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trajeto entre um acampamento e outro, sendo a floresta contextualizada de modo mais rico quando
abordada como ambiente de caa (1995:122-124).
A ausncia mais notvel no texto a da funo do cesto. Enquanto o arco agrega-se ao
homem como marca essencial, natureza e substncia (2012:124) da masculinidade, sendo ntida a
sua importncia na obteno de comida atravs da caa e na atividade guerreira, o cesto aparece
apenas segundo seu aspecto negativo, marcando a no-masculinidade em composio, no universo
de atribuies femininas, com as mulheres, os homossexuais e os maus caadores. Sabemos quem o
carrega e por que o faz, mas, afinal, o que carregado no cesto? Considerando que a coleta dos
recursos naturais, todos de difcil acesso, trabalho para homens (2012:120), s mulheres poderiam
caber, no contexto da vida cotidiana, atividades como guardar, transportar, proteger, esconder, entre
outras, que no so exploradas nos dois textos de Clastres aqui utilizados. No sabemos se os cestos
tm uso ritual nem qual a sua importncia para caracterizar a positividade do feminino, que surgiria
ento no apenas sob o carter de oposto ou de negatividade do masculino.
Talvez, para compreender o canto feminino, construir uma categoria positiva para as
mulheres e faz-las aparecer em plena atividade produtiva, fosse preciso criar outros recortes,
observar outros fluxos da vida dos Achs, diferentes daquele da caa ou mesmo implicar as
mulheres nessa atividade, compreendendo o preparo dos alimentos como parte do processo que
envolve o tabu alimentar e a confeco das cordas dos arcos, em sua relao com o tabu que
mantm esse artefato longe da mo das mulheres. Tomado o campo num recorte mais abrangente ou
por recortes que sigam as linhas traadas pelas vivncias femininas, as mulheres apareceriam ao
lado dos homens, exercendo atividades de maneira que as divises sexuais da economia, da
linguagem e do espao fossem qualificadas de forma mais equilibrada.