Professional Documents
Culture Documents
Adorno, no texto, refere Brecht e Suhrkamp, ao dizer que os produtos culturais não são
mais valorizados pelo seu valor objectivo, intrínseco mas pelo primado do seu valor de troca,
pelo seu valor lucrativo e comercial. Eles tornaram-se no “ganha pão dos seus criadores”
(Adorno, 2003: 98). Os produtos são planificados rigorosamente e há todo um primado
indisfarçado e imediato de lucro.
As formas culturais são integralmente mercadorias no âmbito da Indústria, tendo por base
o interesse lucrativo que se autonomiza da pressão para vender. De qualquer forma, os produtos
culturais irão ser consumidos, “engolidos” (Adorno, 2003: 99). pelas massas. O que é vendido já
está mais que publicitado, sendo que cada produto “é um anúncio publicitário a sí próprio”
(Adorno, 2003: 99) e é um “consenso geral e acrítico” (Adorno, 2003: 99).
Assim, a Indústria acaba por ser residual e racional. O autor fala de Walter Benjamin,
tomando como exemplo o principio da aura com o qual o último define obra de arte. Assim,
Adorno aplica este principio à Indústria, acusada de “apego a uma aura em decomposição”
(Adorno, 2003: 101)., ou seja, a algo tão ténue e tão indistinto que ele compara a uma “atmosfera
que se envolve numa cortina de fumo” (Adorno, 2003: 101). e chama de “perversão ideológica”
(Adorno, 2003: 101) a este processo.
No entanto, defende que levá-la demasiado a sério seria equivoco, pois é dúbia a natureza
sociológica da qualidade e veracidade, natureza estética do que é apresentado. O crítico da
Indústria é acusado de esoterismo. As caraterísticas intrinsecas e objectivas de um produto não
garantem ao consumidor um estatuto. Por outro lado, para Adorno, a Sociologia tem de reflectir
sobre a legitimação da Indústria em termos de “gestão espiritual das massas” (Adorno, 2003:
102) ou manipulação dos consumidores, e a própria Indústria obriga-a a essa relfexão. Além
disso a Teoria Social tem de levar a sério essa reflexão, e levar a sério a influência da Indústria
sobre as massas.
Há quem queira situar-se, segundo o autor, num plano intermédio, entre a reserva e o
respeito que o esquema da Indústria suscita. Eles dizem saber o que está por detrás da Indústria,
dos filmes, programas de televisão, horóscopos etc. e que, apesar de tudo, defendem que tudo é
democrático na medida em que corresponde a uma procura crescente e efectiva por parte do
consumidor que é, também, estimulada. Perante esta procura, a Indústria responde com
conselhos em termos não só informativos, como de conselhos acerca de padrões de conduta...
Adorno, refere que todas estas informações e conselhos são pobres em informação e do ponto de
vista prático, levando a atitudes conformistas.
Para este teórico social, a defesa mais veemente da Indústria afirma que esta é uma
ideologia, um “princípio de ordem” (Adorno, 2003: 103). Ou seja, num mundo desordenado,
caótico a Indústria teria um papel unificador, fornecendo linhas de orientação e união o que lhe
daria mérito. No entanto, isto é enganador: o que a indústria diz construir, na verdade ela destroí
e Adorno é muito incisivo ao salientar que o filme acaba com a comunicação interpessoal dos
convivios nos cafés, nas tabernas... Mais que isso, “a sua imagem simbólica é aniquilada”
(Adorno, 2003: 103). Os filmes retratam a realidade de igual maneira, uniformizando coisas
completamente distintas.
Adorno refere ainda que o facto de os defensores da Indústria afirmarem que o que esta
transmite não é de todo arte só contribui para disfarçar e para enganar, o que já será uma atitude
maldosa e a própria “marca da ideologia” (Adorno, 2003: 103). A própria Indústria usa-se da arte
e a ela vai beber.
Adorno ataca mais uma vez os defensores da Indústria, referindo que só se pode fazer um
apelo à ordem e à transmissão de normas, se estas forem obrigatoriamente legitimadas pela
consciência. A prática da Indústria é a de impor constantemente “uma ordem objectiva e
obrigatória” (Adorno, 2003: 103) às pessoas, que não a têm, sem que as legitime previamente,
isto é, sem confrontar as pessoas com isso. A própria Indústria não assume a responsabilidade
desses actos. Em vez disso, bombardeia as massas com informações de ordem e “de forma não
dialética, sem serem questionados ou analisados” (Adorno, 2003: 104).
Como descreve este teórico, à luz desta ideologia, “a conformidade ocupa o lugar da
consciência”, o sujeito é completamente manipulado. Por outro lado, tudo o que ela proclama
jamais é alvo de confrontação ou questionamento acerca da sua utilidade face às necessidades do
ser humano. Adorno refere, também, que essa ordem não é positiva porque não é autêntica e que
a Indústria sabendo disso, e elogiá-la, é a derradeira prova da vulnerabilidade e falsidade das
mensagens da mesma.
Adorno diz mesmo que as maquinações indústriais não conduzem a uma vida feliz, nem
representam “uma nova arte de responsabilização moral” (Adorno, 2003: 105). O que a Indústria
procura fazer é transmitir comandos de obediência aos interesses que estão por detrás. Ela impõe
um consenso, uma obediência “cega” (Adorno, 2003: 105) e “não elucidada” (Adorno, 2003:
95).
Apesar das mensagens que transmite poderem parecer inofensivas e até insípidas, coisa que
não são, a atitute da Indústria não o é. Refere o exemplo astrológico e o carácter vago e idiota
das mensagens de aconselhamento que lhe é tão típico, como é o caso dos conselhos para os
condutores serem prudentes ao volante em certo dia. Embora esse conselho não seja lesivo para
ninguém, é algo inútil, uma vez que se aplica a todos os dias e não a um dia em particular e não
necessitaria propriamente de uma conjuntura planetária para o termos em consideração.
Adorno fala-nos ainda do exemplo das celebridades. Chama de cobaia humana a uma
pessoa que afirmou que as misérias da humanidade teriam fim se as pessoas seguissem o
exemplo dos famosos o que já de sí revela uma sujeição e dependência da ideologia cultural.
A afirmação de Adorno segundo a qual “o mundo quer ser ludibriado” (Adorno, 2003: 102)
é muito expressiva e une a ideologia e o consumidor manipulado.
A indústria dá ao consumidor uma gratificação, um bem estar presente nos seus comandos,
que o faz cair numa prisão, ao qual ele chama de logro. Essa sensação de bem estar é a sensação
de o mundo estar em ordem, de tudo estar sob controlo e o indivíduo bebe essa ordem, a ela se
adapta e fica feliz tal e qual um caõzinho quando o dono lhe faz uma festa.
O Iluminismo que tem como definição o domínio técnico da natureza pelo homem
esclarecido (iluminado) acaba por ser um ideal completamente antagónico. Isto porque o homem
acaba por ser apanhado num “logro colectivo” (Adorno, 2003: 106), que acaba por coagir a sua
consciência. O homem, apanhado nesta teia, a ela se adapta, com ela se conforma. O seu
processo decisório está totalmente condicionado ao que a indústria lhe serve. O homem deixa de
ser sujeito, passa a um objecto, deixa de ser autónomo e iluminado, e passa a ser dependente e
ludibriado.
Bibliografia