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Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra. (org.

)
Américo Ricardo Moreira de Almeida, Dr. (org.)
Sonali Paula Molin Bedin, Msc. (org.)

Anais da IV Conferência Sul-Americana em Ciência e


Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico

CONeGOV 2007

Florianópolis
Editora Digital Ijuris
2007
Copyright © 2007 IJURIS

ISBN: 978-85-89587-22-8

Editoração
Núcleo de Mídia e Conhecimento – NMC

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


______________________________________________________________
B928a

Anais da IV Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao


Governo Eletrônico – CONeGOV (4.: 2007: Palmas: Tocantins, TO) / BUENO,
Tânia Cristina d’Agostini; ALMEIDA, Américo Ricardo Moreira de; BEDIN,
Sonali Paula Molin (Orgs.). Florianópolis: Editora Digital Ijuris, 2007.

ISBN: 978-85-89587-22-8

1. Governo Eletrônico 2. Inteligência Jurídica 3. Inteligência Artificial 4. Cidadania


Digital. I. Autor II. Título
CDD 659.3
______________________________________________________________

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Direitos desta edição reservados à

EDITORA DIGITAL IJURIS

Rua Lauro Linhares, 728 / 105 Trindade


88036-002 Florianópolis SC BRASIL
+55 48 3025-6609 / +55 48 3025-5467 fax

editora.digital@ijuris.org
www.ijuris.org/editora

Biblioteca Nacional – no. 89587


PREFÁCIO

Estes Anais contêm os artigos aprovados para a IV CONeGOV – Conferência


Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico, realizada em
Palmas/TO, Brasil, em 20, 21 e 22 de novembro de 2007, organizada pelo IJURIS –
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas em parceria com a
Fundação e Faculdades UNIRG de Gurupi/TO e apoio do EGC/UFSC – Programa de
Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de
Santa Catarina, da UFT – Universidade Federal do Tocantins, da Rede SAT Tocantins,
da Revista PontoGov e patrocínio da Prefeitura Municipal de Palmas/TO.

A Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo


Eletrônico se consolida como foco de disseminação, difusão e extensão das soluções
tecnológicas voltadas para o Governo Eletrônico e tem como objetivo reunir usuários,
especialistas em segurança pública, engenheiros, cientistas e analistas atuantes no meio
acadêmico, na indústria ou no Governo para apresentação de aplicações e soluções
avançadas em e-Gov, bem como as tecnologias que as suportam. Realizada pelo quarto
ano consecutivo, a CONeGOV agregou vários profissionais que com dedicação e
empenho colaboraram na realização e sucesso do evento.

As oportunidades geradas pelo e-Gov envolvem diferentes campos da esfera


social, essencialmente na prestação de serviços, redesenhando a relação entre o cidadão
e o governo. Tal enfoque espelha uma nova sociedade desburocratizada e justa. O e-
Gov tem o condão de fomentar a participação do cidadão no processo democrático,
sensibilizando o governo quanto às demandas da sociedade. A relevância da temática
favoreceu a realização desta quarta edição na cidade de Palmas/TO, apoiada no grande
interesse da administração municipal nas questões discutidas na Conferência. Interesse
este que mobilizou também a comunidade científica da UNIRG que vislumbra a
possibilidade de integração, cooperação e conversão de conhecimentos imprescindíveis
à consolidação e fortalecimento da região.

Nesta edição destacamos, dentre as experiências aplicadas ao Governo


Eletrônico, projetos e programas de inclusão digital; sistemas de suporte a tomada de
decisão; modernização dos poderes públicos; democracia eletrônica; desenvolvimento e
sustentabilidade ambiental; software livre e engenharia de software; sistemas para
segurança pública; representação do conhecimento e da informação; documento
eletrônico e assinatura eletrônica; ética e tecnologia; direito, internet e propriedade
intelectual e redes de conectividade.

Foram submetidos 52 artigos à IV CONeGOV. O Comitê Científico é formado


por 30 membros dos seguintes países: Brasil, Argentina, Espanha, França, Portugal,
Peru e Estados Unidos da América. Cada artigo foi avaliado por dois revisores
independentes a fim de garantir a qualidade dos trabalhos aceitos. Para publicação
foram aprovados: 20 artigos em versão integral, 16 artigos em versão reduzida e 09 em
versão poster.

A Comissão Organizadora agradece aos autores que submeteram seus artigos e


aos membros do Comitê Científico e revisores pela excelência do trabalho de avaliação.
Em especial, a Comissão agradece aos palestrantes, a todos os estudantes, professores,
pesquisadores e profissionais que se motivaram a comparecer e enriquecer o encontro.

Por fim, a Comissão deseja a todos uma boa leitura dos artigos aqui disponíveis
e que estes possam contribuir para o crescimento da comunidade científica brasileira.

Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra. Américo Ricardo Moreira de Almeida, Dr.
Presidente do Comitê Científico Vice-Presidente do Comitê Científico
Presidente do IJURIS

Sonali Paula Molin Bedin, Msc.


Secretária Executiva
Comissão Organizadora

Florianópolis-SC, 20 de novembro de 2007.


COMITÊ CIENTÍFICO

PRESIDENTE VICE-PRESIDENTE

Tânia Cristina D’Agostini Bueno, Dra. Américo Ricardo M. de Almeida, Dr.


IJURIS, Brasil UNIRG, Brasil

MEMBROS

Aires José Rover, Dr. Janae Gonçalves Martins, Dra.


UFSC, Brasil UNIVALI, Brasil

Ana Maria Pereira, M.Sc. Jesus Cardeñosa, Dr.


UMINHO, Portugal UPM, Espanha

André Bortolon, Dr. Ligia Maria Arruda Café, Dra.


IJURIS, Brasil UFSC, Brasil

Christianne C. de S. R. Coelho, Dra. Maria Alexandra Cunha, Dra.


UFSC, Brasil PUC, Brasil

Clara Smith, Dra. Marisa Brascher, Dra.


UNLP, Argentina UnB, Brasil

Claudia Dias, Dra. Marta Valentim, Dra.


TCU, Brasil UNESP, Brasil

Divino I. Ribeiro Jr., M.Sc. Marzely Gorges Farias, Dra.


UDESC, Brasil UDESC, Brasil

Eduardo Mattos, M.Sc. Michel Menou, PhD


IJURIS, Brasil (França)

Ernesto Cuadros-Vargas. PhD Migel Angel Ciuro Caldani, Dr.


Universidade Católica San Pablo, Arequipa, UBA - CONICET, Argentina
Peru
Olsen da Veiga, Dr.
Fabio Paraguaçu, Dr. UFSC, Brasil
UFAL, Brasil
Orides Mezzaroba, Dr.
Fernando Galindo, Dr. UFSC, Brasil
UNIZAR, Espanha
Osny Taborda, M.Sc.
Florência Ferrer, Post Doc UNISUL, Brasil
e-Stratégia Pública, Brasil
Rogério Cid Bastos, Dra.
Gabriel Baum, Dr. UFSC, Brasil
UNLP, Agentina
Ronald Lee, PhD
Gregorio Varvakis, Dr. Florida International University, USA
UFSC, Brasil
COMISSÃO ORGANIZADORA

FLORIANÓPOLIS-SC

Sonali Paula Molin Bedin (Secretária Executiva)


sonali.bedin@ijuris.org

Aline Torres Nicolini


aline.nicoli@ijuris.org

Glaucia Oenning
glaucia.oenning@ijuris.org

Tânia Cristina D´Agostini Bueno


tania.bueno@ijuris.org

Thiago Paulo Silva de Oliveira


thiago.paulo@ijuris.org

PALMAS - TO

Américo Ricardo Moreira de Almeida


ricardoalmeida@ricardoalmeida.adm.br

Bismak Rodrigues da Silva


bismak@interviewer.com.br

Gilberto Correia da Silva


gilcorreia1@yahoo.com.br

CURITIBA - PR

Eduardo Marcelo Castella


castella@pc.pr.gov.br

Fábio André Chedid Silvestre


fabio.andre@ijuris.org

Tarás Antonio Dilay


taras.antonio@ijuris.org
SUMÁRIO

FULL PAPERS

Sistemas inteligentes de apoio à tomada de decisão na gestão pública 17


municipal: uma abordagem conceitual
Sistema de Apoio a Tomada de Decisão e o Exercício da e-Cidadania: 30
Uma Abordagem ao Planejamento Público Municipal
Ações de Governo Eletrônico para a Prefeitura Municipal de Laguna a 42
Partir da Modernização da Administração Pública Municipal
O jornal eletrônico e a função social da escrita 56
Utilização do Padrão XBRL e de Certificação Digital para Divulgação 64
de Relatórios Municipais Exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal
Um estudo de ferramentas de representação de processos intensivos 79
em conhecimento
SAEI Management System – An Application of Knowledge-Based 88
System with Ontologies for State Crisis Management
Cibercidadania: Modelos para Discussão em Espaços Públicos Digitais 95
Não-Estatais
Turismo inclusivo: uma proposta de portal de relacionamento voltado 107
ao turismo e pessoas com necessidades especiais
Sistemas interoperaveis G2G: estudo de caso da secretaria de 122
segurança pública do estado de Santa Catarina
O conceito de software público analisado sob a perspectiva de rede 133

Metodologia para desenvolvimento de portais de relacionamento: uma 144


proposta de suporte à comunidades de prática
Os esforços gerenciais da administração pública: estudo sobre a égide 157
de indicadores de desenvolvimento social de Santa Catarina
As Elites Parlamentares do Mercosul e as TICs; Perfil Sociopolítico e 169
Uso da Internet pelos Deputados e Senadores da Argentina, Brasil,
Paraguai, Uruguai e Venezuela.

Ética no Paradigma Digital: Uma Teoria Fundamentada na 177


Inteligência Coletiva
O uso de ontologias como ferramenta no auxílio à recuperação de 184
informações em e-gov
A Gestão da Inteligência para a Segurança Pública como uma Ação de 194
E-Gov: O Caso Pan2007
Obtenção de Conhecimento Cognitivo por Meio de Mapas 201
Geográficos, Utilizando Softwares Livres
O Sistema Inteligente de Monitoramento de Informações para a 215
Redução de Gases de Efeito Estufa do Setor Madeireiro do Planalto
Norte Catarinense
El Impacto de la Realidad Virtual con Patrones de Comportamiento 223
Complejos en Ambientes de Inmersión Sensorial Enfatizados a la
Innovación del Aprendizaje Educativo y la Promoción del Turismo
Virtual

SHORT PAPERS

Governo eletrônico e inclusão digital 245

A Educação Corporativa como Estratégia Competitiva: A 255


Universidade da Caixa Econômica Federal
Benchmarking: abordagens para o sucesso na implementação 266

Transparência Política: Uma Abordagem de Monitoramento de Ações 276


Baseado em Ontologias
Inclusão Digital de Profissionais da Educação Através de um 281
Ambiente Virtual de Aprendizagem
A ouvidoria e as chaves públicas eletrônicas: uma reflexão para a 296
legitimação das informações contidas nos diversos sistemas de
informação
A Qualificação da Gestão Participativa do Transporte e Trânsito em 305
Belo Horizonte a Partir do Acesso à Informação
O Uso de Web Semântica e Ontologias no Domínio Jurídico: 315
Perspectivas de sua Aplicação no Âmbito dos Crimes Cibernéticos
Processo de modelagem de cursos à distância via internet: uma 325
proposta de viabilidade técnica-pedagógica
Educação a Distância: Uma Abordagem à Luz da Mudança Cultural 335

Redes de Informação e Inclusão Digital na Cidade de Marilia (SP) 343

A Alimentação como um Direito do Cidadão – A Revitalização do 353


Programa Armazém da Família
Desenvolvimento E Sustentabilidade Ambiental 362

Portal como tecnologia de informação e comunicação (tic) no apoio a 373


políticas públicas: a disseminação de informações sobre estudos e
relatórios de impacto ambiental (eias-rimas)

Estratégias para o Sistema Nacional de Inovação 383

Observatório, TIC e Gestão por Resultados 387

RESEARCH ABSTRCTS

Pensamento Sistêmico na Educação: Imprescindibilidade na Era do 401


Conhecimento
Um ambiente colabarotivo com busca inteligente para gerenciar os 410
casos de uso e seus artefatos garantindo a consistência em um processo
de software
Inteligência Colaborativa a Partir da Visão Sistêmica da Cadeia 412
Produtiva da Bananicultura no Norte do Estado de Santa Catarina
Software de Simulação de Redes de Sensores Sem Fio 414
Telecentros Paranavegar 417
Do papel ao digital: um dos processos para melhoria da gestão pública 420
FULL PAPERS
SISTEMAS INTELIGENTES DE APOIO À TOMADA DE
DECISÃO NA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL: UMA
ABORDAGEM CONCEITUAL

Thiago Souza Araújo


Programa de Mestrado em Administração da Universidade do Estado de Santa Catarina
Santa Catarina, SC – Brasil
araujo.thiago@udesc.br

Thiago Paulo Silva de Oliveira


Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas
Santa Catarina, SC – Brasil
thiago.paulo@ijuris.org

Edson Rosa Gomes da Silva


Secretaria de Segurança Pública
Santa Catarina, SC – Brasil
edsongomes@ssp.sc.gov.br

RESUMO

A gestão das receitas e controle dos gastos é o azimute que a administração pública deve almejar como foco
primordial de suas ações. Ações estas que devem necessariamente estar focadas na utilização eficiente dos
recursos nas circunscrições da união, dos estados e dos municípios. Com o afloramento, cada vez maior, da
utilização das tecnologias computacionais para a produção de informações no cotidiano das mais variadas
organizações, tanto governamentais quanto privadas, há uma demanda pela criação de sistemas inteligentes.
Existe a necessidade de realizar por parte do setor privado o controle das receitas e despesas e por parte do
governo realizar a aferição dos tributos e a projeção ou estimativa da receita, assim como vislumbrar a
aplicação deste com a maior eficiência, auxiliada pela informatização dos processos. A utilização de sistemas
nestas instituições (públicas e privadas) não é novidade, pelo contrário, algumas instituições já têm seus
processos informatizados há muito tempo. Porém esses sistemas, na maioria das vezes, estão pautados em
ferramentas computacionais estanques que são utilizadas como tabulador de informação. Entretanto, a nova
dinâmica da sociedade da informação consiste na integração das bases de dados ou na interligação das
informações como forma de subsidiar a tomada de decisão dos agentes públicos ou privados. Este trabalho
apresenta uma proposta conceitual de um sistema de apoio à decisão na gestão pública municipal com base
no cruzamento das informações disponíveis das instituições governamentais no âmbito municipal. Estas
informações ou dados disponíveis seriam as informações intra ou interinstitucionais, auxiliando e facilitando
o processamento dos dados e a análise dos mesmos, como forma de objetivar sua utilização na tomada de
decisão dos agentes nas instituições Municipais. É por este prisma que o trabalho se desenvolverá, ou seja,
tendo o intuito de fomentar a utilização das informações contidas em sistemas estanques no auxilio da gestão
de recursos na esfera municipal, em um modelo mais coerente com o contexto da era informacional.

PALAVRAS-CHAVE
Governo Eletrônico; Sistema Inteligente de apoio à decisão governamental; Tecnologia da Informação.

1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho aborda a base tecnológica da gestão municipal, apontando o potencial das
tecnologias existentes e propõe a intensificação do emprego de sistemas inteligentes de apoio à tomada de
decisão na gestão pública municipal.
Para atingir esse objetivo adota-se uma metodologia teórico empírica baseada em uma análise
documental e bibliográfica concentrando-se em um estudo de caso
Realiza-se a contextualização da gestão municipal no paradigma da sociedade de informação e incluso
na economia digital, além de considerar as tecnologias que propiciaram e sustentam esse paradigma. Esses
fenômenos apresentam uma forte relação com o processo de globalização das economias nacionais.
Na seqüência são apresentados os instrumentos operacionais (orçamentários) da gestão pública
municipal, fornecendo parâmetros para a tomada de decisão do gestor público municipal. Apresenta-se o
Planejamento Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentária Anual (LOA) e
a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), principais normas que regem a gestão pública municipal, a fim de
proporcionar maior compreensão desses instrumentos e a importância dos sistemas inteligentes para apoio a
tomada de decisão.
Posteriormente apresenta-se o Programa de Modernização da Administração Tributária e de Gestão
(PMAT) como um estímulo ao processo de modernização da gestão municipal atualmente, e então a proposta
de uma plataforma que utilize efetivamente um sistema inteligente, baseado nas tecnologias emergentes de
business intelligence, como data mining para utilização das informações já existentes com vistas à tomada de
decisão na gestão pública municipal.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CONCEITOS BÁSICOS DA ECONOMIA DIGITAL

A economia consiste no estudo da alocação dos recursos produzidos por uma sociedade e seus
integrantes, segundo Vasconcellos (2004, p. 2), “economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a
sociedade decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços”. Além
disso, para o autor, faz parte do escopo dessa ciência à distribuição desses bens e serviços entre as pessoas e
grupos de pessoas na sociedade, para satisfazer as necessidades humanas. Resumidamente, a ciência
econômica estuda a produção e alocação de bens na sociedade.
As transformações do sistema econômico nas últimas décadas transformaram a mobilidade de
recursos utilizados pelas principais sociedades ao redor do planeta. Conforme Drucker (1999) salienta, a era
que ora se consolida, passou a ser denominada a “Era da Informação”, sendo esta uma revolução de conceitos
e não apenas de técnicas ou ferramentas, trazendo consigo profundas mudanças estruturais em nossa
sociedade.
Castells (1989) já apresentava a teoria da indústria baseada na informação e alguns anos mais tarde
(Castells, 1999) este autor apresenta a sociedade em rede onde aponta a importância do papel do Estado estar
inserido na rede a fim de que não perca o ritmo dessa revolução. Esta revolução para Castells certamente
ultrapassa a mera questão tecnológica, como afirma também Drucker.

2.2 ASPECTOS TECNOLÓGICOS PERTINENTES

Desta forma, acredita-se que os sistemas integrados e com base em tecnologias de inteligência de
negócios - mais conhecidos como Business intelligence (BI) - ajudem o setor governamental a operar de
forma mais eficiente. Certamente o governo não pode ser encarado como uma simples organização, como um
negócio qualquer, seu papel transcende essa abordagem e tem como uma de suas principais finalidades a
promoção da cidadania. Mesmo assim, a eficácia do governo em prover serviços de qualidade aos cidadãos
passa pela eficiência administrativa, pois um bom governo não sobrecarrega o cidadão, que também é
contribuinte, e que em última análise é quem paga o preço da baixa produtividade no setor governamental.
Compreendendo o papel do governo dessa forma, e resgatado o conceito da ciência econômica a
economia digital pode ser compreendida como as relações de produção e consumo mediadas pelas redes
informacionais digitais compreendendo as relações entre o setor público e setor privado, e as inter-relações
entre esses agentes.
Seguindo essa lógica, este trabalho propõe táticas para tornar possível a obtenção de significativos
aumentos na eficiência do setor do Governo por meio de implantação efetiva e eficaz de inovações
tecnológicas. Nesse sentido, encontra-se respaldo em Nijkanp (1986), que salienta a correlação entre
mudança tecnológica e da inovação na estrutura econômica como fomento ao desenvolvimento econômico:
“Innovation or technological change is a principal source of change in the economic structure of regions and
nations” (NIJKANP 1994 p. 629).
Quanto à questão de integração das bases de dados esta proposta encontra fundamento nos textos de
Davenport e Prusak (1998) que ao abordar a economia da informação, ou seja, a sistemática dinâmica da
informação, afirmam que o uso eficiente de uma pequena quantidade de informação privilegia a redução da
papelada burocrática e reduz a preocupação com a administração de recursos de informação, assim como
reduz as preocupações com o custo da informação.
Estes autores apontam como questões fundamentais para uma boa gestão da informação os seguintes
fatores:

a) integração dos diversos tipos de informação;


b) reconhecimento de mudanças evolutivas;
c) ênfase na observação e na descrição;
d) ênfase no comportamento pessoal e informacional.

Uma tecnologia importante nesse paradigma para ser utilizada nas aplicações do modelo proposto é
o On-line Analytical Processing (OLAP). Anzanello (2007) traz em seu artigo um estudo sobre essa
tecnologia. Anzanello (2007, p. 2) apresenta a seguinte definição para essa tecnologia: “a aplicação OLAP
tem por finalidade apoiar os usuários finais a tomar decisões estratégicas”.
Dentre as características apresentadas pela autora destacam-se as seguintes características do
sistema: Fornecimento de dados analíticos, altamente sumarizado, altamente flexível em relação à
recuperação de informações.
Outra questão importante é a visualização realizada em dados agregados, e não em dados
operacionais. Essas qualidades são de grande importância para uma melhor eficiência no apoio a tomada de
decisão gerencial e estratégica na gestão pública.
A tendência de integração de sistemas pode fornecer uma série de possibilidades interessantes em
termos de cruzamento de dados. A mineração de dados (Data Mining) é uma das ferramentas que pode ser
empregada para a análise das bases de dados e apoio para a tomada de decisões governamentais. Palace
(1996) define a mineração de dados como o processo de análise de dados de diferentes perspectivas e resumo
destas em informações úteis. Conforme o autor esses sistemas permitem que os usuários analisem dados a
partir de muitas diferentes dimensões ou ângulos, e ainda categorizar, sumarizar ou relacionar dados.
Nesse campo um conceito interessante é o de Nota Fiscal Eletrônica (NF-e). A NF-e, conforme
definição de Almeida de Jesus (2006) é um documento emitido e armazenado eletronicamente, que existe
apenas digitalmente, gerado com o intuito de documentar uma operação de circulação de mercadorias ou
prestação de serviços ocorrida entre as partes, cuja validade jurídica é garantida pela assinatura digital do
emitente e recepção, pelo fisco, antes da ocorrência do fato gerador. Essas e muitas outras tecnologias estão a
surgir e se bem implantadas tendem a gerar uma maior eficácia do setor público, além de promover a entrada
desse setor na era da economia digital de forma mais ativa.
2.3 O PLANEJAMENTO MUNICIPAL

O planejamento municipal é regido pelas leis e diretrizes orçamentárias, regulamentadas pela


constituição federal em seus artigos 165 a 167. São instrumentos de planejamento público municipal: o PPA,
sendo este o principal instrumento de planejamento do município. Mas, por ser elaborado para um período de
quatro anos, acaba se tornando um instrumento menos dinâmico que outros dois que derivam dele: a LDO e a
LOA.
O art. 165 da Carta Magna dispõe do conteúdo, prazo, elaboração e organização do PPA; o art. 166
prevê que emendas ao Projeto da LOA só podem ser aprovados caso os mesmos estejam compatíveis com a
LDO e o PPA, enquanto o Art. 167 veda o início de um investimento que, durante a sua execução, ultrapasse
um exercício financeiro, salvo os casos descritos no PPA ou previstos em lei específica.
Tanto a LOA, quanto a LDO precisam estar de acordo com a Lei Complementar nº. 101, a chamada
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), de 04 maio de 2000, que trouxe novas obrigações aos gestores
públicos durante a elaboração do PPA, LDO e LOA. Sendo assim, os municípios devem se adequar à nova
lei, utilizando o planejamento como instrumento de administração dos recursos. Além do planejamento, os
gestores devem ser aptos a controlar despesas e receitas, bem como suas estimativas. O objetivo da LRF é
tornar a gestão e a execução orçamentária e fiscal mais transparente. A LRF instituiu a obrigatoriedade de
metas fiscais, sendo o administrador público o responsável pelo fornecimento dos cálculos de receitas e
despesas, além da relação dívida/PIB municipal.
A LRF permite operações de crédito apenas para despesas de capital e desde que a operação não
ultrapasse o limite dívida/PIB municipal estipulado pelo Tribunal de Contas. A lei também prevê um limite
máximo para despesas não discricionárias, e para despesas com pessoal, não podendo ultrapassar 60% da
receita municipal. Desta forma, a LRF tem impacto na elaboração do planejamento municipal, pois induz um
maior rigor no cálculo da estimativa da receita, além de não permitir empréstimos e garantias que não
estejam de acordo com as premissas exigidas pelos órgãos competentes. Pelo lado social, a LRF torna-se uma
importante ferramenta em prol da transparência, pois ela exige que o gestor público, através do planejamento,
identifique as premissas econômicas, e de demais naturezas, que serão utilizadas para execução das ações
contidas no planejamento.
O não cumprimento da LRF enquadra o gestor público em crimes decorrentes de ordem fiscal,
podendo resultar na prisão dos responsáveis e na suspensão de transferências de recurso da União para as
prefeituras que não tenham as contas aprovadas.
A elaboração da LDO está fortemente associada à LRF, pois a LDO estabelece os orçamentos
anuais em acordo com a demanda da população, visto que os programas executados no ano fiscal são
escolhidos pelos legisladores, além de estabelecer metas fiscais para gestão pública. Desta forma, a LDO
torna-se um importante instrumento de gestão, pois as diretrizes do orçamento devem estar em acordo com o
nuance da LRF, ou seja, a maior convergência e equilíbrio das receitas e despesas.
A LDO também se caracteriza como importante canal de comunicação entre o governo,
representado pelo Executivo, e a sociedade, representada pelo Legislativo, estabelecendo um diálogo
democrático para escolha das metas e prioridades de cada exercício fiscal, desde que, as mesmas tenham
compatibilidade com as diretrizes do PPA. Sendo assim, a LDO deve contemplar o equilíbrio entre as
receitas e as despesas, determinando os limites de empenho, além de anexar metas e riscos fiscais para
municípios com população superior a 50.000 habitantes.
As metas fiscais são responsáveis pela estimativa, em valores correntes e constantes, das receitas e
despesas, contemplando, desta forma, o resultando nominal e primário, servindo de base para o cálculo da
evolução da relação dívida púbica/PIB municipal. Já os Riscos Fiscais, servem de análise para apurar
passivos e riscos inerentes ao ambiente e que, de alguma forma, possam vir a impactar negativamente no
equilíbrio fiscal.
A LDO assume ainda mais importância no conjunto de instrumentos de planejamento em
decorrência da elaboração da LOA ter por base a LDO.
A LOA também sofre impacto com a aprovação da LRF, pois ela estabelece a execução das
diretrizes prioritárias contidas na LDO. Ela também constitui um instrumento de planejamento de curto prazo
e têm, por fundamento, a estimativa da receita e a fixação de despesas para o orçamento fiscal, seguridade
social e investimento das empresas. Como a LOA contempla a estimativa da receita, é importante realizar
estudos mais precisos sobre o impacto gerado pela execução do planejamento em vigor, uma vez que
previsões equivocadas podem comprometer a eficiência da aplicação dos recursos públicos.
Usualmente, para o calculo da estimativa, utiliza-se a expectativa de inflação mais a expectativa na
variação da receita, como método para estimar a receita total de um exercício fiscal. Sendo assim, previsões
equivocadas podem comprometer a execução da LOA e, consequentemente, de todo o planejamento.

3. O PMAT E O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DA GESTÃO


MUNICIPAL

A administração pública sofre com a limitação orçamentária frente às necessidades da sociedade. Para
amenizar essa realidade, é necessário criar estratégias que resultem em ganhos de eficiência e eficácia dos
recursos aplicados. O tamanho do Estado e a burocratização dos serviços públicos acabam inibindo
iniciativas ou tentativas que possam resultar em algum ganho de produtividade.
O Governo Federal, com a iniciativa de reformar o Estado, lança as bases para a modernização
administrativa, com maior ênfase na gestão municipal. O Programa de Modernização da Administração
Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos é um programa que possui linha de crédito subsidiada
pelo Governo Federal, através do BNDES que, em conjunto com as prefeituras, administra o processo de
modernização da gestão municipal.
Os principais pontos de financiamento do programa estão relacionados à modernização e a reforma do
município, por meio do fortalecimento da atividade gerencial, operacional e dos setores de tecnologia,
visando uma melhor qualidade dos serviços disponibilizados ao cidadão, bem como o aumento da
produtividade do servidor, acarretando em redução de custos.
Para tanto, espera-se alterar o comportando do gestor público municipal, buscando modelar rotinas que
agreguem o conceito de eficiência gerencial, promovida pela implantação do Gerenciamento por Processos,
direcionado ao aumento da capacidade de arrecadação e redução do custo de alguns serviços públicos,
maximizando, assim, a qualidade dos serviços prestados pela prefeitura.
Por ser um programa subsidiado pelo governo federal, e por se destinar única e exclusivamente para
investimentos voltados a tecnologia e modernização para os municípios, o PMAT torna-se uma importante
ferramenta a disposição dos gestores públicos municipais em contra partida ao aumento da fiscalização,
proporcionado pelas exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal, que norteiam uma nova realidade
econômica, baseada na auto-sustentação dos municípios, de modo a reduzir a dependência de verbas
estaduais e federais para garantir o acesso dos cidadãos a serviços básicos que são de obrigação do
município.
Segundo o BNDES, os principais objetivos do PMAT, são:

Quadro 1: Principais objetivos do PMAT


- Fortalecimento das capacidades gerencial, normativa, operacional e tecnológica da administração
tributária e da gestão pública dos serviços sociais básicos e demais ações de natureza fiscal ou
racionalizadoras do uso de recursos públicos disponíveis nos governos locais;

- Desenvolvimento e aperfeiçoamento de sistemas de informação, serviços e processos voltados ao


cumprimento das atribuições e competências municipais estabelecidas no âmbito do Sistema Único de Saúde
- SUS, Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB;

- Acompanhamento das obrigações tributárias, maximização do uso de recursos ociosos/subutilizados e


eliminação de perdas, melhoria da qualidade e da oferta desses serviços a um menor custo, registro, controle
e gerenciamento da execução do gasto público;

- Cooperação permanente das unidades da federação entre si, com órgãos da Administração Federal e
com a Sociedade Civil para atuação conjunta, intercâmbio de experiências, informações, cadastros e
formação de redes sociais que racionalizem, melhorem e ampliem o atendimento e reduzam o custo unitário
da prestação dos serviços;

- Modernização da administração pública voltada para iniciativas de desenvolvimento local que


promovam capacitação e articulação do tecido produtivo e geração de trabalho e renda.
Fonte: BNDES

Segundo Spinelli (2003), os objetivos do PMAT focam o investimento público em áreas


correlacionadas ao processo de modernização do Estado, o que tende a proporcionar um Estado mais
democrático e uma gestão pública voltada ao aumento do bem estar do cidadão. Segundo o mesmo autor, a
inadequação do papel do Estado, por não possuir uma estrutura dinâmica frente ao ambiente em constante
mutação, associada a sua crise fiscal e a provisão inapropriada de serviços acaba tornando ineficiente o
processo de alocação dos recursos, além de reduzir a participação da sociedade no processo.
Dentre os impostos sob responsabilidade do município, destaca-se o IPTU (Imposto Predial e
Territorial Urbano), que incide sobre a propriedade, domínio útil ou posse de terrenos, construídos ou não, e
que estejam localizados em zonas urbanas dos Municípios. Ele é calculado com base no valor de mercado do
imóvel, que consta no cadastro imobiliário da Prefeitura. Sua alíquota varia de município para município.
Mas, é um dos mais importantes impostos arrecadados, sendo, inclusive, o prefeito, obrigado, como consta na
Lei de Responsabilidade Fiscal a cobrar o IPTU. Incluindo a cobrança judicial, no caso de débitos que
constem como dívida ativa. A falta de cobrança do IPTU, ou da Dívida Ativa, pode resultar em processo de
rejeição, pelo TCE, das contas anuais do município e de improbidade administrativa.
Já o ISS (Imposto Sobre Serviços de qualquer natureza) incide sobre empresas ou profissionais
autônomos que exerçam alguma atividade contida no Art. 8º do Decreto Lei Federal nº. 406. Ele é calculado
com base no preço do serviço prestado, sendo que o município arrecada uma porcentagem desse valor,
porcentagem que varia de município para município.
O Imposto Sobre a Transmissão Inter-vivos de Bens Imóveis e de Direitos a eles Relativos (ITBI) é
calculado com base no valor de mercado dos bens, incluindo os imóveis, ou direitos transmitidos. Sua
alíquota varia de município para município.
Para Heeks e Davies (Apub Spinelli, 1999) a utilização de Tecnologia da Informação durante o
processo de reforma do Estado tende a aumentar a eficiência do setor público, em decorrência da melhor
alocação dos recursos e da utilização de práticas de gestão de mercado, além de favorecer o processo de
transparência e democratização.
Entretanto, não basta apenas investir no processo estrutural, é necessário, também, o investimento
em recursos humanos, através de capacitação e treinamento.
A modernização de processos e da gestão municipal tende a reduzir o tempo dos serviços oferecidos
pelo município o que, consequentemente, reduz o custo do Estado. Pelo lado da receita, o processo de
modernização, principalmente a tributária, um dos objetivos do PMAT, pois “com os processos tributários
informatizados, os municípios gastam menos com as atividades cotidianas e corrigem as falhas que
aumentam a arrecadação, como valores de imóveis, sob os quais incide o IPTU, desatualizados.” (Spinell,
2003).
O processo de modernização do Estado, com base dos estudos de Reinhard (Apub Spinelli, 1999)
passa pelas seis fases descritas abaixo.

Quadro 2: Fases do processo de modernização do Estado


Estágio Descrição Ênfase
1 Controle Físico de Documentos antecede a Execução das Tarefas
automação.
2 Processamento de dados, bases em sistemas Eficácia dos processos de
isolados para funções específicas. gestão da infra-estrutura
3 Administração dos recursos da informação. Eficácia dos processos de
Descentralização parcial dos recursos, gestão da infra-estrutura
integração de aplicação e compartilhamento
de recursos de redes.
4 Sistemas estruturadores de processos inter- Desempenho do negócio
organizacionais.
5 Desintermediação da comunicação com o Competitividade
público.
6 Centros de atendimento integrado ao público, Atendimento integrado à
num local físico ou através de um portal. pessoa.
(Reinhard, 1999)

O Controle físico de documentos e a digitalização dos já existentes compreendem a primeira parte do


processo, iniciando o processo de automação do Estado. Já, a segunda etapa, visa gerar uma infra-estrutura
que maximize a aplicação dos recursos, de acordo com a demanda do Estado e dos cidadãos.
A terceira etapa visa promover a integração entre as bases de dados existentes e a padronização dos
processos, o que tende a reduzir problemas futuros de gestão da informação. A quarta etapa está relacionada
à instalação de sistemas de informação para suporte ao planejamento estratégico utilizando tecnologia da
informação.
A quinta etapa faz menção à centralização das atividades, ou seja, padronizam-se as rotinas realizadas
pelos sistemas, desde a interface, até os requisitos de sistemas que utilizem Inteligência Artificial. Por fim, a
sexta etapa, que é a criação de centros de atendimento capazes de suprir as demandas dos cidadãos sem a
necessidade de deslocamento até as respectivas secretarias, ou prefeitura. O controle de documentos abrange
atendimento na área processual, tributária, cultural, social e até mesmo jurídica, e a digitalização desses
documentos tende a trazer significativos ganhos de eficiência tanto pela agilidade dos processos quanto pela
redução de custos.
O desenvolvimento das etapas deve ser acompanhado por processos de capacitação e treinamento das
equipes que participaram de cada estágio, pois a falta de treinamento, ou de interesse, dos recursos humanos,
pode comprometer o êxito do processo. Por isso a importância dos sistemas de informação de apoio à
tomada de decisão no setor governamental, que será abordado na seqüência.

4. A UTILIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DO GOVERNO COM VISTAS À


TOMADA DE DECISÃO
A administração pública visa o controle de forma eficaz e eficiente dos recursos da União, Estados e
Municípios com objetivo de melhor atender o cidadão. Quando se menciona a palavra controle, podemos
pensar estritamente que sejam apenas os gastos, mas é um pouco mais amplo, ou seja, não só a aplicação da
receita, mais o controle das despesas por parte da administração pública.
No que se refere ao controle da administração, o governo utilizava um grande número de
funcionários para gerir as entradas e saídas de recursos, muitas vezes sem galgar êxito, dado a burocratização
excessiva dos procedimentos utilizados. Todavia com o passar do tempo e com os avanços tecnológicos, os
critérios adotados anteriormente tendem a mudar gradativamente apoiados na era do conhecimento.
Conhecimento este que está cada vez mais consolidado nas tecnologias da sociedade da informação, voltada
aos grandes fluxos de informação dos veículos de comunicação (Televisão, rádio, Internet).
Porém não adianta ter uma massa imensa de informação sem poder trabalhar de forma consistente
com essas informações. Segundo Máximo:

“Atualmente, a capacidade de se gerar informações corretas e precisas para tomada de decisões é um


dos itens mais importantes para o desenvolvimento dos países, existe um grande consenso de que a
informação é um dos recursos mais estratégicos para o andamento de projetos e políticas, sejam eles
públicos ou privados (Máximo, 2004)”.

Podemos perceber que a iniciativa privada saiu na frente dos governos e se lançou em busca de
formas eficientes de trabalhar suas informações de maneira a aperfeiçoar suas atuações junto aos clientes e
fornecedores.
O e-commerce (comercio eletrônico) movimentou uma grande soma de dinheiro, segundo a United
Nations Conference on Trade and Development, os Estados Unidos, apresenta um constante crescimento
nesse mercado. No Brasil a empresa e-bit, empresa de pesquisa e marketing on-line, menciona o fechamento
do comércio eletrônico brasileiro no primeiro semestre de 2006 com crescimento nominal no faturamento de
76%, comparado ao mesmo período de 2005. Os seis primeiros meses de 2006 representavam vendas de
cerca de R$1.750 bilhão, contra R$ 974 milhões de janeiro a junho de 2005.
Assim, pode se perceber que tudo está girando de forma muito rápida e Castells (1999) evidencia
bem este acontecimento a priori como se pode perceber:

A Economia da Informação está mudando o ambiente nos quais empresas, governos e comunidades
interagem. Está mudando, fundamentalmente, a forma como estes entes recebem, tratam e armazenam
informações. Neste novo ambiente, velocidade, flexibilidade e inovação são palavras de ordem
(CASTELLS, 1999).

Os governos estão investindo, cada vez mais, em serviços eletrônicos, embora ainda de forma
incipiente, pois a utilização do e-Gov, por assim dizer, não trata meramente da criação de portais para os
cidadãos, e sim de uma conotação mais ampla. Com uma concepção de governo eletrônico, utilizando os
vocábulos normalmente usados, voltados para G2C, G2B e G2G que exprime respectivamente as relações
entre governo e cidadão, governo e fornecedores/empresas e governo inter ou intragoverno Zimath (2003).
Entretanto, antes de poder propiciar os benefícios advindos da era da informação para o público
externo, o governo deve somar esforços no sentido de aprimorar as tecnologias existentes para criar
mecanismos de auto-sustentação, primando pela eficiência de suas organizações. Aprimorar as tecnologias
existentes não é tarefa fácil, pois a utilização das tecnologias de informação não garante, por si só, o sucesso
e o alcance dos objetivos, mas sim a combinação inteligente com base nas competências organizacionais, ou
seja: excelência nos processos de trabalho; dinâmica na relação com a comunidade; valorização e motivação
do capital humano; simplificação dos métodos gerenciais e disseminação rápida dos conhecimentos que irá
fomentar as estratégias que perduraram e trarão os benefícios para o governo e conseqüentemente para
sociedade.
As organizações políticas, como os Estados e os Municípios, não atingirão seu pleno
desenvolvimento se não contarem com informações atualizadas, precisas e rápidas sobre os melhores
meios de se distribuírem seus recursos gerados por seus povos. (ROCHA, 2000).

Com a citação acima apresentada por Rocha, podemos obter novas perspectivas sobre algumas
questões a respeito da utilização da informação pelo governo no que tange ao desenvolvimento da sociedade.
A utilização das informações pelo governo deve servir como norteamento para suas ações em prol da
coletividade, mas para que isso possa acontecer os objetivos devem ser estipulados e com base nestes
objetivos deve se montar estratégias de modo a satisfazer as carências de dados pelos órgãos governamentais.

4.1 O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE ESTRATÉGIAS


A respeito da criação de estratégias, devemos mencionar que o envolvimento das pessoas, no
processo de construção deve, necessariamente, envolver o staff de comando, os gerentes e supervisores dos
processos e a base operacional, sob pena de esterilizar o desenvolvimento e conseqüentemente o sucesso do
objetivo. Sobre este aspecto é importante salientar que há a linha de informação hierárquica nas instituições.
Esta é alimentada pela base da pirâmide hierárquica, ou seja, embora se tenha a condução da instituição
através de uma hierarquia, as informações a respeito das melhores formas de atuação devem partir da base e
serem analisadas pelo staff de comando, o que tende a diminuir erros de concepção na utilização de
informações quando houver a interligação dos dados. A Figura 01 apresenta o processo de alimentação.
Figura 01 – Fluxo de informações

nte:
Fonte: Elaborado pelos Autores.

Com base nas informações prestadas da base do ambiente operacional se consegue idealizar o
sistema estratégico ou de inteligência para tomada de decisões. Na maioria das vezes os sistemas
transacionais do ambiente operacional, são ferramentas utilizadas para registrar e controlar os fatos e
procedimentos relativos à rotina diária das instituições e são desenvolvidos à luz da filosofia de controle das
transações que ocorrem no dia a dia. Os dados desses sistemas são depositados em seus bancos de dados que
foram desenvolvidos para trabalhar de forma estanque, não havendo assim o cruzamento de informações que
possibilitem associar os dados produzindo novos conhecimentos.
O ambiente estratégico ou de inteligência visa facilitar a exploração e análise dos dados táticos e
gerenciais dos órgãos públicos e a partir desses dados criarem projeções e simulações confiáveis e
rastreáveis. Assim, este sistema não gera fatos, mas pode criar novas visões ou perspectivas administrativas
para gestão eficiente.
O sistema estratégico ou de inteligência padroniza a obtenção de informações evitando que os
gestores necessitem recorrer a vários sistemas na busca de informações, dando mais tempo para a análise em
virtude da redução do tempo gasto na obtenção dos dados. Assim o gestor da informação pode agir de
maneira mais confiável com auxílio da tecnologia como enfatiza Diniz (2002):

[...] uma das principais formas de modernização do estado é resultado do uso estratégico e intensivo das
tecnologias de informação e comunicação (TIC), nas relações internas dos próprios órgãos de governo e
também das relações do setor público com os cidadãos e as empresas, seja na oferta de serviços
públicos, seja nos processos de compras governamentais. (DINIZ, 2002, p.5)

Outro fato importante é a arquitetura do ambiente estratégico, ou de inteligência, que segue uma
seqüência. Primeiro, deve se ter uma camada de estágio, que é uma área de trabalho onde os dados extraídos
dos sistemas são enviados. Posteriormente, o armazenamento, onde a base consolidada dos dados fica
disponível para sua utilização e, por fim, a camada de visualização que é a exploração dos dados pelo
ambiente estratégico ou de inteligência através de tecnologias e ferramentas especificas, que atuaram sobre a
estrutura de armazenamento. Esta última camada apresenta os dados na forma de relatórios dinâmicos,
estatísticos ou árvore de relacionamento. Segundo Trope (1999), na sociedade da era da informação, as novas
tecnologias influenciam cada vez mais o modo como nos organizamos, administramos e definimos as regras
para as empresas.
Dentro deste contexto, a tendência predominante assinala que a maior parte do trabalho tende a ser
realizado em função da obtenção ou do tratamento das informações. De acordo com o referido autor, as
rápidas e bruscas mudanças atuais, a forte competição entre as empresas e a globalização da economia são
fatores que, entre outros, fazem com que as organizações tenham de lidar não mais com a previsibilidade, a
continuidade e a estabilidade, mas sim com seus contrários, ou seja, com a incerteza. Nessas circunstâncias
considera-se fundamental a existência de sistemas inteligentes de apoio à decisão para o gestor público
municipal com acesso a uma base de dados integrada, ou seja, que congregue dados e informações de
diversos órgãos governamentais no âmbito municipal e na medida do possível interoperáveis com sistemas
Estaduais e Federais. A figura 02 mostra uma idéia da arquitetura do ambiente proposto.
Figura 02 – Sistema de Apoio a Decisão na Gestão Pública Municipal

Fonte: Elaborado pelos autores.

A arquitetura acima remete a um sistema de gerenciamento da arrecadação tributária. As fontes


primárias de informação se caracterizam pela estatística de arrecadação dos principais tributos municipais.
Estatísticas relacionadas ao valor da arrecadação mensal.
No caso do IPTU, conforme figura 3, o valor arrecadado é cruzado com informações relacionadas às
atividades desenvolvidas no bairro, tamanho e características da residência, ou do estabelecimento comercial,
valor do CUB (Custo Unitário Básico), histórico de dívida e pagamento. Com isso, após o processo de
mineração dos dados, o gestor público é capaz de identificar padrões ou relacionamentos entre dados
existentes. Dessa forma, haver-se-ia a possibilidade de fazer projeções e simular cenários, ajudando no
processo de estimativa de receitas do IPTU. Além desse processo, torna-se possível a atualização automática
do valor do imóvel, evitando que o valor do IPTU seja emito com valores defasados.
Já, no caso do ISS, o valor arrecadado seria cruzado com as informações repassadas a Secretaria da
Fazenda Nacional, e os dados da nota fiscal eletrônica. Além das características da atividade desempenhada
pela empresa, tais como o número de funcionários, faturamento, localização, permitindo, também, o
cruzamento de informações entre empresas com características semelhantes. Dessa forma, o sistema
propiciaria uma identificação mais eficiente de casos de sonegação e com o aperfeiçoamento da fiscalização
inibindo-se a sonegação.
O ITBI, por estar relacionado, em grande parte, a transferência de imóveis, acabaria tendo à mesma
linha de raciocínio do IPTU, onde os dados do imóvel transferido, principalmente o seu valor, seriam
cruzados com os dados do cartório onde fosse realizada a transferência. Evitando, dessa forma, que o valor
do imposto pago seja menor, em decorrência da falta de atualização do valor do imóvel, ou que os envolvidos
na transação depreciem o valor do imóvel no momento de lavrar a escritura na tentativa de reduzir o imposto
pago, o que ajudaria ainda a ancorar o mercado no valor de uso do imóvel reduzindo a especulação
imobiliária.
A figura abaixo mostra o processo se utilizando de uma ferramenta de tecnologia da informação
para a projeção de receita do IPTU, sendo que essa mesma metodologia se estende aos demais impostos e
taxas.
Figura 03 – Mineração de dados IPTU

Fonte: Elaborado pelos Autores

O processo de gestão do conhecimento para a arrecadação tributária assume impar importância, pelo
fato da receita tributária ser a variável de maior destaque no processo de elaboração do planejamento do
município, em especial a LOA. A estimativa da receita é o ponto inicial do planejamento, onde qualquer erro
pode comprometer a eficácia e a eficiência da aplicação dos recursos. Ou seja, estimativas que se mostrem
inferior ao valor realizado acabam comprometendo a eficácia do plano, pois muitos investimentos deixam de
ser realizados, mesmo com a disponibilidade de recursos. Já, estimativas além do valor realizado,
comprometem a administração pública, e podem ser alvo de processo judicial com base na Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Sendo assim, um processo de gestão do conhecimento aplicado à arrecadação tributária deve
promover a eficiência econômica através da alocação eficiente dos recursos disponíveis. Deve possuir,
também, simplicidade e flexibilidade administrativa, onde há uma maior integração entre os recursos de
tecnologia da informação e os recursos humanos existentes. Deve garantir, também, a responsabilidade
administrativa dos governantes, de forma que suas atuações estejam dentro das possibilidades apontadas no
sistema de apoio de gestão pública, com a facilidade de contar com estimativas para os próximos anos
facilitando a previsão de implantação de projetos futuros.

CONCLUSÃO

O presente trabalho abordou a importância da tecnologia da informação no processo de


planejamento e gestão pública. Buscou-se discutir a forma como a tecnologia está impactando na economia, e
o processo de aceleração da economia digital. Conclui-se que muitos conceitos utilizados pelo setor privado
da economia também podem ser empregados pelo governo. Alguns conceitos, como o de Business
Intelligence e a integração de base de dados são exemplos claros.
A Tecnologia da informação pode, e deve ser um meio para empreender soluções que auxiliem no
processo de gestão dos recursos públicos, trazendo eficiência e eficácia a um processo que é historicamente
improdutivo. A utilização de TI pode auxiliar no processo de escolha de estratégias, na maximização dos
recursos aplicados, no gerenciamento eficiente dos projetos de desenvolvimento e na redução de custos dos
serviços disponibilizados pelo município. A utilização de tecnologia não será capaz de solucionar todos os
problemas da administração pública municipal, mas é, certamente, um meio de ser obter reduções de custos e
aumento da eficiência.
A Tecnologia da informação pode, também, auxiliar no processo de planejamento municipal,
principalmente na elaboração da LOA e no cumprimento da LRF, evitando que o desperdício de dinheiro
público e as sanções decorrentes de planejamentos mal elaborados. A utilização de Tecnologia da
Informação para o armazenamento e tratamento dos dados é benéfica à gestão pública, pois os dados são
utilizados para a formulação de expectativas e elaboração de cenários. Dentre a formulação das expectativas,
destacam-se as referentes à arrecadação tributária. A expectativa de arrecadação do IPTU, ISS e ITBI é o
ponto inicial do planejamento municipal, pois vai ser a partir da fixação da receita que o gestor vai criar as
diretrizes para as despesas.
A utilização de ferramentas de TI configura-se ainda como uma importante arma contra a sonegação
e a desatualização dos dados cadastrais. Pelo lado da sonegação, há a possibilidade da integração de dados
entre a Secretaria da Fazenda Nacional e a base de dados de arrecadação de ISS da prefeitura municipal. Pelo
lado da falta de atualização, temos o IPTU, muitas vezes calculado sobre o valor desatualizado de um imóvel.
Tanto o combate à sonegação, quanto a atualização dos dados só são factíveis de viabilidade com a utilização
de TICS, caso contrário, gerar-se-ia um ambiente altamente burocrático, o que reduzia a eficiência do serviço
público.

REFERÊNCIAS
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Disponível em http://www.conip.com.br/sp/2006/palestras/fonte_nova/27-06/eudaldo_almeida.pdf

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http://www.inf.ufrgs.br/~clesio/cmp151/cmp15120021/artigo_cynthia.pdf > Acesso em 09/09/2007

BNDES. Programas. Disponível em < http://www.bndes.gov.br/programas/programas.asp > Acessado em 06


de setembro de 2007.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. v. 1; 8. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1999. 698p.

CASTELLS, Manuel. The Informational City: Information Technology, Economic Restructuring and the
Urban Regional Process. New York: Brasil Blackwell, 1989.

DAVENPORT, Thomas H., PRUSAK, Laurence. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não
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HEEKS, R.; DAVIES A. Different approaches to information age reform. In : HEEKS, R. (ed.).
Reinventing government in the information age: international practice in IT-enabled public sector reform.
London: Routledge, 1999. 386 p.

Nijkamp, P., van Oirscoht, G. and Oosterman, A. Knowledge Network, Science Parks and Regional
Development: An International Comparative Analysis of Critical Success Factors, in: Cuadrado-Roura,
J.R., Nijkamp, P. and Salva, P. (Eds.), Moving Frontiers: Economic Restruc-turing, Regional Development
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PALACE, Bill: Data mining: what is data mining? Technology Note prepared for Management 274A
Anderson Graduate School of Management at UCLA, 1996. Disponível em
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REINHARD, Nicolau. Informatização no Governo Federal. Em: Revista de Administração, São Paulo, v.28, n.2. 1993
SPINELLI, Marcos Paulo. Implementação de Projetos de Modernização Administrativa Municipal Suportados Pela
Tecnologia de Informação: Estudo de Casos em Municípios do Estado de SP. Brasília: ESAF – 2003. 70p.

TRIBUNAL DE CONTAS DE SANTA CATARINA. LRF: Lei de Responsabilidade Fiscal. Disponível em <
http://200.19.192.1/lrf/ > Acessado em 10 de janeiro de 2007.
SISTEMA DE APOIO A TOMADA DE DECISÃO E O
EXERCICÍO DA E-CIDADANIA: UMA ABORDAGEM AO
PLANEJAMENTO PÚBLICO MUNICIPAL

Thiago Paulo Silva de Oliveira


Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas (IJURIS)
Santa Catarina, SC – Brasil
thiago.paulo@ijuris.org

Fernando Seabra
Graduação em Ciências Econômicas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Santa Catarina, SC – Brasil
seabra@cse.ufsc.br

Hugo Cesar Hoeschl


Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina S.A. (CIASC)
Santa Catarina, SC – Brasil
presidente@ciasc.sc.gov.br

RESUMO
Este trabalho remete a utilização de ferramentas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC´s)
para auxiliar o processo de tomada de decisão do gestor público, e como forma de ampliar a participação
da sociedade no processo decisório. Aborda-se a importância do uso das TIC´s nas prefeituras, bem como
a razão que tem levado, cada vez mais, os gestores públicos a optar pelo uso dessas ferramentas. Em
seguida, procurou-se mostrar a importância do Planejamento Público Municipal para o desenvolvimento
dos municípios, onde foi apresentando uma metodologia de elaboração de planejamento a luz do que a
comunidade internacional está teorizando. De forma complementar, buscou-se identificar os fatores
limitantes da teoria apresentada, e a forma como as TIC´s podem auxiliar no processo. Foram abordados
assuntos relacionados a Portais e Data Warehouse, e como essas tecnologias podem interagir com o
cidadão, buscando uma ampla participação da sociedade junto ao gestor público.

