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As propostas de cartografia no novo currículo de geografia

das escolas estaduais paulistas: a preparação de professores


e alunos para esse novo contexto.

Autor: Thiago Fernandes Ortega


Instituição: Universidade de São Paulo

Resumo:

Quando se trata do ensino de cartografia dentro do


ensino básico, as dificuldades são muitas, e não se restringe
apenas aos alunos, mas também aos professores que ministram
geografia. Essas limitações acabam dificultando ainda mais a
aquisição de noções básicas de cartografia pelos alunos nos
anos iniciais do ensino fundamental, o que vai se refletir em
todos os níveis de ensino. Nesse contexto, pensar a formação
continuada de professores de geografia é essencial, sobretudo
dentro da cartografia onde muitos possuem dificuldades.
Grande parte dos professores estudou geografia numa
perspectiva tradicional, fazendo com que o professor muitas
vezes não trabalhe com esse conteúdo por não ter conhecimento
de como fazer.
Diante disso é que no trabalho buscou-se desenvolver
um projeto na escola estadual de São Paulo, Deputado Augusto
do Amaral primeiramente trabalhando de forma efetiva com os
professores, principalmente de geografia, identificando suas
principais dificuldades e posteriormente organizando grupo de
estudos e oficinas para em um primeiro momento preparar os
professores para o desenvolvimento de atividades com os
alunos. Em um segundo momento, após uma preparação básica
dos professores, buscou-se identificar as principais dificuldades
dos alunos, e elaborar atividades interdisciplinares que
utilizassem elementos básicos de cartografia, principalmente
nas turmas do 6º ano do ensino fundamental dois, que é o ano
inicial desse ciclo, onde é necessário fazer um trabalho mais
incisivo como forma de minimizar as dificuldades nos anos
posteriores da vida escolar.
Destaca-se também, que o trabalho nasce em um
contexto em que esta sendo implantado nas escolas estaduais de
São Paulo um novo currículo com planos de aulas e atividades
bem definidas e no caso de geografia, observa-se um grande
número de atividades ligadas a cartografia, nas quais alunos e
professores apresentam sérias dificuldades.
O trabalho buscou então, analisar as atividades do novo
currículo, identificar as principais dificuldades dos professores
e alunos em relação aos conteúdos de cartografia. Com esse
levantamento, como um primeiro passo pretende através de
grupo de estudos e oficinas preparar e auxiliar os professores e
posteriormente desenvolver atividades com os alunos para
trabalhar os conceitos fundamentais, como forma de possibilitar
a continuidade dos estudos sem tantas deficiências e
dificuldades, sobretudo nesse novo contexto da utilização de um
novo currículo que desenvolve um grande número de atividades
ligadas à cartografia dentro da geografia.

Palavras-chave: Currículo de geografia, cartografia escolar,


formação de professores.

Introdução:
Desde o ano de 2008 o Estado de São Paulo implantou
em suas escolas um novo currículo, que deve ser trabalhado em
toda rede pública de uma forma mais unificada garantindo
assim que no Estado inteiro esteja sendo desenvolvido o mesmo
programa e os mesmos conteúdos. Pensando somente por esse
ponto já percebemos o quanto a questão pode ser polêmica, já
que as escolas em diferentes partes do Estado, e até mesmo em
diferentes partes de uma mesma cidade, possuem características
distintas.
Ao homogeneizar o sistema de aprendizagem, deixam-
se de lado essas particularidades, que precisam ser levadas em
consideração, tendo em vista que possuem grandes
conseqüências quando se pensa em planejamento das aulas,
didática, aproximações com a realidade, especificidades no
conhecimento da vivência do aluno entre outros fatores.
Ao analisar o currículo, percebemos claramente que ele
se encontra dentro de um contexto político que busca resultados
imediatos, sua forma de organização e aplicabilidade representa
claramente uma forma de pensar e conceber a educação.È
importante ter clareza das intenções que estão por trás dessa
nova política.
Os currículos escolares não são apenas uma série de
conteúdos de uma disciplina que estão organizados dentro de
uma grade de acordo com alguns parâmetros. Pensar um
currículo implica certamente em conflitos, em disputas
ideológicas e relações de poder. Assim o currículo certamente
se apresenta como uma expressão social e cultural ele é pensado
dentro de suas determinações sociais, de sua história, de sua
produção contextual. Esses aspectos são fundamentais de serem
considerados, já que

