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Assassinato de um governante
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* Linhas em que o pensamento continua na próxima linha.
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Próspero é “afortunado”, pois depois de doze anos de sofrimento em uma ilha
distante, ele vê sua filha prometida de casamento e depois tem seu ducado restaurado.
Ele é claramente o personagem principal da peça; ele tem mais falas e também manipula
os outros personagens. [46]
No século XVII, quando o Mago (Próspero) era percebido com um filósofo
esclarecido e benigno, a peça parecia uma comédia mágica; já no século XX, quando
Próspero veio a ser visto como um transtornado – se não, tirânico – imperialista, a peça
começou a parecer mais problemática. [47]
Em harmonia com essas interpretações em constante mudança, existiram – e
ainda existem – diferente imagens físicas do Mago. Do século XVII até o XX, ele era
costumeiramente representado no palco como um velho sábio e com uma barba
parcialmente branca; em muitos comentários pós século XX, ele é apresentado como
um homem de meia idade, o que reflete a cultura real do Renascimento e, em parte, a
influência de teorias freudianas. [48]
Quando Richard Burbage (1567-1619) encenou Próspero em 1611, ele tinha 44
anos (Shakespeare tinha 47), o que confirma nossa impressão de que Próspero tinha
entre 40 e 45 anos, porém, não mais velho do que isso. [49]
Durante a peça Próspero mustra uma excelente combinação de poder e cotrole
em suas relações com os outros. Sua postura é autoritária, o que pode explicar a mutante
reação ao seu papel através dos séculos. [50]
Próspero é visto também como um mágico. Ele usa túnica e bastão mágicos e
refere-se aos seus livros de magia. Mágica é a tecnologia dele, um meio de conseguir
tudo que ele quer. [51]
Talvez, o papel mais controverso de Próspero é o de Mestre. A seu serviço estão:
Ariel, que o serve sob um contrato oral e por um período indeterminado, e Caliban, que
foi escravizado pelo mágico. [52] Esse papel é controverso pois o Mago tenta lidar com
seus subordinados através de ameaças de confinamento e tortura.
Em um esforço para controlar seus discípulos, Próspero também procura
monopolizar a narrativa, como quando ele entedia Miranda em seu discurso, com umas
das exposições mais demoradas em todo o drama Shakespeariano. [53]
O papel de Miranda na estrutura autoritária de A Tempestade é primeiro como
uma filha e, depois, como o de uma futura esposa. Mas, mesmo quando ela
convenientemente (ou magicamente) se apaixona pelo homem de escolha do seu pai,
Miranda não é tão mansa e submissa como ela é retratada. Ela encontra-se com
Ferdinand clandestinamente (ela pensa), sem a permissão do pai dela e depois
desobedece a ordem que ele deu para que ela não revelasse seu nome. [54]
Central à obsessão de Próspero com a castidade e a fertilidade está Miranda, ela
é a sua “razão de ser” (em francês, raison d’être), pois o casamento dela e os seus
futuros filhos darão a ele a promessa de imortalidade. [55]
Embora Miranda seja central na história de A Tempestade, os dois servos de
Próspero representam papéis mais proeminentes e dinâmicos; ambos têm nomes
problemáticos. ‘Ariel’ deve ter tido muita consonância com a platéia jacobina: ‘Uriel’ é
o nome de um anjo na Cabala dos Judeus. [56] E as nuances bíblicas são muito mais
ricas. Embora a Bíblia Bishop* relacione Ariel à cidade de Jerusalém (Isaías 29), a
Bíblia Geneva** observa que o nome hebreu ‘Ariel’ significa Leão de Deus e significa
altar, por causa do altar levantado para oferecer sacrifícios a Deus. Na Bíblia Bishop, o
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Tradução da bíblia para a língua inglesa feita no reinado da rainha Elizabete I
** Uma das mais importantes traduções da bíblia feita em língua Inglesa antes do reinado de James. Foi a
bíblia usada para reforma protestante e também foi bastante utilizada por Shakespeare.
profeta declara que o altar de Jerusalém será visitado por Deus com trovões, tremores de
terra, um grande barulho, uma chama de fogo devorador e uma tempestade. [57]
Ariel descreve sua atividade na tempestade e diz que “flamejou espanto” e
queimou muitos lugares. Shakespeare provavelmente ouviu o capítulo 29 de Isaías ser
exposto na Igreja ou o tenha lido em casa. Se ele se baseou diretamente na bíblia ou
redigiu inconscientemente, a imagem de Ariel como “Leaão de Deus” fala através da
enchente e do fogo e reverbera em A Tempestade. [58]
Própero descreve ariel como uma criatura curiosa, delicada, suave e brincalhona.
[59] Como um espírito do ar, Ariel pode ser vista como um pólo do dualismo
neoplatônico: ar como oposição à terra de Caliban. Assim, Ariel é geralmente é ilustrada
sendo carregada pelo ar ou, algumas vezes, com asas. [60] Ariel também é associada
com água: o espírito implementa a tempestade e é disfarçado como uma ninfa do mar.
Ar e água conotam leveza, fluidez e graça de movimento. [61]
Caliban, por sua vez, é constrangidamente esquisito, frequentemente impedido
por suas nadadeiras ou sua corcunda.
Embora a lista de personagens de A Tempestade e o seu próprio texto não
identifique Ariel como um ser humano (embora racional) e sim, como um espírito, ele
tem pensamentos e sentimentos independentes. [62]
A natureza de Caliban é mais controversa que a de Ariel e tão confusa quanto a
origem de seu nome. Um longo consenso prevaleceu é o de que Caliban é um anagrama
de “canibal”, Shakespeare, desse modo, identificou o selvagem de alguma forma com o
antropofagismo. [63] A resposta usual é que Shakespeare não quis dizer que Caliban era
literalmente um canibal, mas que era moralmente e socialmente deficiente. [64]
Várias etimologias alternativas foram oferecidas para explicar a origem do nome
de Caliban: “Calibia”, um lugar da áfrica; “Chalybes”, um povo mencionado pelo autor
clássico Virgil; “Kalebon” uma palavra árabe que significa “vil, cão”; “Kalee-ban”, uma
palavra hindu e, a mais plausível, “Caulibon”, uma palavra cigana para coisas negras.
[65]
A dimensão da deformidade de Caliban não é precisa. Stephano e Trinculo
reduzem Caliban à categoria de monstro, combinando com os adjetivos: superficial,
fraco, pérfido e bêbado, horripilante, abominável, ridículo e, em um modo positivo (mas
sarcástico), bravo. [67] Porém, mesmo que Caliban não possua a forma humana, em
muitos aspectos, ele tem qualidades humanas. [68] Mais uma vez A Tempestade não
determina o volume de evidências que possam apontar que Caliban é - apesar de seu
parentesco demoníaco - essencialmente humano. [69]
O CONTEXTO
África e Irlanda
Precursores literários
Mágica
O Pós-vida