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DIREITO AMBIENTAL

DIREITO AMBIENTAL

Graduação

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DIREITO AMBIENTAL

NATUREZA PROTETIVA
DO DIREITO AMBIENTAL
UNIDADE 5

Nas unidades anteriores, tratou-se do Direito Ambiental no contexto


da Política Nacional do Meio Ambiente. Nesta unidade, veremos que o Direito
Ambiental passa a receber tratamento especializado do ponto de vista de
sua função protetiva ao meio ambiente (tutela geral ao meio ambiente), como
bem de uso comum do povo, e à tutela aos bens de que se compõe o meio
ambiente (tutela específica), relativa à água, ao ar, ao solo, à fauna, à flora e
a bens do patrimônio histórico, artístico, cultural, turístico. Vamos em frente!

OBJETIVOS DA UNIDADE
Definir o objeto de estudo da função protetiva de Direito Ambiental,
suas relações, fontes e princípios fundamentais. Relacionar as peculiariadaes
do Direito Ambiental, identificando o tipo de tutela, que lhe é própria: a
tutela de interesse difuso.

PLANO DA UNIDADE

• Conceitos básicos

• Conceito jurídico segundo a idéia de relação

• Fontes do Direito Ambiental

• Princípios de Direito Ambiental

• Tutela protetiva de interesses difusos

• Em benefício de todos

Bons estudos!

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UNIDADE 5 - NATUREZA PROTETIVA DO DIREITO AMBIENTAL

O Direito Ambiental é considerado como um direito de relações entre


os homens em face do meio ambiente, de coisas com coisas e dos homens
com coisas ou bens, sob princípios fundamentais que se colocam na base
de sustentação das relações de direito ambiental.

Disto decorre o conceito de tutela protetiva de interesses, mas o


interesse é o de toda a sociedade pelo equilíbrio ecológico. Se o interesse é
de todos, há legitimação especial ao exercício do direito ao meio ambiente
“em nome” de todos e o que se apura, com o resultado da aplicação de
multas e indenizações por danos ambientais, retorna a todos – a fundos
ambientais cujos recursos se destinam os programas para o meio ambiente.

CONCEITOS BÁSICOS

Já vimos que o Direito Ambiental tutela o meio ambiente como bem de


uso de uso comum do povo e protege bens ou recursos ambientais de que
se compõe o meio ambiente.

É afirmação que nunca é demais repetir. Você, considerando-a


reiteradas vezes, mantém-se alerta ao que é essencial e peculiar ao Direito
Ambiental.

Há detalhes que escapam ao modo como vemos, medimos e pesamos


o Direito Ambiental: refere-se a que, em certas circunstâncias, com o uso
nocivo de bens ambientais, a proteção visa, mais, a pessoas do que a bens
ambientais. Mesmo assim, o Direito Ambiental faz com que suas normas
incidam, nesses casos, porque o mau uso de um bem ambiental acarreta
conseqüências a partir de uma violação à correta utilização desse bem.

Você pode constatar, desde já, que o Direito Ambiental, em sua


natureza jurídica, é um Direito protetivo. Vemos, nele, três níveis de proteção:

a) ao meio ambiente, em sentido amplo, como bem de uso comum do povo


essencial à “sadia qualidade de vida”;

b) aos bens ambientais especificamente considerados conforme classificação


que apresentaremos na unidade 6;

c) a pessoas, diante do mau uso dos bens ambientais, em situações distintas


às regras gerais de aplicação das normas e disposições de Direito Ambiental.

Trata-se de Direito Público cujas normas são de ordem pública.

O que significa ordem pública?

Significa que as regras de Direito Ambiental são imperativas, cogentes,


não podem ser afastadas pelo interesse do particular porque, em relação
ao Direito Ambiental, o direito subjetivo público ao meio ambiente prevalece
sobre o interesse subjetivo particular.

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DIREITO AMBIENTAL

O Direito Ambiental é, também, um direito interdisciplinar, porque, para ele,


concorrem disciplinas de outros campos do direito.