o currículo não é elemento inocente e neutro, mas esta


vinculado a relações de poder, transmite visões sociais
particulares e intencionais, influenciando a construção de
identidades individuais e sociais específicas. O currículo não é
atemporal ele tem uma história, vinculadas as formas
específicas e contingentes de organização da sociedade da
educação. Nesse sentido, faz-se necessário estarmos atentos
aos “porquês” das formas de organização curricular, e
conseqüentemente conferir maior ênfase ao que possa
contribuir para o tipo de cidadão que se deseja formar. (SILVA
& MONTEIRO, 2005)

Compreender o currículo nessa perspectiva é essencial,


pois dentro do contexto da criação do currículo do Estado de
São Paulo esses fatores estão presentes e devem ser
prioritariamente considerados.
As escolas paulistas desenvolvem hoje um currículo,
que sofre muitas criticas, por não ter sido concebido de uma
forma coletiva levando em consideração a opinião e os
conhecimentos dos agentes que estão na base desse processo: os
professores.
Ao desenvolver o trabalho dentro da escola Estadual
Deputado Augusto do Amaral, temos clareza desses fatos, e da
importância da discussão deles. Muito mais do que criticar o
currículo é de fundamental importância pensar como a
geografia que aparece nele esta sendo pensada, qual é a
proposta para a geografia que esta por trás desse currículo, que
vai direcionar as práticas na sala de aula.
Essas questões devem ser refletidas e discutidas com
muita seriedade, entretanto não podemos esquecer que esse
novo currículo esta posto nas escolas e vem sendo desenvolvido
com os alunos. Por isso é que a proposta do trabalho que vem
sendo desenvolvido pretende pensar como através desse novo
contexto, pode-se auxiliar os professores no desenvolvimento
das atividades que são propostas, sobretudo na área da
cartografia.
Dentro desse novo currículo onde o foco é o ensino de
Língua Portuguesa e Matemática, a geografia aparece com
várias propostas de atividades ligadas a cartografia, com foco na
leitura e interpretação de representações gráficas e
cartográficas. Diante disse é perceptível que muitos professores
possuem grandes dificuldades em trabalhar as atividades
propostas, e de levar aquelas atividades para algo mais
complexo que busque deixar de lado a repetição e a
memorização, para de fato alfabetizar o aluno
cartograficamente.
Sendo assim para a realização desse trabalho
diminuímos em um primeiro momento, a análise crítica da
proposta e de sua concepção e começamos a considerar o que
de fato vem acontecendo que é a sua aplicação no dia a dia
dentro da escola, e a partir dessa realidade posta, para pensar
como ela vem acontecendo e sendo desenvolvida dentro da
escola. Procuramos refletir como através dela auxiliar os
professores, para que trabalhem com esses conteúdos com mais
segurança e que possam dentro das possibilidades tratar o
material que esta sendo utilizado de uma forma mais crítica e
coerente com o que se concebe como ensino de cartografia hoje.

A Cartografia e sua importância dentro da geografia


Como disciplina escolar a geografia possui grande
importância já que é capaz de auxiliar o aluno na compreensão
de sua realidade além de seu papel na conscientização e na
formação de um aluno político, dessa forma como coloca o
Professor Jose Willian Vesentini, em sua homepage
“Geocríticia”, ensinar geografia trata-se,

de um ensino não mais conteudístico e sim voltado para o


desenvolvimento de competências, de habilidades e atitudes,
nos educandos: aprender a aprender ou a pesquisar, aprender
a discernir o que é confiável do que não é, aprender a
raciocinar logicamente, desenvolver um senso crítico,
desenvolver sua criatividade, sua capacidade de ter iniciativa
própria, de liderar, de não ter preconceitos, etc. E um ensino
critico da geografia que se direcione nesse mesmo sentido da
escola para o século XXI, ou seja, bem menos conteudístico e
mais voltado para contribuir para o desenvolvimento daquelas
competências nos educandos.

