1. O documento discute o fenômeno do golpe de aríete em tubulações de recalque, apresentando equações para calcular as variações de pressão causadas por mudanças repentinas no fluxo de líquido.
2. É apresentado um método simplificado para cálculo do golpe de aríete usando as equações de Allievi e Michaud, e uma representação gráfica das pressões máximas e mínimas ao longo da tubulação.
3. Vários dispositivos de proteção contra golpes de aríete são descritos, incl
1. O documento discute o fenômeno do golpe de aríete em tubulações de recalque, apresentando equações para calcular as variações de pressão causadas por mudanças repentinas no fluxo de líquido.
2. É apresentado um método simplificado para cálculo do golpe de aríete usando as equações de Allievi e Michaud, e uma representação gráfica das pressões máximas e mínimas ao longo da tubulação.
3. Vários dispositivos de proteção contra golpes de aríete são descritos, incl
1. O documento discute o fenômeno do golpe de aríete em tubulações de recalque, apresentando equações para calcular as variações de pressão causadas por mudanças repentinas no fluxo de líquido.
2. É apresentado um método simplificado para cálculo do golpe de aríete usando as equações de Allievi e Michaud, e uma representação gráfica das pressões máximas e mínimas ao longo da tubulação.
3. Vários dispositivos de proteção contra golpes de aríete são descritos, incl
Anlise simplificada. Eng Luiz A. Camargo Trabalho apresentado no XV Encontro de Engenheiros de Assistncia Tcnica TUBOS E CONEXES TIGRE S.A. Joinville/SC - 23 a 27 de Outubro de 1989 2 NDICE 1- Introduo 03 2- Equaes do golpe de arete 03 3- Representao grfica 05 4- Tempo de parada t 07 5- Aplicaes 09 5.1- Problemas 09 5.2- Representao grfica do problema 5.1 11 6- Condutos com presso negativa 11 7- Condutos com caractersticas variveis 12 8- Dispositivos de proteo 14 8.1- Volantes de inrcia 14 8.1.1- Exemplo 15 8.1.2- Limite prtico de utilizao de volantes 15 8.2- Ventosas 16 8.3- Reservatrios unidirecionais 17 8.4- By-pass 20 8.5- Chamins de equilbrio 20 8.5.1- Exemplo 22 8.5.2- Outros comentrios 22 8.6- Reservatrios hidropneumticos 23 8.6.1- Exemplo 25 8.6.2- Comentrios sobre o reservatrio hidropneumtico 25 8.7- Vlvulas de alvio 26 8.8- Vlvulas de reteno 27 8.8.1- Exemplo 28 8.9- Outros meios de proteo 29 8.10- Comentrios finais 29 Apndice 30 1- Momento polar de inrcia 30 2- Relaes teis 31 3- Dimenses de alguns tubos de PVC 32 Referncias bibliogrficas 33 3 1- INTRODUO. Em hidrulica, na anlise dos vrios aspectos que a compreende, um tema dos mais complexos e que nos ltimos tempos tem tido notveis progressos, devido a sua grande importncia em projetos de sistemas hidrulicos, o que se refere aos fenmenos transitrios. Dentre esses, o mais comum, e um dos mais interessantes, o que se conhece como golpe de arete. Por golpe de arete comumente se denominam as variaes de presso, resultantes de variaes da vazo, causadas por alguma perturbao, voluntria ou involuntria, que se impe ao fluxo de lquidos no interior de condutos, tais como operaes de abertura ou fechamento de vlvulas, falhas mecnicas de dispositivos de proteo ou controle, parada de bombas causadas por interrupo da energia eltrica fornecida ao motor, embora haja outros tipos de causa. A anlise do fenmeno possibilita quantificar os seus efeitos e, com isto, se adotar as medidas preventivas cabveis que possam evitar, por exemplo, ruptura de tubulaes por sobrepresso, avarias em bombas, colapso de tubos, etc. Alm do mais, esta anlise se considera necessria, tambm, porque o desconhecimento dos efeitos do golpe de arete, como se sabe, pode ocasionar projetos de tubulaes com espessuras de parede perigosamente reduzidas ou economicamente elevadas. Os clculos relativos ao golpe de arete podem ser realizados de vrias maneiras. O objetivo do presente trabalho apresentar elementos para clculo do golpe de arete, que possibilitem a sua determinao, com base nas equaes de Allievi, Michaud e Rosich, aplicveis a casos simples de escoamentos transitrios, que ocorrem em tubulaes de recalque. No tem, portanto, este trabalho, o objetivo de apresentar teoria de transientes hidrulicos nem modelaes para resoluo do fenmeno em situaes mais complexas. Pretende-se apresentar um meio simples de clculo, expedito e de fcil compreenso. Desta maneira, nos casos de maior complexidade, outros mtodos de clculo, tais como o mtodo das caractersticas (que o autor mostra em outro trabalho) ou o mtodo grfico de Schnyder-Bergeron devero ser examinados. Se de alguma forma este trabalho puder ser til, seria uma modesta contribuio que se faz ao desenvolvimento e divulgao do tema, com um texto que rene e resume alguns pontos bsicos sobre o assunto. 2- EQUAES DO GOLPE DE ARETE. Pode-se descrever o fenmeno do golpe de arete, e explicar simplificadamente a sua ocorrncia, mediante a anlise do escoamento de um lquido com velocidade v, atravs de uma tubulao horizontal de dimetro e espessura de parede constantes, com rea interna da seo transversal A. O fechamento repentino de uma vlvula colocada na tubulao, interrompe o movimento da camada lquida imediatamente a montante da vlvula, transformando a energia cintica em energia potencial, que resulta num aumento da presso. Considerando ser o lquido compressvel, implica em que a parada de toda a massa lquida na tubulao no ocorrer instantaneamente, e sim num tempo t. O volume que contm o lquido parado ter o seu limite expandindo-se, na forma de uma onda de presso, ao longo da tubulao, com certa velocidade c denominada velocidade de propagao da onda de presso, ou celeridade. Na figura 1 pode ser examinada a parte do volume A.dx = A.c.dt de lquido limtrofe vlvula. No tempo dt, este volume, detendo-se, perde a quantidade de movimento .A.dx.v. Fig. 1 - Volume de lquido limtrofe vlvula. 