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CAM 3–Comla 8

3º Congresso Missionário Americano


8º Congresso Missionário Latino-Americano

Escuta
Aprende
Anuncia
Data: 12 a 17 de agosto de 2008
Local: Quito (Equador)
Lema: América, com Cristo: Escuta, Aprende e Anuncia
Tema: A Igreja em Discipulado Missionário

Vagas: 120 para o Brasil, que serão distribuídas proporcionalmente por


Regionais.

Subsídios: Instrumento de Trabalho, cartaz e oração já estão prontos e


serão enviados após o nosso Congresso Missionário Nacional – CMN. Os
Comires farão chegar às forças missionárias do respectivo Regional.

Viagem: as POM, em Brasília, DF, farão uma pesquisa em agências de


viagens para um possível pacote de passagens aéreas (que será por
conta de cada participante). Oferecemos a opção de aquisição conjunta.

Custos e documentação – orientações:


• Taxa de inscrição: US$ 100,00
• Taxa no Aeroporto de Quito, na saída do Equador: US$ 43,00
• Passagens nacional e internacional
• Passaporte dentro da validade. Se estiver a seis meses antes do vencimento ou mais, não precisa de visto.
• Cartão internacional de vacina contra febre amarela (o "cartão amarelo"): é obrigatório.
• Outras orientações serão enviadas oportunamente.

A Direção Nacional das Pontifícias Obras Missionárias do Brasil já publicou a tradução do Instrumento de Trabalho em português,
parte importante no processo de preparação no Brasil para o CAM 3–Comla 8 e para o 2° Congresso Missionário Nacional, a se
realizar em Aparecida, em maio de 2008 (ver páginas 4 e 5).
No site do Congresso (http://www.cam3ecuador.org) já se encontra o hino oficial, que constitui um instrumento vital para a animação
e a preparação do evento.

Mais informações: http://www.cam3ecuador.org/portugues/home.htm

Pontifícias Obras Missionárias


SGAN 905 – Conj. B – CEP 70790-050 ou
Caixa Postal 3670 – CEP 70089-970 Brasília, DF
Tel.: (61) 3340-4494 – Fax: (61) 3340-8660
EDITORIAL
Coração universal
SUMÁRIO
jan/fev 2008/01

E
m 2008, dois grandes eventos marcam a dimensão mis-
sionária de nossa Igreja: a realização do 2º Congresso
Missionário Nacional em Aparecida, de 1 a 4 de maio e o
3º Congresso Missionário Americano - CAM 3–Comla 8 -,
que acontece em Quito, Equador, de 12 a 17 de agosto.
São acontecimentos para continuar animando a Igreja
no continente, com o espírito das orientações da Conferência de 1 - Cartaz oficial da Campanha
Aparecida, que nos colocou em estado permanente de Missão, da Fraternidade 2008.
Criação: André Lavor, Horual dos Santos
como discípulos missionários de Jesus Cristo. Nesse contexto faz e Marília Oliveira
sentido o tema do 2º Congresso: "Do Brasil de batizados ao Brasil
de discípulos missionários sem-fronteiras". O maior país católico 2 - Mônica Guarnieri Machado.
do mundo é convidado a escutar, seguir e anunciar Jesus com um Foto: Arquivo Pessoal
coração universal. Muito se fala do batismo como um sacramento
que nos dá a consciência de sermos filhos e filhas de Deus, mas,
pouco se menciona a sua dimensão universal, da humanidade como  CAM 3-COMLA 8---------------------------------------04
uma grande família que vive nesta casa comum, que é o Planeta. 2º Congresso Missionário Nacional
Depois de ser batizado por João Batista no rio Jordão, Jesus inicia a  José allamano----------------------------------------06
sua missão revelando um Deus cheio de compaixão e misericórdia que Um apaixonado pela Missão!
Ramón Cazallas Serrano
ama e cuida, cura e restabelece a vida para todos. Com essas ações,
Ele define a sua espiritualidade na missão evangelizadora e transfor-  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
madora. Jesus não Razões para viver
Rosa Clara Franzoi
se isola do mundo,
das si­tuações, das  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
pessoas, mas, se Notícias do Mundo
Fides
aproxima de todos,
especialmente dos  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
Quaresma: compromisso com a vida
rejeitados. José Tolfo
Aderindo à Cam-
panha da Fraterni-  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
Entre os hansenianos
dade 2008 que nos Gaudenzina Aricocchi
lembra do nosso
compromisso em  FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
Ações em nome da justiça social
defesa da vida, bus- Humberto Dantas
quemos o essencial:
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
viver o amor de Deus Documento de Aparecida: A missão do Discípulo
em sua sabedoria Ramón Cazallas Serrano
que nos proporciona vida em abundância. Mais do que aderir à fé
 Juventude missionária ----------------------------19
em Jesus, é preciso aderir à fé de Jesus, que fez de toda sua vida, Escolhe, pois, a vida, jovem!
morte e ressurreição, um compromisso incondicional para construir Patrick Gomes Silva
e tornar presente o Reino de Deus na história (cf. Mc 1, 15 e Mt  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
13). Um encontro pessoal e comunitário com Jesus não pode ficar Campanha da Fraternidade 2008
restrito aos limites de uma experiência de fé meramente intimista, Dirceu Benincá e José Tolfo
individualista, sentimentalista, espiritualista ou moralista. As atitudes  AÇÃO SOCIAL ------------------------------------------22
do discípulo missionário devem espelhar-se nas atitudes de Jesus A luta pela água da vida
que tem um coração universal. Como Jesus faz parte da humanidade José Roberto Garcia e Vidal Moratelli
e é nosso irmão, essa sua consciência de ser Filho do Pai abre a  infância missionária ------------------------------24
possibilidade a cada um de nós de fazer a mesma experiência de Eu vos deixo a paz!
Deus como Pai, sentindo-nos seus filhos queridos (Rm 8, 15). Eis Roseane de Araújo Silva
a nossa suprema dignidade: ser da família de Deus, carregar Deus  ENTREVISTA MÔNICA MACHADO ------------------26
dentro de nós e sentir Deus carregar-nos dentro Dele. “Vede que Médica leiga missionária na Guiné
Jaime Carlos Patias
grande presente de amor o Pai nos deu de sermos chamados Filhos
de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque  ORDENAÇÃO DIACONAL-----------------------------28
não conheceu o Pai” (1Jo 3, 1). Como seria diferente a humanidade Consagrados para servir
Ramón Cazallas Serrano
se todos soubessem e fossem acolhidos e respeitados como filhos e
filhas de Deus! Até hoje o cristianismo não conseguiu universalizar  tRANSPOSIÇÃO DO RIO S. FRANCISCO----------29
essa experiência para todos os seres humanos, nas diferenças, na Dom Luiz Cappio e a luta para salvar o rio
Redação
pluralidade das culturas, riqueza de Deus. É bom lembrar sempre
que o nosso compromisso cristão vai além de nossas fronteiras!   volta ao brasil---------------------------------------30
Notícias do Brasil
CNBB / CNBB Sul 1 / Jornal do Brasil / Missões

- Jan/Fev 2008 3
2° Congresso M
Ano XXXV - Nº 01 Jan/Fev 2007
Data: 1º a 4 de maio de 2008
Local: Aparecida, SP
Diretor: Jaime Carlos Patias
Tema: Do Brasil de Batizados ao Brasil de Discípulos Missionários Sem-Fronteiras
Editor: Maria Emerenciana Raia Lema: Igreja no Brasil: Escuta, Segue e Anuncia
Objetivo geral: Assumir a nossa “natureza missionária”, guiados pelo Espírito,
Equipe de Redação: José Tolfo, a serviço do Reino, à luz do Documento de Aparecida, em vista do CAM 3–Comla 8
Ramón Cazallas, Patrick Gomes Silva e
Rosa Clara Franzoi

S
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
eguindo as orientações da V gajamento missionário;
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de
Conferência Geral do Episcopado • fortalecer as comunidades missioná-
Araújo Silva, Humberto Dantas, Luiz Latino-Americano e do Caribe, a rias e os Conselhos Missionários, em
Carlos Emer, Dirceu Benincá, Ricardo realização do CAM 3–Comla 8, âmbito diocesano e regional;
Castro no Equador, de 12 a 17 de agosto • articular melhor os organismos e as
de 2008, em Quito, convoca as forças missionárias no país;
Agências: Adital, Adista, CIMI, Igrejas do continente para assumir e • celebrar a caminhada da dimensão
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, operacionalizar a Missão como paradigma- missionária;
Pulsar, Vaticano síntese de Aparecida, a Missão da Igreja • assumir, a partir da nossa “natureza
e a natureza missionária de todos os missionária”, novas responsabilidades
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires batizados (cf. DA 347). Aparecida convida e traçar novos caminhos;
a Igreja-Povo de Deus a assumir a sua • promover vocações missionárias.
Jornalista responsável: caminhada latino-americana pós-conciliar,
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) a opção pelos pobres de Medellín (1968) Eixos:
e Puebla (1979), e a inculturação e a
Administração: Eugênio Butti opção pelos outros de São Domingos • Discipulado: a Igreja como comunidade
(1992), e colocar a Missão no centro discípula missionária de Jesus.
Sociedade responsável: de suas atividades pastorais. A palavra • Pentecostes: a Igreja como comuni-
Instituto Missões Consolata “Missão” sintetiza essa caminhada e, ao dade guiada pelo Espírito.
(CNPJ 60.915.477/0001-29) mesmo tempo, sintetiza os conteú­dos do • Evangelização: a Igreja como comunida-
Documento de Aparecida. Ao impulsionar de missionária para a humanidade.
Impressão: Edições Loyola a Missão universal da Igreja, estamos
Fone: (11) 6914.1922 preparando “uma nova primavera da "Mutirões" de Reflexão:
Missão Ad Gentes” (DA 379).
Colaboração anual: R$ 40,00 O 2º Congresso Missionário Nacional 1. Os CAMs–Comlas: o significado da ca-
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 é um momento propício para refletir a minhada missionária da América Latina
Instituto Missões Consolata caminhada missionária do nosso país, desde o Vaticano II até Aparecida.
(a publicação anual de Missões é de 10 números) celebrar as graças que recebemos, agra- 2. A formação da comunidade como dis-
decer a criatividade e os sacrifícios das cípula missionária sem-fronteiras.
nossas testemunhas na Fé e, a partir da 3. A Missão para a humanidade como
Missões é produzida pelos
síntese de Aparecida, como os discípulos responsabilidade dos ministérios or-
Missionários e Missionárias da Consolata
de Emaús, voltar por outros caminhos, com denados nas Igrejas locais.
Fone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP
entusiasmo, dedicação e esperança. 4. Os consagrados e as consagradas
(11) 2231.0500 - São Paulo/SP
O 1º Congresso foi realizado em Belo como presença profética da Igreja
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR
Horizonte, MG, em julho de 2003. Agora, missionária no meio de nós e nos
em sintonia com as orientações da Con- confins do mundo.
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa ferência de Aparecida, realizaremos o 2º 5. Perspectivas evangélicas para a Mis-
Missionária Latino-Americana) e da UCBC Congresso. são dos leigos, das leigas e das famílias
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) diante dos novos desafios do mundo
Objetivos específicos: globalizado.
Redação • refletir no projeto missionário da Igreja
6. A Infância e a Juventude Missionária:
sementes de uma nova humanidade.
Rua Dom Domingos de Silos, 110
02526-030 - São Paulo no Brasil em todas as suas dimen- 7. Discípulos missionários da Amazônia
Fone/Fax: (11) 2256.8820 sões; para o mundo.
Site: www.revistamissoes.org.br • acolher práticas missionárias signifi- 8. Comunicação e Missão: meios a serviço
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br cativas a serviço dos pobres; da evangelização.
• partilhar o testemunho do nosso en- 9. A Missão e o desafio do diálogo ecu-

4 Jan/Fev 2008 -
Missionário Nacional

Jaime C. Patias
• Presidente do Congresso: dom Sérgio
Eduardo Castriani – Presidente do
Comina
• Presidente Executivo: padre Daniel
Lagni – Diretor das POM
• Vice-Presidente: irmã Márian Ambrosio
– Presidente da CRB
• Coordenador da Assessoria: padre
Estêvão Raschietti – Assessor do
Comina
• Secretária Executiva: Maria Aparecida
Gomes da Silva – Comire Sul 1

3. A Arquidiocese de Aparecida, junto


com o Comire Sul 1 e o Santuário Na-
cional de Aparecida, são responsáveis
pela organização da infra-estrutura,
do alojamento, da alimentação e do
transporte dos participantes.
4. Equipes compostas por integrantes
do Comire Sul 1, da Arquidiocese de
Aparecida, do Comina e do Santuário
Nacional de Aparecida, coordenarão
VII Encontro dos Organismos e Instituições Missionárias, São Paulo, SP. a secretaria, acolhida, animação, li-
turgia, bem-estar, segurança, limpeza
mênico, inter-religioso e intercultural Brasil são convidadas a promover inicia- e supervisão.
para uma ética e uma paz mundial. tivas para envolver no debate missionário
10. Migração como caminho de evange- suas comunidades, suas famílias e seus Comissão de Preparação
lização. jovens. Dom Sérgio Eduardo Castriani, bispo
Subsídios: o cartaz e o texto-base do de Tefé – AM
Critérios de participação Congresso serão enviados aos Coordena- Presidente do Congresso; padre Daniel
São previstos 460 participantes, repre- dores dos Comires no início da Quaresma, Lagni, Diretor Nacional das POM
sentando a dimensão missionária dos 17 os quais deverão fazê-los chegar às forças Presidente Executivo do Congresso;
Regionais da CNBB conforme as vagas missionárias do seu Regional. Maria Aparecida Gomes (Cida), Lorena
disponíveis. Os participantes devem ser Custos: organizar-se para as despesas – SP – Comire Sul 1; padre Paulo Re-
pessoas que, de fato, estejam envolvidas de viagem de ida e volta a Aparecida e para nato F. G. de Campos, Representante
na animação missionária do Regional: a taxa de inscrição, no valor de R$ 75,00. da Diocese de São José dos Campos –
SP; padre Cláudio Ambrósio, Tesoureiro,
• o bispo responsável pela dimensão Organização Brasília – DF; padre Antônio Leonel de
missionária; O Comina, por meio de sua equipe Oliveira; Representante da Arquidioce-
• coordenadores dos Comires; executiva e dos coordenadores regio- se de Aparecida – SP; Regina Araújo,
• representantes dos Comidis; nais dos Comires, promove este even- Secretaria Permanente/Geral, São José
• representantes da Infância e Ado- to, assume sua condução e convoca os dos Campos – SP; padre Jaime Carlos
lescência Missionária e Juventude participantes. Patias, Responsável pela Imprensa, São
Missionária; A Presidência do Congresso será Paulo – SP; padre Estêvão Raschietti,
• representantes de congregações/ constituída por: Responsável pela Metodologia, Curitiba
institutos de carisma especificamente – PR; Cláudia Souza, Delegada do padre
missionário; • Presidente de Honra: dom Raymundo Hélio Vicente Testa do Santuário Nacional
• número proporcional de padres (3) e Damasceno de Assis – Arcebispo de de N. S. Aparecida, Secretária Pastoral,
irmãs (4) por Regional; Aparecida Aparecida – SP. 
• três seminaristas maiores do Regional
envolvidos com os Comises;
• leigos e leigas comprometidos com a Secretaria do 2° Congresso Missionário Nacional
vida e animação missionária de suas A/c Sra. Regina Araújo
comunidades. Praça Mons. Ascânio Brandão, n° 1 - Jardim São Dimas
12245-440 São José dos Campos – SP
Em sintonia com o 2° CMN e o CAM Tels.: (12) 3928-3912 e 8137-3176 (pessoal)
3–Comla 8, as dioceses e paróquias do E-mail: centpast@diocesesjc.org.br

- Jan/Fev 2008 5
José Allamano
um apaixonado pela Missão!
No dia 16 de fevereiro celebramos a memória do Bem-aventurado José Allamano,
fundador de dois Institutos missionários.
Nossa Senhora Consolata não vai ser para ele uma devoção
a mais, mas a sua própria mãe, e ele a terá presente em todo
instante da sua vida. Vai passar diversas horas rezando diante
do ícone de Nossa Senhora e com Ela repassará os atos de
cada dia, os rostos das pessoas encontradas, especialmente
dos aflitos, dos pobres e dos seus missionários e missionárias.
Quando fundou o Instituto repetiu muitas vezes que a fundadora
era Ela, a Consolata, porque lhe dera a inspiração “para levar a
Consolação até os últimos extremos da terra”.
O modelo de vida sacerdotal que vê no seu santo tio, José
Cafasso, vai fazer dele um padre todo dedicado ao serviço sa-
cerdotal, não só na formação dos seminaristas e padres novos
da sua diocese, mas, em boa parte do clero local que virá a Ele
para pedir conselho, direção espiritual e até ajuda material. Foi
padre para todos. Sofria quando via como os jovens padres eram
destinados às paróquias pequenas, onde a pouca atividade e
o numeroso clero os impediam de desenvolver todas as suas
capacidades.

