direcionar exatamente de onde vem o som. Alguns peritos admitem que a surdez
total unilateral constitui uma inutilização da audição espacial, do sentido direcional da
audição.

No caso de órgãos duplos – mas independentes dos sentidos (como os rins) –,se
somente um deles é atingido, mesmo que resulte em extração, entende-se como lesão
grave que causa debilidade, e não como lesão gravíssima.

1.2.4. Se da lesão corporal resultar deformidade permanente


Duas coisas estão envolvidas: o caráter permanente e a aparência. O conceito
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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
MEDICINA LEGAL

enfocado é o de gerar repugnância pela perda de harmonia e não pelo feio ou bonito. Esse
conceito varia de pessoa para pessoa, de acordo com o sexo, idade, profissão, cultura. A
questão da aparência há que ser vista no contexto cultural em que o indivíduo vive.
Cicatrizes, alterações de formas, desvios, claudicações expressivas, tudo isso poderá
constituir uma deformidade permanente, desde que seja aparente e afete o modo de vida da
pessoa. A deformidade permanente pode ter um resultado devastador na vida do indivíduo,
pois estigmatiza, deforma a personalidade, a conduta e o comportamento de seu portador.

1.2.5. Se da lesão corporal resultar aborto


Aborto é a morte fetal. Se da lesão corporal resultar aborto, independentemente da
intenção (dolo ou culpa), é lesão corporal de natureza gravíssima. Tudo aquilo que provoca
a destruição, a partir do instante da fecundação até o minuto que antecede o parto, constitui
aborto.

1.3. Concausas
Para todas as hipóteses de lesão exige-se uma clara e inequívoca relação de
causalidade entre o agente determinante e o resultado.

Nem sempre isso ocorre, podendo acontecer as concausas, que modificam o


resultado ao arrepio da vontade do autor.

Concausa é o conjunto de fatores, preexistentes ou supervenientes, suscetíveis de


modificar o curso natural do resultado de uma lesão.

1.3.1. Concausas preexistentes


São aquelas que já existiam antes da lesão e são capazes de modificar o resultado.
As concausas preexistentes são classificadas em anatômicas, fisiológicas e patológicas.

a) Concausas preexistentes anatômicas

São anomalias congênitas (má formação), como a patologia cistus inversus (órgãos
do lado contrário).

b) Concausas preexistentes fisiológicas

Referem-se ao estado de funcionamento, no momento da lesão, de determinado


órgão (ex.: o sujeito está com a bexiga cheia; se houver trauma pode estourar a bexiga, ao
passo que se ela estivesse vazia, esse mesmo trauma não a afetaria; mudança de resultado
em razão de uma concausa preexistente de origem fisiológica. Gravidez: no início é
impossível saber).
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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
MEDICINA LEGAL

c) Concausas preexistentes patológicas

São os casos de hemofilia, diabetes, aneurisma etc.

1.3.2. Concausas supervenientes


Ocorrem depois, com o agravamento. Podem envolver imperícia, negligência,
imprudência, infecções etc.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VI

PORTUGUÊS
Regência Verbal

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PORTUGUÊS

PORTUGUÊS

Regência Verbal

1. REGÊNCIA VERBAL

A relação entre o verbo e seu complemento em geral é simples e descomplicada,


mas algumas construções merecem mais detalhes. As principais falhas e causas são:

• uso cotidiano diverso da norma;

• verbos com regência diferente;

• voz passiva;

• pronomes pessoais (o / lhe);

• pronomes relativos.

1.1. Uso Cotidiano Diverso da Norma


1o. nível

Assistir (sentido de ver) VTI – a Ele assistiu ao confronto, à briga.

Implicar (sentido de gerar,


VTD Isso implicará multa, implicará penalidades.
acarretar)

Ele morava na Rua da Glória, na Alameda


Morar* EM
Juruti, na Praça da Liberdade.

Obedecer VTI – a Ele obedeceu ao regulamento; obedeceu à lei.

Pagar* VTDI – a Ele pagou a compra ao caixa.

1
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

Perdoar* VTDI – a Ele perdoou a dívida ao filho.

Preferir VTDI – a Ele preferiu dormir a viajar naquela noite.

Procedeu-se ao exame; Ele procedeu à


Proceder VTDI – a
leitura.

Ele residia nesta rua há muito tempo; residia


Residir* EM
na Rua da Glória.

Visar (sentido de
VTI – a Ele visava ao cargo; visava à vaga.
objetivar, desejar)

*Verbos, como morar, habitar, residir, situar-se, exigem preposição EM: Ele morava
na Rua...residia na Avenida...situava-se na Praça...Isso também vale para os derivados:
residente na Avenida...sito na Praça...

*Os verbos pagar e perdoar exigem preposição A para a pessoa beneficiada ou


instituição/estabelecimento que a represente (banco, padaria, supermercado, etc.): pagou ao
dono da padaria, pagou ao supermercado, perdoou ao homem. Cria-se, portanto, a seguinte
regência:

• sem preposição a coisa comprada ou perdoada: pagar o presente / perdoar a


dívida

• com preposição o ser que recebe: pagar ao caixa / perdoar ao filho

2o. nível

Abençoar VTD Ele abençoou sua atitude; ele o abençoou.

Adorar VTD Ele adorou a visita de vocês; ele os adorou.

Chegou ao conceito adequado; chegou a São


Chegar –a
Paulo.

2
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

Ir –a Ele foi à rua certa, foi a São Paulo.

Namorar VTD Já namorava a moça.

Pisar VTD Ele pisou o pé dela, pisou a grama.

Simpatizar (sem pronome


Ele simpatizou com a idéia.
átono)

Sobressair (sem pronome


Ele sobressaiu na disputa.
átono)

Ver VTD Ele viu as falhas; ele as viu.

1.2. Verbos com mais de uma regência e mais de um sentido

Aspirar VTD (sorver) Ele aspirou o perfume.


Aspirar VTI – a (almejar) Ele aspirou ao cargo.

Assistir VTD (ajudar) Ele assistiu o doente.


Assistir VTI – a (ver) Ele assistiu ao jogo.
Assistir VTI – a (ter direito) O silêncio assiste ao réu.
Assistir VI – em (morar) Ele assiste em São Paulo.

Implicar VTD (acarretar) O fato implica duras penas.


Implicar VTI – em (envolver-se) Ele se implicou em assaltos.
Implicar VTI – com (aborrecer) Ele implicou com as crianças.

Visar VTD (assinar) Ele visou o documento.


Visar VTI – a (almejar) Ele visou ao cargo.

3
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

Observação: O verbo visar seguido de infinitivo permite que a preposição seja


facultativa;

Exemplo 1: O fundo mútuo visou ajudar os mais necessitados.

(ou) O fundo mútuo visou a ajudar os mais necessitados.

Exemplo 2: Sempre visava fazer o bem.

(ou) Sempre visava a fazer o bem.

1.3. Verbos com mais de uma regência com o mesmo sentido.


a) Os verbos lembrar e esquecer têm estas particularidades:

• se usados com pronome, põe-se a preposição: Ele não se lembrou da data. Ele
se esqueceu do documento. Lembrou-se da promessa.

• se usados sem pronome, não se põe a preposição: Ele não lembrou a data. Ele
esqueceu o documento. Lembrou a promessa.

b) Quanto aos verbos avisar, certificar, cientificar, encarregar, impedir, incumbir,


informar, notificar, proibir, a regência, na atualidade, tende a se formar basicamente
de duas formas:

• algo a alguém: Avisar ao menino as férias. Avisar-lhe as férias.

(objeto indireto) (objeto direto)

• alguém de algo: Avisar o menino das férias. Avisá-lo das férias.

(objeto direto) (objeto indireto)

A preocupação é não misturar as duas regências:

correto: Já lhe avisei os perigos.

(ou) Já o avisei dos perigos.

errado: Já lhe avisei dos perigos.

1.4. Limites para a voz passiva


Cria-se a voz passiva somente com transitivos diretos. Os outros tipos de verbo não
a podem formar (exceção: atender, obedecer, pagar, perdoar, responder).
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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

correto: Todos visaram à perfeição.

Visou-se à perfeição.

errado: A perfeição foi visada por todos.

correto: Ele assistiu ao jogo.

errado: O jogo foi assistido por ele.

1.5 Dupla regência


Se os verbos possuem regência distinta, não se usa um só complemento para os dois.
Em frases como "Ele leu e gostou do livro" há falha, pois: ler algo, gostar de algo. O
correto nesse caso é usar cada um com o seu complemento, respeitando a ordem da
construção: Ele leu o livro e gostou dele. Outro exemplo:

correto: Ele resolveu vir ao Brasil e aqui ficar.

errado: Ele resolveu vir e ficar no Brasil

1.6. Uso do pronome pessoal: o / lhe


O pronome “o” funciona essencialmente como objeto direto, portanto
complementando os verbos transitivos diretos. Já o pronome “lhe” contém um uso meio
restrito, limitado a três hipóteses combinadas:

• é o complemento que sempre exige preposição A ou PARA (e mais raramente


EM) ao ser trocado por um nome;

• em geral introduz a idéia de destinatário ou ser beneficiado;

• na troca por um nome (por exemplo, José) deve assim aparecer: a José / para
José (e mais raramente em José (destinatário, receptor).