4 Se a presso atuante na vlvula, antes dela fechar-se, for designada por p, e a presso que ocorre depois da parada for designada por p+Ap, ento empregando-se o teorema da quantidade de movimento pode-se determinar a diferena de presses Ap. Com isto, no tempo dt, o impulso da fora atuante igual a Ap.A.dt. Igualando o impulso variao da quantidade de movimento nesse tempo, obtem-se: Ao se resolver problemas de tubulaes, conveniente trabalhar com a carga piezomtrica H ao invs de p. Desta maneira, como Ap = .g.AH, e considerando que dx /dt = c, vem: Da: (1) A equao 1 devida a Allievi (costuma tambm ser atribuda a Joukowsky ou Allievi-Joukowsky) que a apresentou por volta de 1903, e representa o valor mximo da variao da presso, nas situaes em que se tem t < T (manobra rpida), onde T = 2L/c o perodo da tubulao e L o seu comprimento. Para utilizar a equao 1 no clculo da sobrepresso (+AH) ou depresso (-AH), preciso conhecer a celeridade c. Para calcul-la, Allievi deduziu a seguinte expresso: (2) onde D o dimetro interno do tubo e "e" a espessura da parede. Os valores de k, adimensionais, para c em m/s, so os abaixo [12] (*): Cabe aqui um parntese para ressaltar que experimentos realizados por Watters et al [14], relativos determinao da celeridade em tubos de PVC e tambm de plstico reforado, mostram que enterrando o tubo, mesmo com recobrimento bem compactado, h um acrscimo mdio mximo que se verifica no valor da celeridade, devido ao efeito de "ancoragem" do solo, que da ordem de 7%. H, no entanto, situaes que se caracterizam por apresentarem um tempo de fechamento superior a 2L/c, ou seja, superior a uma ida e volta da onda. Nestas circunstncias, se v a velocidade no tempo zero, depois de um tempo 2L/c ela passar a v i . Em conseqncia, o valor da variao da presso, conforme a equao 1, ser: (*) os nmeros entre colchetes referem-se s referncias bibliogrficas citadas no final deste trabalho. 5 (3) Supondo que o tempo de fechamento, ou parada, seja t = n.2L/c, onde n um nmero real maior que 1, e que durante esse tempo a velocidade varie linearmente, tem-se que v - v i = v /n. Associando essas duas ltimas equaes, vem: (4) Substituindo a equao 4 na equao 3, tem-se: (5) A equao 5 devida a Michaud que a apresentou na segunda metade do sculo XIX (1878), e representa o valor mximo da variao da presso, nas situaes em que t T (manobra lenta). Na equao 5 pode-se verificar o que ocorreria se t coincidisse com 2L/c, isto , se t = 2L/c: Isto significa que, uma distncia da extremidade a jusante L c = c.t /2 coincidem os valores do golpe obtidos tanto com a equao de Michaud quanto com a de Allievi. Nesse ponto, a partir do reservatrio, a linha de sobrepresses crescentes se converte em horizontal, como se pode ver na Fig. 3, isto , a jusante do ponto de coincidncia aplica-se a equao de Michaud, e a montante a equao de Allievi. Em suma, o limite mximo dos valores do golpe de arete quando t > T, o obtido com a equao de Michaud, e esta equao se aplica sempre, pelo menos em um trecho da tubulao, enquanto que a de Allievi somente se aplica nos casos em que t < T. 3- REPRESENTAO GRFICA. Pode-se verificar que, de acordo com o que foi anteriormente apresentado, com um grfico apenas possvel representar as presses e as sobrepresses e depresses mximas que podero ocorrer ao longo de toda a tubulao. Na Fig. 2, aps encontrado o valor do golpe, sobre a altura geomtrica em B, situa-se o ponto M que representa o limite de presso mxima H MAX na tubulao. Simetricamente ao ponto M, em relao linha PR, o ponto N representa o limite da presso mnima H MIN . 6 Fig. 2 - Representao grfica do golpe de arete em manobra lenta: t T. Nesta representao, as grandezas so as seguintes: H MAX = H + AH H MIN = H - AH H = altura esttica ou geomtrica. h f = perda de carga. H m = altura manomtrica. AH = golpe de arete. L = comprimento da tubulao. T = 2L /c = perodo da tubulao. Unindo os pontos M com R e N com R tem-se as linhas de carga que possibilitam determinar as presses, respectivamente, mxima e mnima em cada ponto da tubulao. Com estas presses, ento, que se proceder ao dimensionamento da classe de presso da tubulao. Na Fig. 3, tomando o comprimento L c a partir do reservatrio R, localiza-se o ponto C, no qual o valor da sobrepresso : Fig. 3 - Representao grfica do golpe de arete em manobra rpida: t < T. Esta sobrepresso, representada pelo segmento MP, se manter constante at M'P', sendo que com a distncia 7 at o reservatrio R ter uma variao linear at anular-se. Pelo critrio da simetria, como no caso anterior, determina-se a presso mnima. Desta forma, como se v, uma vez determinado o valor do golpe de arete em um ponto, passa-se representao grfica, conforme mostrado, e determina-se as presses ao longo de toda a linha, que se utilizaro para o seu dimensionamento. Isto posto, est definido um mtodo simples e prtico a se utilizar para o clculo do golpe de arete. H, no entanto, um ponto onde poderia haver alguma dificuldade, que exatamente a determinao do tempo t. Em instalaes de recalque esta varivel, chamada "tempo de parada", vem imposta pelas caractersticas da tubulao, do grupo motobomba e tambm do escoamento. Este assunto tratado no prximo tpico. 4- TEMPO DE PARADA t. O tempo t considerado na anlise do golpe de arete, o decorrido entre o comeo e o fim da manobra, seja ela rpida ou lenta, de abertura ou fechamento, total ou parcial, visto ser este o intervalo de tempo durante o qual o regime do movimento transitrio. Isto vlido tanto para condutos por gravidade quanto por bombeamento. Em linhas de recalque, no caso de interrupo da energia eltrica fornecida ao motor, transcorrer um tempo t entre o corte da corrente e a anulao da velocidade de escoamento. No instante da anulao, em que v = 0, nas proximidades da bomba a presso ser H MIN = H - AH, e a vlvula de reteno, suposta instalada imediatamente a jusante da bomba, se fechar. Em ato contnuo haver inverso no sentido do escoamento que encontrar a vlvula de reteno fechada, resultando numa elevao da presso at atingir o valor H MAX = H + AH. Rosich [12], analisando esta questo, concluiu haver na mesma, intervenincia de energias cintica, inercial, de gravidade e de atrito. Do balano dessas energias, analiticamente chegou seguinte expresso: (6) que com L, H e h f em metros, v em m/s, g em m/s 2 , w em rad/s, q (rendimento do grupo) em %, GD 2 (fator de inrcia das partes girantes - ver apndice) em Kgf.m 2 e Q em l/s, fornece t em segundos. Em posteriores experimentos com esta equao, seu autor verificou que alm das energias principais citadas, outras energias, tais como energia cintica da gua de aspirao, energia de descompresso da gua, etc., interferem no tempo de parada, e que introduzidas na equao 6, em termos de x, y, z, ..., produz: (7) Em sua