Partindo desses princípios, é que a proposta de pesquisa


que segue procura ressaltar a importância do ensino da
geografia, sobretudo com a utilização da cartografia como
recurso didático. Fica impossível desvincular o estudo da
geografia, de suas manifestações, relações e interações no
espaço, dessa forma a cartografia se apresenta como um
instrumento primordial na representação de fenômenos.
Assim, admitindo a importância da cartografia dentro
do ensino da geografia nas escolas, e também a utilização dos
livros didáticos como principal instrumento de apoio
pedagógico para o professor, é que se propõe a análise dos
livros didáticos utilizados nas escolas publicas estaduais do
Estado de São Paulo, com objetivo de investigar se as
representações cartográficas aparecem dentro de uma proposta
pedagógica que tenha como perspectiva a formação de um
aluno leitor crítico e mapeador consciente (Simielli, 1994).
È importante que a cartografia escolar, seja desvinculada da
idéia de formar simplesmente um aluno copiador de mapas, o
objetivo central é que ela possibilite ao aluno pensar e entender
os fenômenos representados, que de fato torne possível a
compreensão crítica do assunto que esta sendo estudado.

Justificativa:
Ao pensar e refletir a geografia como ciência e suas
formas de estudo e análise da realidade, fica evidente sua
importância como disciplina escolar dentro do ensino básico no
Brasil.
No contexto da sala de aula, a geografia deve sempre
procurar entender e expressar as diversas relações sociais que
agem de forma efetiva na produção do espaço tem que
pretender estabelecer conexões entre o conteúdo ensinado e as
relações sociais e espaciais cotidianas, já que só assim é
possível compreender de fato a dinâmica da sociedade.
Então a geografia deve obter como meta a formação de
um aluno-cidadão que seja capaz de pensar e analisar a
realidade na qual esta inserido, de forma crítica e consciente.
Sendo assim a geografia tem que ser pensada como uma
disciplina viva e dinâmica, que desafie os alunos e educadores,
e dessa forma se constitua numa área do conhecimento que
contribua para uma das principais funções da formação escolar,
que é formar um cidadão político. Ela deve apresentar uma
visão que propicie a observação, a análise, a percepção e a
compreensão do espaço geográfico, enquanto espaço da ação
humana em interação com a natureza, portanto um espaço em
constantes metamorfoses e movimentos com inúmeras
contradições que surgem como conseqüência das diferentes
formas de relação com a sociedade.
O espaço da sala de aula torna-se então, fundamental
para que sejam propostos diálogos, com o objetivo de discutir
as diferentes experiências vivenciadas no cotidiano, abrindo a
possibilidade do surgimento de diferentes temas e visões e
nesse sentido encaminhando as aulas para formas diversas de
problematização. Ao educador cabe sempre, buscar novas
propostas pedagógicas e novos processos de ensino-
aprendizagem que considere os novos desafios que nascem das
novas proposições de trabalho.
Dentro dessa perspectiva, ao ministrar suas aulas o
professor de geografia não pode deixar de utilizar os recursos
cartográficos já que são importantes recursos didáticos,
essenciais para o alcance de seus objetivos, e nesse sentido é
que cabe discutir a utilização dos mapas no ensino de geografia,
sobretudo nas séries que envolvem o atual ensino fundamental
II, já que nessa fase é que torna-se central, principalmente nas
séries iniciais desse ciclo, o amadurecimento do aluno que
nesse momento deve estar no final do processo de alfabetização
cartográfica e assim caminhando para uma etapa posterior, mais
complexa que tem como objetivo fazer com que o aluno, como
coloca Semielli (2004), venha a ser um aluno crítico e um
mapeador consciente.
Sendo assim é de extrema importância procurar