É assim que o visualiza Toshio Mukai (1998, p. 11)1.:

Um direito interdisciplinar, já que as normas jurídicas de direito


privado (sobretudo no domínio da responsabilidade civil, de
direito internacional privado, de direito processual civil) ocupam
nessa disciplina jurídica um lugar de destaque, ao lado do direito
administrativo, do direito penal e processual penal, do direito
internacional público.

Seu objeto é a proteção a bens essenciais, à “vida em todas as suas


formas” na configuração do meio ambiente como bem de uso comum do
povo integrado por bens que são, em essência, os recursos ambientais2.

Vários conceitos de Direito Ambiental acentuam-lhe o caráter protetivo


na definição de sua natureza jurídica; vê-se na obra referenciada de Mukai:

Carlos Gomes de Carvalho nos oferece o seguinte conceito:


Conjunto de princípios e regras destinados à proteção do meio
ambiente, compreendendo medidas administrativas e judiciais,
com a reparação econômica e financeira dos danos causados ao
ambiente e aos ecossistemas, de uma maneira geral. CARVALHO,
C. G. apud MUKAI (1998, p. 10) (grifo nosso).

O conceito de Carlos Gomes de Carvalho enfatiza a proteção e medidas


de reparação econômica e financeira dos danos ambientais, mas não avança
no sentido de considerar moderna tendência à recuperação, sempre que
possível, de bem ambiental degradado ou poluído pela imposição de
obrigação de fazer3 .

Área de Preservação Permanente – Meio Ambiente. Construção


residencial. Irregularidades. Obrigação de fazer consistente na
recuperação ambiental.

Nem todas as formulações jurídicas trazem a marca da


complementaridade. Por isso, temos de desenvolver um raciocínio jurídico
que nos dê condições à apreciação crítica daquilo que nos é apresentado.

Michel Prieur, Diretor e Professor do Centro de Direito do Ambiente, da


Universidade de Strasbourg, conceitua-o apropriadamente:

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UNIDADE 5 - NATUREZA PROTETIVA DO DIREITO AMBIENTAL

“O Direito Ambiental é constituído por um conjunto de regras


jurídicas relativas à proteção da natureza e à luta contras as
poluições.” PRIEUR, M. apud MUKAI (1998, p. 10).

Michel Prieur, no entanto, deixa de destacar princípios que emitem


conteúdos jurídicos às regras de direito, e o Direito Ambiental está
solidamente assentado em princípios fundamentais.

Você já tomou conhecimento de um deles e pode verificar que não


está expresso no conceito de Prieur: o do poluidor-pagador.

A seguir, nós o colocamos frente a um dos mais elaborados conceitos


de Direito Ambiental.

CONCEITO JURÍDICO SEGUNDO A IDÉIA DE RELAÇÃO

André Tostes (1994, p. 18-19)4, sem enfatizar diretamente o sentido


de proteção, destaca o Direito Ambiental à luz da idéia de relação sob o
prisma de relações jurídicas:

“O direito é norma de conduta imposta coativamente. Essa


conduta pode se verificar em relação de um ou mais indivíduos,
imediatamente, ou manifestar-se mediatamente, através de
relações em que interferem outros objetos, não humanos: os
animais, os vegetais e os seres inanimados. Quem destrói um
objeto valioso, atua imediatamente em face de uma coisa e
mediatamente em face de uma ou várias pessoas que estão
interessadas nessa coisa, especialmente se ela é propriedade
dessas pessoas. O direito, assim, regula a conduta humana, de
homem a homem, imediata, e o comportamento humano em
face de objetos não humanos, mas que interferem com valores
humanos, mediatamente. Interessam ao direito, portanto, as
relações entre os homens, entre os homens através das coisas5
entre as próprias coisas e as relações de relações, quando
recebem dos próprios homens uma valoração, para se tornarem
bens juridicamente protegidos. (grifo nosso). Onde situar o meio
ambiente? Meio ambiente não é apenas o homem, isoladamente.
Será coisa, relação entre homens através da coisa, relação entre
coisas ou relação de relação? Ou uma multiplicidade de relações?
(...) Meio ambiente, já se pode antecipar, é todo relação, é
multiplicidade de relações. É relação entre coisas, como se
verifica nas reações químicas e físico-químicas dos elementos
presentes na terra e entre esses elementos e as espécies
vegetais e animais; é relação de relação, como se dá nas
manifestações do mundo inanimado com a do mundo animado
– a relação entre hidrogênio e oxigênio, em certa medida, resulta
em água... Meio ambiente é, especialmente, relação entre os
homens e os elementos naturais (o ar, água, o solo, a flora e a
fauna), entre os homens e as relações que se dão entre as
coisas6; entre os homens e as relações de relações, pois é essa