anlise, no determinou analiticamente estes acrscimos, e sim englobou-os num coeficiente emprico representado pela seguinte expresso: 8 Este coeficiente, levado na Eq. 7, resulta em: (8) O coeficiente C obtido experimentalmente em funo da declividade H m / L, e seus valores, em segundos, so os seguintes [12]: Portanto, se conhecidos o fator de inrcia GD 2 do grupo e seu rendimento q, bem como a velocidade angular w, o tempo de parada poder ser determinado com a equao 8. Contudo, muitas vezes, estes dados no so conhecidos previamente, o que, neste caso, impediria a resoluo da equao, fato este que levou seu autor a fazer e simplificando H + h f /2 ~ H m , a equao 8 passa a: (9) onde o coeficiente K representa principalmente o efeito da inrcia das partes rotativas do grupo eletrobomba, e seus valores obtidos experimentalmente para conjuntos no acrescidos de volantes de inrcia ou outros sistemas, so os seguintes [12]: 9 A equao 9, de Rosich, utilizada para clculo do tempo de parada, o qual ser comparado com T = 2L/c para identificao da manobra. Se lenta, o golpe calculado levando-se t equao 5, de Michaud. Se rpida, basta usar a equao 1, de Allievi. Esta equao, segundo seu autor, vlida para v 0,5 m/s, e para declividades acima de 50% recomenda a equao de Allievi, j que nestes casos a parada muito rpida. 5- APLICAES. 5.1- ESTUDO DE CASO. Em uma estao de tratamento de gua, uma instalao elevatria de PVC com dimetro nominal de 12" e comprimento de 600 metros, tem o conjunto eletrobomba situado a 55 metros abaixo da superfcie livre do reservatrio alimentado pela tubulao. A partir da bomba, a tubulao sobe de forma regular at o reservatrio, transportando 60 l/s. Determinar a classe de presso da tubulao, tendo em vista suportar o golpe de arete decorrente do corte sbito da energia eltrica do motor. Dados do problema: D = 12" Q = 60 l/s L = 600 m H = 55 m Determinar: O golpe de arete (AH) e a classe de presso da tubulao. Soluo: Nesta bitola, para este fim, com amparo em norma ABNT, h quatro tipos de tubos de PVC que podem ser examinados. Economicamente, em termos de custo direto, na ordem crescente, tem-se: PBA Classe 12, DEFOFO, PBA Classe 15 e PBA Classe 20. 10 a) PBA Classe 12: Da respectiva tabela de vazo, velocidade e perdas de carga, e fazendo operaes, vem: v = 1,03 m/s h f = 1,96 m H m = 56,96 m c = 369,92 m/s T = 3,24 s Da equao 9, com K = 1,5 e C = 1,0 vem t = 2,66 s Como t < T, a manobra rpida e o golpe calculado com a equao de Allievi: AH = c.v /g = 38,88 mca. Da, H MAX = 93,88 mca. H MIN = 16,12 mca. Como se v, este tubo no poderia ser utilizado, uma vez que sua classe de presso, 60 mca, inferior carga mxima, 93,88 mca, a qual a tubulao estaria submetida. b) DEFOFO: Da mesma forma que a seqncia anterior, tem-se: v = 0,85 m/s h f = 1,22 m H m = 56,22 m c = 347,77 m/s T = 3,45 s t = 2,39 s (manobra rpida) Da, vem: AH = 30,16 mca (Allievi) H MAX = 85,16 mca H MIN = 24,84 mca. Este tubo, como visto, poderia ser utilizado, uma vez que a sua classe de presso, 100 mca, superior carga mxima, 85,16 mca, a qual a tubulao estaria submetida. Os demais tubos nem precisam ser examinados, visto que seus custos so mais elevados. Contudo, para melhor compreenso, segue adiante anlise da utilizao do tubo PBA Classe 20. c) PBA Classe 20: Da mesma maneira que os anteriores, tem-se: v = 1,15 m/s v f = 2,62 m H m = 57,62 m c = 467,47 m/s T = 2,57 s t = 2,83 s (manobra lenta) Da, vem: 11 AH = 49,76 mca H MAX = 104,76 mca H MIN = 5,24 mca. Conforme demonstrado acima, este tubo tambm no poderia ser utilizado, uma vez que a carga mxima no mesmo, 104,76 mca, seria superior sua presso de servio que 100 mca. O mesmo ocorreria com o PBA Classe 15. Concluindo, a se considerar o conduto uniforme, o tubo mais adequado, tcnica e economicamente, para o presente caso, seria o DEFOFO. 5.2- REPRESENTAO GRFICA DO PROBLEMA 5.1. No grfico da Fig. 4, para melhor esclarecer, esto representados os valores mximos e mnimos das presses, nas situaes de utilizao dos tubos DEFOFO e PBA Classe 20. Fig. 4 - Representao grfica do golpe de arete em tubos DEFOFO x PBA CLASSE 20, relativa ao probl. 5.1. Note-se que o grfico possibilita a visualizao simultnea de diversas alternativas de situaes. No caso do tubo DEFOFO, situao que resulta em manobra rpida, o comprimento L c = c.t / 2 = 415,58 m. Cabe ainda ressaltar que aqui, com o objetivo de facilitar a exposio do assunto, bem como a sua compreenso, o conduto foi considerado uniforme, isto , com as mesmas caractersticas ao longo de toda a sua extenso. Contudo, a tubulao poder ter, em sua extenso, caractersticas diferenciadas, tais como classe de presso, dimetro, etc, conforme se ver no tpico 7 mais adiante. 6- CONDUTOS COM PRESSO NEGATIVA. At o momento, nos casos aqui vistos, o valor do golpe de arete tem sido menor que a presso esttica, o que faz com que no momento da mxima depresso, decorrente da parada dos motores, a presso na tubulao continue sendo positiva. Porm, as caractersticas da instalao podero reunir condies, tais que o golpe de arete em alguma parte da instalao possa atingir um valor superior presso esttica e, em conseqncia, produzir uma depresso na tubulao, abaixo da presso atmosfrica. Esta presso negativa, tambm chamada vcuo, dependendo do valor que atingir, caso no se tomem 12 precaues, poder trazer danos instalao. A Fig. 5 ilustra uma situao de instalao onde haveria, na tubulao, ocorrncia de presses inferiores presso atmosfrica. Note-se que o vcuo ocorre no trecho BR. Fig. 5 - Ocorrncia de vcuo. Nestas circunstncias, se o tubo no tiver espessura de parede que lhe d resistncia mecnica suficiente para suportar as solicitaes, ou se no houver na instalao, conforme exposto no tpico 8 adiante, dispositivos de proteo, poder haver at colapso (imploso) de tubos. A partir do instante em que se interrompe a energia do grupo motobomba, a presso comea ento a reduzir-se. Se a altura esttica for suficientemente pequena, esta reduo a superar, iniciando-se a presso negativa, cujo crescimento, segundo Rosich [12], no linear como nas presses positivas, mas sim exponencial, e que, por isto, o vcuo que se produz em uma parada de bombas, em recalque, sempre um valor discreto. Este mesmo autor prope, para discusso, a seguinte expresso para relacionar presses negativas com vcuo: (10) sendo V o vcuo em centmetros de coluna de mercrio (cm de Hg) e P a presso negativa expressa em metros de coluna de gua (mca). De acordo com esta proposio, por exemplo, numa instalao em que houvesse uma depresso de 20 mca negativos, o vcuo seria pouco mais que 10 cm de Hg, o que no chega nem a 15% do vcuo total (76 cm de Hg). Contudo, se necessria maior compreenso dos fenmenos relacionados a presses negativas, tais como cavitao e separao de coluna, o assunto poder ser visto em profundidade nas referncias [4], [7], [12] e [13]. Assim, em termos gerais, no dimensionamento das tubulaes de recalque devem ser levadas em considerao no s as cargas mximas, conforme mostrado em 5.1, mas tambm as cargas mnimas. 