Essência do sacerdócio
A essência do sacerdócio está na Eucaristia. Os princípios
mariano e eucarístico foram os inspiradores para a fundação
dos dois Institutos missionários, em 1901 e 1910. Ele não se
encontrava mais no entusiasmo da juventude, mas, em plena
maturidade física e psicológica. E foi quando se lançou a enviar
homens e mulheres para aquela África que levava no coração.
Os pioneiros foram dois padres e dois irmãos leigos. Anos de-
pois chegaram as irmãs. Desde a saída da primeira expedição,
padre Allamano não era mais o mesmo. A Missão transformou
o discípulo. Dizia: “por vocês, missionários e missionárias, dei
tudo. Não me poupei em nada”. Continuando com as atividades
diocesanas, a Missão ocupou o centro da sua vida. As notícias
de Ramón Cazallas Serrano
da Missão, como chegavam da África, transformavam a sua

D
espiritualidade. A formação que dava aos jovens missionários
esde jovem Allamano queria ser missionário, pelo não era aquela ministrada nas instituições eclesiásticas, mas,
contato que teve com o capuchinho cardeal Massaia, uma apropriada para as Missões: línguas, etnologia, agricultura
grande missionário da Etiópia. Desde então, o nosso carpintaria e outros ofícios que a Missão exige entraram nos
Bem-aventurado levava a África em seu coração. A programas acadêmicos como a Teologia Dogmática, Bíblia etc.
saúde frágil e os trabalhos confiados pela sua diocese “Aqui se estuda para a Missão, se pensa na Missão e se vive para
impossibilitaram o sonho geográfico da Missão. a Missão”, dizia. Quando alguns colegas e bispos o convidavam
Allamano nasceu dia 21 de janeiro de 1851 e cresceu em a ter paróquias em Turim para sustentar economicamente as
terra de santos: São João Bosco, seu mestre, São José Cafasso, Missões ele era categórico: “Nós somos para a África”.
tio materno e modelo de vida sacerdotal, que o conduzia pela Para nós, na América Latina, o Bem-aventurado José Alla-
estrada da santidade. Passou a maior parte da sua vida em mano pode ser um modelo de discípulo missionário: homem
Turim, na Itália, como Reitor do Santuário de Nossa Senhora profundamente arraigado em Deus em quem se descobre a
Consolata e da Casa de Formação para os padres novos, que urgência da Missão. 
em dois anos completariam a formação em Teologia Moral. Com
estas duas atividades, mais a admiração pelo seu santo tio, o Ramón Cazallas Serrano é missionário, mestre em Teologia Dogmática e diretor do Centro Mis-
padre Allamano vai impregnar todo o seu trabalho. sionário José Allamano, em São Paulo, SP.

6 Jan/Fev 2008 -
Razões para viver

pró-vocações
Somos seres incompletos,
de Rosa Clara Franzoi
em construção.

"U
m dos maiores pecados do ser humano é ignorar
suas forças interiores, seus poderes criadores e
sua herança divina”. A frase do escritor Orison Swett
Marden – psicólogo inglês - tem muito a ver com o
nosso papo anterior, quando dizíamos que “uma vida
sem rumo é como um relógio sem pilhas”.
Você pode ter concordado, discordado... Nesta reflexão
queremos avançar um pouco mais, dando nomes concretos aos
elementos da comparação. A pilha, o que é? Um objeto aparen-
temente sem muita importância; porém, no seu bojo está uma
força sem a qual, o relógio, ou qualquer outro instrumento, não
conseguirá realizar a sua finalidade específica. De certa forma,
é essa força que dá vida e valor ao objeto. Os dois, separados,
são incompletos; juntos, relógio e pilha, realizam cem por cento a
sua finalidade que é a de marcar o tempo, ajudando as pessoas
a se orientarem. Experimente imaginar o caos que haveria no
mundo sem estes dois pequenos instrumentos...

Vida: experiência única


Pois bem, na comparação, podemos dizer que o relógio é a
vida humana e a pilha é o rumo, o sentido, a direção que lhe é
dada. Aqui está o grande desafio do ser humano: conhecer-se
pouco e não saber dar um sentido verdadeiro à sua existência, forma. Formar a personalidade é aprender a dirigir a própria
que o faça vibrar pela vida, a própria e a dos outros; um sentido vida, com responsabilidade e dinamismo, assumir os atos e não
que o encoraje a investir tudo para sentir-se realizado; um sen- culpar sempre os outros pelas frustrações. Aliás, são mesmos
tido que o ajude a dar respostas concretas e coerentes àquelas estes os elementos que nos diferenciam dos animais. Nós
perguntas fundamentais inerentes à vida humana: Quem sou agimos pelo sentido, eles agem pelo instinto. O sentido que
eu? De onde vim? Para onde vou? Se estas questões não forem damos à vida, acaba sendo em nós, o responsável por uma
respondidas a si mesmo com consciente lucidez e lealdade, a percepção mais consciente das coisas e das situações, e pela
pessoa humana ficará a vida inteira girando sobre si, incapaz capacidade de análise das motivações que nos levam a tomar
de chegar a alguma conclusão. Você mesmo deve conhecer decisões importantes.
alguém assim, que não sabe o que fazer desta experiência única
e irrepetível que é a vida. Ninguém nasce pronto
Então, meu jovem, minha jovem, é preciso acordar, procurar O ser humano nasce incompleto; por isso ele é um eterno
conhecer-se e trabalhar-se enquanto ainda há tempo. A isto aprendiz. Terá que correr atrás daquilo que possa ajudá-lo a
chamamos de formação da personalidade. Formar é dar uma crescer mais no conhecimento de si, dos outros, da vida e dos
valores que preenchem o seu coração e o deixam feliz. Este
aprendizado acontece num processo dinâmico, que tem que
Quer ser um missionário/a? ser assumido pela pessoa com determinação e coragem, para
poder chegar a adquirir uma personalidade madura, capaz de
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli ir tomando decisões acertadas para o seu futuro. Porém, só
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui alcançarão este estágio os que acreditam nesta experiência
02611-001 - São Paulo - SP única e irrepetível que é a vida; pois só se vive uma vez. 
Tel. (11) 2231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br
Para refletir:
Centro Missionário “José Allamano” - padre José Tolfo Leia com calma e atenção o texto de Mt 7, 24-27.
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP 1 - A casa, no texto bíblico, é comparada à vida humana. O que
Tel. (11) 2232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br significa para você, no concreto da vida, construir a própria casa
sobre a areia? E sobre a rocha?
Missionários da Consolata - padre César Avellaneda 2 - Quais são os sinais no dia-a-dia que demonstram que um
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 jovem está se preocupando em dar um objetivo sério à vida?
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

- Jan/Fev 2008 7
um cargo até então inexistente no Quênia. “Fala-se
desde 2002 em criar a cargo de premiê, no âmbito
de um processo de reforma constitucional que ainda
não teve início”, explica padre Luigi. “Ainda não há
nada confirmado, mas espero que os quenianos, que
demonstraram no passado uma grande capacidade
de mediação, sejam capazes de encontrar um acor-
do”. Os bispos do Quênia publicaram em 9 de janeiro
uma carta pastoral na qual convidam os fiéis e as
pessoas de boa vontade a rezar e comprometer-se
pela paz. Além disso, a Igreja Católica preparou um
dia de oração nacional pela paz, em 20 de janeiro. “A
Conferência Episcopal do Quênia foi, infelizmente, um
profeta ignorado”, afirma padre Luigi. “Desde 1996
até hoje, sempre publicou documentos nos quais se
lançavam apelos pela paz e se advertia a população
sobre os riscos da violência. Não somente a violência
Quênia criminal, mas também a política. É impressionante ler
Religiosos buscam solução para crise um documento de 16 de setembro de 1997, no qual,
VOLTA AO MUNDO

Os líderes religiosos do país estão engajados na analisando os confrontos que eclodiram na costa, em
busca de uma solução pacífica para a dramática crise Mombasa, perguntava-se se eles não eram a prova
que o Quênia está vivendo, desde 27 de dezembro, geral de incidentes mais amplos que poderiam envolver
quando foram realizadas as eleições presidenciais. Uma outras áreas. Ainda mais impressionante é ver que os
delegação da qual fez parte o cardeal Njue, arcebispo bispos tinham indicado as áreas que foram palco dos
de Nairóbi e presidente da Conferência Episcopal lo- ataques iniciados em fim de dezembro de 2007, após
cal, já encontrou separadamente, o presidente Mwai as eleições presidenciais”, conclui o missionário.
Kibaki e o líder da oposição, Raila Odinga. Odinga, no
entanto, ressaltou que não quer participar de um en- Peru
contro bilateral, mas de uma negociação na qual esteja “Grande Missão de Lima”
presente o mediador internacional, John Kufuor, Chefe Durante a celebração da Solenidade de Maria
de Estado de Gana e presidente da União Africana. “O Santíssima Mãe de Deus, no dia 1º. de janeiro, o
Quênia precisa de uma solução que gere rapidamente cardeal Juan Luis Cipriani, arcebispo de Lima, anun-
estabilidade. Por este motivo, é preciso enfrentar não ciou o início da “Grande Missão de Lima”, iniciativa
apenas a questão da presidência, mas também o que visa responder ao convite à Missão continental,
tema das reformas constitucionais, indispensáveis proposto na V Conferência Geral de Aparecida. Uma
para assegurar um quadro político mais estável. No Missão que segundo o cardeal, “dará muitos frutos
âmbito deste processo de reforma, pode-se pensar na de santidade, bem-estar, apoio à família, à juventude,
formação de um governo de unidade nacional”, afirmou à educação em todo o mundo”. O início oficial está
uma fonte da Agência Fides no país. O Quênia deve previsto para domingo, 27 de abril, festividade de São
agora contabilizar os danos provocados pelos atritos. Turíbio de Mogrovejo, segundo arcebispo de Lima e
O balanço oficial afirma que 486 pessoas perderam padroeiro do episcopado latino-americano. Entre os
a vida por causa dos ataques. Outras estimativas objetivos da Missão, está o de “reforçar a identidade
afirmam que as vítimas são 600 ou até mil. Continua de filhos da Igreja Católica”. Durante a Grande Mis-
também dramática a situação dos mais de 250 mil são, será priorizada a formação religiosa em todas as
desalojados, provenientes especialmente das áreas suas dimensões: “precisamos não apenas escutar e
de Eldoret e Kisimu. “No Quênia, vivem mais de 270 aprender o catecismo, mas, também ter modelos aos
mil refugiados de países vizinhos e até antes da crise quais nos referir, pessoas, jovens, homens, mulheres,
política, o país era uma referência para toda a área. A crianças, casados e solteiros, religiosos e civis... A este
maior parte do comércio exterior dos países da África respeito, esta semeadura de valores cristãos na vida
centro-oriental, passa pelo porto de Mombasa, um dos da sociedade representa uma tarefa muito importante,
mais importantes do continente. Segundo o ministro entusiasmante, mas difícil”. O arcebispo de Lima dirigiu
da Economia, Amos Kimunya, o impacto econômico um convite particular aos meios de comunicação, a fim
dos ataques pode superar um bilhão de dólares. O de que ajudem a difundir todas as iniciativas previstas
ministro disse ainda que talvez será preciso um ano para a Grande Missão, e que serão divulgadas vez por
para que o país possa reparar os prejuízos sofridos. O vez. Ela seguirá três grandes linhas diretrizes: doutrina,
Produto Interno Bruto de Quênia em 2005 foi de 18,7 testemunho de vida e voluntariado. “É preciso divulgar
bilhões de dólares. a doutrina: conhecer quem é Jesus, o que é a Igreja,
quais são os sacramentos, o que é a oração, no que
Reforma política? acreditamos, porque acreditamos, o que é a vida eterna,
“Poderia ser a solução para sair da crise”, afirma o que é o pecado, a graça, e o conteúdo que Jesus
padre Luigi Anataloni, missionário da Consolata da nos trouxe e nos transmitiu”, afirmou dom Cipriani. A
Agência Católica CISA, de Nairóbi, comentando a Grande Missão de Lima terá seu ápice em 2010, com
hipótese feita por alguns jornais africanos de repartir um Congresso Eucarístico e Mariano. 
o poder entre o presidente Mwai Kibaki e Raila Odin-
ga, por meio da nomeação de um primeiro-ministro, Fonte: Fides.
8 Jan/Fev 2008 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA

José Tolfo
JANEIRO: Para que a Igreja na África, que se
prepara para celebrar sua segunda Assembléia
Especial do Sínodo dos Bispos, continue sendo
sinal e instrumento de reconciliação e de justiça
em um continente ainda marcado pelas guerras,
pela exploração e pela pobreza.
Jaime C. Patias

República Democrática do Congo.