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DIREITO AMBIENTAL

multiplicidade de relações que permite, abriga e rega a vida em


todas as suas formas. Os seres e as coisas, isolados, não
formariam meio ambiente, porque não se relacionariam. Meio
ambiente, por fim, é relação jurídica, a partir do momento em
que recebeu valoração humana positiva, como bem a ser
especialmente protegido pelo Direito. (grifo nosso). E é relação
jurídica que tem por atributos especiais, previstos na Constituição
Federal, o equilíbrio e a publicidade, este último no sentido daquilo
que é público, de todos.”

O importante é verificar as duas vertentes do Direito Ambiental na


distinção feita por André Tostes e correspondentes, como neste trabalho, ao
Direito Ambiental como direito do meio ambiente e direito de proteção a
bens ambientais da vida:

DIREITO AO MEIO AMBIENTE: Relações entre o homem e elementos


naturais; entre os homens e relações entre coisas; entre os homens e
as relações de relações. Os seres e as coisas, isolados, não formariam
meio ambiente.

DIREITO PROTETIVO: Relação jurídica ao receber valoração humana


positiva, como bem a ser especialmente protegido pelo Direito.A
proteção é, aqui, ressaltada.

No que se refere à proteção do patrimônio cultural, ainda segundo


Tostes (1994, p. 20):

Ainda o conceito, partindo da idéia de relação, traz para o objeto


do direito ambiental também a proteção do patrimônio cultural.
O patrimônio cultural é, afinal, resultado de um modo de viver,
de um modo de relacionamento dos homens entre si, com as
coisas, através das coisas, em determinado ambiente e em
determinada época. O patrimônio cultural é, também, o fruto da
intervenção do homem sobre a natureza, sobre aqueles cinco
elementos naturais, reveladora de uma experiência de vida que
pode ser aproveitada. Sob esse ponto de vista, a defesa do
patrimônio cultural integra e complementa o conceito de meio
ambiente, elo resgatado da história da multiplicidade de relações
estabelecidas pelas e na época das gerações passadas.

Mas, depois de recordar a função protetiva do Direito Ambiental na


determinação de seu objeto e o Direito Ambiental como um direito de relações
entre homens e coisas; entre coisas com coisas; entre os homens sob a
influência de coisas, por exemplo, você se dá conta de que o objeto do Direito
Ambiental, talvez, deva ser repensado.

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UNIDADE 5 - NATUREZA PROTETIVA DO DIREITO AMBIENTAL

Será mesmo a proteção ao meio ambiente e a bens ambientais, o


objeto do Direito Ambiental? A dúvida procede, pensa você, porque, como
se vê, o uso nocivo de bens ambientais, ainda que impliquem em sanções,
faz com que a tutela se estenda a pessoas por ele prejudicadas e isto
descaracteriza o objeto do Direito Ambiental em termos de proteção a bens
essenciais à “vida em todas as suas formas”.

E aí, você faz pergunta que contém, em si, alternativa: o objeto do


Direito Ambiental não seriam as relações que lhe são próprias? Relações de
relações; dos homens entre si em face de coisas; dos homens sob a influência
de coisas; de coisas com coisas...

Sua colocação é importante porque nos permite refletir sobre aspecto


da matéria que parecia não comportar dúvida no tocante ao objeto do Direito
Ambiental como de tutela a bens ambientais.