desenvolver com os alunos a linguagem cartográfica, tendo em
vista que ela auxilia de forma essencial o professor a alcançar
os objetivos da geografia como ciência dentro do ensino,
através dela é possível sintetizar informações, expressar
fenômenos, estudar diversas situações, sempre destacando a
idéia central de produção do espaço, sua organização e sua
distribuição. Nesse contexto a cartografia contribui para
construção e representação das relações sociais em interação
com o ambiente (espaço).
Na escola o uso da cartografia possibilita a criança
desenvolver a capacidade de percepção do seu espaço de
vivência, através de informações visuais, como: símbolos,
cores, signos, etc.; é capaz de codificar as informações de forma
a espacializar os fenômenos geográficos, sendo dessa forma um
processo importantíssimo, que possibilita atingir os níveis de
abstração necessários a construção do saber geográfico.
O desenvolvimento das habilidades cartográfica, por
sua vez, não mostra-se importante apenas no sentido de formar
um aluno leitor de mapas, mas sim em alunos que saibam
produzir mapas, que consigam interpretá-los e analisá-los de
forma critica e coerente, ou seja ao educador cabe ensinar os
alunos a observar as informações e organiza-las de forma
intencional e orientada.
O trabalho com mapas na sala de aula deve ser
desenvolvido de uma forma em que a representação cartográfica
passe pelo processo de formação, ou seja, em que ela possa ser
construída lenta e gradativamente, fazendo com que o aluno
seja capaz de tomar consciência da realidade e do fenômeno que
pretende representar, já que quando adquire a consciência da
representação ele pode tornar-se um usuário capaz de ler e
interpretar mapas elaborados por outros, portanto ao se
trabalhar a tarefa de mapear pretende-se mostrar caminhos para
que o estudante possa desenvolver cada vez mais sua
capacidade de interpretação crítica das informações
representadas.
Sendo assim, as propostas para os alunos entenderem a
linguagem não deve estar ligada somente a idéia de pintar ou
copiar contornos, mas sim em “ fazer o mapa”, ao acompanhar
a metodologia de cada passo da elaboração da imagem, ele se
familiariza com a linguagem cartográfica.
Possivelmente no desenvolvimento desse processo, os
alunos se deparem com algumas dificuldades, principalmente
no que diz respeito nas formas, e símbolos utilizados na
representação, mas é vivenciando essas dificuldades que eles
serão capazes de construir noções mais profundas de um
sistema de representação de imagens .Ao ter que generalizar,
selecionar, interpretar as informações a serem mapeadas, é que
os alunos poderão tomar consciência dessas informações,
colaborando assim para um desenvolvimento de um raciocínio
lógico.
Por isso, dentro do ensino básico fica evidente a
importância do desenvolvimento da cartografia, já que um mapa
é uma forma de comunicação. Através de propriedades da
linguagem visual que considera: as tonalidades, cores, formas e
texturas, é formada uma imagem que transmite uma
informação, ou seja, funciona como um instrumento de
comunicação, com isso é que dentro do ensino o processo de
elaboração cartografia precisa ser mais amplamente
compreendido e elaborado.
O mapa, então precisa ser entendido como um recurso
pedagógico que desenvolva a linguagem gráfica, segundo
ARCHELA (1993),
o mapa tem sido utilizado no ensino de Geografia, muito mais
como recurso visual. Independente da abordagem teórico-
metodológica adotada pelo professor, na maioria dos casos, o
mapa serve apenas para mostrar e comparar localizações,
distribuições e, relações de fenômenos que ocorrem no espaço
e que podem ser representados. Em poucas situações utiliza-se
o mapa como um recurso didático-pedagógico, no sentido de
proporcionar aos alunos o desenvolvimento da linguagem
gráfica.