de Vitor Hugo Gerhard

A
s quatro exigências da evangelização, assim como
são apresentadas pela Igreja no Brasil, aparecem na
formulação das intenções missionárias de janeiro e
fevereiro deste novo ano. A exigência do anúncio:
nunca como hoje foi tão necessário e urgente tornar
conhecido o Nome, a Pessoa e a Obra de Jesus Cristo. Nestes
tempos conturbados, onde a orientação segura para a vida
pessoal de cada ser humano e da humanidade como um todo
parece tão fragilizada e envolta em névoa, o encontro pessoal
com Jesus é o diferencial para aqueles que desejam passar por
esta terra de maneira significativa. Anunciar Jesus Cristo pela
palavra e pelas atitudes certamente fará com que a humanidade
se torne melhor e a história humana menos trágica.
África do Sul. A exigência do diálogo: o Sínodo dos Bispos, em diálogo
com a multiplicidade de culturas no continente africano, poderá
Arquivo IMC

ajudar na formação deste imenso mosaico étnico, fazendo com


que a realidade continental da África, passe de uma simples
colcha de retalhos para uma verdadeira articulação das dife-
renças. O intercâmbio cultural, religioso, social e humano entre
as dezenas de povos e nações africanas, será a coluna mestra
na construção de uma sociedade mais fraterna e justa, mais
solidária e promotora da paz tão necessária e urgente.
A exigência do testemunho: o florescimento das mais
variadas formas de vida consagrada nas dioceses em toda
a África é algo realmente expressivo. O desenvolvimento de
uma bem preparada pastoral vocacional, fez com que, nestas
últimas décadas, surgissem e prosperassem boas vocações
sacerdotais e religiosas, aumentando em número e qualidade o
grupo daqueles que se deixaram seduzir pelo Senhor da vinha.
Fazer desta presença no mundo um sinal positivo de alegria e
Coréia do Sul.
esperança, certamente será uma grande contribuição da Igreja
e dos cristãos daquele continente.
FEVEREIRO: Para que os Institutos de Vida A exigência do serviço: em muitas partes do mundo e em
todos os tempos, a Igreja tem colaborado eficazmente na superação
Consagrada tão florescentes nos países de Missão, dos conflitos, intermediando as partes e promovendo serviços
de justiça e paz. Colaborar firme e tenazmente na construção de
redescubram a dimensão missionária e, fiéis uma sociedade fundada e alicerçada no projeto de Deus é um
à eleição radical dos conselhos evangélicos, serviço que a Igreja não pode abrir mão ou se furtar. Pertence
à sua natureza agregar os filhos dispersos, reconciliando-os
generosamente testemunhem e anunciem Cristo até consigo mesmos, com os demais e com o próprio Deus. 

os confins do mundo. Vitor Hugo Gehrard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

- Jan/Fev 2008 9
Quaresma
espiritualidade

compromisso com
Tempo propício para imprimir
de José Tolfo

Q
uaresma é um tempo que a
Igreja nos oferece para uma
à vida uma direção e uma
maior introspecção, é uma
certa pausa na caminhada
razão de ser. Aproveitemos
da vida. Sem esta parada,
a própria vida lentamente se
para refletir sobre nossa
extinguiria. Não só o ser humano implora
por uma folga, mas, todo o planeta Terra.
caminhada espiritual.
Certamente, nós reservamos momentos de
pausa no caminhar da nossa existência.
Alguns dias são considerados feriados
nacionais. Como preenchemos este tem-
po? Geralmente, o nosso lazer é feito de
ocupações. Precisamos buscar certas
distrações para não parar e nos ausentar
de nós mesmos. Então, estamos cansados
mesmo quando descansamos. Parece que
somos incapazes de parar. Muitas vezes, a
pergunta que fazemos nos dias de descanso
é esta: o que vamos fazer hoje?
O mundo caminha em um ritmo rápido
e parece que não temos mais tempo. Aliás,
importante é aquele que não tem tempo;
pois, quem tem tempo não é “sério”. Nós
corremos tanto e fazemos tanto por tão
poucos. O que está em jogo é tecer o es-
sencial. Portanto, parar não é interromper
a caminhada, não é distrair-se ou tornar-
se desatento, mas, despender um tempo
Pôr-do-sol no Pelourinho, Salvador, BA.
para dar atenção a nós mesmos. Pausa
é o que dá sentido à caminhada. Oxalá salvá-la. Com efeito, o que adianta ao nos permite viver com qualidade e intensi-
este tempo de Quaresma nos permita homem ganhar o mundo inteiro, se perde dade. Mas, como conseguir tal objetivo?
encontrar este momento de parada verda- a própria vida?” E, assim, como Jesus, nós É possível e vale a pena “perder a vida”
deira, de silêncio e de consciência. Então, poderíamos fazer muitas outras perguntas para ganhá-la?
poderemos refletir sobre a qualidade de para os nossos tempos. Para quem e para Já que a Quaresma é o caminho para a
vida que levamos, sobre a construção de quê o “progresso”, se a maioria dos seres Páscoa, e para imprimir à vida uma razão
outro mundo diferente, sobre o essencial humanos fica excluída e o planeta Terra de ser e uma direção, ela é, portanto, um
da existência humana, sobre a sabedoria não consegue mais respirar por isso? De tempo de interiorização e de decisões para
da vida. Como diz Jesus em Mc 8, 35-36: que serve ter tudo, até o último grito da melhorar a nossa qualidade de vida e do
“Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai tecnologia e da moda, se não temos a nós meio ambiente, que estão interligados. A
perdê-la; mas, quem perde a sua vida mesmos? Precisamos caminhar e buscar seguir, alguns passos que nos ajudarão
por causa de mim e da Boa Notícia, vai o essencial da vida, aquela sabedoria que neste tempo de caminhada.

10 Jan/Fev 2008 -
Silenciar e orar com a exterioridade. As máscaras (servem não termos caído, e, sim, o de termos
"Os apóstolos voltaram e contaram a para esconder a realidade, fingindo ser levantado todas as vezes que caímos”
Jesus tudo o que haviam feito. Jesus os o que não somos) são colocadas para (provérbio árabe); “quando uma pessoa
levou consigo, e se retirou para um lugar atrair os outros, para que não vejam as perde dinheiro, perdeu muito; quando
afastado na direção de uma cidade cha- nossas debilidades, para evitar ofender- perde um amigo, perdeu mais; quando
mada Betsaida" (Lc 9, 10). É o caminho do mos alguém e sermos diplomáticos, para perde a coragem e a fé, perdeu tudo”
encontro consigo mesmo e com Deus, que sermos amados, para preservarmos as (provérbio popular); “uma das causas do
está dentro de nós, no templo do silêncio. nossas amizades... mas, aquilo que nós fracasso na vida é deixar para amanhã o
Silêncio é encontrar-se, seguir o próprio mais desejamos obter com as nossas que se pode fazer hoje, e depois, fazer
caminho. Só no silêncio encontramos o máscaras é justamente o que nos distancia tudo apressadamente” (sabedoria popu-

a vida
nosso próprio ser. Silêncio é semente que de nós mesmos e dos outros. Jesus nos lar); "os desafios não são difíceis porque
alerta: “Ai de vocês, doutores da lei e fa- tentamos; é por não tentarmos que são
riseus hipócritas! Vocês pagam o dízimo difíceis" (Sêneca).
da hortelã, da erva-doce e do cominho,
e deixam de lado os ensinamentos mais Relações novas
importantes da Lei, como a justiça, a Geralmente, as nossas relações limi-
misericórdia e a fidelidade...” (Mt 23, 23). tam-se à saúde, ao tempo, ao futebol e a
Ou ainda: "Ai de vocês, doutores da lei e algumas fofocas. Dificilmente, falamos de
fariseus hipócritas! Vocês são como se- nós mesmos, nossos sentimentos, nossas
Jaime C. Patias

pulcros caiados: por fora parecem bonitos, idéias e projetos e nem conseguimos es-
mas por dentro estão cheios de ossos de cutar com profundidade o outro e saber
mortos e podridão!" (Mt 23, 27). mais de sua vida. Temos dificuldades para
acolher aquele que pensa e vive diversa-
Simplicidade de vida mente de nós. Muitas vezes, nós somos
"Eis que eu envio vocês como ove- guiados por preconceitos e prejuízos e
lhas no meio de lobos. Portanto, sejam não somos capazes de admirar a beleza
prudentes como as serpentes e simples nas coisas e nas pessoas. Outras vezes,
como as pombas" (Mt 10, 16). "Que os as nossas relações são mais virtuais que
homens nos considerem como servidores reais. Precisamos recuperar o valor do
de Cristo e administradores dos mistérios abraço, do caminhar junto, do encontro e
de Deus" (1Cor 4, 1). Trata-se de viver da presença do outro. “Que a conversa de
com o mínimo de embaraço possível na vocês seja sempre agradável, temperada
complexidade das relações, desejos, dores com sal, sabendo responder a cada um
e alegrias. Nós vivemos numa sociedade como convém” (Cl 4, 6).
marcada pelo banal e pelo superficial. Nós poderíamos terminar este artigo
Simplicidade tem a ver com intensidade, com uma pequena reflexão de Madre
com experiências marcantes, relações Teresa de Calcutá e que pode servir como
profundas, trabalhos complexos. Não se programa de vida para este tempo de
trata de fugirmos para a montanha ou caminhada rumo à Páscoa:
para a praia. Não é questão de lugar ou O obstáculo maior?
de ausência da tecnologia... Mas, não Ter medo!
se deixar possuir por aquilo que possuí- O erro maior?
mos e de visar sempre as prioridades, o Renunciar!
essencial (amizade, amor, fraternidade, A felicidade maior?
relações interpessoais...) sem confundir Servir!
com outras coisas que são fundamentais A derrota maior?
(dinheiro, carreira...) e que nos deveriam Desanimar!
levar ao essencial. Caso contrário, estamos A melhor medicina?
complicando a vida. O otimismo!
A força maior?
Recomeçar sempre A fé!
Recomeçar é dar-nos uma nova chan- O melhor de tudo?
ce, é renovar as esperanças na vida e, O amor! 
germina, é raiz que sustenta, é seiva que mais ainda acreditar em nós mesmos. A
alimenta. É busca da sabedoria que cresce vida nos chama e nos convida para uma José Tolfo é missionário e animador vocacional no Centro
com o conhecimento, desenvolve-se no nova aventura, outra viagem, um novo Missionário José Allamano, São Paulo.
amor e se abre na introspecção. Oxalá, desafio. Tenhamos confiança nela e em
que este tempo de Quaresma nos leve nós mesmos. “Depois que terminou a Para refletir:
como Jesus ao “deserto” para refazer- reunião, muitos judeus e outras pessoas 1. Como entendemos a Quaresma em
mos nossas energias e requalificarmos convertidas ao judaísmo seguiram Paulo e nossa vida?
nossa vida. Barnabé. Os dois conversavam com essas 2. Que tempo nós reservamos para nossa
pessoas e insistiam para que continuas- reflexão e encontro com Deus?
Evitar as máscaras sem fiéis à graça de Deus” (At 13, 43). Eis 3. Qual será nosso gesto concreto nesta
Uma das tentações modernas é o alguns provérbios que podem nos ajudar Campanha da Fraternidade 2008, em
mundo das aparências, a preocupação neste recomeço: “Não é mérito o fato de favor da vida?

- Jan/Fev 2008 11
Entre os hansenianos
testemunho

Com a naturalidade de

Fotos: Arquivo Andare alle genti


quem nada está fazendo
de extraordinário, irmã
Gaudenzina Aricocchi,
italiana, missionária da
Consolata, relata seus
44 anos de trabalho na
Libéria.
de Gaudenzina Aricocchi

P
arti para a Libéria no início de
1963. Na Itália, contemplando
a primavera exuberante, em
um período de descanso, mui-
tas vezes passam pela minha
mente, como numa seqüência
cinematográfica, as imagens dos longos
anos de Missão. Reencontro muitas pes-
soas... Mas, sobretudo, revejo as muitas
Irmã Gaudenzina no Centro de Reabilitação com hanseniana cega.
situações precárias vividas com o que-
rido povo liberiano. Com pesar, lembro destruição da construção e à precarieda- de suínos; projetos que continuam ainda
a dureza dos 14 anos de guerra, que de das instalações, juntava-se a falta de hoje e são uma bênção para aquele povo.
destruíram a alegria e a beleza interior víveres para os grupos de refugiados que Passado algum tempo era gratificante ver
dos nossos jovens e que custou a vida de começavam a regressar, porque a guerra os doentes ordenados, limpos e, sobretudo,
muitos deles. Anos que fizeram de quase parecia caminhar para o fim. A reabertura contentes. Também as suas casas muito
toda a população liberiana uma multidão do Centro foi muito difícil. Tivemos que simples, iam se tornando acolhedoras e
refugiada, obrigada a viver na miséria e enfrentar as dificuldades do ambiente funcionais.
na humilhação. abandonado e o pior, com pouquíssimos
recursos financeiros e de pessoas para o A guerrilha
Centro de Reabilitação trabalho. Faltava de tudo: colchões, cober- Em 2003, quando tudo parecia correr
Em 1998 fui transferida à Missão de tas, cadeiras de roda, mesas, armários, bem, Ganta viu-se tomada pela guerrilha.
Ganta. Era urgente a reabertura do Leprosy/ remédios, comida, material de higiene Os combates sucederam-se por cinco
T.B. Rehabilitation Center - Leprosário e para os doentes e utensílios para limpar o longos meses. Mais um calvário, espe-
Centro de Reabilitação para Tuberculosos. terreno e começar a plantar alguma coisa; cialmente para os doentes. Junto com a
Lembro-me que ao chegar, encontramos além das paredes do edifício que deviam população, todos nós fugimos. No hospital
quase tudo destruído. Por causa da guerra, ser completamente reconstruídas. ficou apenas um enfermeiro. Os filhos dos
o hospital estava abandonado há quatro Diante de tal situação, tínhamos tudo hansenianos foram obrigados a empunhar
anos. Funcionários e doentes - aqueles que para desanimar. Mas, isso não aconteceu. as armas, para defenderem suas casas. A
estavam em condições de se locomover -, A força Daquele que chama e envia estava esses bravos jovens, se deve a sobrevivên-
todos haviam se refugiado na vizinha Guiné. viva dentro de nós.Arregaçamos as mangas cia dos pacientes que ficaram. Enfrentando
O local fora saqueado várias vezes. As e com os poucos pacientes que estavam perigos de toda sorte, eles vinham até o
camas e os móveis de madeira do hospital em condições de trabalhar, começamos a campo dos refugiados onde estávamos,
e das 52 pequenas casas dos doentes reconstrução. O mais urgente era procu- para nos trazerem notícias do Centro de
foram usados pelos soldados como lenha rar meios para melhorar a alimentação. Reabilitação e depois retornavam, levando
para cozinhar sua parca comida. Apenas Logo em seguida, iniciamos um projeto às costas, os mantimentos que podíamos
sobraram as camas e mesas de ferro. À de piscicultura e um terceiro de criação lhes dar. Faziam o longo percurso de ida