7- CONDUTOS COM CARACTERSTICAS VARIVEIS. Nas situaes analisadas at o momento, as consideraes tm sido conduzidas para tubulaes com caractersticas constantes (dimetro, espessura de parede e natureza do material). Contudo, podero ocorrer situaes em que as caractersticas variem ao longo do comprimento da tubulao, conforme ilustrao da Fig. 6. 13 Fig. 6 - Conduto com caractersticas variveis. Segundo Castillo [3], nestas condies pode-se determinar a magnitude da carga piezomtrica ao longo de todo o conduto, mediante hipteses simplificadoras, nas quais se substitui o conduto real por outro equivalente, tendo como base que a energia cintica da gua para o fluxo permanente a mesma nos condutos real e equivalente, e que o tempo de translao da onda de presso para o fluxo transitrio o mesmo para os condutos real e equivalente. Assim ter-se- uma celeridade equivalente dada pela seguinte expresso: (11) O perodo equivalente correspondente ser dado por: (12) Isto posto, o tempo de parada t da equao de Rosich ser, ento, comparado com o perodo equivalente T e para identificao da manobra, se lenta ou rpida. Se a manobra for rpida, no clculo do golpe com a equao de Allievi a celeridade c ser substituda pela celeridade equivalente c e , e a velocidade v ser substituda pela velocidade equivalente dada por: (13) Se a manobra for lenta, no clculo do golpe com a equao de Michaud a velocidade v ser substituda pela velocidade v i de qualquer trecho i = 1, 2, 3, ... , com dimetro D i , e o comprimento L ser substitudo pelo comprimento equivalente L e , obtido com referncia ao trecho i, dado por: (14) com vistas a manter constante o produto L e .v i , para qualquer que seja o trecho i utilizado como referncia. Cabe, contudo, ressaltar que a metodologia de anlise de condutos com caractersticas variveis, aqui 14 apresentada, produz resultados to somente aproximados, e que o desvio em relao aos verdadeiros ser tanto maior quanto mais caractersticas diferentes contiver o conduto. Assim, conforme j referido anteriormente, havendo necessidade, mtodos mais potentes de clculo devero ser examinados. 8- DISPOSITIVOS DE PROTEO. Um projeto cuidadoso de tubulao de recalque, deve incluir uma adequada investigao e especificao de equipamentos e dispositivos, com vistas a se evitar transientes indesejveis. Em alguns casos so especificadas tubulaes com classes de presso capazes de suportar as sobrepresses e depresses previstas. Porm estas variaes de presso na tubulao, submetem o material constitutivo do tubo a variaes de tenses, que podem lev-lo fadiga (*), o que no recomendvel para sua boa conservao. Portanto, um bom procedimento seria valer-se de algum tipo de proteo capaz de minimizar estas variaes de presso Assim, uma vez calculado o golpe de arete, causado pela parada do grupo eletrobomba, j se pode analisar a convenincia e os meios de minimiz-lo. A seleo de um ou vrios dispositivos de proteo dever resultar da anlise de um nmero conveniente de alternativas que possibilitem eleger aquela de melhor resposta, considerando a eficincia, a economia, a natureza, a freqncia de manuteno, etc. Os dispositivos de proteo contra o golpe de arete devem, portanto, ter por efeito limitar os valores da sobrepresso e da depresso. Alguns dispositivos utilizados para este fim so descritos nos tpicos que se seguem. 8.1- VOLANTES DE INRCIA. Os volantes de inrcia so dispositivos que atuam na proteo contra as depresses, devido influncia do tempo de parada no golpe de arete. Ao se incorporar um volante ao grupo motobomba, sua inrcia retardar a perda de rotaes, aumentando o tempo de parada do conjunto e, conseqentemente, diminuir a intensidade do golpe. Devido diminuio da depresso mxima, somente de forma indireta as sobrepresses sero atenuadas com estes dispositivos. Assim, com a incorporao adequada de volantes, qualquer instalao poder resultar em manobra lenta. Com isto, arbitra-se o valor admissvel para o golpe e calcula-se o tempo necessrio para consegui-lo, com a equao de Michaud, conforme segue: Uma vez determinado o tempo t, o mesmo levado equao de Rosich, que produz: (15) (*) Fadiga a diminuio gradual da resistncia de um material, por efeito de solicitaes repetidas. Corpos submetidos a cargas repetidas falham sob tenses inferiores ao seu limite. Este tipo de falha conhecido por ruptura por fadiga. 15 Com esta equao, segundo seu autor, pode-se determinar analiticamente o fator GD 2 do volante e, conseqentemente, suas dimenses e peso. 8.1.1- ESTUDO DE CASO. a) Determinar o valor do golpe de arete , bem como as cargas mxima e mnima, para os dados a seguir: H = 34 m L = 2500 m Q = 10 l/s D = 150 mm (fibrocimento classe 20) Desenvolvendo vem: v = 0,57 m/s h f = 5,76 m H m = 39,76 m c = 960,86 m/s T = 5,20 s t = 4,66 s (manobra rpida) Da tem-se: AH = 55,89 mca H MAX = 89,89 mca (ok para a classe 20) H MIN = -21,89 mca (ocorrer vcuo) b) No problema anterior, determinar o GD 2 e as dimenses mnimas de um volante de inrcia capaz de evitar a ocorrncia do vcuo. Se se fizer AH = H = 34 m, resultar em H MIN = 0 e no ocorrer vcuo. Logo: t = 8,55 seg. Uma bomba, para esta vazo e altura manomtrica, com 3500 rpm, segundo os catlogos de fabricantes, teria um rendimento da ordem de uns 56%. Dado que w = 2tN / 60 = 2x3,14x3500/60 = 366,52 rad/s, da equao 15 se obtem GD 2 = 2,03 Kgf.m 2 . De acordo com o exposto no Apndice: I = 0,05178 Kgf.m.s 2 = 0,5075 Kg.m 2 Sendo o volante de ao ( = 7800 Kg/m 3 ), tendo a forma de um cilindro anular, conforme Fig. 7, e com 16 R 1 = 0,7R 2 , ento tem-se: Fig. 7 - Seo do volante. Mas, a massa do volante dada por Portanto Fazendo-se l = 0,10 m, que um valor razovel, tem-se: R 2 = 0,153 m R 1 = 0,107 m M = 29,30 Kg. 8.1.2- LIMITE PRTICO DE UTILIZAO DE VOLANTES. Quanto utilizao deste dispositivo de proteo, importante ressaltar que o acoplamento de volantes a grupos motobomba, apesar da aparente simplicidade, introduz uma questo de ordem eletro-mecnica, pois quanto mais seu peso aumenta, mais potente dever ser o motor para vencer a inrcia do volante na partida e maior ser a intensidade de corrente eltrica, elevando os custos de investimento e operao. Portanto, este tipo de proteo fica bastante limitado na prtica, podendo, eventualmente, o uso de ventosas, por exemplo, eliminar o vcuo com um custo significativamente inferior. 