Mas nós insistimos em que este é, efetivamente, o seu objeto. Objeto


tem a ver com aquilo que o Direito se propõe a regular. O objeto do Direito
Ambiental, sendo a tutela jurídica a bens, faz com que suas normas
disciplinem os modos de proteção. Uma vez sob tutela jurídica, deve-se
prevenir lesão a esses bens ou a reparação patrimonial e a imposição de
sanções, uma vez lesados.

As relações, a que se refere André Tostes, são decorrentes da


realização do objeto, não podendo, pois, constituir-lhe o objeto. As relações
entre os homens e coisas; entre coisas; as relações de relações, por exemplo,
decorrem de como é estatuída a proteção. São efeitos da tutela e não o
fator determinante da proteção. O objeto, deste modo, é fator condicionante
das regras de direito; as relações, sendo condicionadas, não podem ser
consideradas como objeto.

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DIREITO AMBIENTAL

FONTES DO DIREITO AMBIENTAL

Referindo-se às suas fontes, comenta Sirvinskas(2003, p. 36)7:

Como qualquer outro ramo do Direito, as fontes podem ser


material ou formal. Fontes materiais são aqueles provenientes
de manifestações populares (individual ou coletiva), de
descobertas científicas e da doutrina jurídica nacional ou
internacional. Fontes formais são aquelas decorrentes da
Constituição Federal, das leis infraconstitucionais, das
convenções, tratados ou pactos internacionais, dos atos, normas
e resoluções administrativas, da jurisprudência etc.

PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL

Você precisa estar alerta em referência ao conceito de princípio. Há


várias categorias de princípios que a doutrina classifica. Todavia, para fins
didáticos, vamos, aqui, considerar princípio como o enunciado cujo conteúdo
constitui fundamento ao objeto e a relações de Direito Ambiental – mas
relações em sentido amplo.

Os princípios selecionados para constar deste trabalho, entre outros,


destinam-se a ressaltar a prevenção, a reparação de danos ambientais, o
acesso a informações para se ter conhecimento da situação ambiental ou do
risco futuro e da cooperação.

Você deve ter em vista o seguinte: dois desses princípios estão em


conexão direta com relações jurídicas de Direito Ambiental: o da prevenção
e o da reparação. Os outros, contemplam relações sociais em face dos
problemas ambientais e de soluções compatíveis, já que o meio ambiente é
bem de uso comum do povo. Deve-se ter informações indispensáveis à ação
preventiva ou de defesa (reparação de danos) e acentuar, para a solução de
problemas, vários níveis de cooperação.

O esquema é o seguinte:

A doutrina é acorde com referência a certos princípios fundamentais


que informam o Direito Ambiental ou relações de Direito Ambiental.

Vamos passar a palavra aos autores referenciados na bibliografia básica


e complementar reservando, a cada um, manifestação doutrinária sobre um
princípio, procurando associá-los a decisões que a eles correspondem ou a
outros elementos informativos.

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UNIDADE 5 - NATUREZA PROTETIVA DO DIREITO AMBIENTAL

Princípio da Prevenção

Observa Sirvinskas que esse princípio decorre do princípio (quinze)


da Declaração do Rio/92 apud Sirvinskas (2003, p. 35), cujo enunciado é o
seguinte:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução


deve ser amplamente observado pelos Estados de acordo com
suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou
irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve
ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

Nós, todavia, fazemos distinção entre prevenção e precaução, com


base na consideração de que a prevenção significa que, uma vez sendo
iminente o dano ambiental, deve ser evitado, mas se já está em curso de
realização, cumpre suspender a atividade ou atos lesivos.

Já a precaução, como vem sendo entendida modernamente, radicaliza


o sentido de prevenção do seguinte modo: consiste em que, diante da
incerteza quantos aos riscos ambientais que certo produto possa oferecer,
o melhor é proibi-lo até que haja prova contrária. Assim, havendo dúvidas
com referência à qualidade ambiental de determinado produto, deve-se vedar
sua fabricação e comercialização, cabendo, à empresa produtora, o ônus de
provar que pode ser produzido e liberado.

