POLÍTICA “NÃO VIRA”, SEU LUGAR É SEMPRE AO LADO DO POVO
José Aristides da Silva Gamito
1º TEMA: O SENTIDO ORIGINAL DE POLÍTICA
Os gregos antigos, os fundadores da política, usavam a palavra com o sentido de “cidadania”. Política é a arte de cuidar da pólis, isto é, da cidade. A palavra Cidade compreendia o conjunto de todos os cidadãos e suas necessidades. Aristóteles, pensador grego, afirmava que o ser humano é político por vocação. Desde muito cedo, o homem passou a se associar aos outros, para que através da mútua colaboração, organizasse a vida coletiva. As habilidades de uns supriam as carências de outros. Portanto, a política é uma atividade humana antiga, necessária e parte constituinte de sua natureza. Tendo em vista essas informações, é necessário refletir sobre a prática política em nosso país. Política virou sinônimo de disputa eleitoreira. Ao longo da história do Brasil, ser político passou a ser uma profissão lucrativa e repleta de privilégios. A idéia de prestar serviço à comunidade nunca ganhou terreno entre nossos políticos. A política grega nasceu junto com o ideal da democracia. No regime democrático, o poder é exercido pelo povo por meio de eleições de representantes. Todos têm direito de expressar sua opinião, e todos podem apresentar o projeto que acham melhor para o governo do país. Por isso, existem os partidos. Eles representam a diversidade de idéias que difere a democracia do regime ditatorial. A democracia brasileira é muito jovem. Depois de uma longa ditadura militar, o país sofre com muitos velhos e péssimos hábitos que impedem uma democracia de fato. Política, democracia precisam de uma grande aliada, a ética. O que seria ética? É a vivência de um comportamento bom e justo que respeite a vida e a liberdade alheia. Para que nosso país seja mais humano e desenvolvido, precisamos de mais ética, menos burocracia, menos aparência e mais cidadania. Só assim podemos falar em política no sentido real da palavra.
2º TEMA: RE-EDUCAÇÃO POLÍTICA DAS BASES
A situação política no Brasil carece de uma re-educação da sociedade para esta prática. O alvo principal da conscientização é a população que não participa diretamente do poder público. Somente re-educando a mentalidade que o brasileiro tem em relação à política que podemos partir para algumas mudanças. Já não convence mais a ninguém a proposta de mudança “de cima para baixo”. A política brasileira é exercida por três forças: há uma elite burocrática e individualista que encara a política somente como carreira; há um grupo emergente e diversificado que propõe mudanças e uma sociedade apática e desanimada. Aqueles que querem a mudança ficam presos entre a indiferença dos “políticos” e a falta de adesão da grande parte da população. A renovação política tem de partir das bases. E começa a partir de cada família, de cada grupo que exerça papel educativo (escolas, igrejas, ONGs). Enquanto cada cidadão não se convencer que a mudança não parte dos que exercem o poder somente, o ciclo de influência continua. A família gera cidadãos corrompidos que serão políticos corruptos e corruptores. Essas instituições não podem continuar negligentes diante da realidade brasileira. Mas não podemos esquecer que este processo de re-educação começa a partir de cada pessoa. Cada pessoas sendo menos individualista, menos partidarista, sendo mais sensíveis aos problemas de seu semelhante. Aliás, a educação brasileira deveria incluir no currículo da escola as disciplinas: Política e Ética. A escola deveria proporcionar reflexões sobre o papel da política e dos valores humanos. As igrejas deveriam se preocupar menos discussões sobre detalhes da fé, e engajar mais na atuação transformadora da sociedade. E por fim, não pode faltar educação para os valores humanos e morais na base das bases do processo cidadão: a família.