8.2- VENTOSAS. As ventosas so, tambm, dispositivos que atuam na proteo contra as depresses, uma vez que permitem a 17 entrada de ar na tubulao, limitando o valor da depresso ao da presso atmosfrica. Entre os vrios modelos existentes, um tipo comum a ventosa com flutuador esfrico, conforme mostrado na Fig. 8. Com a pressurizao da linha, a gua deslocar o flutuador para cima, em direo ao orifcio de passagem do ar, mantendo-o fechado. Quando, decorrente do golpe de arete na seo onde se encontra instalada a ventosa, a presso cair, o nvel da gua descer, movimentando o flutuador para baixo, abrindo o orifcio e permitindo a entrada de uma quantidade de ar para a tubulao, que evitar a formao de vcuo, impedindo o colapso do conduto. Quando novamente a presso aumentar, estando a ventosa instalada em ponto conveniente da linha, esta possibilitar tambm a sada do ar contido na tubulao, que dever ser de maneira controlada para evitar sobrepresso. Fig. 8 - Ventosa com flutuador. Como exemplo, veja-se o grfico da Fig. 5 que ilustra uma situao de vcuo. A onda de depresso se origina na vlvula de reteno e caminha no sentido do reservatrio. Ao atingir o ponto B, teria incio a formao do vcuo. Uma ventosa instalada neste ponto permite entrada de ar protegendo o trecho a jusante. 8.3- RESERVATRIOS UNIDIRECIONAIS. Os reservatrios unidirecionais tambm so dispositivos que atuam na proteo contra as depresses, pois alimentam a linha de recalque quando a carga piezomtrica nesta atingir valores inferiores ao do nvel da gua neste reservatrio, evitando, desta forma, que a linha piezomtrica cause vcuo na linha, conforme ilustrado na Fig. 9. Fig. 9 - Reservatrio unidirecional. A interligao do reservatrio unidirecional tubulao de recalque, dever conter vlvula de reteno para evitar o retorno do escoamento, e a recarga feita atravs de um sistema do tipo torneira de bia, como mostra a Fig. 10. 18 Fig. 10 - Vlvula de reteno e torneira de bia no reservatrio unidirecional. De acordo com Almeida [2] e Lencastre [6], os reservatrios unidirecionais podem ser dimensionados com a utilizao dos grficos de Stephenson, mostrados nas Figs. 11 e 12 adiante. Fig. 11 - Reservatrio unidirecional interligado linha de recalque contendo vlvula de reteno imediatamente a montante do ponto de interligao. Estes grficos possibilitam a determinao do volume do reservatrio, onde h o desnvel entre a superfcie do reservatrio a jusante e a superfcie do reservatrio unidirecional; L o comprimento total da linha de recalque, L 1 o seu comprimento a jusante do reservatrio unidirecional e S a rea de sua seo transversal interna; v o a velocidade da gua na linha de recalque, relativa ao regime permanente inicial; c a celeridade; e o volume til mnimo necessrio do reservatrio unidirecional. 19 Fig. 12 - Reservatrio unidirecional interligado linha de recalque sem vlvula de reteno. De acordo com Almeida [2], o nmero de linhas de interligao do reservatrio unidirecional tubulao de recalque, no deve ser inferior a 2 (dois), e o dimetro de cada uma delas no dever ser menor que 1/3 do dimetro da linha de recalque. Devero tambm, ser curtas e ter menor perda possvel. 8.3.1- ESTUDO DE CASO. Determinar o volume mnimo de um reservatrio unidirecional, para os seguintes dados: L 1 = 3000 m h = 30 m S = 0,05582 m 2 (PBA Classe 12 bit. 12") v o = 1,61 m/s c = 452,58 m/s Considerando a interligao prxima da vlvula de reteno, e tendo em conta que da Fig. 11 tem-se que que resolvendo, obtem-se: = 0,70 m 3 . 20 8.4- BY-PASS. O "by-pass" tambm um dispositivo que atua na proteo contra as depresses. Seu funcionamento idntico ao do reservatrio unidirecional, com a diferena apenas de que a referncia ser o nvel da gua do reservatrio de alimentao da bomba, isto , atuar quando a carga piezomtrica na tubulao de recalque atingir valores inferiores ao do nvel do reservatrio de alimentao da bomba. Fig. 13 - By-pass. A Fig. 13 ilustra este dispositivo. Note-se que, como no reservatrio unidirecional, este tambm possui vlvula de reteno para evitar o retorno da gua. 8.5- CHAMINS DE EQUILBRIO. As chamins de equilbrio so dispositivos que atuam, ao mesmo tempo, na proteo contra as depresses e contra as sobrepresses, visto que possibilitam a oscilao em massa da gua entre a chamin e o reservatrio, conforme mostra a Fig. 14, evitando-se, neste trecho, a ocorrncia de variaes elevadas de presses. Fig. 14 - Chamin de equilbrio. Com a parada do grupo motobomba, e conseqente reduo da presso na tubulao, o nvel da gua na chamin desce, alimentando a linha de recalque, reduzindo a variao da vazo, e, com isto, reduzindo o valor da depresso. Em seguida, com a inverso do fluxo e fechamento da vlvula de reteno, o nvel da gua sobe, transformando a energia cintica em potencial, e, assim, reduzindo o valor da sobrepresso. Desta forma, com o afluxo e oscilao da gua na chamin, os efeitos do golpe de arete entre esta e o reservatrio so evitados. Portanto a chamin de equilbrio dever estar to prxima quanto possvel da vlvula de reteno. Dever tambm ter tamanho adequado para no extravasar, a no ser que conte com vertedouro, e nem esvaziar para no permitir a entrada de ar na tubulao. As chamins simples so unidas, em sua parte inferior, sem estreitamentos, tubulao de recalque. As chamins com orifcio possuem em sua parte inferior estreitamentos (estrangulamentos) que introduzem perdas de carga na passagem da gua, contribuindo para que a carga em excesso seja dissipada, sendo, por isto, mais 21 vantajosas que as simples. Eventualmente, alm do orifcio, poderia haver uma tubulao de unio entre a chamin