Eis alguns exemplos: Nós lhe enviamos as cartas (lhe = a José).

As crianças lhe foram obedientes (lhe = a José).

Acertaram-lhe um tiro (lhe = em José).

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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

Na maioria das vezes também se pode fazer a substituição pelo pronome ele,
ela, porém sempre preposicionado:

Remeti-lhes as cartas. = Remeti as cartas a elas.

Não lhes foi dada nova chance. = Não foi dada nova chance a eles.

Os visitantes não lhe foram fiéis. = Os visitantes não foram fiéis a eles.

Roubaram-lhe a bolsa. = Roubaram a bolsa dela.

Também há uma estrutura em que o pronome “lhe” funciona como um pronome


possessivo, indicando o possuidor de algo:

Rasgaram-lhe a camisa (Rasgaram a sua camisa / Rasgaram a camisa dele).

Roubaram-lhe a carteira (Roubaram a sua carteira / Roubaram a carteira dele)

1.7. Pronome relativo


O pronome relativo virá acompanhado de preposição se for complemento de verbo
transitivo indireto.

correto: Houve uma opinião de que todos discordaram.

errado: Houve uma opinião que todos discordaram.

correto: “O Estado fica responsável pela reparação dos danos a que seus agentes
derem causa”

errado: “O Estado fica responsável pela reparação dos danos que seus agentes
derem causa”

1.8. Sujeito e preposição


O núcleo do sujeito não vem casado com preposição, ou seja, apesar de estarem
frente a frente, não se unem.

Observe: “Apesar de o homem faltar à convocação, houve...”

preposição sujeito verbo

evite: “Apesar dessa arma ser de brinquedo...”

use: “Apesar de essa arma ser de brinquedo...”


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PORTUGUÊS

Em nossos códigos, há alguns exemplos:

(CPC) art. 881 - “...e a proibição de o réu falar nos autos...”;

(CPP) art. 570 - “...desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-
se,...”.

1.9. Falhas mais comuns


Observe as falhas mais comuns e as respectivas correções:

Ele não assistiu o depoimento ontem.

correto: Ele não assistiu ao depoimento ontem.

Ele não chegou no resultado esperado.

correto: Ele não chegou ao resultado esperado.

Depois do trabalho, ele voltou no bar e lá encontrou seu rival.

correto: Depois do trabalho, ele voltou ao bar e lá encontrou seu rival.

Quase já não se lembrava da cidade que tinha nascido.

correto: Quase já não se lembrava da cidade em que tinha nascido.

Três são as hipóteses que há a consunção.

correto: Três são as hipóteses em que há a consunção.

Aquela idéia absurda foi discordada por todos.

correto: Todos discordaram da idéia. (ou) Discordou-se da idéia.

(A voz passiva está restrita aos verbos transitivos diretos.)

Ele não concordava nem discordava dos valores cobrados.

correto: Ele não concordava com os valores cobrados nem discordava deles.

Lembrou da promessa.

correto: Lembrou-se da promessa. (ou) Lembrou a promessa.

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PORTUGUÊS

O escritório situava-se à Rua da Glória.

correto: O escritório situava-se na Rua da Glória.

A vítima é residente e domiciliada à Av. José Bonifácio.

correto: A vítima é residente e domiciliada na Av. José Bonifácio.

Ele não perdoava o filho.

correto: Ele não perdoava ao filho.

Eles não lhe viram passar.

correto: Eles não o viram passar.

Deixando a parte de executar o julgado que lhe favorece, determinou-se o


arquivamento dos autos.

correto: Deixando a parte de executar o julgado que a favorece, determinou-se o


arquivamento dos autos.

Ambos tinham a intenção de matá-lo, caso este não tivesse o dinheiro para
pagá-los.

correto: Ambos tinham a intenção de matá-lo, caso este não tivesse o dinheiro para
pagar-lhes.

Exigiu que todos deveriam obedecê-lo.

correto: Exigiu que todos deveriam obedecer-lhe.

Já lhe haviam informado do atraso.

correto: Já lhe haviam informado o atraso. (ou) Já o haviam informado do atraso.

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PORTUGUÊS

EXERCÍCIOS

Tópicos da Regência Verbal

1. Uso Cotidiano Diverso da Norma

a)As testemunhas não assistiram _______________ confronto, pois só chegaram


_______________ local depois da confusão.

()o ( ) ao

( ) no ( ) ao

b)Tal atitude implicará _______________ prevista em lei.

( ) em multa ( ) multa

c)Ele é residente e domiciliado _______________ Rua das Flores, 100.

( ) na ()à

d)Se aspiram _______________ uma vida mais tranqüila, devem dedicar-se


_______________ coisas simples, obedecendo _______________ natureza.

()a ()à

()a ()à ( ) às

()a ()à

e) O indiciado pagou primeiro _______________ vizinho e em seguida _______________


supermercado.

()o ( ) ao

()o ( ) ao

f) O enfermeiro assistiu _______________ doente.

()o ( ) ao

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g) A mulher não perdoou _______________ marido, disse que jamais _______________


perdoaria.

()o ( ) ao

()o ( ) lhe

h) _______________ entender o exercício.

( ) Custei ( ) Custou-me

i) Ele preferiu a condenação _______________ confessar os erros.

( ) do que ()a ()à

j) Com o rigor na prova, visavam _______________ uma seleção rigorosa.

()a ()à

l) Eles eram _______________.

( ) em cinco ( ) cinco.

m) Esse trabalho visa _______________ respeito à lei e ao direito.

()o ( ) ao

n) O embrulho foi entregue _______________ domicílio.

( ) em ( ) à ()a

2. Um só Complemento para Verbos de Regência Distinta

Corrija as frases.

a)Segundo a Lei, ninguém será levado e mantido na prisão sem motivos.

_______________________________________________________________

b)Ouvimos e gostamos da idéia.

_______________________________________________________________

c)Ele concordava e aceitava nossos princípios.

_______________________________________________________________

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PORTUGUÊS

d)Ele se lembrou e pagou a dívida no mesmo dia.

_______________________________________________________________

3. Verbos com Mais de Uma Regência, mas com o Mesmo Sentido

a) Afirmou que não se lembrava _______________ da briga.

( ) o porquê ( ) do porquê

b) Quanto aos candidatos, já _______________ informaram ontem a classificação.

( ) os ( ) lhes

c) Ocorreu, paralela à festa, a explosão _______________ o avisamos.

( ) que ( ) de que

d) Avise _______________ alunos da obrigatoriedade da identificação.

( ) aos ( ) os

4. Pronomes Pessoais Átonos

a) A cultura indígena não separava homem, natureza e deuses, adorando-_______________


dentro de um mesmo valor.

( ) os ( ) lhes

b) Quanto ao credor, o réu deve _______________ dentro do prazo estipulado.

( ) pagá-lo ( ) pagar-lhe

c) A intenção era de _______________.

( ) obedecê-lo ( ) obedecer-lhe

Observação – Com os verbos aludir, aspirar (= almejar), assistir (= ver), obedecer


(relacionado com a idéia de coisa), proceder (= realizar), visar (= almejar), não se usa o
pronome “lhe”, mas “a ele” (e variações).

Exemplo: Assistiram ao jogo. = Assistiram a ele.

Visaram aos cargos. = Visaram a ele.

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PORTUGUÊS

5. Pronomes Relativos

Corrija as frases.

a) As idéias que discordamos podem revelar outras verdades.

_______________________________________________________________

b) Poucas eram suas palavras que podemos acreditar.

_______________________________________________________________

c) (AFTN) Ao prestar depoimento, Carlos Fernando disse que agia com outro traficante,
que a polícia prefere manter sigilo, para não prejudicar as investigações.

_______________________________________________________________

6. Verbos não Pronominais: confraternizar, simpatizar e sobressair

Corrija a frase.

a)Ele se sobressaiu no concurso, porém poucos se simpatizaram com suas idéias.

_______________________________________________________________

7. Limites para a Voz Passiva

Corrija as frases.

a) O cargo foi visado por muitos.

_______________________________________________________________

b) O exame foi procedido por bons peritos.

_______________________________________________________________

c) O jogo foi assistido por mil pessoas.

_______________________________________________________________

Exceção: atender, obedecer, pagar, perdoar e responder possuem um uso na passiva


abonado por vários gramáticos.
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GABARITO

1. Uso Cotidiano Diverso da Norma

a) ao / ao

b) multa

c) na

d) a / às/ à

e) ao/ ao

f) o

g) ao/ lhe

h) Custou-me

i) a

j) a

l) cinco

m) ao

n) em

2. Um só Complemento para Verbos de Regência Distinta

a) Segundo a Lei, ninguém será levado à prisão e mantido nela.

b) Ouvimos a idéia e gostamos dela.

c) Ele concordava com nossos princípios e os aceitava.

d) Ele se lembrou da dívida e a pagou.