Nesse sentido, considerando que os conteúdos de


geografia dentro da escola, para conseguir ser compreendido de
forma mais ampla e completa pelo aluno, necessitam da
utilização de recursos gráficos, sobretudo a geografia que não
pode deixar de considerar os fenômenos geográficos sem
considerar suas manifestações e relações no espaço, é que o
mapa mostra-se um instrumento fundamental, e como já foi
ressaltado não somente o ensino pelo mapa é importante, mas
também o processo de desenvolvimento dele.
Sendo assim, é de extrema importância o ensino de
cartografia dentro das escolas, sobretudo, como já foi dito nas
series inicias do ensino fundamental, quintas e sextas séries que
é o momento pela qual o aluno deve adquirir os conceitos
básicos de cartografia que serão indispensáveis para a
continuação de seus estudos nas series seguintes. Sem uma boa
compreensão dos conceitos fundamentais da cartografia nos
anos inicias de estudo, certamente o aluno apresentará
dificuldades, não conseguindo passar por etapas mais
complexas de análise e interpretação de informações
cartográficas. Dessa forma sabendo que as crianças de hoje
estão em contato direto com diferentes fontes de informação, e
tem a sua atenção voltada para diferentes linguagens da
comunicação é que se torna necessário aproximar as práticas de
ensino dos novos meios de comunicação que despertam o
interesse dos alunos, fazendo com que o ensino de
determinados conteúdos se dê de forma mais eficaz e motive o
aluno a exercitar e assimilar determinados conceitos
desenvolvidos em sala de aula. A geração das crianças nascidas
em contato com uma serie de novas tecnologias, apresenta
muitas diferenças em relação às gerações anteriores e com isso
as escolas e professores devem se adequar a esse perfil,
buscando formas diferenciadas de ensino que possa aglutinar o
interesse dos alunos pelas novas formas de comunicação com os
conteúdos e conceitos que devem ser trabalhados no currículo
escolar.
Diante da dificuldade hoje de envolver o aluno e despertar seu
interesse para os conteúdos desenvolvidos na escola, é que
surge a preocupação de buscar novas práticas docentes que
possibilite associar as linguagens de interesse do aluno, com os
conceitos que devem ser trabalhados em sala de aula.

Aspectos essenciais para se pensar o ensino de cartografia


Como foi colocado a cartografia dentro do ensino de
geografia é de fundamental importância, sobretudo o
desenvolvimento de alguns conceitos básicos nas séries inicias
do ensino fundamental II, fase pela qual os alunos estão na
etapa final do processo de alfabetização cartográfica. O trabalho
então, busca através do material que hoje é utilizado nas escolas
estaduais paulistas, trabalhr a cartografia de forma crítica,
desenvolvendo atividades que busque de fato formar um leitor
crítico de mapas e um mapeador consciente.
Contudo para que isso seja possível, são fundamentais
três aspectos básicos: professores preparados, estrutura escolar
mínima e planejamento adequado.
Assim o intuito do projeto é trabalhar principalmente
considerando esses três focos, ou seja, a formação de
professores, e elaborar uma proposta de ensino de cartografia
que considere o uso das diferentes linguagens através de
práticas acessíveis que possam ser desenvolvidas com certa
facilidade pelo professor, sobretudo nas escolas públicas, que
apresentam maiores deficiências em relação a recursos e a
estrutura física.
A seguir, então, algumas considerações a respeito dos
aspectos básicos, essenciais para a prática de ensino através das
novas linguagens:

• Formação de Professores:

Quando se trata do ensino de cartografia dentro do


ensino básico, as dificuldades são muitas, e não se restringe
apenas aos alunos, mas também aos professores que ministram
geografia. Essas limitações acabam dificultando ainda mais a
aquisição de noções básicas de cartografia pelos alunos nos
anos iniciais do ensino fundamental, o que vai se refletir em
todos os níveis de ensino. Nesse contexto, pensar a formação
continuada de professores de geografia é essencial, sobretudo
dentro da cartografia que oferece grandes dificuldades, mesmo
porque grande parte dos professores estudou geografia numa
perspectiva tradicional, fazendo com que o professor muitas
vezes não trabalhe com esse conteúdo por não ter conhecimento
de como fazer, já que mesmo no decorrer de sua vida como
estudante no ensino básico não aprendeu esses conteúdos, fato
que se reflete na suas dificuldades de ensinar e trabalhar
cartografia dentro da sala de aula.
Assim, a formação continuada do professor, é de total
importância, pois se apresenta como uma forma contínua de
reelaborar e reaprender práticas pedagógicas essenciais para a
formação do aluno.
Diante desse quadro, é que surge a idéia de buscar
colaborar com o profissional professor de geografia, na tarefa
de ensinar cartografia, principalmente no ensino fundamental.
Pensar e refletir o ensino de cartografia, com foco na formação
de professores. Sobretudo no que diz respeito a auxiliar esse
profissional, a não somente ser treinado com técnicas e
metodologias para o ensino de cartografia, mas ajudar em uma
compreensão mais profunda, na perspectiva de colaborar para
que o professor entenda como se dá o processo de
aprendizagem do aluno dentro de sua faixa etária,
principalmente no que diz respeito à cognição e à capacidade de
percepção que esse aluno tem no processo de representação do
espaço e seus fenômenos por meio de técnicas cartográficas.