12 Jan/Fev 2008 -
Divulgação
e retorno, à noite, na escuridão, para não Libéria
serem apanhados pelos guerrilheiros. Capital: Monróvia
Eles nos diziam: “No Centro os doentes Superfície: 111 369 km²
rezam noite e dia pedindo a Deus por População: 3.100.000
vocês, irmãs, e por todo povo refugiado”. Nacionalidade: liberiana
Com certeza, foi pelas fervorosas orações Idiomas: Inglês e língua local
deles, que Deus sensibilizou o coração dos Religião: cristianismo 21%
soldados para não saquearem o hospital (católicos 2,4%, outros 18,6%),
e respeitarem os doentes. islamismo 16%
religiões tradicionais 63%
O retorno dos exilados Expectativa de vida: 48,5 anos
Junto com o povo, com o coração Analfabetismo: 46,6%
agradecido a Deus, retornamos. Diante Moeda: dólar liberiano
de tudo o que havíamos sofrido, ninguém
ousava se queixar. Tínhamos saúde e muita
fé que Ele estava caminhando conosco. hanseniana, o corpo dela foi queimado
Uma vez mais iniciamos a reestruturação conforme a tradição, para que o espírito
de tudo, agora não tão difícil quanto da que a mantinha doente fosse destruído.
primeira vez. Muitas vezes, no silêncio da Logo, os parentes e moradores da Vila,
reflexão, percebo-me pensando em todas perceberam que John, o neto de dez anos,
as pessoas, homens, mulheres e crianças havia contraído a doença. Obrigaram os
que conheci no Centro de Reabilitação. pais a construírem para ele uma cabana na
Muitos já foram à Casa do Pai. Entre eles, floresta, com a ordem de se aproximarem
não posso deixar de lembrar Kekula, cego somente para levar-lhe a comida. E assim
e com os membros superiores corroídos foi feito. Um dia, o pequeno John queimou-
pela doença. Minutos antes de morrer, se no pé e começou a chorar muito. Um
ele agradeceu a Deus pelo grande dom missionário anglicano que casualmente
da vida. Entre os que ainda hoje vivem passava por aquele caminho, ouvindo o
no Centro de Ganta, com muita gratidão choro aproximou-se da choupana e logo
e reconhecimento, lembro o senhor Hope, entendeu a triste situação do menino.
responsável da Vila, que teve amputados Levou o pequeno consigo, tratou-lhe a John Blimah, atual diretor do Centro, com um enfermo.
os membros inferiores, analfabeto, mas doença e o fez estudar. John Blimah
cheio de sabedoria. A ele eu me dirigia tornou-se um excelente enfermeiro, com As verdadeiras alegrias
muitas vezes, para ouvir seu parecer, especialização na cura da hanseníase. Quando regressar à Libéria, provavel-
antes de tomar decisões nos momentos A sua grande experiência tornou-o par- mente, não voltarei mais a trabalhar em
de tensão e de guerra. ticularmente sensível e com dedicação Ganta, mas levarei no coração o teste-
total aos hansenianos, a quem infunde munho de generosidade e coragem das
É inacreditável muita segurança. Como Diretor do Centro, minhas colegas missionárias: irmãs Ana
E como não lembrar John Blimah, ele é um belíssimo exemplo de extrema Rita e Eugênia Paola, com quem partilhei
ex-hanseniano e atual Diretor do Cen- abnegação e competência profissional anos difíceis, porém, inesquecíveis. Com
tro? Quando morreu sua avó, também e humana. sincera gratidão, afeto e admiração sem-
pre lembrarei o grupo dos sanitaristas, os
pacientes que se alternam no hospital, e
uma vez recuperados, voltam para suas
casas. Levarei comigo a lembrança es-
pecial dos pacientes que a doença obriga
a se locomover numa cadeira de rodas
ou com muletas; os que são cegos e que
aprendem a se deslocar sozinhos, orien-
tados pelo tato, pelos passos e pela voz
de quem deles se aproxima. Para todos
esses irmãos e irmãs, o Centro de Ganta
é a sua segunda casa. Ali eles se sentem
acolhidos, amados e bem tratados. É por
esta razão que continuamente agradecem
e louvam a Deus por sentirem-se cuidados
por Ele, através das pessoas: enfermeiros,
voluntários, missionárias e benfeitores que
dos diversos países do mundo enviam sua
solidariedade, que os ajuda a viver a doença
com dignidade. Estas e muitas outras são
as grandes alegrias, das quais o coração
de uma missionária transborda. 
No Centro de Reabilitação de Ganta, uma hanseniana manipula fibras vegetais para produção de cestas,
utensílios, chapéus... Gaudenzina Aricocchi é missionária na Libéria.

- Jan/Fev 2008 13
fé e política

Ações em nome
da justiça social
Um balanço das ações de 2007 com o objetivo de continuar a
caminhada neste ano eleitoral de 2008.

Jaime C. Patias
de Humberto Dantas

O
ano de 2007 foi mais um daqueles períodos especiais
para os trabalhos relacionados à Fé e Política no
Brasil. Não foram poucas as ações da Igreja Católica
pelo país, mas seria importante destacarmos três
questões que certamente terão desdobramentos
especiais ao longo de 2008.
Primeiramente a capacidade do Centro de Formação Polí-
tica Dom Hélder Câmara, da CNBB de contagiar positivamente
centenas de cidades com seus cursos de formação política e
ações de conscientização democrática. A fonte inspiradora tem
servido de exemplo para a realização de importantes encontros.
No ano que passou tive a oportunidade de participar como pa-
lestrante de pelo menos três experiências relatadas em edições
anteriores: na Câmara Municipal de São Paulo, na Câmara
Municipal de São José do Rio Preto e em um Seminário no
bairro do Ipiranga, em São Paulo. Nessas ocasiões foi possível
notar que a Igreja Católica assimilou com clareza as palavras
de Bento XVI em sua passagem pelo Brasil: a política é a arena
democrática da ação em prol da justiça social, e sem partidarismo 6º Encontro de Fé e Política, Nova Iguaçu, RJ.
a Igreja deve ser capaz de utilizar esse canal para a construção
de um mundo mais justo. E é isso que continuaremos fazendo Camilo e Escola de Sociologia e Política – e lideranças sociais
nesse ano que começa. As eleições municipais ocorrerão em de comunidades conscientes da importância da politização e da
outubro, e elegeremos mais de cinco mil e quinhentos prefeitos democratização das arenas de debate e construção da realidade.
e milhares de vereadores. Além do olhar fixo sobre o eleitor e O objetivo maior da atividade é manter unido o grupo que se
os candidatos, a Igreja mergulhou forte na criação de novas formou, disseminando os valores apreendidos e organizando
edições dos Comitês 9.840. Tratam-se de observatórios contra novas experiências como essa.
a corrupção eleitoral, baseados em lei que a CNBB ajudou a
aprovar em 1999. Será uma enorme luta arrefecer os efeitos Despertar da cidadania
nocivos da compra de votos e da utilização da máquina pública Por fim, mais uma agradável surpresa. Após um ano como
em benefício de campanhas. Cabe ao eleitor fiscalizar, cobrar comentarista da Rádio América de São Paulo (1410 – AM) fui
e não se vender. Nossa participação é fundamental. agraciado com a missão de comandar o recém-criado programa
Despertar da Cidadania. A atividade vai ao ar aos sábados pela
Curso de Direitos Humanos manhã – das 6h30 às 7h00 – e tem como principal objetivo cons-
Outra ação relevante ocorreu sob a orientação da Comissão cientizar o ouvinte sobre a importância da participação política
de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo (CJP-SP). Na sede consistente. Sempre na companhia de um convidado especial,
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) foi especialista em um determinado tema, levarei aos lares de toda
realizado entre setembro e novembro o primeiro Curso de Direitos a rede Canção Nova de Rádio, presente em mais de 12 estados,
Humanos do Núcleo de Educação para os Direitos Humanos da um debate simples e centrado na formação política do cidadão
CJP-SP. As atividades ocorreram ao longo de quatro sábados, ouvinte. O rádio, mais do que nunca, será a ferramenta capaz
e contaram com nomes de destaque como o desembargador de mostrar que política se discute sim, e que devemos conhecer
Antônio Carlos Malheiros, a professora da USP Maria Victoria as regras do jogo democrático para que possamos amadurecer
Benevides, o sociólogo Pedro Aguerre entre outros importantes nossa cidadania. Espero você, eleitor. Fique atento! 
docentes. Tive a honra de compor a relação de professores e
fechar o curso. A turma foi composta por representantes estu- Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo. Co-autor do
dantis de relevantes universidades – Mackenzie, USP, PUC, São livro Introdução à Política Brasileira, Paulus, 2007.

14 Jan/Fev 2008 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

A Conferência de Aparecida

A missão
do Discípulo
Uma reflexão sobre o tema central da V Conferência Episcopal:
o discípulo se faz na missão e a missão faz o discípulo.

Jaime C. Patias
de Ramón Cazallas Serrano

A
Conferência de Aparecida
teve um título bem original
e aberto a muitas interpre-
tações: “Discípulos e Mis-
sionários de Jesus Cristo
para que nEle nossos povos
tenham vida”. No texto definitivo, as
duas primeiras palavras aparecem
juntas: discípulos missionários. E não
é uma coisa secundária. Não está
antes o discipulado e depois a missão.
Numa leitura aberta, entendemos os
VII Encontro dos Organismos e Instituições Missionárias, São Paulo, SP.
dois termos como parte essencial do
cristão. É como quando afirmamos que a nho para Jerusalém. Era na vida do a servir ao homem como tal e não só
pessoa tem corpo e alma. Não podemos dia-a-dia que Cristo caminhava com aos católicos, em relação aos direitos
separar o corpo da alma porque já não eles, curava, fazia milagres, travava da pessoa humana e não somente aos
teríamos a pessoa. Assim acontece com polêmicas com os fariseus e mestres direitos da Igreja Católica. As circuns-
o cristão que é discípulo missionário. da lei, explicava o significado de certas tâncias presentes, as exigências dos
Se separarmos um do outro, já não ações ou o comportamento dos ouvintes. últimos 50 anos, o aprofundamento
teremos o cristão. Às vezes era mestre de oração nos doutrinal, nos levaram a novas rea-
O que está antes, o discípulo ou o lugares comuns. O método de Jesus lidades, como afirmei no discurso de
missionário? Caminham intrinsecamen- é claro: o discípulo se faz na missão abertura do Concílio. Não é o Evan-
te juntos. Por leis gramaticais temos que e a missão faz o discípulo. gelho que mudou, acontece que nós
colocar uma palavra antes da outra. Mas “Discipulado e missão são como as começamos a entender melhor. Quem
não assim na vivência do cristão. Temos duas faces da mesma moeda: quando viveu longamente e enfrentando, no
métodos e instituições que reduzem a o discípulo está apaixonado por Cristo, começo do século, novas tarefas de
visão de Aparecida. Já escutei alguém não pode deixar de anunciar ao mun- atividade social, que abrangem todo
dizer: “Vamos formar bons discípulos, do que só Ele salva. Essa é a tarefa o ser humano, quem viveu, como é o
que depois serão bons missionários”. essencial da evangelização que inclui meu caso, vinte anos no Oriente, oito
Na prática, mais tarde, demonstra-se a opção preferencial pelos pobres, a na França, e quem afrontou culturas e
que esses discípulos desconheciam promoção humana integral e a autêntica tradições diversas, sabe que chegou
totalmente as exigências da missão à libertação cristã” (DA 146). o momento de reconhecer “os sinais
qual foram destinados. E ao contrário, É interessante lembrar neste mo- dos tempos”, de aproveitar o momento
"vamos fazer missionários que logo mento quase as últimas palavras do oportuno e olhar para longe”.
se tornarão discípulos". Também irão papa João XXIII. Poucos dias antes de Já falamos do discipulado em Apa-
ao fracasso, porque a missão precisa morrer, ele ditou ao cardeal Cicognani recida. Dedicaremos agora a nossa
necessariamente das exigências do o que resumia a sua visão sobre o reflexão à missão. E logicamente fa-
discipulado. futuro da Igreja: “Hoje, mais do que laremos da missão no continente ou
O método de Jesus é iluminador: nunca, e com certeza mais que nos Ad Intra e a missão além-fronteiras
Ele formava seus discípulos no cami- séculos passados, somos chamados ou Ad Extra.

- Jan/Fev 2008 15
Opção preferencial pelos pobres
A opção não foi apenas reafirma- missionários(as), no entanto, pode

Lírio Girardi
da, mas atualizada e radicalizada no transfigurar-se em rosto iluminado
âmbito da nova conjuntura globalizada (cf. Mt 17,1ss), fonte de justiça e de
que produz os “novos rostos da pobre- vida (Cf. DA 32).
za”, (Puebla 32-39) entre os quais se Esta realidade que é um chamado
destacam: as comunidades indígenas imperioso da morte à vida (Cf. DA 13; Dt
e afro-americanas, as mulheres, os jo- 30, 15; Jo 11, 43) configura, em Apareci-
vens, os desempregados, os migrantes, da, “a tarefa essencial da evangelização,
os agricultores sem-terra, as crianças que inclui a opção preferencial pelos
submetidas à prostituição infantil... pobres, a promoção humana integral e a
(Cf. DA 65). autêntica libertação cristã” (DA 146).
O rosto dos pobres é imagem A propósito ainda do tão discutido
fiel e atualizada na história do rosto quanto controvertido “preferencial” que
de Cristo na sua dupla dimensão: Puebla incorporou à opção pelos pobres,
dor e alegria. Vítima da exclusão do note-se que o DA é contundente: “ser
sistema que descarta e em muitos preferencial implica que deve atravessar
casos elimina sistematicamente, pela todas as nossas estruturas e prioridades
ação solidária dos(as) discípulos(as) pastorais” (DA 396).

Fazer discípulos Celebração da Eucaristia, Maturuca, RR.

Este é o conteúdo da missão cris- os fiéis de uma comunidade ou paróquia


Luigi Cason

tã. Dizia o filósofo Antônio Rosmini, vão ver pessoas novas e escutar outras
beatificado em novembro de 2007, no que nunca conheceram e nunca mais
seu livro sobre “As cinco chagas da verão depois dos dias da missão. Esse
Igreja” que nenhuma religião no mundo tipo de atividade seria uma espécie de
tinha este mandato tão explícito como parênteses na vida das comunidades e
a católica. E falava da chaga da Igreja dos cristãos. Estar em contínuo estado
sobre a separação entre o clero e os de missão significa que as comunidades
fiéis leigos e leigas. Assim o entenderam viverão permanentemente em uma mís-
os discípulos desde o começo. tica e ação de movimento missionário. E
O Documento de Aparecida tem todas as opções, pastorais e estruturas
uma grande intuição: coloca a Igreja devem estar impregnadas da dimensão
no continente em contínuo estado de missionária que nasce com o batismo e
missão. Não é mais só uma semana, vai crescendo com os outros sacramen-
Monte Santo, BA. ou 15 dias extraordinários onde todos tos na vida da comunidade cristã.

Olhar ao redor Jaime C. Patias

Seguindo o método clássico de da missão da comunidade cristã. Mas


ver, julgar e agir, Aparecida olha para atenção, não podemos ir com receitas
a realidade latino-americana neste de laboratório ou esquemas aprendidos
começo do terceiro milênio. Contempla numa mesa de estudo. Se quisermos
as mudanças culturais, sociais, econô- que a semente caia em terra boa,
micas, políticas e até religiosas. Vê uma temos que olhar antes o campo onde
pessoa que está nascendo vítima do vamos semear. O olhar dos discípulos
capital, do consumismo, “dissolve-se missionários sobre a realidade é garantia
a concepção do ser humano”. Mas a de colheita e exige reflexão, oração e
afirmação mais forte é na constatação estudo antes de aprender noções de
de uma mudança de época. Significa memória que nada tem a ver com a
que tudo mudou em relação ao pas- realidade que vemos ao nosso redor.
sado. É bom ler todo o capítulo 2 do A realidade nos provoca e desafia. A sus olhava para o povo dava respostas
Documento. Nele encontramos tantas descrição da realidade que apresenta que todos entendiam porque padecia
situações que esperam uma palavra Aparecida nos pede esse olhar límpido na sua própria carne as situações que
do Evangelho e que devem ser objeto e de respostas concretas. Quando Je- este povo vivia.