3. Verbos com Mais de Uma Regência, mas com o Mesmo Sentido

a) do porquê

b)lhes
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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

c)de que

d)os.

4. Pronomes Pessoais Átonos

a) os

b) pagar-lhe

c) obedecer-lhe.

5. Pronomes Relativos

a) As idéias de que discordamos podem revelar outras verdades.

b) Poucas eram suas palavras em que podemos acreditar.

c) (AFTN) Ao prestar depoimento, Carlos Fernando disse que agia com outro traficante,
de que a polícia prefere manter sigilo, para não prejudicar as investigações.

6. Verbos não Pronominais: confraternizar, simpatizar e sobressair

a) Ele sobressaiu no concurso, porém poucos simpatizaram com suas idéias.

7. Limites para a Voz Passiva

a) Muitos visaram ao cargo.

b) Bons peritos procederam ao exame.

c) Mil pessoas assistiram ao jogo.

QUESTÕES DE PROVAS

1. (MP-RS) Esquecia-se freqüentemente _______________, mas não esquecia jamais


_______________ noturnas _______________ tanto gostava.

a) dos compromissos – as diversões – de que


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b) os compromissos – as diversões – que

c) dos compromissos – das diversões – de que

d) dos compromissos – as diversões – que

e) os compromissos – das diversões – de que

2. (MP-SC) Assinale a alternativa incorreta quanto à regência verbal.

a) O trabalho visa o respeito à lei e ao direito.

b) O Juiz procedeu ao sorteio dos jurados.

c) O ar que aspiramos é muito limpo.

d) A casa a que me referi é de meu amigo.

e) São dois jovens a quem queremos bem.

3. (Mag-SP) Assinale a oração correta.

a) Não me simpatizo com você.

b) Não simpatizo com ele.

c) O espetáculo foi assistido por todos nós.

d) Eu lhe considero muito.

4. (Mag-SP) Assinale a oração correta.

a) O médico assistiu o paciente.

b) O médico assistiu ao paciente.

c) Este espetáculo, já lhe assisti.

d) Esta profissão, não lhe aspiro.

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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

5. (Mag-SP) Assinale a alternativa correta.

a) Deixando a parte de executar o julgado que lhe favorece, determino o arquivamento dos
autos.

b) Quando cheguei no tribunal, custei a acreditar no volume de defeitos que há em segunda


instância.

c) Li e gostei muito do último livro de processo civil daquele autor italiano.

d) A causa por que lutamos e os princípios a que aspiramos são superiores e indiscutíveis.

6. (MP-RS) A regência está correta em:

a) Prefiro a dança ao jogo.

b) Prefiro a dança mais que o jogo.

c) Prefiro mais a dança que o jogo.

d) Prefiro mais a dança do que o jogo.

e) Prefiro à dança ao jogo.

7. (MP-RS) Há erro de regência em:

a) O garoto obedeceu ao pedido do pai.

b) Todos preferem mais o certo que o errado.

c) Essas são as verdades em que acredito.

d) O atleta aspirava ao primeiro lugar.

e) Alguém deveria assistir o rapaz ferido.

8. (MP-RS) Há erro de regência em:

a) Já o avisamos do erro.

b) Você pagou ao cobrador?

c) Esse direito assiste aos professores.

d) A vitória foi visada pelo lutador.


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__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

e) Todos desobedeceram ao guarda.

9. (MP-RS) Assinale a alternativa que completa corretamente.

Lia um autor muito difícil; não _______________ entendia nem _______________


admirava. A leitura, no entanto, não _______________ aborrecia.

a) o – o – lhe

b) lhe – o – lhe

c) o – lhe – lhe

d) lhe – lhe – lhe

e) o – o – o

10. (MP-RS) Assinale a alternativa que completa corretamente.

Ao mesmo tempo que _______________ informo de sua aprovação, felicito-


_______________ com entusiasmo e abraço-_______________ cordialmente.

a) lhe – lhe – o

b) lhe – o – o

c) o – lhe – o

d) o – o – lhe

e) o – o – o

11. (MP-RS) Assinale a alternativa que completa corretamente.

Recorreu _______________ irmã e _______________ ela se apegou como


_______________ uma tábua de salvação.

a) à – à – a

b) à – a – à

c) a – a – a

d) à – a – a

17
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
PORTUGUÊS

e) à – à – à

12. Assinale a alternativa incorreta.

a) Não procedem as acusações que lhe fazem.

b) O secretário procedeu a leitura da ata.

c) Do latim vulgar, procede a língua portuguesa.

d) No tribunal, procedeu-se ao inventário dos objetos.

e) Nenhum argumento procedeu.

GABARITO

1. a

2. a

3. b

4. a

5. d

6. a

7. b

8. d

9. e

10. e

11. d

12. b

18
___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO VI

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS


E COLETIVOS
Estatuto da Criança e do Adolescente

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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Estatuto da Criança e do Adolescente

1. PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL

1.1. Medidas Sócio-educativas


São as medidas que podem ser aplicadas ao adolescente. O rol dessas medidas está
no art. 102 do ECA. São elas:

• advertência;

• reparação de danos;

• prestação de serviços à comunidade;

• liberdade assistida;

• semi-liberdade;

• internação;

• medidas de proteção previstas no art. 101, I a VI, do ECA.

As medidas sócio-educativas dependem de um procedimento judicial, só podendo


ser aplicadas pelo Juiz. O ECA apresenta dois critérios genéricos para a aplicação de
medida sócio-educativa:

• capacidade do adolescente para cumprir a medida;

• circunstâncias e gravidade da infração.

A internação é uma exceção, existindo hipóteses legais para sua aplicação.

A medida de segurança não poderá ser aplicada ao adolescente, tendo em vista ser
medida para maior de idade que apresenta periculosidade. No caso de adolescente doente
mental, será aplicada medida de proteção, podendo ser requisitado tratamento médico.

O Juiz poderá cumular medidas sócio-educativas, desde que sejam compatíveis (ex.:
prestação de serviço à comunidade cumulada com reparação de danos). Com exceção da

1
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

internação, o Juiz poderá substituir as medidas sócio-educativas de acordo com o caso


concreto, visto não haver taxatividade.

Se o Promotor discordar com a medida sócio-educativa aplicada, deverá entrar com


recurso de apelação. Essa apelação do ECA possui juízo de retratação, ou seja, o Juiz pode
voltar atrás na decisão. O Tribunal competente para julgar essa apelação é o TJ.

1.1.1. Advertência
Disposta no art. 115 do ECA, é uma medida sócio-educativa que consiste em uma
admoestação verbal que é aplicada pelo Juiz ao adolescente e que é reduzida a termo. É
destinada a atos de menor gravidade.

Para a aplicação da advertência, o Juiz deve levar em consideração a prova da


materialidade e indícios suficientes de autoria. É a única medida que o Juiz poderá aplicar
fundamentando-se somente em indícios de autoria.

1.1.2. Reparação de Danos


Obrigação de reparar o dano (art. 116 do ECA). Há um pressuposto: o ato
infracional deve ter causado um dano à vítima. Essa reparação é para a vítima que sofreu o
dano. É uma medida voltada para o adolescente, então deve ser estabelecida de acordo com
a possibilidade de cumprimento pelo adolescente (ex.: devolução da coisa furtada,
pequenos serviços a título de reparação etc.).

A jurisprudência admite que essa reparação de dano pode ser aplicada à criança (ex.:
devolução da coisa furtada).

1.1.3. Prestação de serviços à comunidade


Disposta no art. 117 do ECA, o adolescente será obrigado a prestar serviços em
benefício da coletividade. São tarefas gratuitas de interesse geral junto a entidades
assistenciais, hospitais, escolas ou estabelecimentos congêneres.

Como a medida é mais gravosa, a lei fixa um prazo máximo de 6 meses para essa
prestação e um máximo de 8 horas semanais. Essas 8 horas poderão ser estabelecidas
discricionariamente, desde que não prejudiquem a freqüência ao trabalho e à escola.
Deverá ser levada em conta a aptidão do adolescente para a aplicação da medida.

2
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1.1.4. Liberdade assistida


É a última medida em que o adolescente permanece com sua família. O Juiz irá
determinar um acompanhamento permanente ao adolescente, designando, para isso, um
orientador, que poderá ser substituído a qualquer tempo. A lei fixa um prazo mínimo de 6
meses para a duração dessa medida. O orientador terá as seguintes obrigações legais:

• promover socialmente o adolescente, bem como a sua família, inserindo-os em


programas sociais. Promover socialmente é fazer com que o adolescente realize
atividades valorizadas socialmente (teatro, música etc.);

• supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente;

• profissionalizar o adolescente (nos termos da EC n. 20);

• apresentar relatório do caso ao Juiz.