PALAVRAS CHAVE:
Planejamento Público Municipal, Tecnologia da Informação, Governo Eletrônico, e-Cidadania.

1. INTRODUÇÃO

Mesmo sendo um território de menor proporção, se comparado aos Estados ou a União, o


município enfrenta as mesmas dificuldades para a elaboração de planos capazes de abranger os interesses
de todas as classes sociais. Cabe, ao gestor público municipal, por intermédio de planos de
desenvolvimento, a função de atender as principais demandas dos cidadãos. O problema, na maioria dos
planos, é a falta de recursos disponíveis para a execução de todas as ações previstas.
Deve, então, o gestor público, maximizar a utilização dos recursos escassos durante a execução
do planejamento, contemplando projetos que tenham relação direta com o desenvolvimento e os anseios
da sociedade. Muito embora, é sabido que não há como atender todas as demandas dos cidadãos, mesmo
que o recurso público seja aplicado de maneira eficaz e eficiente.
A constituição de 1988, associada à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), destaca
a necessidade do planejamento, determinando que "a responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação
planejada e transparente em que se previnem riscos e corrigem desvios, capazes de afetar o equilíbrio das
contas públicas" (ANDRADE et al, 2006, p.4), em diversos outros dispositivos, ela exige que seja
demonstrada a compatibilização da despesa com diretrizes, objetivos, prioridades e metas previstas no
Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA).
A elaboração do PPA, bem como da LDO e da LOA, requerem fontes de informações seguras e
relevantes, visto que esses três instrumentos de planejamento são à base da aplicação dos gastos públicos.
Entretanto, “a administração pública municipal mostra grande carência na busca de informações
confiáveis, oportunas e personalizadas [...] (LEITE et al, 2006, p.1)”. Mas, a utilização de ferramentas de
TIC´s está auxiliando no processo de captura, indexação e análise das informações para a elaboração de
estratégias.
Este trabalho aborda a utilização de ferramentas de TIC´s visando auxiliar o processo de
elaboração do planejamento público municipal, em especial o PPA, LDO e LOA, através do acesso e
captura de informações via interação on-line com o cidadão, por meio de portais na web aliados a
ferramentas de gestão.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A economia é, por fundamento, a ciência da escassez. Se os bens não fossem escassos, não
haveriam problemas relacionados à produção e a distribuição. Portanto, não haveria necessidade de
estudar métodos e modelos capazes de maximizar a aplicação dos recursos (BLANCHARD, 2001).
Entretanto, como é sabido, vivemos em uma sociedade que possui, cada vez mais, recursos escassos.
Com a evolução tecnológica e a explosão da informática, a informação passa a ser um novo, e
importantíssimo, recurso na sociedade. Mas, a destruição criativa afetou de maneira desproporcional os
grandes segmentos da economia (CASTELLS, 1999), em especial o setor público, que não conseguiu, ou
consegue, reduzir os seus custos, acompanhando o setor privado, e em decorrência dessa rigidez acaba
elevando os impostos para reduzir o déficit fiscal.
Entretanto, atualmente, os gestores públicos brasileiros vêm investindo em soluções de TIC´s,
buscando uma maior eficiência e eficácia na aplicação dos recursos públicos. Não restam dúvidas de que
as organizações públicas estão demandando, através dos sistemas on-line, ferramentas capazes de
proporcionar uma administração de bons resultados. (ABREU, 2000).
A utilização de banco de dados e software de gestão, associada às ferramentas on-line, auxilia no
processo de modernização da administração pública, eliminando as redundâncias ou falta de integridade
de dados. (STAIRS, 2000).
Porém, não basta, apenas, possuir eficientes bancos de dados e softwares de gestão, caso as
fontes primárias de alimentação do sistema não fornecerem subsídios suficientes para a elaboração de
estratégias, ou se houver uma grande dispersão da informação, ou até mesmo discordâncias, ou
discrepâncias, entre elas.
Sendo assim, a maior utilização das soluções em TIC´s pelos gestores públicos, bem como a
importância que elas estão assumindo, requerem um maior planejamento e sistematização na construção e
no enfoque dos sistemas de auxílio à tomada de decisão.
O processo de integração de sistemas e a criação de um Data warehouse, associados a softwares
de BI (Business Inteligence), que são comumente aplicados na área privada, mas podem ter enfoque
estratégico e até de inteligência para os gestores públicos, resultam em um conjunto tecnológico adequado
para a gestão do conhecimento. Bastariam, apenas, dados qualitativos e quantitativos relevantes que, após
o processo de organização, agrupamento, categorização e padronização transformam-se em informação
(MIRANDA, 1999).
A participação do cidadão, associada ao uso de TIC´s pelo governo, nos remete a um conceito de
governo eletrônico, definido como “o uso das TIC´s pelo governo para se comunicar e prover melhores
serviços [...] e na forma como o governo e os cidadãos interagem no ambiente virtual [...] podendo tornar
um fator de promoção do exercício da cidadania”. (HOESCHL, 2007).
Como já abordado anteriormente, a gestão pública municipal possui uma gama de soluções de
TIC´s a sua disposição no mercado. O que falta, em muitos casos, são fontes de dados capazes de
maximizar as soluções propostas pelos sistemas. No caso da administração pública municipal, nenhuma
outra fonte de dados é tão importante quanto o próprio cidadão.
Porém, promover reuniões temáticas, em um determinado espaço físico, para realização de
debates a respeito da condução de estratégias referentes à utilização dos recursos públicos, beira ao caos.
Pois a presença de vários grupos sociais tende a gerar um ambiente de discussões improdutivas. Ou,
ainda, a presença reduzida de cidadãos nessas reuniões resultaria em um ambiente de baixa
representatividade para a tomada de decisões, como já ocorrera em iniciativas do Estado de Santa
Catarina durante a elaboração da Agenda de Desenvolvimento para Região da Grande Florianópolis.
(SPG, 2006).
A elaboração do planejamento público municipal, representando pelo PPA e a elaboração anual
da LDO e LOA, configura como importantes momentos de decisão relacionados à aplicação dos recursos
públicos, e é um direito do cidadão opinar sobre como e quanto vai ser investido em projetos de seu
interesse.
Com a constituição de 1988, o município torna-se um ente federado, dando continuidade ao
processo de descentralização da política pública brasileira. Desta forma, o município passa a ter
autonomia e responsabilidade da política administrativa, pois ele torna-se responsável pela arrecadação e
distribuição dos recursos tributários. SWINBURN et all. (2006, pág. 2) falam sobre a importância da
autonomia municipal, pois segundo esses autores, “In many countries, national government functions
continue to be decentralized thereby increasing the responsibility of municipal governments to retain and
attract private industry”
Sendo assim, os municípios devem ter a capacidade de planejar e desenvolver planos que tenham
êxito no processo de desenvolvimento da economia local, aumentando o bem estar através da melhora do
ambiente e aumento da produtividade e competitividade das empresas e trabalhadores locais, que seriam
os responsáveis pelo crescimento endógeno do município.
Organizações multilaterais vêm evidenciando a importância do planejamento público municipal.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), publicou no ano de 2004 um
estudo denominado “Best Practices in Local Development”, demonstrando a importância de criar uma
interação entre a sociedade e o governo local, a fim de constituir estratégias para formulação de
programas e tomada de decisões que proporcionem o desenvolvimento.
O World Bank, por sua vez, publicou em janeiro de 2006, o livro “Local Economic
Development: A Primer Developing And Implementing Local Economic Development Strategies And
Action Plans”. O estudo aborda a importância do planejamento público municipal, pois entende que essa
esfera de governo cria um ambiente saudável para elaboração de programas que gerem desenvolvimento
através dos agentes e empreendimentos do município.
Os estudos ressaltam a importância do planejamento público municipal por considerar
importante a interação da sociedade e organizações, sejam elas públicas ou privadas, com a administração
pública municipal. Destaca, também, a maior flexibilidade das administrações municipais que, “por
estarem em contato direto com o ambiente, que é dinâmico e por isso está em constante mutação,
conseguem mais facilmente adequar à execução dos programas a realidade do município” (OLIVEIRA,
2006). Segundo SWINBURN et all. (2006, pág. 9)

Each community has a unique set of local conditions that either enhance or
reduce the potential for local economic development, and it is these
conditions that determine the relative advantage of an area in its ability to
attract, generate and retain investment. A community’s economic, social and
physical attributes will guide the design of, and approach to, the
implementation of a local economic development strategy. To build a strong
local economy, good practice proves that each community should undertake
a collaborative process to understand the nature and structure of the local
economy, and conduct an analysis of the area’s strengths, weaknesses,
opportunities and threats. This will serve to highlight the key issues and
opportunities facing the local economy (SWINBURN et all, 2006, pág. 2)

Desta forma, o planejamento público municipal configura-se como um importante instrumento


para o desenvolvimento, pois as características contemporâneas da administração pública municipal,
associadas à possibilidade de uma maior participação da sociedade durante o processo de elaboração,
execução e acompanhamento de um plano de desenvolvimento, além de facilidade em identificar
problemas e os potencias inerentes ao município, viabilizam uma maior eficiência e eficácia na aplicação
de recursos.

2.1 Planejamento Público Municipal: Uma Metodologia

Os estudos descritos acima mostram a importância do planejamento como ferramenta de


desenvolvimento local, apoiada, basicamente, em métodos racionais com a participação da sociedade no
processo, visando maximizar os recursos, perante a limitação orçamentária, através da escolha de
objetivos condizentes com o ambiente.
Autores como NUTT e BACKOFF (1992) ressaltam a importância das relações entre as
entidades do setor público municipal e as características do ambiente como variáveis a serem estudadas
durante o planejamento. Sendo assim, é possível realizar um estudo investigativo capaz de contemplar
desde o histórico das atividades desenvolvidas até as parcerias entre entidades para execução de
programas formulados, propondo um método racional de planejamento.
CASTRO (apud Basso, 1995) propõe a atuação do setor público municipal em conjunto com a
comunidade, desde o momento da elaboração do plano até sua execução e acompanhamento. Para o autor,
o processo de planejamento precisa conhecer todas as condições do ambiente e, nada mais eficaz, que a
participação da sociedade no processo de prospecção de informações.
Já OLIVEIRA (2006) propõe um processo de planejamento com as metodologias dos autores
citados acima, realizando um estudo investigativo que contemple desde o histórico das atividades
desenvolvidas, até as parcerias entre entidades para execução de programas formulados. Tudo isso, em
parceria com a sociedade. O processo apresenta a noção de planejamento público municipal, apresentando
viabilidade técnica e econômica dos programas, além de garantir escolha democrática dos objetivos
através da participação da sociedade. O processo é dividido em oito etapas, conforme fluxograma abaixo.

Figura 1: Fluxograma – Processo de Planejamento

Fonte: OLIVEIRA (2006)


1. Convocação da Sociedade para Avaliar o Plano Vigente;

A primeira etapa, Convocação da Sociedade para Avaliar o Plano Vigente, tem a função
convocar os cidadãos para, em conjunto com gestores públicos, avaliar a situação do município e o plano
vigente. Caso o plano não contemple as expectativas dos cidadãos, propõe-se um novo plano, com maior
representatividade, capaz de abranger o maior número possível de objetivos, além de comprometer o
cidadão durante o processo de elaboração, execução e avaliação do plano.

2. Escolha e Capacitação dos Agentes que Irão Participar do Processo;

Em um segundo momento, deve-se realizar a Escolha e Capacitação dos Agentes que Irão
Participar do Processo. Nesta etapa, deve-se ter a preocupação de escolher agentes de todas as classes da
sociedade, como educação, saúde, segurança pública, associações, sindicatos, etc. Com isso, pretende-se
anular possíveis favorecimentos de classes em detrimento de outra. Os agentes devem ser treinados para
ter o conhecimento necessário aos procedimentos exigidos no processo de elaboração de um plano.

3. Prospecção de Informações

A terceira etapa é de extrema importância para o sucesso do plano, pois a Prospecção de


Informações irá auxiliar na identificação dos potenciais e problemas, necessários para a escolha dos
objetivos. A participação da sociedade, por intermédio de agentes de todas as classes sociais, tende a
facilitar o processo, já que o acesso às informações acaba sendo mais ágil em razão da existência de ao
menos um representante de cada classe social no processo. Informações relacionadas aos indicadores
econômicos e sociais, além das informações administrativas da prefeitura, como sua saúde financeira e
dos recursos humanos, e a identificação de tendências, oportunidades e ameaças relacionadas ao ambiente
externo devem ter especial atenção.

4. Escolha dos Objetivos

A Escolha dos Objetivos vai ocorrer de acordo às informações da etapa anterior, devendo
proporcionar o desenvolvimento das potencialidades e a solução dos problemas constatados. Objetivos
claros estabelecem uma noção de direção, evitando que o gestor público municipal adapte se de maneira
aleatória às mudanças ocorridas no ambiente. Os objetivos também focam no estabelecimento de
prioridades, frente à limitação de recursos da organização, além de tornar mais simples a tomada de
decisão, pois o gestor, durante a tomada de decisão, poderá avaliar se ela está, ou não, de acordo com os
objetivos previamente escolhidos.

5. Identificação de Agentes Convergentes e Divergentes com os Objetivos

A Identificação de Agentes Convergentes e Divergentes com os Objetivos tem a função de


facilitar a elaboração e a implementação do plano. A Identificação de Agentes Convergentes reduz o
esforço para aprovação e execução de programas. Já a Identificação de Agentes Divergentes induz a
negociação durante o processo de formulação do plano, podendo adequar os objetivos aos anseios desses
agentes descontentes, evitando que a execução do plano sofra interrupções em decorrência da falta de
consenso.

6. Formulação do Plano

A Formulação do Plano vai muito além do simples estabelecimento de valores para cada
programa ou ação. “A formulação do plano deve levar em consideração, dentre outros, a prospecção de
fontes de financiamento para execução de determinados programas, a incorporação das expectativas de
mudanças ocorridas no ambiente, e a identificação de possíveis entidades parceiras para a execução do
plano”. (OLIVEIRA, 2006).

7. Execução do Plano

A Execução do Plano é a parte mais operacional do processo, é neste momento que os


programas serão executados por seus responsáveis. Os mesmos devem acompanhar o processo de
execução do plano a fim de, se necessário, analisar se a execução do planejamento está correspondendo às
expectativas e, caso não esteja, cabe aos mesmos tomar as medidas cabíveis para que os objetivos sejam
alcançados. “Deve-se criar um ambiente capaz de gerar um grande fluxo de informações, onde cada
secretaria passaria a ter acesso a uma base de dados gerada pelas outras secretarias, evitando possíveis
duplicações de trabalho e conseqüente má alocação do recurso público” (OLIVEIRA, 2006).

8. Avaliação dos Resultados

Por fim, a Avaliação dos Resultados, nesta etapa os cidadãos devem ser novamente convocados
para analisar e discutir o resultado da execução do planejamento. Os objetivos fornecem importantes
dados para análise, pois, muitas vezes, eles estão relacionados a prazos e resultados mensuráveis,
facilitando a avaliação do planejamento. “A não contemplação dos objetivos, ou a contemplação em
desacordo com as especificações planejadas, pode ser um sinal de objetivos incompatíveis com o
ambiente, indicando que novo planejamento deve ser realizado” (OLIVEIRA, 2006).

2.1.2 Limitações da metodologia apresentada

Embora a metodologia apresente a base teórica de desenvolvimento local, há uma série de


limitações que inibem uma ampla participação da sociedade no processo. A participação da sociedade,
através do uso de TIC´s, é denominada e-Cidadania que, segundo HOESCHL (2003) “é exercício da
cidadania através do e-governo, desburocratizando e agilizando o processo de participação popular [...] na
formação de posição crítica em relação às mesmas e na atitude ativa de participação, através do qual
pode-se interferir no resultado final da ação pública”.
Na primeira etapa, a convocação da sociedade é limitada pelas razões já expostas neste artigo. A
segunda etapa poderia ser potencializada pela participação de grande parte da sociedade, e não apenas
pelos seus representantes que, muitas vezes, defendem interesses mais amplos, enquanto que os interesses
mais específicos acabam ficando sem representação.
A terceira etapa é, sem dúvida, a base do planejamento e, ao mesmo tempo, é a etapa que mais
sofre com a falta de soluções em TIC´s para reunir o maior número de dados relevantes à elaboração do
planejamento. A falta de acesso a todas as informações disponíveis limita a escolha de objetivos
(MISHKIN, 2000), quarta etapa, referente à escolha dos objetivos condizentes com o ambiente. Por não
ter acesso a todas as informações disponíveis, o gestor público municipal define estratégias ineficientes e
suas decisões acabam não refletindo ações que teriam um maior potencial de aumento do bem estar de
parte da população, pois ele pode executar ações que não sejam prioritárias ao ver da sociedade.
O tratamento dos dados indexados a base do conhecimento auxiliaria no processo de
identificação de agentes convergentes e divergentes aos objetivos escolhidos, através do cruzamento das
informações, o que reduzia o tempo de elaboração do planejamento, tornando-o mais eficiente.
A sexta e sétima etapa, por serem mais operacionais, e por essa razão serem executadas por
técnicos e analistas especializados, acabam inviabilizando uma maior participação da sociedade, embora a
formulação do plano e a sua execução seriam decorrentes das informações e participação da sociedade
nas etapas anteriores.
Por fim, a oitava fase, que pode proporcionar maior transparência à execução do planejamento,
podendo disponibilizar informações referentes às metas e execuções dos objetivos, bem como as despesas
referentes à execução dos mesmos. Tudo isso de forma clara e transparente, para um maior entendimento
da população.

3. O uso de TIC´s no processo de elaboração do Planejamento Público


Municipal: Uma proposta inicial

A proposta consiste em um sistema alimentando através da interação do cidadão, via acesso a um


portal, com o governo municipal. Depois de capturadas, as informações são armazenamento e tratadas,
para futuro uso de analistas durante o processo de elaboração do planejamento. Sendo assim, os dados
devem ser armazenados e representados de forma clara, onde as informações relevantes são recuperadas e
novos documentos são indexados automaticamente à base do sistema.
Para SHILAKES e TYLMAN (1998) portais de informações são aplicativos que gerenciam e
armazenam informações de instituições públicas ou privadas, provendo ao usuário uma via de acesso à
informação necessária para a tomada de decisões. Esses portais são aplicações de software que
consolidam, gerenciam, analisam e distribuem informações não só internamente, como também para o
ambiente externo à organização (incluindo ferramentas de business intelligence (BI), gestão de conteúdo,
datawarehouse, gestão de dados e informações).
Portais possuem infra-estrutra capaz de proporcionar a interação do cidadão com o gestor
público e, quando associados à tecnologia BI, proporcionam métodos e ferramentas capazes de auxiliar o
gestor público no processo de analise dos dados. Com base nessas análises, o gestor define estratégias
para elaboração e execução de ações (JAMIL, 1999, p.10).
A idéia do sistema pode ser acompanhada pelas figuras abaixo.

Figura 2: Acesso ao Portal

Elaboração: Autor

A abordagem é, munido de cadastro prévio, onde o cidadão será informado do seu login e senha,
ocorre o acesso ao portal de informações desenvolvido pela prefeitura. Ao efetuar o login, utilizando o
Cadastro de Pessoa Física (CPF), o sistema, automaticamente, segmenta as questões de interesse do
cidadão, de acordo com as áreas temáticas, em razão do georeferenciamento 1 do município. As áreas
temáticas são:

¾ Infra-estrutura,
¾ Agronegócios,
¾ Desenvolvimento Econômico e Tecnológico,
¾ Meio Ambiente,
¾ Social,
¾ Educação,
¾ Saúde,
¾ Organização do Lazer.

O cidadão, então, seleciona cada uma das áreas temáticas, onde haverá uma série de questões
relacionadas à área em análise. Questões essas que já serão definidas em algum estudo previamente
realizado, como uma agenda. Por exemplo, na área de infra-estrutura o cidadão pode opinar sobre
questões relacionadas à mudança sugeridas ao trânsito, questões relacionadas ao saneamento,
fornecimento de energia, etc. em suma, questões pontuais com opções de respostas objetivas (múltipla

1
Os cidadãos só responderão a questões relacionadas ao seu bairro, ou região.
escolha). Da mesma forma, o cidadão terá um espaço para sugerir ou relatar problemas, sendo que esse
campo não possui uma pré-opção, o cidadão terá que redigir um texto.

Figura 3: Exemplo questionário: Área de Organização do lazer

Elaboração: Autor

Propõe-se, para solucionar possíveis dificuldades que possam ocorrer pelo uso da análise textual,
em decorrência das diferentes formas de representação do conhecimento, um buscador que analise as de
informações de forma contextualizada, através de ontologias. A ontologia é “uma ferramenta de
inferência poderosa. Nossa linguagem e raciocínio estão carregados de analogias" (KELSEN, 1984). A
extração da informação 2 , por meio de vocabulário controlado, possibilita que expressões (termos
técnicos) não previstas explicitamente possam ser recuperadas pelo sistema mesmo utilizando a
linguagem coloquial, e vice-versa.
As informações, muitas vezes, serão fornecidas em linguagem coloquial, e o sistema fará a
identificação automática das informações relevantes, através de um dicionário de termos normativos, de
um vocabulário controlado e de índices. Então é feita a comparação entre os casos de entrada e os casos
da base, sendo possível o refinamento das informações da busca. Havendo a possibilidade da visualização
do resultado via análise gráfica. As informações disponibilizadas pelos cidadãos serão amarnezenadas em
banco de dados.
Soares (2003) define base de dados (BD) como uma fonte a qual pode-se extrair significativas
informações derivadas e relacionadas com eventos do mundo real. Mas, é preciso identificar corretamente
os dados que serão armazenados, além da forma como eles serão representados, buscando facilitar a
usabilidade do usuário final.
Após identificar os dados relevantes, o sistema integra e consolida as informações indexadas ao
BD, buscando informações que estejam relacionadas a fontes heterogêneas e externas, tendo por base
sumários e filtros, além de limpar os dados, para fornecer análises que dêem suporte à decisão (SOARES,
1998).
A integração dos sistemas e a definição de um Data Warehouse (DW), aliados a outras
ferramentas de Business Intelligence (BI), que são largamente utilizadas na área privada, mas podem
auxiliar na construção de estratégias e até de serviços de inteligência para a gestão pública, resultariam
em uma infra-estrutura adequada para a gestão do conhecimento.

2
Via RC2D® e PCE® (HOESCHL, 2003) (HOESCHL, 2001)
Sistemas de workflow auxiliariam no processo de mapeamento do fluxo de informações, desde as
informações capturadas pelo Portal até o seu acesso, via DW, pelo gestor público. Sistemas de workflow
mapeiam fluxos de informações e tornam visíveis o conhecimento presente em processos padrões, sendo
uma importante ferramenta para a codificação formal de conhecimentos existentes (Carvalho, 2001).

Figura 4: Banco de Dados

Elaboração: Autor

Os dados obtidos pelo portal passariam por uma série de tratamentos, desde o workflow e as
ferramentas de Business Intelligence até o seu armazenamento em Data Warehouse. A estrutura da base
de dados favorece a criação de relatórios e análise de grande variedade de dados, além da facilidade de
obter informações estratégicas para a tomada de decisão.
O conteúdo e a estruturação das informações vão ser desenvolvidos de acordo com a necessidade
específica de cada analista, levando em consideração uma estrutura de design fácil e flexível, vital para
obtenção de melhores resultados. Na referida proposta, as informações serão estruturadas em módulos de
informação, que serão segmentadas de acordo com os tópicos relacionados às áreas temáticas. A partir
dessa estrutura, cria-se um banco de dados relacional, com respostas rápidas e informações organizadas.
O desenvolvimento de um portal interativo, como o demonstrado neste trabalho, tende a
amenizar a baixa participação da sociedade durante o processo de planejamento municipal. Em suma, o
portal viabilizaria ao cidadão uma maior participação na escolha das prioridades do gasto público.
Em um segundo momento, a alimentação de uma base de dados, pelo cidadão, aumentaria a
percepção da prefeitura em relação a real situação do município, bem como um maior conhecimento das
demandas mais pontuais da sociedade, evitando, assim, situações cotidianas dos municípios, onde o
recurso público é gasto de forma ineficaz.
O sistema também auxiliaria no processo de elaboração e execução do planejamento, pois o
tratamento dos dados indexados a base reduziria o tempo de análise entre eles. Além de permitir a
construção de relações, de forma a identificar fatores que estejam associados aos problemas do município,
bem como a fatores que estejam inibindo o desenvolvimento das potencialidades. Conforme exemplifica
a figura abaixo:
Figura 5: Exemplo de Tomada de Decisão

Elaboração: Autor

Por fim, o sistema poderia proporcionar uma maior transparência durante a execução do
planejamento, pois o portal teria infra-estrutura para disponibilizar informações referentes às metas dos
objetivos, assim como os recursos já empenhados para a execução dos mesmos. Além de permitir a
constante atualização da base e o reajuste das expectativas de acordo com o a execução do planejamento.
Como ponto negativo em relação ao sistema, cita-se a exclusão digital. Pois as classes que não
possuem computador com acesso a Internet continuariam com a mesma dificuldade em exercer a sua
cidadania. Mas, nada impede a continuidade das reuniões em espaços físicos em comunidades mais
carentes, bem como a elaboração e execução de um amplo projeto de inclusão digital, que pode ser parte
integrante desde projeto de modernização da administração pública.
Como fator positivo, além dos já abordados pelo trabalho, cita-se as facilidades de obtenção de
crédito para a modernização da administração pública municipal. Destaca-se, dentre as linhas de
financiamento, o PMAT – Programa de Modernização da administração tributária e gestão dos setores
sociais básicos.
O PMAT é uma iniciativa do BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e
Social, visando à “melhoria da qualidade do gasto público dentro de uma perspectiva de desenvolvimento
local sustentado [...] e na melhoria da qualidade e redução do custo praticado na prestação de serviços nas
áreas de administração geral...” (BNDES). O PMAT possui linha de financiamento subsidiada, sendo que
o custo financeiro não ultrapassa os 8%aa, sendo que o gestor público possui um prazo de carência de até
24 meses e um prazo de amortização do capital de até 96 meses.

CONCLUSÃO

É inegável que soluções em TIC´s tendem a aumentar a eficiência e a eficácia da aplicação dos
recursos públicos. Da mesma forma, é inegável o fato de que a revolução da TIC´s trouxe um novo
paradigma para a economia. E quem não se adaptar a essa nova realidade está fadado a, cada vez mais, ter
maiores custos para o fornecimento de serviços ou execução de tarefas administrativas.
O setor público, em especial a administração pública municipal, atualmente, está incorporando as
ferramentas de TIC´s as suas rotinas diárias, embora seja uma modernização tardia, visto que o setor
privado da economia já utiliza grande parte dessas soluções, por entender que elas auxiliam na gestão dos
recursos e na formulação de estratégias. É verdade, que grande parte dessa modernização é decorrente da
austeridade da lei, em especial a LRF, que impõe mais responsabilidade e transparência na utilização dos
gastos públicos.
A participação da sociedade durante o planejamento público municipal é de vital importância
para o desenvolvimento, visto que a participação ativa da sociedade garante o acesso a um numero maior
de informações, além de ser uma questão de cidadania, pois o cidadão está participando ativamente da
construção do futuro da cidade onde mora.
Soluções em TI, como as apresentadas neste trabalho, podem se configurar como importantes
vias de acesso ao desenvolvimento, pois elas induzem, ao mesmo tempo, a participação mais ativa da
sociedade e a alocação mais eficiente e eficaz dos recursos, através do tratamento dos dados e da relação
identificadas entre eles.
As fontes de financiamento para projetos de modernização da administração pública municipal
também merecem especial atenção dos gestores públicos municipais. Investimentos em TI têm um custo
relativamente alto, seja na aquisição de softwares ou de equipamentos. A existência de fontes de
financiamento tende a reduzir o impacto desses investimentos nas contas públicas, pois a amortização dos
mesmos ocorre, normalmente, após o prazo de implantação dos sistemas que, por sua vez, pode ter gerado
um aumento de receita decorrente do aumento da eficiência.

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AÇÕES DE GOVERNO ELETRÔNICO PARA A
PREFEITURA MUNICIPAL DE LAGUNA A PARTIR DA
MODERNIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
MUNICIPAL

Thiago Paulo Silva de Oliveira


Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas
Santa Catarina, SC – Brasil
thiago.paulo@ijuris.org

Aline Torres Nicolini


Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas
Santa Catarina, SC – Brasil
aline.nicolini@ijuris.org

Sonali Molin Bedin


Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas
Santa Catarina, SC – Brasil
sonali.bedin@ijuris.org

Tânia Cristina D`Agostini Bueno


Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas
Santa Catarina, SC – Brasil
tania.bueno@ijuris.org

Nauro Martins Pinho


Secretaria de Administração, Fazenda e Serviços Públicos – Prefeitura de Laguna
Santa Catarina, SC – Brasil
secfinancas@laguna.sc.gov.br

RESUMO
O presente artigo aborda a temática de projetos de modernização da administração pública local suportados pelas
Tecnologias da Informação, aplicado na Prefeitura Municipal de Laguna (PML), em Santa Catarina. Fez-se uma
abordagem teorica sobre os problemas comumente enfrentados pelas prefeituras, bem como as dificuldades
enfrentadas pelo cidadão, que demanda os serviços oferecidos pelo governo. Entretanto, o governo também é
prejudicado pela carência de recursos de tecnologia da informação, pois o alto grau de burocratização emperra
processos e eleva o custo e o tempo das atividades rotineiras, além de prejudicar a tranparência das ações do
governo. O trabalho aborda, também, a temática da arrecadação tributária e a aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal no ano de 2000, que impôs uma série de regras que devem ser seguidas pelo gestor
público, sendo que grande parte delas podem ser facilmente executadas com a utilização da tecnologia da
informação. O artigo faz essa abordagem com a PML, mostrando os pontos de saturação e as propostas para a
implantação do governo eletrônico na cidade.

PALAVRAS-CHAVE
Município, Governo Eletrônico, Arrecadação Tributária, Eficiência Governamental, PMAT

1. INTRODUÇÃO
As administrações públicas enfretam históricas dificuldades orçamentárias que dificultam sobremaneira sua
atuação, além de atrasar em índices alarmantes, os processos de modernização de suas rotinas.
O que se observa são estruturas pesadas e infra-estrutura tecnológica defasada, ou inexistente, que acarretam
morosidade na prestação de serviços aos cidadãos e dificuldades administrativas para gerir todas as atividades
intrínsecas à administração pública. Especificamente a administração pública municipal sofre os revezes de
dificuldades orçamentárias estaduais e federais, enfrentando ainda, as oscilações a que estão expostos os setores
econômicos do município.
Neste cenário, falar de iniciativas de Governo Eletrônico parece ser assunto fora de pauta ou fora de
orçamento. Porém, ações de e-Gov tendem a reduzir gastos, a melhorar a performance administrativa além de
aproximar o cidadão de seus governantes a medida que são abertos canais de comunicação mais eficazes.
Cientes desta realidade, gestores públicos têm se empenhado na adoção de sistemas e práticas informatizadas
em diversas áreas, senão em todas, o que tradicionalmente já ocorre nas empresas e corporações privadas. Por
estar na esfera pública, estas ações objetivam facilitar a coleta e o tratamento das informações, com vistas a
dinamizar a gestão pública e estabelecer condições de melhoria no atendimento aos cidadãos. Como
conseqüência, são consideráveis os benefícios alcançados pela dinâmica na adoção de processos mais modernos,
eficientes e velozes.
Entretanto, há de se ressaltar aqui que as diferenças entre a gestão privada e a pública estão principalmente
na forma como os projetos e ações são implementados. Se na gestão privada as implementações de projetos de
informatização seguem um planejamento efetivo que resulta em utilização integrada e eficiente, na gestão pública
o cenário é totalmente o oposto. Nesta, a tendência que vem se firmando é a de ações fracionadas, soluções
individualizadas e pontuais, que se mostram estanques na perspectiva de desenvolvimentos futuros, além de
dificultar as integrações de dados, tão necessárias para resultados mais satisfatórios.
Por ordem de prevalência e importância, os controles informatizados foram focados nas áreas operacionais,
tais como Contábil, Orçamentária e Tributária, além do suporte individual aos dirigentes setoriais. Neste
caminhar, cada área adotou, adaptou ou desenvolveu recursos ótimos ao seu próprio desempenho, em detrimento
de soluções integradas.
Identifica-se que estas soluções muito raramente foram ou são criadas internamente, atendendo às
necessidades e expectativas de analistas e usuários internos. De modo geral, o procedimento padrão é adotar
sistemas desenvolvidos por empresas fornecedoras de soluções de mercado, que são posteriormente
aperfeiçoados, melhorados e alterados. Estas alterações nem sempre são propostas pelos próprios usuários, mas
por iniciativa do próprio fornecedor ou ainda, no intuito de solucionar problemas que vão surgindo na utilização e
administração destes sistemas.
Comumente encontra-se sistemas com excelentes soluções localizadas, porém, deficientes na efetivação de
soluções integradas que atendam a toda a rede de serviços internos das prefeituras. Entende-se que dentro dos
princípios de Governo Eletrônico, dispobilizar e facilitar o acesso uniforme e otimizado, seja de servidores
internos como do cidadão em geral, é tarefa primordial no atual estágio da informática pública. Para tal, soluções
integradas e consolidadas em um Sistema Central de Gestão Municipal, surge como ideal para a prestação de
serviços de qualidade.
Cientes desta urgente necessidade, as administrações públicas se mobilizam no sentido de intensificar
esforços e recursos para adaptar-se a esta nova realidade composta por tecnologias cada vez mais avançadas,
crescentes e exigentes demandas da sociedade. Neste esteio, a informática pública aplicada ao uso social envolve
setores como tributos, legislação e direitos do consumidor, saúde, educação, transporte público trânsito,
segurança pública, atendimento ao público, dentre outros.
A eficácia na aplicação de recursos tecnológicos voltados a captação e integração de dados e a posterior
disseminação e acesso, são fundamentais para o desenvolvimento de projeto de reforma do Governo Municipal
que se adequa às premissas do Governo Eletrônico, voltadas ao cidadão e o bem estar da socidade a quem presta
seus serviços.

2. O GOVERNO ELETRÔNICO E OS SERVIÇOS AO CIDADÃO

Historicamente os serviços prestados pela Administração Pública Municipal tem indicativos de baixa
qualidade, morosidade e de difícil acesso. Centralizados em setores nem sempre localizados no mesmo espaço
físico, exigem do cidadão seu deslocamento ao órgão, preenchimento de formulários, atendimento a requisitos
diversos para então aguardar a prestação de serviço municipal. Vale lembrar que, inúmeras vezes o serviço nem
chega a se realizar.
Com a popularização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em todos os setores da
economia, também a prestação de serviços públicos se volta a estes recursos tecnológicos como forma de
interação entre Governo e Cidadão. A este processo que busca promover um governo mais efetivo e eficiente
com serviços públicos mais acessíveis, denomina-se Governo Eletrônico. As demandas crescentes de cidadãos
cada vez mais exigentes, no que se refere à solicitação de serviços, força investimentos maiores nesta área.
Utilizando recursos disponíveis em rede, a internet é um importante aliado do cidadão na administração de suas
atividades, uma vez que, serviços de auto-atendimento disponibilizados em rede, por exemplo, são uma forma de
dar autonomia ao cidadão.
Segundo o Conselho do Pacífico para Políticas Internacionais, “dirigentes governamentais com visão de
futuro, estão usando as tecnologias para melhorar seus governos”. Desta forma, os Governos estão automatizando
processos e interagindo eletronicamente com os Cidadãos.
Entretanto, a disparidade econômica e social que caracteriza os municípios brasileiros aponta para uma
Administração Pública Municipal ainda longe dos recursos tecnlógicos e das proposições de e-Gov. A falta da
informação em praticamente todos os setores, impede muitas vezes que o cidadão tenha acesso a benefícios
garantidos em lei. Assim, do ponto de vista da Administração Pública Municipal, a informação disponível com a
necessária velocidade é - via de regra - somente aquela que reprime ou pune o Cidadão: ele não tem direito a um
documento oficial porque deve tributos; ele é multado porque ultrapassou a velocidade permitida; ele é punido
porque perdeu o prazo de pagamento do IPTU.
Nenhuma ou quase nenhuma informação que caracterize um mínimo de respeito à cidadania está disponível
para o Cidadão comum, sem que enfrente uma fila ou sem que se dirija - pessoalmente - ao órgão público que a
detém.
Torna-se então imperativo que as Administrações Públicas adaptem-se aos novos tempos e às novas
tecnologias de modo a atender às novas demandas da sociedade que, no plano Municipal, é constituída pelos
Cidadãos, usuários dos serviços públicos de responsabilidade da Prefeitura.

3. O PROCESSO DA ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA

A aprovação da constituição de 1988 proporciona maior autonomia aos municípios brasileiros. O


município passa a configurar como ente federativo, adquirindo importante autonomia administrativa, pois a
gestão de alguns tributos passa a ser de responsabilidade do município. Desses tributos, destaca-se a importância
do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto Sobre Serviços (ISS) e o Imposto Sobre a Transmissão
de Bens Imóveis (ITBI), sendo esses os principais impostos municipais. Mas, esses impostos não são a única
fonte de recurso do município, pois alguns impostos estatuais têm parte da sua arrecadação repassada a
administração pública municipal. Dentre eles, destaca-se o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS), e Imposto sobre a Propriedade de Veículo Automotor (IPVA).
Desta forma, houve uma mudança abrupta na realidade administrativa dos municípios, pois o gestor
público passa a administrar um maior volume de recursos e, ao mesmo tempo, com mais responsabilidade.
Segundo SANTOS:

A constituição de 1988 assegurou ao Município quatro capacidades: a) de auto-


organização, por meio de uma Lei Orgânica elaborada e promulgada por sua
Câmara de Vereadores, sem interferência de qualquer espécie do Legislativo
Estadual ou Federal; b) de autogoverno, exercida pelo prefeito e vereadores
eleitos pelo voto direto e secreto; c) de autolegislação sobre assuntos de interesse
local (não mais sobre "assuntos de peculiar interesse") e sobre outros, de forma
suplementar e concorrente; e d) de auto-administração, para arrecadar os tributos
de sua competência, aplicar suas receitas e prestar serviços públicos à comunidade
local. (SANTOS, 2006, pág. 4)
Sendo assim, o gestor público municipal é dotado de maior autonomia para deliberar sobre questões
relacionadas à gestão dos tributos municipais. Da mesma forma que o gestor público municipal é responsável
pelas finanças públicas, sua gestão precisa estar de acordo com o que rege a Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF). A LRF tem impacto direto na gestão pública, pois ela prevê maior austeridade nas estimativas de receita,
além de restringir empréstimos e garantias que estejam fora dos padrões autorizados pelos órgãos competentes.
As estatísticas do TCE-SC demonstram o impacto da LRF nas contas públicas dos municípios. O gráfico 1
(OLIVEIRA, 2006) apresenta o percentual de contas municipais rejeitadas pelo Tribunal de Contas de Santa
Catarina. Destaca-se o ano de 2000, ano em quem a Lei de Responsabilidade Fiscal fora aprovada.

Gráfico1: Número de Contas que o TCE recomendou Rejeição

Número de Contas que o TCE-SC recomendou a


Rejeição
80,00%

70,00%

60,00%

50,00%
Rejeição das
40,00% Contas

30,00%

20,00%

10,00%

0,00%
1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006

Pe ríodo

Fonte: OLIVEIRA (2006)

A LRF estabelece normas que regem a gestão pública municipal e a condução das finanças públicas. Ela
passa a configurar como um código de conduta para gestores públicos, que têm limites de gasto e devem prestar
contas do modo como foi utilizado o recurso da sociedade. A LRF dispõe de metas e ações pragmáticas de maior
transparência, que resultem em um maior equilíbrio das contas públicas. As metas estão relacioanas ao resultado
fiscal, em geral, as condições para a renúncia de receita, despesas com pessoal, concessão de garantia, dívidas
consolidada e mobília, operações de crédito e inscrição, seguridade social e restos a pagar.
A LRF, desta forma, passa a ser um importante recurso a serviço da transparência, “pois exige que o
gestor forneça as premissas econômicas, e de demais naturezas, que dão base às metas do gestão municipal e,
com isso, o cidadão sabe exatamente qual a fonte de recursos vai ser utilizada para execução de um programa.”
(OLIVEIRA, 2006)

3.1 O Programa de Modernização da Administração Tributária e Gestão dos Setores


Sociais Básicos: PMAT

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possui linha de financiamento


destinada à modernização da administração tributária e ao aumento da eficiência do gasto público. O PMAT foi
estruturado dentro da perspectiva do desenvolvimento local sustentado, onde o munícipio é estimulado a buscar
recursos estáveis e não inflacionários, reduzindo a dependência de verbas estaduais e federais, melhorar a
qualidade e reduzir os custos decorrentes da prestação de serviços nas áreas de “administração geral, assistência à
criança e jovens, saúde, educação e de geração de oportunidades de trabalho e renda.” (BNDES)
A eficiência deve ser atingida através de melhorias administrativas, capacitação dos servidores, implantação
de novos sistemas de gestão tributária, dentre outras. O quadro 1 mostra os itens financiáveis pelo PMAT.

Quadro 1: Itens Financiáveis pelo PMAT


- Tecnologia de informação e equipamentos de informática (Até 35%):
Aquisição de hardware e de redes de computação e de comunicação e aquisição e desenvolvimento de software e
sistemas de informação, inclusive para implantação e acesso à internet;
- Capacitação de recursos humanos (Até 25%):
Desenvolvimento de programas de treinamento, atualização e reciclagem de pessoal, participação em cursos e
seminários e visitas técnicas;
- Serviços técnicos especializados (Até 35%):
Execução de serviços para desenvolver atividades do projeto, inclusive sistemas de organização e gerência, base
cadastral e de tecnologia da informação;
- Equipamentos de apoio à operação e fiscalização (Até 25%):
Aquisição de equipamentos operacionais, de comunicação e outros bens móveis operacionais;
- Infra-estrutura física (Até 20%):
Adequação de ambientes físicos, através da melhoria de instalações e de programas operacionais e de
atendimento ao cidadão.
Fonte: BNDES
Elaboração: Autores

Segundo Melo (2003), a demanda pela linha de financiamento do PMAT aumentou substancialmente após a
aprovação da LRF, pois o rigoroso controle das contas públicas impôs uma nova cultura na administração
pública. O PMAT auxilia no processo de automação das informações, garantindo maior transparência do gasto
público, pois a Lei obriga a publicação on-line trimestral dos balanços. Segundo FERRER “Uma outra via de
redução de custos é decorrente da maior transparência nas ações públicas, uma vez que as brechas para a
corrupção são muito menores”.
O grande fluxo de recursos e a necessidade de planejar exigem maior controle das despesas, que pode ser
facilitado por um sistema de acompanhamento inteligente, através da integração das informações referentes à
execução dos projetos. O controle, bem como o acompanhamento, e a integração das informações são mais
facilmente geridos por intermédio da Tecnologia da Informação.
Por ser um programa de interesse do Governo Federal, o BNDES possui linha de crédito subsidiada para o
Programa de Modernização da Arrecadação Tributária, conforme tabela 1.

Tabela 1: Custo Financeiro PMAT


Custo Financeiro % aa
TJLP 6,25
Remuneção do BNDES 1,00
Taxa de Risco de Crédito 1,00
Remuneração da Instituição Financeira Credenciada Variável
Fonte: BNDES
Elaboração: Autores

O valor máximo do financimento é de 30 milhões de reais, com até 90% do valor total do projeto, de acordo
com os itens apoiáveis, para os municípios que tenham população superior a 50 mil habitantes e até 100% para
municípios com população inferior a 50 mil habitantes. O prazo de amortização do investimento é de até 96
meses, e o prazo de carência é de até 24 meses.
4. O CASO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE LAGUNA

4.1 Caracterização do Município


O município de Laguna está localizado a 120 km ao sul da capital do Estado de Santa Catarina. Segundo
estimativa do IBGE a população em 2005 é de 49.236 habitantes. Apresenta a sua economia baseada no turismo,
na pesca e na agricultura, sendo conhecida por Terra de Anita Garibaldi, Heroína de Dois Mundos.
Fundada em 1676 por bandeirantes vicentistas sob a liderança de Domingos de Britto Peixoto e seus filhos
Sebastião e Francisco de Britto, foi definida como último porto meridional seguro que apresenta garantia de
abrigo a navegação costeira. Em 1494, Laguna serviu de referência ao Tratado de Tordesilhas, acordo entre os
poderosos, Portugal e Espanha, que dividiram em fatias seus interesses expansionistas. No sec. XVIII, Portugal
conquista a colônia do Sacramento, mas acaba sitiado pelos espanhóis. Laguna torna-se então a alavanca de apoio
para o envio de tropas e alimentos. Ficava claro a opção militar de Laguna e todo o sul da colônia. O sistema de
defesa da Ilha de Santa Catarina é exemplo deste período.
Ao final do sec. XIX desenvolveu-se a exploração do carvão de pedra na serra de Lauro Muller, tornando
Laguna o principal ponto de abastecimento de carvão para o centro do país. Neste período, se inicia a imigração
italiana, alemã, e polonesa para Santa Catarina, incrementando seu desenvolvimento. Foi um período de grande
riqueza para Laguna, condição econômica para o nascimento de um novo acervo da arquitetura eclética em suas
ruas estreitas e agitadas.
Com o surgimento do Porto de Imbituba, de maior calado, e a criação de grandes rodovias, sinais evidentes
do processo de industrialização do país, Laguna perdeu sua condição estratégica, permanecendo relativamente
isolada e voltada basicamente à produção de peixes, camarões e seu pequeno comércio. Como conseqüência a
cidade preservou-se até hoje com importantes marcas da sua história, refletidas em seu traçado urbano, situação
geográfica e casarios que espelham seus diversos momentos vividos.
Primeira cidade do Sul de Santa Catarina tombada, Laguna atualmente está inscrita no "Livro do Tombo
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico" como patrimônio histórico do Brasil. Laguna possui aproximadamente
12 praias, algumas ainda não exploradas, próprias para práticas de esportes e que atraem turistas de todo país e
exterior. Na temporada de verão a população chega a triplicar em função do forte turismo atingindo um total em
torno de 130.000 habitantes durante os meses de alta temporada (dezembro a fevereiro). Voltada para o turismo, à
cidade conta com uma rede hoteleira estruturada que registra ocupação média anual de 65% segundo dados da
SANTUR-SC.

4.2 Uma proposta de implantação de Governo Eletrônico

A PML firmou Termo de Parceria com o Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas –
IJURIS, em março de 2006, para prestação de serviços de consultoria técnico científica, desenvolvimento de
projetos e treinamento, visando à concepção e operacionalização do processo de gestão. As atividades se voltam a
estabelecer melhores práticas em Governo Eletrônico, centrando a melhoria de atendimento ao cidadão via
otimização da máquina administrativa.
As soluções passíveis de serem adotadas na administração pública municipal, no que diz respeito à aplicação
de Tecnologia de Informação e Comunicação, se voltam para a atuação junto às seguintes
áreas/atividades/serviços: Avaliação e indicação de soluções para a estrutura tecnológica de suporte a produtos,
serviços e atendimento ao Cidadão; arquitetura de sistemas e de tecnologia.
As soluções são vistas como uma prática voltada à implantação de Governo Eletrônico em benefício do
cidadão. A idéia é garantir a modernização da gestão tributária do município através da criação do cadastro único
de contribuintes, de forma a ser uma fonte confiável e constantemente atualizada, abrangendo tanto o cadastro
imobiliário como mobiliário.
O projeto também prevê a compra de equipamentos e adequação do sistema de informações tributárias, além
de editar uma legislação que otimize o incremento de arrecadação, como também otimizar as rotinas e processos
de cobrança administrativa e notificação da inscrição em dívida ativa. Está prevista, também, a criação de um
controle de arrecadação por atividade econômica e a melhora na estrutura administrativa da Secretaria de
Finanças e Gestão por atividade econômica, modernizando inclusive o protocolo geral do município, e dar
formação adequada aos profissionais, a fim de prestar atendimento de qualidade aos munícipes, garantindo assim
o aumento da arrecadação dos tributos municipais.
Em uma visão global das soluções passíveis de serem adotadas na administração pública municipal, no que
diz respeito à aplicação de Tecnologia de Informação e Comunicação, foi estabelecida a atuação junto às
seguintes áreas / atividades / serviços, especificadas na figura 1 seguir:

Figura 1: Etapas do processo de modernização da PML

Elaboração: Autores

O projeto está dividido em 7 etapas, subdivididos em 3 áreas:

a) No que tange a avaliação e indicação de soluções para a estrutura tecnológica de suporte a produtos,
serviços e atendimento ao Cidadão, destaca-se:
- Portal do Governo Municipal (1);
- Central de Atendimento (2);
- Ouvidoria (3).
Segundo BALDAN “os portais normalmente são um site com padrão Web, seja em internet, extranet ou
intranet, usualmente com pouco conteúdo próprio, mas que contém links para conteúdos de diversos outros sites
ou repositórios que podem ser acessados diretamente por um clique na informação desejada dentro do portal. Os
metadados apresentados no portal são projetados para fácil acesso, como parte da tela do browser ou podem ser
encontrados seqüencialmente organizados em categorias relacionadas entre si” [BALDAN, 2005, p. 125].
O portal do Governo Municipal faria a apresentação do município, abordando aspectos históricos, culturais,
econômicos, sociais, características ambientais, físicas e geográficas da cidade, além de informações relacionadas
à Infra-Estrutura Urbana e de Serviços. Outra área seria destinada a transparência, com informações sobre:
Receitas, despesas, gastos com pessoal, investimentos em Educação e Saúde, Resultados Fiscais e Relatórios da
Lei de Responsabilidade Fiscal.
Como forma de promover o Turismo, o portal traria informações sobre os atrativos naturais e culturais da
cidade, bem como opções de serviço de restaurantes, hotéis, pousadas e campings. O portal também propõe um
canal de comunicação com o Cidadão, fornecendo informações relacionadas a Editais de Licitações, Concursos,
uma Central de Compras Eletrônicas e uma área destinada a esclarecer e solucionar as dúvidas dos cidadãos.
b) Relativamente à arquitetura de Sistemas:
- Avaliação dos Sistemas Setoriais (4);
- Proposta de Integração de sistemas (5);
- Desenvolvimento de sistema integrado de gestão (5).
Essa etapa condensa a realização de mapeamento e diagnóstico da situação dos principais processos, bem
como o diagnóstico das diretrizes estratégicas de TI. Além dos diagnósticos, será realizado o mapeamento e
avaliação dos sistemas de informação utilizados, tais como: interfaces, volume de dados, nível de integração das
aplicações, flexibilidade e manutenibilidade, bem como o mapeamento da arquitetura de tecnologia. Destaca-se,
nessa etapa, a proposta de um sistema para a concepção e operacionalização de solução integrada de gestão do
conhecimento, baseada nos princípios de inteligência artificial, materializada pela identificação, documentação,
controle, otimização e integração dos processos de trabalho.
c) Quanto à arquitetura de tecnologia:
- Avaliação de Hardware, software e Intranet (6);
- Avaliação e propostas de uso da Internet (7).

Munidos do diagnóstico, fica possível estabelecer uma proposta de integração de sistemas, cabendo ao
IJURIS prospectar, no mercado, quais os sistemas mais indicados para a PML, onde o instituto recomendará os
hardwares e softwares que se enquadrem ao perfil do município, bem como o planejamento de capacidade e
análise de investimento requerido.

4.2.1 O STATUS DO PROJETO

O projeto para modernização da PML iniciou suas atividades com o levantamento do ambiente
organizacional referente ao inventário tecnológico e financeiro, visando identificar as necessidades da prefeitura.
Nesse intuito, através de um breve diagnóstico da PML, foi elaborada uma proposição de melhores práticas, que
pretendem estabelecer medidas que poderão viabilizar melhoria de efeito imediato.
De acordo com as expectativas da PML, colhidas através de entrevistas com representantes da prefeitura
e plano de governo do prefeito municipal, foram priorizadas as ações de melhoria do atendimento ao cidadão.
Nesse sentido foram apontadas as seguintes questões:

- Protocolo: dificuldade de visualização da tramitação de processos na prefeitura.


- Controle de Processos: No sistema atual de protocolo não existe controle sobre o andamento/acesso aos
pareceres dos processos na prefeitura, nem acesso centralizado dos mesmos.
- Ouvidora: não existe.
- Processos Tributários: dificuldade de controle de processos tributários, como controle a baixa dos
Demonstrativos de Arrecadação Municipal (DAM) e também pouca velocidade na resolução de
problemas dessa natureza, entre outros.

As medidas de implantação sugeridas foram:

• Disponibilização do Portal do Consumidor Catarinense e instalação no PROCON Municipal.

Para melhorar o atendimento ao cidadão, no que se refere ao Direito do Consumidor, se propôs a


disponibilização do Portal do Consumidor. Esse Portal terá logotipo da PML e representará uma das ações da
prefeitura junto ao PROCON Municipal. O Portal do Consumidor Catarinense poderá ser acessado pelos
cidadãos via web ou no próprio PROCON Municipal. O Portal contém informações relevantes sobre os direitos
do consumidor e esclarecimento de dúvidas.

• Implantação de ouvidoria on-line ao cidadão através de formulário disponível no site da PML.