16 Jan/Fev 2008 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Igreja evangelizadora e evangelizada


A evangelização, dizia Paulo VI cristãs” (DA 168).

Jaime C. Patias
na Exortação Apostólica sobre este Daqui nasce a urgência missionária
assunto, é o ser da Igreja. A Igreja está vendo o número dos distanciados, dos
para evangelizar e evangelizando, se que não conhecem a Cristo e dos poucos
torna mais evangélica. Assim foi desde participantes nas atividades paroquiais.
os primeiros tempos, das invasões e Se Jesus nos apresentou o Bom Pastor
das perseguições. A Igreja, evangeli- que deixou 99 ovelhas para encontrar
zando outros povos, se enriqueceu. Os uma que estava perdida, que parábola
períodos em que olhou para si mesma, nos apresentaria hoje quando temos 90
numa atitude “centrípeta”, foram os perdidas ou distantes e só 10 que estão
mais tristes da sua história. Foram os no aprisco? Temos que passar da uma
períodos das brigas, das separações pastoral conservadora a uma pastoral
e divisões. Quando saiu de si mesma decididamente missionária.
e aceitou outros povos e culturas, veio Estas diretrizes podem colocar em
a grande riqueza de ritos, de modos de crise mais de uma Izgreja particular. A
expressar a fé e iniciativas de promoção preocupação pela manutenção, pelas
humana e social. estruturas e administração é um desafio
“Não resistiria aos embates do tem- para a nossa pastoral que em muitos
po uma fé católica reduzida a uma lugares é eminentemente clerical, sem
bagagem, a um elenco de algumas espaços para o carisma religioso e a
normas e proibições, a práticas de responsabilidade dos leigos.
devoção fragmentadas, a adesões Precisamos de uma conversão
seletivas e parciais da verdadeira fé, a pastoral: “bispos, presbíteros, diáconos
uma participação ocasional em alguns permanentes, consagrados e consa-
sacramentos, à repetição de princípios gradas, leigos e leigas, são chamados a
doutrinais, a moralismos brandos ou assumir atitude de permanente conver-
crispados que não convertem a vida são pastoral, que implica escutar com
dos batizados” (DA 12). atenção e discernir 'o que o Espírito
Quantas vezes Aparecida fala da está dizendo às Igrejas' (Ap 2, 29)
renovação das estruturas para que o através dos sinais dos tempos em que
esplendor do Evangelho possa aparecer Deus se manifesta” (DA 366).
com mais força perante o homem e a Temos no nosso Brasil exemplos
mulher de hoje? As situações anterio- lindos de missionariedade de algumas
res normalmente se dão na estrutura Igrejas pobres que são capazes de
ordinária da evangelização, que é a extrair de sua pobreza e partilhar pes-
própria paróquia. E Aparecida tem a soas e bens com outras Igrejas irmãs
sua palavra: “A renovação missionária mais pobres ainda. Há uma diocese
das paróquias se impõe, tanto na evan- que tem só quatro padres diocesanos
gelização das grandes cidades como e enviou um deles para ajudar outra
do mundo rural do nosso continente, comunidade.
que estão exigindo de nós imaginação A Igreja, no seu início, se formou
e criatividade para chegar às multidões nas grandes cidades e se serviu delas
que desejam o Evangelho de Jesus para se propagar. Por isso, pode-
Cristo. É urgente a criação de novas mos realizar com alegria e coragem a
estruturas pastorais, visto que muitas evangelização da cidade atual. Diante
delas nasceram em outras épocas para das novas realidades, novas expe-
responder às necessidades do âmbito riências se realizam na Igreja, tais
rural” (DA 173). como a renovação das paróquias,
“A diocese, em todas as suas co- setorizações, novos ministérios, novas
munidades e estruturas, é chamada associações, grupos, comunidades e
a ser 'comunidade missionária'. Cada movimentos.
diocese necessita fortalecer sua cons- Os bispos constatam atitude de
ciência missionária, saindo ao encontro medo em relação à pastoral urbana:
dos que ainda não crêem em Cristo tendência a se fechar em métodos
Encontro das CEBs, São José dos Campos, SP.
no espaço de seu próprio território e antigos e tomar atitudes de defesa
responder adequadamente aos gran- pírito materno, é chamada a sair em diante da nova cultura, com sentimen-
des problemas da sociedade na qual busca de todos os batizados que não tos de impotência diante das grandes
está inserida. Mas também, com es- participam na vida das comunidades dificuldades das cidades.

- Jan/Fev 2008 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Igreja samaritana
Gostaríamos de ampliar com outros ver nEle aquele que é capaz de saciar a

Divulgação
exemplos que aparecem na vida de sede do povo. Cada paróquia deve ser a
Jesus e nos falam de samaritanos: o boa samaritana como Ele. Deve chegar
bom samaritano que gasta seus bens a concretizar em sinais solidários seu
para cuidar e atender o homem ferido compromisso social nos diversos meios
na beira da estrada (Lc 10, 25-37); o em que se move, com toda a imaginação
leproso curado que volta para agra- da caridade. Não pode ser alheia aos
decer a Jesus era samaritano (Lc 17, grandes sofrimentos que a maioria da
11-19); uma samaritana encontra a nossa gente vive com muita freqüência,
verdadeira água na pessoa de Jesus são pobrezas escondidas. Toda autên-
(Jo 4, 4-30). tica missão unifica a preocupação pela
Sabemos quem eram os samari- Missionária no Senegal, África. dimensão transcendental do ser huma-
tanos: os excluídos da religiosidade Jesus os coloca como aqueles que são no e por todas as suas necessidades
oficial, os que não adoravam Deus capazes de parar diante do ferido, de concretas para que alcance a plenitude
no verdadeiro templo. No Evangelho agradecer antes que ir ao templo e de que Jesus Cristo oferece.

Promoção humana e libertação


Em Aparecida se voltou a uma ca- mundo para transformá-lo segundo o telhados para que todos ouçam, assim
minhada latino-americana e caribenha projeto de Jesus. Ele é uma resposta os gestos e as obras são necessários
renovando a esperança de uma Igreja aos anseios mais profundos de todas para que o mundo conheça a Boa
mais próxima do povo, a serviço e em as pessoas. “O Senhor continua a nos Notícia.
definitivo olhando mais ao Reino que chamar como discípulos missionários e É missão da Igreja proclamar o valor
a si mesma. nos desafia a orientar toda a nossa vida da dignidade humana, trabalhar pela
Diversas vezes o Documento deApa- a partir da realidade transformadora do paz e justiça, colaborar com o respeito
recida fala “que a evangelização vai unida Reino de Deus que se faz presente em e bom uso da natureza. Poderíamos
sempre à promoção humana e à autêntica Jesus” (DA 382). dizer que o que preocupa a Igreja de
libertação”. No “ver”, a Conferência não A força transformadora do Evange- Jesus é o que muitas vezes aparece
é um estudo erudito sobre as situações lho está pedindo gestos, obras em favor nas primeiras páginas dos jornais e,
do continente, mas é a constatação que da promoção da pessoa humana que sobretudo, aquilo que a imprensa nunca
o Reino de Deus ainda não está presente é imagem e semelhança de Deus. O fala porque não interessa à maior parte
em toda a realidade latino-americana. E cristão não pode ser funcionário de um dos leitores e leitoras. Quando falam
com esse panorama a Igreja tem algo sistema econômico injusto, não pode dos pobres e do compromisso com eles
a dizer. O Evangelho não pode ficar de esconder a luz que lhe foi confiada. “quando a opção por eles está implícita
fora, mas, tem que entrar dentro desse Se o Evangelho deve ser pregado nos na fé cristológica naquele Deus que se
fez pobres por nós...?” (DA 392)

De novo os pobres
“Comprometemo-nos a trabalhar mos esquecer dos pobres. A presença Estes são alguns aspectos da Mis-
para que a nossa Igreja latino-americana deles enriquece a pastoral, alimenta o são no interior da Igreja. Temos muito
e caribenha continue sendo, com maior entusiasmo e converte as nossas co- caminho a percorrer porque o desafio
afinco, companheira de caminho de nos- munidades à vida e a prática de Jesus. é imenso. Mas temos que continuar a
sos irmãos e irmãs mais pobres, inclusive “Nossa opção pelos pobres corre o risco fazer “discípulos” e a realizar a missão
até o martírio. Hoje queremos ratificar e de ficar em plano teórico ou meramente que Jesus nos encomendou. 
potencializar a opção preferencial pelos emotivo, sem verdadeira incidência em
pobres feita nas Conferências anteriores. nossos comportamentos e em nossas Ramón Cazallas Serrano é missionário, mestre em Teologia
Que seja preferência implica que deva decisões. É necessária uma atitude Dogmática e diretor do Centro Missionário José Allamano,
atravessar todas as nossas estruturas permanente que se manifeste em opções em São Paulo, SP.
e prioridades pastorais. A Igreja latino- e gestos concretos, e evite uma atitude
americana é chamada a ser sacramento paternalista. Solicita-se dedicarmos Para Refletir:
de amor, solidariedade e justiça entre tempo aos pobres, prestar a eles amável 1. Como me sinto missionário na minha
os nossos povos” (DA 396). atenção, escutá-los para compartilhar comunidade ou paróquia?
Na missão dos discípulos, e se horas, semanas ou anos da nossa vida 2. Quais são as situações mais mis-
queremos que o nosso discipulado seja e procurando, a partir deles a transfor- sionárias que tenho que enfrentar em
verdadeiramente missionário, não pode- mação da situação” (DA 397). minha vida?

18 Jan/Fev 2008 -
Roteiro de Encontro
Tema do mês: “Escolhe a vida”
a) Acolhida
b) Invocação do Espírito Santo
c) Dinâmica
Escolhe, pois,
a vida, jovem!
d) Apresentação do tema,
questionamentos e debate
e) Compromisso mensal
f ) Oração conclusiva

de Patrick Gomes Silva Os jovens cristãos têm por

"E
scolhe, pois, a vida”. Esta frase bíblica, extraída obrigação defender a vida.
do livro do Deuteronômio, serve de tema para a

Jaime C. Patias
Campanha da Fraternidade 2008. Considerando
o contexto em que se encontra, podemos consta-
tar que estamos perante um desafio colocado por
Deus ao ser humano: “ponho diante de ti a vida e a
morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida...” O convite
de Deus ao ser humano é claro! Vivemos um momento histórico
em que o progresso fez muito para melhorar a vida, basta pensar
nas maravilhas que a medicina consegue realizar: doenças que
no passado eram sinal de morte, hoje não passam de simples
enfermidades. A expectativa de vida do brasileiro, por exemplo,
aumentou consideravelmente nos últimos anos.

Cultura de morte
Mas, paralelo a esta realidade, conhecemos também uma cultura
de morte que nos envolve e penetra no cotidiano, tornando difícil
promover a cultura da vida. Assim, a Campanha da Fraternidade
quer nos sensibilizar para esta opção: tal como no texto bíblico
em que Deus coloca o ser humano perante as realidades de vida
e morte e o convida a escolher a vida, também nós hoje, estamos
enfrentando o mesmo desafio. Compete a cada um essa escolha,
porém, nós, jovens cristãos, somos convidados a ser discípulos
de Jesus, o qual afirmou: “Eu vim para que tenham vida e vida
em abundância” (João 10, 10). Logo, somos convidados a ser
promotores da cultura da vida e a dizer um não claro à cultura da
morte. Se acreditamos na vida, precisamos nos contrapor a tudo
aquilo que atenta contra esta mesma vida.
O objetivo da Campanha da Fraternidade 2008 é levar a Igreja
e a sociedade a defender e a promover a vida humana, desde
a sua concepção até a sua morte natural, compreendida como
V Fórum Social Mundial, 2005, Porto Alegre, RS.
dom de Deus e co-responsabilidade de todos, na busca de sua
plenificação, a partir da beleza e do sentido da vida em todas as jovens: “... não desperdiceis vossa juventude. Não tenteis fugir
circunstâncias, e do compromisso ético do amor fraterno. Trata- dela. Vivei-a intensamente. Consagrai-a aos elevados ideais da
se de um objetivo grandioso, mas que depende da convicção fé e da solidariedade humana”. A promoção da vida é um desses
de todos nós para que se torne realidade. Os jovens têm estado elevados ideais aos quais se referia Bento XVI. 
sempre na linha da frente quando se trata de defender a vida, não
podemos perder esse trem, mas devemos nos unir nesta batalha. Patrick Gomes Silva é missionário, membro da equipe de formação do Centro de Animação
O papa Bento XVI na sua visita ao Brasil deixou um convite aos Missionário José Allamano, SP.

Para refletir:
1. Quais as características da cultura de morte mais notórias onde você vive?
Compromisso Mensal:
2. Quais as características da cultura da vida?
Quero ser um promotor da cultura da vida, dizendo
3. Que atitudes podem e devem ser tomadas para a promoção da cultura da vida?
não a tudo o que pertence à cultura de morte.
(o manual da Campanha da Fraternidade 2008, poderá ajudar você na identificação
das características destas duas culturas)

- Jan/Fev 2008 19
Campanha da Fr
Destaque do mês

Fraternidade e defesa da vida


de Dirceu Benincá e José Tolfo

A
pesar de todos os avanços da
modernidade, a vida humana
continua sendo ameaçada, sub-
metida ao poder econômico e
instrumentalizada em função
do lucro. O grande objetivo da
Campanha da Fraternidade (CF) deste
ano é promover a “vida em abundância
para todas as criaturas”. Com o tema:
Fraternidade e defesa da vida e o lema:
Escolhe, pois, a vida, a Campanha nos
convida a uma revolução em favor da vida,
combatendo com coragem tudo quanto
se opõe a ela. Somos motivados a fazê-
la crescer com sinais concretos e frutos
que permaneçam para sempre.