e a tubulao de recalque. A chamin diferencial uma associao das duas anteriores citadas. Fig. 15 - Mxima elevao do nvel da gua na chamin de equilbrio devido ao arranque total instantneo das bombas. Fig. 16 - Mxima descida do nvel da gua na chamin de equilbrio devido parada total instantnea das bombas. Com os grficos de Castillo [3], mostrados nas Figs. 15 e 16, pode-se avaliar a elevao Z M e a descida Z m , mximas, do nvel da gua na chamin, em relao ao nvel esttico, decorrentes, respectivamente, do estabelecimento instantneo da vazo Q (arranque total instantneo das bombas) e da interrupo instantnea da vazo Q (parada total instantnea das bombas), em que H f1 a perda de carga na tubulao de recalque e H f2 a perda de carga no estrangulamento, com: 22 (16) e (17) onde L o comprimento da tubulao de recalque, A a rea de sua seo transversal e F a rea da seo transversal da chamin. Para projetos equilibrados, as linhas tracejadas acrescentadas aos grficos, correspondem ao valor timo do estrangulamento, em que a oscilao mxima Z M ou Z m igual perda no estrangulamento H f2 . 8.5.1- ESTUDO DE CASO. Determinar as mximas descida e elevao do nvel da gua em uma chamin de equilbrio, causadas, respectivamente, por uma parada e por um arranque total instantneo de um grupo motobomba, com os seguintes dados: L = 1500 m Q = 0,0414 m 3 /s (150 m 3 /h) A = 0,04987 m 2 (DEFOFO DN 250) F = 0,19635 m 2 (chamin com seo circular de | = 0,5 m) H f1 = 3,60 m H f2 = 1,58 m Da equao 17 tem-se que Z o = 5,21 m, que leva a Z o /H f1 = 1,447. Da equao 16 obtem-se que r f = 0,438. Entrando com estes dois ltimos valores no grfico da Fig. 16, obtem-se Z m /H f1 = 0,70. Logo a descida mxima ser: Z m = 0,70 x 3,60 = 2,52 m. De modo anlogo, com o grfico da Fig. 15, a elevao mxima seria: Z M = 5,04 m. 8.5.2- OUTROS COMENTRIOS. Tal como os reservatrios unidirecionais, as chamins de equilbrio pem a gua em contato com a atmosfera. Portanto, em se tratando de gua potvel, cuidados devem ser tomados para evitar contaminao. Ademais, fora as consideraes de natureza construtiva e econmica, as chamins de equilbrio constituem dispositivos de elevada eficcia na proteo contra o golpe de arete. 23 8.6- RESERVATRIOS HIDROPNEUMTICOS. Os reservatrios hidropneumticos, como as chamins de equilbrio, so tambm dispositivos que atuam, ao mesmo tempo, na proteo contra as depresses e contra as sobrepresses, pois so recipientes fechados que contm ar (ou gs) e gua, e por isto, conforme mostrado na Fig. 17, possibilitam a oscilao da massa de gua entre este recipiente e o reservatrio, com amortecimento, devido ao ar (ou gs), evitando que ocorra neste trecho, variaes elevadas de presses. Fig. 17 - Reservatrio hidropneumtico. As etapas de funcionamento do reservatrio hidropneumtico, nas quais ocorre variao do volume de ar, podem ser melhor compreendidas na ilustrao mostrada na Fig. 18. Fig. 18 - Variao do volume de ar no reservatrio hidropneumtico. Na Fig. 18-a, regime normal de funcionamento, o volume de ar U o , medido em m 3 , e a presso absoluta Z o , expressa em mca (altura esttica em metros mais 10 metros). Na Fig. 18-b, final da depresso, o ar ocupa um volume mximo U max , sendo, pois, sua presso absoluta, mnima, Z min . Na Fig. 18-c, final da sobrepresso, o ar ocupa um volume mnimo U min , menor que o do regime normal, sendo, portanto, sua presso absoluta, mxima, Z max . Segundo Dupont [5], para instalaes modestas, at cerca de 1200 metros de comprimento, e mais ou menos 30 l/s, o clculo do reservatrio hidropneumtico pode ser feito de forma simplificada com a utilizao do baco de VIBERT, mostrado no quadro da Fig. 19, onde se determina o volume U o de ar contido no recipiente, sob uma velocidade v o em m/s. 24 Fig. 19 - baco de Vibert. Este baco est associado s seguintes expresses: (18) com (19) onde e 25 8.6.1- ESTUDO DE CASO. a) Determinar o valor do golpe de arete, bem como as cargas mxima e mnima, para os dados a seguir: L = 800 m H = 40 m Q = 30 l/s D = 200 mm (PVC PBA Classe 12) Desenvolvimento: v = 1,16 m/s h f = 5,34 m H m = 45,34 m c = 370,61 m/s T = 4,32 s t = 4,13 s AH = 43,82 m H MAX = 83,82 m ..... (superior capacidade do tubo) H MIN = -3,82 m ...... (ocorrer vcuo) b) Para o problema anterior, determinar o volume mnimo de um reservatrio hidropneumtico que, inserido no sistema, possibilite ao mesmo operar dentro dos limites de segurana da tubulao, isto , com H MAX s 60 mca e H MIN > 0 mca. Desenvolvimento: Z o = H + 10 = 40 + 10 = 50 m Z max = H MAX + 10 = 60 + 10 = 70 m Z max / Z o = 1,4 h o = v o 2 / 2g = 0,0686 m h o / Z o = 1,37.10 -3 No baco do Vibert, o ponto 1,4 na escala Z max / Z o unido ao ponto 1,37.10 -3 da escala h o / Z o , atravs de uma reta, intercepta a escala U o / LS no ponto 2,7.10 -2 e a escala f(Z/Z o ) em seu ponto Z min / Z o = 0,737. Assim, com LS = 800.t.0,1818 2 /4 = 20,77 m 3 e U o / LS = 2,7.10 -2 , tem-se que U o = 0,56 m 3 . Com isto, da equao 19 tem-se: U max = 0,760 m 3 ou 760 litros. Para que o reservatrio hidropneumtico no se esvazie quando U atingir o seu valor mximo, o mesmo poder ser projetado para uma capacidade de cerca de 1000 litros. Com o valor de Z min / Z o = 0,737 encontrado, determina-se o valor da depresso. Z min = 0,737 x 50 = 36,85 m (absoluta). H MIN = Z min - 10 = 26,85 mca (Ok). 8.6.2- COMENTRIO SOBRE O RESERVATRIO HIDROPNEUMTICO. Este tipo de dispositivo tem a desvantagem de sofrer perdas de ar por fugas ou dissoluo na gua. Assim, para repor a quantidade de ar perdida, a fim de manter o volume de ar requerido, torna-se necessria a utilizao de compressores de ar, cuja freqncia de uso, dependendo do porte da instalao, implicar em custos que 26 podero ser decisivos na escolha destes dispositivos. O ar pode ser separado por uma membrana flexvel ou por um pisto, resultando em custos que, da mesma forma, iro influenciar na deciso. 