No processo de ouvidoria propõe-se a instalação de um formulário eletrônico junto ao site oficial da PML, a
princípio ele pode estar relacionado somente a questões tributárias. Porém é importante ressaltar que as
reclamações oriundas dessa ouvidoria devem ser respondidas em prazo máximo especificado na prefeitura,
devidamente informado na página.

• Controle e acesso de pareceres centralizado.

No que se refere ao controle dos processos, propõe-se que um servidor trabalhe na centralização dos
pareceres, através do recebimento dos mesmos pelo e-mail, tendo em vista que todos os pareceres são elaborados
digitalmente. Para tanto, caberá aos servidores que emitem os pareceres digitalmente mandar ao servidor
responsável pelo controle.

4.2.2 MODELAGEM DO SISTEMA

Após a execução das medidas de implantação imediata, iniciar-se-á o processo de modelagem do sistema, tendo
seu escopo na Secretaria de Gestão e Administração, sendo, posteriormente, expandido para as outras secretarias.

O sistema deve apresentar as seguintes características:

• Protocolo: esse protocolo emitirá um número de processo para acompanhamento pelo cidadão e
mapeamento do mesmo na prefeitura.

• Controle dos Processos: o sistema permitirá que todos os pareceres sejam disponibilizados digitalmente,
isto é, além de localizar todo o trâmite do processo na prefeitura será possível acessar os pareceres.
Quando a área que terminar o seu procedimento interno no processo, esse através de mecanismo
automatizado avisará o protocolo que será responsável pelo imediato encaminhamento do processo a
outra área competente.

• Ouvidoria: nesse módulo serão recebidas as reclamações dos cidadãos e encaminhado aos órgãos
responsáveis. Na sua operacionalização aconselha-se que cada Secretaria tenha um prazo máximo para
resposta da ouvidoria sob o risco de sofrer alguma sanção (orçamentária, financeira, etc.). Caso a
reclamação não seja da instância da PML aconselha-se que seja encaminhada uma resposta indicando o
órgão competente que pode solucionar a questão.

• Relatório de Atividades: O sistema emitirá relatório contendo quantidade de processos resolvidos por
secretaria e tempo de resolução.

• Controle de Acesso aos usuários: Os usuários do sistema terão acesso diferenciado aos dados do sistema.

• Formação de Base de Conhecimento: O sistema permitirá a busca de documentos na base de


conhecimento, podendo recuperar resoluções de problemas semelhantes.

A figura 2 mostra o fluxo de informações entre as secretarias:


Figura 2: Fluxo de informações da PML

Elaboração: Autores

4.3 SISTEMAS DE TRIBUTAÇÃO

O levantamento realizado demonstra que o sistema de tributação da PML é extremamente crítico, já que
apresenta uma deficiência estrutural grave na composição dos cadastros, é fraco no suporte ao setor de
fiscalização e não possui integração com os sistemas de contabilidade e de controle de processos.
No que diz respeito aos cadastros, mantém simultaneamente três bases de dados distintas e sem relação
entre si, sendo cada uma delas orientada para um tipo de tributo: um cadastro para o IPTU, um cadastro para o
ISS e mais um cadastro para Taxas e Multas, conforme demonstrado na Figura 3:

Figura 3: Sistema de Cadastro da PML

Elaboração: Autores

Esses cadastros são independentes, cada um deles registrando os dados do contribuinte, conforme a
ocorrência do tributo. Assim, um mesmo contribuinte pode constar em um, dois ou três cadastros, não sendo
necessariamente mantidos dados idênticos em cada um deles, já que as entradas são independentes.
Como existem falhas na consistência dos dados por ocasião do cadastramento, são inúmeros os casos de
cadastros incompletos (sem nome completo, sem endereço, ausência de CPF/CGC, dentre outros) e, também,
divergências entre os dados registrados de um mesmo contribuinte nos vários cadastros.
Esta situação se reflete diretamente nas atividades relacionadas com a fiscalização, que muitas vezes não
consegue identificar e/ou localizar o contribuinte. Como, além disso, o sistema disponibiliza poucas informações
que orientem a fiscalização, fica impossibilitada uma ação fiscal eficiente, em detrimento da arrecadação.
Outro fator importante a considerar é a não integração da Tributação com a Contabilidade, ocasionando
divergências entre as informações financeiras obtidas em cada um dos sistemas. Enquanto o Sistema de Tributos
efetua controles a partir das fichas de arrecadação pagas pelos contribuintes, a Contabilidade registra os dados
fornecidos pelos Bancos, não havendo batimento entre estas informações.
A situação é ainda mais grave no caso das multas e taxas, onde as fichas para pagamento em banco, em
muitos casos, são emitidas por processo manual, sem registro no sistema, inviabilizando o fechamento
Tributos/Contabilidade, já que o movimento informado pelo Banco será sempre maior que aquele gerado pelo
sistema.
É o caso, por exemplo, do Sistema de Protocolo e Controle de Processos. Como não existe integração e
as guias para pagamento de taxas são emitidas manualmente, fica prejudicado o controle de fechamento
financeiro, uma vez que essas taxas serão recebidas e informadas pelo Banco, e contabilizadas, mas não foram
geradas e, portanto, não possuem qualquer registro no sistema de Tributação.
Existe projeto na Prefeitura para a busca de uma nova solução para o Sistema de ISS, considerando as
inúmeras deficiências do sistema atual. Deve ser considerado, no entanto, que se a solução adotada mantiver a
característica de não integração, mais problemática poderá se tornar a situação, agravando ainda mais os
controles financeiros.
Também existe proposta para uma atualização cadastral, objetivando sanar as atuais deficiências
cadastrais e compatibilizar os cadastros com a atual realidade do município, conseqüentemente ampliando a base
tributária. A proposta é plenamente justificável e necessária, porém devem ser levadas em conta falhas no sistema
atual, que permitem inconsistências nos dados por ocasião do cadastramento. Assim, se para as atualizações for
utilizado este mesmo sistema, independentemente do esforço realizado, grande será a possibilidade de não serem
obtidos resultados totalmente satisfatórios, já que inconsistências novamente poderão vir a ocorrer,
comprometendo o trabalho de cadastramento.
A figura abaixo configura uma figura mais adequada para o sistema de cadastro de contribuintes.

Figura 4: Proposta para o Sistema de Cadastro da PML

Elaboração: Autores

A figura apresenta um modelo integrado, com a utilização de um cadastro único, como suporte para todos os
sistemas que tratam de tributos, de modo que a Prefeitura enxergue o contribuinte como entidade única vinculada
a diversas obrigações tributárias.
Importante frisar que esta é uma visão setorial, porquanto o Cadastro Único deve atender a todos os sistemas
existentes na Prefeitura e não somente aqueles voltados para a tributação. No entanto, comparativamente com a
situação atual, o fato de existir um único cadastro para os tributos já representaria ganhos significativos, pois
eliminar-se-ia divergências ocasionadas por vários cadastros existentes hoje na prefeitura.
4.3.1 Ações para modernização do sistema tributário

a) Cadastro Técnico Multifinalitário:

Com a última atualização ocorrida em 1998, este cadastro encontra-se totalmente defasado da atual
realidade do município, em razão da expansão urbana ocorrida no período, fazendo com que grande parte dos
contribuintes não sejam notificados para o pagamento de impostos, trazendo por conseqüência, uma significativa
perda de receita para o erário público.

No sentido de regularizar tal situação, ampliando a base tributária, está sendo desenvolvido projeto
objetivando a atualização do Cadastro, envolvendo:

ƒ Levantamento, revisão e atualização dos Cadastros, Código Tributário e Planta Genérica de


Valores – Estudos para modernizar, verificar impactos e adequar à situação atual das informações
existentes.

ƒ Cadastro Imobiliário – Novo cadastramento dos imóveis e contribuintes (proprietários de


imóveis).

ƒ Cadastro de Logradouros – Recadastramento das vias públicas, parques, praças e demais


equipamentos de serviços públicos, atualizando a infra-estrutura existente no perímetro urbano.

ƒ Cadastro de Parcelamentos – Recadastramento dos parcelamentos do solo, loteamentos,


desmembramentos ou remembramentos, aprovados pelo município, com os dados necessários a
sua identificação.

ƒ Cadastro de Condomínios – Recadastramento dos condomínios verticais e horizontais.

b) Cartografia Digital

Complementarmente a atualização do Cadastro, pretende o município implementar o processo de


Cartografia Digital, em substituição ao processo atual de consulta a plantas impressas que é extremamente
deficiente, seja pela utilização de plantas totalmente desatualizadas, como pela dificuldade no manuseio e guarda
desses documentos.

O projeto proposto abrangerá as seguintes etapas:

ƒ Implantação da rede de Referência Cadastral;


ƒ Levantamento Planialtimétrico Cadastral;
ƒ Fotografias aéreas digitais.

c) Atualização do Sistema de ISS

Substituição do atual Sistema de Controle do ISS por um sistema de informação mais moderno, que
disponibilize amplos recursos para a cobrança do imposto e permita uma atuação mais eficiente nos
procedimentos e no planejamento da atividade fiscal.

d) Sistema Integrado de Gestão

Implementação de um Sistema Integrado de Gestão objetivando a obtenção de informações consolidadas a


partir das bases de dados setoriais mantidas pelos diversos sistemas existentes na Prefeitura, com a finalidade de
fortalecer a tomada de decisões pelos gestores da administração pública municipal e prestar serviços aos
cidadãos.
Conforme citado na avaliação individual dos sistemas administrativos, não existe integração entre eles,
com reentrada de dados sempre que lançamentos devem ser trocados. Indesejável por gerar retrabalho, a falta de
integração pode ainda levar a ocorrência de falhas nos processos, por exigir um elevado grau de procedimentos
manuais, mais suscetíveis a erros. A Figura 5 abaixo é representa um processo integrado, onde os sistemas
interagem entre si e com a contabilidade, núcleo central do processo, como receptáculo dos lançamentos
contábeis relativos aos registros gerados nos sistemas setoriais. Esta é a solução que deve ser buscada, para tanto
cabendo a readequação dos sistemas ou, se for o caso, a substituição de algum deles.

Figura 5: Modelo de Processo Integrado

Elaboração: Autores

e) Home Page

Desenvolvimento de nova Home Page para a Prefeitura, em substituição a atual, propiciando mais
informações institucionais, notícias da administração municipal e disponibilizando mais informações e serviços
aos munícipes.

f) Ouvidoria

Criação e manutenção de um canal permanente de comunicação entre a Administração Municipal e o


cidadão, para a manifestação pelo cidadão acerca das atitudes e práticas governamentais.

g) Rede de Comunicação de Dados

Este projeto prevê inicialmente, a implantação de rede de comunicações de dados interligando todos os
órgãos da administração pública municipal. Atualmente existem três pontos interligados, compreendendo o
prédio central da Prefeitura, a Secretaria da Saúde e Educação/Biblioteca. Pelo projeto, passarão a se conectar a
rede 6 (seis) escolas, 14 (quatorze) postos de saúde e a Secretaria de Obras e Saneamento.
Posteriormente, está em estudos a utilização desta rede, com alcance expandido através da instalação de
novas antenas, de modo a cobrir todo o município, através de uma Wireless LAN, também conhecida como Wi-
Fi, disponibilizando aos munícipes o acesso público à Internet em banda larga através de uma rede sem fio de alta
velocidade.

CONCLUSÃO

Não resta dúvidas da importância das TICS para a gestão pública municipal, pois além de garantir processos
mais dinâmicos, ainda garantem maior transperência na aplicação dos recursos públicos. O uso das TICS pelas
prefeituras torna a alocação dos recursos mais eficientes e reduz a dependência financeira do governo municipal,
em relação ao governo estadual e a união.
Entretanto, a falta de recursos é uma realidade dos municípios brasileiros, comprometendo as finanças
públicas municipais e a oferta de serviços ao cidadão. A aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal promove
uma maior austeridade na gestão pública, prejudicando ainda mais a oferta de serviços em contrapartida de um
maior controle das contas públicas.
Os governos municipais deveriam dar mais atenção ao PMAT, pois há recursos disponíveis a baixas taxas de
juros, longo prazo de amortização e carência, tornando viável o financimento da modernização municipal, visto
que o ganhos de receita auferidos pelo aumento da eficência podem gerar caixa suficiente para amortizar e pagar
os juros do financiamento.
No caso da PML os recusos do PMAT poderiam ser utilizados para o desenvolvimento de um software de
gestão do conhecimento, que permitisse a modernização do sistema tributário e o desenvolvimento de um portal e
uma ouvidoria de apoio ao cidadão.
Constatou-se que a PML enfrenta dificuldades na gestão interna, de tributos e na disponibilidade de
informações aos cidadãos. A proposta de modernização da administração pública municipal contempla a
modelagem de um sistema capaz de intregrar as bases de dados do município, bem como a base de cadastro dos
contribuintes.
Contempla-se, também, uma proposta referente ao georefenciamento do município, na intenção de atualizar
o cadastramento de imóveis e a revisão dos valores referentes aos mesmos, podendo gerar ganhos de receitas
decorrentes da atualização dos valores do IPTU, um dos principais impostos municipais. A substituição do
sistema de gestão do ISS também foi contemplado pela proposta, visto que o atual sistema não promove uma
arrecadação eficiente.
A implantação do governo eletrônico no muncípio pode proporcionar ganhos de receita, uma maior
transparência da gestão pública, além de garantir uma maior receita e consequente aplicação dos recursos em
setores sociais básicos.

REFERÊNCIAS

BNDES. Programas. Disponível em < http://www.bndes.gov.br/programas/programas.asp > Acessado em 06 de


janeiro de 2007.

FERRER, Florência. Governo Eletrônico como Ferramenta de Desenvolvimento. Disponível em <


http://ce.mdic.gov.br/ftp/publico/EGOVFLORENCIAFERRER.doc > Acessado em 10 de setembro de 2007

IBGE. Censo demográfico 2000 : características da população e dos domicílios : resultados do universo. Rio
de Janeiro: IBGE, 2001. 519p.

MELO, Eduardo Bandeira de. Megabites da Transparência. Disponível em <


http://www1.serpro.gov.br/publicacoes/tema/156/t151_08.htm > Acessado em 10 de setembro de 2007

OLIVEIRA, Thiago Paulo Silva de. Planejamento Público Local e Fontes de Financiamento para Projetos de
Desenvolvimento: A Evidência no Caso de Florianópolis. 157 f. Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências
Econômias. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.

SANTOS, M. S. P. Ângela, MATTOS, P. Liana. Reformas constitucionais e autonomia municipal no Brasil.


Economía, sociedad y territorio, Vol. 5, Nº. 20, 2005 , pags. 731-752. Toluca, México.

TRIBUNAL DE CONTAS DE SANTA CATARINA. LRF: Lei de Responsabilidade Fiscal. Disponível em <
http://200.19.192.1/lrf/ > Acessado em 10 de janeiro de 2007.
O JORNAL ELETRÔNICO E A FUNÇÃO SOCIAL DA
ESCRITA

MUNIZ, Claudia Pereira


Secretaria Municipal da Educação de Curitiba - PR
claumuniz@curitiba.org.br

RODRIGUES, Marcio de Oliveira


Faculdades OPET - PR
marciokangoo@hotmail.com

VOSGERAU, Dilmeire Sant’Anna Ramos


Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PR
Dilmeire.vosgerau@pucpr.br

RESUMO
Este artigo relata a prática da construção do jornal eletrônico, com o uso de acervo literário impresso e virtual, com o
objetivo de investigar como o jornal eletrônico pode colaborar com desenvolvimento dos conteúdos trabalhados em sala
de aula e como potencializador dos temas transversais. Este sub-projeto se situa dentro de um projeto maior de formação
de professor para integração dos recursos tecnológicos na sala de aula, pela ação do professor mentor, que iniciou-se em
2006, numa parceria entre a Scretária Municipal de da Educação de Curitiba – SME e a Pontifícia Univesrsidade Católica
do Paraná - PUCPR. Aliando teoria e prática sistematizou-se o processo de desenvolvimento do projeto partindo
pressupostos teóricos para organização de conteúdos, objetivos, metodologia e critérios de avaliação, bem como da
utilização do recurso “jornal” em sala de aula. Como resultados podemos destacar, o diferencial proporcionado por este
trabalho, para os alunos participantes. Depoimentos de alunos mostram a diferença entre escrever para o professor,
enquanto produção para ser avaliada ou produzir textos dentro de seu verdadeiro contexto, o de comunicar, já que a
produção do texto jornalístico precisa considerar interlocutores reais. Estes alunos são mais fluentes, mais organizados,
explicam e sustentam suas idéias mais claramente, apreciam mais a escrita, são mais cuidadosos com aspectos como
ortografia, pontuação, gramática e vocabulário. Outro aspecto observado foi o resgate da auto-estima em alunos com
dificuldades de aprendizagem, quando puderam se manifestar com produções de seus interesses como charges,
entrevistas, textos, comentários. Isto foi observado por professores não envolvidos no projeto, mas que perceberam a
diferença provocada em sala de aula.

PALAVRAS-CHAVE
Formação de professores; expressão; informação; jornal; tecnologias; recursos tecnológicos na educação.

1. INTRODUÇÃO
Se por um lado percebemos que as tecnologias da informação e comunicação (TIC) fazem parte do cotidiano
de grande parte das crianças e adolescentes, por outro lado, pesquisas internacionais, como de Dagiene
(2003), Wilhelmsen e Enger (2003), Viens e Rioux (2001), Laferrière et al. (2000) nos mostram as
dificuldades da integração dessas tecnologias no cotidiano do professor, tendo em vista a utilização destes
recursos para favorecer o processo ensino-aprendizagem. Apontam, como alternativa na formação para esta
integração, a pesquisa-ação, sobretudo os modelos fundamentados em parcerias entre escola e universidade.
No Brasil, esta realidade é ainda mais avassaladora, visto que a pesquisa-ação implica o agenciamento de
recursos físicos, humanos e financeiros, nem sempre disponíveis para educação, em que ainda permanecem
modelos de formação baseados em oficinas pontuais de capacitação técnica, iniciados por volta dos anos 90.
Neste período, diversos modelos de integração da informática nas escolas propunham a contratação de um
técnico-especialista permanente nos laboratórios. Seguida a esta proposição, encontra-se a oferta de
capacitações técnico-pedagógicas pontuais. Contudo, conforme demonstramos mais adiante, algumas
pesquisas mostram que apenas a contratação de um técnico-especialista e capacitações técnico-pedagógicas
isoladas não são suficientes para que ocorra uma integração efetiva das Tecnologias da Informação e
Comunicação às atividades pedagógicas realizadas cotidianamente pelo professor.
Após oito anos de implantação de recursos tecnológicos em suas escolas, a na Secretaria Municipal da
Educação de Curitiba – SME confirma essas pesquisas e avança propondo um novo modelo de formação, no
qual se pretende passar da “capacitação na” utilização dos recursos, para uma “formação para” integração dos
recursos à prática pedagógica.
Desde 1998, a SME vem desenvolvendo ações que visam propiciar o acesso às novas tecnologias no
processo ensino-aprendizagem a todos os alunos da rede municipal de ensino de Curitiba, bem como
possibilitar a utilização dessas ferramentas pela comunidade.
Tudo começou com o projeto Digitando o Futuro, por meio do qual a SME disponibilizou recursos para a
implementação de laboratórios de informática com conexão à Internet em todas as suas escolas. Até 2007
foram implantados laboratórios na totalidade das 171 escolas da rede. Além dos laboratórios, seguindo a
premissa de oferecer novos recursos ao público atendido nas escolas municipais, no ano de 2003 todas as
escolas receberam kits tecnológicos Lego e Robótica, como mais um recurso para ser utilizado no processo
ensino-aprendizagem.
A partir do ano de 2002, a SME percebeu a necessidade da criação de um serviço interno que atendesse à
utilização pedagógica desses recursos tecnológicos disponíveis nas escolas: a gerência de Tecnologias
Digitais. Essa gerência passou a oferecer capacitação a todos os profissionais da educação. Até o ano de 2006
foram capacitados em média sete mil e quinhentos profissionais no uso dos recursos tecnológicos.
São ofertas mais de 30 oficinas diferentes para integração da tecnologia na prática pedagógica do
professor, entre elas, está a utilização do Lego e Lego-Robótica, da Linguagem Logo , do Portal Cidade do
Conhecimento e Internet, Softwares Educacionais e Office/OpenOffice, e do software para produção do
jornal eletrônico escolar “Extra, Extra!”.
Essas capacitações são planejadas para que os professores se apropriem dos recursos das Tecnologias da
Informação e da Comunicação, tanto para uso diário e pessoal como para o desenvolvimento de ações
pedagógicas (CURITIBA, 2006). No entanto, o que mostra a realidade é que somente a capacitação não
garante a utilização dessas ferramentas. Conforme pesquisa realizada no final do ano de 2004 (CURITIBA,
2004), os professores ainda se sentem inseguros ao trabalhar com seus alunos no laboratório.
Outra pesquisa realizada pela SME (CURITIBA, 2005) demonstrou que durante o período em que os
professores participam de uma capacitação, sentem-se mais seguros para o uso dos recursos na sala de aula,
no entanto, quando esta termina, a insegurança retorna e eles voltam a realizar suas atividades com seus
recursos tradicionais. Este resultado se assemelha aos da pesquisa apresentada por Wilhelmsen e Enger
(2003), na qual os autores sugerem que, para que a integração aconteça, existem fatores relativos à mediação
a serem considerados:
1. fatores de ordem pessoal: competência, motivação e atitude;
2. fatores de reforço: valorização e clima social;
3. fatores habilitadores: o acesso a computadores e tempo destinado ao planejamento e colaboração.
Com base no diagnóstico das pesquisas e na literatura científica da área, a SME e a Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, por meio de um convênio de colaboração Técnico-Científica, propôs um
novo modelo de qualificação em serviço, tendo como princípio o conceito de mentoring, ou seja, a formação
com o acompanhamento do mentor. Propõe-se uma passagem da “capacitação” para a “formação”, processo
no qual se pretende “aprofundar os conteúdos apresentados em um eventual treinamento, transformando-o,
verdadeiramente, em uma formação plena” (SANTOS, 2004, p. 1). Dessa forma, o professor-mentor tem o
apoio necessário para replicar com seus pares, na sua unidade, o conhecimento aprendido como participante
do projeto. Assim, oferecemos, àqueles professores de sala de aula que se sentem inseguros, um parceiro que
está dentro do seu contexto escolar e que pode ajudá-lo a aprender junto com os alunos.
Cada professor que atua no laboratório de informática, em parceria com o professor regente, planeja a
integração dos recursos aos conteúdos trabalhados em sala de aula, para em seguida aplicar a proposta
durante o semestre. Este processo é acompanhado virtualmente, por meio do ambiente virtual TELEDUC, e
presencialmente, por meio de encontros em grande grupo e individuais, com a equipe da SME.
Além das questões de investigação propostas no projeto, cada professor elabora seu próprio foco de
investigação. Neste trabalho, pensando nas potencialidades do recurso “Jornal Eletrônico Escolar Extra-
Extra” em sala de aula e nas suas características de meio de comunicação com grande capilaridade na
sociedade é que nos propusemos a investigar como o jornal eletrônico pode colaborar com desenvolvimento
dos conteúdos trabalhados em sala de aula e como potencializador dos temas transversais?

2. A CONCEPÇÃO DO PROJETO “JORNAL ELETRÔNICO ESCOLAR


EXTRA, EXTRA!”
Com a proposta de criar e produzir jornais eletrônicos para publicação em página de acesso restrito da web, a
Prefeitura de Curitiba implantou em 2001 o “Projeto Jornal Escolar!”.
De caráter aplicativo, o Projeto foi concebido para a inserção do texto jornalístico nos ciclos de ensino
fundamental das escolas da Rede Municipal de Ensino. Nesse contexto, foram os alunos os responsáveis pela
produção dos textos, “e o papel do professor foi fundamental e se fez presente na orientação e mediação da
proposta pedagógica e do uso da ferramenta jornal na escola” (CURITIBA, 2005, p.06).
O modelo utilizado se baseou em conceitos contidos nas Diretrizes Curriculares da RME, que define que
a produção textual vai muito além de um modelo de ferramenta transmissora do código, mas de
transformação do sujeito. “Apropriar-se da língua significa compreendê-la, como indispensável para que o
homem se constitua como sujeito social” (CURITIBA, 2004a, p. 03-04).
A intenção explicitada, quando o projeto foi construído, apontava para que houvesse uma aproximação do
aluno com o texto e que, por meio dessa ação, ele aprendesse não apenas a ler e a escrever, “mas também a
refletir sobre o objeto do estudo – o texto, com a intenção de interagir com o outro, ter prazer em ler e
escrever, utilizar a escrita para encontrar e fornecer informações, produzindo diferentes tipos e gêneros de
textos” (CURITIBA, 2004a, p. 04).
A partir das proposições contidas no projeto de criação do Jornal Eletrônico “Extra, Extra!” encontra-se
menção a se fazer uma discussão, para que o jornal seja ele confeccionado pelos alunos, como uma
ferramenta para discutir a realidade à sua volta, questões de mundo e, principalmente, levar para a sala de
aula questionamentos sobre a mídia em geral a partir do texto jornalístico disponível nos meios já existentes,
assim como os produzidos com a atividade do jornal on-line efetivado pela atividade específica.
O objetivo, quando a proposta foi construída, era dar maior possibilidade de os alunos da RME terem
momentos de reflexão sobre suas ações educativas, assim como seus pensamentos e ações, integrando essa
massa discente à integração de novas tecnologias de informação e comunicação implantada nas escolas da
Rede.
Num primeiro momento, o Projeto tinha como objetivo capacitar os professores que atendessem alunos
dos Ciclos III e IV – de quinta a oitava séries. Possibilitando uma maior comunicação entre alunos e
professores: “os jovens são estimulados a criar, estruturar, formatar, fazer a editoração e a divulgação de um
jornal virtual como forma de compartilhar conhecimentos, informações e notícias” (CURITIBA, 2005, p. 05),
da comunidade intra-muros escolar para o seu entorno.
Em 2002, primeiro ano efetivo, o “Extra, Extra!” atendia menos de dez escolas. Mas foi nesse período
que se construiu uma base para a adaptação do projeto às suas metas e propósitos. Em 2003, houve um
incremento no número de participantes, tendo sido atendidas 700 crianças e adolescentes, capacitados 21
professores e integradas 11 escolas; ao longo do processo foram ofertados três cursos e quatro oficinas.
Em 2004, o Projeto passou a atender aos alunos do Ciclo II (de primeira a quarta séries do ensino
fundamental); houve uma ampliação no projeto, que passou por e formulações e ele se transforma numa
opção com viabilidade de atingir um universo maior de indivíduos da RME.
Criado originalmente como um projeto isolado e funcionando em um sítio informativo, o “Extra, Extra!”
passou a integrar o Portal Aprender Curitiba. Foi em 2004, quando ocorreu a mudança de endereço eletrônico
(servidor), que o projeto passou a funcionar no portal da SME, que o projeto recebeu um incremento no
número de participantes: 152 professores foram capacitados que, por sua vez, atendiam a 234 alunos,
pertencentes a 35 escolas da Rede.
A transferência da página para um portal restrito, gerou problemas, os quais foram expostos no “Relatório
de Atividades do Projeto Extra, Extra!” (CURITIBA, 2004a). A demora no processo de adaptação dos
participantes (professores e alunos) retardou o início da ampliação à proposta encampada por um número
maior de participantes; outros problemas detectados decorreram da falta de habilidade técnica dos
professores no uso de recursos de informática, e à demora no início da implantação da proposta, ocorrida
somente no início do segundo semestre, retardando a publicação dos jornais virtuais de suas unidades
escolares, para esse período. Apesar dos percalços registrados, em 2004, foram produzidas e publicadas na
página web do projeto, por alunos e professores, 248 reportagens.
Em 2005, o Projeto apresentou evolução no número de participantes. Inscreveram-se no projeto 73
escolas da RME, mas por falta de estrutura no atendimento, foram selecionadas 38, com participantes de
todos os ciclos do ensino fundamental.
Naquele ano também foram elaborados procedimentos que sedimentaram mais a proposta junto aos seus
participantes. A gerência do projeto estreitou sua comunicação com as Equipes Pedagógico-Administrativas
das escolas participantes, e houve uma maior participação dos professores. Ao todo, 140 professores
aplicaram o projeto em 37 escolas da RME. Foram produzidos, ao longo do ano, 1768 textos (CURITIBA,
2005a). Desse total, no entanto, 242 se perderam por diferentes situações: problemas de conexão, ausência da
professora responsável por motivo de substituição de faltas; perda do caráter factual do texto em relação à
sua publicação, além de problemas enfrentados pelo Portal servidor no mês de agosto, o que desestimulou os
alunos no início do projeto. Indiretamente, o programa atingiu 4.200 (quatro mil e duzentos) alunos, sendo
2.000 (dois mil) como “jornalistas”. Duas escolas não publicaram no período e uma se desligou do projeto
antes do início de sua participação (Ibidem).

3. O JORNAL NA SALA DE AULA


Hoje, mais do que nunca, os meios de comunicação fazem parte da vida dos alunos, influenciam na
aprendizagem, diminuem as distâncias e invadem os lares e as escolas a todo o momento, tornando-se, muitas
vezes, donos do ambiente. Entre estes meios de comunicação destacamos o jornal.
Embora não seja especificamente uma mídia produzida para ser consumida na sala de aula, o jornal pode
ser utilizado no contexto escolar – assim como o rádio, a televisão e a internet. Sua utilidade se confirma por
“oferecer uma grande quantidade de dados, notícias e opiniões sobre temas e questões da realidade
contemporânea. São também econômicos, fáceis de conseguir, podem ser produzidos em muitas cópias e
constantemente apresentam informação atualizada”(MOREIRA, 1998, p. 97).
O jornal impresso é desde a metade do Século XX, assim como nestes primeiros anos do Século XXI,
uma alternativa a ser utilizada como material didático no processo de ensino-aprendizagem. Pesquisas
consultadas – Silva (1997), Freire (2000), Alário (2002), Mendes (2002), Slavez (2002) – apresentam número
considerável de professores utilizando esse veículo de comunicação na sala de aula como recurso didático.
Vários são os autores que têm apontado benefícios na utilização desse recurso. Mendes (2002) aponta que
a escolarização do texto jornalístico pode resgatar o prazer pela leitura; Alário (2002) defende que o jornal
levado à sala de aula aumenta o desenvolvimento, a integração e a sociabilidade do educando, assim como do
educador. Slavez (2002) direcionando sua pesquisa para o primeiro ciclo do ensino fundamental leva o jornal
para a sala de aula como forma de aproximar os alunos do meio de comunicação, familiarizando as crianças
com o produto, mas apenas como uma proposta metodológica de uso do veículo como suporte, e defende que
a aprendizagem se dá de forma prazerosa.
Já Silva (1997) aponta a leitura crítica como maneira capaz de transformar nossa sociedade. Porém, não
resgata modelos a serem utilizados nesta prática pedagógica. Em Freire (2000), o jornal é apontado como
agente promotor da relação entre comunicação e educação, mas sua perspectiva está voltada para veículos
dirigidos.
Mas para esses benefícios serem atingidos, acredita-se que o professor precisa estar preparado para o uso
do jornal como ferramenta pedagógica. Os alunos podem não folhear suas páginas ou terem o hábito de ler
suas notícias. No entanto, estão sujeitos a outros meios e ao levar o jornal para a sala de aula, o professor
pode estabelecer uma ligação entre o jornal e outros meios de comunicação.
Ensinar utilizando os meios de comunicação como ferramenta ou tecnologia educacional pode ser uma
alternativa para aproximar os alunos do cotidiano e ajudá-los a compreender seu contexto na sociedade. Isso
é importante do ponto de vista da inserção dos alunos na contemporaneidade, uma vez que a escola “precisa
estar inserida num projeto de reflexão e ação, utilizando-as de forma significativa, tendo uma visão aberta do
mundo contemporâneo (...), pois a diversidade de situações pedagógicas permite a re-elaboração do processo
ensino-aprendizagem.” (BRITO; PURIFICAÇÃO, 2006, p. 22-23).
Se levadas para a sala de aula, e bem trabalhadas pelos professores, as mídias em geral poderão promover
o encontro do jovem com o mundo à sua volta. “(...) A mensagem está no efeito do meio sobre o aluno, ou
seja, no uso do meio que ele for capaz de fazer, e é esta mensagem que a escola precisa recuperar nos alunos
para, a partir dela, realizar, completar, ampliar a aprendizagem” (PORTO, 1998, p. 29). Esse encontro poderá
oferecer uma oportunidade de os alunos terem acesso aos meios de informação, entrando em contato com
novos conhecimentos que eles contêm.
Esses meios carregam informações e conhecimentos e suas linguagens podem ajudar os jovens
desenvolver potencial, transformando-os em cidadãos críticos (FARIA, 1996). A partir daí, observa-se a
convergência entre e a Educação e a Comunicação, como atesta Soares(1999), ao criticar a desatualização
dos métodos educacionais e a perniciosidade presente nos meios de comunicação, ou seja, ambos precisam
mudar para colaborar na formação dos jovens cidadãos.
Para isto é necessário superar a visão unicamente instrumental das novidades tecnológicas, como uma
possível alternativa para superar o atual estágio no qual a maioria dos professores não as utiliza. Ampliar a
atitude em relação aos meios, que passam a ser instrumentos de apropriação do conhecimento, integrando
práticas pedagógicas e linguagens da comunicação e informação, pode ser uma saída. Ou como escreve
Moran (2000, p. 137), “uma mudança qualitativa no processo de ensino/aprendizagem acontece quando
conseguimos integrar dentro de uma visão inovadora todas as tecnologias: as telemáticas, as audiovisuais, as
textuais, as orais, musicais, lúdicas e corporais”.
O jornal poderia também encurtar a lacuna existente entre os livros didáticos, as apostilas e outros
recursos usuais, que demoram ao menos um ano para serem renovados, da realidade à nossa volta. O jornal
não os substituirá jamais. Mas será um complemento, dando suporte para que os alunos tenham parâmetros
em relação aos problemas da realidade.
Sabe-se das limitações do jornal. Ele contém em suas edições, independente do tamanho (seja em número
de exemplares ou área de abrangência), importância ou grau de penetração, informações tendenciosas, falhas
de gramática e às vezes até mesmo erros de concordância, além de uma série de outros defeitos. Mas, ao ter
contato com essas impropriedades, poderíamos estar colaborando no desenvolvimento dos futuros cidadãos.
Pois, pela leitura diária ou esporádica, eles poderão entender que esses veículos, e até mesmo outros veículos
de comunicação, carregam defeitos e vícios similares às condições do mundo à sua volta, em suas relações
individuais e coletivas ao longo de suas vidas.
Quanto a sua forma de utilização em sala de aula, Moreira (1998). argumenta ainda que o jornal poderia
ser utilizado basicamente de duas maneiras: a primeira, como objeto de estudo, e a segunda como fonte de
informações e apropriação de conhecimento.
Se optar pela primeira via, segundo o autor (ibidem), o professor poderá incentivar seus alunos a
consumir a mídia impressa de forma crítica, ensinando o que é um periódico, quais são suas funções sociais,
como ele é elaborado, como funcionam seus poderes e interesses ideológicos, políticos e econômicos, além
de “desconstruí-lo” para analisar suas notícias em relação à de outros meios, os elementos que o compõem,
explicando suas partes, estrutura e formato, assim como trabalhar o conceito de liberdade de expressão e o
seu papel numa sociedade democrática.
No caso de escolha pela utilização do jornal como recurso complementar para o estudo de outras
disciplinas, o estudo pode favorecer a leitura, nas aulas de línguas e literatura, assim como “para análise do
léxico específico de certos âmbitos sociais (esportes, política internacional e nacional, espetáculos, cultura...),
para o desenvolvimento de habilidades de redação de diferentes tipos de gêneros (notícias, opinião,
ensaios...), entre outros” (Ibidem).
No caso de disciplinas de ciências, os alunos podem se aproximar de novidades que são publicadas em
primeira mão na imprensa sobre temas variados, como engenharia genética, teorias sobre a origem do
universo, avanços da medicina, alterações climáticas; nas ciências sociais é fonte de informação para se
discutir problemas contemporâneos como os conflitos sociais, direitos humanos entre outros temas, desta
forma Moreira (1998, p. 102) observa que “ ... a sua incorporação como um recurso comum na sala de aula,
juntamente com os demais meios de comunicação, deveria significar uma reestruturação no sentido inovador
de muitas metas, conteúdos e atividades do ensino, aproximando-o da realidade atual em que os alunos
vivem”. Colocar veículos impressos na sala de aula, portanto, pode ser uma alternativa viável do ponto de
vista de melhoria da educação, ao aproximar a escola do mundo contemporâneo.
Rodrigues (2006) após analisar planos de aula e dos relatórios elaborados por professores participantes de
um projeto de formação para integração dos recursos tecnológicos na sala de aula, percebeu que os
professores estabelecem uma série de estratégias para o uso do recurso-jornal nas suas ações pedagógicas.
Nesse estudo foram identificadas cinco estratégias entre os 16 sujeitos selecionados. São elas: Exploração do
Jornal, Simulação de Redação, Interação com a comunidade, Avaliação e Retro-alimentação do Processo e
finalmente, Integração da Rotina do Jornal à Sala de Aula.
O pesquisador destaca que “as ações no interior das estratégias são cumulativas, progressivas e à medida
que o professor passa de uma estratégia a outra, requer maior preparo, envolvimento e autonomia do
professor no uso do recurso-jornal” (RODRIGUES, 2006, 174).
Para Lozza(2001) a formação de leitores, o aprendizado informal da língua em suas diversas nuances, o
inventário da realidade, a contribuição para o diálogo em classe, o estímulo à cidadania, a possibilidade da
articulação entre as disciplinas e a abertura a outras leituras, faz do jornal em sala de aula um material ideal
para com que o alunos possa se expressar e se manifestar.
No entanto para que professores utilizem recursos que os auxiliem a organizar e aperfeiçoar os processos
de ensino-aprendizagem, é preciso que conheçam as estratégias adequadas à utilização de cada recurso e
desenvolvam as competências e habilidades necessárias à aplicação delas.

4. METODOLOGIA
Nesse trabalho todas as escolas da RME poderiam participar, uma vez que a página do Projeto no Portal
permitia o cadastro da escola interessada e conseqüentemente a integração ao projeto. No entanto, para
proporcionar acompanhamento nas escolas durante a aplicabilidade do projeto, 60 escolas puderam ser
atendidas. Pela característica do trabalho participaram alunos do Ciclo II e alunos de 5ª a 8ª séries.
Para determinar as escolas participantes foram adotados como critérios:
• Escolas que desenvolveram o projeto em anos anteriores que manifestarem interesse.
• Novas escolas que tinham interesse em participar do trabalho, perfazendo um total máximo de 38 escolas.
• Professores que atuavam com alunos do Ciclo II/5ª a 8ª série ou tinham condições de acompanhá-los no
projeto.
• A escola deveria ter conexão com a Internet no laboratório de informática.
• Sendo assim o jornal eletrônico incorporado ao Portal Cidade do Conhecimento. Através da URL
www.cidadedoconhecimento.org.br - Alunos - extra,extra propiciou o acesso a informações sobre a
realidade vigente.
A organização do trabalho e indicação dos participantes aconteceu de forma autônoma pelas escolas,
estabelecendo a periodicidade dos jornais, horário de uso do laboratório, etapas e séries participantes e
principalmente as produções elaboradas pelos alunos que serão de interesses próprios das crianças e
adolescentes.
Neste trabalho o professor assumiu o papel de supervisor, podendo cadastrar os participantes do projeto,
orientando nas produções e depois de reescritas quando necessárias, publica-as na web. No entanto, outros
professores da escola puderam desempenhar o papel de colaborador, revisando produções dentro de suas
áreas para o aluno. Este projeto permite a interdisciplinaridade e o trabalho colaborativo.
O aluno na maioria das escolas assumiu o papel de jornalista. O professor enquanto supervisor pode
cadastrar alunos como editor, ou seja, autorizou este aluno para acessar as produções de outros alunos e
também publicá-las.
A escola pode criar editorias (seções) de acordo com o seu interesse. Os alunos participantes puderam
receber através dos e-mails comentários dos leitores sobre as produções. Neste processo pode se efetivar a
verdadeira função social da escrita, onde um emissor passa sua mensagem para um receptor.
Para análise dos resultados obtidos, vale lembrar que as primeiras aulas foram de exploração do material
impresso: o que é um jornal, partes do jornal, texto jornalístico e, em seguida o uso do laboratório de
informática: ligar o computador, acessar o Portal, cadastrar notícias, compor editorias, cadastrar imagem e
editar uma notícia.
Dessa forma, os objetivos do Jornal eletrônico aos poucos vêm sendo alcançados, tendo em vista que a
cada edição mais alunos e professores se juntam para conviver e aprender construindo novos conhecimentos
e habilidades de forma ativa, crítica, prazerosa, colaborativa e responsável.
5. RESULTADOS
Sobre a participação de alunos e professores no processo educacional, Pellanda e Pellanda (2000) expressa
que o processo de ensino e aprendizagem deve ser visto como uma produção compartilhada entre o professor
e o aluno. Ambos, juntamente com o conteúdo, são os responsáveis por tal processo.
O trabalho com o jornal eletrônico estruturou-se a partir das pesquisas e desenvolvimento das atividades,
pois os estudantes vêm com o hábito que trabalhar com a língua portuguesa é praticar regras e, dentro do
trabalho planejado com o jornal eletrônico, eles buscam a função social da escrita por meio do acesso às
notícias, filtrando o que realmente serve para o seu crescimento e aprendizagem. Com o uso do jornal ficou
mais fácil para eles organizarem o material, trocarem idéias e elaborarem um texto a partir do material
selecionado.
Tendo como contexto as aulas com no laboratório, o aluno deixou de ser ensinado, pois houve a
aprendizagem a partir da troca com seus colegas coletivamente de forma interativa, discutindo, trocando
idéias e formando novos conceitos. Ele deixou de ser ensinado, pois o ambiente propicia condições para
aprender. Entretanto, essa proposta de trabalho envolve um grande compromisso do professor, que deve estar
sempre atento para que os alunos não se percam com tantas informações ou até mesmo fiquem perdidos, não
sabendo por onde começar.
Percebemos que é importante o papel do professor no uso da tecnologia educacional, pois as indagações,
questionamentos e acompanhamento das atividades deverão se auxiliadas, quando necessário, para que a
proposta de trabalho não se perca logo no início, perdendo o sentido da aprendizagem por meio de softwares
educacionais.
Pode ser apontado como resultado positivo o diferencial proporcionado por este trabalho, para os alunos
participantes. Depoimentos de alunos mostram a diferença entre escrever para o professor, enquanto
produção para ser avaliada ou produzir textos dentro de seu verdadeiro contexto, o de comunicar, já que a
produção do texto jornalístico precisa considerar interlocutores reais. Estes alunos são mais fluentes, mais
organizados, explicam e sustentam suas idéias mais claramente, apreciam mais a escrita, são mais cuidadosos
com aspectos como ortografia, pontuação, gramática e vocabulário. Outro aspecto observado foi o resgate da
auto-estima em alunos com dificuldades de aprendizagem, quando puderam se manifestar com produções de
seus interesses como charges, entrevistas, textos, comentários. Isto foi observado por professores não
envolvidos no projeto, mas que perceberam a diferença provocada em sala de aula.

6. CONCLUSÃO
Essa experiência foi relevante pelo fato dos alunos terem adquirido a consciência do processo de
aprendizagem, usando a tecnologia como ferramenta.
Com esses resultados, planejamos a continuidade dos trabalhos com softwares educacionais para próximo
ano, tendo como finalidade a construção do conhecimento por meio da tecnologia rápida, acessível e
prazerosa.
O interesse deste trabalho foi resgatar a visão de totalidade nos conhecimentos aprendidos, onde a
tecnologia está presente, o gosto pela aprendizagem significativa, o interesse pela pesquisa e a importância da
integração para o desenvolvimento humano.
No término do projeto, foi possível divulgar os resultados do mesmo por meio de exposições no
laboratório de informática da escola, reunião de pais e professores, livros produzidos pelos alunos, slides e na
exposição dos trabalhos na II Mostra de Trabalhos realizada pela Gerência de Tecnologias Digitais da SME,
realizada em outubro de 2006, a qual contou com representantes da maioria (90%) das escolas da Prefeitura
de Curitiba e de demais departamentos da SME. Os alunos demonstraram grande motivação para apresentar o
resultado de suas atividades ao público, explicando como foi o processo de desenvolvimento e que softwares
utilizaram, além de responderem a diversas perguntas dos visitantes.
A necessidade de trabalhar colaborativamente permite um forte vínculo com colegas da escola, como
também com o professor visto neste trabalho como parceiro.
REFERÊNCIAS
ALÁRIO, Mônica Agda de Souza, 2002. Relatando Experiências: o jornal no cotidiano escolar. I Seminário Nacional “O
Professor e a leitura de jornal”, Campinas. Disponível em:
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em: 20 mar. 2006.
UTILIZAÇÃO DO PADRÃO XBRL E DE CERTIFICAÇÃO
DIGITAL PARA DIVULGAÇÃO DE RELATÓRIOS
MUNICIPAIS EXIGIDOS PELA LEI DE
RESPONSABILIDADE FISCAL
MARCELO SALTON DESCONSI
Faculdade UNIRG – Curso de Ciência da Computação
mdesconsi@gmail.com

LUCAS S. B. GOMES
Faculdade UNIRG – Curso de Ciência da Computação
lucas@agenciag3brasil.com.br

MARCELO LISBOA ROCHA


Faculdade UNIRG – Curso de Ciência da Computação
marcelolisboarocha@yahoo.com.br

RESUMO
A disseminação da informação contábil e financeira via Internet vem se tornando regra no ambiente empresarial e
também no âmbito público. Mas, no que diz respeito aos relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal, esta divulgação
ainda é reduzida. Isto se dá pelo fato de os municípios em sua maior parte, fazerem uso de sistemas que, ao gerarem os
relatórios financeiros, o fazem em formatos não adequados a serem publicados na Internet de forma prática. Assim, para
sua publicação na internet, é necessária a conversão manual destes documentos para linguagens próprias para a Web, o
que acarreta um grande desperdício de tempo e dinheiro. Neste contexto, A XBRL vem sendo bastante difundida para a
representação de relatórios financeiros, pois define uma estrutura que com regras XML, permitindo a criação de
linguagem própria para a construção de hiperdocumentos para a área financeira. Com base nessa necessidade de
divulgação, este trabalho tem por objetivo criar uma ferramenta que faça a conversão automática para o formato de
intercâmbio de informações financeiras XBRL, a partir dos documentos gerados pelos sistemas proprietários utilizados
pelos municípios. Todo este processo de conversão e disponibilização será realizado fazendo uso de tecnologias de
segurança como certificação digital, como forma de garantir integridade e autoria e das informações. E assim, com a
utilização desta aplicação, permitir que a sociedade e órgãos fiscalizadores acompanhem e analisem o desempenho da
execução orçamentária dos municípios através da Internet, incentivando o exercício pleno da cidadania, no que diz
respeito à participação da sociedade no processo de acompanhamento da aplicação dos recursos públicos.

PALAVRAS-CHAVE
Lei de Responsabilidade Fiscal, XBRL, XML, Taxonomia, Certificação Digital.

1. INTRODUÇÃO
O Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) é exigido pela Constituição da República
Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988, que estabelece em seu artigo 165, parágrafo 3º, que o Poder
Executivo o publicará, até trinta dias após o encerramento de cada bimestre. Esta publicação tem por objetivo
estabelecer normas de controle das finanças públicas relacionadas à responsabilidade na gestão fiscal e
também permitir que, cada vez mais, a sociedade, por meio dos diversos órgãos de controle, conheça,
acompanhe e analise o desempenho da execução orçamentária do Governo Federal, Estadual e Municipal
(BRASIL, 2007).
A Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000, conhecida por Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF), que se refere às normas exigidas para o controle das finanças públicas com relação à responsabilidade
na gestão fiscal, estabelece as normas para elaboração e publicação dos sub-relatórios integrantes do RREO.
Resumidamente, a LRF pode ser considerada um conjunto de normas para que a União, os Estados e
os Municípios administrem de forma correta suas receitas e despesas, evitando desequilíbrios orçamentários,
e desta forma melhorar a gestão das contas públicas no Brasil. Com ela, todos os gestores públicos são
cobrados a ter compromisso com a utilização de verbas do orçamento e com as metas de cumprimento do
mesmo (BAHIA. Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia, 2007).
A LRF cria condições para a implantação de uma nova cultura gerencial na gestão dos recursos
públicos e incentiva o exercício pleno da cidadania por parte dos contribuintes e da sociedade em geral, no
processo de acompanhamento da aplicação dos recursos públicos e de avaliação dos seus resultados
(BRASIL, 2007).
A Previsão legal do Princípio da Transparência Fiscal na Gestão Pública prevista pela Lei de
Responsabilidade Fiscal afina-se com as modificações estruturais introduzidas pela Emenda Constitucional
no 19/98, que versou sobre a reforma administrativa, pela qual se criou o direito do usuário, visando, por
exemplo, a prevenção dos riscos orçamentários (BRENO STAHNKE, 2000). Diz a Lei de Responsabilidade
Fiscal em seu art. 48 que:

"Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será
dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os
planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e
o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e
o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.”
“Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante incentivo
à participação popular e realização de audiências públicas, durante os
processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes
orçamentárias e orçamentos."

O princípio da transparência fiscal, desta forma, é a diretriz que assegura o acesso público à
informação sobre as atividades fiscais dos órgãos públicos, estando em conformidade mais atuais técnicas da
Administração Pública (CONTI, 2000). Assim, de acordo com este principio, todos os municípios devem
disponibilizar à sociedade as informações do RREO inclusive em meios eletrônicos de acesso público. Desta
forma, disponibilizar tais informações através da Internet seria uma forma mais democrática de deixar a
população a par do desempenho da execução orçamentária do município, vez que não existe qualquer tipo de
barreira ou censura para aqueles que estão conectados ou desejam conectar-se. Pode-se dizer, ainda, em
defesa da Internet como meio de acesso democrático à informação, visto que o poder público está empenhado
em democratizar o acesso da população de baixa renda. São exemplos disto, iniciativas dos governos
estaduais e municipais em dotar as escolas públicas de computadores com acesso à Internet (PERRIT, 2000).
Em vista da importância da divulgação dos relatórios componentes da LRF à sociedade, faz-se de
grande relevância o desenvolvimento de uma ferramenta que auxilie os municípios na disponibilização destas
informações em um ambiente democrático e de grande abrangência de público como Internet. Assim, a
proposta deste trabalho é a de criar esta ferramenta de auxilio on-line 1 , utilizando para isto as diversas
tecnologias na área de desenvolvimento Web.
A XBRL (eXtensible Business Reporting Language), que é uma linguagem para geração de
relatórios financeiros padronizados, será utilizada como forma de garantir que os relatórios criados pela
aplicação sejam portáveis e extensíveis entre as diversas plataformas que farão uso destas informações.
Os documentos XBRL serão gerados a partir da conversão dos arquivos criados pelas aplicações
contábeis proprietárias, utilizadas pelos municípios, podendo ser então usados para os mais diversos fins,
como exibição em um site na Internet, ou mesmo analisado por uma aplicação de auditoria, sem a
necessidade de conversões de formato, possibilitando assim que este processo seja realizado de forma
simples, rápida e com diminuição de custos, o que certamente não ocorreria se este documento não estivesse

1
Nos sistemas distribuídos, diz-se da operação realizada em conexão com outros pontos do sistema,
permitindo compartilhamento de informações e colaboração no processamento, como, p. ex., consultas e
atualizações imediatas de bases de dados remotas.
em um formato canônico 2 como XBRL, pois haveria então a necessidade de conversão entre os sistemas que
fariam uso destes dados, aumentando a possibilidade de erros nas informações além de encarecer o processo
e aumentar demasiadamente os custos (RICCIO, 2005) (SILVA, 2006).
Além da agilidade na divulgação que o sistema propiciará, existe também a preocupação em criar
um sistema seguro para esta conversão e disponibilização, para isto, estão sendo utilizadas tecnologias
conceituadas no ambiente Web. Dentre as linguagens de programação disponíveis para criação de
documentos para a Web, JSP (JavaServer Pages) se destaca por ser uma tecnologia Java para desenvolver
aplicativos Web (KURNIAWAN, 2002), assim herdando todas as características inerentes à linguagem de
programação JAVA, como sua portabilidade, robustez e segurança, que a fazem ser considerada uma das
linguagens de programação mais utilizadas e de maior índice de confiabilidade (OAKS, 1999), além de
possuir arquitetura aberta, ou seja, não possui dono, existindo na verdade, um consórcio de empresas,
universidade e pessoas chamado JCP (Java Community Process) que normatiza toda a tecnologia.
(RUBINSTEIN, 2006), outra característica importante é que JAVA é uma tecnologia gratuita, evitando
assim, que gastos desnecessários sejam realizados em virtude da aquisição de licenças de software
proprietário.
Mesmo JSP sendo uma linguagem robusta para criação de aplicativos Web, outras medidas de
segurança devem ser adotadas para garantir uma maior confiabilidade ao sistema, visto que as linguagens de
programação e a internet, de maneira geral, não proporcionam um ambiente totalmente seguro para
desenvolvimento e execução de aplicações.
A segurança é crucial para muitas aplicações Web. Trata-se de um dos aspectos que mais preocupa a
maioria dos usuários na Internet (TODD & SZOLKOWSKI, 2003). Como forma de sanar estes anseios dos
usuários e dada a importância das informações referentes à LRF, fica evidente que, estas transações
eletrônicas necessitam da adoção de mecanismos de segurança capazes de garantir autenticidade,
confidencialidade e integridade às informações eletrônicas. A certificação digital é a tecnologia que provê
estes mecanismos, sendo, um conjunto de técnicas e processos que propiciam mais segurança às
comunicações e transações eletrônicas, permitindo a guarda segura de documentos (ITI, 2003),
proporcionando assim aos usuários do sistema uma garantia da veracidade das informações disponibilizadas.
Para que isso seja possível, será utilizado um protocolo de autenticação mútua entre o cliente
(usuário) e o servidor (aplicação Web), o SSL 3 (Secure Socket Layer), que faz uso da tecnologia RSA 4 , de
chave dupla, pública e privada, que permite segurança na comunicação, evitando intrusos, violação e
falsificação de mensagens. Para garantir ao usuário a autenticidade da informação será utilizado certificado
digital 5 , que contém a chave pública e servirá para identificar à origem das informações, a qual é utilizada
para encriptar e desencriptar as transmissões de dados entre o servidor e o cliente, bem como no
armazenamento destas informações no banco de dados.
Segundo (SUEHRING, 2002), os bancos de dados são amplamente utilizados em muitas aplicações
para monitorar informações, preferências e histórico de clientes. Os bancos de dados oferecem velocidade,
exatidão, capacidade de geração de relatórios e inteireza como vantagens. Assim, os dados gerados pela
aplicação, serão armazenados utilizando MySQL, que é um Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados
Relacionais (SGBDR) baseado em comandos SQL (Structured Query Language), e também por ser um
banco de dados amplamente utilizado para aplicações Web, além de ser estável, ter baixa sobrecarga e
principalmente, ser gratuito (SOARES, 2001).