Eis a conclusão n. 4 da Carta de Princípios do Ministério Público e da


magistratura para o meio ambiente, a chamada Carta de Araxá, que data
de 13.04.2002:

Os operadores do direito devem atentar para a aplicação dos


princípios da prevenção e precaução, visando a evitar o dano
ambiental, nas hipóteses, respectivamente, em que a
possibilidade de sua ocorrência é certa ou quando é
desconhecida.

Princípio do Poluidor-Pagador (ou da Responsabilização)

Comenta Mukai (1998, p.34)8 :

Segundo Fernando Alves Corrêa (...) o princípio indica (...) que o


poluidor é obrigado a corrigir ou recuperar o ambiente,
suportando os encargos daí resultantes, não lhe sendo permitido
continuar a ação poluente. Além disso, aponta para a assunção,
pelos agentes, das conseqüências, para terceiros, de sua ação,

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DIREITO AMBIENTAL

direta ou indireta, sobre os recursos naturais (art. 3º, h, da Lei


n. 11/87). E uma das conseqüências mais salientes é a
responsabilidade civil objetiva do poluidor constante do art. 14
da Lei de Bases Ambientais. Existe obrigação de indenizar
independentemente de culpa, sempre que o agente tenha
causado danos significativos ao meio ambiente, em virtude de
uma ação especialmente perigosa, muito embora com respeito
do normativo aplicável. (art. 14, §) (lei européia).

Prossegue Mukai (1998) com referência “à imposição, ao poluidor e ao


predador, da obrigação de indenizar e/ou recuperar os danos causados e,
ao usuário, da contribuição pela utilização dos recursos ambientais.” (Lei n.
6.938/81, art. 4º).

Conclui Mukai (1998, p.34 ): “Esse princípio também está presente no


direito positivo brasileiro no que se refere à responsabilidade objetiva:

“Artigo 14, § 1, da Lei n. 6938/81: Sem obstar a aplicação das


penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados
por sua atividade.” (MUKAI, 1998, p. 36-37).

Apelação Cível n. 65.718. Cerro Azul. Tribunal de Justiça do Paraná. 1ª


Câmara Cível. Rel. Des. Cordeiro Machado. DJ: 02.08.1991:

“Ação Civil Pública de responsabilidade por danos ao meio ambiente


promovida pelo Ministério Público. Empresa que lançava efluentes líquidos
industriais, especialmente chumbo, no leito do rio Ribeira, ocasionando
diversos danos. Procedência da ação, com a condenação da indústria a
indenização. Interposição de recurso. A Lei n. 6.938/81 e a n. 5.257/67
determinam, além do cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, a
condenação em dinheiro, como forma de indenização aos danos causados
ao meio ambiente. Provimento parcial apenas para excluir a verba honorária.”

Em matéria de responsabilidade e responsabilização esclareça-se,


desde já que, à responsabilidade civil, podem cumular-se, diante de um
mesmo ilícito, a responsabilidade penal e a administrativa. (ver art. 225, §
3º, da CF/88).

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UNIDADE 5 - NATUREZA PROTETIVA DO DIREITO AMBIENTAL

Princípio da Garantia da Divulgação das Informações Ambientais

Tostes(1994, p. 26)9 assim se refere aos fundamentos desse princípio:

(...) Todos, ou quando nada uma comunidade toda, de número


variável de indivíduos, pode ter... interesse no conhecimento da
situação ambiental, atual ou de risco futuro, que mais de perto
lhe diga respeito, para cobrar sua correção ou prevenir o
desequilíbrio. A divulgação das informações ambientais, que
normalmente estão concentradas em órgãos especializados, é
indispensável para o desenvolvimento de pontos de desequilíbrio
e para a tomada de atitudes preventivas e corretivas.