• Novas Linguagens

Pensar hoje em uma proposta didática com o objetivo de


ensinar um determinado conteúdo não é uma tarefa fácil, o
assunto requer uma série de reflexões, sobretudo pelo fato de
envolver algumas variáveis que vão desde o sujeito(individual),
até o contexto social na qual ele se insere. Sendo assim ao
propor um determinado caminho, temos que tentar escolher
formas capazes de se comunicar com diferentes pessoas, formas
de pensar e de compreender as coisas por isso a complexidade e
a dificuldade ao tratar desse assunto.
Dessa forma um mesmo assunto pode ser entendido por
diferentes métodos didáticos, e seu sucesso pode variar de
pessoa para pessoa, dependendo das dificuldades, das formas
que cada individuo pensa e compreende a realidade na qual esta
inserido. Não que tenhamos que conceber várias didáticas
diferentes, na verdade o processo didático pode ser dividido em
vários planos humano, técnico e cultural
e vê-se que, em cada um deles, contribuições de áreas
diferentes se tornam úteis e mesmo necessárias...Há uma dupla
dimensão teórica e prática, e esta, em sua complexidade, exige
recursos e técnicas, cuja eficiência é objeto de pesquisa e
experimentação. Mas não existem duas Didáticas, uma teórica
e outra prática: são duas faces da mesma moeda, e, como elas,
interdependentes. (CASTRO, 1991)

A compreensão da didática nessa perspectiva,


considerando a prática e a teoria é de fundamental importância,
já que ao conceber as práticas no ensino dessa forma, há maior
possibilidade de sucesso, pois como já foi colocado cada
individuo se adéqua melhor a uma maneira, por isso a
necessidade de se trabalhar com linguagens diferenciadas que
possam estimular os distintos grupos existentes, por exemplo,
em uma sala de aula.
Ao lidar com ensino, a busca em contemplar a todos os
alunos, esta vinculada ao fato de que hoje não pode-se pensar a
aprendizagem com o simples ato de adquirir informação.
Discutir um conteúdo hoje na escola, possui uma intenção, de
construir uma aprendizagem, revela um resultado desejado, um
objetivo, um progresso cognitivo que possibilite ao aluno a
capacidade de conhecer, aprender, relacionar, interpretar, ou
seja, de conseguir construir o caminho para sua aprendizagem.
Diante dessas considerações é que torna-se importante,
para viabilizar o ensino de cartografia nas séries inicias do
ensino fundamental, uma proposta que busque considerar essas
diferenças e seja eficaz nas aquisição dos conceitos básicos de
cartografia, fundamentais para a continuidade dos estudos nas
séries posteriores, sobretudo dentro da geografia.
Diante da situação do contexto na qual nos inserimos
hoje, não podemos deixar de considerar alguns aspectos que se
relacionam no dia-a-dia dentro de uma escola.Temos o aluno,
que convive em diferentes ambientes de aprendizagem. Há
também as diferentes realidades de cada estudante tanto no
aspecto socioeconômico como na capacidade de lidar com o
processo de ensino-aprendizagem. E a escola e o professor que
tem a difícil tarefa de atender essas diferentes realidades e
conviver com todas as rupturas sociais, econômicas, éticas, etc.
Assim ao pensar a proposta de utilizar diferentes linguagens
dentro do ensino de cartografia, é necessário organizar e traçar
um caminho metodológico organizado que busque alcançar os
objetivos pretendidos e lidar com todas as diferenças existentes.
Conforme Vygotsky (1991) o aprendizado organizado resulta
em desenvolvimento mental e põe em movimento vários
processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam
impossíveis de acontecer.
Nessa perspectiva a proposta que segue de uso de
diferentes linguagens dentro do ensino de cartografia, se
apresenta em dois eixos: primeiro destacando os objetivos e as
habilidades necessárias a serem desenvolvidas no ensino
fundamental e posteriormente separando os conceitos básicos
necessários de cartografia e associando a aquisição desse
conceito por parte do aluno, utilizando como apoio didático
uma atividade envolvendo o material que aparece dentro da
proposta curricular.