2. A DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES ATRAVÉS DA INTERNET


Segundo (RICCIO, 2005), a disseminação da informação contábil e financeira via Internet vem-se
tornando regra no ambiente empresarial, no âmbito público, algumas iniciativas também estão sendo
tomadas, como é o caso do Banco Central do Brasil, que já realiza estudos para a adoção de uma gestão

2
Canônico – Algo compartilhado por todos, unificado, de uso comum.
3
SSL é um padrão de comunicação, utilizado para permitir a transferência segura de informações através da
Internet.
4
RSA é um algoritmo de encriptação de dados.
5
Certificado digital é um documento de identificação eletrônico
eletrônica da informação. Existem bons motivos para a utilização da Internet como meio de divulgação destas
informações:
• O custo dessa disseminação é menor do que o envio de relatórios escritos ou publicação na
imprensa.
• A comunicação interativa via homepage 6 , estreita a relação usuário-divulgador e permite consultas,
críticas e sugestões, orientando a administração e fornecendo mais transparência ao público.
• O nível de evidenciação melhora devido à facilidade de suplementar a informação obrigatória
tradicional.
Desta forma, fornecer à população as informações da LRF através da Internet, além das vantagens
citadas anteriormente, ainda permite que a sociedade, através dos órgãos regulamentadores, acompanhe e
fiscalize a prestação de contas dos municípios. Mas, na prática nem todos utilizam este importante canal de
comunicação, disponibilizando os relatórios da LRF de outras formas, como por exemplo - jornais de
circulação local ou mesmo a fixação do RREO impresso na sede das Prefeituras Municipais, o que não
proporciona uma abrangência de publico satisfatória, também, não é o meio mais adequado à consulta e
análise por parte da população ou mesmo por órgãos fiscalizadores.
O Novo modelo de divulgação da informação financeira para satisfazer todas as expectativas dos
usuários deve, desse modo, divulgar dados financeiros capazes de satisfazer a procura de mercado, devendo
superar a orientação estática que caracteriza o modelo tradicional, cuja única finalidade era cumprir todos os
requisitos impostos pelas normas emitidas pelo correspondente organismo regulador.
Desta forma, utilizar a Internet como canal de comunicação com a sociedade se torna uma barreira a
ser superada, segundo (SILVA, 2006), a digitalização da informação aliada à Internet como meio da sua
difusão está transformando nossa sociedade de todas as formas, ou seja, em nível cultural, econômico,
comercial, político e social.
O suporte on-line oferece um meio transmissor para a informação contábil, com múltiplas vantagens
comparativas em relação ao suporte convencional. Nas primeiras gerações de relato on-line, a rapidez e a
facilidade no acesso davam valor a apresentação da informação contábil. A utilização de uma linguagem
padronizada com suporte on-line supunha um salto qualitativo na oferta da informação financeira ao
contribuir não só para que os usuários acessassem a informação em condições favoráveis de tempo e de
custo, mas também para a própria melhoria das qualidades que essa informação apresentava (COFFIN,
2001).
Assim, fica evidente que a relação custo-benefício, tanto para quem divulga como para quem acessa
esta informação melhora significativamente, pois ambos podem acessá-la de forma mais barata, rápida,
imediata e generalizada, comparativamente ao modo tradicional.
Os relatórios da RREO dos municípios em sua maior parte são gerados a partir de sistemas
proprietários, que, mesmo de acordo com as especificações de formatação exigidas pelos termos da Lei de
Responsabilidade Fiscal, não estão no formato adequado para serem publicados na Internet de forma prática,
sendo na maioria das vezes exportados em formato texto, logo, para sua publicação na internet, é necessária a
conversão manual destes documentos para linguagens próprias para a Web, como, por exemplo, a HTML
(Hyper Text Markup Language), o que acarreta um grande desperdício de tempo e dinheiro, já que o trabalho
de conversão deve ser refeito a cada nova publicação.

2.1 Intercâmbio de Informações Financeiras


De Acordo com (SILVA, 2006), informações financeiras geralmente são armazenadas em diferentes
entidades como banco de dados, documentos texto, planilhas, etc., o que implica em formatos de dados
distintos. Normalmente estas informações precisam ser convertidas entre estes formatos, já que os mais
diversos tipos de aplicações e sistemas de informações podem fazer uso destes dados. Uma das possíveis
utilizações, seria a geração e distribuição de relatórios para os mais diversos fins, que por sua vez, podem ter
suas informações redirecionadas para outros tipos de relatórios, como: relatórios externos e internos,
relatórios de aplicações financeiras, páginas na internet além de vários outros. Todas as mudanças necessárias

6
Designação inglesa para a página web de apresentação ou de entrada de uma empresa, indivíduo ou serviço
em particular.
no formato destes dados terminam por provocar retrabalho e aumento de custos para utilizar a mesma
informação.
Todo o processo de transformação não ocorre apenas internamente, mas, também, quando estas
informações precisam ser repassadas a outros órgãos ou entidades, por exemplo, filiais de uma empresa, ou,
mais especificamente no caso dos relatórios RREO, repassados a comunidade, órgãos fiscalizadores,
Governo Estadual e este por sua vez, para a União, ou seja, uma sucessiva conversão de formatos é
necessária durante o processo.
O seguinte exemplo serve para ilustrar como estas conversões podem ser dispendiosas.
A prefeitura de um município qualquer decide publicar um dos relatórios integrantes da LRF em sua
página na internet, inicialmente, o sistema proprietário utilizado pela controladoria do município faria a
geração deste relatório, após, as informações teriam de ser extraídas manualmente deste relatório e inseridas
em um documento, a fim de serem disponibilizadas na internet, posteriormente um órgão regulador necessita
fazer uma avaliação nestes mesmos dados a fim de verificar se as informações prestadas estão de acordo com
a Lei de Responsabilidade Fiscal. Supondo que este órgão regulador possua um sistema que faça a análise
destes dados automaticamente a partir de um documento em formato próprio, mais uma extração manual
deverá ser realizada, já que documentos HTML não possuem significação semântica 7 , impossibilitando
assim, a recuperação automática destes dados pelo sistema.
A Figura 1 mostra como as informações podem passar por inúmeras conversões de formato.

Figura 1 – Fluxo de informações, desperdício de tempo e custo de transformações (HOFFMAN & STRAND,
2001)

2.2 Um padrão para o intercâmbio de informações financeiras


É notória a necessidade de se estabelecerem critérios e instrumentos que permitam a regulamentação
e a existência de adequado fluxo de informações entre as organizações e a sociedade, bem como uma
linguagem padrão que possa ser utilizada para o intercâmbio destas informações.
O surgimento de uma linguagem padrão permitirá às organizações a comparabilidade da informação
em diversos períodos, independentemente do seu software e formato (RICCIO, 2005).
Padrões na Internet podem ser definidos como um conjunto de normas, diretrizes, recomendações,
notas, artigos, tutoriais e afins de caráter técnico, produzidos pelo W3C (World Wide Web Consortium) e
destinados a orientar fabricantes, desenvolvedores e projetistas para o uso de práticas que possibilitem a
criação de uma Web acessível a todos, independentemente dos dispositivos usados ou de suas necessidades
especiais (DUBOST, 2003). A padronização traz inúmeras vantagens, como, por exemplo, a do custo de

7
Semântica é o estudo do significado, isto é a ciência das significações.
manutenção e atualizações. Com a padronização, todo processo de intercâmbio destas informações fica
facilitado, pois, se todos os agentes interessados na informação utilizarem o mesmo formato de dados, a
necessidade de conversões fica reduzida ou até mesmo inexistente.
Segundo (ALVES & SILVA, 2001), nesse ambiente de padronização, o uso da Internet como meio
de comunicação poderá trazer benefícios, como a democratização da informação, pois, por ser a Internet
largamente difundida e de baixo custo, o seu uso proporciona ampla publicidade de informação. O que vem
de encontro ao que a Lei de Responsabilidade Fiscal exige - que estas informações sejam disponibilizadas da
forma mais abrangente possível.

2.3 As Limitações da Web atual


A enorme quantidade de documentos disponíveis na Internet coloca ao usuário a difícil tarefa de
separar o joio do trigo na busca de informação útil. Alguns mecanismos de busca utilizam técnicas
desenvolvidas pela área de Recuperação de Informação (RI) (BAEZA & RIBEIRO, 1999). Segundo
(WIELINGA, 2005), eles indexam as páginas da Internet por palavras-chave, e aplicam métodos e estruturas
de dados para recuperá-las, retornando ao usuário uma relação de páginas que contém as palavras da busca,
ordenadas por um rank de incidência destas palavras. Dada a variedade imensa de conteúdo disponível, esta
era a alternativa viável, uma vez que a HTML foi projetada tendo como principal objetivo a apresentação e a
navegação na rede e não sua recuperação automática por ferramentas de busca.
Preocupações sobre como capturar o conhecimento existente nas páginas - ou seja, realizar buscas
semânticas - não foram prioritárias. Devido a este fato, ainda segundo (WIELINGA, 2005), as ferramentas de
busca caracterizam-se por alta cobertura, porém significativa falta de precisão, muitas vezes devolvendo ao
usuário uma grande quantidade de endereços de páginas inúteis ou irrelevantes. Utilizando algoritmos
matemáticos para atribuir relevância às páginas, estas ferramentas não conseguem atribuir significado
semântico à busca, pois são capazes apenas de realizá-la em nível léxico.
A dificuldade de se conseguir acesso à informação útil, específica e relevante na Internet pode ser,
em resumo, atribuída a dois fatores: o volume e a falta de definição semântica das informações
disponibilizadas nas páginas. Por isso, torna-se difícil agregar valor a estas informações, ou seja, converte-la
em informação útil e de fácil acesso.

2.4 XBRL (eXtensible Business Reporting Language)


A XBRL (eXtensible Business Reporting Language), vem sendo bastante difundida para a
representação de relatórios financeiros. XBRL define uma estrutura que, com regras definidas por XML,
permite a criação de linguagem própria para a construção de hiperdocumentos para a área financeira, ela foi
desenvolvida com o objetivo de criação de um modelo para construção de vocabulários para uso na
preparação e intercambio de relatórios financeiros, especificamente para a área contábil, incluindo, mas não
se limitando a demonstrativos contábeis, e vem sendo apontada como solução para padronização do
intercambio de informações financeiras (SULAIMAN, 2003).
Segundo (ZARONWIN & HARDING, 2000):

“O XBRL- eXtensible Business Reporting Language, em breve será a língua


padrão para todos os relatórios financeiros, desde a distribuição de informações
financeiras a bancos e investidores para cumprir as regras da SEC (Security
and Exchange Commision) a inserir informações financeiras em um site da
Internet. O desenvolvimento certamente irá revolucionar a maneira como a
informação é disponibilizada, utilizada e calculada.”

Em geral, os dados existentes em relatórios de informações financeiras precisam ser utilizados por
outros programas além dos que o geraram, causando assim uma reentrada sucessiva destes dados. O padrão
XBRL poderá amenizar este problema já que este mesmo relatório será gerado apenas uma única vez, e
distribuído através da Web e outras aplicações, ela foi moldada para suportar todos os formatos de relatórios
financeiros e de negócios (DEBRECENY & GRAY, 2004), Portanto, a adoção de XBRL como linguagem
padrão para o intercâmbio de informações financeiras e demonstrativos contábeis, facilitará este processo de
divulgação, pois proverá a diminuição ou até mesmo a eliminação do retrabalho.
A linguagem XBRL permite aos usuários obterem melhorias significativas na utilização de dados
eletrônicos, proporcionando capacidade de exibição e fornecendo a informação sobre o contexto em que são
criados (SILVA, 2006).
Os aspectos chave da linguagem XBRL são: acesso universal, e extensibilidade, características
estas, herdadas da linguagem XBRL. O fato de um documento XBRL fornecer Acesso universal pode ser
definido como a característica que permite que este documento seja produzido para qualquer tipo de mídia –
Web, impresso ou e-book, podendo ser exportada ou importada por qualquer sistema financeiro ou contábil
ou mesmo por qualquer ferramenta que consiga manipular documentos baseados em XML.
Uma das características mais importantes da XML e conseqüentemente da XBRL é sua
extensibilidade, que permite que novos elementos identificadores sejam criados de acordo com o surgimento
da necessidade de utilizá-los. Como cada setor possui suas particularidades, XBRL permite que
personalizações ocorram dependendo da área de atuação, por exemplo, o setor bancário possui características
diferentes do setor de agronegócios, implicando assim em elementos identificadores diferentes. Isto significa
que um documento XBRL pode moldar-se as necessidades do utilizador conforme seja necessário, contanto
que estes novos elementos adiram à especificação XBRL e ao padrão de elementos identificadores exigidos
pelo W3C.
A conversão para um formato canônico como XBRL, poderá trazer benefícios como diminuição de
custos, facilidade de extração e utilização dos dados, aumento da interoperabilidade entre os sistemas
financeiros além da diminuição da possibilidade de erros (COFFIN, 2001) (MATHERNE & COFFIN, 2001).
Com as características citadas acima, XBRL pode ser proposta como uma possível solução para os
problemas de transformação de formatos discutidos anteriormente, facilitando desta forma o processo de
intercâmbio de informações financeiras. A Figura 2 exemplifica o quanto um formato padrão pode
simplificar a quantidade de passos necessários para conversão entre os mais diversos tipos de formatos, pois
a modificação de formato da informação original ocorre apenas uma única vez, podendo assim ser reutilizada
e distribuída automaticamente para quaisquer outros formatos.

Figura 2 – Fluxo de informação com XBRL: reduz redirecionamento da informação e custo de


transformações sucessivas de formatos (HOFFMAN & STRAND, 2001).

O fluxo de informações exemplificado na Figura 1 fica simplificado em apenas um único passo, ou


seja, sendo XBRL adotada como formato padrão para a representação das informações financeiras, o
percurso deste entre os diversos pontos do processo ocorrerá de forma mais eficiente, reduzindo assim a
necessidade de sucessivas conversões de formato e conseqüentemente, de erros e custos (SULAIMAN,
2003). Outra importante característica de XBRL que não poderia deixar de ser mencionada, e que, XBRL é
um padrão aberto, ou seja, sua licença é de uso livre e sem custos.
2.5 Criação de arquivos XBRL
Ao contrário do que pode parecer, um relatório XBRL não é um documento único, isolado, na
verdade ele é formado pela junção de vários outros documentos baseados em tecnologias XML. De forma
resumida, a estrutura de um documento XBRL é formada por três tipos de documentos: o documento de
taxonomia, o documento XBRL propriamente dito (também chamado de instância), e os documentos
linkbases 8 . A Figura 3 demonstra a relação entre estes diversos documentos para a representação de
relatórios XBRL.

Figura 3 – Relação entre os documentos para a geração dos relatórios XBRL.

Uma taxonomia contém estrutura, rótulos, relações matemáticas, ordem de apresentação e outras
características para cada elemento. (SILVA, 2006). Para se criar uma taxonomia, é necessário determinar
quais os fatos financeiros que se deseja utilizar e os relacionamento existente entre estes fatos, sendo a
taxonomia expressa através de uma rede de relacionamentos entre os documentos que a compõe. Segundo
(RICCIO, 2005), a função da taxonomia é definir o conjunto de elementos, com seus atributos e os
relacionamentos que ocorrem entre si, conforme apresentado na Figura 4.

Figura 4 – Exemplo de documento de taxonomia.

2.6 Segurança – Certificação Digital


Os computadores e a Internet são largamente utilizados para o processamento de dados e para a
troca de mensagens e documentos entre cidadãos, governo e empresas (ITI, 2005). Em virtude desta grande
utilização, a segurança se torna crucial para permitir transparência, veracidade e autenticidade no
processamento destes dados.
Assim, é necessária a utilização de mecanismos de segurança para que as características citadas
acima sejam alcançadas.

8
Linkbases são responsáveis pelos relacionamentos entre os elementos identificadores, como: hierarquia,
ordem de apresentação, cálculos matemáticos, referências a documentos externos, entre outras.
Para isso será utilizada a certificação digital, que é uma tecnologia que tem por objetivo – garantir o
sigilo e privacidade de sites, controle de acesso a aplicativos, assinaturas de formulários, identificação do
remetente, assinatura de mensagem (RICCIO, 2005).
A certificação digital surgiu graças aos avanços da criptografia, que é o estudo das técnicas
matemáticas relacionadas aos aspectos da segurança da informação, tais como, confidencialidade,
integridade, autenticação do remetente e não-repúdio (MENEZES, OORSCHOT & VANSTONE, 2001).
• Confidencialidade da mensagem: somente o destinatário autorizado deve ser capaz de extrair
o conteúdo da mensagem da sua forma encriptada. Além disso, a obtenção de informação sobre o
conteúdo da mensagem não deve ser possível, uma vez que, se o for, torna mais fácil à análise
criptográfica.
• Integridade da mensagem: o destinatário deverá ser capaz de determinar se a mensagem foi
alterada durante a transmissão.
• Autenticação do remetente: o destinatário deverá ser capaz de identificar o remetente e
verificar que foi mesmo ele quem enviou a mensagem.
• Não-repúdio do remetente: não deverá ser possível ao remetente negar o envio da mensagem.

3. SISTEMA PROPOSTO
Fazendo uso dos documentos de taxonomia já definidos por este trabalho, foi desenvolvido o
sistema responsável por extrair as informações dos documentos gerados pelos softwares proprietários,
utilizados pelos municípios, fazendo então uso destas informações para a criação de documentos de instância
XBRL, que em conjunto com os documentos linkbases, também já definidos, fornecem a estrutura necessária
para a geração de relatórios financeiros XBRL.
O sistema proposto pode ser definido como uma ferramenta online de auxílio aos municípios na
divulgação dos relatórios financeiros integrantes de LRF, bem como uma plataforma, para que a sociedade,
através da Internet acompanhe e analise a execução orçamentária dos municípios, desta forma, tanto os
municípios quanto a sociedade, podem ser considerados usuários deste sistema, possuindo, no entanto,
características diferentes de acesso.
Como forma de facilitar o desenvolvimento desta ferramenta, o sistema foi modularizado, ficando
então dividido em: atributos de segurança, inserção de novos relatórios e geração de relatórios. Estes
módulos serão detalhados na seqüência.

3.1 Acesso ao sistema


Dada a importância das informações referentes à LRF, e a publicação destas informações em um
ambiente tão amplo como a Internet, foi dada especial atenção as medidas de segurança necessárias para
realização destes processos. Desde a entrada destes dados no sistema, através do cadastramento de novos
relatórios, até sua disponibilização ao público através da Internet.
Para se ter acesso ao sistema, os municípios devem ter sido previamente cadastrados, é através
deste cadastro que são definidos quais os usuários responsáveis pela inserção de novos relatórios, qual o
software contábil utilizado pelo município e também quais usuários terão acesso limitado ao sistema, como
por exemplo, apenas visualizar relatórios.
Para poder utilizar este formato de acesso, é necessário um relacionamento entre os municípios e
usuários, (em termos de estrutura de banco de dados), de um (1) → n. Mas, a exemplo do contador que nos
auxiliou neste trabalho, pode ocorrer de um mesmo usuário ser responsável pelas informações de mais de um
município, sendo necessária a criação de um relacionamento de n → n. Após a criação dos usuários, o acesso
poderá ser realizando.
Assim que o usuário acessa o endereço da aplicação, lhe é apresentado o certificado digital que
comprova a autenticidade do sistema, como pode ser visto na Figura 5.
Figura 5 – Tela de aceitação do certificado digital.

Clicando no botão “Examine Certificate”, o usuário poderá verificar os dados do emissor do


certificado, como por exemplo, autoridade certificadora, chave publica, data de criação e validade etc. como
mostrado na Figura 6. Desta forma, o usuário pode garantir que esta acessando realmente a aplicação
verdadeira.
Figura 6 – Tela contendo as informações gerais sobre o certificado digital apresentado.

Após o usuário aceitar o certificado, ele será redirecionado para a tela de login do sistema. A partir
deste ponto, como forma de garantir que as informações transmitidas entre o usuário e o servidor não sejam
de alguma forma interceptadas ou modificadas, toda transmissão é realizada através de um canal de
comunicação seguro HTTPS (HyperText Transfer Protocol Secure). HTTPS é uma implementação do
protocolo HTTP sobre uma camada SSL, essa camada adicional permite que os dados sejam transmitidos
através de uma conexão criptografada e que se verifique a autenticidade do servidor e do cliente através de
certificados digitais. A porta TCP usada por norma para o protocolo HTTPS é a 443.
O protocolo HTTPS é normalmente utilizado quando se deseja evitar que a informação transmitida
entre o cliente e o servidor seja visualizada por terceiros (garantia de confidencialidade), como por exemplo
no caso de compras online. Nas URLs dos sites o início ficaria https:// (MENEZES, 2001).
É na tela de login que o usuário irá fornecer as informações necessárias para ter acesso ao sistema.
Como login do usuário, será utilizado seu CPF, previamente cadastrado, e a senha fornecida no ato deste
mesmo cadastro.
Visando dificultar a tentativa de captura da senha por keyloggers 9 , sua inserção e realizada através
de um teclado virtual, que, como um reforço de segurança, tem as posições das teclas geradas aleatoriamente
a cada novo acesso ao sistema. A tela de login pode ser vista na Figura 7.

9
Programas que enviam para hackers, tudo o que é digitado no teclado. Permitem roubar senhas, logins,
números de conta corrente e cartões de crédito, endereços de e-mail, enfim, tudo o que for digitado.
Figura 7 – Tela de login da aplicação, fazendo uso de teclado virtual.

3.2 Acesso aos serviços


Após o logon do usuário no sistema, serão disponibilizados os serviços os quais este usuário tem
privilégio de acesso, bastando clicar na aba relativa ao serviço para alternar entre eles. Caso o usuário não
possua acesso a um determinado serviço, a aba relativa a ele não será exibida. Como medida de controle e
segurança, se algum arquivo que compõe um determinado serviço sofrer uma tentativa de acesso por alguém
que não esteja autorizado a utilizar o sistema, ou mesmo por um usuário sem privilégio de acesso a este
serviço, toda a ação fica registrada em log, possibilitando assim que os responsáveis por estas tentativas de
acesso indevidas sejam identificados.

3.3 Cadastro de novos relatórios


O cadastramento de um novo relatório é a etapa onde ocorre a extração das informações definidas na
taxonomia, a partir de um arquivo gerado por um sistema proprietário, utilizado pelos municípios.
Após esta extração, os dados são armazenados em um banco de dados, para então, poderem ser
consultados sempre que necessário. A estrutura da tabela que armazena os dados deste relatório possui
basicamente os mesmos campos exigidos pela taxonomia.
Esta extração de dados, não é um processo simples, pois os arquivos gerados pelos municípios não
tem um padrão de formatação definido, variando entre os diversos sistemas contábeis existentes. Fazendo
com que programa responsável pela extração das informações sirva apenas para um formato especifico.
Neste trabalho foram utilizados os arquivos gerados pelo sistema proprietário SISCOM.
A tela de cadastro de novos relatórios pode ser vista na Figura 8.

Figura 8 – Tela de cadastro de novos relatórios

O upload, do arquivo para a extração das informações, é realizado após o usuário informar alguns
dados relativos ao relatório que esta tentando inserir, como peridiocidade, nome do relatório, mês, ano etc. A
periodicidade de publicação dos relatórios da LRF é dividida em – bimestral, semestral e anual, como pode
ser visto na Figura 8.
Antes de o programa começar a extrair as informações do documento, um teste de compatibilidade
do arquivo é realizado, verificando se o arquivo esta de acordo com as definições de posicionamento do
sistema SISCOM. Se por algum motivo o arquivo não puder ser inserido, o sistema exibirá uma mensagem
de erro, e um registro do problema será gerado no log.
Caso o processo de inserção seja bem sucedido, este relatório já estará disponível, podendo então ser
recuperado através de consultas ao banco de dados.

3.4 Geração de relatórios XBRL


Este serviço possui basicamente a mesma estrutura de apresentação do módulo “Cadastro de novos
relatórios”, com a diferença que, será mostrada uma lista com os municípios que possuem relatórios
financeiros inseridos no sistema. Os elementos antes usados para definir os atributos do relatório que seria
inserido, funcionam nesta aba como filtros em uma consulta. Um exemplo está apresentado na Figura 9.
No caso nenhum elemento existente na base de dados satisfazer os termos da consulta, o sistema
informará ao usuário que nenhum relatório disponível no banco de dados atendeu a seus critérios. Do
contrário, o programa ira montar um documento de instância XBRL contendo as informações do relatório
retornado por esta busca. Disponibilizando o download deste documento de instância ao usuário, e também a
possibilidade de visualização deste relatório a partir do documento gerado, fazendo uso do arquivo de
transformação XSLT para exibi-lo em um navegador Web. Também é possível visualizar este relatório em
forma de gráfico, de forma a facilitar sua leitura.

Figura 9 – Relatório gerado a partir de um documento de instância XBRL, transformado utilizando um


arquivo XSLT.

4. CONCLUSÃO
Este artigo apresentou uma visão geral sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal, sua importância
como ferramenta de acompanhamento por parte da sociedade, e como ela cria nova cultura gerencial na
gestão dos recursos públicos, incentivando o exercício pleno da cidadania por parte dos contribuintes e da
sociedade em geral.
Neste trabalho foi abordado o atual cenário da divulgação de relatórios financeiros na internet, as
dificuldades encontradas para o intercâmbio destas informações e as iniciativas em se criar um padrão para
esta representação. Também foi realizada uma abordagem sobre a linguagem XBRL, suas aplicações no
cenário atual de intercâmbio de informações financeiras, sua importância como um formato canônico para
este intercâmbio e sua aplicação no desenvolvimento do sistema proposto por este trabalho.
O objetivo deste trabalho que era de criar uma ferramenta online que viesse facilitar a divulgação
dos relatórios financeiros por parte dos municípios, bem como, criar uma forma de tornar estes relatórios
cada vez mais acessíveis a sociedade, seja no papel do contribuinte, ou pela utilização destes relatórios por
órgãos reguladores, foi plenamente alcançado. Falta agora, realizar uma divulgação para futura adoção por
algum município brasileiro. Para isto, pretende-se disponibilizar a aplicação www.softwarelivre.gov.br, que é
um sítio governamental que tem como principal função a distribuição, divulgação e incentivo a adoção do
Software Livre na administração pública.
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ZELDMAN, J., 2003. Projetando Web Sites Compatíveis. São Paulo, Ed. Campus.
UM ESTUDO DE FERRAMENTAS DE REPRESENTAÇÃO
DE PROCESSOS INTENSIVOS EM CONHECIMENTO

André C. Donadel
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis– SC – Brasil
donadel@egc.ufsc.br

Paulo Henrique de Souza Bermejo


Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis– SC – Brasil
bermejo@egc.ufsc.br

Mauricio Uriona Maldonado


Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis– SC – Brasil
Programa Estudante Convênio Pós-Graduação PEC/PG - CNPq
mauricio.uriona@gmail.com

Gregorio Varvakis
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis– SC – Brasil
grego@deps.ufsc.br

Paulo Selig
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - 88040-900 – Florianópolis– SC – Brasil
selig@egc.ufsc.br

RESUMO
A gestão do conhecimento tem conquistado uma grande expressividade no que tange às estratégias organizacionais que
visam buscar a máxima eficiência das empresas. O foco dado à gestão do conhecimento dentro do processo de negócio é
ainda bastante limitado. A representação de processos intensivos em conhecimento coloca-se com instrumento
fundamental para apoiar estas novas práticas de gestão. O presente trabalho busca apresentar alguns dos modelos hoje
disponíveis para representação de processos intensivos em conhecimento, apontando seus pontos fortes e pontos fracos.
Neste sentido os modelos que serão analisados são: o CommonKADS, a UML, a IDEF e a Business Process Knowledge
(BPK). Como resultados, o artigo apresenta uma comparação entre os modelos, seguindo alguns critérios considerados
relevantes pela literatura. O trabalho sugere que o campo de estudo de processos intensivos em conhecimento e sua
representação por via da modelagem, ainda é deficitário, porém, cada vez mais iniciativas de estudo estão aparecendo,
seguindo a linha do presente artigo e com isto, abrindo as possibilidades para seu maior desenvolvimento. Pode-se
concluir também que os modelos de representação devem ser utilizados de forma complementar e não exclusiva, tentando
aproveitar as fortalezas e reduzir o efeito das fraquezas com a meta final de se obter a melhor representação possível.

PALAVRAS-CHAVE
Processos intensivos em conhecimento; CommonKADS; UML; IDEF; BPK.

ABSTRACT
The management of knowledge has conquered an important place in organization strategies looking for maximum
organizational efficiency. The focus given to Knowledge Management inside the business process field is still narrowed.
Knowledge-intensive process representation stands as a relevant tool for these new management practices. The present
work introduces some of today’s available models for knowledge-intensive process representation, pointing out their
strengths and weaknesses. In this sense, the models analyzed are: the CommonKADS, the Universal Modeling Language
(UML), the IDEF family, and the Business Process Knowledge (BPK). The paper presents a comparison between these
models, using criteria found relevant in the literature. This work suggests that the knowledge-intensive business process’
field of study is not totally developed yet, however more initiatives following this paper’s line are appearing, opening up
more possibilities for its growing. It could also be concluded, that the diverse representation models should be used in a
complementary way and not in an exclusive way, by trying to take advantage of their strengths and diminishing the effect
of their weaknesses aiming to obtain the best possible representation.

KEYWORDS
Knowledge-intensive business process; CommonKADS; UML; IDEF; BPK.

1. INTRODUÇÃO
A gestão do conhecimento tem conquistado uma grande expressividade no que tange às estratégias
organizacionais que visam buscar a máxima eficiência das empresas (KINGSTON e MACINTOSH, 2002).
A representação do conhecimento apóia as técnicas e ferramentas de gestão e é suportada por uma
compreensão substancial do negócio em que está inserido. Segundo Schreiber et.al. (2002) a identificação e
análise do negócio onde estão inseridos os aspectos de conhecimento são fundamentais para o sucesso na
sistematização e gestão dos artefatos de conhecimento.
Para Abecker (2001), o foco dado à gestão do conhecimento dentro do processo de negócio é ainda
bastante limitado, este coloca que para uma plena gestão de processos, suas perspectivas e atividades
intensivas em conhecimento devem ser relacionadas e representadas. Este hiato entre a representação de
processo e seus atributos de conhecimento tem se mostrado crítico para organizações, considerando que o
conhecimento é fator crucial para o sucesso do negócio (PAPAVASSILIOU et al,2002) (LU e SADIQ,
2006).
Com isto, pode-se levantar que dentre os principais pontos buscados em uma representação de processos
intensivos em conhecimento estão:
• Permitir a integração dos modelos de representação de processo e de conhecimento;
• Possibilitar uma representação do modelo de negócio organizacional considerando, os processos
de negócios e suas atividades de conhecimento;
• Permitir a gestão do conhecimento organizacional a partir de sua representação.
Na busca de atentar para os pontos citados, algumas iniciativas surgiram com o objetivo de possibilitar a
representação de aspectos de conhecimento integrados ao processo de negócio. O Business Process
Knowledge é uma destas iniciativas, e se foca no formalismo do detalhamento de cada processo trazendo
uma série de conceitos instanciáveis para garantir a dinamicidade da representação (PAPAVASSILIOU et al,
2002). Já o projeto DECOR, trabalha a representação de processos de conhecimento através de diagramas
embutidas a memória organizacional. Este busca estruturar no processo de negócio, o contexto dinâmico, as
informações contextualizadas e representações das memórias embutidas ao processo produtivo (ABECKER
et al, 2001).
Outro projeto na área é o KnowMore o qual tem seu foco no suporte às pessoas que trabalham em tarefas
intensivas em conhecimento através de elicitação automática de informações específicas para objetivos
previamente traçados (ABECKER et al, 2000).
Tendo em vista esta demanda, o presente trabalho apresenta um conjunto de ferramentas de representação
de processos intensivos em conhecimento que possibilita uma estruturação da maioria dos aspectos que
tangem à gestão integrada de conhecimento e de negócio.

2. MODELAGEM DO CONHECIMENTO
Segundo Motta (2000), modelagem do conhecimento denota uma representação de um sistema em um
nível que abstraia os detalhes de implantação e seja focado nas competências envolvidas. Tais sistemas não
são necessariamente softwares, também podem ser organizações, indivíduos ou até mesmo agentes
inteligentes. As atividades de modelagem do conhecimento têm seu foco na variedade de domínios e podem
ser apresentadas em muitos contextos, para muitos propósitos.
Métodos e linguagens de modelagem do conhecimento podem ser contextualizados através de
representações de esquemas, que aprimoram a tradicional modelagem de dados adicionando a esta um
contexto semântico característico à linguagem de representação. (MINEAU et al., 2000; PESIC, 2006)
Motta (2000) indica que a modelagem do conhecimento é fundamental ao reuso e compartilhamento de
informações, permitindo a seleção e configuração dos componentes reusáveis em aplicações.
Chan e Johnston (1996) descrevem duas categorias de métodos de modelagem de conhecimento: a
primeira baseada em métodos de resolução de problemas e a segunda conceituada sobre o domínio das
ontologias. Estas duas técnicas têm significativa sobreposição, ainda que, resoluções de problemas sejam
orientadas a processos e ontologias sejam baseadas na caracterização de objetos. As metodologias do tipo
KAD colocam particular ênfase na estrutura de tarefas necessárias para atingir os objetivos. Um sistema
KAD é representado como um grupo de modelos, cada um representando parte do sistema. Moreno et al
(2001) descreve dois componentes principais nos KADs: o domínio de conhecimento e o controle do
conhecimento. Domínio do conhecimento inclui itens como serviços, insumos, recursos humanos e etc. Já o
controle do conhecimento é centrado na execução dos processos do sistema modelado. O autor sugere que a
modelagem tenha início na criação de uma representação gráfica do sistema estudado. Esta estruturação
busca possibilitar uma compressão da realidade estudada e uma definição dos conceitos envolvidos para que
possam ser estruturados dentro de um modelo ontológico. A abordagem do uso das ontologias serve para
apoiar uma especificação precisa e conservar o domínio do conhecimento.
Modernas metodologias de sistemas baseados em conhecimento, como o CommonKads, prevêem o
desenvolvimento de abstrações da resolução do problema através dos modelos de domínio, priorizando sua
implementação dentro de uma ferramenta específica. Neste cenário a modelagem do conhecimento pode ser
usada para desenvolver o modelo de competências da organização, o qual pode apoiar a tomada de decisão
em vários cenários. (SCHREIBER et.al ,2002; MOTTA,2000)
Segundo Kingston e Macintosh (2000), existe uma grande quantidade de técnicas de modelagem
que podem ser adaptadas para possibilitar a modelagem de conhecimento. A diferença entre técnicas de
várias áreas, é que as centradas na psicologia e engenharia do conhecimento são projetadas usualmente para
apresentarem uma simples perspectiva do conhecimento. Por outro lado, as técnicas de gestão de negócio e
da computação estão interessadas na representação de várias perspectivas em um diagrama único para
facilitar a análise. Entre os exemplos destas técnicas estão:
Técnicas de Gestão do Negócio, como softwares de modelagem, que são usados para representar a forma
como o negócio é realizado e onde a comunicação ocorre entre os processos.
• Técnicas de engenharia de software, como diagramas de fluxo, os quais representam como os
processos são acionados e quais são os passos para que isso aconteça. Existem algumas
técnicas especificas que podem ser utilizadas também, como é o caso da representação
entidade-relacionamento que detalha qual o conhecimento está envolvido e onde ele é obtido.
Ou da orientação a objetos, que se assemelha à entidade-relacionamento porem permitindo um
nível de detalhamento maior.
• Estruturas de representação oriundas da psicologia cognitiva, tal como classificação de
hierarquias que representam qual o conhecimento é usado e suas categorias. Tabelas de
conceitos, que obtém informações sobre quais valores estão associados a um conceito e quais
conceitos apresentam similaridade. Além disto, tais técnicas também permitem representar
como as decisões são tomadas através de um passo a passo.
Na proposta de Kingston e Macintosh (2000) são apresentados três métodos para prover uma múltipla
perspectiva de representação do conhecimento, conforme detalhado abaixo:
1. O CommonKads, o qual cobre uma grande gama de visões do conhecimento e trabalha com
níveis de abstração como: O modelo organizacional que define o nível do escopo. Os modelos
de tarefa e agente que definem o nível de operação da empresa. Os de comunicação e
conhecimento que definem o nível de sistema. E por fim, o modelo de projeto que define o
sistema no nível de tecnologia.
2. A UML (Unified Modeling Language), que recomenda o uso de diagramas incluindo os casos
de uso (tipos de conhecimentos), classes (quais são os conhecimentos envolvidos), Atividades
ou estados (como o conhecimento é operado), seqüência e colaboração (onde estão tais
conhecimentos) e diagramas de componentes (conhecimento já mapeado em um nível de
abstração mais baixo).
3. O IDEF, que prove um conjunto de técnicas para modelagem de conhecimento Assim como o
CommonKads, ele trabalha com diferentes níveis de abstração do conhecimento.
Várias técnicas de modelagem são capazes de representar cada perspectiva do conhecimento, no entanto
cada uma delas tem um foco diferenciado e explora pontos diferentes da modelagem, desta forma a
combinação de técnicas e o preenchimento de lacunas deixadas por estas, é fundamental para apoiar à gestão
do conhecimento através de ferramentas que garantam maior representatividade a informação e se
aproximem cada vez mais da realidade abstraída.

A continuação serão apresentadas quatro distintas abordagens para modelagem de conhecimento: o


CommonKADS, a UML, o IDEF, que foram sugeridas por Kingston e Macintosh (2000), e o Business
Process Knowledge, uma abordagem que baseia-se em algumas características das anteriores
(PAPAVASSILIOU, 2002).

3. METODOLOGIAS PARA MODELAGEM DO CONHECIMENTO

3.1 CommonKADS
A proposta básica desta metodologia é não atacar de forma direta a ferramenta para solucionar o
problema, mas sim, estudar as características e objetivos da organização, de forma a moldar um sistema que
realmente atente para as necessidades fundamentais a plena gestão do conhecimento. Sua premissa básica é
construída na resposta de três questões: Por que um sistema de conhecimento é uma solução para
organização? Qual é a natureza e a estrutura do conhecimento envolvido? E, quanto do conhecimento deve
ser implementado em um sistema computacional? Através da aplicação de seus modelos o CommonKADS
busca responder a estas questões.
A aplicação da metodologia está dividida em seis modelos que buscam estabelecer o contexto em que o
problema está inserido, a conceituação do sistema e o artefato que será gerado, conforme apresentado na
Figura 1 abaixo (SCHREIBER. et al, 2002).

Figura 1. Modelo de Aplicação do CommonKADS (SCHREIBER. et al, 2002)

O CommonKads tem um foco específico na representação de sistemas de conhecimento, para isso, ele
trabalha várias fases da modelagem que buscam estabelecer o contexto que o sistema se coloca. Esta
metodologia se caracteriza por ser autofágica, uma vez que o estudo do contexto vai permitir a organização
definir a real necessidade de um sistema de conhecimento. Apesar de sua grande quantidade de modelos, e
seu detalhamento dos processos da organização, o CommonKads não é uma ferramenta específica para a
gestão do conhecimento. Aspectos que estruturam a gestão são considerados unicamente para possibilitar a
construção do sistema de conhecimento, gerando então algumas lacunas que podem ser trabalhadas pela
gestão. Três pontos básicos caracterizam estas demandas; o detalhamento das competências envolvidas na
execução dos processos, a representação dos processos através de artefatos semânticos e a análise de
processo que busca estruturar as oportunidades de melhoria no que tange o processo e o uso do
conhecimento.

3.2 UML
A UML pode ser usada tanto para modelagem de software quanto para modelagem de negócio.
Eriksson e Penker (2000) colocam que a notação UML apresenta alguns problemas. Seus esforços são
naturalmente concentrados na representação dos conceitos da orientação a objetos e precisam ser estendidos
para representar os conceitos de negócios. A versão 1.3 da especificação UML inclui um pacote básico para
modelagem de processos, porem ainda trabalhando dentro dos conceitos da orientação a objetos (SPARKS,
2000).
Outra iniciativa de aproximação entre UML e modelos de negócio é a iniciativa da Popkin Software,
que busca modelar os conceitos de negócio através da UML apresentando sugestões de como tratar cada
etapa da modelagem com os recursos dispostos por esta linguagem (POPKIN, 2001)
Cabe salientar que as duas iniciativas trabalham com a orientação de modelagem de negócio para
desenvolvimento de software e buscam a integração dos modelos de negócio com os modelos de
desenvolvimento dos artefatos computacionais.
Na UML nem todos os recursos de modelagem são úteis para todos os domínios. O modelo sugere que
sua estrutura seja modular para permitir a aplicação em diversas áreas. Por outro lado, um excesso na
flexibilidade da linguagem aumenta a probabilidade de erros e problemas durante a modelagem. Desta forma,
fica a cargo do analista equilibrar flexibilidade e padronização em sua modelagem.

3.3 IDEF
O IDEF é um método desenvolvido para modelar decisões, ações e atividades de uma organização ou
sistema segundo uma linguagem pré-estabelecida conforme ilustrado pela figura 2. Ele foi projetado para
estabelecer uma linguagem gráfica com base na Structured Analysis and Design Technique (SADT) da força
aérea americana. O IDEF ajuda na organização e análise de um sistema para promover uma melhor
comunicação entre o analista e seu consumidor. Ele é útil para estabelecer o escopo da análise,
principalmente considerando os aspectos funcionais (IDEF0, 1993). Seus conceitos foram desenvolvidos para
promover os relacionamentos dos aspectos de comunicação sustentados por:
• Diagramas baseados em formas simples e setas gráficas;
• Rótulos para descrever as formas e setas e textos para definir o significado dos elementos dos
diagramas;
• Estrutura hierárquica;
• Limitação de detalhes para no máximo seis sub-funções.

Controles

Entradas Função de Saídas


manofatura

Mecanismos

Figura 2. Detalhamento Gráfico do IDEF0 (IDEF0,1993)

Além disto, o IDEF trabalha com um conjunto de regras que exigem rigor e precisão na representação dos
processos para satisfazer as necessidades da análise dos mesmos.
3.4 Business Process Knowledge (BPK)

O método Business Process Knowledge (BPK), foi desenvolvido com o propósito de integrar a
modelagem e gestão de processo com o conhecimento. Ele busca combinar a flexibilidade das ferramentas de
gestão de projetos com os complexos aspectos operados pelos tradicionais diagramas de representação de
processo. O método é composto por seis passos básicos, conforme ilustrado pela figura 3.
(PAPAVASSILIOU, 2002) (PAPAVASSILIOU,2003).

Identificação do
processo de
negócio

Análise do
processo de
negócio

Tarefas Regras Pessoas

Análise de
tarefas

Material fonte Termo de interesse

Projeto do processo
de negócio Criação de
ontologias

Refinamento de
ontologias

Figura 3. Passos do BKP (PAPAVASSILIOU, 2003)

• Passo 1 – Identificação do processo de negócio: esta atividade envolve a identificação dos


processos mais importantes da organização. Processos com alto nível de complexidade e
intensivos em conhecimento são aqueles que têm alto potencial para suporte a gestão do
conhecimento. Em geral, os candidatos estão centrados nos processos que geram valor a
organização.
• Passo 2 – Análise dos processos de negócio: Esta atividade envolve uma descrição dos processos
selecionados na fase anterior em termos de tarefas, regras, recursos humanos e material fonte.
• Passo 3 – Análise de Tarefas: Nesta fase é feito um detalhamento das tarefas identificadas
através da definição de suas entradas, saídas, controles e relações entre as tarefas. Além disto,
são identificados nesta etapa os artefatos de conhecimentos envolvidos e suas colaborações com
as demais etapas.
• Passo 4 – Projeto do processo de negócio: Esta etapa destina-se a modelagem do processo de
negócio usando uma ferramenta gráfica. Como resultado desta fase é gerado uma representação
dos processos de negócio juntamente com um conjunto de tarefas de gestão de conhecimento
que permitem identificar o fluxo de conhecimento no processo de negócio.
• Passo 5 – Criação das Ontologias: Nesta fase são desenvolvidas as ontologias identificadas nos
processos seguindo por base a linguagem IDEF5. Considerando três conceitos básicos: Tipos
(com o objetivo categorizar os objetos que compartilham características semelhantes),
Características (que definem as propriedades pertencentes a um tipo) e as Relações (que
estabelecem os relacionamentos entre os tipos).
• Passo 6 – Refino das Ontologias: Esta atividade envolve o refino e validação das ontologias
identificadas. Tais refinamentos são incorporados à ontologia inicialmente definida de forma a
verificar a validade da mesma.
O BPK também trabalha com uma estrutura de representação que busca atender o paralelismo de
representação do negócio e do conhecimento. Papavassiliou (2002), propõem o uso de um meta-modelo para
representação das tarefas intensivas em conhecimento. Nesta ótica, uma tarefa intensiva em conhecimento é
definida em um modelo de fluxos. Esse modelo consiste de tarefas e suas interdependências. Cada uma
destas tarefas pode ser decomposta em sub-tarefas que caracterizam o fluxo de processo.
O Modelo BPK tem uma característica dinâmica, que se aproxima da ótica do acompanhamento de
projetos, onde as atividades geram indicadores de execução e artefatos de informação através da instanciação
das tarefas. Considerando seus objetivos específicos e por se tratar de um modelo ainda em evolução o BPK
apresenta algumas deficiências na representação das competências envolvidas na execução das tarefas e das
atividades intensivas em conhecimento que as suportam. Além disto, o processo de identificação das tarefas
intensivas em conhecimento, disposto pelo método, não trabalha no instrumento de elicitação e priorização
das tarefas que serão detalhadas.

4. DISCUSSÕES
Os instrumentos hoje dispostos para representação de processos intensivos em conhecimento ainda
apresentam pouca flexibilidade e restringem sua aplicação a questões específicas, desta forma, prejudicam a
visão global do conhecimento na organização (ABECKER et al, 2001).
É fundamental para as organizações contarem com instrumentos de representação e gestão de
conhecimento que se integrem ao dia a dia da empresa através de seus processos de negócio, possibilitando
uma gestão integrada e global dos processos e seus aspectos de conhecimento intrínsecos. Entre as
características que podem potencializar a representação pode se destacar:
• A orientação ao fluxo de valor (ORI), uma vez que tal estrutura facilita a obtenção de
resultados com a representação. (IDEF,1993)
• Representação do modelo de negócio (REP), a integração da representação de negócio
com a representação de conhecimento é fundamental para a agregação de valor do
conhecimento dentro da estrutura de negócio da organização (UML, 2003; SCHREIBER,
2002)
• Priorização de tarefas (PRI), esta característica tem a função básica de permitir a
categorização e apoio a tomada de decisão sobre quais ações de conhecimento devem ser
executadas primeiro (SCHREIBER, 2002)
• Artefatos de conhecimento (CON), tal característica surge na necessidade da
representação de conhecimento diferenciada da representação normal do negócio
(SCHREIBER, 2002)
• Artefatos dinâmicos (DIN), esta tem por função básica permitir a representação de
processos e atividades que são mutáveis de acordo com o contexto (PAPAVASSILIOU,
2003)
• Representação de competências (COM), tal característica tem por objetivo permitir a
representação das competências de conhecimento envolvidas em cada processo.
(STRAUHS, 2001; SCHREIBER, 2002)
• Conceitos do domínio (DEF), a representação de conceitos de domínio via ontologia é
fundamental para permitir a contextualização do ambiente da representação. (GUARINO,
1998)

A figura 4 ilustra a presença de tais características em cada ferramenta de representação estudada.


Figura 4. Listagem das principais características de cada pesquisa

5. CONCLUSÃO
A representação de processos de conhecimento dispõe de várias ferramentas oriundas da engenharia de
software e modelagem de negócio. No entanto, novos conceitos surgiram da necessidade de se representar o
conhecimento para possibilitar sua gestão ou sistematização. Comportamentos dinâmicos de processos,
imprevisibilidade dos fluxos informacionais e regras de funcionamento mutáveis são algumas das demandas
da representação do conhecimento. Tais demandas ainda não são suportadas pelos tradicionais modelos de
representação. Além destas, instrumentos que permitam a inserção do fluxo de valor da organização dentro
da modelagem do conhecimento são substanciais para a definição das estratégias da empresa. Neste contexto
coloca-se o trabalho apresentado, buscando apresentar e evidenciar algumas características de representação
do conhecimento dispostas pelas ferramentas de representação.
A modelagem de processos de conhecimento seja ela para desenvolvimento de softwares, análise de
processo ou gestão de conhecimento, está diretamente associada ao objetivo da representação, desta forma,
sua corretude e completude estão relacionadas às expectativas dos envolvidos no processo. Nesta ótica, cada
uma das ferramentas estabelece alguns passos para buscar cobrir a maioria dos aspectos trabalhados no
conhecimento, não obrigatoriamente forçando seu uso com todos os passos. A seleção de quais passos devem
ser utilizados está muito relacionada aos objetivos de utilização do método.
Pode-se concluir também, que a representação de processos intensivos em conhecimento é um problema
complexo que não pode ser atacado desde um ponto de vista unidirecional, isto é que os modelos
apresentados neste artigo devem contribuir e complementar-se entre si, pois não existe ferramenta ou modelo
de representação perfeito como foi demonstrado no presente trabalho, em base às comparações realizadas.
Isto leva o estudo dos processos intensivos em conhecimento por um caminho multidisciplinar, onde as
diversas abordagens devem trabalhar juntas com o objetivo de representar eles da melhor forma possível.

REFERÊNCIAS
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SAEI MANAGEMENT SYSTEM – AN APPLICATION OF
KNOWLEDGE-BASED SYSTEM WITH ONTOLOGIES FOR
STATE CRISIS MANAGEMENT

Hugo Cesar Hoeschl, Post Doc.


Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Tania Bueno, Dra, Aline Nicolini, Msc, Sonali Paula Molin Bedin, Msc
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas - IJURIS
{tania.bueno; aline.nicolini; sonali.bedin}@ijuris.org

Abstract
The information society lives a great paradox, at the same time that we have access to an innumerable amount of
information, the capacity and the ways of its processing are limited. In this context, institutions and research centers focus
themselves to find the ways to use the technological advantages to retrieve the available data consistently. The interaction
between Knowledge Management and Artificial Intelligence makes possible the development of filtering tools and pre-
analysis the information. The SAEI Management System is an example of this technology. It was implemented in the
Secretariat of the Institutional Security Cabinet of the Brazilian Republic President. The SAEI is responsible for the
identification and control state’s crisis in the scope of the Federal Government. The System subsidizes and supports the
actions of this Secretary. The most important characteristic of the SAEI Management System is that the specialist
participates of the improvement and the continuous development of the system, through the ontologies construction.
Implemented in 2004, at present, it has approximately 1.500.000 documents in his knowledge base.

Key-words:

Knowledge-based system, Ontologies, Knowledge Management, Artificial Intelligence.

1. Introduction

The interaction of Knowledge Management with Artificial Intelligence makes possible the development of
retrieving tools and pre-analysis of the information that appears as an answer to the expectations to extract
optimized results of databases and not-structuralized sources, as the Internet. In this case, the implementation
of knowledge-based system depends on the analysis of the environment, because the scope of the system is
focused to an objective determined of the Institution, through the representation knowledge realized by
ontologies.
In this sense, a methodology for the process of knowledge acquisition was developed, for the specialist and
the knowledge engineer work in synchronicity and cooperative networked in organizations.
In this paper the SAEI Management System and the relationship between the representation knowledge by
ontologies in an organizacional context specific are shown.