Princípio da Cooperação

O Princípio da Cooperação refere-se, de modo completo, ao “Princípio


da Cooperação Ambiental Internacional entre os Povos” e defende a idéia
de que há um dever de cooperação em matéria de meio ambiente
internacional entre os Países (ricos e pobres) e que estes têm
responsabilidades comuns, contudo diferenciadas, cabendo aos
desenvolvidos repassarem o domínio de tecnologias limpas, por exemplo,
aos outros desfavorecidos, visando à proteção do meio ambiente. Na Lei
9605 (Lei dos Crimes Ambientais), artigos 77 e 78, tem-se um exemplo de
sua positivação.

TUTELA PROTETIVA DE INTERESSES DIFUSOS

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art.


225, CF/88). É um direito de todos, no interesse de toda a sociedade. O
interesse pela situação de equilíbrio ambiental, portanto, é o interesse difuso,
ou seja, o interesse que toda a sociedade tem pela integridade do meio
ambiente e dos bens ambientais, essencial ao equilíbrio ecológico.

As características básicas dos direitos que se exercem em função de


interesses difusos assim se delineiam de acordo com Fiorillo:

A) Transindividualidade

O art. 81, da Lei n. 8.078/90, ao preceituar que os interesses ou direitos


difusos são transindividuais, objetivou defini-los como todos aqueles que
transcendem o indivíduo, ultrapassando o limite da esfera de direitos e
obrigações de cunho individual. Como bem ensina Rodolfo Camargo Mancuso,
são os interesses que depassam a esfera de atuação dos indivíduos
isoladamente considerados, para surpreendê-los em sua dimensão
coletiva.

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DIREITO AMBIENTAL

B) Indivisibilidade

O direito difuso possui a natureza de ser indivisível. Não há que cindi-


lo. Trata-se de um objeto que, ao mesmo tempo, a todos pertence, mas
ninguém em específico o possui. Um típico exemplo é o ar atmosférico. É uma
“espécie de comunhão, tipificada pelo fato de a satisfação de um só implicar,
por força, a satisfação de todos, assim como a lesão de um constitui, ipso
facto, lesão inteira da coletividade”, conforme ensinamento de José Carlos
Barbosa Moreira.

C) Titulares indeterminados e interligados por circunstâncias de fato:


como a poluição do ar

Os interesses difusos possuem titulares indeterminados. Ao pensarmos


no ar atmosférico poluído, não temos como precisar quais são os indivíduos
afetados por ele. Talvez seja possível apenas delimitar um provável espaço
físico que estaria sendo abrangido pela poluição atmosférica, todavia, seria
impossível determinar todos os indivíduos afetados e expostos a seus
malefícios. (Fiorillo 2006, p. 6).

Em resumo:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Se o direito


é de todos, há o interesse de todos (interesse difuso) em exercê-lo em
benefício de toda a sociedade.”

O interesse justificante do exercício do direito ao meio ambiente


ecologicamente equilibrado não se particulariza, sendo, portanto, indivisível
– “a todos pertence, mas ninguém em específico o possui”.
EXEMPLIFICANDO A titularidade de direitos difusos é indeterminada – “seus titulares são
indeterminados”, já que todos têm direito.

Quando o ar está poluído, não se pode precisar quais as pessoas


prejudicadas. Talvez, se possa precisar, em certo espaço físico, a região ou
área em que a poluição estivesse ocorrendo, mas não, exatamente, as
pessoas prejudicadas.

Relações Especiais de Interesses

Se a maioria é de interesse público, no sentido de atrair a intervenção


do Poder Público à solução de problemas ambientais, então, se verifica um
tipo de interesse a determinar competência privativa dos órgãos públicos

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UNIDADE 5 - NATUREZA PROTETIVA DO DIREITO AMBIENTAL

em questões relativas ao meio ambiente. Sendo o caso, no interesse de


toda a sociedade, atuarão o Ministério Público, como substituto, ou entidades
ambientais qualificadas e legitimamente à defesa dos bens ambientais da
vida.

EM BENEFÍCIO DE TODOS

Se o direito ao meio ambiente é de todos, vimos que, por todos, é


indispensável legitimação especial à defesa ambiental, a saber: órgãos
públicos, o Ministério Público e entidades ambientais.