O desafio da vida
O ser humano anseia amar, ser amado
e ser feliz. Nessa busca, corre o risco de se
deixar manipular por certos reducionismos,
depositando a felicidade no acúmulo de
bens e no êxito particular. Assim, a pessoa
vale mais pelo que tem do que por aquilo
que é. O outro passa a ser visto como um
objeto para satisfazer os seus desejos e
necessidades. É a lógica do mercado:
utilizar até que sirva e depois descartar.
Cresce também a tendência ao consumismo
desenfreado, ao individualismo, hedonismo,
desenvolvimentismo e dominação do outro.
Adignidade humana acaba ganhando pouca
importância. Há dificuldade de olhar para
o outro como irmão, de cultivar o afeto e
a solidariedade. Em suma, o ser humano
está construindo uma cultura de destruição,
competição e morte.
Através de seus documentos, a Igreja
condena “tudo quanto se opõe à vida, toda
espécie de homicídio, genocídio, aborto,
eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que
viola a integridade da pessoa humana,
como as mutilações, os tormentos corporais
e mentais e as tentativas para violentar
as próprias consciências; tudo quanto
ofende a dignidade da pessoa, como as
condições de vida subumanas, as prisões
arbitrárias, as deportações, a escravidão,
a prostituição, o comércio de mulheres e
jovens; e também as condições degradan-
tes de trabalho, em que os operários são
tratados como meros instrumentos de lucro

20 Jan/Fev 2008 -
raternidade 2008
a humana. Escolhe, pois, a vida (Dt 30, 19)

Cartaz CF 2008 (André Said Lavor, Horual Leon dos Santos e Marilia Matias)
e não como pessoas livres e responsáveis. sus propõe entregar a vida a serviço dos
Todas essas coisas e outras semelhantes outros (Jo 12, 25). Ao invés das relações
"são infames; ao mesmo tempo em que humanas superficiais e utilitaristas, Ele
corrompem a civilização, desonram mais indica o caminho da comunhão fraterna
aqueles que assim procedem, do que os e a busca da vida em plenitude.
que padecem injustamente; e ofendem A Igreja insiste na importância de sub-
gravemente a honra devida ao Criador" meter a ciência – que caminha a passos
(Gaudium et Spes, 27). largos – ao juízo ético, buscando sempre
Na parte do ver, o texto da Campanha aquilo que é bom para o ser humano.
da Fraternidade nos evoca a reflexão Também trata da esterilidade conjugal,
acerca da existência e confronto entre uma da gestação indesejada, da manipulação
cultura da vida e uma cultura de morte. embrionária, da vida afetivo-sexual, do so-
A cultura de morte afeta a vida humana frimento, da doença e da morte, chamando
desde antes do seu nascimento e se revela atenção para as atitudes condizentes com
mesmo em certas causas que produzem a ética, a dignidade, o respeito à própria
a morte em grandes proporções. O texto vida e a do outro, enfim, com o que está
retoma a questão da pobreza e exclusão alinhado com o Plano de Deus. E afirma:
social, geradas pelo sistema capitalista, “Se deixamos de lado esses critérios, além
que constituem sérias ameaças à vida de cairmos na superficialidade, corremos
em nossa sociedade. Também menciona o risco de nos tornarmos uma instituição
outros problemas graves que precisam ser filantrópica em nada diferente das demais”
enfrentados e combatidos, como é o caso (Texto Base, nº 248).
da violência, do crime organizado, do tráfico
e consumo de drogas e as diversas formas Sinais de vida
de agressão ao meio ambiente. Para defender a vida é fundamental
saber discernir o que gera vida e o que gera
Jesus e a vida morte. Muito em sintonia com o documento
A vida, dom de Deus, é o maior bem a da V Conferência de Aparecida, a CF/2008
ser preservado e promovido. Para tanto, nos convida a produzirmos frutos de vida.
é preciso saber discernir entre os co- Ressalta o desafio de vivermos a solida-
nhecimentos e práticas que conduzem riedade, numa postura de serviço, busca
à vida e aqueles que desviam deste ca- da justiça e transformação da sociedade.
minho, colocando-se a serviço da morte. Reafirma a exigência de renovar o com-
O encontro com Cristo nos convoca a promisso com a vida no seio das próprias
escolher a vida. Trata-se de "examinar comunidades cristãs. Na perspectiva de
tudo e guardar o que for bom" (1Ts 5, 21). defesa da vida enquanto missão central da
Vale recordar sempre: "Jesus veio para Igreja, o texto -base aponta grandes desa-
que todos tenham vida, e a tenham em fios. Entre eles: desenvolver uma educação
abundância" (Jo 10, 10). Todo o seu viver afetivo-sexual integral; conscientizar para o
e agir é um serviço à vida, principalmente valor da família; incentivar a reflexão ética
dos mais pobres e excluídos. nos ambientes acadêmicos, científicos e
Diante do individualismo, Ele convoca técnicos; ter uma postura crítica diante
a viver e a caminhar juntos; diante da da mídia e atitude pró-ativa no sentido de
indiferença, propõe a acolhida e o amor promover uma comunicação comprometida
fraterno; diante das diversas formas de com a verdade e a vida. A promoção da
discriminação, defende a dignidade ina- vida requer a luta pela garantia de políticas
lienável de cada pessoa. Jesus mostra-se públicas; a salvaguarda da paz e da justiça
próximo e solidário, sobretudo com os mais social. Em última análise, a transformação
enfraquecidos. Cura os doentes, consola das estruturas, visando uma vida digna
os aflitos, liberta da surdez, da cegueira, da para todos. 
lepra, do demônio etc. Como na parábola
do bom samaritano, nos ensina a sermos Dirceu Benincá é sacerdote, co-autor do livro “CEBs: nos trilhos
sensíveis às necessidades dos outros, a ter da inclusão libertadora”, Paulus, 2006, doutorando em Ciências
compaixão e defender a vida em primeiro Sociais pela PUC/SP. Com a colaboração de José Tolfo, imc,
lugar. Ante o subjetivismo hedonista, Je- animador vocacional.

- Jan/Fev 2008 21
Projetos Sociais

João Sinhori
Instituto Missões Consolata
promovem a vida

O
Evangelização nas periferias.
Instituto Missões Consolata - IMC, fundado em Turim, Itália, em

Lírio Girardi
1901, pelo Bem-aventurado José Allamano, tem por finalidade
a evangelização e a promoção humana como expressão do
carisma missionário. Contando com cerca de 1.000 membros
entre padres e irmãos consagrados, o IMC atua em 23 países
na África, Ásia, Europa e Américas, privilegiando situações
humanas menos favorecidas. No Brasil, os missionários da Consolata desen-
volvem projetos com a colaboração de amigos e benfeitores.

Nas periferias
A grande maioria dos missionários está prestando serviço nas periferias Jacir de Souza e dom Aldo Mongiano, Maturuca, RR.
das cidades, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, onde a violência, a

Arquivo
falta de emprego, a moradia precária e a insegurança são grandes desafios.
Evangelização e promoção humana através de obras sociais nas áreas da
saúde, educação e formação profissional proporcionam, principalmente aos 
jovens e mulheres, uma vida mais digna.

Apoio à causa indígena


Desde 1948, o IMC colabora com outros organismos na defesa e promoção
dos direitos dos povos indígenas, particularmente na Região Amazônica. Como
muitas lideranças, alguns missionários deram a própria vida por esta causa.
Curso em Salvador, BA.
Entre ameaças, invasões, raptos e mortes, juntos conquistaram algumas im-
portantes vitórias: a demarcação das terras indígenas e a sua autogestão.

José Roberto Garcia


Pastoral Afro
O Brasil tem a maior população de origem africana do mundo. No entanto,
pesquisas revelam que, entre os menos favorecidos do país, além de sofrer
com o racismo, os afrodescendentes são os mais excluídos da educação, da
saúde e do mercado de trabalho. A Pastoral Afro tem por missão resgatar a
dignidade deste povo apoiando ações afirmativas para sua inserção na uni-
versidade e no mercado de trabalho.
Cisterna em Muquem, Monte Santo, BA.
Água para o semi-árido do Nordeste

Patrick Silva
Os projetos de captação, canalização e distribuição da água para as po-
pulações do semi-árido na Bahia realizam o sonho de milhares de famílias. O
objetivo é solucionar o histórico problema da falta de água na região através
de poços, construção de reservatórios, cisternas e canalização da água até
as casas (ver matéria na pág. 23).

Apoio à causa dos portadores do vírus HIV


Quando o vírus HIV começou a se difundir entre os brasileiros, em 1990
surgiu em São Paulo o Lar Betania, uma das primeiras casas de apoio para
as pessoas portadoras. Hoje as Obras Sociais Padre Costanzo Dalbesio da Lar Betania
Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Imirim, São Paulo, conta
Jaime C. Patias

com outras três casas abrigando 20 pessoas entre crianças, adolescentes e


jovens. Cada unidade tem a capacidade para acolher 12 pessoas. Essa obra
é uma contribuição para re-inserir os moradores, com todos os seus direitos
e deveres, na sociedade.

Creche Padre Bernardo Gora


Obra social do Instituto Missões Consolata, localizada no bairro Jardim
Peri, Zona Norte de São Paulo atende 100 crianças de 3 a 5 anos. A Paróquia
Nossa Senhora da Penha administrada pelos missionários, no mesmo bairro,
mantém outras três creches que atendem juntas cerca de 350 crianças, con- Crianças da Creche Padre Bernardo Gora.
tribuindo para a sua educação e formação. 

22 Jan/Fev 2008 -
A luta pela água da vida!
Soluções para a falta de água em

Vidal Moratelli
comunidades do semi-árido baiano são
implantadas graças à união e boa vontade.
de José Roberto Garcia e Vidal Moratelli

C
ada vez mais ouvimos falar sobre a necessidade
de utilizar bem os recursos naturais disponíveis
e usá-los de maneira que venham atender ao
bem comum, mas ao mesmo tempo, sem destruir
suas fontes nem agredir a natureza! A água, um Jaguarari
líquido tão precioso, está ficando cada vez mais A Paróquia São João Batista, em Jaguarari, também na Bahia,
escassa no nosso planeta. Vemos também que tal presente de conta com 170 comunidades. Desde 1996, os missionários rea-
Deus está se concentrando nas mãos de poucos, enquanto a lizam projetos para levar água às famílias do município e região.
maioria sofre com a carência deste bem. Feita a perfuração dos poços, a água é canalizada para um
reservatório de onde é posteriormente conduzida por uma rede
Monte Santo de distribuição até as comunidades, servindo às famílias. São
Na Paróquia Sagrado Coração de Jesus de Monte Santo, dezenas de quilômetros de tubos condutores. Além disso, o Centro
norte da Bahia, com mais de 140 comunidades, um dos objetivos Cultural da Paróquia, em

Vidal Moratelli
da ação pastoral é conscientizar o povo de que a água não é um colaboração com o Insti-
problema, e sim solução. Em 1995 iniciou-se a associação de tuto Missões Consolata,
quatro comunidades locais (Queimadas, Cansanção, Nordestina já construiu 460 cisternas.
e Monte Santo) para discutir e encontrar uma saída para o grande Coordenadas pelo padre
problema da falta de água. Vidal Moratelli, as obras
Milhões de famílias no ser- continuam. No momento
José Roberto Garcia

tão nordestino carregam existem sete grandes pro-


essa ‘cruz’ todos os dias. A jetos em estudo e anda-
Associação Regional Pro mento. O primeiro passo é
Água (ARPA) desenvolve conscientizar a população
projetos de água partilhada sobre a necessidade de
com os sertanejos. Com a criar um sistema perma-
ajuda financeira de benfei- nente de abastecimento de água para que não fique à mercê dos
tores, Organizações Não- carros-pipas. Onde as comunidades percebem que têm direito
Governamentais (ONGs) e à água, surge a vontade de realizar os projetos. A preparação
pessoas de boa vontade, de pessoas para coordenar essas obras é uma preocupação
comprou-se um caminhão constante, pois delas depende o sucesso dos trabalhos, que
e uma sonda perfuradora, demoram muitos anos para serem implementados. Para coor-
a qual vem sendo usada para a construção de poços artesianos denar os projetos, foram criadas 45 Associações locais. Estas
nas comunidades do semi-árido. Até o momento, mais de 80 por sua vez, estão ligadas a uma Central de Associações em
comunidades já foram beneficiadas. Jacobina (BA), que dá assistência técnica para a manutenção
A Pastoral da Água tornou-se um meio para chegar até os da infra-estrutura e equipamentos. Os projetos são elaborados
irmãos sertanejos e ajudá-los a viver uma vida melhor. A equipe a partir de levantamentos técnicos e encaminhados para a Se-
compõe-se de várias pessoas entre missionários e lideranças cretaria do Estado, à espera de recursos. Quando há ajuda de
que discutem e aprovam os projetos a serem implementados na outras organizações as obras são aceleradas.
comunidade interessada. O povo local assume a responsabili-
dade de realizar os trabalhos manuais, tais como, a construção A água viva
do tanque reservatório (com capacidade para 50.000 litros), a Um dia, disse Jesus aos seus discípulos: ‘Se alguém tem sede,
escavação das valetas para a tubulação e a redistribuição da venha a mim, e aquele que acredita em mim, beba’ (Jo 7, 37-38).
água em duas localidades dentro da comunidade beneficiada. Jesus é a fonte da água viva. Ser discípulo Dele significa ir ao seu
Homens, mulheres e jovens participam de acordo com as encontro. Quem Dele beber será como uma fonte de água viva
exigências da construção e segundo a capacidade de cada para o mundo! O Evangelho será libertador quando conseguirmos
um, deslocando material de construção, escavando valetas, transformá-lo em gestos de solidariedade, comunhão, esperança
carregando água e fornecendo alimentação. Após a conclusão e vida digna para os nossos irmãos e irmãs. 
do projeto, a comunidade se responsabiliza pela manutenção,
através de um fundo rotativo. O custo total de cada projeto é de José Roberto Garcia é missionário, pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Monte Santo,
aproximadamente 15 mil reais. BA. Vidal Moratelli é missionário na Paróquia São João Batista, em Jaguarari, BA.