2. SAEI Management System

The SAEI Management System embraces the whole cycle of strategic information production, from the
collect to the retrieve for the user. Part of the visualization of the system is in figure 1.
It begins with the choice of the digital sources to be monitored (Knowledge Engineering), dividing structured
data of those non-structured (about 90%) and submitting them to differentiated treatments. The obtained data
is collected through the agents, wich realize the data collect automaticaly. Each one representing a source of
information, which can be from specific websites. The vision of the storage structure is physical, containing
the items collected in files organized by domains. The collections are converted for a common pattern that
allows communication with structured databases. The chosen format was XML (Extensible Markup
Language). Text Mining is used to extract concepts, statistics and important words of a group of documents
to structure them.
In that phase, three types of information are extracted: metadata (common document information, such as
title and author), indexes (terms that describe the content of the document) and concepts (terms that describe
the context of the document).
These concepts are based on the ontologies defined in the Knowledge Engineering Suite. Therefore, the cycle
of the information production is completely assisted in a digital and intelligent way.
On SAEI Management System the retrieval process is cyclical, as the user describes the subject to be
searched and the system shows, organized by the degree of similarity with the described subject, the related

Figure 1: Ontologies in SAEI Management System

information, enabling the increase of more specific information referring to the present elements on the
searched subject, for instance, periods of time or information sources. However, the process of ontology
construction manually is very expensive, it demands much time and money. Therefore, it is necessary the
development of some model that allows the identification of key-concepts in the documents.
These concepts can be used as a base to the future engineering process or even as a knowledge base of the
system working to the Information Retrieval. The objective of this work is to develop a computer model to
automatic extraction of terms from a random set of text documents gone back to the Portuguese language,
aiming at finding concepts and identifying the context that the document belongs. Or, at least, to provide
information to a domain specialist and/or a knowledge engineer to build an ontology on one or more
domains, simultaneously. In this case, the time spent in the construction of the ontology can be highly
reduced.
The ontologies structure is the heart of SAEI Management System. The reason for that is because all
processing and storage to gathered information and knowledge base organization is done using this structure.
It also plays an important role in the quality of the results presented to the user. The ontologies allows that
the SAEI Management System retrieval documents related with the searched subject without the exact words.
The Knowledge Engineering Suite backwards of SAEI Management System allows the building of the
relationship tree, always considering the similarity between all the terms filed and the ones already existing
on the base. These relationships allow the system to expand the search context.

3. The process of the development of SAEI Management System

The SAEI Management System was implemented in the Secretariat of the Institutional Security Cabinet of
the Brazilian Republic President. The Secretary´s Office is responsible for the identification and the control
of crisis of the state. In this sense, the system SAEI Management System aimed to subsidize and support the
actions ofthe secretary as well as to improve its taken decision.
In the Knowledge Engineering phase- KE were carried out interviews with the specialists/analysts of the
domain for delimitate the scope of the system. It was established that the agents of collects developed would
be in digital springs of newspapers, magazines and agencies of news. The institutional documents and
analyses would be inserted in the system by the module of informative notes. The KE was also was
responsible by the definition the interfaces and application/system.
Another phase of Knowledge Engineering occurred was the inventory of integrant documentation of system
for knowledge domain system. In this case was used the extractor of frequency and semantic and jointly with
the specialist were defined and validated the domains and sub-domains which would be developed the
ontologies and dictionaries.

4. Knowledge Representation in SAEI Management System

SAEI Management System used a special process to extract and represent knowledge in the process of
developing knowledge-based systems. The main purpose is to allow an automatic process of text indexing,
on the basis of a controlled vocabulary and a dictionary of normative terms, constructed persuasively through
the relevance of pre-defined terms, called key-normative terms [2], to become the acquisition process faster,
it was necessary to envolve the process using IR (Information Retrieval) techniques to associate the relevance
of the terms with the frequency of the words added to the controlled vocabulary and the dictionary of
normative terms; this approach resulted in a methodology of knowledge representation called DCKR -
Dynamically Contextualized Knowledge Representation [6]. DCKR is a methodology of knowledge
representation centered on a dynamic process of acquisition of knowledge from texts, defined through the
elaboration of a controlled vocabulary and a dictionary of terms, associated to an analysis of frequency of the
words and indicative expressions of the specific context.

5. The Use of Ontologies in the SAEI Management System

The ontologies structure is the heart of a knowledge-based system that uses DCKR methodology. The reason
for that is because all processing and storage of gathered information and knowledge base organization is
done using this structure. It also plays an important role in the quality of the results presented to the user. The
participation of the ontology structure in the system occurs in three moments.
At the first moment, the system extracts information from different previously selected sources. Each of these
documents is indexed based in the ontologies defined by the specialists and knowledge engineers during the
knowledge engineering process. It means that the system will mark the documents with all indicative
expressions found in the text, storing them in an organized way in the knowledge base. Thus, it is possible to
make a pre-classification of the cases in the base according to what was defined in the knowledge
organization promoted by the ontologies.
In a second moment, the ontologies are important in the analysis interface available to the user. The process
begins at the moment in what the user types the input text for the search. At this point, the indicative
expressions defined by the user that coincide with the ones presented in the ontology are identified. These
expressions identified in the entry case determine the stream of relations that will be used by the system. It
means that there is a dynamic relation between the way the user enters the indicative expression in the
analysis interface and the way the relations in the Knowledge Engineering Suite are defined for this
expression.
The first versions of the Knowledge Engineering Suite worked with key expressions, an approach that
resulted in some rigidity in the ontology organization, for the weight of the information that was typed by the
user in the search text that was not considered. This rigidity is acceptable in cases in which the content of the
documents stored in the system is standardized, with a small degree of variation. But in cases with broader
domains and with different sources of information with no control over its contents, this approach was not
efficient.
For this reason, it was decided to apply an approach that turns the use of ontology more dynamic in the
analysis process. In this new approach, the importance of the indicative expressions to be considered, is
defined by the user. The system gives priority to the expressions and search for the corresponding derivation
for each case, according to the knowledge base. A priori, there is no hierarchy in the organization of the
ontology in the knowledge base. The weight of the relations will be based only in what is required by the
search, where the context intended by the user is defined.
The third moment where the ontology takes part is in the Knowledge Engineering Suite, available in the
system and integrated in its architecture. Through the Knowledge Engineering Suite the user is able to update
the knowledge base with new expressions. At each new update in the ontology, the system re-indexes all the
texts stored in the knowledge base, so the users may use this new ontology organization to search for
documents previously indexed. It allows the verification of old documents that are related to a context that is
important at the present moment. This way, it is possible to define a dateline about a subject, locating its start
point.

6. The Knowledge Engineering Suite

The Knowledge Engineering Suite is an Ontological Engineering Tool for collaborative work on the Web,
aiming to ease the sharing of knowledge between the Knowledge Engineering team and the specialist team.
The Suite allows to build relationships between complex terms, considering its concept in the specific
domain of application. These relationships are based on AI (Artificial Intelligence) techniques [3] theories of
language, Semantic Web [10], WordNet[8], and UNL[7].
The creation of an infrastructure for the acquisition of knowledge for cooperative work on the Web is an
efficient and effective tool of knowledge acquisition for intelligent systems. Many different techniques of
Knowledge Acquisition exist; but Knowledge Engineering Suite (see figure 2) is integrated as part of DCKR
methodology. Here, tools such as the Frequency Extractor, the Semantic Extractor and the Knowledge
Engineering Suite have been associated with the methodology to help in the task of knowledge acquisition.
This application works with extractors of automatic standards in conjunction with knowledge engineers and
domain specialists as according to specifications found in the methodology
Figure 2: Knowledge Engineering Suite

Figure 3: The semantic relations of indicative expressions.

DCKR, which consists of a dynamic process of analysis of the general context involving the theme to be
focused on.
The Suite is an editor of ontologies structured in a form to allow a cooperative work on the Web between the
Knowledge Engineering team and the specialists team.
This computational environment of shared access has two main objectives: organization and representation of
knowledge, and updating of the knowledge base. It is basically composed by four modules, which are:
1. Filing. It allows to set up a contextualized dictionary, by selecting themes and sub-themes for the
classification of indicative expressions. In this environment the user defines the theme and sub-theme under
which new indicative expressions will be inserted. A domain can be categorized in various themes and sub-
themes;
2. Search. It informs about other terms already filed on the base, which have some phonetic similarity with
the term typed. This tool allows the verification of possible typing errors, besides preventing duplicated
filing of the same term. It is a search system based on phonetic similarity. It supplies the user with a list of
similar indicative expressions found in the knowledge base, in alphabetical order, when a query is typed by
the user. The search module is used in the filing, edition and administration modules;
3. Relationship Editor. Allows the building of the relationship tree. This Module works with the similarity
between all the terms filed and the ones already existing on the base. These relationships allow the system to
expand the search context. The organization of the tree allows the dynamic definition of the weights of the
indicative expressions according to the query of the user. The fields with all available relationships are
presented. They are the following: -synonyms; -related terms; “this is a type of”; “it belongs to this type”;
“this is a part of”; “it is part of this”. The editor presents the existing relationships and allows the inclusion
of them (see figure 2). Each relationship has a weight related to the defined indicative expression in the
query by the user.
4. Administration Environment. The knowledge integration and the validation between words are made in
accordance with the context of themes and sub-themes. The environment is organized in three levels: High
Level - allows inserting themes and sub-themes, to validate exclusions, to include and to exclude users, to
check productivity of each user and to check descriptions of the dictionaries, themes, sub-themes and
indicative expressions; - Medium level- allows checking productivity and historical data; and, Low level-
allows checking descriptions.
The definition of related concepts implies research work or help from a knowledge specialist on the matter.
They are terms that can be considered as synonyms of themes and secondary themes, as well as close to the
application context. An identifiable limit does not exist for the number of related concepts. Therefore it is
important to observe the application of the terms in real cases. The specialists are helped in this task by a
technological structure.
The module of related concepts is used by the domain specialists. They can work in their office, and then the
contents are integrated into the knowledge base through the knowledge acquisition module (see figure 2).
All the concepts, linked on each other, generate a semantic-like network. This network improves the system
capacity to recognize concepts, independently of finding it or not in the text. The network is organized into
levels, indicating the “distance” between two concepts. These levels are used later on in the similarity
measure.
However, all this structure and methodology were not enough to turn the cooperative work efficient and
effective. A more holistic approach was necessary, which allows a greater coherence between the relations of
the expressions, mainly in the definition of the related terms where the participation of the specialist is almost
exclusive. It is important to highlight that this structure of contextualized ontologies allows automatic
information indexing by the system and a knowledge acquisition that gives more qualitative answers in the
retrieval process.

7. Conclusions

SAEI Management System embraces the whole cycle of strategic information production, that begins with
the choice of digital sources to be monitored (Knowledge Engineering), dividing structured and non-
structured datas and submitting them to differentiated treatments, creating the necessary ontologies with the
tools of its work suite.
The SAEI Management System has the following characteristics: collects news at the web sources; manual
insertion of documents; contextualized retrieval of news and documents; check interesting subjects; check the
evolution subjects in the time; produce reports news and storage news and documents in one own base.
This system does the following tasks: Automatization of the information gathering process and historical
analysis of news in the media; sharing reports of news and documents to the Secretariat; making an
organizational memory (storage of the organizational knowledge) by ontologies; making a knowledge base
by a dynamic team; permits the impact evaluation of the news in the media through the analysis of its
repetition; supports the pre-analysis of the news and documents through ontologies; quickness on the process
of decision-taking based in the identification of information that represents focus the crisis to the Federal
Government. The most important characteristic of the SAEI Management System is that the specialist
participates of the improvement and continuous the development of the system through the construction of
the ontologies.
Nowadays the SAEI Management System has approximately 1.500.000 documents in his knowledge base.
On SAEI Management System there are 17 areas to monitor crisis of the Federal Government (domain), with
73 sub-domains and 8.000 expressions. These expressions organized by ontologies automatically allows the
retrieve intelligence of the documents in its knowledge base.
The system was build with the participation of 8 specialists that worked in SAEI. The process of building of
the System and the ontologies occured during 1,5 years. Every 2 years the SAEI team is changed. Then,
before this time, it was realized other 64 hours training to make other specialists able to use the system.
The SAEI Management System supports the actions of the Secretariat of Institutional Security Cabinet of the
Brazilian Republic President since 2004.

References

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and System Approaches. AI Communications, 17(1), 1994.
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Hoeschl, Hugo Cesar. KMAI- Knowledge Management with Artificial Intelligence. The
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Intelligence Application and Innovations. Toulouse, 2004.
[5] RIBEIRO, Marcelo Stopanovski; Mattos, Eduardo da Silva; Bueno, Tânia Cristina D'agostini;
Hoeschl, Hugo César; Nicolini, Aline Torres. SAEI Management, an application of KMAI -
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Investigación Operativa, 2005, Rosário. II Argentine Symposium on Information Systems, 2005.
[6] HOESCHL, Hugo. C. et al, 2003. Structured Contextual Search For The Un Security Council.
Proceedings of the fifth International Conference On Enterprise Information Systems. Anger,
France, v.2. p.100 – 107.
[7] UNL. Universal Networking Language. Available at:
http://www.unl.ias.unu.edu/unlsys/index.html. Access on: 19 jan. 2007.
[8] WORDNET. Available at: http://www.cogsci.princeton.edu/~wn/. Access on: 19 jan. 2007.
[9] RESENDE, Solange Oliveira. Sistemas Inteligentes: fundamentos e aplicações. Barueri, SP:
Manole,2003.
[10] SEMANTIC WEB. Available at: http://www.w3.org/2001/sw/. Access on: 19 jan. 2007.
CIBERCIDADANIA: MODELOS PARA DISCUSSÃO EM
ESPAÇOS PÚBLICOS DIGITAIS NÃO-ESTATAIS

Antonio José Roveroni, esp.


Centro Unisal – Lorena – Programa de Mestrado em Direito
Faculdade UNIRG
aroveroni@unirg.edu.br

RESUMO
No final do século XX, a dicotomia indivíduo-sociedade que havia tomado corpo na Idade Média começa a regredir.
O surgimento da Internet como um meio de comunicação que não depende de aparelhos meramente receptores e a
possibilidade imediata de manifestação da opinião reacenderam o fogo da discussão cidadã, fazendo surgir Espaços
Públicos Digitais Não-Estatais onde pautas reivindicatórias são discutidas livremente por pessoas ligadas diretamente
ou não aos problemas levantados. Os polos individual e coletivo passam a interagir com maior frequência ante a
impossibilidade de controle no ciberespaço. Nesse contexto, a discussão sobre justiça política, ou o retorno do debate
sobre a importância da dimensão pública e as suas limitações éticas na vida coletiva ganha espaço. Formulações de
possíveis modelos para essa discussão, como o sistema imunizador de Niklas Luhmann, que reduz o direito a um
código binário; a neutralidade neokantiana de John Rawls, que procura excluir o mundo moral do debate jurídico; a
Teoria do Agir Comunicativo de Jünger Habermas, onde, pelo discurso a intersujetividade contrói o entendimento; e
a Ciberdemocracia planetária de Pierre Lévy são expostas no presente artigo como variáveis possíveis para o diálogo
democrático na ágora virtual.

PALAVRAS-CHAVE
Cidadania; Democracia; Governo Eletrônico; Justiça Política; Espaços Públicos Digitais Não-Estatais;
Cibercultura.

1. INTRODUÇÃO
Segundo o relato mitológico da criação do homem contado por Protágoras (PLATÃO, 427-347 a.C.),
chegado o tempo da criação dos animais, os deuses do Olimpo confiaram aos irmãos Epimeteu e
Prometeu, a incumbência de determinar as qualidades a serem atribuídas a cada espécie. Epimeteu, o
imprevidente1, propôs então a seu irmão que o deixasse fazer sozinho essa distribuição, ficando Prometeu
encarregado de verificar em seguida se tudo havia sido bem feito.
Obtido o acordo proposto, Epimeteu passou então a distribuir as qualidades entre os animais, de modo
a evitar que se destruíssem mutuamente e assegurar-lhes as mesmas possibilidades de sobrevivência.
Destarte, atribuiu a certas espécies a força sem a velocidade, dando a outras, velocidade sem força. Para
proteção contra as intempéries, revestiu os animais de peles ou carapaças. Para as fontes de alimento,
visando a preservar o equilíbrio, decidiu que cada espécie teria seu alimento próprio no reino vegetal e,
quando certos animais servissem de pasto a outros, estes seriam menos fecundos que aqueles, de modo a
garantir a sobrevivência de todo o reino animal.
No final da tarefa, Epimeteu se deu conta que havia distribuído todas as qualidades disponíveis entre
os animais irracionais nada sobrando para compor o ser humano, que iria nascer nu e indefeso. Foi nessa
situação embaraçosa, quando da verificação acordada inicialmente, que Prometeu o encontrou. Esgotadas
as qualidades destinadas aos seres mortais, não viu Prometeu alternativa, senão subir ao Olimpo e, dentre
os atributos próprios dos deuses, subtrair de Hefaístos e de Atenas a habilidade técnica, ou seja, a
capacidade inventiva dos meios próprios de subsistência, atribuindo-a aos homens. Porém, não deu todas
as habilidades a todos os homens indistintamente, mas na proporção de um especialista para cada grupo,
mais ou menos numeroso de não-especialistas. Desta forma, por exemplo, nem todos os homens

1
COMPARATO (2001, p. 197), em nota, sugere que os nomes dos dois irmãos Epimeteu e Prometeu
formam um trocadilho composto pelo radical do verbo manthanô – aprender, estudar, compreender – e os
prefixos epi (após) e pro (antes). Com isso, Epimeteu é o imprevidente, o que “pensa depois” e Prometeu,
“o que pensa antes”.
precisavam entender de medicina, bastando que existissem alguns médicos para cuidar adequadamente da
saúde geral da coletividade.
Contudo, mesmo munidos dessa qualidade divina, revelaram-se os homens, desde logo, incapazes de
conviver harmonicamente uns com os outros, destruindo-se reciprocamente em dissensões e guerras
contínuas. Felizmente para a espécie humana, Zeus lançou os olhos à Terra e, compadecendo-se de tal
situação aflitiva, decidiu enviar seu mensageiro Hermes, recomendando-lhe que atribuísse aos seres
humanos os sentimentos de justiça (dike) e de respeito pelos outros (aidôs), sem os quais não há
sociedade que subsista, bem como, também, um atributo próprio seu: o dom da arte política. E advertiu de
forma categórica Hermes: que esse dom não fosse distribuído como fez Prometeu com a habilidade
técnica; todos os homens, indistintamente, deveriam possuir a arte política, pois, se apenas alguns fossem
nela instruídos, não haveria harmonia social e a espécie humana acabaria por desaparecer da face da terra.
Por fim, o pai dos deuses determinou que seu mensageiro instituísse a pena de morte para todo aquele que
se revelasse incapaz de praticar a arte de governo, pois ele seria como que o inoculador de uma doença
letal no corpo da sociedade (COMPARATO, 2006, p. 35-37).
Da antiguidade clássica até o final do século XX muita coisa mudou no que concerne a importância
dada à atividade política pelas pessoas. De suprema dimensão da vida coletiva, com o tempo, o
engajamento político foi perdendo terreno no campo das primeiras preocupações do ser humano na
medida em que o individualismo ia ganhando espaço na mente a na conduta humana. Foi na Idade Média
a grande ruptura. O distanciamento da ação política das tradicionais limitações de ordem ética sustentado
por Maquiavel, Bodin e Hobbes – cada um a seu modo –, a laicização do Estado, bem como a fixação das
bases do capitalismo que, mais tarde, com Adam Smith, iria afastar completamente a política da
economia foram, aos poucos, colocando os indivíduos cada vez mais longe da ação pública e cada vez
mais fechados dentro de suas tramas egoístas.
Com o liberalismo, o industrialismo, a imprensa e o nascimento dos Estados Nacionais – e também as
invenções de melhores e mais eficazes meios de comunicação do tipo um-todos, como o rádio e a
televisão – estava pronto o cenário para a Sociedade de Consumo, de Massa e a onipresença dos Estados
Totalitários, diante de populações “apolíticas”, alienadas por seus sonhos pequenos burgueses de
consumo.
Ao nos perguntarmos como pode obter apoio maciço da população o nazismo – ou o fascismo, ou o
estalinismo, tanto faz – para praticar as atrocidades que todos sabemos, uma resposta seria que “as
pessoas estavam sob os efeitos de uma histeria coletiva”. No entanto, a hipótese comporta outra resposta:
agiram assim, porque não foram devidamente vigiados pelas pessoas; estas, que acreditaram na idéia da
representação, acreditaram que a participação política podia se limitar ao sufrágio universal, ou seja,
alimentaram a crença que apenas o ato de votar as isentaria da responsabilidade política de seus governos.
Em outras palavras, de dentro de seus lares, contando seus vinténs, protegidas por seus muros, grades e
cercas elétricas, não achavam que a sanção imposta por Zeus tivesse a eficácia que teve: morte sem
piedade!
Contudo, no ocaso do século XX, como uma nova chance dada por Zeus, sem ninguém
premeditadamente inventar, fruto da feliz convergência de tecnologia com interesse econômico e de
comunicação com educação, surgiu a Internet, uma nova forma de interação que vem mudando definitiva
e irreversivelmente cada vez mais a vida de mais e mais pessoas. A Rede Mundial de Computadores
integra os modos de comunicação um-um, um-todos e todos-todos (LÉVY, 1999, p. 83) e abre novas
possibilidades de governança nas organizações através de contato rápido – às vezes imediato – e direto de
seus interlocutores, clientes, fornecedores, cidadãos. No caso dos governos – que se convencionou
chamar “governo-eletrônico”, a possibilidade é nunca antes vista, nem as ágoras gregas no auge da
democracia clássica, puderam gozar de um instrumento tão eficaz, abrangente e desterritorializado. O fato
é tão novo, que ainda o chamamos, provisoriamente, de “Democracia Radical” (HOESCHL, [S.d.], p. 23).
Fato é que, o e-gov é mais que uma possibilidade digital de gestão mais eficiente da informação e da
comunicação entre governantes, controladores e governados, é mais que uma possibilidade de criação de
ambientes digitais de simulação, testes, prospecção de necessidades e prestação de serviços públicos. É
uma conseqüência impensada da impensada Internet, é a soma de tudo isso com os Espaços Públicos
Digitais Não-Estatais que nascem a cada minuto. É um canal político de comunicação que nos permite
cumprir as ordens de Zeus: sejamos, pois, cidadãos-governantes.
Contudo, há vários problemas a enfrentar. Desde a carência material até o vício da deseducação cívica
que a modernidade nos legou, pode ser feito um extenso rol de necessidades. O presente trabalho tem
como foco um desses problemas, que consideramos básico: a dificuldade de entendimento, ou melhor,
pretende discorrer sobre algumas formas possíveis de se estabelecer um fórum público de discussão sobre
um conceito de justiça política2 que se coloque como base da sociedade atual pluralista, multicultural,
ultraconectada e que possa funcionar como vetor para o governo eletrônico na acepção de co-participação
e co-responsabilidade que afirmamos. Nesse sentido, são destacadas e cotejadas as idéias de Niklas
Luhmann (visão sociológica de sistemas), de John Rawls (liberalismo político neokantiano), de Jünger
Habermas (Teoria do Agir Comunicativo) e Pierre Lévy (cibercultura e ciberdemocracia) e, sem deixar de
lado outras opiniões, procuram-se pontos comuns que possam sustentar o estabelecimento de uma forma
legítima de direito e de Estado, numa visão integradora das sociedades e da civilização norteada pela ética
da interconexão.

2. CIBERCIDADANIA
2.1 Base Conceitual
Para evitar confusões, esta primeira parte busca fixar o campo semântico, mesmo que de forma breve, dos
conceitos que, adiante, serão inter-relacionados.
2.1.1 A Internet
A Internet é o resultado da conexão comunicacional em mão-dupla dos computadores de pessoas físicas,
de organizações públicas, privadas e do Terceiro Setor, bem como de entes despersonalizados3, formando
uma “rede de redes”, consubstanciando-se em é uma forma social surgida no final do século XX, que não
aceita nenhum tipo de controle, e sua difusão provoca transformação na vida política global, tornando
obsoletas as anteriores formas de relacionamento (LÉVY, 2002, p. 17).
Por conseguinte, é forçoso constatar que, uma vez nascidas, determinadas
formas sociais parecem irreversivelmente reduzir as formas anteriores a papéis
menores. Foi assim que as sociedades que nem tinham Estado nem escrita
foram suplantadas pelas que sim, foi deste modo que as que recorriam à
imprensa ultrapassaram as que não ou que a utilizavam menos, o mesmo
poderíamos dizer a respeito das tecnologias numéricas. Efetivamente, ocorre
uma seleção, cumulativa, de certas formas na evolução cultural. O progresso
histórico no sentido da democracia liberal, claramente evidenciado por Francis
Fukuyama, pode perfeitamente ser interpretado em semelhante quadro
evolutivo. O mesmo se poderia dizer da evolução a longo prazo do direito, que,
progressivamente, registra as regras de boa conduta que “sobreviveram” a
todos os ambientes (pelo menos era assim que Friedrich Hayek via o direito).
Curioso notar que a Internet surgiu de uma “fórmula improvável”: a soma da big science –
compreendida esta como as investigações científicas que envolvem projetos vultosos e caros, geralmente
financiados pelo governo; da pesquisa militar e da cultura libertária – esta, como a ideologia baseada na
defesa intransigente da liberdade individual como valor supremo, contando, ou não, com o apoio do
governo (CASTELLS, 2003, p. 19). Seu nascimento, em plena Guerra Fria, ainda sob o comando do
Estado Totalitário e da Sociedade do Espetáculo, hoje pode ser interpretado como a criação suicida do
próprio veneno.
Esclarece COMPARATO (1989, p. 138-140) que até o advento dos meios de informação de massa –
imprensa, rádio e televisão – o poder de informar era monopolizado pela família, pela escola e pela
autoridade religiosa que, interligadas, possuíam o direito de informar, mas denegava-se peremptoriamente
aos indivíduos o direito de se informarem e, obviamente, controlarem as informações recebidas.
Acrescenta ainda que, até a Idade Moderna, não havia a organização de um espaço público, onde

2
HÖFFE (2006, p. 1) esclarece: “A crítica filosófica pode proceder de diversos pontos de vista. Ali, onde
ela é determinada por uma idéia de uma obrigação suprapositiva, principalmente a idéia de eticidade, a
tradição ocidental fala de direito natural na modernidade, também de um direito de razão, e mais
neutramente de justiça política. Com a idéia de justiça política, as leis e as instituições políticas são
submetidas, portanto, a uma crítica ética. E já que, na modernidade, o universo do político assume a
figura de uma ordem de direito e de Estado, a justiça política designa também a idéia ética de direito e de
Estado.”
3
Tomamos por “entes despersonalizados” todos aqueles que, embora não tendo reconhecida sua
personalidade jurídica como sujeitos de direito, são reconhecidos na ordem social como representantes de
idéias e pleitos reivindicatórios, independente da legalidade e/ou moralidade de suas ações. No Brasil, um
exemplo é o movimento social MST (Movimento dos Sem Terra), no mundo, podemos citar as
organizações terroristas ou os sítios libertários de Hackers na Grande Rede.
pudessem ser comunicadas idéias, queixas e acusações. Lembra Tocqueville que salientava que nas
sociedades aristocráticas o indivíduo, encontrando-se sempre ligado a uma comunidade, a um estamento
ou a uma corporação, que o defendia, não tinha necessidade desse veículo de comunicação universal que
é a imprensa; e também dizia que nas sociedades democráticas, ao contrário, o extremo isolamento
individual ocasionado pela igualdade faz da imprensa o único socorro do cidadão. Adverte, no entanto,
que essa é uma “visão romântica” dos próceres do liberalismo, que puderam antever a importância da
imprensa livre na sociedade de massas, mas deixaram de perceber o fato óbvio que a imprensa é um poder
social e, nesse sentido, deveriam condenar – como fizeram com os monarcas que se apropriavam da res
publica – a apropriação dos órgãos de imprensa por particulares.
Essa falha capital no esquema do liberalismo – ou, se se quiser, esse ponto
fundamental no processo de ascenção social da burguesia, correspondente ao
seu mais claro interesse de classe – tornou o sistema de meios de informação
de massa antes um veículo de dominação oligárquica do que um instrumento
de defesa democrática, em contraste com as proclamações liberais. De seu
lado, o Estado antiliberal do século XX não tardou em incorporar em seu
arsenal de poderes mais este, de eficiência comprovada: ultrapassando a
simples censura das informações privadas, prerrogativa considerada obsoleta,
os governantes passaram, eles próprios, a explorar intensamente a indústria da
informação de massa. Ou seja, também aí, o poder social de informação foi
submetido a uma apropriação e desviado de seu objetivo público.
E, na exploração dessa nova indústria da informação social, os proprietários, públicos ou privados,
serviram-se preferencialmente de três técnicas: a linguagem ideológica; a omissão ou deturpação de
notícias importantes; e a farta divulgação de futilidades ou de programas de simples entretenimento
(COMPARATO, 1989, p. 139-140).
Como se vê, a Internet, diferente dos meios de comunicação massificantes, tem o poder de pôr em
contato pessoas e idéias sem direcionamento, sem manipulação. É, portanto, uma nova forma social, no
que tange à técnica de comunicação e quanto ao alcance extremamente abrangente, bem como um
instrumento do poder social. É um novo ingrediente: canal de comunicação e interação entre pessoas,
entre governos e cidadãos.
Se, no nosso ambiente familiar ou geográfico imediato, ninguém for eloquente
na defesa de um ponto de vista e se tal prisma também não for claramente
exposto na televisão, na rádio ou nos grandes jornais, por muito que “vivamos
em democracia”, não deixamos de ignorar a verdadeira paisagem das idéias,
quer sejam políticas, filosóficas, científicas ou outras. Ora, na rede, o
cibercidadão pode descobrir um sem-número de idéias e propostas que nunca
teria imaginado se não tivesse ligado. Além disso, na Internet, as idéias são
expressas por aqueles que as produzem e pensam, não por jornalistas forçados
a simplificar, senão a caricaturar, por falta de tempo ou de competência. Por
conseguinte, o novo meio de comunicação é particularmente favorável a que se
ultrapasse o espaço público clássico (LÉVY, 2002, p. 56).
2.1.2 O Governo
A palavra “governo” tem sua origem no termo latino cubernetes, designação do timoneiro de
embarcações, ou seja, governar é dar direção, comandar, dirigir. Contudo, com o desenvolvimento
político da humanidade, esse comando não pode ser exercido ao bel prazer do governante – seja ele uma
pessoa, ou um colegiado – deve estar atrelado ao substrato ético social, numa condição teleológica,
conforme deixou claro ROUSSEAU (2006, p. 66) ao definir o governo: “Um corpo intermediário,
estabelecido entre os vassalos e o soberano4, para possibilitar a recíproca correspondência, encarregado de
execução das leis e da manutenção da liberdade, tanto civil como política”.
Nesse sentido, o governo é entendido como a condução ideológica das ações do Estado e, para tanto,
detém uma dose de poder, este um elemento essencial constitutivo do Estado, representando
sumariamente “aquela energia básica que anima a existência de uma comunidade humana num
determinado território, conservando-a unida, coesa e solidária” (BONAVIDES, 2001, p. 106).
Há, portanto, um entrelaçamento de força e competência, compreendida esta última como
legitimidade oriunda do consentimento, este conferido ao governante, pelos governados, através do
sistema jurídico. Governar, dessa forma, é “faculdade de tomar decisões em nome da coletividade”
(AFONSO ARINOS, apud BONAVIDES, 2001, p. 106).

4
Cumpre lembrar que ROUSSEAU dá o nome se “Soberano” à vontade geral, esta, a deliberação
pública, o próprio Contrato Social.
Sendo assim, os atos do governo devem sempre ser revestidos da devida publicidade (transparência
na administração), necessária ao exercício do controle pelos governados, no que tange à legitimidade dos
mesmos.
2.1.3 O Governo Eletrônico
No sentido que acabamos de ver, no “Governo Eletrônico”, a Internet é incorporada nessa relação, ou
seja, de um lado o governo presta serviços e informações (incluídas as prestações de contas) aos cidadãos,
de outro, estes participam do governo, contribuindo diuturnamente para a formação do ethos social
através de um debate ininterrupto.
É o que se convencionou chamar governança eletrônica, que pode ser entendida como a gestão que
“diz respeito à capacidade governativa em sentido amplo, isto é, capacidade de ação estatal na
implementação das políticas e na consecução das metas coletivas”, ela lida com “a dimensão participativa
e plural da sociedade.” (VIEIRA, 2001, apud CANUT, 2004, p. 68).
Daí, temos que a principal característica do e-gov, para os fins do presente trabalho, é que proporciona
uma articulação entre governantes e governados. Uma conexão nunca antes experimentada pela
associação estatal. Seus fatores de realização são a popularização do microcomputador, a evolução da
infra-estrutura de telecomunicações e o progresso educacional da população.
Com isso, deixamos acertado que passaremos ao largo das questões referentes à prestação de serviços
pelas administrações aos administrados – uma outra vertente extremamente importante do e-gov –
centrando esforços na questão da interdependência entre governo e vontade geral no que tange à
legitimidade da representação.
2.1.4 Espaço Público Digital Não-Estatal
De tudo o que se colocou até agora, temos que a nova realidade criada pela Internet – a conexão – cria um
ambiente espiritual, onde documentos e fatos sempre estarão à distância de um click das pessoas e suas
consciências, formando, pelo ação da inteligência coletiva um “cérebro gigante”, o ciberespaço (LÉVY,
1999, p. 31) que se consubstancia em um Espaço Público Digital Não-Estatal.
Os problemas comuns passam a ser discutidos em múltiplos fóruns virtuais, que se operam por várias
formas, desde o correio eletrônico (nas mensagens “em grupo”), em sala de conversação, listas de
assinaturas e discussão, grupos temáticos, petições públicas e cidades digitais (LÉVY, 2002) e,
ultimamente, pelo chamado “modelo wiki”5, este, um hiper-documento que pode ser editado de qualquer
ponto, consubstanciando-se em uma forma de construção coletiva que pretende conter o substrato social
sobre um ou vários temas.
As razões para esse comportamento mais engajado das pessoas podem ser explicadas historicamente.
No século XX, os debates acerca da democracia superestimaram e desenvolveram a questão da
representatividade. No presente, o debate prossegue, porém no sentido de outra vertente, questiona-se a
democracia representativa discutindo sua crise na busca de novos instrumentos de participação diferentes
do voto, que aparecem como formas de inclusão do povo no processo decisório de governo (CANUT,
2004).
Isto se dá, porque a cidadania clássica, baseada no voto, se tornou eminentemente formal, uma vez
que este instrumento de manifestação da vontade geral se mostrou de um lado descontínuo – as eleições
ocorrem em hiatos relativamente longos – e, por outro, ilegítimo, pela influência de fortes instrumentos
comunicacionais de convencimento de massa, como a propaganda – lembramos as questões referentes à
imprensa já colocadas – e pelo marketing político.
Decorre deste estado de coisas, que o Estado, no final do século XX passou a enfrentar sérias crises de
legitimidade. Primeiro, pela manipulação da opinião pública, foi perdendo seu caráter de consciência;
depois, com a evolução dos paradigmas sociais – que passou a reconhecer os chamados “direitos das
minorias” – ficou claro que a “ditadura da maioria” é uma realidade, sobretudo quando se admite a
manipulação pelos meios tradicionais de comunicação e o “direito a ser diferente”.
Em suma: “os cidadãos não se reconhecem mais nas instituições que foram por eles criadas” (PIERRE
LÉVY, apud, CANUT, 2004).
Diante deste quadro, passam a ser revistos os conceitos de democracia e cidadania. Nasce uma
preocupação cada vez maior de se resgatar uma “educação cívica” (MENOU, 2006), que obriga maior
participação política por parte das pessoas, com a inserção cada vez maior do indivíduo na comunidade
política. Não basta, portanto, nem a eleição de representantes – como “depositários da vontade política” –

5
Wiki – documento editável na rede. Um exemplo é a Assembléia Constitwiki, que convoca todos os
brasileiros para alterarem o texto da Constituição de 1988, propondo novos artigos e discutindo os
existentes. Os organizadores pretendem fazer circular na Internet o texto com o intuito de recolher
assinaturas para adquirir o caráter de petição popular.
nem a intermediação da sociedade civil pelas chamadas Organizações Não Governamentais, o pluralismo
cultural, o respeito às minorias, exige a participação direta.
A Internet possibilita que se tenha comunicação verdadeira, esta “que não procede em mão única, do
informante para o informado, mas estabelece um entrecruzamento regular de fatos, idéias e opiniões”
(COMPARATO, 1989, p. 143). O cidadão, nesse contexto, tem de um lado mais informação e liberdade
e, de outro, uma responsabilidade acrescida – o e-cidadão participante nas escalas regional e planetária.
Daí, “a visão republicana cívica”, que valoriza a participação política e “atribui papel central à
inserção do indivíduo em uma comunidade política” (VIEIRA, 2001, apud CANUT, 2004, p.71).
O conceito de cidadania se estende: a “prática da cidadania depende da reativação da esfera pública, em
que os indivíduos podem agir coletivamente e se empenhar em deliberações comuns sobre todos os assuntos
que afetam a comunidade política. [...]”. Esta nova cidadania que “fornecerá o élan vital para a criação de uma
nova institucionalidade política, em que a sociedade civil cumprirá papel central na construção de um espaço
público democrático[...]” (VIEIRA, 2001, apud CANUT, 2004, p. 72).
O Espaço Público Digital Não Estatal ganha em legitimidade, portanto, por ser uma “estrutura institucional
mais democrática, posto que ancorada na sociedade civil e não nas elites que tradicionalmente controlam a
sociedade política” (VIEIRA, 2001, apud CANUT, 2004, p.77-78).
E também assume função auto-educativa, pois, como uma forma descentralizada de organização e
intervenção nas ações públicas, mais do que organizar atividades e partilhar informações – ou ainda influenciar
na conformação do Estado para seu próprio desenvolvimento – faz avançar a conscientização de que se vive em
coletividade e se comungam problemas, mesmo que não sentidos diretamente, ou seja, a cidadania avança nas
perspectivas civil, política e social. Em outras palavras, no Espaço Público Digital Não-Estatal as pessoas
configuram os governos de sua cidade, de sua unidade federada – se for o caso – do seu Estado, do planeta e
também se auto-configuram.
Mas há medidas a serem implementadas, no entanto, como seus detalhamentos ultrapassam os
objetivos do presente trabalho, serão feitas apenas algumas indicações de que são fortes os sinais no
sentido de que estão sendo efetivadas. Os gestores dos sistemas informáticos dos governos e organizações
públicas e privadas já atentam, na sua confecção, para os padrões de convergência, mobilidade e
interoperatividade que possibilitam acesso remoto por vários meios às bases de dados, a integração e o
cruzamento de suas informações6. A infra-estrutura de comunicações e de energia elétrica vai estendendo
seus tentáculos até os ermos dos sertões mais afastados. Os maiores problemas, porém, são os de ordem
econômica e social – o que acaba diminuindo a velocidade do processo – que estão ligados à distribuição
de renda e à alfabetização e educação digital. Contudo, estes também estão sendo enfrentados, podendo
ser citados o Programa “Acessa São Paulo”, do governo paulista e também a distribuição de Telecentros7
(Escolas de Informática e Cidadania), do governo federal do Brasil.
Volvendo aos objetivos inicialmente estabelecidos, até o presente momento entendemos fixados os
elementos introdutórios e conceituais para delimitação do problema, ou seja, tendo em vista a crescente
participação política individual na associação estatal por conta da Internet possibilitar a existência de
Espaços Públicos Digitais Não-Estatais, como se devem dar essas discussões? Existe um modelo, ou
aparato jusfilosófico apropriado e coerente com essa nova realidade? Além das construções teóricas que
reconhecem e exploram a cibercultura, há esforços de filosofia política que buscam o aprofundamento da
democracia reconhecendo a transparência e a ética da inteligência coletiva como vetores essenciais da
convivência?
Algumas respostas a estas formulações são a seguir alinhavadas.

2.2 MODELOS PARA DISCUSSÃO EM ESPAÇOS PÚBLICOS DIGITAIS NÃO-


ESTATAIS
Conforme exposto na introdução, inúmeros autores se debruçaram sobre a questão de como se formatar
possíveis fóruns de discussão sobre justiça política contemporânea buscando coerência com os vetores
democráticos. Passamos, então, a discorrer sobre alguns deles.
2.2.1 O Sistema Imunizador Luhmaniano
Niklas Luhmann, com uma visão à luz da Teoria Sociológica de Sistemas, coloca o direito como
elemento da estrutura da sociedade, entendida esta, como “um sistema social que, em um ambiente

6
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, através de sua Comissão de Informática, pode
ser citado como um exemplo dessa preocupação, através do Cadastro Nacional de Advogados, que
pretende integrar informações de aproximadamente 600 mil profissionais e também o contato entre eles
(OAB, 2005).
7
Convênios entre o Governo Federal brasileiro, município e entidades têm propiciado a instalação de
milhares de telecentros comunitários em todo o país, com acesso gratuito à Internet e e-mail comunitário.
altamente complexo e contingente, é capaz de manter relações constantes entre as ações” (LUHMANN,
1983, p. 168), ou, em outras palavras, um ambiente no qual se pode excluir a aleatoriedade das
possibilidades pelo caráter conservador do direito.
Nesse sentido, o direito é visto como um instrumento de controle empírico da sociedade e se
consubstancia, também, por sua vez, em um sistema, gozando de lógica própria:
Partindo de sugestões para o desenvolvimento da teoria de sistemas parece
lógico que se conceba a sociedade como um sistema social que, em um
ambiente altamente complexo e contingente, é capaz de manter relações
constantes entre as ações. Para tanto o sistema tem que produzir e organizar
uma seletividade de tal forma que ela capte a alta complexidade e seja capaz de
reduzi-la a bases de ação, passíveis de decisões. Quanto mais complexo é o
próprio sistema, tanto mais complexo pode ser o ambiente no qual ele é capaz
de orientar-se coerentemente. A complexidade de um sistema é regulada,
essencialmente, por meio de sua estrutura, ou seja pela seleção prévia dos
possívieis estados que o sistema pode assumir em relação ao seu ambiente. Por
isso as questões estruturais, e entre elas as questões jurídicas, são a chave para
as relações sistema/ambiente e para o grau de complexidade e seletividade
alcançável nessas relações. (LUHMANN, 1983, p. 168)
Para isto, ao homem deve se estender também a visão sistêmica. Para tanto, abandona-se a idéia de
que homem e sociedade são forças vivas, sendo a sociedade uma associação de homens concretos, ou
seja, não se pode considerar que o homem encontra sua liberdade e sua virtude, sua sorte e seu direito
enquanto parte viva da sociedade também viva. O homem passa a ser considerado em vista de suas ações
relacionadas – e dos sentidos dessas ações – como um “organismo comandado por um sistema psíquico
(personalidade)” (LUHMANN, 1983, p. 169).
Numa sociedade cada vez mais globalizada, se torna impossível o isolamento, isso faz com que os
sistemas psíquicos (gente) estejam mais e mais em contato, gerando insegurança com relação à função de
cada um no quadro social, ante à abertura de infinitas possibilidades. Com isso, cada vez mais as
expectativas com relação à conduta alheia vão se frustando e o padrão de comunicação entre os sistemas
psíquicos acaba se estabelecendo apenas como uma seleção de sentido entre eles, ou seja, estabelece-se o
entendimento apenas no campo semântico da linguagem; as pessoas “se entendem”, literalmente.
Como o sistema psíquico é o único operador do processo de constituição de sentido, se consubstancia
em uma instância constituída de moda auto-referido e auto-reflexivo. O sujeito, logo, é uma mônada sem
janelas, ou “caixa-preta”.
Duas caixas pretas entram casualmente em contato. Cada uma delas determina
sua posição frente à outra mediante operações auto-referenciais complexas no
interior de seus próprios limites. O que se torna visível é necessariamente uma
redução. Porquanto cada uma delas supõe que o mesmo acontece com a outra.
Por isso, as duas caixas pretas permanecem, apesar dos esforços...
intransparentes entre si (LUHMANN, 1995, apud SIEBENEICHLER, 2006, p.
48).
Ou seja, operações psíquicas de uma consciência jamais podem ser realizadas em uma outra
consciência. São símbolos de um potencial de insegurança intranscendível. A idéia central é que o
principal problema das sociedades complexas reside na falta de confiança – ego e alter se bloqueiam
reciprocamente. Logo, a intersubjetividade não se dá nem na esfera interna do ego, nem da no alter, mas
num certo ponto situado entre ambos – são engates ou seleções de sentido. Dessa forma, se uma
determinada suposição funciona como “engate”, segue-se outra e assim por diante. A mediação entre ego
e alter só pode ser pensada como diferença, não como identidade.
A partir daí, conclui-se que, para LUHMANN, se torna impossível o entendimento pleno, logo, em
um Espaço Público Digital Não-Estatal, a discussão deve ser fechada em um modo de operar a
comunicação entre caixas-pretas. O método, portanto, é pressupor um agir sistêmico, constituindo-se o
direito a ser construído em uma operação básica que permite manter os limites entre as caixas-pretas.
Nesse sentido, o direito é “comunicação na forma do direito” (SIEBENEICHLER, 2006, p. 51), ou seja,
uma comunicação que visa manter limites estabelecidos pela sociedade, um sistema de comunicação
autopoiético que produz por si mesmo todas as distinções, designações e normas que utiliza.
Além disso, o direito não é um modo de comunicação qualquer, tem um número ilimitado de
comunicações. Essas comunicações podem ser produzidas num esquema de código binário: direito/não
direito (recht/unrecht), justo/injusto, lícito/ilícito. Em sociedades complexas, esse esquema deve ser
complementado por um segundo código binário: permitido/proibido. Com isso, o direito se distancia da
moral e se transforma em um sistema auto referencial e auto controlado, abrindo caminho para uma outra
esfera de comportamentos moralmente neutros.
Um amplo e complexo sistema jurídico, portanto. Esses dois esquematismos (justo/injusto e
permitido/proibido), cuja finalidade é fornecer informações pra uma compreensão melhor do direito,
permitem estabelecer um modo de comunicação, ou seja, um sistema de engates e de seleções de sentido
que continuam funcionando em meio a conflitos, mesmo quando os meios normais de comunicação
falham.
Nesse sentido, o direito não serve para evitar conflitos, mas tende, inclusive, a multiplicá-los à medida
em que as relações sociais vão se tornando mais complexas. A função básica do esquematismo é,
portanto, a solução não violenta de conflitos, mediante formas de comunicação jurídicas e propicia
segurança jurídica – permite estabilizar, mediante normas, expectativas de comportamento que encontram
respaldo na sociedade. Em outras palavras: é um “sistema de imunidade” que protege a sociedade – por
meio de um operar comunicativo – contra a complexidade e insegurança oriunda das caixas-pretas.
Podemos concluir que LUHMANN parte de uma radical perspectiva funcionalista que trabalha,
basicamente, com a diferença, ou seja, caso um Espaço Público Digital Não-Estatal resolva adotar esse
método, basta estabelecer uma distinção inicial nos códigos binários conjugados lícito/ilícito e
permitido/proibido que a especificação das estruturas vai sendo construída pelo próprio sistema - agora
nos referimos ao sistema mesmo da base de dados do Espaço Público - à medida em que as "caixa-pretas"
vão navegando por ele.
Seu pressuposto é que a designação ou tematização de algo implica que qualquer descrição tem que
ser capaz de distinguir esse algo de outras coisas, já que, ao distinguir algo de tudo o mais, ela está
caracterizando o objeto. Nesse sentido, a razão se torna desnecessária, basta ter o conceito e poder fazer
distinções. O imperativo categórico do Espaço Público será, portanto, estabelecer distinções.
2.2.2 O Liberalismo Político de John Rawls
A doutrina política de John Rawls se debruça sobre a realidade do pluralismo, propondo um modelo não
totalitário para o convívio social de pessoas que detém diferentes – e até completamente opostas –
concepções morais e éticas, no entanto, são livres para estarem em contato dentro de um Estado, num
mundo cada vez mais globalizado. Sua proposta se baseia numa concepção política de justiça que, dessa
forma, possa ser base para a racionalidade e razoabilidade no convívio e estruturar – bem ordenar – a
sociedade como um “sistema equitativo de cooperação entre cidadãos livres e iguais com as futuras
gerações” (RAWLS, 2003, p. 6).
Partindo dessa idéia central, no que chama de “pluralismo razoável”, fixa seus “dois princípios de
justiça” que devem nortear toda e qualquer discussão sobre justiça política. São, esses princípios, as
principais características de um regime democrático bem ordenado: 1º – cada pessoa tem o mesmo direito
irrevogável a um esquema plenamente adequado de liberdades básicas iguais que seja compatível com o
mesmo esquema de liberdades para todos (a idéia é de isonomia, ou seja, igualdade de liberdades básicas
devem ser garantidas de forma a que nem o próprio Estado pode limitá-las); 2º – as desigualdades sociais
e econômicas devem satisfazer duas condições: a) devem estar vinculadas a cargos e posições acessíveis a
todos em condições de igualdade eqüitativa de oportunidades; e b) tem de beneficiar ao máximo os
membros menos favorecidos da sociedade (princípio da diferença).
Com esses postulados, RAWLS indica que o meio de se evitar o choque entre as pessoas no dialógo
que leva à construção da idéia de justiça política é abrir mão de suas concepções de bem, que chama de
“doutrinas abrangentes”.
Nosso objetivo não é descrever e explicar como as pessoas se comportam de
fato em certas situações, ou como as instituições funcionam de fato. Nosso
objetivo é descobrir uma base pública para uma concepção política de justiça e
isso é da alçada da filosofia política e não da teoria social. Ao descrevermos as
partes não estamos descrevendo pessoas tal como as conhecemos. As partes
são descritas de acordo com como pretendemos modelar os representantes
racionais de cidadãos livres e iguais8 (RAWLS, 2003, p. 114-115).
Nesse sentido, a discussão pública de justiça deve partir de uma “posição original”, esta posição só é
atingida, se forem observados – além dos dois princípios de justiça – mais dos aspectos que conformariam
“condições razoáveis” de discussão: a simetria e o véu da ignorância. O primeiro ocorre quando se
“situam simetricamente os representantes dos cidadãos, representados exclusivamente como pessoas
livres e iguais, e não como pertencentes a esta ou aquela classe social, ou como possuidores destes ou
daqueles talentos naturais, ou desta ou daquela concepção (abrangente) do bem” (RAWLS, 2003, p. 116).
O segundo – véu da ignorância – impede que os representantes conheçam as doutrinas abrangentes e as
concepções de bem dos representados.