1.1.5. Semi-liberdade
Disposta no art. 120 do ECA, é uma medida que importa em privação de liberdade
ao adolescente que pratica um ato infracional mais grave. O adolescente é retirado de sua
família e colocado em um estabelecimento apropriado de semi-liberdade, podendo realizar
atividades externas (estudar, trabalhar etc.) somente com autorização do diretor do
estabelecimento, não havendo necessidade de autorização judicial. Pode ser usada tanto
como medida principal quanto como medida progressiva ou regressiva.

A semi-liberdade não tem prazo fixado em lei, nem mínimo nem máximo. A
doutrina e a jurisprudência determinam a aplicação da medida por analogia dos prazos da
internação, tendo como prazo máximo 3 anos. Há a obrigatoriedade de escolarização e
profissionalização na semi-liberdade.

2. INTERNAÇÃO

Disposta no art. 121 e seguintes do ECA, é a medida reservada para os atos


infracionais de natureza grave. O ECA estabelece princípios específicos para a internação,
pois é medida de privação de liberdade sempre excepcional.

A internação deve durar o menor tempo possível (princípio da brevidade), é uma


medida de exceção que só deverá ser utilizada em último caso (princípio da
excepcionalidade) e deve seguir o princípio do respeito à condição peculiar do adolescente
como pessoa em desenvolvimento. Em nenhuma hipótese pode ser aplicada à criança.

O ECA estabelece hipóteses de internação para:


3
__________________________________________________________________________ MÓDULO VI
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

• prática de ato infracional mediante grave ameaça ou violência à pessoa;

• reiteração de infrações graves;

• descumprimento reiterado e injustificado da medida anteriormente imposta (é


uma hipótese de regressão). Neste caso, a internação não pode ultrapassar o
prazo de 3 meses.

Nas duas primeiras hipóteses, o prazo máximo para internação é de 3 anos. Por
força desse prazo, o ECA poderá atingir o maior de 18 anos. Em rigor, todas as medidas
sócio-educativas poderão atingir o maior de 18 anos.

A medida só poderá ser aplicada com o devido processo legal e em nenhuma


hipótese poderá ser aplicada à criança. Quando o adolescente completar 21 anos, a
liberação será obrigatória. Caso o adolescente tenha passado por internação provisória,
esses dias serão computados na internação (detração). A diferença entre semi-liberdade e
internação é que, nesta, o adolescente depende de autorização expressa do juiz para praticar
atividades externas, ou seja, o adolescente internado somente se ausentará do
estabelecimento em que se achar se autorizado pelo juiz.

O art. 123 dispõe que o local para a internação deve ser distinto do abrigo,
devendo-se obedecer a separação por idade, composição física (tamanho), sexo e gravidade
do ato infracional. Há, também, a obrigatoriedade de realização de atividades pedagógicas.

O art. 124 dispõe sobre direitos específicos dos adolescentes:

• entrevista pessoal com o representante do MP;

• entrevista reservada com seu defensor, dentre outros.

As visitas podem ser suspensas pelo juiz, sob o fundamento de segurança e


proteção do menor, entretanto, em nenhuma hipótese o menor poderá ficar
incomunicável.

4
___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

EXERCÍCIOS
CURSO ANUAL
OPÇÃO 3

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ADMINISTRATIVO

1. A Administração Pública pode anular os seus próprios atos, eivados de vícios


insanáveis que os tornem ilegais, ou também revogá-los, por motivo de interesse
público superveniente, mas sempre com efeito ex tunc.
a) Correta a assertiva.
b) Incorreta a assertiva, porque a Administração não pode anular os seus atos, mesmo
sendo ilegais.
c) Incorreta, porque a Administração pode anular seus atos, por motivo de interesse
público, com efeito ex nunc.
d) Incorreta, porque tanto a anulação como a revogação operam efeitos ex tunc.
e) Incorreta, porque a anulação opera efeitos ex tunc, e a revogação efeitos ex nunc.

2. Assinale a alternativa correta.


A licitação pode ser conceituada como:
a) ato administrativo de escolha dos particulares a serem contratados pela Administração
Pública;
b) procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a
proposta mais vantajosa para fins de contratação de obras, serviços, compras,
alienações, concessões e permissões;
c) procedimento administrativo utilizado para a aquisição de bens necessários ao
atendimento dos agentes administrativos;
d) procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a
proposta mais vantajosa para a contratação de obras e serviços correlatos.

3. O dever de licitar obriga:


a)somente a administração direta, as autarquias e as fundações públicas;
b)a administração direta e a indireta;

1
___________________________________________________________________________MÓDULO XI

c)a administração direta e a indireta, excluídas desta as entidades de direito privado;


d)somente as pessoas jurídicas de direito público.

4. O ato praticado por agente incompetente, quando possível a sua convalidação,


materializa:
a)ato inexistente;
b)ato irregular;
c)ato nulo;
d)ato anulável;
e)nenhuma das hipóteses acima.

5. Na licitação, o princípio da competitividade:


a)proíbe conluios entre os participantes;
b)vincula o procedimento ao edital;
c)reporta-se à adjudicação compulsória ao vencedor;
d)exige a pré-qualificação dos licitantes.

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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CIVIL

1. Tendo em vista o reconhecimento de filhos havidos fora do casamento, segundo o


sistema de averiguação oficiosa adotado pela legislação brasileira, assinale a
alternativa correta:
a)O segredo de justiça sempre será imposto na diligência determinada para notificar o
suposto pai, vedado ao juiz dispensá-lo.
b)O averiguação oficiosa compreende filho menor apenas com a maternidade estabelecida.
c)O direito de promover a averiguação oficiosa prescreve em três meses a contar do
nascimento do filho.
d)Não poderá ser retificado, ainda que por decisão judicial, registro de nascimento de filho
extramatrimonial anterior à Constituição Federal de 1988 através de averiguação oficiosa.
e)Sendo o suposto pai casado, é incabível, por essa razão, a averiguação oficiosa da
paternidade.

2. São herdeiros necessários:


a)os colaterais;
b)o cônjuge casado sob o regime de comunhão universal de bens;
c)os descendentes, exclusivamente;
d)os ascendentes, exclusivamente;
e)os descendentes, ascendentes e o cônjuge sobrevivente.

3. A prerrogativa, concedida ao titular do direito real, de exercitar seu direito sobre a


coisa a ele vinculada, contra todo aquele que a possua injustamente ou seja seu
detentor, denomina-se:
a)direito de seqüela;
b)enfiteuse;
c)direito de preferência;
d)servidão.
1
___________________________________________________________________________MÓDULO XI

4. A modalidade de transferência convencional da posse, em que há conversão da


posse mediata em direta, ou desdobramento da posse, sem que nenhum ato
exterior ateste qualquer mudança na relação entre a pessoa e a coisa, denomina-
se:
a)penhor;
b)hipoteca;
c)constituto possessório;
d)comistão.

5. É correto afirmar que:


a)sempre existirá esbulho sem posse;
b)o esbulho e a turbação não guardam relação com a posse;
c)a turbação pressupõe a posse, o esbulho não;
d)não existe esbulho ou turbação sem posse.

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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO COMERCIAL

1. A sistemática adotada pelo Código de Defesa do Consumidor estabelece, no artigo


12, a responsabilidade civil independentemente da existência de culpa. Em razão
dessa disposição – e de outras que a complementam, na mesma lei –, assinale a
alternativa correta:
a)A afirmação é verdadeira, devendo a vítima que tiver de promover uma ação, provar o
dano e o nexo de causalidade, podendo ocorrer inversão do ônus da prova.
b)A afirmação é inteiramente falsa.
c)O Código de Defesa do Consumidor admite os riscos de desenvolvimento como causa
genérica de exclusão da obrigação objetiva de indenizar.
d)A responsabilidade do comerciante também é principal, em face do mencionado artigo.
e)O artigo prevê responsabilidade objetiva, e a vítima, ao propor uma ação, deve
demonstrar: o dano, o defeito e o nexo de causalidade. Com relação à culpa, ocorre
inversão do ônus da prova.

2. Uma indústria produziu, em série, um brinquedo que, por defeito de concepção,


apresenta grandes possibilidades de sufocação da criança. Uma outra também
produziu, em série, uma faca de cozinha extremamente afiada para ser usada no
corte de carne. Em ambos os casos, o fabricante alertou nas embalagens sobre os
riscos na utilização dos produtos. Corretamente é de se afirmar que:
a)a comercialização de ambos os produtos deve ser coibida em razão da periculosidade
exagerada;
b)a comercialização de ambos os produtos não deve ser coibida em razão da periculosidade
inerente, restando ser analisada em cada caso a periculosidade adquirida e decorrente da
utilização feita pelo consumidor;
c)a comercialização deve ser coibida apenas com relação ao brinquedo, em razão da
periculosidade exagerada – aquela que refoge à normalidade;
d)a faca não é considerada sequer um produto de periculosidade para os critérios do direito
do consumidor em qualquer das modalidades, visto ser normalmente um objeto cortante;
e)estão corretas as alternativas c) e d).
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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

3. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta,


apresentação ou publicidade, o consumidor poderá alternativamente e à sua livre
escolha:
I – exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou
publicidade;
II – aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III – rescindir o contrato, sem indenização por perdas e danos, com direito à restituição da
quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada.
Alternativas:
a) A assertiva II está correta.
b) As assertivas I e III estão incorretas.
c) Todas assertivas estão corretas.
d) As assertivas I e II estão corretas.