3º TEMA: MUDANÇA DE LINGUAGEM E DE MENTALIDADE
A linguagem da população está impregnada de palavras que apontam para uma mentalidade errônea da política. As pessoas não conseguem conviver com o partidarismo sem transformá-lo em uma disputa pessoal. O concorrente nas eleições é chamado de “adversário”, o período eleitoral é conhecido como “ano de política”, e quando outro partido vence as eleições diz-se que “a política virou”. Se considerarmos uma eleição democrática nela não pode haver adversários. Concorrentes não são adversários. Adversário significa “inimigo”. Não existe ano de política, todo ocasião é tempo de política. E a política não vira, ela está sempre ao lado do povo. Nada acontece justamente por causa de a gente se preocupar com política somente em época de eleições. A linguagem usada em época de eleições é um indicativo de velhos hábitos que não dão espaço para a mudança. A gente se corrompe por atos, mas o modo de se expressar impensadamente é que consente a “podridão”. As conversas apaixonadas sobre partidos muitas vezes deixam de lado interesses comunitários e passam somente a expressar os interesses do grupo. Neste caso, não há mais política. Tais situações não se enquadram na democracia e estão fora da ética da política. Os candidatos muitas vezes não sabem respeitar seus concorrentes e muitos eleitores entram nessa luta. Partido não é facção. Espera-se da atual geração uma nova atitude. A nossa mentalidade não pode mais tolerar esta situação que vem sendo discutida, mas sempre adiada. Os jovens precisam ser radicais em fazer a diferença. Dizia Karl Marx, filósofo alemão: “Ser radical significa atacar a coisa em suas raízes. E para o homem a raiz é o próprio homem”. E quando a corrupção dos valores avança não adianta mais apostar em “políticos”, a solução está atacar o mal pela raiz. Precisamos começar pela mudança de nossas próprias falas e atitudes em época de eleições. Quando em Mc 1, 15, Jesus usa o imperativo “convertei”, quer dizer mudem de mentalidade. É uma tomada de consciência que passa dos valores que estão somente no discurso para uma convicção pessoal. A questão já é conhecida pelas idéias, falta um consentimento interno. Nossas comunidades precisam urgentemente de uma conversão política. Não deixem para os “políticos” fazerem isso, comecem por vocês mesmos. Todo cidadão é político. Portanto, vamos rever nosso modo de pensar e de falar sobre política.
4º TEMA: MUDANÇA DE ATITUDE
Os jovens são os protagonistas da mudança. A corrupção política passou dos limites, não dá mais para adiar. Cabe aos mais esclarecidos e defensores de valores éticos começarem a mudança. Há muitas barreiras a serem ultrapassadas: a mentalidade, a linguagem e a prática. O processo não se faz numa eleição, é compromisso para todos os dias do ano. O convite para a mudança vai para os jovens, principalmente para aqueles que já votam. A proposta é encarar esta eleição de modo novo, pondo em prática aqueles princípios morais que cada um já conhece. Evitem defender apaixonadamente um único partido, dêem oportunidade para todos os concorrentes. Escutem todos, analisem as propostas racionalmente, considerem a competência e a moral dos candidatos. Procurem conhecer o passado do candidato, sua atuação na comunidade. Não se deixam levar por intimidações e nem promessas de candidatos imorais. Porém, sejam discretos e não critiquem os concorrentes ou pessoas que optaram por outro partido. É urgente a superação do partidarismo fundamentalista. Ele está muito presente nas cidades de médio e pequeno porte. A opção partidária é pessoal, não é familiar e nem de clã, não se pode votar coagido por necessidade de se manter em emprego. A manipulação da consciência é imoral, a ameaça de destituição de funções trabalhistas para obter voto é contra os direitos da pessoa humana. São formas de violências intoleráveis. Candidato que faz isso não pode governar um município. Ele é criminoso. Quem é conivente com os corruptos torna-se criminoso por cumplicidade. Época de eleição é um período muito sério. É hora de todos conversarem com maturidade, dando o direito de fala e cumprindo a obrigação de escuta. Não é oportunidade para garantir emprego, não é época para “festinhas” e churrascos, ou seja, comícios camuflados. Analisem os panfletos de campanha dos candidatos, suas músicas, suas propostas, sejam críticos, não vendam sua consciência. Após as eleições, observem se eles sabem ganhar e perder com dignidade. Acompanhem o mandato deles e não deixem seus direitos nas mãos de qualquer um!