8
Para efeitos desse trabalho, entendemos os “representantes racionais de cidadãos livres e iguais” os
Espaços Públicos Digitais Não-Estatais, assunto que não foi enfrentado diretamente por RAWLS.
Explica RAWLS que esses pressupostos são necessários para que se dê preferência ao racional em
detrimento do razoável nas discussões.
temos de distinguir entre o racional e o razoável, distinção análoga à distinção
de Kant entre o imperativo hipotético e o imperativo categórico. O
procedimento do imperativo categórico de Kant submete as máximas racionais
e sinceras de um agente (formuladas à luz da razão prática empírica do agente)
às restrições razoáveis contidas naquele procedimento, submetendo assim a
conduta do agente às exigências da razão prática pura. De modo similar, as
condições razoáveis impostas às partes na posição original cerceiam-nas no
esforço de alcançar um acordo racional sobre princípios de justiça em que cada
qual procura defender o bem daqueles que representa. Em cada caso, o
razoável tem prioridade sobre o racional e o subordina inteiramente (RAWLS,
2003, p. 115).
Para efeitos de construção de Espaços Públicos Digitais Não-Estatais levando em consideração essas
concepções de RAWLS, os limites das discussões são estabelecidos pela racionalidade das propostas e
são excluídas as concepções morais, portanto, dos participantes. Resulta um menu de opções onde se
encontram princípios contendo as mais importantes concepções políticas da tradição de um dada
sociedade, lista esta na qual podem ser incluídos novos princípios e excluídos outros, desde que o critério
seja o puramente racional e não o “bom”.
Como vemos, RAWLS admite a pluralidade e acredita ser a neutralidade uma maneira de convivência
política justa e estável entre cidadãos profundamente divididos por doutrinas (totalidades) morais,
religiosas e filosóficas incompatíveis. Para tanto, deve haver fundamentos constitucionais e questões de
justiça básica. Os fundamentos constitucionais estão ligados à organização e poderes do Estado, ao
processo político e ao sistema das liberdades básicas que devem ser respeitadas pela maioria governante.
Mas há também questões de justiça básica que devem ser discutidas: os aspectos essenciais da justiça
distributiva; os aspectos essenciais dos níveis de desigualdade; as condições efetivas para a igualdade de
oportunidades; e a dimensão econômica.
Em suma: se aceitamos a existência de um desacordo razoável, também temos que aceitar que
determinados princípios são comuns – pode haver um consenso por sobreposição e este se dá no que
chama de “ponto de convergência”.
Dessa forma, qualquer discussão nos Espaços Públicos Digitais Não-Estatais que se pretendam
fecundas, deverão estar dotadas desse “esquilíbrio reflexivo”, lembrando sempre que as circunstâncias da
justiça refletem condições históricas e, sendo a condição histórica da política do limiar do século XXI é a
diversidade que: “Não existe maneira politicamente praticável de eliminar a diversidade, exceto pelo uso
opressivo do poder estatal para impor uma determinada doutrina abrangente e silenciar toda dissensão, o
que denomino fato da opressão” (RAWLS, 2003, p. 118).
2.2.3 O Agir Comunicativo de Habermas
Jünger Habermas vê sérios defeitos na teoria de J. Rawls, no entanto, não nega que ela pode contribuir
para a institucionalização pacífica da cooperação social. Sua maior crítica é que, a teor da formulação de
RAWLS, os cidadãos têm que, primeiro, se convencer da concepção de justiça antes de poderem firmar
algum consenso.
Nesse sentido, HABERMAS pensa diferente, o conceito de justiça, tendo em vista que o consenso é
apoiado na linguagem comum e na racionalidade comunicativa, se constrói mutuamente entre as pessoas
na experiência da intersubjetividade. A razão, portanto, é comunicativa e pública, não uma simples
inteligência que opera e calcula monológica e secretamente: “Para sabermos se aquilo que fazemos no
mundo ou se nossas representações do mundo são racionais, não temos outra saída a não ser a troca
pública – livre e libertadora – de argumentos sobre aquilo que experimentamos e pensamos”
(SIEBENEICHLER, 2006, p. 44).
Para HABERMAS, então, intersubjetividade tem um pano de fundo, a linguagem comum (que se
opera quando os interlocutores comungam do mesmo "mundo da vida"). Comunicação ou interação se dá,
dessa maneira, entre sujeitos capazes de falar e agir e que por isso mesmo não podem ser tidos como
mônadas destituídas de janelas, nem caixas-pretas. Adquire, assim, sentido em um processo de interação,
lingüístico, social, histórico e frágil, onde, ego e alter são orientados pela possibilidade de entendimento –
são sujeitos que se socializam por meio de uma comunicação intersubjetiva viabilizada pela linguagem
que é comum a ambos. Nesse sentido, os mundos da vida são compartilhados intersubjetivamente – ego e
alter se transformam com o discurso.
O pressuposto, o horizonte, os recursos e o contexto para processos racionais de entendimento se dão,
portanto, pela linguagem e os discursos são argumentos destinados a resgatar pretensões de validade.
Contrariando LUHMANN, HABERMAS adverte que, numa perspectiva estratégica – as caixas-pretas
cumprem as normas simplesmente porque são dotadas se sanção - as pessoas consideram as normas como
simples ordens que interpõem limites a seu espaço de ação “...quando isso acontece, o direito deixa de ser
fruto de um entendimento intersubjetivo motivado racionalmente, obtido no âmago de uma associação de
membros livres, iguais e autônomos de direito” (SIEBENEICHLER, 2006, p. 54), enquanto que, numa
perspectiva performativa, intersubjetiva e comunicativa – as pessoas interpretam o direito como
mandamentos válidos e legítimos, a serem seguidos por respeito à lei.
Para apoiar a legitimidade das normas jurídicas de sociedades pluralistas, multiculturais e altamente
complexas, HABERMAS formula a seguinte hipótese teórica: mesmo que as condições complexas e
multifuncionais das nações e grupos humanos da sociedade contemporânea sugiram o contrário, é
possível pensar que o direito está ligado à idéia de uma auto-organização de cidadãos livres e iguais.
Nesse sentido, lançando mão da razão comunicativa (procedimental), é possível discutir a validade do
direito, que passa a ser o resultado de uma “gênese racional” e de um procedimento racional
comunicativo e discursivo detentor de um sentido performativo (SIEBENEICHLER, 2006, p. 55).
Isso porque, nas sociedades pluralistas atuais, não existe mais a possibilidade de um consenso
generalizado sobre o conteúdo moral ou natural das normas do direito, apenas sobre o procedimento
capaz de gerá-las e esse procedimento só pode ser o procedimento comunicativo e democrático – sua
única fonte de legitimidade pós-metafísica aceitável em meio ao atual pluralismo.
Ou seja, nele, o direito positivo pode se legitimar “mediante um procedimento público e racional de
formação da opinião e da vontade dos cidadãos” (SIEBENEICHLER, 2006, p. 55). “Podem pretender
legitimidade as normas e modos de agir com os quais poderiam concordar livremente todos os possíveis
atingidos enquanto participantes de um discurso racional” (SIEBENEICHLER, 2006, p. 55).
Dessa forma, o direito preenche funções de integração social. Funciona, pois, como uma correia de
transmissão capaz de transportar a solidariedade humana para um nível mais abstrato, que é o da
solidariedade cidadã e coação jurídica converte-se em meio de integração.
Habermas formula também um segundo argumento: a legitimação das ordens jurídicas pós-modernas
implica na idéia de autodeterminação do sujeito. Tal idéia leva a pensar que os cidadãos devem poder se
entender, a cada passo, como autores autônomos do direito ao qual estão sujeitos como destinatários.
Sustenta, portanto, Habermas que os elos entre Estado de Direito e democracia não são causais nem
meramente históricos, são internos e conceituais.
De tudo que vimos do pensamento de HABERMAS, podemos retirar como indicativo para a
construção de Espaços Públicos Digitais Não-Estatais, que devem atentar para, o mais possível, “pôr em
contato” os interlocutores, deixando que as suas trocas recíprocas de argumentos e contra-argumentos
construam os pilares da justiça política que se tornem canais de comunicação entre governo e governados.
2.2.4 A Ciberdemocracia de Pierre Lévy
Para Pierre Lévy, sempre lírico e otimista, a governança planetária se constrói naturalmente. Os projetos,
tanto do socialismo, como do capitalismo, têm um ponto de encontro natural que estará cada vez mais
próximo quanto mais rápido o processo de educação da população se concluir.
A cidadania e a democracia pressupõem o alfabeto, isto é, a possibilidade da
cada cidadão ler, aplicar e criticar a lei, assim como a de participar da sua
elaboração. A imprensa permitiu a edificação dos Estados-nação, assim como o
desenvolvimento das opiniões nacionais, graças a uma defesa pública
inicialmente estruturada pelos jornais e, depois, pela rádio e pela televisão. A
rede telefônica mundial, a televisão por satélite, a multiplicação dos canais
televisivos e, mais recentemente, a interligação mundial dos computadores, que
integra todas as mídias anteriores num meio de comunicação interativa
original, leva ao nascimento de um novo espaço público (LÉVY, 2002, p. 29).
Com isso, a expansão do ciberespaço traz, ao mesmo tempo, mais liberdade e mais comunicação e
interdependência. A construção de um “metatexto planetário” de forma comunitária cria um “tecido vivo”
que se materializa em uma “cultura mundial”, um “ambiente de sentido” humano que vai se compondo
pelo entrecruzamento ativo e a interligação criativa de todas as vozes.
Na noção de democracia, há, simultaneamente, a idéia dos direitos e das
liberdades, que implicam a iminente diginidade do cidadão (versão política da
pessoa), e a deliberação, do debate e da busca comum das melhrores leis e,
portanto, da inteligência coletiva no que tem de mais nobre: a procura de uma
regra justa, imparcial, universal. Em suma, a democracia compreende, ao
mesmo tempo, a idéia de liberdade e a de inteligência coletiva (LÉVY, 2002, p.
31)
Pelo que se vê, para LÉVY, toda a Grande Rede é um só Espaço Público Digital Não-Estatal onde
cabem todas as línguas, todas as formas de expressão, de reivindicação, de protesto, de regozijo, de
organização e de humanização.
Mas adverte: a luta é contra a exclusão digital – no sentido de colocar como dever de “todas as
autoridades políticas responsáveis, não deixar nenhuma parte da juventude na ignorância da rede”
(LÉVY, 2002, p. 90).

3. CONCLUSÃO
Dentro das limitações impostas pelos objetivos do presente trabalho, podemos tirar uma primeira
conclusão: que estamos diante de novos conceitos de esfera pública – ou não tão novos assim, sobretudo
se considerarmos que a dicotomia indivíduo/sociedade é uma invenção da modernidade. O modelo
representativo, fruto da ótica da representação política se encontra em crise e começa a surgir um novo
modelo, o modelo participativo, que se alimenta da ótica associativa.
Desta maneira, a nova idéia de esfera pública, não se consubstancia, portanto, em uma “reciclagem”
da velha noção de espaço público – local onde, no ideal liberal, “especialistas” do modelo representativo
habitam, se auto-mantém e sustentam sua permanência financiados por interesses individuais corporativos
– mas de um ambiente na visão habermasiana discursiva que atua como instância mediadora entre os
impulsos comunicativos gerados no mundo da vida e as instâncias que articulam institucionalmente as
decisões políticas, sejam de parlamentos, sejam de conselhos, sejam do próprio indivíduo visto
singularmente.
Os mecanismos de representação e participação propostos por RAWLS – o consenso sobreposto e o
véu da ignorância – também podem contribuir para a conformação dos Espaços Públicos Digitais Não-
Estatais e não podem ser excluídos a priori – nem mesmo a formulação do direito em código binário,
proposto por LUHMANN.
Por outro lado, a idéia de Espaço Público Digital Não-Estatal como “ponto de conexão entre as
instituições políticas e as demandas coletivas, entre as funções de governo e a representação de conflitos”
proposta por VIEIRA (2001, apud CANUT, 2004), é elastecida, à luz de uma visão mais abrangente, da
inteligência coletiva.
Nem o direito tradicional (preso em um positivismo sem alma), nem o sistema representativo,
conseguem mais dar respostas efetivas e eficazes para as transformações que se operam e, caso não se
reciclem, não sobreviverão à sociedade do conhecimento, nem à liberdade proporcionada pelo binômio
educação/acesso na formação de uma comunidade planetária. Um exemplo disso é a atual situação moral
da classe política brasileira, flagrada incessante e insistentemente por câmeras e sistemas de controle em
atos denegridores do parlamento e da res publica – isso sem falar na mínima noção de compostura do
mais comum dos populares.
A adoção de técnicas de confecção de sistemas especialistas para a gestão da informação dos Espaços
Públicos Digitais Não-Estatais, utilizando as formulações para discussão da idéia de justiça política
desenvolvidas no presente trabalho encontra viabilidade. Serve a lembrança de que “em vários momentos
de seu desenrolar, o desenvolvimento humano decorre de idéias provenientes de alguém que está livre das
amarras da racionalidade científica, ou ainda de alguém que possua desprendimento suficiente para
formular uma hipótese considerada improvável (ROESCHL, 1997, p. 1). Máxime, porque falamos de um
modelo teórico para governo eletrônico cidadão, e não de “controle” do – e pelo – Estado da vida privada,
e nem de prestação de serviços públicos.
A construção destes sistemas “inteligentes” pode – e deve – ser livremente exercitada pela sociedade
civil (ou planetária), tendo em vista que as iniciativas estatais, não raro esbarram na burocracia e no
conflito de interesses entre os seus níveis, sobretudo por desarticulação, acabando em ações, até,
conflitantes (TAKAHASHI in CHAHIN, 2004, p. 94).
Qualquer discussão nos Espaços Públicos Digitais Não-Estatais que pretenda questionar as bases
sociais, não pode perder de vista a questão da justiça política – ou Direito Natural – pois, como elemento
estrutural da sociedade, o Direito deve ser concebido como “uma formulação provisória de uma
aprendizagem coletiva sempre em aberto” (LEVY, 2002, p. 12).
O poder de subjugar – seja pela força, seja pela apropriação ilegítima da informação – é verbo
passado, os sistemas especialistas, as novas ágoras, novos modos de informação e deliberação impõe um
novo proceder ético da sociedade, conforme observou VON BRADENBRUG, “a tecnologia não é um
meio de opressão ou alienação, mas sim um meio de descentralização e democratização política”,
acrescentando que, contrariamente às primeiras previsões, longe de serem instrumentos de opressão, o
contrário aconteceu “com os computadores se tornando instrumento que promovem democracia ( apud
ROESCHL, 1997, p. 1).
REFERÊNCIAS
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<http://assembleiaconstitwiki.org/index.php?title=P%C3%A1gina_principal>. Acesso em: 31 ago 2007.
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sociedades pluralistras. Entre Apel e Habermas. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 01, p. 39-60.
TURISMO INCLUSIVO: UMA PROPOSTA DE PORTAL DE
RELACIONAMENTO VOLTADO AO TURISMO E
PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

Donária Coelho Duarte


Faculdade UNIRG
donaria@hotmail.com

Aline França de Abreu


UFSC
aline@deps.ufsc.br

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo propor um portal de relacionamento voltado ao turismo e Pessoas com Necessidades
Especiais (P.N.E.), tendo como foco apenas as P.N.E. com limitação motora. Desta forma, tal ambiente visa promover
um ambiente de interação e aprendizado, com informações relevantes não somente para este público, mas para os demais
atores envolvidos neste assunto. De acordo com dados do IBGE, 14,5% da população brasileira apresenta algum tipo de
deficiência, todavia acredita-se que essas pessoas ainda se encontram, na sua grande maioria, a margem da sociedade,
seja devido à falta de acesso aos estabelecimentos, seja pela falta de sensibilização da sociedade em geral. Em relação aos
resultados esperados, almeja-se que, por meio de tal proposta, as P.N.E. possam dispor de um instrumento de fácil acesso
que possibilite as mesmas conhecerem os estabelecimentos devidamente adaptados às suas necessidades, além de uma
forma de interagir com outras pessoas que enfrentam os mesmos problemas. Espera-se que o portal proposto, visualizado
como uma ampla rede de relacionamento, auxilie numa maior inclusão social destas pessoas e numa maior
conscientização dos estabelecimentos turísticos quanto à importância deste público e, portanto, da adaptação de suas
instalações.

PALAVRAS-CHAVE
Turismo inclusivo. Portal de relacionamento. Pessoas com necessidades especiais.

1. INTRODUÇÃO
De acordo com Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000), as tecnologias de informação estão transformando a
economia industrial em uma economia baseada em serviços. Os autores consideram que a disponibilidade de
computadores e as tecnologias de comunicação global têm criado as atividades de coleta, processamento e
transmissão de informações.
Nesta linha, percebe-se que a internet pode ser usada, além da promoção de produtos e serviços, como um
ambiente interativo de comunicação e de troca de experiências, revelando-se num ambiente de
compartilhamento e colaboração.
Desta forma, Bélanger e Watson-Manheim (2002) entendem que, por meio da web, surgem comunidades
que não estão mais determinadas geograficamente ou institucionalmente, mas ligadas por interesses comuns,
permitindo criar novos caminhos de significação no qual o conhecimento perseguido apresenta qualidade
singular, devido a rapidez e a abrangência intelectual, além de sua capacidade de auto-renovação.
Dentre as diversas comunidades que podem surgir por meio da web, tem-se aquelas voltadas ao turismo
para Pessoas com Necessidades Especiais (P.N.E.).
No turismo, percebe-se que este grupo de clientes parece não estar sendo ainda visualizado como um
segmento de mercado, não sendo explorado todo o seu potencial (BOIA, 2003; DEVILE, 2002; GOULART,
2004). Neste sentido, pela falta de informação da pessoa com necessidade especial quanto aos locais e
atrativos turísticos adaptados às suas necessidades, esse indivíduo pode não desfrutar do serviço das
empresas do setor, o que pressupõe tanto uma divulgação efetiva dos locais adequados às suas necessidades
como uma conscientização das demais empresas, que não apresentam as devidas adaptações em suas
instalações, para a importância deste segmento que pode se tornar facilmente fiel à organização e/ou ao
atrativo turístico.
Nesta linha, Nakamura (2003) considera que a sociedade, ao construir seus ambientes, inconscientemente
toma o modelo do “homem médio”, anatomicamente perfeito. Como resultado, tem-se o preconceito, a
repressão e a descriminação, o que mostra que, por trás da homogeneidade aparente de uma sociedade
massificada, as regras sociais, as leis e oportunidades não se distribuem com a mesma igualdade dos produtos
no mercado (COSTA, 1990).
Entretanto, com os avanços da ciência e da tecnologia atuais, pode-se apoiar os processos de independência
de todas as pessoas em grande proporção. Mas, para que isso ocorra, Nakamura (2003) considera necessária
uma ação conjunta e dedicada de todos os setores da sociedade: os responsáveis pelas políticas públicas, as
organizações não-governamentais, o setor privado, a mídia e as próprias P.N.E. com suas entidades
representativas.
Desta forma, este trabalho tem como objetivo propor um portal de relacionamento voltado ao turismo e
P.N.E., mais precisamente aquelas pessoas que possuem limitação motora. Assim, este trabalho mostra-se
relevante por não somente por possibilitar a divulgação dos ambientes/locais devidamente adaptados para
este grupo de clientes mas, também, pelo contato/conhecimento de outras pessoas que vivem problemas
semelhantes que podem auxiliar num melhor convívio na sociedade. Um ambiente que congregue todos os
atores envolvidos na atividade turística enquadrada para este segmento.
Desta forma, espera-se que um portal voltado ao turismo para P.N.E. auxilie estas pessoas no traslado e
estadia nos locais fora do seu habitat. Assim, espera-se que:
- tal segmento passe a ser visualizado como um público-alvo que também apresenta necessidades e,
portanto, apresenta um perfil de consumo que merece ser explorado;
- a ferramenta auxilie na divulgação dos meios de hospedagem devidamente adaptados para este
segmento e das operadoras de turismo que trabalham com este público, assim como numa maior
conscientização das empresas do setor, em geral, sobre a importância do mesmo;
- o portal resulte num maior conhecimento dos locais devidamente adaptados para as P.N.E. no
tocante suas atividades de turismo.
Assim, entende-se que no turismo a internet revela-se como uma ferramenta que possibilita identificar e
promover as características do serviço oferecido aos seus diversos públicos, dentre esses, as P.N.E. que
necessitam conhecer a facilidade de acesso a tais serviços.

2. A INTERNET E O SETOR TURÍSTICO


Para Wöber (2003), a informação ganha mais e mais importância, levando legitimamente ao
desenvolvimento de um quarto setor da economia – o setor da informação. Informação esta que desempenha
papel vital no turismo para empresas e gerentes que passam o dia inteiro envolvidos neste processo.
Seguindo esta linha, Rodrigues (apud PORTUGUEZ, 2001) considera que a ciência, a técnica e a
informação vão definir novas desigualdades regionais, onde as regiões funcionam como peças de uma nova
engrenagem compondo a máquina global. Neste período, fortalece-se sobremaneira o setor terciário da
economia, cujos serviços se sofisticam cada vez mais e onde a informática exerce absoluto domínio.
Com este mesmo pensamento, Buhalis (1998) considera que a revolução da T.I. tem implicações profundas
no gerenciamento da indústria do turismo, principalmente por capacitar uma cooperação eficiente dentro da
indústria e oferecer ferramentas para uma atuação global. Para o autor, a T.I. capacita o turista a acessar a
informação exata e segura bem como permite a realização de reservas numa fração de segundos, provendo
um serviço de qualidade e contribuindo para uma maior satisfação do hóspede/turista. Assim, para o autor, a
T.I. transformou o canal de distribuição num mercado eletrônico, onde o acesso a informação e a
interatividade com os clientes são alavancados. O autor considera que a T.I. transformou a posição
estratégica das organizações por alterar sua eficiência, diferenciação, custos operacionais e tempo de
resposta, tendo estimulado mudanças radicais na operação e distribuição na indústria do turismo. Entretanto,
as empresas turísticas precisam entender, incorporar e utilizar a T.I. estrategicamente, com vistas a capacitar
e servir seus mercados melhorando sua eficiência, maximizando a lucratividade, melhorando os serviços e
mantendo um relacionamento a longo prazo com os clientes e os destinos (BUHALIS, 1998).
No caso específico da internet, Bonn, Furr e Susskind (1999) consideram que no turismo a mesma tem o
poder de customizar a informação relativa a viagens, o que permite melhorar o processo de seleção do
serviço na comodidade da sua residência, sendo uma ferramenta extremamente útil na disseminação da
informação para o setor.
Complementando, Buhalis (1998) entende que a internet provê oportunidades sem precedentes para a
indústria, atravessando o gap entre clientes e empresas e provendo um serviço extremamente vital por
incorporar informação estruturada e possibilitando pacotes com uma ampla extensão de produtos e serviços
diversos.
Desta forma, a Organização Mundial de Turismo (OMT, 2001) considera que a internet pode potencializar
a promoção das localidades turísticas, na medida em que permite exibir todas as informações desejáveis para
dar conhecimento aos usuários sobre os atrativos do destino, as conexões e as comunicações, o clima, os
serviços oferecidos, etc. Assim, a internet apresenta-se como um meio eficaz de oferecer uma mensagem
publicitária completa a domicílio para o consumidor final, podendo o cliente em potencial se tornar um
comprador de forma imediata. Assim, de acordo com Toledo, Sztutman e Rubal (2001), com a rede os
clientes passam a contar com um instrumento que os auxilia na obtenção de informações e na possibilidade
de realizar comparações de forma objetiva. Seguindo esta idéia, Wöber (2003) considera que a internet provê
a oportunidade de comunicar, servindo como plataforma para novos canais de distribuição.
Todavia, Law e Wong (2003) e Tierney (2000) afirmam que a internet serve como fonte de informação dos
produtos turísticos mas que a compra em si é realizada, ainda por muitos, através dos canais de distribuição
tradicionais. Desta forma, Fodness e Murray (1999) consideram que as características do produto afetam
claramente a busca pela informação, e a aquisição e uso da informação é um meio e não um fim para
comportamento do cliente. Em outras palavras, Vicentin e Hoppen (2002) enfatizam que a T.I. facilita o
acesso a informações para o cliente e estimula a curiosidade, entretanto, não cria serviços ou produtos
turísticos.
Sos esta ótica, no que tange a este trabalho, considera-se que o portal proposto terá como objetivo o acesso
a informações para as P.N.E. e, devido as suas ferramentas de interação e de relacionamento, a possibilidade
futura de criação de uma comunidade voltada ao tema.
No que se refere a qualidade da decisão de compra, verifica-se que a mesma é avaliada, sob a perspectiva
do cliente, em termos da qualidade do serviço, satisfação e não satisfação, recomendações de colegas e
intenções de compra, ou seja, a lealdade a marca (FODNESS; MURRAY, 1999). Neste processo, os autores
consideram que a estratégia de busca de informação do turista é o resultado de um processo dinâmico no qual
leva-se em conta tanto as contingências externas (obtenção de informações do ambiente), quanto internas
(memória do turista) no planejamento das suas férias.
Analisando o impacto da tecnologia de informação nas atividades turísticas, Middleton (2002) apresenta os
seguintes fatores que influenciam a demanda no turismo:
- aumento da promoção e distribuição de produtos na Web;
- fornecimento de informações multimídia nas residências dos clientes, aumentando as possibilidades
promocionais;
- mudança para um maior uso do marketing direto, reduzindo a função tradicional dos intermediários
de viagens, como agentes varejistas;
- desenvolvimento de bancos de dados de clientes e seu papel nos sistemas de informações de
marketing;
- poder para desenvolver produtos customizados para clientes-chave;
- marketing de relacionamento com compradores leais e outros clientes/acionistas-chave;
- criação de empresas virtuais, para as quais a tecnologia de informação e comunicações fornece as
conexões – especialmente redes para microempresas;
- maiores oportunidades para as grandes empresas crescerem ainda mais e para as pequenas empresas
ganharem acesso aos mercados internacionais a um baixo custo.
Complementando, Toledo, Sztutman e Rubal (2001) consideram que a internet, especificamente na
prestação de serviços, apresenta as seguintes características:
- armazenagem a baixo custo de vasta quantidade de informações;
- disponibilidade de poderosos meios de pesquisa, organização das informações e disseminação;
- interatividade e capacidade de fornecer as informações demandadas. No caso específico do turismo,
uma sugestão feita por Benckendorff e Black (2000) são os mapas interativos que permitem ao usuário
“clicar” na cidade ou região para obter mais informação, que pode estar na forma de texto ou um mapa mais
detalhado. Os autores lembram que no turismo fotografias tem sido usadas tradicionalmente para atrair
viajantes a visitar o destino;
- capacidade de proporcionar experiências de percepção superiores às proporcionadas por catálogos
impressos, porém inferiores às obtidas diretamente por contato pessoal;
- capacidade de processar transações;
- baixo custo de entrada para fornecedores de bens e serviços.
Benckendorff e Black (2000) enfatizam ainda que o site deve ter integridade, ou seja, credibilidade,
relevância e exatidão da informação, sendo que a credibilidade está diretamente relacionada com a
importância da informação para o público alvo. Tal característica se mostra extremamente relevante para o
setor turístico.
Além das características supra citadas, Santos (2002) atenta para a distinção entre função promocional e
informativa do site. Segundo o autor, os sites informativos devem apresentar uma vasta gama de informações
passíveis de utilização por parte do turista. Já o site promocional deve prezar pelo design atraente e sedutor.
A conciliação dessas duas funções deve ser balanceada, uma vez que a disposição de muitas informações, em
geral, prejudica a estética do site.
Desta forma, entre as vantagens e desvantagens da internet para as empresas e para os clientes no setor
turístico, Vicentin e Hoppen (2002) apresentam as seguintes:
a) quanto as vantagens:
- para os clientes: acesso a um volume maior de informação, facilidade de comparar rapidamente, de
um mesmo lugar, determinados fatores de um produto, como por exemplo, o preço e a especificação dos
serviços inclusos; o maior acesso à informação pode facilitar a negociação para o cliente;
- para as empresas: maior acesso à informação, o que facilita e agiliza o processo de comercialização;
melhora a comunicação com clientes e fornecedores e possibilita melhor gerenciamento e redução dos custos
operacionais.
b) quanto as desvantagens:
- para os clientes: falta de relacionamento humano na comercialização, pouco conhecimento técnico
acerca do turismo pode levar o cliente a interpretações errôneas das informações disponibilizadas pela
internet e, por outro lado, ao abuso no envio de informação não requisitada por parte dos sites;
- para as empresas: facilita o aumento da competição e a diminuição da margem de intermediação; a
falta de conhecimento e a falsa expectativa de lucros pode gerar investimentos equivocados em T.I.
Assim, Santos (2002) afirma que a grande importância da internet para a promoção e informação turística
pode e deve ser encarada, pelos membros de instituições públicas e privadas que trabalham no setor, tanto
como um risco quanto como uma oportunidade. Risco para aqueles que não souberem lidar com tal novidade,
ou simplesmente ignorando-a; oportunidade para aqueles que melhor aproveitarem o potencial da rede,
colhendo, sem dúvida, bons frutos.
De acordo com Cunha (2001), a proliferação da rede e a sua aceitação universal pressupõe a utilização de
novas práticas de funcionamento a fim de melhorar a competitividade da indústria turística. De acordo com o
autor, a internet, na medida em que facilita o acesso a informação, torna o seu uso mais relevante para o
setor, na medida em que o comprador adquire o direito de um produto/serviço para utilização posterior e a
decisão de se deslocar baseia-se fundamentalmente na informação, além disso tal ferramenta tem sido
utilizada pelos consumidores como a sua primeira fonte de informação. Assim, a web transforma-se numa
nova dimensão da comercialização dos destinos e dos produtos turísticos. (CUNHA, 2001).
Seguindo esta mesma linha, Portuguez (2001) considera que as redes trouxeram um novo sentido para o
ciberespaço, entendido pelo autor como um espaço concreto em uma dimensão não-física. Nele novas
relações sociais, econômicas, de poder e dominação são estabelecidas, de tal forma que se torna articulado
com o espaço não-virtual e, podendo ser uma dimensão alternativa de consumo e comunicações, torna-se
estratégico.
Sob esta ótica, Toledo, Sztutman e Rubal (2001) consideram que compras reflexivas, como viagens,
podem ser alimentadas por diferentes tipos de informações: em um extremo surgem produtos e serviços,
cujas compras requerem pesquisas e informações externas. Podem ser transmitidas de forma objetiva
(chamados de “bens de conhecimento”), no qual a internet revela-se com um meio propício para a realização
de transações e de comunicação para destinos já conhecidos. No outro extremo, tem-se os produtos e serviços
que são comprados mediante inspeção ou experimentação pessoal (“bens de experimentação”), que podem
necessitar de aconselhamento através de canais intermediários, como o agente de viagens.
Desta forma, de acordo com Stamboulis e Skaynnis (2003), a inovação baseada nas tecnologias de
comunicação e informação podem ter um resultado competitivo sustentável apenas quando está integrado
dentro de uma estratégia de criação do conhecimento, focada na acumulação da inteligência sobre os turistas,
seus destinos e os provedores. Na figura a seguir os autores descrevem o círculo virtuoso da aprendizagem
interativa baseada no usuário.

Figura 1. O ciclo virtuoso da aprendizagem interativa baseada no usuário.


Interação com os clientes

Crescimento da confiança Acumulação do conhecimento


e reputação

Melhor integração do conteúdo


Fonte: Stamboulis e Skaynnis (2003).

Neste processo, Stamboulis e Skaynnis (2003) enfatizam a mudança de uma estratégia focada para o ciber-
mercado (cyber-market) que capacita modular o conteúdo (dos produtos ou serviços), do contexto (no qual as
transações ocorrem) e da infraestrutura. As empresas podem decidir investir em algum desses elementos ou
em todos. Nesta linha, entretanto, torna-se relevante observar que a infraestrutura inclui não apenas os
arranjos organizacionais e técnicos que capacitam a entrega dos produtos e serviços, mas também aqueles
elementos que contribuem para o desempenho da experiência (como comida, facilidades de alojamento e
acesso logístico); o contexto consiste nos serviços que fazem o cliente ter acesso a experiência possível
(provisão de abrigo, hospitalidade, identidade social, histórica e ambiental); e o conteúdo é a experiência
criada pela interação dos viajantes com os vários elementos que compõem o destino (STAMBOULIS;
SKAYNNIS, 2003).
Stamboulis e Skaynnis (2003) consideram ainda que a estratégia baseada nas tecnologias de comunicação e
informação deve promover um ciberespaço, no qual haja o compartilhamento de experiências, a comunicação
entre turistas e destes com os seus destinos, além da provisão de material suplementar antes e depois da
visita.
Tendo em vista estas considerações, percebe-se que a internet pode facilitar o contato com pessoas que
tenham como objetivo o lazer, sendo uma ferramenta relevante para a construção de uma comunidade que
tenha interesses em comuns, dentre essas, as P.N.E. Estas pessoas necessitam, sobremaneira, do relato de
outras que já usufruíram do serviço turístico e, portanto, conhecem o seu produto. As características da
internet que permitem a interatividade e a troca de experiências, podem transformá-la num ambiente ideal
para a promoção dos serviços turísticos voltados para este segmento.

3. TURISMO PARA PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS


Swarbrooke e Horner (2002) consideram que o desenvolvimento de qualquer novo tipo de produto turístico
será resultado dos seguintes fatores: da mudança nos gostos dos turistas; do que a indústria optar por oferecer
aos turistas; de inovações tecnológicas; e de preocupações sociais.
Neste sentido, em relação ao último item citado anteriormente, uma preocupação social eminente pode ser
o atendimento com qualidade às P.N.E. Os autores analisam que as necessidades destes turistas podem ditar
cada aspecto de sua escolha de férias e mesmo determinar se poderão sair de férias ou não. Dentre os vários
fatores que podem causar stress e insatisfação do turista, a saber: atrasos no transporte; problemas com
línguas estrangeiras; preocupações com segurança e saúde pessoal na destinação; dificuldades no
relacionamento com os companheiros de viagem; pouca familiaridade com os costumes e com a comida;
dificuldade com a moeda, os autores citam, ainda, o desempenho e atitudes da equipe de serviço, ou seja, a
hospitalidade e as falhas da hospedagem em fornecer os serviços necessitados ou prometidos. Estes dois
últimos fatores também se enquadram perfeitamente para as P.N.E., na medida em que podem tornar a
viagem extremamente desagradável para a própria pessoa e para os familiares ou amigos que a acompanham.
De acordo com dados do IBGE, no Brasil existem quase 25 milhões (14,5% do total) de brasileiros com
algum tipo de deficiência, conforme pode ser visualizado na tabela 6. Esses dados revelam uma parcela
significativa da população que, mesmo apresentando alguma limitação física, merecem estar no convívio
social em todos os seus aspectos. Essas pessoas, além de mais informadas dos seus direitos e mais exigentes,
buscam qualidade nos serviços recebidos, dentre esses, os serviços turísticos.
Tabela 1. Estimativa da População de Portadores com Restrições do Brasil.

Tipo de Deficiência Dados do IBGE (em %) No. de habitantes (em milhões)


Mental 1,24 2,09
Física 0,59 0,99
Auditiva 2,42 4,08
Visual 6,97 11,77
Múltiplos - -
Motora 3,32 5,6
Total 14,5 24,5
Fonte: Dados do IBGE (2000)
Sob esta ótica, uma atual vertente refere-se a inclusão social, que procura adaptar a sociedade para incluir
as P.N.E. e prepará-las para assumir seus papéis na sociedade. Este modelo atribui à sociedade a
responsabilidade pela desvantagem ou incapacidade do desempenho dos papéis sociais da pessoa portadora
de deficiência, cabendo-lhe eliminar as barreiras físicas que impedem o desenvolvimento pessoal, social,
educacional e profissional (SASSAKI, 1999).
Desta forma, atualmente vê-se uma mudança de mentalidade, passando da marginalidade para a integração
à sociedade e garantia dos direitos iguais a qualquer cidadão (CANCELLI, 1999).
Nesta linha, Sassaki (1999) diferencia inclusão de integração. Para o autor, integração foi um modelo adotado
pela sociedade para derrubar as resistências de aceitação das P.N.E. e adaptar sua estrutura mudando as
atitudes das pessoas com relação a elas. Já a inclusão tem um objetivo mais abrangente na medida em que
busca dar oportunidades eqüitativas a toda população sem diferenciar as P.N.E. das que não as são.
Ainda conforme Sassaki (1999), há dois conceitos que favorecem a inclusão: o de rejeição zero e de vida
independente. O primeiro diz respeito a criação de programas que visem atender as P.N.E. de acordo com
atividades comuns da comunidade, como emprego, educação e saúde. Já o conceito de vida independente
envolve a filosofia, os serviços, os equipamentos, os centros, os programas e o processo pelos quais as P.N.E.
terão participação de qualidade na sociedade, tanto na condição de beneficiários de bens e serviços
oferecidos, como também na de contribuintes ativos no desenvolvimento social, econômico, cultural e
político do país.
Nesta linha e no caso específico do turismo, Silva e Bóia (2003, p. 53) defendem a idéia de uma sociedade
inclusiva e de um turismo inclusivo que seria:

uma sociedade onde o turismo é redimensionado, aberto a todas as pessoas, oferecendo


espaços acessíveis e adequados e dispondo de recursos humanos capacitados para o
atendimento, o que requer mudanças comportamentais e atitudinais que diminuam o
preconceito em relação às pessoas com necessidades especiais e evitem a segregação.
Neste contexto, os autores consideram que o princípio da inclusão se constitui em um processo bilateral no
qual a sociedade se adapta para poder incluir a pessoa com necessidades especiais e esta se prepara para
assumir o seu papel na sociedade. Assim, a inclusão propõe um novo modelo de integração social, aonde os
valores e atitudes em relação aos indivíduos que vivem em sociedade são revistos exigindo, portanto,
mudanças para que esta sociedade possa atender a todos, independentemente de sua condição física, sensorial
ou mental.
Desta forma, o turismo inclusivo não se restringe, portanto, a apenas a adaptação física do local, mas
pressupõe também uma mudança de comportamento e de atitude através da capacitação dos recursos
humanos para o atendimento das necessidades deste turista. (BOIA, 2000). A autora lembra que não basta
que um hotel tenha o espaço físico adaptado para receber o turista portador de necessidades especiais, é
preciso aceitá-lo com respeito e livre de atitudes e pensamentos preconceituosos.
Portanto, Silva e Bóia (2003) consideram que a inclusão de todas as pessoas ao turismo, incluindo aquelas
com necessidades especiais, exige uma vontade política, planejamento, esforço, preparação, cooperação e
mudanças de comportamento de todos os que fazem turismo. Em outras palavras, faz-se necessário uma
formação guiada pelos princípios éticos que respeitem os valores individuais das pessoas, independentemente
de apresentarem ou não necessidades especiais (SILVA; BÓIA, 2003).
Compartilhando esta idéia, Grünewald et al (2003) consideram que para o desenvolvimento de um
indivíduo faz necessário potencializar principalmente três variáveis: a confiança em si mesmo, a
independência e sentimentos de solidariedade nas diferentes fases de seu desenvolvimento (individual, casal,
grupal ou social). Neste processo precisa-se considerar três etapas de integração durante o desenvolvimento
de suas atividades:
- uma integração física, que permita cercar-se de outras pessoas ou transitar por qualquer espaço
geográfico, cultural ou natural;
- uma integração funcional, que permita coordenar diferentes serviços e que não permita uma
descriminação para com as pessoas com mobilidade restringida;
- uma integração social, utilizando juntos os diferentes serviços e atrativos através da cooperação
entre as diferentes pessoas intervenientes no desenvolvimento da atividade turística, baseando-se nos seus
muitos interesses.
Desta forma, Goeldner, Ritchie e McIntosh (2002) consideram que esse grupo constitui um excelente
mercado potencial para viagens, caso as estruturas e os mecanismos forem adequados para o seu uso. De
acordo com pesquisa desenvolvida pelos autores, o efeito que a presença de uma pessoa com necessidades
especiais numa família tem sobre o número de pernoites fora de casa é bastante diferente entre aqueles que
viajam com e sem P.N.E., conforme pode ser observado na tabela apresentada a seguir:
Tabela 2. Número de Noites Fora de Casa (como porcentagem do total).

Noites Grupos de viagens com P. N. E. Grupos de viagens sem P.N.E.


1-3 37 42
4-6 24 31
7-9 15 15
10-12 5 5
13-15 7 3
16 ou mais 12 4
Número de entrevistados 60 530
Fonte: Goeldner, Ritchie e McIntosch (2002).
Analisando o quadro anterior, percebe-se uma redução no número de pernoites das famílias que
apresentaram algum integrante com necessidades especiais. Todavia, a partir do 10º dia há um equilíbrio
entre o número de pernoites de pessoas com e sem P.N.E., apesar desta amostra ter sido realizada com um
número bem mais significativo de grupos que não possuíam pessoas que apresentassem alguma limitação
física.
Neste contexto, a primeira exigência do turista com necessidades especiais é ter a certeza de que poderá ter
acesso ao entorno físico e o poderá utilizá-lo de forma (GRÜNEWALD et al, 2003):
- autônoma: de maneira independente, sem ajuda;
- segura: com confiança na impossibilidade de sofrer danos;
- cômoda: de fácil uso e sem empecilhos.
Desta forma, Grünewald et al (2003) enfatizam a necessidade de uma estratégia que permita a plena
acessibilidade ao meio físico. Os autores consideram que as barreiras geralmente resultam em diferentes
situações de conflito da P.N.E. com o espaço físico. De acordo com Grünewald et al (2003), estas barreiras
podem ser agrupadas em:
- os espaços verdes (praças e parques), na sua estrutura urbana (obras de saneamento, cruzamentos de
veículos, etc.), no mobiliário urbano (luminárias, bebedouros, bancos, etc.);
- os edifícios, onde pode-se destacar os destinados a alojamento hoteleiro, as instalações para
gastronomia (bares, confeitarias e restaurantes), e as instalações para o desenvolvimento de atividades
culturais como museus e salas de espetáculos;
- as instalações para atividades científicas (congressos e convenções) se somam às instalações para o
desenvolvimento de atividades recreativas – esportivas como estádios e seus espaços complementares
(vestuários, ginásios, etc.). Estes são os elementos mais significativos para este segmento;
- o desempenho de atividades lúdicas em áreas urbanas (zoológicos, cassinos e discotecas) impede
por sua conformação o acesso a estes atrativos;
- a variável transporte também apresenta situações de conflito no caso dos terminais, acessos e áreas
de estacionamento, junto os meios específicos de transporte aéreo, marítimo, terrestre e fluvial.
Nos Estados Unidos, de acordo com Goeldner, Ritchie e McIntosch (2002), melhorias substanciais foram
feitas no setor turístico para servir a este segmento de mercado no decorrer dos anos. Todavia, os autores
consideram que a atividade se acelerou com a aprovação do American with Disabilities Act (ADA), em 26 de
julho de 1990. O ADA inclui informações sobre emprego, serviços públicos, acomodação pública e serviços
operados por entidades privadas, telecomunicações e provisões gerais. O documento contempla mandatos
para trânsito público acessível e complementares; trem intermunicipal e transporte para o trabalho acessíveis;
estações e hospedagem pública acessíveis (entidades privadas) incluindo pousadas, hotéis, motéis,
restaurantes, bares, teatros, salas de concerto, auditórios, centros de convenção, todos os tipos de loja,
estabelecimentos de serviços, escritórios, terminais e estações, museus, bibliotecas, galerias, escolas bem
como serviços de telecomunicações para servir a pessoas com dificuldades auditivas e de fala (GOELDNER;
RITCHIE; MCINTOSCH, 2002).
Todavia, para se alcançar um turismo sem barreiras, ou seja, um turismo para todos, Grünewald et al
(2003) enfatizam que é necessário atuar sobre os estabelecimentos turísticos, qualquer que seja a sua classe.
Os aspectos chaves para este processo é atuar da seguinte forma:
- Estabelecimentos de informação e comercialização: que deve estudar
• os acessos: estacionamentos, desníveis e portas;
• a circulação interior: desníveis e espaços livres, iluminação e pavimentos;
• o mobiliário: mesas e expositores;
• a informação: visual, escrita e/ou audiovisual.
- Estabelecimentos para alojamento: que devem analisar
• os acessos: apartamentos, itinerários até o edifício, zona de manobra, desníveis e portas de entrada;
• a circulação interior: etapas e itinerários, zonas de manobra, elevadores, pavimentos;
• dormitórios, banheiros e cozinhas: dimensões, espaços de manobra, portas de acesso;
• uso dos toaletes: acessórios, controles, auxílio técnico, pavimentos e alarmes;
• o mobiliário: mesas e cadeiras, camas, armários;
• as instalações: telefone, televisão, iluminação e temperatura (comandos e controles).
- Estabelecimentos de restauração: revezam-se em
• os acessos: iguais aos anteriores;
• a circulação interior: distribuição do espaço, espaços entre os móveis, desníveis;
• os toaletes: acesso e espaço de manobra, acessórios, controles, auxílio técnico, pavimentos e
alarmes;
• o mobiliário: mesas, cadeiras, barras de apoio.
- Estabelecimentos para lazer e recreio
• no qual deve-se estudar elemento por elemento, considerando não só a acessibilidade individual
como o conjunto em geral.
Os autores lembram ainda que existem algumas características específicas que devem ser consideradas em
cada caso e que a acessibilidade se consegue considerando e atuando sobre todos os aspectos já mencionados,
que estão relacionados com o estabelecimento e com o seu uso.

4. MODELAGEM CONCEITUAL DO PORTAL VOLTADO AO TURISMO


E P.N.E.
Tendo a abordagem feita anteriormente, propõe-se apresentar um ambiente virtual voltado a temática turismo
e P.N.E.
Assim, a modelagem do portal proposto, que possui como temática o turismo para P.N.E., bem como os
seus links, apresentam-se na figura a seguir.
Figura 2. Modelagem do portal proposto.

B C D E F G H I J

L T W
X

N
Y
O U

Q Z
A1

R
V
S

Analisando tal ambiente, tem-se os seguintes esclarecimentos:


Região A - Identificação do nome do portal. Deverá conter o nome do portal, que poderá ser “Portal do
Turismo Especial”, o seu endereço (www.turismoespecial.com.br) e uma frase de identificação como “A sua
Comunidade Voltada ao Turismo para Pessoas com Necessidades Especiais”;
Região B – Listagem dos meios de hospedagem adaptados, denominado “Meios de Hospedagem
Adaptados”. Quando clicado abre página com o mapa do país e seus estados, apenas com as siglas dos
mesmos, apresentando a seguinte frase: “Para conhecer um meio de hospedagem adaptado selecione um
estado”. Quando selecionado, possibilita a visualização dos nomes dos estabelecimentos e da cidade. Os
mesmos quando clicados, permitem visualizar informações mais detalhadas, como endereço, telefone, e-mail,
pessoa para contato, icq e/ou messenger, rol de itens que o estabelecimento possui adaptado e fotos do
estabelecimento;
Região C – Listagem dos bares e restaurantes adaptados, denominado “Bares e Restaurantes Adaptados”.
Igualmente a listagem dos meios de hospedagem, quando clicado abre página com o mapa do país e seus
estados, apenas com as siglas dos mesmos, apresentando a seguinte frase: “Para conhecer um bar e/ou
restaurante adaptado selecione um estado”. Quando selecionado, possibilita a visualização dos nomes dos
estabelecimentos e da cidade. Os mesmos quando clicados, permitem visualizar informações mais
detalhadas, como endereço, telefone, e-mail, pessoa para contato, icq e/ou messenger, rol de itens que o
estabelecimento possui adaptado e fotos do estabelecimento;
Região D – Listagem das operadoras de turismo que já estão oferecendo produtos para as P.N.E.,
denominado “Operadoras de Turismo”. Tal listagem será semelhante aos meios de hospedagem, com a
exceção do mapa do país que será desnecessário. Clicando no link “Listagem das operadoras de turismo”,
será aberta uma nova página com a listagem de tais operadoras e seus dados principais (nome, endereço,
telefone, e-mail, icq e/ou messenger, pessoa de contato, tipo de serviço/pacote a mesma é especializada e, se
possível, para qual tipo de limitação física;
Região E – Listagem das associações de deficientes de todo o país, denominado “Associações de
Deficientes”. Semelhante a listagem dos meios de hospedagem e dos bares e restaurantes, quando clicado
abre página com o mapa do país e seus estados, apenas com as siglas dos mesmos, apresentando a seguinte
frase: “Para obter informações sobre as associações de deficientes selecione um estado”. Quando
selecionado, possibilita a visualização da listagem das associações do estado selecionado. Quando ainda
selecionada determinada associação, ou seja, clicada determinada associação, permite visualizar informações
mais detalhadas, como endereço, telefone, e-mail, pessoa para contato, icq e/ou messenger;
Região F – Chat. Quando selecionada abre janela para a sala de bate-papo. Cabe ressaltar que qualquer
visitante poderá ter acesso a sala de bate-papo, identificando, para tanto, apenas o seu apelido. A princípio
haverá apenas uma sala de bate-papo. Com o tempo espera-se a diversificação em salas de bate-papo com
temas/assuntos ou grupos específicos, sendo estes definidos pelos próprios usuários do portal;
Região G – Seção denominada “Encontros Virtuais”. Serão encontros, via chat, conforme agenda prévia
(com datas e horários) de temas para serem debatidos. Clicando em “Encontros Virtuais” o usuário abrirá
uma página na qual constarão os assuntos a serem discutidos e as datas correspondentes. Clicando em uma
selecionada, dentro da data pré-estabelecida, qualquer usuário poderá participar da conversa, identificando,
apenas o seu apelido. Caso contrário, aparecerá uma mensagem lembrando que tal chat só estará disponível
em determinada data. Para cada “encontro” haverá a um coordenador que poderá auxiliar no direcionamento
da discussão, na divulgação de normas de participação, na orientação para aqueles que não estão
familiarizados com esta ferramenta, mas tem interesse de participar. A função dessa pessoa, além de
coordenar, é o de dar suporte a sala;
Região H – Seção denominada “Faça o seu Blog”. Este espaço estará reservado para que o usuário,
principalmente a P.N.E., faça um relato de como está sendo a sua viagem. Esta ferramenta também
possibilita identificar e se familiarizar (não somente outras P.N.E., mas também empresas turísticas em geral)
com as dificuldades e/ou facilidades que a P.N.E. enfrenta quando viaja. Embora o blog esteja mais
direcionado a P.N.E., outras pessoas, como parentes e amigos que convivem com a mesma, poderão também
participar. Este recurso estará disponível apenas para as pessoas cadastradas, ou seja, poderá ser visualizado
por todos, mas somente os usuários cadastrados poderão criar o seu blog, sendo acessado a partir da
identificação do login e senha;
Região I – Espaço denominado “Faça Parte de Uma Tribo”. Este espaço é reservado para que o usuário
faça parte de um grupo específico. Este grupo poderia ser, a princípio distinguido pelo tipo de limitação física
da pessoa, ou seja, por exemplo, somente paraplégicos, etc.; outro grupo poderia ser as associações, outro as
operadoras que já trabalham com esse segmento, outro os meios de hospedagem, outro pessoas que tem como
tema de estudo este grupo, etc. A finalidade desta seção é criar grupos que tenham interesse em comum e que
queiram compartilhar informações, trocar experiências. Tal recurso estará disponível apenas para os usuários
cadastrados, sendo acessado a partir da identificação da senha e do login. A escolha “de uma tribo” visa criar
um ambiente fechado apenas para os cadastrados para que os mesmos possam interagir, no qual poderão ser
criadas outras formas de interação como o agendamento de encontros virtuais, a criação de um mural de
notícias, entre outros;
Região J – Links relacionados a temática do portal denominado “Links Relacionados ao Turismo para
P.N.E.”. Quando selecionado, abre uma página na qual constará links relacionados tanto ao turismo como,
por exemplo, sites de busca, como o site “Hotel in Site” (www.hotelinsite.com.br), quanto links específicos
voltados ao público-alvo do portal como, por exemplo, para a Associação Brasileira de Desporto em Cadeira
de Rodas (ABRADECAR) (www.abradecar.org.br), para o Portal Deficiente.com (www.deficiente.com.br),
entre outros;
Região K – Faça o seu cadastro. Quando clicado, abre hiperlink para o cadastro de associações de
deficientes, cadastro das próprias P.N.E., dos meios de hospedagem adaptados, dos bares e restaurantes
adaptados, das operadoras de turismo, dos engenheiros e arquitetos que podem prestar seus serviços para este
público. O cadastro torna-se relevante, pois a partir dele é que se terá acesso a algumas ferramentas do portal
como, por exemplo, blog, “faça parte de uma tribo”, a divulgação de alguns eventos, de alguma dica de
viagem, de artigos da área, fórum de discussão, entre outros. O objetivo do cadastro é tanto de obter dados
sobre pessoa que está acessando o site, quanto de conhecer as suas necessidades, de tal forma que a mesma
interaja com outros de seu interesse, além de disponibilizar, como já mencionado, algumas ferramentas que
visam facilitar tal interação. Quando selecionado, abre hiperlink para a janela na qual apresentam-se os tipos
de cadastro (de acordo com o interesse do usuário);
Região L – “Calendário de eventos”. Permite a visualização dos roteiros turísticos adaptados, além da
divulgação de campeonatos esportivos realizados pelas associações, entre outros. Quando selecionado, abre
uma página na qual constará o período do evento, o nome do evento, a cidade, endereço eletrônico do evento
(se houver), nome da pessoa de contato, e-mail da mesma e telefone para contato. Para participar, ou seja,
divulgar um evento é necessário que a pessoa/empresa esteja cadastrada. Fora os dados já mencionados
também será identificada a pessoa que enviou tal “evento” por meio do seu apelido, com o seguinte dizer:
“enviar por”;
Região M – Dicas de viagens para as P.N.E. denominado “Dicas de Viagens”. Quando selecionado, abre
página na qual constarão dicas para uma boa estadia pelas P.N.E., como, por exemplo, quais as informações
que uma P.N.E. deve procurar para saber se determinado local é adaptado, cuidados a serem tomados, entre
outros. Cabe enfatizar que qualquer membro cadastrado poderá interagir com esta ferramenta, dando a sua
contribuição, na qual será identificado a “dica”, o remetente de quem a postou (apelido) e o contato do
mesmo (e-mail, icq e/u messenger). Para participar, ou seja, contribuir com a sua “dica”, o usuário deverá
entrar com sua senha e login;
Região N – Perguntas freqüentes sobre turismo para P.N.E. denominada “FAQ”. Quando selecionado,
abre página na qual serão elencadas as perguntas mais freqüentes, como, por exemplo, “o que é uma
P.N.E.?”, “quais tipos são os tipos existentes de limitações físicas?”, “o que é um estabelecimento
adaptado?”, “quais os pré-requisitos para um estabelecimento ser adaptado?”, “por que adaptar o seu
estabelecimento?”, “etapas para adaptar um estabelecimento”, entre outros. A finalidade de tal seção é de
elucidar dúvidas comuns e corriqueiras sobre a temática do portal;
Região O – Seção denominada “Legislação”. Espaço para divulgar a leis brasileiras sobre os direitos das
pessoas que possuem alguma limitação física e das normas para a adaptação de locais públicos. Quando
selecionado, abre página na qual serão elencadas as diversas legislações existentes, cada qual com hiperlink
para visualização das mesmas;
Região P – “Artigos da Área”. Caracteriza-se como um espaço reservado para a divulgação, por qualquer
membro cadastrado no portal, de artigos, livros, estudos em geral relacionados a temática turismo e P.N.E.
Cabe frisar que qualquer pessoa que estiver trabalhando com este público poderá divulgar o seu trabalho,
bastando, para tanto, que realize o seu cadastro. Os artigos poderão ser visualizados por qualquer usuário,
salvo se o autor desejar que o mesmo esteja disponível apenas para um grupo de cadastrados e, portanto,
pertencendo à área de acesso restrito. Para divulgar o seu trabalho, seja para o público em geral ou de forma
restrita, será necessário a identificação do login e senha. A partir da mesma, como já mencionado, serão
apresentadas diversas ferramentas, dentre elas, “Artigos da Área”. Clicando na mesma, será aberta uma
página na qual se solicitará, fora os dados já obtidos no cadastro e que constarão nesta página, o título do
trabalho, co-autor(es) (se houver) e a instituição na qual o autor está vinculado. Cada trabalho disponibilizado
apresentará, caso o mesmo tenha página na internet, link para tal;
Região Q – Fórum de discussão da comunidade, denominado “Fórum de Discussão”. Quando selecionado,
abre-se a listagem dos temas de discussão e a contribuição dos usuários, que poderão ser visualizados por
todos. Os temas a serem discutidos serão diversos, sempre enquadrados na temática do portal, e qualquer
pessoa/empresa cadastrada poderá dar a sua contribuição, acessando-o, para tanto, o seu login e senha;
Região R – “Normas de Participação”. Permite o conhecimento, a todos os usuários, das normas de
participação do portal, contendo regras básicas de interação, como, por exemplo, a não utilização de
palavrões, de insultos, a não utilização do portal para finalidades ilícitas ou impróprias, caso contrário a
pessoa ou instituição será banida da participação no portal, sendo vetado o acesso aos recursos do mesmo por
meio do login e senha;
Região S – “Área de Acesso Restrito”. Neste ambiente, usuários que queiram que determinada informação
não seja visualizada pelos demais, ou seja, pelos usuários passivos, poderão usufruir deste recurso, mediante
cadastro prévio. Isto poderá ocorrer na divulgação, por exemplo, de trabalhos acadêmicos. Este recurso estará
disponível por meio da identificação do login e senha;
Região T – “Conte um Caso”. Este recurso permite que as pessoas que possuem alguma limitação física
relatem as viagens realizadas, pois se acredita que nada melhor do que o próprio depoimento de quem
enfrenta as dificuldades de locais, muitas vezes não adaptados, para que se conheça a necessidade deste
público, além de uma forma de interagir e trocar experiências com outras pessoas que possuem limitações
físicas semelhantes. Todavia, este recurso poderá também ser utilizado por empresas que atendem ou já
atenderam essas pessoas e que queiram, portanto, compartilhar a sua experiência. Este relato poderá ser
visualizado por todos os usuários, todavia para o relato de “um caso”, será necessário que o usuário esteja
cadastrado, estando esta ferramenta disponível apenas na página dos usuários cadastrados, por meio da
identificação do login e senha;
Região U – Espaço reservado para a divulgação dos serviços das empresas voltadas a temática do portal.
Terá a finalidade meramente de divulgação, tendo, dependendo do interessado, a possibilidade de reserva on
line (no caso dos meios de hospedagem, operadoras de turismo). Embora este portal seja de relacionamento,
faz-se necessário este espaço de divulgação na medida em que o tal ambiente será mantido pelos recursos das
empresas interessadas na temática;
Região V – Local para apresentação dos logotipos dos parceiros do portal. Tais parceiros visam garantir
credibilidade ao ambiente proposto. Tais parceiros poderão ser as empresas de cartão de crédito (como Visa,
MasterCard, entre outras), que facilitarão a comercialização de serviços como reserva de hotéis, compra de
pacotes, entre outros. Poderão ser parceiros ainda as empresas que adaptam veículos e/ou aquelas que fazem
o transporte deste público;
Região X – Enquetes. O usuário poderá dar a sua opinião sobre algum assunto em discussão. Determinado
tema será levantado, buscando a opinião do usuário, estando ele cadastrado ou não. Por exemplo: Qual a sua
opinião sobre o atendimento nos hotéis para as P.N.E. na cidade X? Em seguida se apresentarão as seguintes
alternativas: adequado; não adequado; razoável, etc. A finalidade deste recurso é de conhecer a opinião dos
usuários em geral sobre determinadas questões, o que poderá dar subsídio aos temas para o fórum de
discussão, para os encontros virtuais, além de instigar o desenvolvimento de estudos sobre determinado
assunto, entre outros;
Região Z – “Você conhece algum meio de hospedagem adaptado? Clique aqui”. Neste espaço qualquer
usuário poderá indicar algum estabelecimento que o mesmo considere como adaptado, mediante cadastro
prévio. Quando selecionado, abre página para que se realize o cadastro deste usuário com um texto
explicando que, para a indicação do local, faz-se necessário primeiramente o seu cadastro. Desta forma, este
recurso também estará disponível por meio do acesso ao login e senha;
Região W – Login. Espaço destinado para os usuários já cadastrados entrarem no portal por meio do seu
login e senha. Deverá conter os seguintes campos: login, ou seja, o apelido para conexão; a senha cadastrada
pelo mesmo, seguido do link “ok”; além destes, logo abaixo, deverá ter a opção “Esqueceu sua senha?”, o
qual apresenta hiperlink para outra janela. Por meio do seu login e senha já cadastrados, abre-se a página do
usuário;
Região Y – “Você quer receber boletins de notícias sobre turismo para P.N.E.? Cadastre-se aqui”. Qando
selecionado, abre hiperlink para o cadastro. Portanto, somente os usuários cadastrados receberão tais boletins.
Cabe enfatizar que os mesmos deverão ser enviados mensalmente;
Região A1 – “Faça críticas ou sugestões ao portal. Clique aqui”. Quando selecionado, abre página para que
qualquer usuário, estando ele cadastrado ou não, dê críticas ou sugestões ao portal, sendo aberto uma janela
para que o usuário, se desejar, apenas se identifique com um apelido e dê a sua opinião. Entretanto, neste
espaço também haverá hiperlink para cadastro, caso o mesmo deseje realizá-lo. Neste espaço também será
disponibilizado o e-mail do portal para contato.
Na medida em que foi feito todo o delineamento do portal proposto, sugere-se que seja feita pesquisa sobre
quanto os estabelecimentos promovidos pelo mesmo estarão dispostos a pagar para a sua manutenção. Tal
estudo mostra-se relevante, pois se entende que este ambiente será mantido, em termos de recursos
financeiros, pelas próprias empresas que serão divulgadas no mesmo.
5. CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo propor um portal voltado a temática turismo e P.N.E., visando primar por
uma ambiente de relacionamento entre os seus usuários, por meio de diversas ferramentas que objetivem
facilitar a troca de conhecimento e tornar tal ambiente num local de fácil comunicação, principalmente para
aqueles usuários cadastrados que terão acesso a um rol de serviços que visam facilitar a interação, como
fórum, “conte um caso”, “tribo”, “blog”, entre outros.
Mais do que um ambiente que vise promover a divulgação de locais adaptados e empresas voltadas ao
setor interessadas em atender este público, objetivou-se criar um portal que, além do ineditismo da temática
escolhida, primasse pela facilidade de relacionamento entre os seus usuários. Entende-se que, por meio de
tais ferramentas, os mesmos poderão relatar as suas dificuldades quando realizam a suas viagens, indicando
locais adaptados e permitindo que empresas interessadas possam conhecer este público, adequando-se as
suas necessidades. Todavia, percebe-se que o diferencial deste ambiente se dará pela troca de experiências
entre pessoas que vivem problemas semelhantes quando da não adaptação de locais públicos. Tal troca de
experiências visa que esses indivíduos possam conhecer meios de um melhor convívio em sociedade,
sociedade essa não adaptada e que, muitas vezes, deixa a margem estes cidadãos. Esta troca de experiências
permitirá que, tanto as P.N.E. possam conhecer outras que possuem maior autonomia e que queriam
compartilhar o seu conhecimento, quanto que este ambiente se revele como um local descontraído de
interação, fazendo com que os próprios usuários possam contribuir para a construção do mesmo, seja por
meio da indicação de locais adaptados, seja pelo relato das suas experiências, seja pelo questionamento de
alguma dúvida relevante, seja pela sua contribuição em temas de discussão, dando a sua dica de viagem,
entre outros.
Em relação ao público-alvo do portal proposto, sugere-se que sejam realizados estudos sobre a situação
sócio-econômica das P.N.E., buscando conhecer se os mesmos tem condições de usufruir os produtos
turísticos. Tal levantamento possibilitará, se possível, posteriormente segmentar tais potenciais clientes em
categorias, o que permitiria um direcionamento mais personalizado, de acordo com as suas necessidades.
Este estudo permitiria enquadrar esses clientes de acordo, por exemplo, com a classificação da rede hoteleira.
Indique claramente vantagens, limitações e possíveis aplicações.
Além disso, sugere-se ainda ampliar a pesquisa ao turismo internacional, pois sabe-se que 99% dos navios
são adaptados, além dos destinos voltados para o continente europeu que também apresentam acessibilidade