4. Na falência, right of stoppage in transitu é:


a)direito do vendedor de reter mercadorias no curso da “continuação de negócios” do
falido;
b)direito do vendedor, tomando ciência da falência do comprador, de obstar a entrega das
mercadorias, quando não houver prova de sua revenda, sem fraude, pelo falido;
c)direito do síndico de reter mercadorias remetidas ao falido;
d)direito do falido de cancelar a compra antes da entrega das mercadorias.

5. Assinale a alternativa incorreta:


a)O foro para a declaração de falência é o da sede do estabelecimento comercial. Se houver
vários estabelecimentos, será o local do principal.
b)São requisitos para o pedido falencial: a) impontualidade; b) obrigação líquida; c) título
que autorize a execução forçada.
c)O credor comerciante para requerer falência de outrem deverá provar sua qualidade, sua
situação de direito com o respectivo registro da firma.
d)A falência constitui causa legal obrigatória de rescisão de todos os contratos celebrados
pelo falido.

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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Assinale a alternativa incorreta:


a)O Estado é a sociedade politicamente organizada.
b)Segundo o critério proposto por Kelsen, a denominação Estado deve ser reservada à
comunidade em que a atividade legislativa e a função judiciária passam a ser de
competência exclusiva do governo.
c)Os elementos básicos do Estado são: povo, território e governo.
d)A União é soberana.

2. Assinale a alternativa correta:


a)Os Territórios possuem autonomia política.
b)A União é autônoma.
c)Os Municípios não gozam de autonomia política.
d)Os Territórios são considerados componentes da Federação.

3. A competência da União é privativa para legislar sobre as matérias arroladas no


artigo 22 da Constituição, podendo, entretanto:
a)ser editada lei complementar autorizando os Estados a legislar sobre questões específicas
das matérias ali relacionadas;
b)os Estados legislarem suplementarmente, desde que respeitada a norma geral da
União;
c)os Estados, quando inexistir sobre a matéria lei federal, legislarem plenamente;
d)os Estados legislarem ficando, entretanto, as respectivas leis suspensas quando da
superveniência de lei federal.

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4. O Município reger-se-á por lei orgânica:


a)votada pelas Assembléias Legislativas dos Estados, aprovada por 2/3 dos seus membros e
submetida ao “referendum” das Câmaras Municipais respectivas;
b)votadas em dois turnos e aprovada por 2/3 dos membros da Câmara Municipal;
c)votada e aprovada por 2/3 dos membros da Câmara Municipal depois de obtida a sanção
do Prefeito;
d)votada em dois turnos, aprovada por 2/3 dos membros da Câmara Municipal e
sancionada pelo Prefeito.

5. Havendo conflito entre lei federal e lei municipal:


a)prevalece a lei federal;
b)prevalece a lei municipal;
c)prevalece a lei municipal sobre trânsito e transporte;
d)poderá prevalecer a lei federal ou a municipal, conforme a matéria tratada.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1. Assinale a alternativa correta:


a)A época da concessão de férias será a que melhor atender os interesses do
trabalhador.
b)O pagamento da remuneração de férias será efetuado até o 5.º dia útil do mês
subseqüente.
c)É facultado ao empregado converter 1/3 (um terço) do período de férias, a que tiver
direito, em abono pecuniário.
d)O empregado que, espontaneamente, pedir demissão antes de completar doze meses de
serviço, terá direito a férias proporcionais.

2. Férias. Empresa que não concede férias e é condenada a concedê-las sob pena de
pagamento de multa diária. Qual a providência administrativa imposta?
a)Imposição de pena diária de 05% do salário mínimo em favor da União.
b)Imposição de pena diária de 05% do valor de referência em favor do trabalhador.
c)Cópia de sentença com trânsito em julgado será remetida ao órgão local do Ministério do
trabalho para fins de aplicação da multa.
d)Nenhuma providência é imposta.

3. Ao instituir Comissões de Conciliação Prévia, a lei brasileira fixa a seguinte


diretriz:
a)as empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de
composição paritária, com representantes dos empregados e dos empregadores, com a
atribuição de tentar a conciliação e a arbitragem dos conflitos individuais de trabalho;
b)é vedada a dispensa dos membros da Comissão de Conciliação Prévia, titulares e
suplentes, até o final do mandato, salvo se cometerem falta grave, nos termos da lei;
c)qualquer demanda de natureza trabalhista de obrigação de pagar será submetida à
Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido
instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria;
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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

d)a Comissão, instituída no âmbito da empresa, será composta de, no mínimo, dois e, no
máximo, dez membros.

4. A estabilidade provisória, garantida ao empregado candidato a cargo de


administração sindical, impede a sua dispensa imotivada a partir do momento do
registro de sua candidatura até:
a)seis meses após o final de seu mandato, caso seja eleito, inclusive na condição de
suplente;
b)um ano após o final de seu mandato, caso seja eleito, inclusive na condição de suplente;
c)a divulgação do resultado da eleição, caso eleito como suplente;
d)seis meses após a divulgação do resultado das eleições, caso não seja eleito;
e)um ano após a divulgação do resultado das eleições, caso não seja eleito.

5. A rescisão ou resilição do contrato de trabalho pode ser:


a)apenas unilateral;
b)apenas bilateral;
c)unilateral ou bilateral;
d)n.d.a.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

1. A Constituição de 1988 estabelece disposições sobre finanças públicas


determinando a edição de normas gerais, mediante lei complementar, que afetam:
a) apenas as finanças públicas;
b) somente a dívida externa e interna;
c) a dívida pública e a fiscalização das entidades financeiras;
d) as finanças públicas e outras áreas da atividade financeira do Estado;
e) as operações de câmbio realizadas por entidades estatais.

2. Compete ao Tribunal de Contas da União, exceto:


a) apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer
prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;
b) fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a
União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado constitutivo;
c) assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
d) discutir e votar projeto de lei que dispense, na forma do regimento, a competência do
Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa.

3. Os Ministros do Tribunal de Contas da União serão nomeados dentre brasileiros


que satisfaçam os seguintes requisitos:
a) mais de trinta e cinco e menos de sessenta anos de idade;
b) idoneidade moral e reputação ilibada;
c) mais de trinta anos e menos de sessenta e cinco anos de idade;
d) nove anos de exercício na função, ou de efetiva atividade profissional.

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4. Cabe à lei complementar em matéria de repartição de receitas tributárias:


a) estipular alteração da competência tributária de um ente municipal;
b) instituir a criação de imposto não prevista pela Constituição;
c) estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159, CF,
especialmente sobre critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I,
objetivando promover o equilíbrio socioeconômico entre Estados e entre
Municípios;
d) alterar competência tributária de um ente estadual.

5. É competência da lei complementar em matéria de finanças públicas, exceto:


a) estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta,
bem como condições para a instituição e funcionamento de fundos;
b) estabelecer normas sobre dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias,
fundações e demais entidades controladas pelo Poder Público;
c) a concessão de garantias pelas entidades públicas;
d) a compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da União,
resguardadas as características e condições operacionais plenas das voltadas ao
desenvolvimento regional.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ELEITORAL

1. A criação de partidos políticos, de modo originário ou derivado:


a) está condicionada ao cumprimento de princípios constitucionais;
b) é livre, bastando a vontade dos idealizadores;
c) depende apenas das regras previstas na LOPP;
d) estão corretas as alternativas a) e b).

2. A criação de partido político deve, entre outros requisitos, observar:


a) o caráter nacional;
b) o número mínimo de 1% dos eleitores do país como seus filiados;
c) o caráter, pelo menos, estadual;
d) atuação no âmbito municipal quando o município concentre pelo menos 3% do
eleitorado nacional.

3. Os partidos políticos registrarão seus Estatutos:


a) após adquirir personalidade jurídica, no TRE do Estado onde nasceram;
b) no TSE, se nasceram simultaneamente em mais de 1 Estado;
c) no TSE, após adquirir personalidade jurídica;
d) no TSE, embora partido político não tenha personalidade jurídica.

4. Os partidos políticos:
a) são livremente criados, observada apenas a liberdade de associação para fins lícitos,
sendo-lhes assegurada plena autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento;
b) ao adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, estão desde logo habilitados
a registrar candidaturas e a participar de eleições;

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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

c) têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na


forma da lei, mesmo se não registrados os seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral;
d) devem estabelecer, nos seus estatutos, normas de fidelidade e disciplina partidárias e
gozam de autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento.