- Jan/Fev 2008 23
Eu vos deixo a paz!
“Celebremos a graça da vida e o mistério supremo do amor (...)
Infância
Missionária
pela boca de nossas crianças” (Zé Vicente)

Jaime C. Patias
de Roseane de Araújo Silva

I
niciamos um novo ano, imaginando realizações e aconte-
cimentos em nossa vida e em nossa comunidade. Este é
um sentimento comum nesta época do ano. Por essa razão,
pensei em escrever com a contribuição de algumas crianças.
Gostaria de dedicar a página deste mês aos colaboradores
Rafaela Ferreira, Caroline Silva, Gabriela Oliveira e Viní-
cius de Menezes. Estas crianças falaram de seus sonhos
e da sociedade que desejam ter. Em comum, analisaram que o
mundo que temos não é aquele que Deus quer para todos nós.
Falaram da violência, da desigualdade social, da poluição e da
necessidade de paz para todos. Assim como as nossas crianças,
Infância Missionária, Comire, Ribeirão Preto, SP.
o mundo deseja e sonha com a paz. Comemoramos no dia 30 de
janeiro, o Dia da Não-Violência e da Paz. No dicionário Aurélio, adolescentes. Falo aqui das pequenas violências verbais, morais
a sonhada paz significa ausência de conflito entre pessoas, con- e físicas ocorridas até mesmo dentro das próprias famílias... Mas,
córdia, harmonia, tranqüilidade, e é lembrada pelo próprio Jesus existem violências mais graves.
nas bem-aventuranças: “Felizes os que promovem a paz, porque Existem em nossa sociedade meninas e meninos vítimas de
serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 1-12). As bem-aventuranças uma realidade que os impede de ter plenamente uma vida de
anunciam a vinda do Reino de Deus, cabendo a cada um de nós, criança, quando ainda muito cedo são introduzidos no submundo
amados e chamados por Ele, uma nova atitude diante das dife- das drogas e da violência. Nestes tempos, ouvimos falar muitas
rentes formas de violência, principalmente contra as crianças e vezes na TV e nos jornais sobre a redução da maioridade penal,
ou seja, os adolescentes assumiriam mais cedo a responsabilidade
de adultos ao cometerem atos violentos. Em nosso país, há muita
Sugestão para o grupo gente contra esta redução e também muitas pessoas favoráveis
à alteração da lei, mas, é uma forma mascarada de violência de-
Acolhida clarada aos adolescentes, e ao direito estabelecido e respaldado
Motivação (objetivo): trazer ao grupo a realidade da violência, pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Esta Lei é diferente
principalmente quando atinge inúmeras crianças e adolescentes. e fala da proteção integral à criança e ao adolescente. O ECA em
Refletir ainda o direito a ser criança e adolescente hoje em dia seu artigo nº 4 afirma que é “dever da família, da comunidade, da
e o chamado à missão.
sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta
Oração: Ao Deus da Vida pedimos pelas crianças e adoles-
centes que não conseguem se defender dos diferentes tipos de prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
violência e agradecemos por todas as crianças e adolescentes alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
chamados a evangelizar desde pequeninos. à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
Partilha dos compromissos semanais familiar e comunitária à criança e ao adolescente”. Não podemos
Leitura da Palavra de Deus: Mateus 9, 35-38 A origem da tratar esta questão, tornando-os “bodes expiatórios” desta situação
missão de violência que enfrentamos em nosso cotidiano.
Compromissos missionários: O trabalho missionário de Jesus
Celebramos nestes dias, a manifestação de Deus em nosso
nasce da realidade que o leva a sentir compaixão do povo.
Ele nos mostra que há muito trabalho a fazer e é necessário meio através do envio do seu filho Jesus, que veio trazer vida
estarmos unidos em comunidade. Jesus chama a todos nós para abundante para todos (Jo 10, 10). Ele é o bom pastor que dá a
servir aos irmãos e irmãs, principalmente aqueles que estão vida por suas ovelhas (Jo 10, 14-18). Assim, somos chamados
distantes dEle. Toda a comunidade é chamada a participar da a servir aos irmãos e irmãs como missionárias e missionários,
construção do Reino de Deus, praticando a justiça em favor dos refletindo a realidade de cada dia e tornando outras crianças e
pobres e marginalizados. Para nos chamar a ser missionários, adolescentes amigos de Cristo, porque a “criança missionária
Deus utilizou-se de alguém bem conhecido da gente, por essa
conhece a Jesus, ama como Jesus, não se envergonha de falar
razão sugerimos organizar na comunidade ou na paróquia
uma celebração missionária convidando principalmente aquele de Jesus” (2º Compromisso da Criança Missionária). Que Deus,
ou aquela que nos trouxe ao grupo da Infância Missionária Pai e Mãe de todos, nos fortaleça a semear a cultura do amor e
(convidar também novos amigos para o grupo). da paz onde estivermos. É nessa expectativa e esperança que
Momento de agradecimento ao Deus da Vida por todas as gostaria de iniciar mais um ano refletindo a realidade das nossas
pessoas que constroem um mundo possível, justo e solidário crianças e adolescentes, contando com a colaboração tanto deles,
para todos, independente da raça, religião, país ou continente quanto dos animadores da IAM.
onde residam. Pedimos uma benção especial para todas as
De todas as crianças do mundo – sempre amigas! 
crianças e adolescentes dos países em conflito.
Canto e despedida.
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

24 Jan/Fev 2008 -
- Jan/Fev 2008 25
Médica leiga
Entrevista

missionária na Guiné
Mônica Machado relata sua experiência de dois anos
Jaime C. Patias

como leiga missionária na capital da Guiné, África.


reúne como irmãos e irmãs, leigos casados o mesmo objetivo e também fiquei sem
ou solteiros, padres e leigos consagrados, resposta. Procurei a Cáritas, que enviava
vivendo em grupo de partilha, adoração, medicamentos, mantimentos, mas não
compaixão e evangelização. Nesta en- pessoas... Uma senhora muito simpática
trevista a Missões ela conta como foi da Arquidiocese dizia: Se você fosse freira
sua primeira participação na missão em ou padre seria mais fácil, mas para leigos
Conacri, capital da Guiné, África. eu não conheço nada... Surgiu a oportu-
nidade de ir para a França, onde pude
Quando foi que sentiu sua vocação conhecer a “Fidesco”, ONG criada pela
missionária além-fronteiras? Comunidade Emanuel com o objetivo de
Acredito realmente que o desejo de ser enviar leigos em projetos de cooperação
missionária sempre existiu em meu cora- internacional para os países em vias de
ção, lembro-me do dia em que preenchi a desenvolvimento. A ONG tem como lema:
ficha de inscrição para o vestibular, quando “Colocar a sua competência profissional
disse: “quero ser médica missionária” e a serviço de quem mais precisa”. Foi a
tinha 16 anos. Esse desejo permaneceu. E confirmação de que havia encontrado
Deus é fiel! Ele não se esquece... Acabou o meu lugar no interior da Igreja, numa
encontrando um jeitinho de concretizar o comunidade que possui essa sensibilida-
meu sonho... “Ele tarda, mas não falta”, de. Percebi que existiam outras pessoas
como se diz no interior paulista. Tentei com o mesmo desejo que eu e já vivam
inscrever-me no Projeto Rondon, que a graça da missão, esse privilégio! Uma
infelizmente deixou de existir exatamente imensa alegria invadiu o meu coração. Em
quando seria possível nele ingressar. 1999 trabalhei na sede durante o tempo
Quando terminei a especialização em em que morei em Paris e pude conhecer
Pediatria queria partir em missão, então melhor a organização. Participei de uma
de Jaime Carlos Patias procurei a Arquidiocese de São Paulo me formação missionária em Roma, no ano
disponibilizando como pediatra, solteira, de 2000. Voltei ao Brasil onde tinha com-

C
católica, disposta a participar de projetos promissos profissionais, organizei melhor
om satisfação, estamos vendo sociais... Mas, nada existia. Liguei para a minha vida e então pude partir em 2005
despertar no Brasil a vocação de o Ministério da Saúde em Brasília, com para a Guiné.
leigos missionários. Vários gru-
pos ligados às Pontifícias Obras
Arquivo Pessoal

Missionárias (POM), organismos


nacionais e estrangeiros, institu-
tos e movimentos se estruturam em vista
da missão. A médica Mônica Guarnieri Ma-
chado, 41, nascida em Botucatu, radicada
desde os 6 anos em Itapetininga, interior
de São Paulo, é um exemplo de como a
vocação missionária na Igreja também faz
parte da vida dos leigos. Mônica fez seus
estudos superiores em Teresópolis, Rio
de Janeiro e especializou-se em Pediatria
no Hospital Menino Jesus, em São Paulo.
Realizou ainda estudos no Instituto da
Criança da USP e na França. Há 10 anos
é membro da Comunidade Emanuel, que Crianças atendidas por Mônica, Conacri, Guiné.

26 Jan/Fev 2008 -
Arquivo Pessoal

a ver crianças de um ano pesando 2.700


gramas. Dediquei-me assim a melhorar o
serviço, a buscar uma recuperação nutri-
cional dessas crianças, mas, para tal era
necessário investimento, buscar parcerias
com ONGs. Graças a Deus vários projetos
foram bem sucedidos.

Que virtudes você destacaria no


leigo(a) missionário(a) além-frontei-
ras?
O coração aberto para amar e ser
amado! Através do amor é que a obra
de Deus se realiza! Muita flexibilidade,
desejo de compreender o outro como
ele é. Possibilidade de maravilhar-se! De
contemplar a obra de Deus na diversidade.
E humildade para aprender. Sair da arro-
gância, da pretensão de pensar que temos
Conte-nos sobre a vida na República São pedras, portos... Tudo muito sujo! algo a “dar”, como se isso caracterizasse
da Guiné. Impressionante como se possa viver assim! uma superioridade. Temos todos muito
Um dos países mais pobres do mundo: Existem lagartos passeando pela cidade a dar sim, mas muito mais a receber do
no último relatório da ONU só havia três inteira e é preciso aprender a conviver outro. O encontro com outra cultura é uma
abaixo dele. Antiga colônia da França, a com eles. Não fazem mal algum. Ratos oportunidade ímpar de aprendizado!
Guiné tornou-se independente na década e baratas também circulam livremente.
de 50 e desde então o país vem empobre- Nenhum risco! Somente um desconforto! Com tantas novidades encontra-
cendo. Há cinco anos as pessoas possuíam As crianças brincam, por onde passamos das, algum fato marcou a sua expe-
água encanada e luz elétrica 24 horas e hoje gritam: fote! fote! (que em sussu, significa: riência?
isso não existe mais. Em um ano e meio branco! branco!). Nada que impeça o livre A primeira criança que vi morrendo.
não saiu uma gota d’água das torneiras trânsito por toda a cidade. Não existe nem Foi um momento dificílimo. Não ter o
da casa onde morei, somente nos últimos muito roubo... Vocês não imaginam o material necessário para assisti-la. Sa-
meses, após uma “insurreição popular” escândalo feito por uma das auxiliares de ber o que poderia ser feito e não poder
algumas melhorias foram conquistadas, enfermagem porque sumiu a sua carteira fazê-lo. Uma sensação de impotência, de
incluindo uma melhor distribuição de água enquanto fazia o curativo em um preso. Ela fracasso... Joguei meu estetoscópio no
e eletricidade. Passamos a receber água ficou lá até que a devolvessem! Foi então chão! Explodi! Gritei: “Não vim aqui para
duas vezes por semana o que nos permitia que percebi o quanto a indignação ainda ver esta criança morrer!” Neste momento
encher os galões em casa mesmo, nos faz parte desta cultura! É inadmissível um lembrei que podia rezar, juntamo-nos em
poupando o trabalho de carregá-los. E a roubo! Era uma questão de princípio... Ela torno dela, começamos a rezar, buscando
luz elétrica recebíamos dia-sim, dia-não, não poderia aceitar com naturalidade e acompanhá-la na sua entrada aos céus,
das 19h00 às 7h00 e das 24h00 às 7h00, simplesmente ir embora, como eu havia pedindo a Maria que a pegasse pela
alternadamente. proposto... Ela precisava mostrar a eles mão. Até hoje peço a intercessão desta
Conacri é a capital da República da que isso não se faz! Dá para imaginar? É e de outras crianças que já estão face-
Guiné, uma cidade com um milhão e meio assim que funcionam as coisas na Guiné! a-face com o Pai, que me ajudem nos
de pessoas vivendo em condições precá- É difícil retratar tudo numa entrevista. diagnósticos, que intercedam por mim
rias. O esgoto é a céu aberto na cidade O que aqui digo é sempre no intuito de junto a Deus, ajudando-me a bem cuidar
inteira. Não existe semáforo, o trânsito é partilhar com vocês essa maravilhosa das crianças que me são hoje confiadas!
uma bagunça! A quantidade de pessoas experiência de vida! Acredito que possuo assim “anjos da
na rua é enorme, as casas são muito pe- guarda suplementares nesta missão que
quenas e muito quentes, tudo acontece ao Quais as alegrias que você expe- não acaba nunca...”
relento, até mesmo o banho. As mulheres rimentou no trabalho como médica
vestem roupas coloridas e carregam seus missionária leiga? Que vai fazer agora que regressou
filhos em panos amarrados às costas. É A graça de colocar em prática alguns ao Brasil? Pensa em outra missão?
impressionante a quantidade de crianças! projetos muito interessantes. A possi- Gostaria muito! Preciso me reorganizar.
Os muçulmanos são 80% da população bilidade de contribuir para a melhoria Gostaria de algo mais longo... Dois anos
e a poligamia é muito difundida. Como da qualidade do atendimento prestado é muito pouco! Quando comecei a ver os
me dizia Binta, uma costureira amiga: pelo Centro de Saúde à população local, frutos do trabalho, já estava na hora de
“é obrigatória, a gente tem que aceitar!” através de um curso aos enfermeiros e voltar. Mas, tudo está nas mãos de Deus.
A relação com o seu marido nunca mais auxiliares de enfermagem que prestam Neste momento a prioridade é terminar
foi a mesma depois que ele arrumou a serviço. Na Guiné os enfermeiros atendem o curso de Teologia, estou no quarto ano
segunda esposa, sua “co-esposa”. Eles consultas, como os médicos. A ausência da Universidade, na UNIFAI. Preciso me
moram todos na mesma casa, cada mulher e a necessidade de profissionais é enor- formar para melhor servir... O futuro? A
tem o seu quarto onde dorme com seus me. A desnutrição infantil é o problema Deus pertence, não é mesmo? 
filhos. Binta tem sete! prioritário na pediatria: 50% das crianças
Praticamente não existem praias, possuem algum grau de desnutrição, Jaime Carlos Patias é missionário, mestre em comunicação e
apesar de Conacri ser uma península... muitas em estágio avançado. Cheguei diretor da revista Missões.