AGRADECIMENTO
Ao Cnpq pela realização do estudo.

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SISTEMAS INTEROPERAVEIS G2G: ESTUDO DE CASO
DA SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO
DE SANTA CATARINA

Edson Rosa Gomes da Silva


Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina
Santa Catarina, SC – Brasil
edsongomes@ssp.sc.gov.br

Thiago Paulo Silva de Oliveira


Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas
Santa Catarina, SC – Brasil
thiago.paulo@ijuris.org

Thiago Souza Araújo


Programa de Mestrado em Administração da Universidade do Estado de Santa Catarina
Santa Catarina, SC – Brasil
araujo.thiago@udesc.br

RESUMO

O presente artigo aborda a temática da gestão do conhecimento e inteligência artificial aplicada a Segurança
Pública. Mostra-se o papel do Estado na promoção da segurança pública e a forma como a criminalidade
avança perante o alto grau de burocratização governamental. Aborda-se a integração dos sistemas de
informação aplicado na Secretaria de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina, e a forma como a
utilização dessas ferramentas pode ser um importante passo na busca da maior eficiência no processo de
investigação policial.

PALAVRAS-CHAVE
Governo Eletrônico; Sistemas Inteligentes de apoio à decisão governamental; Tecnologia da Informação.

Introdução
Uma das preocupações da sociedade nos dias de hoje, diz respeito à segurança, pois a criminalidade
não é um problema exclusivo dos países em desenvolvimento, como pode parecer à primeira vista, mas sim
um fenômeno global que toma, cada vez mais, grandes proporções. Esta impressão pode ter sua origem em
decorrência do grande alcance dos meios de comunicação, que ajudam a difundir a informação das ações
criminosas nas diversas partes do mundo, mostrando a criminalidade para as pessoas, autoridades, governos.
Onde quer que estejamos, uma das nossas principais preocupações está relacionada à segurança, quer
seja dos lares, das pessoas, das propriedades ou das cidades. De fato, a questão não gira apenas em torno de
nossas casas, mas também dos lugares que freqüentamos com nossos familiares. Os jornais e revistas expõem
a realidade “nua e crua”, e a sociedade clama por soluções, está preocupada e já não é mais tão difícil
encontrar alguém que não tenha sido vítima da falta de segurança.
Utilizando-se das notícias dos veículos de comunicação e das informações vinculadas os criminosos
agregam conhecimento em suas atuações e auxiliados pelos adventos que as tecnologias lhes propiciam,
valem-se destes meios para lograrem êxito em suas ações.
Como forma de aplacar as ações dos criminosos, o poder público aos poucos, se volta a utilizar as
tecnologias, pautado em um novo paradigma da sociedade da informação que busca através da eficiência a
utilização das tecnologias a serviço do cidadão. A proposta desse artigo é intensificar a noção de que o
ingresso na era da informação passa primordialmente pelo G2G com a adoção de sistemas inteligentes de
governo eletrônico.
Assim, este artigo se propõe a discorrer sobre o assunto segurança, não no sentido mais restrito da
palavra, mas segurança aliado a um tema, até certo ponto inovador, que é a utilização das tecnologias da
informação como forma de subsidiar a tomada de decisão dos agentes públicos visando à prevenção e o
combate a criminalidade.
Partindo dos conceitos de governo eletrônico tendo como azimute o emprego das tecnologias da
informação na integração das bases de dados das instituições da secretaria de segurança pública, buscando o
cruzamento das mesmas com a ajuda de ferramentas computacionais para análise das informações e posterior
interpretação das autoridades.
A apresentação dos sistemas existentes nas instituições, assim como as soluções adotadas para
possibilitar a integração, também fará parte dá descrição do processo.
Por fim a topologia escolhida para integração dos sistemas será exposta para apresentar a estratégias
de visualização dos dados cruzados, por meio de um estudo teórico-empírico, utilizando-se de pesquisa
documental e um estudo de caso da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP/SC).

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 PAPÉIS DO ESTADO NA PROMOÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA


O papel do Estado é um conceito que não se ousa nesse momento delinear, mas dentre as várias
abordagens possíveis, em todas elas o Estado necessita de uma estrutura para atender o cidadão, por maior ou
menor que ela seja. A segurança, contudo, é um papel vital para a manutenção do Estado moderno de direito e
essa estrutura tende a ser afetada nos dias de hoje pela tecnologia da informação.
Conforme o relatório e-readness da organização das Nações Unidas (United Nations) (2004) os
governos dos países subdesenvolvidos começam a perceber os ganhos provenientes da sinergia entre a
interação das novas tecnologias da informação e comunicação, a educação da população e um ambiente
propício para o desenvolvimento tecnológico.
Essas relações econômicas que compõe a circulação de recursos na sociedade podem ser
categorizadas, basicamente, em comércio eletrônico (e-commerce) e governo eletrônico (e-government ou
abreviadamente e-gov). Nessa divisão básica há uma separação entre o setor privado e o setor governamental.
Conforme essa classificação, este trabalho aborda o setor governamental, ou seja, o e-gov. Uma
definição mais exata desse conceito é exposta no relatório ‘E-Government Outlook’, onde se define e-gov
como o uso sistemático de sistemas de informação e tecnologias de comunicação para ter a habilidade de
transformar relações entre cidadãos, empresas e o governo. O documento afirma que o e-gov refere-se ao uso
sistemático por agências governamentais de tecnologia da informação e comunicação que tenham a habilidade
de transformar as relações com cidadãos, empresariado e governo. (E-Government Outlook , 2005, p.1)
As Nações Unidas (United Nations, 2004)), por sua vez, apresentam uma definição mais ampla de
governo eletrônico, caracterizando o conceito como qualquer serviço prestado pelo governo por meio da
Internet. Segundo as nações unidas, o governo eletrônico têm abrangido serviços de informação e prestação
de serviços aos cidadãos, empresários, e entre órgãos do governo por meio eletrônico. O governo eletrônico
pode ser ainda considerado, segundo essa instituição, como o uso da tecnologia da informação para aumentar
a eficácia das agências governamentais.
Há, ainda a respeito das relações entre instituições no meio digital, uma classificação bastante usual,
exposta por O’Braian (2004), que categoriza as relações econômicas da economia digital conforme os agentes
envolvidos nas relações econômicas, que podem ser basicamente: empresa-a-consumidor, do inglês
“bussines-to-consumer”, ou abreviadamente B2C; empresa-a-empresa, do inglês Business-to-business ou
abreviadamente B2B; consumidor-a-consumidor (do inglês Business-to-consumer ou abreviadamente C2C), e
o Governo-ao-cidadão, (do inglês Government-to-Citizen ou abreviadamente G2C), que trata de atividades
voltadas para o provimento de informações e serviços aos cidadãos, assim como de interação entre o cidadão
e o governo.
Adicionalmente, ainda há a circulação de informação entre órgãos do governo, Governo-a-governo
(do inglês Government-to-government), ou abreviadamente G2G. Conforme o conceito da Companhia de
tecnologia da informação de Minas Gerais (2007) o G2G, refere-se às iniciativas no campo do governo
eletrônico, voltadas para a integração entre os serviços governamentais, seja para ações de reestruturação ou
modernização de processos e rotinas. Conforme essa instituição, há ainda as atividades classificadas como
governo-a-negócios (do inglês government-to-business), ou abreviadamente G2B, referente às iniciativas na
área do governo eletrônico voltado para o provimento de informações e serviços aos investimentos e
negócios, bem como de apoio à atratividade e desenvolvimento de negócios em uma região específica.
De toda forma, neste trabalho o conceito que nos interessa é aquele que envolve a interação entre os
órgãos governamentais, tratando a interação sinérgica dos seus sistemas, por tanto no campo do G2G.

2.2 O ESTADO E O CONTEXTO TECNOLÓGICO


A integração das bases de dados é uma tendência de outras áreas de atividade, que está em processo
de absorção pelo Estado. É conseqüência, em última análise, da revolução tecnológica deflagrada pela
revolução da tecnologia da informação e comunicação originada na década de 1970.
Essa tendência de integração promovida pelo G2G é, por conseqüência, reflete também o contexto
da globalização, que se refere à interdependência, principalmente, na esfera financeira, ainda que a
globalização também consista na esfera produtiva e comercial.
A globalização na perspectiva de Castells (1999) é também resultado direto da revolução
tecnológica, que conjuntamente com fatores políticos e institucionais - organismos internacionais -, gerou
uma nova economia, a economia informacional (CASTELLS, 1999, p.119), ou aqui denominada a economia
digital.
Este autor aborda o Estado atualmente como ‘Estado-Rede’, definido por Castells da seguinte forma:
“Assim, pode perceber-se o surgimento de uma nova forma de Estado que denomino Estado-rede, como
forma institucional que parece ser eficaz para responder aos desafios da era da informação” (Castells IN
BRESSER PEREIRA et al, 1999, p.148).
Esse Estado em rede mantém suas obrigações, dentre as quais Benecke (1980) ressalta o papel das
políticas discricionárias do governo, que são aquelas políticas desenvolvimentistas na economia ao dizer que é
importante investir em setores estratégicos que forneçam a difusão dos impulsos de desenvolvimento na
economia. Acredita-se que a eficiente gestão do Estado seja uma área estratégica.
Nesse sentido a implementação de sistemas de governo eletrônico é uma iniciativa imprescindível
aos governos no sentido de promover o desenvolvimento social, o que tende a proporcionar também inclusão
digital.

2.3 INTEGRAÇÃO E CONTROLE DE SISTEMAS


A integração de sistemas do governo tende a elevar os índices de colaboração e otimização de
trabalho dos agentes públicos, permitindo que estes se concentrem no desempenho das suas funções.
O setor público nessa perspectiva de integração de sistemas poderia contar com melhor
gerenciamento de dados gerando a possibilidade de ricas análises de dados provenientes de diferentes órgãos
consolidados em um sistema único, o que agilizaria as tomadas de decisões.
Para integrar sistemas governamentais é necessário, antes de tudo, que eles consigam comunicar-se
entre si. Essa necessidade básica da integração de sistemas remete ao conceito de interoperabilidade. Segundo
Benwell, Buick e Lilburne (1997, p. 234) o grau de interoperabilidade varia num gradiente desde não
integrado, passando por um sistema com integração mais estática, até com compartilhamentos simples por
meio de padrões de comunicação, passando pelo compartilhamento seqüencial e chegando ao ápice com a
integração dinâmica. Definição semelhante é apresentada por Smith et al (2000), que apresenta a
interoperabilidade como a habilidade de transmissão de todo tipo de comunicação eletrônica, incluindo voz,
dados e imagens de forma que possam ser utilizadas de forma integrada.
O melhor aproveitamento da interoperabilidade pode ser obtido por meio da utilização de um
sistema de compartilhamento dinâmico, conjuntamente com um software do tipo ‘Expert Systems’. Conforme
esses autores os Expert Systems tem como característica serem desenvolvidos para serem mais qualitativos,
operarem com utilização de símbolos, são mais visuais e por tanto mais capazes de trabalhar com dados
incompletos, tem a capacidade de trabalhar com conhecimento e é mais analítico. Essas características o
fazem muito propícios para o uso em sistemas G2G.
Assim, a interoperabilidade é fundamentalmente a capacidade de um sistema se comunicar com
outro sistema. Geralmente a interoperabilidade é obtida em sua forma mais básica pela adoção de padrões
comuns.
Conforme o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) – órgão vinculado ao ministério
da fazenda – o governo deve buscar agregar sistemas que consigam reconhecer os padrões uns dos outros de
forma que eles possam trocar informações entre si, gerar formatos de arquivos reconhecíveis entre si.
Um dos resultados esperados dessa interoperabilidade é o ganho de sinergia, a possibilidade cada vez
mais aproveitada do cruzamento de bancos de dados para gerar informações e conhecimentos preciosos para
uma gestão pública mais eficiente e de excelência. A redução de custos é apenas uma conseqüência positiva,
liberando recursos investidos em serviços muitas vezes já despendidos por outros órgãos para serem
empregados no setor público em uma área onde pode ser mais bem aproveitado.

3. INTEGRAÇÃO DE INFORMAÇÕES DE SISTEMAS DE GOVERNO


Sabemos que a utilização de informações nas áreas governamentais para subsidiar as tomadas de
decisões pelos agentes públicos, configura uma forte arma para combater a má utilização da máquina pública.
No entanto, essas informações devem ser geradas de forma confiável, pois, caso contrário, pode deixar o
administrador com dados imprecisos e ou incorretos não possibilitando a sustentação para traçar as estratégias
necessárias para obter êxito em sua empreitada.
A tomada de decisão poder ser utilizada por diversos segmentos da esfera pública e privada, mas o
uso por parte dos órgãos públicos acontece ainda de forma muito insipiente. Isto pode ser em decorrência da
pouca tradição do governo em inovar seus métodos de administração. Diferente da iniciativa privada que
tradicionalmente se lança na busca por eficiência utilizando-se das tecnologias e novas teorias, e assim está
em constantes mudanças e aprimoramentos. Se for observado, podemos perceber que a absorção das técnicas
adotadas no setor privado é vagarosamente incorporada na gestão pública. Muitas vezes, os grupos criminosos
saem na frente e utiliza métodos e técnicas como menciona Silva:

Com os avanços espantosos das tecnologias nas áreas mais significativas da esfera global, os grupos de
criminosos utilizam as novas formas de comunicação e transporte. Saindo assim na frente dos governos,
utilizando técnicas avançadas de gerenciamento, controle de produção e distribuição. Este é o caso dos
cartéis de drogas no mundo (Silva, 2006, p 26).

Assim, podemos perceber que há um hiato na forma de se utilizar às tecnologias existentes e investir
no desenvolvimento de outras para incorporar as melhores praticar na administração pública.
Pesquisa e desenvolvimento são tidos por muitos agentes públicos como gastos e não investimentos,
deixando este papel importante para a iniciativa privada. Isso se dá em virtude de ser um investimento de
médio ou longo prazo e ser um investimento intangível. A incorporação de uma nova tecnologia traz consigo
ganho de eficiência na maioria das vezes, principalmente quando bem implementada.
A globalização mundial trouxe consigo, em sua maioria, uma grande difusão das tecnologias que
foram transferidas das economias de centro às economias periféricas. Gerando assim, maior aumento no fluxo
de informações e compartilhamento de conhecimento, nas diversas partes do globo. O que esbarrou na
burocratização das instituições, que por medo ou comodidade de seus agentes, refutaram os benefícios dos
adventos das tecnologias e adotando critérios de ressalva quanto à modernização.
Com o passar do tempo e com os avanços tecnológicos, os critérios adotados anteriormente foram
mudando gradativamente apoiados na era do conhecimento. Conhecimento este que cada vez mais está se
consolidados nessa sociedade tecnológica voltada aos grandes fluxos de informação, principalmente dos
veículos de comunicação, sobre tudo TV, rádio e Internet. Isso fez com que uma grande massa de
informações fosse criada nas instituições. Porém, não adianta ter uma massa imensa de informação sem poder
trabalhar de forma consistente e consciente com essas informações. Segundo Máximo (2004), para que ocorra
o desenvolvimento dos países é preciso que eles tenham capacidade de gerar informações precisas e corretas
para a tomada de decisão. Pois nos projetos de políticas públicas ou privadas, há consenso que os melhores
recursos estratégicos são as informações produzidas.
No entanto, pode ocorrer um problema com a geração de um número muito grande de informações,
pois a utilização desse montante de dados sem os cuidados devidos no armazenamento inviabiliza o acesso e
seu não aproveitamento posteriormente.
Assim, percebe-se, que tudo está girando de forma muito rápida e CASTELLS (1999) evidencia bem
este acontecimento a priori como se pode perceber: o ambiente onde os governos, as empresas e as
comunidades interagem vem sendo mudado pela economia da informação. O Recebimento, tratamento e
armazenagem das informações está mudando fundamentalmente, e a velocidade, a flexibilidade e a inovação
são as palavras de ordem neste novo ambiente.
Verificado o problema, a utilização dos serviços eletrônicos pelos governos está tendo várias
iniciativas, embora ainda de forma elementar, pois a utilização do e-Gov, vai alem da criação de páginas na
internet para os cidadãos, ela desemboca na exploração de uma gama enorme de possibilidades. Uma
compreensão ampla de governo eletrônico, empregando uma expressão futurista, apresenta G2C, G2B e G2G
que respectivamente são as relações entre governo e cidadão, governo e fornecedores/empresas e governo
inter ou intragoverno diz Zimath (2003).
Entretanto, antes de poder propiciar os benefícios advindos da era da informação para o público
externo, o governo deve somar esforço no sentido de aprimorar as tecnologias existentes para criar
mecanismos de auto-sustentação, primando pela eficiência de suas organizações.
Aprimorar as tecnologias existentes não é tarefa fácil, pois a utilização das tecnologias de informação
não garante, por si só, o sucesso e o alcance dos objetivos, mas sim a combinação inteligente com base nas
competências organizacionais, ou seja: excelência nos processos de trabalho; dinâmica na relação com a
comunidade; valorização e motivação do capital humano; simplificação dos métodos gerenciais e
disseminação rápida dos conhecimentos que irá fomentar as estratégias que perduraram e trarão os benefícios
para o governo e conseqüentemente para sociedade. Rocha (2000), menciona que Estado e Municípios não
alcançam seu inteiro desenvolvimento se não usarem informações precisas, atualizadas e de forma rápida
sobre os melhores meios de otimizarem os recursos gerados em sua sociedade. Acreditamos que o governo
federal tem papel importante nesse processo e deva ser o órgão fomentador.
Com a alusão feita por Rocha, podemos observar que o tratamento adequado das informações pode
ser uma forma de auxiliar as instituições nas soluções de problemas de várias ordens, podendo ser eles
econômicos, administrativos e sociais.
Neste intere, utilizar a tecnologia da informação para aplacar um dos problemas sociais – um dos
mais relevantes nos últimos tempos que é a violência na sociedade – pode ser uma forma engenhosa de
combater este mal que nos aflige cada vez de forma mais intensa. Segundo Melo (1999): “A criminalidade do
fim do século se caracteriza por ser complexa; e é este o atributo que vai direcionar a forma precisa e eficiente
de combatê-la ou controlá-la”.
Assim o uso da gestão do conhecimento, pode ser um diferencial para a prevenção e o combate da
criminalidade nestes novos tempos da sociedade de informação. Mas para que isto se concretize é preciso
investimento de forma mássica em tecnologia, fazendo com que haja planejamento nas ações e gere eficiência
no combate da criminalidade.

3.1 PLANEJANDO A UTILIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO

O planejamento na utilização da informação passa por uma serie de estratégias que visam, sobretudo
a perfeita utilização da informação. A respeito disto podemos mencionar que a informação deva ter algumas
premissas que segundo o nosso entendimento, são:

a) Confidencialidade: Garantia de que os dados a serem utilizados sejam acessados apenas


por quem tenha autorização para fazê-lo;
b) Integridade: confiança da exatidão das informações e que ela está mais completa
possível;
c) Disponibilidade: segurança que os usuários autorizados quando tiverem necessidade de
acessar as informações, elas estejam disponíveis de forma oportuna e com ferramentas
analíticas.
Um sistema para funcionar em sua plenitude e gozar de confiabilidade tem que adotar essas
premissas em sua concepção. Entretanto, só a adoção destas premissas não garante o sucesso da utilização da
informação, mas a adoção de estratégias com o intuito de planejar a coleta, armazenamento e análise dos
dados é que trará consigo a confiabilidade e o sucesso da gestão da informação.
Podemos mencionar que a respeito da criação de estratégias, o envolvimento das pessoas no processo
de construção deve necessariamente envolver o staff de comando, os gerentes e supervisores dos processos e a
base operacional, sob custo de ser idealizada uma ferramenta que não atende as carências da instituição.
Nas instituições existe uma linha de hierarquia que tem de abastecer a base com soluções para
aumentar a eficiências em suas ações. Contudo, para que ocorra o fornecimento destas soluções, a base deve
alimentar o staff de comando com informações relevantes das demandas a serem sanadas para otimização do
desenvolvimento dos trabalhos. Assim, acontece um processo de realimentação constante do fluxo da
informação que são usadas em prol da instituição, a fim de atenuar possíveis erros de concepção na gestão do
conhecimento. A Figura 01 apresenta o processo de alimentação.

Figura 01 – Fluxo de informações

Planejamento de Estratégias e Feedback

Staff de Fluxo de
Comando Informação
Hierárquico
Gerentese
Supervisores

Base
Alimentação
do Fluxo de
Operacional
Informação

Fonte: Elaborado pelos Autores.

As informações apresentadas pela base operacional auxiliaram na idealização do sistema de


inteligência para tomada de decisão. A maioria dos sistemas utilizados nas instituições pela base operacional
são ferramentas (sistemas) que executam o registro e o controle das rotinas diárias. As informações são
depositadas nos bancos de dados idealizados, na sua maioria, para apresentarem relatórios simples sem que
ocorra o cruzamento das informações internas e também externas à instituição. O cruzamento dos dados e
informação entre sistemas faz com que sejam gerados novos conhecimentos dando uma visão holística do
arcabouço analisado.

O sistema de inteligência auxilia na exploração e análise das informações gerenciais e táticas das
instituições públicas e privadas e com esses dados realizam simulações, projeções e dados rastreáveis e
confiáveis. Neste sentido, o sistema não produz informações novas, mas pode criar novas visões ou
perspectivas administrativas e operacionais para aplicações ou atuações eficientes.
O sistema de inteligência agiliza o acesso aos dados gerando rapidez para coordenação devido a não
necessidade de utilizar muitos sistemas para obter as informações necessárias, possibilitando uma análise
mais consistente dos dados obtidos. Assim, o gestor da informação pode agir de maneira mais confiável com
auxílio da tecnologia como enfatiza DINIZ:
[...] uma das principais formas de modernização do estado é resultado do uso estratégico e intensivo das
tecnologias de informação e comunicação (TIC), nas relações internas dos próprios órgãos de governo e
também das relações do setor público com os cidadãos e as empresas [...] (DINIZ, 2002, p.5)

Dentro desse processo de informatização das instituições, através da adoção de um sistema que
possibilite o cruzamento dos dados é fundamental respeitar as autonomias tecnológicas dos setores, órgãos ou
instituições. Pois uma das vantagens que a nova era do conhecimento proporcionou foi a possibilidade de
integrar as mais variadas bases de dados e as diversas tecnologias do mercado. Com um bom estudo é
possível cruzar as informações fazendo com que os resultado sejam exibidos de forma dinâmica aos usuários
finais que devem ter acesso.
Importante é à disposição do ambiente de inteligência, que tem de seguir uma seqüência quando há
um ambiente multifacetado de tecnologias. O prudente é que se tenha uma camada de estágio, que é uma área
de tratamento onde os dados extraídos dos sistemas são enviados para serem armazenados. Lá a base
consolidada das varias informação previamente selecionadas fica disponível para a utilização da interface de
visualização que realiza a exploração dos dados pelo ambiente de inteligência através de metodologias e
ferramentas especificas, que atuaram sobre a estrutura de armazenamento. Esta interface apresenta as
informações através de relatórios dinâmicos, dados estatísticos ou rede de relacionamento.
Dentro desta conjuntura, podemos destacar que a maior parte das tarefas tende a ser realizada com a
obtenção ou do tratamento das informações das instituições. A figura 02 apresenta uma idéia da arquitetura do
sistema.
Figura 02 - Inteligência Artificial e Gestão do Conhecimento

Fonte: Elaborado pelos autores.

Entretanto, para chega neste estagio do processo de desenvolvimento de um sistema de inteligência


voltado à gestão da informação algumas etapas não podem ser negligenciadas como será exposta, mas não
necessariamente nesta ordem, pois a ordem dependerá em que parte do processo o órgão se encontre.
ƒ Etapa de Implementação do Software.
Estabelece a estratégia de implementação de migração e adoções de soluções baseadas em
softwares específicos, previamente analisados e em conformidade com o objetivo pretendido.
ƒ Etapa de Inclusão Digital.
Estabelecem diretrizes e coordenação estratégicas das ações institucionais de controle das
informações.
ƒ Etapa de Integração de Sistemas.
Estabelece procedimentos e formas para integração de sistemas dos órgãos do governo.
ƒ Etapa de Sistemas herdados e Permissões de uso.
Estabelece critérios para a evolução dos sistemas herdados e estabelece as formas e normas para
a renegociação de contratos com grandes fornecedores, visando a redução de custos e
diminuição da dependência.
ƒ Etapa de Gestão de Sites e Serviços On-line.
Estabelece formas e políticas para integração e otimização dos serviços e informações on-line
prestados pelo governo.
ƒ Etapa de Infra-Estrutura de Redes.
Estabelece o levantamento e criação das infra-estruturas de rede existente visando a integração
(voz, dados e imagem) do governo.
ƒ Etapa Governo para Governo.
Estabelece a criação de formas de integração das aplicações inter e intra-órgão dos entes da
federação, estados, municípios e demais poderes.
ƒ Etapa de Gestão do Conhecimento e Informação Estratégica.
Estabelece a análise e criação de formas para a geração e gestão de bases de conhecimento das
instituições para gerar o conhecimento estratégico.
Claro que estas etapas não garantes o sucesso do processo de informatização com a integração dos
sistemas existentes, mas auxiliam dando um aporte de norteamento das ações que devam ser executadas ao
longo da gestão do conhecimento.
Como forma de apresentar as boas práticas no desenvolvimento de um processo com adoção de um
sistema de gerenciamento na tomada de decisão, através da gestão do conhecimento se falará da Secretaria de
Segurança Pública de Santa Catarina que deu start no processo de utilização de um sistema inteligente.

4. SISTEMA INTEGRADO DE CONHECIMENTO NA SEGURANÇA


PÚBLICA
A criminalidade esta cada vez mais engajada em utilizar o que estiver ao alcance para continuar a
obter êxito em suas ações marginais. Assim, a ação das autoridades se faz cada vez mais necessária para
procurar neutralizar estas ações que são investidas contra a sociedade.
A forma usual com que o governo vem atuando no problema pede uma readaptação da estratégia e a
utilização de formas mais eficientes de combate e prevenção ao crime. Como a tecnologia já marcou e vem
marcando a sociedade, e isso se faz de forma mais intensa nas ultimas décadas, o emprego dela no governo
consolida a carência de meios pragmáticos para enfrentamento da dificuldade advinda dos grupos criminosos.
Buscando subsidiar as autoridades (federais, estaduais e municipais), assim como os poderes
constituídos (executivo, legislativo e judiciário), o governo aposta no cruzamento e analise das informações
criminais e civis e na capilarização das informações como forma de antecipar as ações adversas, através da
projeção de cenários, montando estratégias para neutralizar as atuações criminosas.
Alguns estados canalizam esforços na gestão da informação para gerar o diferencial que faltava nas
ações de segurança para combate da criminalidade.
Vamos descrever a iniciativa de Santa Catarina com a criação do Sistema Integrado de Segurança
Pública (SISP) que tem no intere de suas ações a utilização de um ambiente de inteligência para obter
informações nos vários sistemas das instituições da Secretaria de Segurança (PM, PC, DEAP, BM, DETRAN
e IGP).

GESTÃO DA INFORMAÇÃO NA SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA

A secretaria de segurança pública tinha em suas instituições sistemas que realizavam o


armazenamento das rotinas diárias dos serviços prestados a comunidade. Mas com a nova visão, pautada na
difusão do conhecimento e na gestão da informação, a secretaria dá um salto de qualidade realizando a
integração de suas informações através da utilização de um sistema de trabalho, realizando cruzamento das
informações com relacionamento através de redes. Esta tecnologia auxilia na visualização das informações e
na análise das mesmas.
O sistema consiste na seleção dos dados relevantes nos vários sistemas das instituições da secretaria
de segurança, por um grupo de coordenação do processo, sendo armazenado em uma base de estagiamento e
tratamento das informações dos sistemas dos órgãos da secretaria. As informações são do controle
penitenciário, ocorrências da polícia militar, polícia civil, departamento de trânsito, ocorrências do corpo de
bombeiros e perícias.
Na base do sistema as informações são armazenadas em tabelas do banco de dados e o sistema
realiza o tratamento das inconsistências, organizando os dados para posterior consulta. Devido à disparidade
encontrada nas tecnologias existentes nas organizações, alguns sistemas foram desenvolvidos e outros
reestruturados para poderem se moldar à filosofia da gestão de informação adotada.
Para garantir a segurança no processo a Diretora de Informação e Inteligência gerencia o processo de
gestão das informações, disponibiliza as informações inter instituições aos órgãos e controla os acesso as
informações, valendo-se da legislação vigente da atividade de inteligência.
O sistema realiza a leitura na base de dados de acordo com a solicitação e realiza a apresentação dos
dados de forma organizada das informações encontradas nas instituições. A visualização pode ser feita através
de relatórios ou redes de relacionamento denominada árvore hiperbólica, a figura 03 dá uma idéia da
apresentação dos dados.

Figura 03 Arvore de Relacionamento

Fonte: Elaborado pelos Autores.

Esta forma de exibição facilita a visualiza e a análise, pois apresenta as informações agrupadas por
instituição, ou seja, a concentração é apresentada pela instituição que disponibilizou os dados e a inter-relação
aparece mostrado o que cada instituição tem a respeito da consulta realizada.
Como exemplo pode-se verificar se as informações no registro de ocorrência, passagem por
estabelecimento prisional e perícias são apresentadas de forma simultânea não havendo necessidade do
analista de segurança entra em vários sistemas dispendiando tempo na procura de suspeitos.
Embora o sistema da secretaria de segurança já esteja em funcionamento, o sistema esta longe de
estar completo, pois a gama de informações que poderão ser agregadas fará com que a ferramenta se torne o
ícone nas investigações e operações de inteligência possibilitando a busca de informações em instituições
internas da SSP e também nos órgãos externos a SSP.
O passo seguinte, após a incorporação de todas as informações das instituições, é o convênio
buscando as informações de forma on-line do judiciário. Informações como mandado de prisão, processos
entre outros dados, se cruzarão com informação dos parentes que visitam nos presídios como forma de
delimitar a área de busca de um possível fugitivo. Sem extrapolar nas possibilidades que uma ferramenta
deste porte disponibiliza para a segurança pública, podemos mencionar também as informações das empresas
de serviço como água e luz.
Sem sobra de dúvidas, os Poderes utilizaram as beneficias criadas pela gestão da informação na área
de segurança pública. Pois isto só esta começando e a integração das bases a níveis federais trará mais
benefícios ainda para a sociedade. Vamos acredita que o investimento nesta área ocorra.

CONCLUSÃO

O presente artigo abordou a utilização das ferramentas de tecnologia da informação pela área de
Segurança Pública do Estado de Santa Catarina. Historicamente, constatou-se que a falta de segurança na
atualidade é um dos principais problemas da sociedade contemporânea. Mesmo o Estado, responsável pela
segurança dos cidadãos, está enfrentando problemas para combater a criminalidade.
Historicamente, o setor privado da economia, por ser mais dinâmico, possui um maior volume de
capital para ser investido na área de tecnologia da informação. Da mesma forma, grande parte dos criminosos
utilizam-se dessas tecnologias para gerir os seus negócios ilícitos, dificultando, ainda mais, a atuação em
busca da segurança do cidadão.
A realidade, entretanto, começa a se alterar na medida em que o Estado percebe a necessidade de
realizar investimentos na área de tecnologia da informação e comunicação, buscando os ganhos de sinergia
provenientes da utilização dessa tecnologia. A utilização das tecnologias da informação auxilia na interação
entre o governo e o cidadão, o governo e as empresas e até mesmo as relações inter governamentais.
No que diz respeito às relações de governo para governo, destaca-se a utilização da informação para
o combate da criminalidade. No caso da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina, faz-se referência
ao uso de gestão do conhecimento com inteligência artificial no Sistema Integrado de Conhecimento na
Segurança Pública.
A filosofia do sistema foi desenvolvida buscando uma maior interação entre as bases de dados das
instituições responsáveis pela Segurança Pública do Estado de Santa Catarina. O desenvolvimento levou em
conta etapas relacionadas à implementação do software, inclusão digital, integração de sistemas, sistemas
herdados e permissão de uso, gestão de sites, infra-estrutura de redes. O sistema permite a análise dos dados,
por analistas, e auxilia a elaboração de relatórios para a criação de estratégias de combate ao crime.
Mais precisamente, o processo de gestão da informação na secretaria de segurança pública seleciona
dados relevantes, realiza o tratamento das inconsistências e organiza a base do conhecimento. A partir desse
ponto, as informações são expostas em forma de rede de relacionamentos, o que facilita a representação do
conhecimento.
Desta forma, a SSP-SC dá um importante passo em momento delicado da sociedade, onde a
criminalidade passa a utilizar as tecnologias da informação como forma de tirar proveito do alto grau de
burocratização do Estado. A iniciativa é extramente válida, pois não visa apenas um combate mais eficiente
da criminalidade, como também o fato de tornar menos oneroso e mais ágil o processo de investigação.

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ZIMATH, Mascarenhas Bonina Patrícia. O e-Gov como fator de promoção do exercício da cidadania no
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Federal de Santa Catarina, Florianópolis: UFSC, 2003.
O CONCEITO DE SOFTWARE PÚBLICO
ANALISADO SOB A PERSPECTIVA DE REDE

Jarbas Lopes Cardoso Júnior 1


Centro de Pesquisas Renato Archer – CENPRA/MCT
Jarbas.Cardoso@cenpra.gov.br

Marcius Fabius Henriques de Carvalho 2


Centro de Pesquisas Renato Archer – CENPRA/MCT
Marcius.Carvalho@cenpra.gov.br

Ralph Santos da Silva2


Centro de Pesquisas Renato Archer – CENPRA/MCT
Ralph.Silva@cenpra.gov.br

RESUMO
O conceito do Software Público Brasileiro, SPB, é utilizado como um dos alicerces para definir a política de uso e
desenvolvimento de software pelo setor público no Brasil. Tal política compreende a relação entre os entes públicos, em
todas as unidades da federação e demais esferas de poder, e destes com as empresas e a sociedade. O objetivo deste
trabalho é de construir uma estrutura para suportar atividades de informar, organizar e desenvolver futuras pesquisas com
relação ao conceito de software público sob a perspectiva de rede. Toda a teoria de rede está em estado emergente e deve
continuar recebendo contribuições e evoluindo de forma aberta como resultado das pesquisas empíricas que vêem sendo
realizadas. O conceito de software público segue no mesmo caminho, então analisá-lo sob a perspectiva de rede se
constitui em duplo desafio tanto na criação de conceitos quanto da consolidação dos já existentes em ambos os campos.
Mas, sem dúvida, o sucesso do tema desta investigação impactará a atual estrutura social e pode conduzi-la a uma nova
cultura tendo como base a colaboração e o compartilhamento de conhecimento, contribuindo, dessa maneira, para o
aprimoramento dos processos de disseminação e sustentabilidade das iniciativas de governo eletrônico.

PALAVRAS-CHAVE
Software público. Software livre. Redes de cooperação. Compartilhamento de conhecimento. Governo
eletrônico. Disseminação.

1. INTRODUÇÃO
As estruturas sociais são organizadas em torno de relações de produção, consumo, poder e experiência em
que as configurações espaço-temporais constituem cultura (Castells, 2000). Assim, surge uma nova estrutura
social quando existem transformações em alguma ou em várias destas que, em conjunto, conduzem a
mudanças da cultura. Como exemplo, no fim do século XIX a produção era artesanal realizada por pequenas
empresas, controladas na maioria das vezes por uma única pessoa que se incumbia de todas as tarefas,
principalmente as tarefas administrativas, que geralmente produziam poucos produtos para o mercado
regional. Esta forma de cultura foi substituída, no início do século XX, pela produção em massa que buscava
altos índices de produtividade e reduções significativas de custos, forma que impulsionou a verticalização das
empresas e a concentração dos recursos produtivos em poucos proprietários, formando uma nova cultura, por
exemplo, a das grandes marcas. O paradigma tecnológico desta era se baseava na produção e distribuição de
energia, fator fundamental como elemento impulsionador da então nova cultura.

1
Também professor do curso de Ciência da Computação da Universidade Paulista, UNIP/Campinas.
2
Também professores do curso de Mestrado em Administração da Universidade Paulista, UNIP/São Paulo.
A tecnologia, que é o uso do conhecimento científico para a especificação de formas de fazer coisas de
maneira reproduzível, constitui-se a base para a produção/consumo, experiência, poder e cultura das
organizações. A tecnologia é o ingrediente fundamental para a ação humana - ação que em seu fim produz e
modifica a estrutura social.
A partir do meio do século XX, com o advento dos computadores, deu-se início, ao que posteriormente
veio a se chamar de a era da informação, que pode ser definida como o “período histórico onde sociedade
desempenha suas atividades por meio de um paradigma construído sobre as tecnologias de informação e
comunicação” (Castells, 2000). Esta nova cultura possibilitou o desenvolvimento das redes de informação.
As práticas de relacionamento evoluem no espaço e no tempo criando cultura como um sistema de valores e
de comportamentos resultante de compartilhamento de “significado” (ou conteúdo) e agora está baseada em
sociedade em redes.
A sociedade em rede constitui-se em uma característica de uma estrutura social da era da informação com
diferentes manifestações culturais e institucionais. A característica fundamental, incentivada (possível) pela
tecnologia de informação e comunicação (TIC) é sua dependência à estrutura de rede. Embora redes sejam
formas sociais antigas agora elas são potencializadas pelas novas TIC que alavancam e impulsionam a
produção de conhecimento e informação tornando o processo de informação e compartilhamento o centro da
vida e das ações sociais, transformando as ações eco-sociais e criando nova cultura. Nesse contexto, cria-se
uma nova economia baseada em três características fundamentais: informacional, globalizada e em rede.
A Economia Informacional, fundamentada na capacidade de consumir e gerar conhecimento e de
processar/administrar informações, determina a produtividade e a competitividade de todas as formas de
unidades econômicas, sejam elas organizações, regiões ou países.
A Economia Globalizada permite que as atividades estratégicas possam ser realizadas em escala
planetária, em tempo real ou em tempo escolhido.
A economia é em rede. No coração da conectividade da economia global e da flexibilidade da produção
informacional há uma nova forma de organização econômica. A rede feita de empresas ou de segmentos de
empresas que evoluem dinamicamente, no tempo e no espaço de seus membros, com a entrada e a saída de
participantes à medida do interesse individual ou coletivo, sempre, e de modo crescente, baseado no espírito
de colaboração e de compartilhamento de informação e conhecimento.
A nova economia não existiria sem o apoio das novas TIC que, embora não sejam a causa, constituem o
meio indispensável. É através delas que todos os processos organizacionais são construídos como redes de
informação e colaboração. Também por meio delas, “o mundo foi achatado” conforme escreve Friedman
(2005) sobre os principais acontecimentos que marcaram o início do século XXI. Os autores Benkler (2006),
em sua obra “The Wealth of Networks”, e Tapscott e Williams (2006), na obra Wikinomics, chamam esse
novo fenômeno de “Economia Interconectada”, cujas principais características são: ausência de barreiras a
entrada na rede, a possibilidade de o consumidor virar um produtor de informação, a existência de
mecanismos de auto-organização e regulação. Esses autores, mencionam, cada um a sua maneira, as
oportunidades de o trabalho em rede gerar riqueza social numa proporção nunca imaginada.
Neste trabalho será apresentada uma proposta de se construir uma estrutura para suportar atividades de
informar, organizar e desenvolver futuras pesquisas com relação ao conceito de software público sob a
perspectiva de rede, na era da “economia interconectada”. Este trabalho, na seção 2, apresenta a conceituação
sobre os temas relacionados a redes e ao Software Público Brasileiro, SPB, temas esses que são tratados de
forma a fundamentar as propostas de futuros trabalhos. Na seção 3 são feitas as proposições para suportar as
atividades de informar, organizar e desenvolver pesquisas com relação ao conceito de SPB sob a perspectiva
de rede. Na seção 4 são apresentadas a motivação e uma crítica à própria proposta desenvolvida. Na seção 5
são apresentadas as considerações finais e é feita uma discussão sobre os trabalhos que estão sendo
realizados.
2. CONCEITUAÇÃO

2.1 Redes de Colaboração


Uma rede é um conjunto de nós interconectados por arcos e, por definição, não tem um centro (Figura 1). Ela
trabalha em lógica binária: inclusão/exclusão. Assim, tudo que está na rede é necessário para a existência da
rede. Se um nó deixa de exercer uma função útil à rede ele deve “sair” da rede e esta deve se rearranjar. Pode
haver nó mais importante que outro, mas todos necessitam uns dos outros desde que estejam na rede. Um nó
se torna mais importante à medida que absorve mais informação e processa-a com maior eficiência. Assim, a
relevância e o peso de um nó é conseqüência da habilidade de ser confiável pela rede e de sua capacidade de
absorver e tratar informações.

Figura 1. Rede de relacionamentos.


Uma rede de software público é uma “rede de facilidades de software”, advindos de diferentes
organizações, onde softwares são adicionados no tempo, lugar e forma no sentido de acrescentar valor à rede.
Como há uma interdependência entre todos os atores de uma rede as regras com que esta opera são
resultantes destes atores sociais. Mas, uma vez que a rede é programada ela impõe sua lógica a todos os
membros. Isto dificulta a inclusão de novos membros e muitas vezes a exclusão de membros pela
dependência destes à rede e da rede a eles.
Os arcos de uma rede social representam os relacionamentos e a não existência de um arco entre dois nós,
por exemplo, a representação dos nós “i” e “j”, significa que não há relacionamento direto entre estes nós.
Será chamado de buraco estrutural quando estes nós estiverem conectados somente por meio do nó focal que
para o exemplo dado é o nó “k”. No caso do SPB, o nó focal é o poder público. Ainda no exemplo da Figura
1, o nó “f” não apresenta relacionamento com a rede e, portanto, está fora dela.
Há várias medidas associadas a esta rede como a densidade, conectividade a encontrabilidade, a
centralidade, o número de clusters que serão analisadas à frente.

2.2 Software Público


Segundo Musgrave (1980), bem público é aquele que apresenta características de indivisibilidade e de não
rivalidade. Ou seja, pode ser usado por todos sem que com isto se estabeleça competição pelo bem entre seus
usuários. Alguns bens, embora públicos, apresentam característica fraca de indivisibilidade e de não
rivalidade como, por exemplo, um computador pessoal que embora teoricamente possa ser utilizado por
todos isto não é possível se todos o desejarem em um mesmo momento. Contudo, o software apresenta forte
característica de não rivalidade uma vez que se um ou muitos o utilizam, os demais não perdem a
possibilidade de vir a usá-lo, não há limitação sequer para quem o desenvolveu. Ao contrário, consideradas
as possibilidades de aprimoramento de suas funcionalidades por diferentes atores, sua qualidade pode ser em
muito ampliada através da disseminação de seus códigos fonte, documentação associada e da efetiva
colaboração dos usuários e desenvolvedores (Pertele et al, 2005).
O software, pelas suas características, apresenta grande potencialidade de ser um bem público e, caso o
conceito de Software Público venha ocorrer em grande escala, ele surgirá como elemento impulsionador de
uma transformação da estrutura social. A tecnologia de software público como uma ferramenta de construção
de relações de produção/consumo, experiência e poder constitui-se em ingrediente fundamental da ação
humana que produz e modifica a estrutura social, e impulsiona o aparecimento de nova cultura. Fenômeno
que já começa a aparecer, demonstrado, ainda que de forma empírica, por alguns indicadores de participação
na rede através do portal do Software Público Brasileiro que “facilita a implantação de novas ferramentas nos
diversos setores administrativos dos estados, promove a integração entre as unidades federativas e oferece
um conjunto de serviços públicos para sociedade com base no bem software” (SPB, 2007).
O conceito do SPB é utilizado como um dos alicerces da política de uso e desenvolvimento de software
pelo setor público no Brasil e de relacionamento entre os diferentes entes públicos, seja entre os níveis
(municipal, estadual, federal) de governo, seja entre os poderes (executivo, legislativo, judiciário) e desses
com as empresas e a sociedade. Adota o exemplo do padrão de desenvolvimento vigente para software livre
em que os participantes cooperam intensivamente sem restrições (pelo menos) aparentes.
A idéia, lançada pela Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Tecnologia da Informação e
Comunicação, ABEP, em 1995, tinha como principal objetivo o compartilhamento de soluções entre as
instituições públicas, em particular as instituições de informática pública. Com a experiência do sistema de
inventário CACIC, disponibilizado pela Dataprev, sob a Licença Pública Geral, GPL, a visão deste
compartilhamento foi ampliada para toda sociedade (SPB, 2007; Peterle et al, 2005, ABEP, 2007).