5. São órgãos de deliberação dos partidos políticos:


a) as convenções nacional, regionais e municipal;
b) os diretórios de todos os níveis;
c) a comissão de ética e o conselho disciplinar;
d) o conselho fiscal e o conselho consultivo.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO INTERNACIONAL

1. Considerando cada um dos itens abaixo (I, II e III), aponte a hipótese correta:
I – Recebe sua investidura através de carta-patente.
II – Representante escolhido entre os nacionais do Estado em que vai servir.
III – Pedido de Agreement.
a) cônsul, cônsul missi, diplomata;
b) diplomata, cônsul electi, diplomata;
c) cônsul, cônsul electi, diplomata;
d) cônsul, diplomata, cônsul missi.

2. Assinale a alternativa correta:


a)os navios de guerra submetem-se sempre à jurisdição local, quer quanto à segurança
da navegação, à proteção do meio ambiente ou à prevenção de infrações locais,
derivadas da passagem pelo mar territorial de Estado soberano;
b)a soberania de um Estado sobre seu mar territorial não é absoluta, pois sofre restrição
quanto à denominada passagem inocente, quer de navios mercantes, quer de navio de
guerra;
c)os navios de guerra submetem-se à jurisdição de seu Estado de origem, mas não
gozam de imunidade quando em trânsito por mares e territórios estrangeiros;
d)as aeronaves, sejam pertencentes a empresa privada, sejam pertencentes a companhia
controlada pelo respectivo Estado de origem, determinam o regime jurídico internacional a
que estão obrigadas, independentemente do pavilhão nacional que ostentem.

3. Com relação aos agentes diplomáticos, assinale a alternativa correta:


a)Os agentes diplomáticos são as pessoas enviadas pelo chefe do Estado para representar
esse Estado perante um governo estrangeiro;
b)A seleção e nomeação dos agentes diplomáticos é assunto regulamentado pela legislação
interna dos Estados;
c)Um Estado pode designar o mesmo agente diplomático perante dois ou mais Estados;
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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

d)Todas as respostas estão corretas;


e)Todas as respostas estão erradas.

4. Assinale a alternativa correta:


a)As partes, em um tratado, são necessariamente pessoas jurídicas de Direito Internacional
Público;
b)As partes, em um tratado, são necessariamente pessoas jurídicas de Direito
Internacional Público, desde que o objeto do tratado seja matéria de ordem pública;
c)As partes, em um tratado, podem ser pessoas jurídicas de Direito Privado, se de ordem
privada for a matéria de seu objeto;
d)Diante do fenômeno da globalização da economia, com a criação dos chamados blocos
econômicos, como a União Européia e o Mercosul, tem-se atribuído personalidade jurídica
internacional e capacidade para celebrar tratados a determinadas entidades privadas
internacionais;
e)São corretas as alternativas “b” e “c”.

5. Em uma das hipóteses abaixo vem registrada uma figura internacional que, apesar de
sua importância, não era considerada uma organização e, em 1995, foi substituída
por um organismo mais abrangente. Aponte-a:
a)FMI, BIRD,OIT;
b)OMC, GATT, UNESCO;
c)OMS, FAO, UPU;
d)OIT,CECA,EURATOM.

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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PENAL

1. São medidas de segurança:


a)a internação e proibição do exercício da profissão;
b)a proibição do exercício da profissão e a limitação de fim de semana;
c)a internação e a sujeição a tratamento ambulatorial;
d)a sujeição e tratamento ambulatorial e a limitação de fim de semana.

2. Configura-se o concurso material benéfico:


a)quando para alcançar-se o limite legal mínimo de dois anos e fazer-se jus ao
livramento condicional, somar-se penas correspondentes a outras infrações;
b)quando, tendo sido o agente condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja
superior a trinta anos, devam elas ser unificadas para atender ao limite legal máximo;
c)quando, por ter o agente praticado crimes da mesma espécie e em determinadas
condições, deva aplicar-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se
diversas, aumentadas, em qualquer caso, de um sexto a dois terços;
d)quando a pena resultante do concurso formal, por ser superior a que seria cabível pelas
regras do cúmulo material, não pode exceder esta.

3. Sobre a prescrição:
I – No caso de concurso de crimes, a prescrição da pretensão punitiva com base na pena
em abstrato, incide sobre a pena de cada um, isoladamente.
II – No caso de concurso de crimes, a prescrição da pretensão punitiva com base em pena
em abstrato, deve ser calculada sobre a soma das penas aplicáveis.
III – No caso de concurso de crimes, a prescrição da pretensão executória deve ser
calculada sobre a soma das penas aplicadas.
IV – No caso de concurso formal de crimes, o cálculo da prescrição se faz com base na
pena inicialmente aplicada, desconsiderando-se o aumento pelo concurso ideal.
a)As afirmações I e IV estão corretas.
b)As afirmações II e II estão corretas.
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c)Somente a afirmação II está correta.


d)Somente a afirmação IV está correta.

4. Com relação ao perdão judicial:


I – Constitui em direito subjetivo do réu, não podendo ser negado quando preenchidos os
requisitos legais.
II – A sentença concessiva do perdão judicial deve ser considerada para efeitos de
reincidência.
III – A sentença que concede o perdão judicial é condenatória, subsistindo todos os seus
efeitos secundários.
IV – Existe súmula do STJ sobre a matéria, cujo enunciado diz que a sentença concessiva
do perdão judicial é declaratória de extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer
efeito condenatório.
Decorre dessas afirmações que:
a)Somente a afirmação II está correta.
b)Somente a afirmação IV está correta.
c)As afirmações II e III estão corretas.
d)As afirmações I e IV estão corretas.

5. Assinale a alternativa incorreta:


a)nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto aos
outros, a agravação da pena resultante da conexão;
b)antes do trânsito em julgado da sentença condenatória para a acusação, a prescrição
regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime;
c)para efeitos da prescrição, somam-se as penas dos crimes praticados em concurso
material;
d)não se computam, no lapso prescricional, os aumentos de pena correspondentes ao concurso
formal e à continuidade delitiva.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

1. O benefício previdenciário, adiante indicado, rege-se pela seguinte norma, entre


outras, de natureza legal ou regulamentar:
a) a aposentadoria especial será devida, independentemente de carência, ao segurado que
haja trabalhado, pelo menos, durante 15 (quinze) anos em atividades que prejudiquem a
saúde ou a integridade física do trabalhador, constantes de relação especificada em lei;
b) o auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, a
carência legal, ficar incapacitado para o trabalho por mais de 30 (trinta) dias
consecutivos;
c) o salário-família é devido, mensalmente, aos segurados casados ou que mantenham o
estado de casados, em uniões estáveis reconhecidas por lei;
d) a cota do salário-família será incorporada ao salário e ao benefício, para todos os efeitos
legais;
e) o salário-maternidade da empregada doméstica ser-lhe-á pago diretamente pela
Previdência Social, em valor correspondente ao de seu último salário-contribuição.

2. Preenchidos todos os requisitos legais para a concessão do benefício


previdenciário, o direito ao seu gozo prescreve:
a) em cinco anos por se tratar de crédito contra a Fazenda Pública;
b) em doze meses sem contribuição, pois, há a perda de qualidade de segurado;
c) em vinte anos;
d) não há prescrição do direito, apenas das prestações abrangidas pela prescrição
qüinqüenal.

3. O termo final do salário-maternidade é de:


a) 90 dias, excepcionalmente mais duas semanas;
b) 120 dias, excepcionalmente mais duas semanas;
c) 30 dias, excepcionalmente mais duas semanas;
d) 60 dias, excepcionalmente mais duas semanas.
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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

4. Para a trabalhadora avulsa, o valor do salário-maternidade será calculado com


base:
a) no salário mínimo;
b) no salário de contribuição registrado em carteira;
c) na última remuneração;
d) n.d.a.

5. O salário-família é permitido:
a) apenas ao segurado de baixa renda;
b) a todos os segurados, indistintamente;
c) ao segurado que possua renda mensal de até cinco salários mínimos;
d) n.d.a.

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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. Sobre os embargos de declaração, é verdadeiro afirmar que:


a)Quando houver, na sentença ou no acórdão, contradição, obscuridade ou omissão, no
prazo de cinco dias, em petição dirigida ao juiz ou relator, interrompendo o prazo para a
interposição de outros recursos.
b)Podem ser opostos quando houver, na sentença, contradição, obscuridade ou omissão, no
prazo de cinco dias, não interrompendo o prazo para a interposição de outros recursos.
c)Quando houver, no acórdão, contradição, obscuridade ou omissão, no prazo de dez dias,
dirigido ao presidente da câmara ou turma que julgou a apelação, interrompendo o prazo
para a interposição de outros recursos.
d)Quando houver, na sentença ou no acórdão, contradição, obscuridade ou omissão, no
prazo de dez dias, não interrompendo o prazo para a interposição de outros recursos.