- Jan/Fev 2008 27
Consagrados para servir
Diaconato de cinco jovens missionários da Consolata testemunha a ação da Igreja sem fronteiras.
Fotos: Arquivo IMC

Afonso Daniel Sandro Lourenço Josaphat

de Ramón Cazallas Serrano cultura afro, o que levou o povo a viver e de grande alegria. Mas como ele costuma
a participar da celebração com emoção e dizer “o exercício do diaconato se dá no

N
profundidade, lembrando suas raízes. dia-a-dia. A celebração foi a concretização
ão é comum ver jovens que Em Jaguarari, município situado no do que já vínhamos vivendo o que só foi
consagram a vida para sem- norte da Bahia, na Igreja do Pilar, comuni- possível graças a colaboração, o apoio e
pre à Missão e são ordenados dade formada por mineradores, realizou-se a partilha da comunidade”.
diáconos nas periferias das a profissão religiosa do queniano Daniel. A Josaphat recebeu o diaconato no dia 23
grandes cidades ou no interior celebração foi bem participada por mora- de dezembro na Paróquia São Paulo, em
de municípios pequenos do dores procedentes de diversos municípios Cascavel, PR, pela imposição das mãos do
sertão. Normalmente estas cerimônias da Bahia e de outros estados do Brasil. A arcebispo dom Lúcio Ignácio Baumgaert-
se realizam nas catedrais das dioceses ordenação diaconal foi celebrada na Igreja ner. Uma semana vocacional preparou as
ou nas próprias sedes das congregações matriz da cidade. A presença de Daniel foi comunidades da paróquia para o evento.
religiosas. As primeiras filas são reservadas muito forte nas comunidades rurais e entre Dom Lúcio, na sua homilia desafiou os pa-
para as autoridades políticas, religiosas ou os jovens da paróquia, principalmente com roquianos, especialmente os jovens, falando
militares. Desta vez não foi assim. À frente o grupo dos vocacionados e vocacionadas. da resposta radical que Josaphat deu ao
estavam camponeses das “caatingas” do Ele pôde sentir profundamente o problema chamado de Deus, a ponto de deixar tudo
sertão baiano de Jaguarari e Monte Santo da seca naquela região. e vir para um país estrangeiro com língua e
e o povo afrodescendente de Plataforma, Em Monte Santo, o goiano Sandro do cultura diferentes. Para Josapaht, o ano de
em Salvador da Bahia de todos os Santos Carmo acompanhou de perto a vida das serviço pastoral em Cascavel foi de grande
e de todos os Orixás. numerosas comunidades do povo simples. importância, porque “junto ao povo, Deus
Na Bahia, em novembro de 2007, três Foi durante este ano o “missionário da me concedeu esse grande dom da vocação
jovens missionários que se encontravam moto”. Quantos quilômetros ele percor- missionária. Sinto-me muito feliz de poder
prestando um ano de serviço à Missão reu para estar perto das comunidades? exercer o meu ministério diaconal no meio
tornaram-se diáconos: Daniel Onyango Só Deus e a motocicleta sabem. Na sua do povo de Cascavel, especialmente junto
Mkado, queniano, Afonso Amane, mo- ordenação, na praça da cidade, partici- aos pobres e doentes em preparação ao
çambicano e Sandro Ferreira, brasilei- param algumas comunidades rurais que meu sacerdócio”.
ro. Terminados os estudos de Teologia em “paus-de-arara” percorreram grandes As pessoas que participaram dos
estes jovens foram destinados a viver o distâncias para participar do evento. eventos foram testemunhas do amor de
carisma missionário em três frentes bem Deus para com os pobres de onde também
diferentes. Em São Paulo e no Paraná surgem discípulos e missionários para levar
Outros dois jovens, Lourenço Elísio à frente o projeto de Jesus neste mundo. E
Na Bahia Tala e Josaphat Mwanzia fizeram o mes- agora? Afonso, Daniel, Sandro, Lourenço
Afonso realizou um ano de serviço mo caminho em São Manuel, SP e em e Josaphat continuarão servindo suas
pastoral em Salvador, capital da Bahia, Cascavel, PR, respectivamente. Depois comunidades, porção da Igreja discípula
com o povo afro da Paróquia de São Brás, de um ano a serviço na Paróquia de São missionária tendo o avental como roupa
na Plataforma. De africano para afrodes- Manuel, e de intensa preparação nas co- para servir aos mais pobres do sertão e
cendentes, foi pobre entre os pobres. munidades, o moçambicano Lourenço foi das periferias das cidades. E depois? A
Acompanhou de perto o trabalho que se ordenado diácono no dia 9 de dezembro ordenação sacerdotal para continuarem
realiza nos quilombos das comunidades, de 2007, pela imposição das mãos de servindo aos outros como padres. Como,
sem esquecer a evangelização dos jovens dom Aloysio Leal Penna, arcebispo de quando e onde Deus quiser. 
e catequistas. A Profissão Religiosa se Botucatu, no Santuário Santa Terezinha,
realizou na Igreja Matriz e a Ordenação onde está sepultado padre João Batista Ramón Cazallas Serrano é missionário, mestre em Teologia
diaconal no ginásio do quilombo. A Eu- Bísio, primeiro missionário da Consolata Dogmática e diretor do Centro Missionário José Allamano,
caristia da ordenação teve elementos da no Brasil. Para Lourenço esse foi um dia em São Paulo, SP.

28 Jan/Fev 2008 -
São Francisco vivo: terra, água, rio e povo
O bispo de Barra, na Bahia, dom Luiz Flávio Cappio, afirmou que a retomada das
obras para a transposição do rio São Francisco "mostra a total insensibilidade do
governo em relação aos movimentos sociais que o elegeram".

D
epois de muita polêmica, o grandes especialistas na área como os
Batalhão de Construção e En- professores Aziz Ab’Saber e Aldo Re-
genharia do Exército reiniciou bouças da Universidade de São Paulo,
no dia 7 de janeiro de 2008 Abner Curado da Universidade Federal
os trabalhos da transposição do Rio Grande do Norte, João Suassuna
do rio São Francisco, em Per- da Fundação Joaquim Nabuco mostra-
nambuco. De acordo com a assessoria ram que o problema da falta de água no
do Ministério da Integração Nacional, as semi-árido é mais de gestão do que de
obras não haviam sido retomadas antes escassez. A Agência Nacional de Águas
por causa das festas de fim de ano. No dia (ANA) provou que é possível abastecer os
19 de dezembro, o STF (Supremo Tribunal municípios sem precisar da transposição
Federal) derrubou liminar que impedia o do rio São Francisco. O Instituto Brasi-
início dos trabalhos. Mesmo assim, dom leiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Luiz Cappio, que fez jejum de 24 dias para Naturais Renováveis (Ibama) que deu o
protestar contra a transposição, disse que aval forneceu, sem querer, argumentos
sua campanha continuará. "Não pode- contra o projeto. Reconheceu que 70%
mos parar". O bispo afirmou ainda que da água serão para irrigação e 26% para
o governo "traiu quem o apoiou" e "alijou o abastecimento de cidades; que a maior
a população das tomadas de decisão, parte da água transposta irá para açudes
tornando-se arbitrário. O governo Lula onde se perde até 75% por evaporação;
acabou. Estamos no governo Inácio da que 20% dos solos que se pretende irrigar
Silva", afirmou. Para ele, o presidente "se "têm limitações para uso agrícola" e "62%
recusa a ouvir a sociedade". O religioso dos solos precisam de controle, por causa
ainda não se recuperou da greve de fome. da forte tendência à erosão". O Tribunal
Dos nove quilos que perdeu, readquiriu de Contas da União diz que o projeto não
apenas dois. "Ainda estou sob cuidados beneficiará o número de pessoas preten-
médicos, com alimentação controlada", dido. Efetivamente, as comparações entre
informou. os projetos do governo e da ANA, feitas
por Roberto Malvezzi, bom conhecedor da
Obras preparatórias bacia do São Franscisco, mostrou que o do
O Exército é responsável pelas obras governo custará R$ 6,6 bilhões, atenderá
preparatórias como serviços de topografia, apenas a quatro estados (Pernambuco,
construção de barragens e canais. De Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará)
acordo com o Ministério da Integração, beneficiando 12 milhões de pessoas de
a data para o início das obras civis ainda 391 municípios, enquanto o projeto da
não foi definida. A primeira etapa será feita ANA custaria 3,3 bilhões, atingindo nove
pelo consórcio Águas do São Francisco estados (Bahia, Sergipe, Piauí, Alagoas,
- formado pelas empresas Carioca S.A., Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraí-
Paulista e Serveng. Em dezembro de ba, Ceará e Norte de Minas), beneficiando
2007, o consórcio venceu a licitação para 34 milhões de pessoas de 1356 municípios.
o lote 1, em um trecho de 400 quilômetros O próprio Comitê de Gestão da Bacia que
em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio conhece bem as questões do rio, foi por
Grande do Norte. As obras nessa fase 44 votos a 2 contra a transposição; diz
custarão R$ 238,8 milhões. A primeira ainda que esta atende a menos de 20%
etapa consiste em obras de instalação do semi-árido e que 44% da população do
de equipamentos, montagem e testes meio rural continuará sem água.
mecânicos e elétricos, drenagem interna Uma discussão sobre a transposição
de canais, construção de muretas laterais, com toda a sociedade e as comunidades
passarelas e pontes. envolvidas, como indígenas, ribeirinhos e
quilombolas deveria ser feita. É o mínimo
Argumentos contrários
Marcello Casal Jr./ABr

que se espera de um governo que se diz


O apoio principal do projeto foi dado voltado ao social e aos pobres. 
pelo Conselho Nacional de Recursos Hí-
dricos, onde o governo federal, sozinho, Da Redação, com informações do site
tem a maioria dos votos. Ao contrário, www.umavidapelavida.com.br

- Jan/Fev 2008 29
São Paulo - SP plementação ou criação dos Conselhos Missionários
Missionários para a Amazônia Paroquiais (Comipas), Diocesanos (Comidis) e dos
No dia 17 de dezembro, o Projeto Missionário Seminários (Comise). A Assembléia foi assessorada
Norte 1 (Amazonas e Roraima) - Sul 1 (São Paulo) da pelo representante da Comissão de Preparação do 2º
CNBB em parceria com a CRB - São Paulo, enviou Congresso Missionário Nacional e diretor da revista
cinco missionários para a Arquidiocese de Manaus e Missões, padre Jaime Carlos Patias, imc. Ele expôs os
Prelazia de Coari, na Amazônia. Receberam a cruz desafios da missão para a Igreja na América Latina e
missionária das mãos de dom José Maria Pinheiro, Caribe a partir do Documento de Aparecida. “O projeto
Aparecida reafirma a verdadeira identidade da Igreja,

Renato Papis
onde todos somos discípulos missionários. O documento
dá credibilidade para falar, propor, iluminar o caminho
das comunidades cristãs e tornar a nossa Igreja mais
discípula missionária aqui e além-fronteiras”, explicou
padre Patias. A próxima Assembléia ficou agendada
para dezembro de 2008 e será eletiva. Na ocasião,
o Conselho estudará a realização de um Congresso
Regional, com práticas missionárias para 2009.

Brasília – DF
VOLTA AO BRASIL

Formação missionária no CCM


Os bispos da Igreja da América Latina e Caribe
definiram recentemente na Conferência de Aparecida
bispo de Bragança Paulista e responsável pelo Proje- que o estado permanente de missão da Igreja é uma
to, os padres Carlos Enrique Santos Silva e Antonio das prioridades da ação evangelizadora no continente.
Carlos D'Elboux e as irmãs Maria de Fátima Felizardo, Para atender a essa necessidade, o Centro Cultural
Vani Elobeia Schanne e Teresinha Schroeder. Numa Missionário (CCM), organismo vinculado à CNBB,
reflexão sobre a vida religiosa e a missão, ante uma promove de 3 a 29 de fevereiro de 2008, o Curso
rede de pesca simbolizando as famílias ribeirinhas, os de Formação Missionária. O programa de formação
missionários apresentaram os desafios que encontra- pretende atualizar a reflexão, fazer leitura da realidade
rão na Amazônia. O presidente do Regional Sul 1 da missionária e renovar o ardor missionário. Podem par-
CNBB, dom Nelson Westrupp, scj, bispo de Santo André ticipar presbíteros, religiosos e leigos que trabalham ou
(SP), presidiu a celebração eucarística e lembrou que pretendem atuar nas situações e áreas missionárias
“somos chamados a ser discípulos missionários de no Brasil. Informações pelo e-mail ccm@ccm.org.br
Jesus Cristo, não só os que partem, mas também os ou pelo telefone: (61) 3274-3009.
que permanecem; não só distante, mas de presença
marcante, através da oração e ajuda financeira na Falta de terra dizima indígenas
vida e história que vai acontecer na Amazônia”. Outro Enquanto o governo federal não se preocupar em
momento muito forte da celebração foi a oração dos demarcar as terras habitadas por povos indígenas e
fiéis em favor de missionários e missionárias que se implementar políticas de assistência, o índice de mor-
dedicam e arriscam a própria vida a serviço daquele talidade entre os índios brasileiros tende a ser cada
povo. Rezaram também por dom Luiz Cappio, bispo vez maior. No ano passado, pelo menos 76 indígenas
de Barra, na Bahia. foram assassinados no país. Os dados revelados pelo
No mês de fevereiro os missionários participarão do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mostram que o
Curso de Formação Missionária em Brasília, de onde número superou em 60% as 47 mortes de 2006 – ano
embarcarão para suas áreas de missão. O projeto foi em que havia sido registrado, até então, o maior núme-
criado há 13 anos pelos bispos do Regional Sul 1 em ro de crimes fatais da década contra estes povos. “O
parceria com a CRB e vem preparando e enviando governo tem a responsabilidade de demarcar as terras
missionários e missionárias para a Amazônia. indígenas, protegê-las e evitar que sejam invadidas e
exploradas por madeireiras, fazendeiros, garimpeiros e
Campo Grande - MS grileiros” – denuncia Roberto Liebgott, vice-presidente
Assembléia do Comire Oeste 1 do Cimi. “Há necessidade de uma ação permanente do
Com o objetivo de intensificar a formação missioná- poder público em áreas que têm de ser demarcadas.
ria, o Conselho Missionário Regional Oeste 1 da CNBB Enquanto não forem, a violência tende a piorar, como
(Comire), estado do Mato Grosso do Sul, deverá propor indicam as quatro mortes de indígenas já este ano”,
conteúdos de missiologia nos programas de formação afirma. O Estado de Mato Grosso do Sul é recordista e
para seminaristas e leigos, tanto nos cursos quanto na teve 48 índios assassinados no ano passado. O número
semana de formação permanente do clero que acontece equivale ao total de homicídios desse tipo cometidos no
todos os anos no mês de julho. A proposta foi aprovada país em 2006. Pernambuco vem em segundo lugar, e
pela Assembléia do Comire realizada nos dias 13 e 14 aparece com oito mortes. Para Liebgott, há no Estado
de dezembro em Campo Grande (MS). de Mato Grosso do Sul necessidade urgente de de-
Sob a coordenação do padre Ubajara Paz de marcação de 32 áreas indígenas, já que os índios de
Figueiredo, o Encontro também discutiu a organiza- regiões como Dourados estão “confinados e vivendo
ção, a espiritualidade e os projetos nas dioceses e sem a menor perspectiva”. 
paróquias do Regional, avaliando a caminhada e os
planos para 2008. Outra proposta aprovada foi a im- Fontes: CNBB, CNBB Sul 1, Jornal do Brasil, revista Missões.
30 Jan/Fev 2008 -
V
ivemos em uma sociedade do espetáculo, onde,
obedecendo às regras do mercado, a notícia
é vendida juntamente com outros produtos de
consumo e a informação, ao invés de gerar
conhecimento, proporciona entretenimento para
distrair. Hoje, mais do que nunca precisamos
comunicar para informar os cidadãos na sua capacidade de
refletir e entender a realidade.
Quando falamos de comunicação na Igreja não devemos
pensar apenas nos meios. Entendemos de maneira especial
o processo de comunicação nos espaços de reflexão para as
comunidades, as pastorais, os grupos, os movimentos, nas
diversas iniciativas que criam interação entre pessoas movidas
pelos valores do Evangelho.
A revista MISSÕES, editada pelos missionários e missionárias
da Consolata no Brasil, é um meio de informação e formação
que visa contribuir com a construção de um mundo mais justo
e solidário através de subsídios pastorais, espirituais, sociais
e culturais. Seu público alvo são as lideranças e os cidadãos
em geral, as famílias, os jovens e os agentes de pastoral das
comunidades cristãs. Neste sentido, MISSÕES apresenta
matérias sobre:

• Atualidade da sociedade e movimentos sociais


• Espiritualidade e temas pastorais
• Articulação de projetos sociais e ambientais
• Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja
• Subsídios para uma pastoral missionária
• Testemunhos de vida e de experiência
• Reflexões para a juventude
• Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.

Com isso, a revista MISSÕES deseja ajudar os seus leitores


a olhar para fora do próprio mundo, além das próprias fronteiras
eclesiais, culturais e geográficas.
A solidariedade em vista do bem comum é fruto da partici-
pação de todos. Faça parte desse projeto!


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