Objetivos a serem alcançados com os alunos:

9 Fazer com que o aluno domine diversas linguagens utilizadas


(verbais e não-verbais).
9 Resolver problemas
9 Avaliar criticamente dados e situações
9 Atuar sobre o entorno social
9 Trabalhar em grupo
9 Avaliar criticamente diferentes meios de comunicação e as
informações por eles veiculadas
9 Usar adequadamente os assuntos trabalhados dentro do
ambiente escolar
9 Colaborar com uma formação crítica e política do aluno
9 Formar um aluno leitor crítico e mapeador consciente.

Algumas considerações a serem discutidas a respeito


da formação do professor e as práticas em sala de aula
Para pensar a prática dos professores dentro da sala
de aula, cabe aqui destacar alguns pontos que aparecem no
trabalho do professor Paulo Cesar Gurgel de Albuquerque, do
instituto nacional de pesquisas espaciais, ele coloca que os
professores que recebem a incumbência para ensinar algo,
deve primeiro justificar o “porquê” está ensinando esse algo,
afinal aprender ou ensinar alguma coisa sem necessidade é
desmotivante.
Colocando em questão o aproveitamento do aluno, que
não sabe por que está aprendendo tal assunto, e o
desempenho do professor, que desconhecendo a
aplicabilidade do tema no cotidiano sente-se impossibilitado de
avançar e aplicá-lo no dia a dia da escola. Quem ensina
cartografia deve ser essa preocupação.
Atualmente observa-se que muitos profissionais estão
envolvidos no ensino da cartografia, desenvolvendo modelos
para que alunos do ensino fundamental aprendam o que é uma
escala, como é feita a representação do relevo, o que é uma
projeção cartográfica etc, tudo isso desconsiderando o
exercício da própria cartografia no cotidiano da escola, quando
do ensino de outras disciplinas, tais como geografia, história,
sociologia, dentre outras, que se utilizando dessa ferramenta e
de seus produtos auxilia na eficácia de seu aprendizado. Então
como ensinar cartografia? Inicialmente é fundamental despertar
o interesse do aluno para as aplicações cartográficas,
conduzindo-o a exercitá-la sem que isto configure um tópico de
uma disciplina ou ela própria. Afinal por que aprender
cartografia?
Este despertar para a cartografia pode ser iniciado com
o aluno ainda na pré infância, através de informações
apresentadas pela própria escola na forma de mapas, a
respeito de sua vizinhança, acessos, meios transporte,
segurança pública e etc. Essas informações são úteis tanto
para os pais como para os alunos, que passarão a elaborar
seus próprios "mapas" independente se sabem o que é escala,
projeção ou qualquer outra técnica cartográfica.
Trata-se do exercício cotidiano da cartografia como
necessidade e do interesse do próprio aluno, que em
conseqüência do seu processo de aprendizagem, aprimora e
amplia o seu uso, incorporando novos conhecimentos.
Outras perguntas podem ser formuladas, como por exemplo:
Por que o interesse do ensino da cartografia nas escolas?
Outras questões podem também ser levantadas. Cabe então
ao educador, procurar a resposta que vá ao encontro da
formação do cidadão e não de outros interesses. Entende-se
que essas respostas devem convergir para os seguintes
objetivos:

9 Auxiliar no aprendizado da geografia, história e de outras


disciplinas;
9 Apoio às atividades cotidianas do aluno e na formação de sua
cidadania.

Referencias Bibliográficas:
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