2. César interpôs recurso especial contra v. Acórdão do Tribunal de Justiça de São


Paulo, alegando que a decisão recorrida contrariou lei federal (primeiro
fundamento) e deu interpretação à lei federal divergente da que foi dada por outro
Tribunal (segundo fundamento). A 3ª Vice-Presidência do Tribunal local admitiu o
recurso especial somente pelo segundo fundamento. Distribuído o recurso no
Superior Tribunal de Justiça, foi o mesmo regularmente encaminhado para
julgamento, tendo a Turma Julgadora dado provimento com base na alegação de
que a decisão recorrida contrariou lei federal, não conhecendo da divergência
jurisprudencial, por ausentes os requisitos formais. Dessa maneira:
a)A Turma Julgadora agiu corretamente, na medida em que, admitido o recurso especial
por um de seus fundamentos, todos poderão ser conhecidos e eventualmente providos.
b)A Turma Julgadora errou, na medida em que, com relação ao primeiro fundamento,
operou-se a preclusão, de vez que deveria César interpor agravo regimental contra a
decisão de inadmissibilidade.
c)A 3ª Vice-Presidência errou, de vez que não poderia negar seguimento parcial ao recurso
especial.
d)A Turma Julgadora errou, porquanto os fundamentos apresentados ensejariam recurso
extraordinário e não o especial.

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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

3. No novo sistema recursal, pode-se afirmar que tanto o Recurso Extraordinário


como o Recurso Especial, quando interpostos contra decisão interlocutória
agravada, em processo de conhecimento, cautelar ou embargos à execução, terão o
seguinte procedimento:
a) Serão recebidos, de regra, no efeito devolutivo e, excepcionalmente, no efeito
suspensivo.
b) Serão sempre recebidos somente no efeito devolutivo.
c) Serão retidos nos autos para posterior apreciação.
d) Serão apreciados na primeira seção do Tribunal a que são dirigidos.

4. Indique a alternativa incorreta:


a)É embargável a decisão da Turma que em recurso extraordinário divergir do julgamento
de outra Turma ou do Plenário.
b)Da decisão que der a lei federal interpretação divergente daquela atribuída por outra
Corte, cabe recurso especial.
c)Instaura-se o incidente de uniformização de jurisprudência quando houver divergência de
julgados dos órgãos fracionários do Tribunal.
d)Da decisão proferida em incidente de uniformização de jurisprudência, cabe tanto
recurso especial quanto extraordinário.

5. Assinale a alternativa incorreta:


a)O agravo de instrumento é o recurso cabível da decisão que nega seguimento ao recurso
especial ou extraordinário para o STF ou STJ;
b)O prazo para interposição de recurso extraordinário perante o Supremo Tribunal federal é
de quinze dias;
c)O prequestionamento não é requisito de admissibilidade do recurso extraordinário;
d)Compete ao presidente ou vice-presidente do tribunal a quo admitir ou não os recursos
especial e extraordinário;
e)N.d.a.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. O exame de insanidade mental do acusado portador de deficiência mental visível


poderá ser ordenado:
a)pelo defensor, curador, ascendentes ou descendentes, irmão ou cônjuge do acusado;
b)pela autoridade policial, a pedido das partes;
c)pelo Ministério Público, de ofício;
d)pelo juiz.

2. O juiz dar-se-á por suspeito e, se não o fizer, poderá ser recusado pelas partes:
a)se seu filho estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter
criminoso haja controvérsia;
b)se ele próprio tiver funcionado no processo como autoridade policial;
c)se seu cônjuge tiver funcionado como intérprete ou tradutor no mesmo processo;
d)se seu primo sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por
qualquer das partes;
e)se seu genitor for parte ou diretamente interessado no feito.

3. Quanto às testemunhas no processo penal:


a)Salvo nos casos de proibição legal, ninguém pode recusar-se a depor como testemunha
no processo penal.
b)Somente o pai, a mãe, os filhos e o cônjuge de réu podem eximir-se de depor como
testemunhas no processo.
c)Se lhe parecer conveniente, o juiz poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas
pelas partes, mas desde que referidas no processo.
d)A testemunha, durante o depoimento, poderá fazer breves consultas a apontamentos.

4. Quanto ao objeto da prova no processo penal, é correto afirmar que:


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___________________________________________________________________________MÓDULO XI

a)Os fatos axiomáticos precisam ser provados.


b)Assim como ocorre no processo civil, no processo penal é excluído do objeto da prova o
chamado fato incontroverso.
c)Os fatos presumidos precisam ser provados.
d)Estão incorretas as afirmativas das alternativas anteriores.

5. O réu, processado por tentativa de homicídio, grava, sem conhecimento do ofendido,


conversa telefônica desse com terceiro, seu amigo, visando provar que agira em
legítima defesa. Pode-se dizer que tal prova:
a)Não é ilícita, porque um dos envolvidos na comunicação telefônica concordava com a
gravação.
b)É, em princípio, ilícita, mas pode ser admitida porque amparada pelos princípios da
proporcionalidade e do favor rei; e porque, causas legais que excluam o crime, como a
legítima defesa, eliminam a ilicitude da prova.
c)Pode ser admitida porque nenhuma restrição pode haver à defesa, cuja amplitude é
constitucionalmente assegurada.
d)Não pode ser admitida porque, vedada a prova ilícita à acusação, haveria ofensa ao
equilíbrio do contraditório.
e)Deve ser desentranhada dos autos porque “não admissibilidade da prova ilícita” deve ser
entendida exatamente como a impossibilidade de seu ingresso nos autos do processo.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal


pelo contribuinte, respondem solidariamente com esse nos atos em que intervierem
ou pelas omissões pelas quais forem responsáveis:
I – os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II – os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os
atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício;
III – o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio;
IV – o sócio, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.
Assinale a alternativa correta:
a) Somente as alternativas II e III estão corretas;
b) Somente a alternativa IV está correta;
c) Todas as alternativas estão corretas;
d) A alternativa I está correta.

2. Nos termos do Código Tributário Nacional, o denominado lançamento por


homologação:
a) acontece naqueles tributos em que a legislação tributária impõe ao Fisco todo o labor
da constituição do crédito tributário;
b) somente será completado se a Administração permanecer omissa no prazo de cinco
anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte ao da realização do fato gerador;
c) exige que o Fisco homologue expressa ou tacitamente os pagamentos antecipados,
realizados pelo próprio contribuinte sem qualquer participação estatal;
d) suspende a exigibilidade do crédito tributário.

3. Assinale a alternativa incorreta:


A capacidade tributária passiva independe:
a) da capacidade das pessoas naturais;
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b) de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do


exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de
seus bens ou negócios;
c) de ser contribuinte ou responsável, cuja obrigação decorra de disposição expressa em
lei;
d) de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma
unidade econômica ou profissional.

4. O domicílio tributário do contribuinte ou responsável é fixado:


a) pela residência habitual ou, sendo essa incerta ou desconhecida, pelo centro habitual de
sua atividade;
b) pelo lugar da situação dos bens, ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à
obrigação;
c) pelo lugar onde estabelecer residência com ânimo definitivo e, se tiver diversas
residências onde alternadamente viva, ou vários centros de ocupações habituais,
qualquer desses ou daquelas;
d) pelo sujeito passivo, contribuinte ou responsável, que decide espontaneamente sobre o
local de sua preferência, desde que a autoridade administrativa não o recuse por
dificultar a arrecadação ou fiscalização do tributo.

5. O lançamento:
a) é título executivo extrajudicial;
b) é ato administrativo constitutivo, pois dá nascimento ao crédito tributário;
c) é o ato por meio do qual formaliza-se o crédito tributário – nascido em virtude da
ocorrência do fato imponível (ou fato gerador);
d) depende sempre da atuação do contribuinte.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITOS HUMANOS

1. Caso a Comissão Interamericana de Direitos Humanos solicite informações sobre


uma violação de direito ocorrida em território nacional, o governo brasileiro:
a) é obrigado a fornecê-las em razão da Convenção Americana de Direito Humanos de
1969;
b) é obrigado a prestá-las, pois sendo signatário da Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948, obrigou-se a prestar informações à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos;
c) seria obrigado a prestá-las, caso o Governo brasileiro, ao ratificar a Convenção Americana de
Direitos Humanos, tivesse feito menção expressa a essa possibilidade de supervisão pela
Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
d) não tem nenhuma obrigação de fornecer a referida informação, pois isso constituiria
uma violação da soberania brasileira.

2. A proteção dos Direitos Humanos:


I. independe, segundo a doutrina contemporânea, de fronteiras nacionais e jurisdição
doméstica, por serem tais direitos inerentes à dignidade da pessoa humana e não
dependentes de reconhecimento estatal;
II. tem como importantes instrumentos, no plano global, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, de 1948, das Nações Unidas, e os Pactos Internacionais de
Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, e,
no plano regional, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (Pacto
de San José de Costa Rica);
III. no sistema da OEA, tem como órgãos competentes a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, com sede em Washington DC, nos Estados Unidos da América, e
a Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em San José da Costa Rica.

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Analisando-se as asserções acima, pode-se afirmar que:


a) todas são corretas;
b) todas são incorretas;
c) somente as de números I e II estão corretas;
d) somente as de números II e III estão corretas.