8.7- VLVULAS DE ALVIO. As vlvulas de alvio so dispositivos que atuam na proteo contra as sobrepresses, pois, atravs de mecanismos de regulagem, abrem-se quando a presso excede a valores pr-fixados, permitindo a sada de uma quantidade de gua at que a presso caia abaixo do valor estabelecido, quando, ento, fecham-se imediatamente. Desta forma, controlam o excesso de presso, mantendo a presso estabilizada. Dado pequena compressibilidade da gua e ao curto tempo de ocorrncia do golpe, de se esperar que para estabilizar a presso, a quantidade de gua extravazada no seja importante. O funcionamento destas vlvulas por meio de molas que acionam um tampo, conforme mostrado na Fig. 20, ou atravs de mecanismos mais aperfeioados (vlvulas compensadas) que conferem s mesmas maior preciso e eficcia. Fig. 20 - Vlvula de alvio. Estes dispositivos, que devem ser instalados no trecho que se deseja proteger contra os efeitos da sobrepresso, devem abrir-se a uma presso pr-fixada na ordem de aproximadamente 10% acima da presso manomtrica. Este nmero um limite prtico mdio recomendado por diversos especialistas. Os grficos da Fig. 21 ilustram a simulao de uma mesma instalao, com e sem vlvula de alvio. Note-se que os picos de sobrepresso so fortemente reduzidos com a utilizao de vlvula de alvio, ficando os mesmos limitados presso regulada. Uma caracterstica importante requerida para estas vlvulas que tenham uma baixa inrcia, de forma que possam abrir antes que a presso estabelecida (pr-fixada) possa ser, em muito, excedida. Esta caracterstica associada a um fechamento amortecido dar uma grande eficcia vlvula de alvio. Fig. 21 - Reduo da sobrepresso com utilizao de vlvula de alvio. 27 Cabe ainda ressaltar que a utilizao destas vlvulas requer um programa de manuteno cuidadoso e contnuo, e assim sendo, as vlvulas de alvio podem vir a ser uma soluo vivel e bem econmica. 8.8- VLVULAS DE RETENO. As vlvulas de reteno so dispositivos que, por servirem para impedir a inverso do fluxo num conduto, atuam na proteo contra as sobrepresses. Um tipo muito comum de vlvula de reteno o de portinhola, a qual se move por um mecanismo de rotao em torno de um eixo horizontal situado em sua parte superior, conforme mostra a ilustrao da Fig. 22. Fig. 22 - Vlvula de reteno com portinhola. H, no entanto, outros tipos de vlvulas de reteno, onde se incluem as de alta tecnologia, cuja concepo permite que o fechamento seja lento e acabe um pouco antes da inverso, com o propsito de minorar a sobrepresso. A portinhola abre-se com o prprio movimento da gua e fecha-se quando cessa o movimento, de modo a impedir o retorno da coluna de gua. Assim, se instaladas convenientemente em uma linha de recalque, isolam entre si trechos da tubulao, possibilitando que trechos situados em nveis inferiores fiquem aliviados das cargas dos trechos de nveis superiores. Com base neste princpio que se instalam vlvulas de reteno nas sadas das bombas, isolando-as da linha de recalque, pois a sobrepresso atua e tem o seu valor mximo exatamente at a vlvula, ficando, por conseguinte, a bomba protegida. Isto pode ser aplicado em outros trechos da tubulao onde se queira proteger contra as sobrepresses. Os grficos da Fig. 23 simulam os efeitos de uma vlvula de reteno na reduo das sobrepresses, tanto na manobra rpida como na lenta. Fig. 23 - Utilizao de vlvulas de reteno na reduo das sobrepresses. 28 Note-se que se houvesse apenas a vlvula VR 1 a altura piezomtrica seria a representada pela linha que une os pontos ABCD. Com a interposio da vlvula VR 2 , separando (isolando) dois trechos da tubulao, a altura piezomtrica assume a posio representada pela linha que une os pontos AEFCD, beneficiando a tubulao no trecho de interesse, com diminuio da carga. A jusante da vlvula VR 2 , o crescimento da sobrepresso, conforme a equao de Michaud, varia linearmente com o comprimento da tubulao desde o reservatrio (Fig. 23-b), e se a manobra for suficientemente rpida o valor mximo da sobrepresso ser obtido pela equao de Allievi (Fig. 23-a). A jusante da vlvula VR 1 , ocorrer o mesmo, sendo que a vlvula de reteno VR 2 atuar como final de linha. Isto se repetir em quantos trechos houver. Desta forma, com relao sobrepresso, a altura que dever ser utilizada como base para o dimensionamento da classe de presso da tubulao, ser a altura de carga mxima que vier a ocorrer no trecho em anlise. O exemplo dado em 8.8.1 ilustra esta questo. Como no poderia deixar de ser, a utilizao destas vlvulas tambm requer uma manuteno cuidadosa e contnua, pois, como mostrado, fora as consideraes de natureza econmica, podem vir a ser uma soluo satisfatria em muitos problemas de transientes indesejveis. 8.8.1- ESTUDO DE CASO. No problema 5.1.a, posicionar na tubulao uma vlvula de reteno, de tal forma que, instalada, torne possvel a utilizao dos tubos de PVC PBA Classe 12. Desenvolvimento: Como foi visto, neste problema chegou-se a H MAX = 93,88 mca que superior classe de presso do tubo que 60 mca. Fig. 24 - Grfico do exemplo 8.8.1. Contudo, interpondo-se uma vlvula de reteno na tubulao, como se v na Fig. 24, a 300 m de distncia da bomba (o comprimento total da tubulao 600 m), isto , a uma cota de 22,50 m (a altura esttica 55 m), a sobrepresso chegaria a: A = (2 x 300 x 1,03)/(9,8 x 2,66) = 23,70 m Somando este valor obtido com H = 22,5 m, vem: H MAX = H + AH = 46,20 mca. Ento, nos primeiros 300 m de tubulao a carga mxima seria a altura manomtrica H m cujo valor seria 56,96 metros. Nos 300 metros restantes a carga mxima seria 46,20 metros. Nestas condies, portanto, os tubos PBA Classe 12 poderiam ser utilizados ao longo de toda a elevatria. importante frisar, no entanto, que o custo da vlvula no poder ser superior ao que se economiza com a reduo da classe de presso dos tubos. 29 8.9- OUTROS MEIOS DE PROTEO. O golpe de arete sempre proporcional variao da velocidade, a qual varia com o inverso do quadrado do dimetro. Desta forma, aumentos no dimetro da tubulao trazem significativas redues no golpe de arete. Reduo do golpe tambm pode ser obtida reduzindo-se a celeridade. Ento, tubulaes com menores celeridades produziro golpes de arete com menor magnitude. Os tubos plsticos propiciam celeridades bem menores que os tubos metlicos e de fibrocimento, para uma mesma bitola e classe de presso. No exemplo 8.1.1, com a utilizao de tubos de fibrocimento classe 20, DN 150 (celeridade c = 960,86 m/s) o golpe ultrapassa a marca dos 55 mca, enquanto que se se utilizasse, por exemplo, tubos PVC DEFOFO DN 150 (celeridade c = 346,95 m/s) o valor do golpe no chegaria a 19 mca, isto , um tero do valor inicial, com a vantagem ainda, neste caso, da no ocorrncia de vcuo e conseqente dispensa do volante de inrcia. Outros aspectos, tais como comprimento da tubulao, rotao das bombas, etc, devem ser analisados. 