Se é um direito de todos, exercido em nome de todos e para todos, o que se


apura, com o ressarcimento de prejuízos e aplicação de penas pecuniárias,
deve reverter a todos. Em benefício de todos. Como segue:

A Lei n. 7.347/85 criou, no artigo 11, Fundo Federal para


reconstrução de bens lesados, posteriormente, regulamentada
pelo Decreto n. 93.302, de 16.01.1986 (...) De acordo com o
citado Decreto, em seus artigos 1º e 2º, o Fundo destina-se à
reparação a danos causados aos bens e interesses difusos que
se refere referida Lei e é constituído por indenizações
decorrentes de condenações por danos ambientais, assim como
pelas multas resultantes do descumprimento de sentenças
judiciais determinando o cumprimento de obrigações de fazer
ou não fazer. (Sampaio, 1998, p. 144).

A aplicação de multas por infrações administrativas também gera


recursos que revertem à sociedade inteira. É o que se constata à luz do
disposto na Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/98):

Artigo 13 - os valores arrecadados em pagamento de multas


por infração ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do
Meio ambiente, criado pela Lei n. 7.797, de 10 de julho de 1989,
Fundo Naval, criado pelo Decreto n. 20.923, de 08 de janeiro de
1932, Fundos estaduais ou municipais do meio ambiente, ou
correlatos, conforme dispuser o órgão arrecadador.

O Decreto n. 3.524, de 26.06.2000 procedeu à regulamentação da Lei


n. 7.797, de 10.07.1989, a qual criou o Fundo Nacional do Meio Ambiente.

CONSOLIDANDO ENTENDIMENTOS ANTERIORES

O DIREITO AMBIENTAL NA FUNÇÃO PROTETIVA A BENS AMBIENTAIS

O artigo 225 da Constituição brasileira de 1988 assegura, a todos, o


“direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.”

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DIREITO AMBIENTAL

Já vimos em que consiste meio ambiente. O Direito Ambiental é


instituído, assim, como direito relacionado ao meio (natural) e ao ambiente
(construído).

Esta distinção conceitual entre meio e ambiente não é aceita


consensualmente, mas tem a vantagem de colocá-lo em dois planos
correspondentes às esferas de que se ocupa o Direito Ambiental: a relativa
ao patrimônio natural e a referente ao patrimônio histórico, artístico,
arqueológico e cultural.

O direito é garantido a todos, expressamente, em termos de “meio


ambiente ecologicamente equilibrado”, permitindo deduzir que a ordem
jurídico-ambiental deve concorrer para manter o equilíbrio ou reequilibrar o
que está desequilibrado.

Com efeito, desde a Revolução Industrial (século XVIII/XX), devido à


poluição industrial e sua disseminação possibilitada pela crescente
urbanização, o homem vem sistematicamente degradando o meio ambiente.

O Direito Ambiental é a resposta mais articulada do homem consciente


ao homem predador da natureza. Em conseqüência, criaram-se regras de
preservação a novas lesões e de reparação ou recuperação de bens
ambientais poluídos ou degradados. Desta afirmação, se concebem dois eixos
à aplicação do Direito Ambiental: o da prevenção e o da defesa.

A CF/88, ao referir-se a equilíbrio ecológico, faz acentuar a importância


do significado de ecologia. Ecologia, em síntese, quer dizer: estudo das
condições sob as quais se desenvolve a vida em nosso planeta. Deriva de
oikos = casa; logia = estudo. O Direito Ambiental recebe, sistematiza e ordena
juridicamente as contribuições desses estudos. Mas, existem duas acepções
de ecologia que guardam relação direta com o conceito de Direito Ambiental:
ecologia cultural e ecologia humana. E, certamente, o equilíbrio ou o
desequilíbrio ecológico se refletem na biodiversidade e nos ecossistemas
determinando o tipo de configuração do meio ambiente.