3. Para fins da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação


contra a mulher , a expressão “discriminação contra a mulher” significará, exceto:
a) distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo;
b) qualquer ato que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento,
gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil;
c) tem base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer
outro campo;
d) qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informações
ou confissões.

4. Os Estados-partes condenam a discriminação contra a mulher em todas as suas


formas, concordam em seguir, por todos os meios apropriados e sem dilações, uma
política destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com tal objetivo se
comprometem, exceto:
a) a consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas Constituições nacionais ou em outra
legislação apropriada, o princípio da igualdade do homem e da mulher e a assegurar,
por lei outros meios apropriados, a realização prática desse princípio;
b) a proteger a mulher da violência doméstica;
c) estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher em uma base de igualdade com os
do homem e garantir, por meio dos tribunais nacionais competentes e de outras
instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra todo ato de discriminação;
d) adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter legislativo, para modificar ou
derrogar leis, regulamentos, usos e práticas que constituam discriminação contra a
mulher.

5. Os movimentos de mulheres recomendam que:


a) não sejam eliminadas as reservas à Convenção pela Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Contra a Mulher, pois constituem obstáculos à sua efetiva
implementação;

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b) seja cumprido o compromisso de envio, ao CEDAW, de relatórios periódicos sobre a


atuação do Governo brasileiro na aplicação da Convenção pela Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Contra a Mulher;
c) institua-se o reconhecimento de que todos os atos atentatórios aos direitos das mulheres
constituem claro desrespeito aos direitos humanos;
d) combata-se a impunidade dos agressores e as absolvições fundamentadas em conceitos
legitimadores da opressão da mulher pelo homem.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1. Aquele que não levou a arma para registro:


a) não poderá mais registrar a arma, pois assim a Lei n. 9.437/97 determina;
b) poderá registrar a arma e não precisará comprovar sua origem;
c) poderá registrar a arma, desde que comprove sua origem;
d) nenhuma das alternativas anteriores.

2. Assinale a alternativa incorreta. O porte de arma de fogo:


a) é proibido nas aeronaves, salvo para policiais federais, civis, militares, ou oficiais das
Forças Armadas, após expressa autorização da Aeronáutica, no interesse da ordem
pública;
b) desde que funcional, dispensa o seu registro;
c) não possibilita a condução ostensiva da arma e nem autoriza que com ela se permaneça
em clubes, casas de diversão, estabelecimentos educacionais e locais onde se realizem
competições esportivas ou reunião, ou haja aglomeração de pessoas;
d) é pessoal e revogável a qualquer tempo.

3. A autorização de porte de arma de fogo:


a) dispensa o registro da arma de fogo;
b) é transferível, desde que autorizado;
c) tem eficácia limitada e depende do preenchimento de requisitos legais;
d) tem eficácia ilimitada e, como regra, é federal.

4. Noticia a mídia que alguns marginais possuidores de várias armas de fogo


estariam alugando as mesmas a outros criminosos e cobrando para isso
determinada participação nos eventuais lucros na empreitada criminosa a ser

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praticada. Estudando a Lei n. 9.437/97 – Lei do Porte de Arma – verifica-se que


essa conduta de “alugar” armas de fogo:
a) está expressamente prevista e punida nessa legislação;
b) não está expressamente prevista nessa legislação, existindo o que se chama de
“lacuna”;
c) embora não expressamente prevista nessa lei, está implícita nos verbos “fornecer” e
“emprestar”, utilizados pelo legislador;
d) embora não prevista expressamente nessa lei, está implícita no verbo “ceder”, utilizado
pelo legislador.

5. O porte de arma branca, a exemplo de navalha, punhal, peixeira, estilete, faca,


canivete, facão de mato e até o chamado soco inglês, se evidenciada a vontade do
agente de utilizá-las para fins de ataque ou defesa, configura:
a) crime previsto na Lei n. 9.437/97, que instituiu o Sistema Nacional de Armas e
estabeleceu condições para o registro e para o porte de arma de fogo;
b) contravenção por porte ilegal de arma, pois a Lei n. 9.437/97 não transformou tal
conduta em crime;
c) mero ilícito administrativo;
d) crime contra a incolumidade pública;
e) crime contra a paz pública.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

MEDICINA LEGAL

1. Para que uma lesão possa ser caracterizada como de natureza gravíssima, ela tem
que apresentar os seguintes elementos:
a) permanência, extensibilidade e cicatricibilidade;
b) extensibilidade, aparência e cronicidade;
c) extensibilidade, permanência e visibilidade;
d) deformidade, cronicidade e extensibilidade.

2. Consideram-se como lesões corporais gravíssimas as que implicam algum dos


seguintes resultados:
a) aceleração de parto, perigo de vida ou enfermidade incurável;
b) abortamento, deformidade permanente ou enfermidade incurável;
c) enfermidade incurável, deformidade permanente ou perigo de vida;
d) incapacidade permanente para o trabalho, aceleração de parto ou perigo de vida.

3. Conseqüentemente a uma agressão a vítima teve perda total da visão do olho


esquerdo. Pode-se dizer que, em conformidade com o artigo 129 do Código Penal,
parágrafos e incisos, o agredido sofreu lesão corporal de natureza:
a) leve, pois o sentido da visão está preservado;
b) grave, por debilidade permanente de sentido;

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c) gravíssima, por perda de sentido ou função;


d) gravíssima, por perda de órgão.

4. Um indivíduo, esmurrado, cai ao solo, fratura o crânio e vem a falecer. O agressor


deve responder por:
a) homicídio culposo;
b) homicídio doloso;
c) homicídio qualificado;
d) lesão corporal seguida de morte.

5. O primeiro exame complementar de lesões corporais é feito:


a) 30 dias após o exame inicial;
b) 30 dias após o evento;
c) qualquer dia que o perito determinar;
d) quando o juiz determinar.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1. Examine as afirmações que seguem:


I. No procedimento destinado à apuração de ato infracional atribuído a adolescente
não é obrigatória a presença de advogado se os pais ou responsável comparecerem
às audiências.
II. É impossível a internação antes da sentença a ser proferida no procedimento
destinado à apuração de ato infracional, pelo prazo máximo de quarenta e cinco
dias, desde que seja determinada em decisão fundamentada e baseada em indícios
suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da
medida.
III. A imposição das medidas sócio-educativas pressupõe a existência de provas
suficientes de autoria e da materialidade do ato infracional, ressalvadas as hipóteses
de remissão ministerial ou judicial e da medida sócio-educativa de advertência .
IV. As medidas sócio-educativas poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente,
bem como substituídas a qualquer tempo.
V. A criança e o adolescente de ato infracional poderão ser inseridos em regime de
liberdade assistida por prazo não superior a seis meses.
a) As assertivas I e V estão erradas.
b) Apenas a assertiva IV está correta.
c) As assertivas I, II e V estão corretas.
d) As assertivas I, II, III e IV estão corretas.
e) Todas as assertivas estão corretas.

2. Escolha a correta:
a) Comparecendo os pais ou responsáveis, o adolescente, que tenha praticado ato
infracional, será prontamente liberado pela autoridade.
b) O Juiz da Infância e Juventude é competente para expedir alvará autorizativo para um
menor impúbere trabalhar para ajudar a família.
c) As medidas sócio-educativas previstas no ECA somente serão aplicadas aos
adolescentes infratores maiores de 12 (doze) anos e menores de 18 (dezoito) anos.
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d) O ECA, ao permitir ao Ministério Público a remissão sujeita à homologação judicial,


também lhe permite a aplicação de medida sócio-educativa aplicativa, também sujeita à
homologação judicial, aos atos infracionais de menor potencial ofensivo.
e) n.d.a.

3. O dia 12 de outubro foi instituído como sendo o Dia da Festa da Criança pela Lei
ou Decreto n.º :
a) 282, de 01.06.1948.
b) 3.071, de 01.01.1916.
c) 662, de 06.04.1949.
d) 4.867, de 05.11.1924.
e) n.d.a.

4. A internação de que trata o artigo 121, § 2º, do Estatuto da Criança e do


Adolescente , pode ser fixada em até:
a) 3 (três) meses.
b) 6 (seis) meses.
c) Não há prazo e deve ser reavaliado a cada 6 (seis) meses.
d) Não há prazo e deve ser reavaliado a cada 3 (três) meses.
e) N.d.a.

5. Todas as alternativas abaixo estão erradas, exceto:


a) Ao Ministério Público é permitido aplicar medidas sócio-educativas ao adolescente
infrator, apenas as que não impliquem em privação de liberdade.
b) Ao Ministério Público é permitido aplicar medida sócio-educativa ao adolescente
infrator, apenas quando conceder a remissão, desde que aquela não implique em
privação de liberdade.
c) Em nenhuma hipótese, é permitido ao Ministério Público aplicar medidas sócio-
educativas ao adolescente, pela prática de ato infracional.
d) Ao Ministério Público é permitido aplicar apenas a medida sócio-educativa de
Advertência sempre que conceder a remissão e o adolescente infrator haja concordado
com ela.

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