8.10- COMENTRIOS FINAIS. A adoo de dispositivos de proteo, como os aqui comentados, ou outros dispositivos controladores de fluxo e presso, juntamente com os procedimentos operacionais, geralmente podem constituir meios de manter os efeitos dos transientes dentro de limites satisfatrios. Em algumas situaes pode tambm se tornar interessante a combinao desses dispositivos. Por exemplo, se a adoo de uma chamin de equilbrio ou um reservatrio hidropneumtico vier a ser uma soluo invivel, a associao de ventosas com vlvulas de alvio poder vir a ser uma opo favorvel, visto que, juntas, atuam na proteo contra as sobrepresses e depresses. 30 ! 1- MOMENTO POLAR DE INRCIA. O momento polar de inrcia das massas girantes, definido por onde r a distncia do eixo de rotao massa elementar dm. Contudo, usual se adotar, em vez de I, a grandeza PD 2 , tambm representada por WD 2 ou GD 2 , s vezes chamada de "fator de inrcia", que se define [10] por: Portanto (20) e representa o limite do somatrio dos produtos dos pesos elementares dp das partes girantes do grupo, pelo quadrado do dimetro d da circunferncia concntrica com o eixo, e que passa pelos respectivos centros de gravidade. Usa-se tambm WR 2 ou Assim, tem-se: (21) Unidades: [GD 2 ] = [WR 2 ] = Kgf.m 2 , N.m 2 , lb.ft 2 [I] = Kg.m 2 , Kgf.m.s 2 , N.m.s 2 31 2- RELAES TEIS. a) I (Kg.m 2 ) = 9,81 x I (Kgf.m.s 2 ) b) I (Kg.m 2 ) = 0,1019 x I (Kg.mI (Kg.m 2 ) c) GD (Kgf.m 2 ) = 0,04213 x GD 2 (lb.ft 2 ) d) Momentos de inrcia usuais: - Cilindro macio ou disco: - Cilindro anular ou oco: e) GD 2 do grupo = GD 2 do motor + GD 2 da bomba + GD 2 do volante. f) A tabela a seguir apresenta valores de I (em Kg.m 2 ) de motores eltricos de diversas potncias, do fabricante WEG. g) A tabela abaixo indica valores de I (em Kg.m 2 ) de bombas de diversos tamanhos (dimetros nominais da boca de recalque e do rotor), do fabricante KSB, referentes ao modelo ETANORM. 32 3- DIMENSES DE ALGUNS TUBOS DE PVC. ------------------------------------------------------------------------------ TUBO CLASSE DN REF. DIMETRO DIMETRO ESPESSURA REA SEO (pol.) EXTERNO INTERNO PAREDE INTERNA (mm) (m) (m) (m2) ------------------------------------------------------------------------------ 40 1.1/2 50 0,0454 0,0023 0,00162 50 2 60 0,0546 0,0027 0,00234 60 2.1/2 75 0,0682 0,0034 0,00365 75 3 85 0,0772 0,0039 0,00468 12 100 4 110 0,1000 0,0050 0,00785 125 5 140 0,1272 0,0064 0,01271 140 6 160 0,1454 0,0073 0,01660 180 8 200 0,1818 0,0091 0,02596 220 10 250 0,2272 0,0114 0,04054 270 12 300 0,2728 0,0136 0,05845 --------------------------------------------------------------------- 40 1.1/2 50 0,0440 0,0030 0,00152 50 2 60 0,0534 0,0033 0,00224 60 2.1/2 75 0,0666 0,0042 0,00348 75 3 85 0,0756 0,0047 0,00449 PBA 15 100 4 110 0,0978 0,0061 0,00751 125 5 140 0,1244 0,0078 0,01215 140 6 160 0,1422 0,0089 0,01588 180 8 200 0,1778 0,0111 0,02483 220 10 250 0,2222 0,0139 0,03878 270 l2 300 0,2666 0,0167 0,05582 --------------------------------------------------------------------- 40 1.1/2 50 0,0428 0,0036 0,00144 50 2 60 0,0514 0,0043 0,00207 60 2.1/2 75 0,0644 0,0053 0,00326 75 3 85 0,0728 0,0061 0,00416 20 100 4 110 0,0944 0,0078 0,00700 125 5 140 0,1200 0,0100 0,01131 140 6 160 0,1372 0,0114 0,01478 180 8 200 0,1714 0,0143 0,02307 220 10 250 0,2142 0,0179 0,03604 270 12 300 0,2572 0,0214 0,05196 ------------------------------------------------------------------------------ 100 4 118 0,1084 0,0048 0,00923 150 6 170 0,1564 0,0068 0,01921 DEFOFO 1 MPa 200 8 222 0,2042 0,0089 0,03275 250 10 274 0,2520 0,0110 0,04987 300 12 326 0,2998 0,0131 0,07060 ------------------------------------------------------------------------------ 35 38,1 0,0357 0,0012 0,00100 50 2 50,5 0,0481 0,0012 0,00l82 PN 40 75 3 75,5 0,0725 0,0015 0,00428 100 4 101,6 0,0976 0,0020 0,00739 125 5 125,0 0,1200 0,0025 0,01131 150 6 150,0 0,1440 0,0030 0,01629 --------------------------------------------------------------------- 100 4 118 0,1126 0,0027 0,00996 150 6 170 0,1622 0,0039 0,02066 IRRIGA PN 60 200 8 222 0,2120 0,0050 0,03530 250 10 274 0,2616 0,0062 0,05374 300 12 326 0,3112 0,0074 0,07606 --------------------------------------------------------------------- 50 2 50,5 0,0467 0,0019 0,00171 PN 80 75 3 75,5 0,0705 0,0025 0,00390 100 4 101,6 0,0944 0,0036 0,00700 --------------------------------------------------------------------- 100 4 118 0,1084 0,0048 0,00923 150 6 170 0,1564 0,0068 0,01921 PN 125 200 8 222 0,2042 0,0089 0,03275 250 10 274 0,2520 0,0110 0,04987 300 12 326 0,2998 0,0131 0,07060 ------------------------------------------------------------------------------ 33 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS. [1] - Abecasis,F.M., "Escoamento em Presso em Regime Varivel: Chamins de Equilbrio" , Seminrio 238, LNEC, Lisboa, 1979. [2] - Almeida,A.B., "Manual de Proteco Contra o Golpe de Arete", LNEC, Lisboa, 1982. [3] - Castillo,U.M., "Teora del Golpe de Ariete y sus Aplicaciones en Ingenieria Hidrulica", Limusa, Mxico, 1987. [4] - Chaudhry,M.H., "Applied Hydraulic Transients", Van Nostrand Reinhold, New York, 1987. [5] - Dupont,A., "Hydraulique Urbaine", Tome II, Eyrolles, Paris, 1969. [6] - Lencastre,A., "Hidrulica Geral", Hidroprojeto, Lisboa, 1983. [7] - Martins,R.M., "Curso Transientes Hidrulicos - Notas de Aula", ABES, Florianpolis, 1988. [8] - Parmakian,J., "Waterhammer Analysis", Dover, New York, 1963. [9] - Quintela,A.C., "Instalaes com Chamin de Equilbrio de Pequena Seo ou Dotadas de Estrangulamento na Base", Seminrio 238, LNEC, Lisboa, 1979. [10]- Quintela,A.C., "Hidrulica", Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1981. [11]- Rabinvich,E.Z., "Hidrulica", Mir, Moscou, 1987. [12]- Rosich,E.M., "El Golpe de Ariete en Impulsiones", Bellisco, Madrid, 1987. [13]- Streeter,V.L.; Wylie,E.B., "Fluid Transients", Feb Press, Ann Arbor, 1985. [14]- Watters,G.Z.; Jeppson,R.W.; Flammer,G.H., "Water Hammer in PVC and Reinforced Plastic Pipe", Journal of Hydraulic Division., Vol. 102. ASCE, 1976. CATLOGOS E MANUAIS. - KSB - Manual Tcnico Bombas Centrfugas Etanorm - Vrzea Paulista, 1987. - TIGRE - Catlogo Geral de Tubos e Conexes de PVC - Joinville, 1988. - WEG - Manual de Motores Eltricos - Catlogo 511.04.0181.PE, Jaragu do Sul. /////