MEIO AMBIENTE

CONCLUINDO

O conteúdo desta unidade assinala o que se pode chamar de


especialização do Direito Ambiental.

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UNIDADE 5 - NATUREZA PROTETIVA DO DIREITO AMBIENTAL

Nas unidades 2 a 4, o Direito Ambiental constitui legislação que regula


a Política Nacional do Meio Ambiente, os órgãos do Sistema Nacional do
Meio Ambiente (SISNAMA), programas, projetos e atividades para o meio
ambiente e estabelece leis especiais sobre matérias de relevante interesse
ecológico.

No contexto dessa legislação de Direito Ambiental, insere-se a


proteção a recursos ou a bens ambientais. A tutela desses bens requer o
conhecimento preciso do objeto, as relações peculiares, as fontes e os
princípios de Direito Ambiental.

É deste modo que, do geral, passa-se ao particular. No contexto da


Política Nacional do Meio Ambiente define-se o perfil de Direito cuja tutela
visa ao interesse (difuso) de todos, em benefício de todos.

Leitura Complementar

MUKAI, T. Direito Ambiental Sistematizado. 3ª edição. Rio


de Janeiro: Forense Uni-versitária, 1998. 186p.

SIRVINSKAS, L. P. Manual de Direito Ambiental. 2ª edição.


São Paulo: Saraiva, 2003. 422p.

TOSTES, A. Sistema de Legislação Ambiental. 1ª edição.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 222p.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de


estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA) .Interaja conosco!

Na próxima unidade, vamos conhecer os bens ambientais e sua


classificação, para, então, compreendermos, porque são objetos de proteção
do Direito Ambiental.

Notas:
1
MUKAI, T. Direito ambiental sistematizado. 3ª edição. R.J. Forense Universitária, 2002. 186p.

2
“Bem de uso comum do povo” (art. 225, CF/88). Recursos ambientais – art. 3º, inc. V, da Lei
6.938/81.

3
Tanto a reparação pecuniária como a recuperação tem, como base de sustentação jurídica, o
princípio do poluidor-pagador, segundo o qual, em síntese, “todo aquele que polui é obrigado a
reparar o dano e, se possível, a recuperar o bem lesado.” Lei 6.938/81, art. 4º, inc. VII:
“imposição, ao poluidor, e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos
causados (...)”.

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DIREITO AMBIENTAL

4
TOSTES, A. Sistema de legislação ambiental. 1ª edição, Petrópolis, R.J. Vozes, 1994, 222p.

5
O termo ‘coisa’ não é utilizado por nós ao optar pela palavra ‘bem’ no sentido de valor superior
que se atribui à coisa. Para o direito comum, por exemplo, a água é coisa; já para o Direito
Ambiental é um bem jurídico protegido por sua essencialidade à vida.

6
O próprio André Tostes (1994) distingue ‘coisa’ e ‘bem’, embora, com freqüência, se refira a
coisas: “’Coisa’ não é mesmo que ‘bem’. ‘Bem’ é tudo aquilo que possui um valor moral ou físico
positivo, constituindo o objeto ou o fim da ação humana... ‘Bem’ é uma relação, fruto da valoração
humana dada a uma coisa”.

7
SIRVINSKAS, L.P. Manual de direito ambiental. 2ª edição, S.P. Saraiva, 2006. 422p.

8
MUKAI, T. Direito ambiental sistematizado. 3ª, R.J. Forense Universitária, 1998. 186p.

9
TOSTES, A. Sistema de legislação ambiental. 1ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 222p.

10
No contexto das relações de vizinhança, imissões, influências e interferências têm significado
técnico peculiar. Imissões – o pó, a fuligem, o vapor, por exemplo, são coisas que se imitem. Já
Interferência se opera com luz, ruído, calor, umidade, trepidação, odor. Influências, em sentido
amplo, são apenas as imissões e interferências. Em sentido estrito, é a que se verifica com a
perturbação do vizinho, de tal modo que ele não pode desfrutar do imóvel. Sem invasão e privação.
(Alves, 1992, p. 348, 349 e 151)

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