2.3 O Conceito de Redes Sociais


A imagem de ator atômico competindo contra tudo e a todos é inadequada para a nova economia. As
empresas estão envolvidas em uma rede de relacionamento social e profissional com outros atores
organizacionais em ambos os sentidos horizontal e vertical que ultrapassam indústrias e até mesmo as
barreiras de países. Estas relações, no lugar de postura atômica, visam o aumento da competitividade e, por
conseguinte, potencializa maior retorno (Gulati et al, 2000).
A iniciativa do software público caminha no sentido de uma rede por permitir a qualquer pessoa, empresa
de qualquer tamanho, ou órgão de governo (municipal, estadual, federal) o acesso à informação, a recursos, a
mercado e a tecnologias públicas com a vantagem de economia de escala e de escopo. Além de possibilitar o
compartilhamento de riscos e agilidade no desempenho e atualização.
Por ser uma rede pública, cria oportunidades na medida em que o ambiente se torna maior, mas ao mesmo
tempo pode introduzir restrições. No contexto estrutural destaca-se a significância de uma rede pública que
interage contando com atores econômicos que explicitam a perspectiva de um custo transacional baixo por
não otimizar um único relacionamento, mas o relacionamento com uma rede inteira (de muitos para muitos),
sem ter como objetivo principal apenas o lucro financeiro. Os participantes podem ser vistos como
envolvidos em uma rede de recursos, informações e outros fluxos que venham influenciar na competitividade
destes em um mercado externo e não de forma competitiva dentro da rede.
Para sua viabilização, o software público pode contar com um modelo de desenvolvimento compartilhado
de software, acrescido por um conjunto de serviços públicos adicionais oferecidos pelas entidades que
disponibilizam a solução, ou pelas instituições interessadas em assumir o compromisso público de liderança
do projeto, que deve prever em seu rol de serviços: manual de usuário, manual de instalação, listas de
discussão, fóruns, modelo de gestão e algum nível de suporte. Além disso, o modelo de software público
confere aos artefatos desenvolvidos (software, código fonte, modelos, metodologias, certificações,
qualificações, documentos de referência, planos e outros documentos) o princípio inerente a qualquer bem
público, passível de ser compartilhado e que é, portanto, objeto de aplicação de políticas públicas. Esses
artefatos, que podem ser chamados de “commons 3” de conhecimento conforme explica Benkler (2006), são
criados a partir da integração de inúmeras contribuições grandes ou pequenas, simples ou complexas pelos
participantes da rede.

3
O termo “commons” pode ser entendido como um bem público, que serve ou pertence à comunidade, assim como uma
praça, um espaço de uso comum.
O que fica demonstrado nas redes sociais, seja por Benkler (2006) ou pelas experiências preliminares do
portal do Software Público Brasileiro (SPB, 2007) é o grande potencial (será ilimitado?) produtivo de riqueza
social.
Do ponto de vista metodológico, o contexto social em que uma organização está envolvida inclui um
conjunto de elementos que Zukin e DiMaggio (1990) classificam genericamente como estrutural, cognitivo,
institucional e cultural. O foco neste trabalho é discutir o aspecto estrutural o que inclui questões estratégicas
para a criação de uma rede de software público. Abrange, por exemplo, a definição daqueles atores que
estarão envolvidos no projeto da rede com visão de longo prazo. As questões estratégicas que podem ser
analisados em uma rede social são (Tichy et al, 1979): conteúdo transacional; natureza da ligação;
características estruturais; ciclo de vida, que passam a ser descritos.
2.3.1 Conteúdo Transacional
Pode ocorrer como quatro tipos de troca:
a) Expressão de afeto ou de amizade que em uma rede de software público pode ocorrer entre setores
(membros) do governo;
b) Troca de influência e poder;
c) Troca de informação;
d) Troca de produto ou serviço.
Segundo Tichy et al (1979), uma rede pode tomar diferentes posições para cada um dos conteúdos
transacionados. Por exemplo, a rede para troca de informação pode ser altamente conectada e
descentralizada, enquanto a rede de influência pode ser centralizada e mediada por um supervisor.
2.3.2 Natureza da Ligação
A ligação determina como os elementos da rede se interagem e, entre as formas de interação, as principais
características são:
a) Intensidade
Mede o grau que os indivíduos honram as obrigações, ou se comprometem com custos, ou se envolvem
em contatos durante uma unidade de tempo.
b) Reciprocidade
Mede o equilíbrio com que se dá uma relação. Em uma relação de alta reciprocidade a intensidade com
que os elementos envolvidos se relacionam tem a mesma intensidade em ambos sentidos.
c) Visibilidade das expectativas
Mede o grau com que os indivíduos entendem como deve ser o comportamento apropriado das relações
bilaterais.
d) Multiplicidade
Um indivíduo pode ter múltiplas funções tais como: trabalhador, marido, membro de uma comunidade e
membro de um grupo. A multiplicidade identifica o grau que um par é ligado em múltiplas tarefas.
Quanto mais tarefas ligam um indivíduo a outro mais forte é a ligação.
2.3.3 Características Estruturais
As características estruturais estão ligadas aos nós, à disposição destes na rede e como eles se encontram
interligados. As principais características são:
a) Tamanho
É o número de indivíduos ou elementos (nós) pertencentes à rede.
b) Densidade ou conectividade
Está relacionado com o número de ligações na rede. É definido como a razão entre o número de ligações
atuais e o número de possíveis ligações.
c) Cluster (grupo, conjunto ou classe)
É formado por um conjunto de elementos com características semelhantes, e que se agrupam por
afinidades. O número de clusters é determinado pelo número identificado de conjuntos no universo da
rede.
d) Estabilidade
Grau com que o padrão da rede se modifica com o tempo.
e) Abertura
Número de ligações externas de uma unidade social como uma taxa de ligações externas possíveis.
f) Encontrabilidade
O número médio de ligações entre dois nós de uma rede.
g) Centralidade
O grau com que as relações são dirigidas por uma hierarquia formal.
h) Estrela
O indivíduo com o maior número de nominações.
i) Ponte
Um elemento que é membro de múltiplos clusters.
2.3.4 Ciclo de Vida
Como um elemento do sistema social toda rede tem um ciclo de vida, tem uma perenidade e uma duração.
Internos a uma rede existem clusters que, por sua vez, apresentam também duração ou ciclo de vida. Os
clusters evoluem com o tempo e modificam a rede. A dinâmica da composição da rede causa movimentos
que podem modificar estruturas e que, portanto devem ser estudadas.

2.4 A Propriedade e As Tecnologias Abertas


Quando se trata de redes de cooperação e compartilhamento, sem dúvida, é importante mencionar o debate
existente a respeito do direito à propriedade intelectual versus as tecnologias abertas, ou mais precisamente a
discussão sobre software proprietário versus software livre (Herz et al, 2006; Falcão et al, 2005). Na verdade,
segundo Benkler (2006), a discussão é ótima, mas os temas não são conflitantes na medida em que uma
opção não elimina a outra, pois ambas podem ter proteção intelectual registrada e protegida. O mais
importante é o que cada opção representa.
Trata-se de decidir entre restrição e abundância, entre bens rivais e não-rivais. Trata-se de garantir o
compartilhamento para permitir o desenvolvimento incremental e modular de forma rápida e a baixo custo.
Este trabalho não trata desse assunto, mas parte do princípio que o software público é um bem não-rival, na
medida em que o uso por uma ou mais pessoas não restringe o uso por outras pessoas. O software também
pode ser abundante na medida em que ele fica a disposição em um ambiente de rede e seu uso é regido pela
GPL (SPB, 2007). Em outras palavras, a opção é pela produção social, conforme defendida por Benkler
(2006), alheia às regras convencionais de mercado, alheia às hierarquias tradicionais e, intensivamente,
suportada pela Web (Berners-Lee et al, 2007; Hippel, 2005; Tapscott e Williams, 2006).

3. O PADRÃO DE REDES APLICADO AO SOFTWARE PÚBLICO


Para um software pertencer à rede do Software Público Brasileiro ele deve ser analisado em três dimensões:
técnica (ou computacional), social (ou comportamental) e econômica, conforme exibido na Figura 2.

Técnica Social

Software Público

Econômica

Figura 2. Dimensões do Software Público.


A dimensão técnica (ou computacional) deve satisfazer as especificações e estar em acordo com o nível
de qualidade estipulado para permitir a realização dos trabalhos. A dimensão social deve contribuir para
criação de um capital social, ocupando espaços até então não preenchidos pelas estruturas organizacionais
convencionais. A dimensão econômica deve estar em acordo com as regras e normas que regem o
funcionamento adequado da rede na geração de oportunidades, num jogo em que todos sejam recompensados
pelos esforços despendidos em quaisquer empreendimentos.
Uma vez dentro da rede, um software público pode se relacionar com outros softwares ou com outras
entidades da rede. Define-se como cluster (agrupamento, arranjo) de uma rede aqueles elementos que
possuem características semelhantes e são reunidos por similaridades. Há diversas maneiras de se constituir
um cluster e pode depender até da visão do analista com relação ao problema a ser resolvido. Na Figura 3 é
ilustrada uma visão que procura agrupar atores entendidos como entidades interessadas no desenvolvimento
do conceito de software público, representado pelo retângulo direito da figura, e artefatos assumidos como
softwares (e seus componentes), representado pelo retângulo esquerdo da figura. Um cluster pode ser
subdividido em subclusters quando se tem necessidade de analisar e desenvolver determinadas características
de um subgrupo (SPB, 2007).

Figura 3. Rede parcial do Software Público.


Pode haver relação entre elementos de um cluster com elementos de outro cluster. Como também pode
haver relação entre elementos de um mesmo cluster. Espera-se que a relação mais intensa ocorra dentro de
um subcluster, a seguir dentro de um cluster e por fim entre clusters formados por características diferentes.
A Figura 3 apresenta um cluster de artefatos e um cluster de atores. Para ilustrar, o primeiro cluster está
subdividido em três subclusters e, o segundo, em dois subclusters seguindo a divisão por características e
similaridades. A rede de software público pode possibilitar a configuração de vários clusters e relações entre
eles. A relação entre os elementos de um cluster também pode ser objeto de estudo, quer seja entre clusters
de atores, quer seja entre clusters de artefatos, quer seja entre clusters de atores e de artefatos. Definir e
desenvolver esta relação são as ações que levam ao sucesso a proposta de Software Público.
Um componente “Si”, da rede, é composto de artefatos de software (software, código fonte, modelos,
metodologias, certificações, qualificações, documentos de referência, planos, manuais – do usuário, de
operação, de instalação - e outros documentos) e de ferramentas de suporte ao trabalho cooperativo (lista de
discussão, “wikis” etc). Benkler (2006) chama o conteúdo desse componente “Si” de “commons”. Ele pode
interagir com outros nós do mesmo cluster, por exemplo, para complementá-los, para por associação ser
agrupado em um único nó etc. Esta associação deve ser gerenciada por um ou mais atores que detêm o
conhecimento do conteúdo dos artefatos, de suas posições com relação aos clusters de artefatos e da
convivência da iteração.
Um cenário possível da rede do Software Público (Figura 4) é o de um cluster formado por membros de
uma determinada comunidade que interagem entre si, trocando idéias, podendo constituir um subcluster para
criar algo específico (p.ex., um modelo de referência) que pode vir a ser incorporado pelo cluster de
artefatos. Por outro lado, os membros desse subcluster podem interagir com membros de outros
agrupamentos para complementar os trabalhos ou simplesmente disseminar os resultados. Os membros das
comunidades estão ligados ou não a instituições e podem ou não representá-las. As instituições também
formam os chamados clusters de instituições participantes que, por sua vez podem interagir entre si e com
outros clusters e subclusters, contribuindo com conteúdo e regras de utilização ou simplesmente absorvendo
(ou adotando) soluções compartilhadas, colocadas a disposição pelos clusters de artefatos. Tanto membros da
comunidade como das instituições têm suas próprias agendas com suas estratégias de participação e
influência sobre os artefatos, o que é natural. A convivência desses vários clusters constitui o que se
convencionou chamar de ecossistema voltado para a produção social onde, primeiro, consumidor e produtor
de informações e conhecimento se confundem e, segundo, mecanismos de auto-organização surgem, por
assim dizer, espontaneamente, favorecendo a disseminação e ampliando as oportunidades de sustentabilidade
das soluções (artefatos) produzidas (Benkler, 2006; Hippel, 2006; Tapscott e Williams, 2006).

Membros das
Comunidades

Artefatos Instituições

Agendas

Figura 4. Representação das interações que podem ocorrer na rede do Software Público.

4. MOTIVOS E CRÍTICAS À PROPOSTA


Os motivos que nos levaram a delinear a proposta de software público, considerando as redes sociais baseia-
se nos conceitos que sustentam o processo de institucionalização apresentado em Tolbert e Zucker (1999).
Eles que propuseram quatro etapas para esse processo: inovação, habituação, objetivação e sedimentação. A
compreensão que se tem é que esse conceito para ser operacionalizado como gerador de capital social
dependerá diretamente da capacidade de atores institucionais virem a construir uma rede que é dinâmica
estruturalmente e, portanto, suporta o aparecimento de demandas e ofertas promovidas por quaisquer
categorias de atores: pessoas, instituições e empresas públicas e privadas.
Em termos práticos, na medida em que instituições públicas se organizem no sentido de manifestar
explicitamente suas demandas de software, na medida em que apareçam políticas públicas destinadas a não
só orientar as ações técnicas e administrativas, mas também sinalize pela disponibilidade de recursos. Na
medida em que apareçam atores (pessoas, universidades, instituições de pesquisa, empresas privadas)
engajados no desenvolvimento de capital social orientado às diversas aplicações, tem-se um processo de
legitimação do próprio conceito de software público. Portanto, como descrito o processo de
institucionalização inicia-se com uma idéia inovadora e, nesse caso, o software público em certa medida é
uma idéia inovadora. Em seguida, essa idéia inovadora deve passar pela habitação, sendo que essa envolve a
geração de novos arranjos estruturais em resposta a problemas ou conjunto de problemas específicos, como
também a formalização de tais arranjos em políticas e procedimentos de uma organização, ou um conjunto de
organizações que encontrem problemas iguais ou semelhantes (Tolbert e Zucker, 1999, p.206). A terceira
etapa do processo de institucionalização é a objetivação que envolve o desenvolvimento de certo grau de
consenso social entre os tomadores de decisão das instituições a respeito do valor da estrutura, e a crescente
adoção pelas instituições com base nesse consenso. Na última etapa que é a sedimentação, essa envolve um
processo que fundamentalmente se apóia na continuidade histórica da estrutura e, especialmente, em sua
sobrevivência pelas várias gerações de membros da instituição. A sedimentação caracteriza-se tanto pela
propagação, virtualmente completa, de suas estruturas por todo o grupo de atores teorizados como adotantes
adequados, como pela perpetuação de estruturas por um período consideravelmente longo de tempo (Tolbert
e Zucker, 1999, p. 209). Assim, o processo de institucionalização do software público na medida em que
assume um caráter estruturante, pois para sua implementação setores de governo (municipal, p.ex., Itajaí,
2007; estadual, p.ex., ABEP, 2007; federal, p.ex., SPB, 2007) começam a se articular no sentido de
configurar demandas e provedores de soluções em tecnologias de informação e comunicação conforme essa
proposta. Avança em direção a obtenção de consenso social, portanto está sujeito a algumas críticas. Antes,
porém, ressalta-se o fato da dinâmica intrínseca ao processo de institucionalização que envolve diferentes
atores em configuração de redes podendo ou não desenvolver relacionamentos efetivos que se auto-
organizam e se fortalecem. Essa dinâmica caracteriza envolvimentos relacionais que por si são alavancas
para novas propostas de evolução dos próprios serviços fornecidos.
A proposta foi delineada como resposta a uma idéia inovadora centrada no conceito de software público.
Uma das principais fragilidades dessa proposta que ela surge com viés fortemente conceitual e que necessita
de tempo para amadurecer, pois em termos gerais ela se apropria de uma consistência processual que irá
sustentar alguns empreendimentos. Todavia, em um nível maior de detalhe ela pode não suportar demandas
por artefatos mais específicas promovidas por atores institucionais como as prefeituras, e dessa forma o
isomorfismo institucional (DiMaggio e Powell, 2005), que atua como um facilitador do processo de
institucionalização, não estaria presente, criando assim fontes fortuitas de consumo de energia. Esse fato
pode desarticular relacionamentos em fase de sedimentação fundamentais para a consolidação da rede de
desenvolvimento de software público. Em termos mais técnicos, a configuração de repositórios e sua gestão
ainda necessitam ser estabelecidos para atender demandas anunciadas. É possível que se faça necessário
explorar conceitos como domínio de conhecimento, e suas ontologias que serão por fim caracterizados por
componentes, sendo esses pré-produtos de software que estarão prontos para serem compostos em estruturas
complexas. Desta forma, apontando para a necessidade de definir estruturas que representam domínios para
os artefatos disponibilizados. Ainda não se tem resposta a esses pontos, uma vez que não se atingiu ainda tal
necessidade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Plonski (2006), deve-se fazer referência ao tipo de rede que está sendo tratada: se técnica, rede de
matemática como, p.ex., teoria dos grafos, ou de engenharia como, p.ex., rede de comunicações, ou se é
social, como uma estrutura interativa entre atores motivados por razões diversas, ou, ainda, rede de ciência,
tecnologia e inovação (CT&I) baseada na cooperação entre organizações para trazer novas tecnologias ao
mercado e acelerar a sua difusão. Nesse último enfoque, Strick e Cardoso (2006) destacam a rede como um
fator de aceleração da disseminação dos resultados de projetos e de facilitação das transformações que os
resultados produzidos provocam ou estimulam na comunidade ou na sociedade de uma maneira geral,
fenômeno também conhecido por sustentabilidade. Plonski (2006), em sua apresentação, deixa implícita a
pergunta: “Quais os mecanismos de colaboração que levam o trabalho em rede ser mais eficiente em
provocar mudanças culturais e estruturais e a lançar inovações tecnológicas?”.
Como foi abordado, a rede de software público trata tanto de aspectos sociais, pela abertura de
oportunidade que proporciona aos seus participantes, quanto pelos aspectos técnicos a medida que coloca a
disposição soluções e conhecimentos através dos artefatos. Tudo isso suportado por ferramentas de trabalho
cooperativo. Mais, o próprio ambiente da rede proporciona os meios ágeis de disseminação do conteúdo.
Assim, emergem algumas questões: Como aumentar a efetividade das diversas modalidades de colaboração,
compartilhamento de conhecimento e de trabalho que a Internet oferece com o objetivo de convergir os
resultados para proporcionar riqueza social? Como trabalhar em conjunto com o setor público para
redesenhar as práticas de governo que explorem todo o potencial da Web? Como capacitar o setor público a
adquirir novas habilidades de colaboração e gerenciamento horizontais, competências bem distintas das
tradicionais (altamente verticalizadas)? Como fazer para reunir servidores e pesquisadores de diferentes
organizações na montagem de equipes colaborativas e personalizadas conforme as demandas de governo?
Como conseqüência do enorme potencial de resultados, é o fato de governos, em seus diferentes níveis e
poderes, trabalharem juntos e explorarem intensivamente a Internet, o que emerge pelo menos mais duas
questões: Como fazer que o uso da Web pelo governo preserve os valores sociais básicos como
confiabilidade, privacidade, segurança, respeito, direitos do cidadão? Como fazer que esse uso seja orientado
para inclusão social?
Por outro lado, Berners-Lee et al (2007) em seu artigo afirmam que a nova ciência da Web deve ser
inerentemente multidisciplinar. Os autores destacam o papel que as ciências da computação e da informação
têm hoje na representação e análise da informação e, alertam sobre a necessidade de maior atenção aos
relacionamentos sociais e legais por trás dessa informação. A transparência e o controle sobre estes
relacionamentos sociais e legais complexos são vitais, mas requerem um conjunto muito bem definido de
modelos e ferramentas para que possam representar esses relacionamentos. Mais do que apenas modelar a
Web atual, mais do que projetar novos protocolos de infra-estrutura, é preciso entender como a sociedade em
rede utiliza esses protocolos. Como evitar gargalhos técnicos e sociais nas redes? Como dar abertura para o
reuso das informações (e artefatos) de modo não esperado (ou espontâneo)? Como garantir reais benefícios à
sociedade? Surgem ainda mais desafios: Como consultar a rede de forma eficaz os clusters ilimitados e
interligados? Como alinhar e mapear os diferentes tipos de relacionamentos? Como visualizar, modelar e
navegar pelo imenso e complexo grafo de clusters resultante? Como controlar o acesso aos clusters
conciliando proteção intelectual, preservando direitos à propriedade intelectual com o espírito de liberdade,
compartilhamento e abertura para o uso dos diferentes mecanismos de colaboração da rede? Friedman
(2005), por sua vez, enfatizando os aspectos sociais da colaboração, pergunta: “O que motiva as pessoas a
trabalharem colaborativamente e, ao mesmo tempo, serem produtivas?”.
Por fim, a proposta deste trabalho em si é desafiadora e representa uma resposta provisória ao
desenvolvimento de software público. Portanto, necessita ser debatida em diversos fóruns dada a sua
característica ímpar de necessitar da formação de estruturas pouco convencionais tipo rede social e
institucional. Abre-se então, dimensões diversas para novos estudos que promovam o acolhimento de uma
tecnologia genuinamente brasileira que busque integrar demandas para artefatos que dependerão de
relacionamentos a serem configurados dinamicamente atendendo o interesse social de trabalhadores do
conhecimento, que coerentemente articulados podem sustentar um desempenho competitivo diferenciado
capaz de construir barreiras de entrada a concorrentes ávidos por mercados desarticulados.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem os pesquisadores e colegas Corinto Meffe e Lídia Miranda da Secretaria de Logística e
Tecnologia da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), Romildo
Monte, Marcos Rodrigues, Rodrigo Bonacin, Regina Thiene, Ângela Alves, Clenio Salviano, Miguel
Argollo, Adalberto Crespo do CenPRA, Júlio C. Hora do Centro de Tecnologia da Informação e
Comunicação do Estado do Rio de Janeiro, PRODERJ, e ABEP, pelas valiosas discussões principalmente no
que se refere ao conceito de software público.
Os autores agradecem também os comentários e sugestões dos revisores. Uma das sugestões
“formalização matemática da rede, em termos da teoria de grafos ...” é considerada pertinente e muito
importante para trabalhos posteriores. Neste trabalho, o objetivo principal é discutir e aprofundar o conceito
de rede e suas interrelações. A medição e a avaliação de propriedades da rede, assim como a identificação de
nós focais (ou aqueles de maior influência na rede) será objeto de estudo porterior.
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(General Public License), o que permite que outros municípios e prestadores de serviço de executarem, copiarem,
distribuírem, estudarem, modificarem e aperfeiçoarem cada artefato disponível pelo i-SPB. Capturado em abril de
http://i-spb.itajai.sc.gov.br .
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University Press, MA.
METODOLOGIA PARA DESENVOLVIMENTO DE PORTAIS
DE RELACIONAMENTO: UMA PROPOSTA DE SUPORTE À
COMUNIDADES DE PRÁTICA

Donária Coelho Duarte


Faculdade UNIRG
donaria@hotmail.com

Aline França de Abreu


UFSC
aline@deps.ufsc.br

RESUMO
Este trabalho tem como foco a proposta de uma metodologia para desenvolvimento de portais de relacionamento de suporte a
comunidades de prática. Verificou-se na literatura a inexistência de tal metodologia. Desta forma, este artigo tem o intuito de
apresentar as etapas consideradas necessárias para o desenvolvimento de um portal que dê suporte futuro a uma comunidade
de prática, definindo-se, inclusive, os níveis de interação dos usuários. Tal metodologia se faz necessária, na medida em que
visa auxiliar aqueles que tenham interesse na temática, onde a preocupação é desenvolver um ambiente virtual não meramente
institucional ou comercial, mas de suporte ao surgimento de uma comunidade.

PALAVRAS-CHAVE
Portal de relacionamento. Comunidades de prática. Metodologia.

1. INTRODUÇÃO
No cenário atual, constata-se que um dos exemplos de destaque decorrente do desenvolvimento tecnológico é a
Internet, que tem possibilitado o intercâmbio de informações entre empresas, e entre essas com seus clientes de
forma instantânea, o que tem permitido a agilização de processos e a redução de custos. Todavia, constata-se que
a rede pode também ser usada com o objetivo de comunicação entre as pessoas, de troca de informações e
conhecimento, independentemente da localização física das mesmas.
Neste sentido, Arce e Pérez (2001) consideram que, se a essência do trabalho da Sociedade da Informação é
buscar, filtrar e analisar informações para gerar novo conhecimento útil ao usuário, cliente ou consumidor, a
Internet possui ferramentas cada vez mais sofisticadas que se constituem, basicamente, de ferramentas de criação
de comunidades em torno de interesses, projetos ou objetivos comuns e cujos resultados se expressam na forma
de representações do conhecimento na forma multimídia.
O surgimento de comunidades virtuais em torno de uma temática específica recebe o nome de comunidade de
prática, na medida em que são construídas e mantidas tendo como base o relacionamento, a discussão e o debate
de um tema específico.
Desta forma, este trabalho tem como objetivo propor uma metodologia para o desenvolvimento de portais de
relacionamento como suporte a uma comunidade de prática. Verifica-se na literatura a carência de uma
metodologia que tenha este intuito, sendo este trabalho uma contribuição ao tema.
Sob esta ótica, tendo-se em vista as considerações supra citadas, constata-se como o principal problema de
pesquisa do presente trabalho, o seguinte:
Como criar uma metodologia de desenvolvimento de portais de relacionamento para suporte ao
surgimento de uma comunidade de prática?
Respondendo estas perguntas de pesquisa, espera-se que este trabalho possibilite a elaboração de uma
ferramenta que auxilie no desenvolvimento de portais em torno de uma temática específica, dando respaldo ao
surgimento de uma comunidade de interesse.
2. COMUNIDADES DE PRÁTICA
O termo “comunidades de prática” foi cunhado originalmente por Etienne Wenger (1991), que o define como um
grupo de pessoas que compartilham um interesse, por exemplo, um problema que enfrentam regularmente no
trabalho ou nas suas vidas, e que se reúnem para desenvolver conhecimento visando criar uma prática em torno
desse tópico.
Neste sentido, Wenger (1998) considera que a prática serve para trazer coerência na comunidade como
também é através desta prática que os membros na comunidade formam relacionamentos com os outros e com o
trabalho deles. A coerência é alcançada através do engajamento mútuo e de um repertório compartilhado.
Para Johnson (2001), as comunidades de prática compreendem acordos sociais no qual indivíduos aprendem
participando de atividades. Inclui tanto membros experientes quanto novatos. Para o autor, as comunidades de
prática existem para promover o aprendizado via comunicação entre seus membros e sua principal função é
ajudar a criar discussão num ambiente de segurança e confiança.
Em relação ao grau de participação de seus membros, Johnson (2001) coloca que as comunidades de prática
possuem alguns componentes que a distinguem das organizações tradicionais e situações de aprendizado: (1)
diferentes níveis de perícia, incluindo tanto membros experientes quanto novatos, que estão simultaneamente
presentes na comunidade de prática; (2) fluido periférico se movendo para o centro que simboliza a progressão
de um principiante para um expert; e (3) tarefas e comunicação completamente autênticas.
Oliveira (2003) entende que, em conseqüência, pode-se dizer que existam quatro categorias principais para as
formas de participação numa comunidade de prática: a participação total (interna); não-participação total
(externa); periferalidade (participação habilitada pela não-participação, levando à participação total ou
permanecendo em uma trajetória periférica); e marginalidade (participação restrita pela não-participação,
levando à não-associação ou a uma posição marginal). Os níveis de colaboração de uma comunidade desta
natureza podem ser visualizados através do quadro a seguir (WENGER, 1998):

Quadro 1. Níveis de Relacionamento de uma Comunidade de Prática.


Variáveis Nível de Relacionamento dos Membros de Forma de Avaliação
uma Comunidade de Prática
(WENGER, 1998)
Grupo Nuclear Núcleo do Portal Relacionar os componentes do círculo
central do portal e suas inter-relações.
Adesão Completa Nível 1 Relacionar os membros que serão
reconhecidos como praticantes e definirão a
comunidade.
Participação Periférica Nível 2 Relacionar as pessoas que pertencerão à
comunidade mas com menos engajamento e
autoridade, talvez pelo fato de serem novatos
ou por não terem muito compromisso pessoal
com a prática.
Participação Transacional Nível 3 Relacionar as pessoas de fora da comunidade
que ocasionalmente irão interagir com a
mesma para receber ou prover um serviço
sem tornar-se efetivamente um membro.
Acesso Passivo Nível 4 Relacionar o grande número de pessoas que
terão acesso ao que será produzido pela
comunidade, como seu website e suas
ferramentas.
Fonte: Wenger (1998).
Conforme a análise feita por Johnson (2001), percebe-se que o aprendizado que envolve estas comunidades é
colaborativo, no qual o conhecimento da comunidade é maior do que algum conhecimento individual. Seguindo
esta mesma linha, Wasko e Faraj (2000) consideram que, para serem bem sucedidas, os membros das
comunidades de prática devem atuar em benefício da comunidade ao invés do seu próprio interesse, o qual, na
visão dos autores, denigre o valor da comunidade.
Ainda analisando a contribuição da tecnologia de informação, Kim (2001) observa que o propósito de uma
comunidade de prática é compartilhar conhecimento entre um grupo de praticantes e, por isso, as comunidades
de prática eficazes estão estruturadas em torno de atividades de compartilhamento de conhecimento,
brainstorming, relacionamento e troca de material de leitura. Assim, estas constratam com outras comunidades
como as que estão estruturadas para dar apoio, trocar objetos de coleção ou criticar produtos.
Entende-se que uma comunidade de prática se caracteriza pela participação/contribuição de seus membros.
Verifica-se que tal característica assemelha-se ao processo de fidelização, levando em consideração a
identificação e participação ativa dos seus membros com o tema/foco da comunidade. Assim, percebe-se a
semelhança das escalas de lealdade com os níveis de relacionamento e participação de uma comunidade de
prática, definida por Wenger (1998). Desta forma, tanto os estágios de lealdade quanto os níveis de participação
podem também ser visualizados num ambiente virtual, seja por meio do número de acessos ao site, do número de
contribuições, da troca de mensagens, de aprimoramento, etc.
Tal semelhança pode ser visualizada através do quadro a seguir.
Quadro 2. Comparativo Níveis de Participação X Escala de Lealdade.

Níveis de Participação Escala de Lealdade


(Wenger, 1988) Peck et al (1999); Raphel (1999); Stone e Woodcock (1998)
Grupo Nuclear Cliente divulgador/parceiro

Adesão Completa Cliente assíduo

Participação Periférica Cliente Apoiador

Participação Transacional Cliente eventual

Acesso Passivo Cliente potencial

No caso específico das comunidades de prática, o estudo da escala da lealdade torna-se relevante, na medida
em que o sucesso das mesmas se dá pela contribuição de seus membros em torno de uma temática. Sob esta ótica,
a possibilidade de cadastro das empresas/instituições interessadas na temática escolhida, a promoção de
ferramentas que facilitem a interação e participação dos seus membros podem auxiliar na fidelidade ao ambiente
proposto.
Por meio desta abordagem teórica sobre comunidades de prática pôde-se conhecer as suas peculiaridades. A
seguir serão discutidas as metodologias para o desenvolvimento de portais.

3. METODOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE PORTAIS


Levando em consideração que este trabalho tem como objetivo propor uma metodologia para o desenvolvimento
de portais de relacionamento, faz-se necessário abordar o conceito de portal e posteriormente as metodologias
existentes para o seu desenvolvimento.
Angulo e Albertin (2000) definem portal para a internet como um website muito visitado que, além de ser a
porta de entrada para a internet, oferece diversos serviços nas categorias de conteúdo, comunicação,
comunidade, comércio eletrônico e provedor de acesso, com a finalidade de atender ao maior grau possível as
necessidades de seus usuários.
Para Arce e Pérez (2001), os portais são uma forma de capturar clientes cujo objetivo é conseguir que sua
página gere lealdade entre seus usuários, maximizando o tempo de permanência em suas páginas, antes de ir para
algum outro destino na rede, assegurando que volte a visitá-la de maneira sucessiva.
Conforme Garcia, Cortés e Lucena (2001), os portais e seus serviços são compostos por três interesses
diferentes: conteúdo, estrutura e apresentação. Conteúdo é a própria informação que está sendo provida por meio
do serviço; a estrutura define a forma em que esta informação está sendo organizada; e a apresentação está
relacionada com os detalhes de exposição (por ex., olhar e perceber) desta informação.
Todavia, tem-se que o que difere as comunidades de prática dos portais, é o componente afetivo e o tempo de
interatividade entre os membros que as compõem, requisitos necessários para que exista tal comunidade (ARCE;
PÉREZ, 2001).
Desta forma, pode-se definir um portal de relacionamento como um ambiente virtual que suporta e
promove, devido aos seus recursos de comunicação síncrona e assíncrona, a criação e a manutenção de
relacionamentos entre os seus usuários. Esses relacionamentos podem se tornar duradouros e podem dar
subsídio ao surgimento de uma comunidade em torno de uma temática específica, caso o portal tenha
algum enfoque determinado. Vê-se que esta é uma das contribuições deste estudo, na medida em que se
percebe a necessidade de conceituar o que seria um portal que visasse o relacionamento entre os seus usuários,
algo ainda não versado na literatura. Relacionamento esse que se revela como foco de portais que tenham
interesse no estreitamento das relações sociais.
Em relação as metodologias para o desenvolvimento de portais, Adams (2005) considera que os portais
baseados na web estão mudando o meio pelo qual os usuários têm acesso a informação. Para o autor, o
crescimento de sites sobre informação e notícias tem oferecido aos portais um poderoso meio para conectar
usuários, apresentando um conteúdo personalizado. Essa personalização na comunicação aparece de diversas
formas como por e-mail, listas de discussão, entre outros (TELANG; MUKHOPADHYAY, 2005).
Nesta linha, Silveira (2001) destaca a necessidade de se desenvolver um modelo mais cooperativo e menos
corporativo que facilite a recuperação de informações. O autor considera a necessidade, especialmente das
instituições públicas de adotarem, ao invés de portais corporativos, que apresentam uma administração
individualizada na qual cabe ao usuário a tarefa de reunir e tentar padronizar o conjunto de informações
coletadas, para portais cooperativos, que apresentem um conteúdo bem relacionado, uma arquitetura funcional e
um design atraente, que ofereça uma navegação objetiva.
Complementando, Dias (2001) observa que a capacidade de acesso às informações da web está
intrinsecamente relacionada à facilidade de uso, aprendizado e satisfação do usuário com sua interface. Desta
forma, parece fundamental para o alcance desse objetivo, que o projeto de um portal leve em conta a interação
dos usuários com sua interface, minimizando seus problemas de usabilidade.
Em termos operacionais, Li et al (2005) consideram que as etapas principais para a construção de um ambiente
colaborativo envolvem:
- a análise de requerimento funcional, ou seja, a que o portal se direciona;
- o design da arquitetura do sistema;
- a seleção de um software universal, tal como um servidor web, aplicação do servidor, ERP, PDM;
- o desenvolvimento de todos os programas de aplicação e interfaces com o cliente;
- teste do sistema, que poderão apontar ajustes; e
- a implementação do sistema.
Em linhas gerais, Telang e Mukhopadhyay (2005) classificam os serviços providos pelos portais em três
categorias: serviços de pesquisa, serviços de informações e serviços pessoais. Para os autores, essas três
diferentes funções afetam o uso do portal em diferentes formas. Enquanto o uso de serviços de pesquisa reduzem
o tempo gasto pelos usuários no portal, serviços de pesquisa são a chave que direciona o tráfego do portal. Dos
três serviços, os serviços pessoais apresentam maior estabilidade. Por outro lado, o uso de serviços de
informação apresenta a menor estabilidade. As características demográficas assumem papel semelhante no
portal, pois usuários com renda alta tende a ser mais leais, gastar menos tempo na visita e o uso da função
pesquisa é mais estável, homens tendem a usar mais serviços do que as mulheres. Por fim, diferenças raciais
também ocorrem no uso do portal, pois usuários brancos tendem a ser mais leais, tendem a usar a informação
com menos funções de pesquisa. Todavia, os autores enfatizam que as características demográficas tem pouco
impacto na freqüência no uso de serviços pessoais (TELANG; MUKHOPADHYAY, 2005). Verifica-se que a
atenção a tais fatores se mostra necessária para o desenvolvimento de um ambiente de acordo com as
necessidades dos potenciais usuários.
Telang e Mukhopadhyay (2005) acreditam ainda que o sucesso de um portal requer como base a lealdade dos
usuários que repetidamente voltam ao mesmo portal numa base de freqüência que estende o período de uso.
Desta forma, os autores utilizam três parâmetros para o uso dos portais:
- uso repetido: que não apenas reduzem os custos de marketing para aquisição de novos usuários, mas
também capacitam a empresa a entender o seu comportamento e mudar a sua oferta, descobrindo novos serviços
e oportunidades;
- permanência: operadoras de portais não se mostram satisfeitas apenas com a freqüência na visita dos
usuários, mas também querem que os usuários gastem mais tempo na visita ao portal;
- freqüência de uso: usuários devem retornar ao portal freqüentemente para aumentar a viabilidade do
modelo de negócio do portal.
Visando sintetizar a abordagem apresentada pelos autores, os mesmos apresentam um modelo de escolha de
portais que pode ser visualizado na figura a seguir.
Figura 1: Um modelo para escolha de portal.

Variáveis independentes Variáveis controláveis Variáveis dependentes


Intercepção do portal
Escolha do portal:
. agregada
Demográfico . nível de tarefa

Repetição de uso
Aderência do
portal:
. agregada
Adição de banners . nível de tarefa

Insatisfação Freqüência:
. agregada
. nível de tarefa
Retrocesso e avanço

Fonte: Telang e Mukhopadhyay (2005).


Os autores enfatizam que o modelo proposto por eles é uma tentativa de explorar como os usuários da internet
escolhem os portais, sendo que a contribuição chave deste estudo é o presente modelo que possui três
parâmetros: a repetição de uso, a aderência e freqüência.
Entretanto, para Garcia, Cortés e Lucena (2001), os portais eletrônicos atuais tem sido desenhados usualmente
de maneira ad hoc, sem uma aplicação apropriada de métodos e ferramentas que combinem esforços de grupos
de desenvolvimento diversos.
Nesta linha, a descrição de uma metodologia que enfatize as etapas para o desenvolvimento de um portal de
relacionamento, foco deste estudo, faz-se necessária. Uma metodologia que promova ferramentas que visem a
interação e relacionamento entre os seus usuários, não priorizando apenas o caráter institucional e de divulgação.
Constata-se na literatura que, embora haja estudos referentes ao perfil de usuários de portais, sobre o tipo de
interesse de acesso dos mesmos, entre outros, há uma carência de uma metodologia que descreva as etapas
necessárias para o desenvolvimento de um portal que prime pelo relacionamento entre os seus usuários. Tal
assunto será discutido a seguir.

4. ETAPAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM PORTAL DE


RELACIONAMENTO
Entende-se que o desenvolvimento de um portal de relacionamento de suporte a uma comunidade de prática
pressupõe a realização de algumas etapas necessárias para a sua implementação. Assim, a metodologia proposta
apresentada a seguir objetiva elencar as etapas para a elaboração de um portal, visando diminuir os riscos da
futura implementação de um projeto, de tal forma que se alcance os objetivos propostos inicialmente.
Na medida em que um portal de relacionamento de suporte a uma comunidade de prática está direcionado,
pela sua natureza, a um público-alvo específico e em torno de uma temática definida, faz-se necessário definir,
primeiramente, o público a quem o portal se destina, ou seja, a quem o mesmo será direcionado e a escolha da
temática que o mesmo promoverá, haja vista que a comunidade que poderá surgir deverá se concentrar no tema-
foco escolhido. Feito isto, faz-se igualmente necessário um estudo sobre os portais e as comunidades de prática
existentes, visando tanto conhecer os serviços oferecidos como as suas formas de interação, além de auxiliar na
definição do diferencial para o portal proposto.
Tal estudo também poderá dar subsídio a etapa seguinte que consiste no delineamento do ambiente proposto,
contemplando os quadrantes que o portal comportará. Na medida em que o portal dará suporte a uma
comunidade, a etapa seguinte diz respeito a definição dos níveis de relacionamento dos membros desta
comunidade, definindo-se como se caracterizará cada nível e como ocorrerá a mudança entre tais níveis.
Entendendo-se que o sucesso do portal proposto se dará pelo interesse de seus membros em interagir, trocar
informações, conhecimento e se relacionarem, faz-se necessário conhecer as suas necessidades. Desta forma,
outro aspecto relevante diz respeito ao levantamento das necessidades de informações junto ao público ao qual
se destina o portal proposto. Nesta fase faz-se necessário conhecer quais as necessidades do público do portal,
quais serviços os mesmos desejam e de que forma querem interagir e se relacionar.
Tendo como base todas as etapas anteriores e a pesquisa de campo com o público-alvo, será possível definir,
então, os links do portal proposto e a modelagem conceitual do mesmo, ou seja, definindo-se todo o seu layout,
todas as ferramentas de divulgação e formas de interação que o mesmo comportará.
Tais etapas consideradas necessárias para o desenvolvimento de um portal de relacionamento serão abordadas
de forma mais detalhada a seguir.
a) Definição do público-alvo
A primeira etapa para a elaboração de um ambiente virtual de relacionamento diz respeito a definição do
público-alvo, ou seja, a quem se destina os serviços/produtos, informações, relacionamentos, etc. que serão
oferecidos por meio do portal. Deve-se escolher o público-alvo e justificar a escolha.
b) Definição da área temática do portal
Tendo sido definido o público-alvo ao qual se destina tudo o que será produzido pelo portal, a etapa seguinte
refere-se a definição da área temática, ou seja, qual o foco ou tema do portal que se pretende desenvolver. Haja
vista que o portal destina-se a ser uma ferramenta para o surgimento de uma comunidade de prática, faz-se
necessário definir, então, qual a prática/foco que o ambiente deverá promover e justificar a sua escolha.
c) Análise dos portais e das comunidades de prática existentes
Já escolhidos o público-alvo e a área temática, esta etapa visa realizar uma pesquisa exploratória sobre os
portais existentes, verificando quais serviços os mesmos estão oferecendo ao segmento e ao foco/tema
escolhidos. Nesta etapa faz-se necessária uma análise crítica dos serviços oferecidos, o que dará subsídio para a
definição da etapa posterior, ou seja, a definição do diferencial do portal e o delineamento do seu ambiente
virtual.
Cabe enfatizar que, na análise dos portais existentes, as ferramentas encontradas poderão ser divididas, quanto
a sua finalidade, em ferramentas de interação, que buscam criar um canal de comunicação com o usuário; e
ferramentas de divulgação de serviços, tendo uma finalidade promocional. A pesquisa sobre os portais existentes
poderá ser realizada por meio do quadro a seguir:
Quadro 3. Identificação de ferramentas dos portais eletrônicos.
Sites Finalidade Ferramentas
Interação com o internauta

Divulgação do serviço

Observando o quadro anterior, nota-se que a divisão em ferramentas de interação e de serviço visa identificar
se e até que ponto os portais estudados permitem e/ou facilitam o relacionamento com o internauta.
Um outro estudo, igualmente relevante, diz respeito a investigação das ferramentas utilizadas pelas
comunidades de prática existentes.
Assim, deve ser realizada uma pesquisa exploratória, por meio de palavras-chave em sites de busca e/ou
contato com pessoas que já pertencem ou pertenceram a alguma comunidade de prática, buscando identificar o
seu endereço eletrônico. O resultado de tal pesquisa pode resultar no quadro a seguir que apresenta o nome da
comunidade, sua finalidade, seu endereço eletrônico, a classificação das ferramentas (objetivo) e a identificação
das mesmas. Observa-se que, como esta pesquisa almeja estudar quais ferramentas estão sendo utilizadas por
comunidades que tem como foco uma temática específica, as mesmas poderão ser classificadas, na medida do
possível, conforme sua finalidade em: conteúdo, relacionamento, aprendizagem e serviços. Esta classificação é
opcional e tem a finalidade de tornar mais clara o objetivo das ferramentas nos ambientes virtuais já existentes.
Quadro 4. Identificação de Ferramentas das Comunidades de Prática.

COMUNIDADE FINALIDADE ENDEREÇO CLASSIFICAÇÃO FERRAMENTAS


ELETRÔNICO
Conteúdo

Relacionamento

Aprendizado

Serviços

Depois de investigado os portais e as comunidades de prática existentes sobre a temática escolhida, a etapa
seguinte refere-se ao diferencial do portal proposto.
d) Definição do ambiente do portal e o seu diferencial
Tendo como base a análise dos ambientes virtuais existentes, deve-se neste momento especificar no que e
como o portal a ser desenvolvido se diferenciará dos demais e qual ambiente/quadrantes, em linhas gerais, o
mesmo irá comportar. Neste sentido, entende-se que um portal que tenha como foco o relacionamento e o
surgimento de uma comunidade deverá contemplar os quadrantes: relacionamento, quadrante necessário para o
estabelecimento de vínculos sociais; e aprendizagem, esta resultante da troca de conhecimento entre seus
membros caracterizando a prática na temática do portal. Tal comunidade se desenvolverá em torno de um foco
específico, fazendo-se necessário também o quadrante conteúdo. Em linhas gerais, percebe-se que um portal
voltado ao relacionamento deverá suportar os seguintes ambientes:
- conteúdo: informações gerais sobre o tema/foco do portal, artigos da área, entretenimento, fotos, etc.;
- relacionamento: tal ambiente visará o estreitamento das relações sociais, ou seja, a possibilidade de
criar vínculos sociais com outras pessoas e/ou organizações. Desta forma, faz-se necessário definir e promover
as ferramentas que permitirão tal interação, instigando os membros da comunidade a participar, fortalecendo a
comunidade;
- aprendizado: tendo em vista que o portal tem como finalidade a criação de uma comunidade de prática
que se caracteriza como uma comunidade que possui um foco temático e que, em torno do mesmo, realizam uma
prática, esta se dá, também, por meio de um processo de aprendizagem entre os seus membros, ou seja, da troca
de informações e de conhecimento. Assim, neste quadrante é necessário identificar como se dará tal
aprendizagem e quais ferramentas facilitarão este processo;
- serviços: este quadrante permite, além da divulgação e promoção dos serviços oferecidos pelas
empresas que fazem parte do portal, a possibilidade de um canal de comunicação com o seu público-alvo, na
medida em que essas organizações também farão parte da comunidade de prática que será formada.
Os quadrantes explicitados anteriormente podem ser melhor visualizados por meio da figura a seguir:
Figura 2. Ambientes de um portal de relacionamento.

CONTEÚDO RELACIONAMENTO

APRENDIZADO SERVIÇOS
Percebe-se que, embora o portal tenha como foco o relacionamento e o processo de aprendizagem, entende-se
que, dependendo da temática escolhida, o mesmo poderá contemplar ou não o quadrante serviços que,
dependendo do foco escolhido, poderá tanto fortalecer a área temática do portal quanto tornar tal ambiente o
mais completo possível no tocante às necessidades do seu público-alvo. Constata-se, portanto, que o quadrante
serviços é opcional para um portal de relacionamento.
e) Definição dos níveis de relacionamento da comunidade de prática do portal
Levando em conta que o portal a ser desenvolvido contemplará e visará promover o surgimento de uma
comunidade de prática na temática já definida na 2a. etapa do seu delineamento, faz-se necessário, neste
momento, delimitar quais níveis de relacionamento tal comunidade irá contemplar, o que caracteriza
determinado nível e qual o procedimento para a mudança de nível, ou seja, o que caracteriza a mudança de
determinado nível para outro.

Quadro 5. Níveis de Relacionamento de um Portal de suporte a uma Comunidade de Prática.


Variáveis Nível de Relacionamento Forma de Avaliação
dos Membros do Portal
Grupo Nuclear Núcleo do Portal Composto pelo público envolvido diretamente com a temática do
portal, sendo praticantes assíduos da temática/foco estabelecida pelo
mesmo. Este nível é avaliado pelo grau de enquadramento do
público-alvo na temática escolhida.
Adesão Completa Nível 1 Neste nível apresentam-se os membros que praticam a temática
escolhida todavia com menor assiduidade. Enquadram-se também
empresas que possuem produtos/serviços para o público do portal.
Uma forma de avaliação para a definição dos membros deste nível
pode ser por meio da freqüência de uso na temática escolhida e, por
parte das empresas, o seu grau de adequação/foco na temática do
portal.
Participação Nível 2 Neste nível de relacionamento encontram-se pessoas ou organizações
Periférica que pertencem a comunidade, mas com menos engajamento e
autoridade. Enquadram-se pessoas e/ou organizações que podem não
realizar a prática definida pelo portal, não estando relacionadas
diretamente com a sua temática, mas que tem interesse de estabelecer
vínculos com os seus membros. Enquadram-se também empresas que
não possuem como foco específico o público-alvo definido pelo portal
mas tem interesse de conhecer as necessidades de tal segmento,
visando atendê-los posteriormente, e fazer parte desta comunidade.
Participação Nível 3 Neste nível de relacionamento serão incluídas pessoas e organizações
Transacional que ocasionalmente interagem com a comunidade sem tornar-se
efetivamente membro. Encontram-se empresas que não possuem foco
na temática escolhida mas que interagirão com a comunidade caso
haja demanda eventual por algum serviço/produto enquadrado na
temática do portal.
Acesso Passivo Nível 4 Caracterizado pelo acesso passivo, que inclui o grande número de
pessoas e organizações que terão acesso ao que será produzido pela
comunidade como o conteúdo e serviços fornecidos pelo portal, suas
formas de participação (salvo áreas de acesso restrito), etc.
Fonte: Adaptado de Wenger (1998).

Tendo em vista que o nível 4 se caracteriza pelo acesso passivo aos serviços fornecidos pelo portal, salvo área
de acesso restrito, se houver, o que caracterizará a mudança do nível 4 para o 3 é o interesse ou curiosidade na
temática do portal, buscando mais informações sobre o seu foco. No caso das empresas, tal mudança se dará por
uma demanda eventual de algum produto/serviço relacionado a temática do mesmo. Já a mudança do nível 3
para o 2 se dará pelo interesse, por parte das empresas em geral, na temática escolhida, ou seja, num interesse
futuro de atender este público, ou de pessoas que, embora não se enquadrem, especificamente, na temática do
portal tenham interesse de conhecer e interagir com a comunidade. Desta forma, a mudança do nível 2 para o 1
se dá pela pelo atendimento pleno, por parte das empresas, ao segmento definido pelo portal e pela freqüência
com que seus membros realizam a prática definida pelo mesmo. Por fim, a mudança no nível 1 para o nuclear se
dará também pela maior freqüência na temática escolhida.
f) Levantamento das necessidades de informação do público-alvo
Após delineado o ambiente/quadrantes do portal proposto, faz-se necessário conhecer quais as necessidades de
informação o público-alvo necessita e quais ferramentas os mesmos desejam para interagir com o portal. Na
medida em que este dará suporte ao surgimento de uma comunidade de prática, faz-se necessário uma pesquisa
com todos os atores envolvidos que farão parte da temática escolhida.
Desta forma, deve-se elaborar um instrumento de coleta de dados que poderá ser estruturado da seguinte
forma:
- Bloco I – Dados de identificação: buscando obter dados gerais sobre o público-alvo, foco principal do
portal, e os demais atores envolvidos, sejam pessoas, empresas, entidades, etc., caracterizando-os;
- Bloco II – Sobre a temática do portal escolhida: visando conhecer se e como a temática escolhida está
sendo realizada por todos os atores envolvidos que farão parte da pesquisa de campo;
- Bloco III – Sobre a internet e o foco escolhido: haja vista que o portal de relacionamento se sustentará
por meio de uma ferramenta denominada internet, torna-se necessário conhecer se e como as pessoas e/ou
empresas que acessarão o portal e, posteriormente, farão parte da comunidade, utilizam a internet como fonte de
pesquisa tendo em vista o foco/temática escolhida. Tal informação poderá dar subsídio, inclusive, a definição
dos níveis de relacionamento da comunidade;
- Bloco IV – Sobre o Portal (Características do Ambiente – Conteúdo e Serviços): neste momento busca-
se saber quais informações o Portal proposto deverá contemplar, além de seus aspectos transacionais. Como já
mencionado anteriormente, ressalta-se que o quadrante serviços é opcional, dependendo da temática do portal;
- Bloco V – Sobre o Portal (Relacionamento e Aprendizado): neste momento, busca-se conhecer se e
como a internet está sendo utilizada como suporte para algum relacionamento e aprendizado voltado a temática
escolhida. Além disso, visa identificar também as ferramentas nas quais o público entrevistado deseja para
interagir e trocar experiências.
Todavia, cabe enfatizar que a estruturação dos blocos mencionada anteriormente deverá ter como pano de
fundo as variáveis de pesquisa, que podem seguir o modelo apresentado a seguir.
Quadro 6. Variáveis de pesquisa.

FOCO VARIÁVEIS FONTES/AUTORES QUESTOES DO


INSTRUMENTO DE
PESQUISA
Caracterização do Perfil do entrevistado -------------------------
entrevistado
Temática do portal escolhida Conhecer como e em qual Buscar subsídios na literatura
grau a temática escolhida está em função da temática
sendo realizada escolhida
Internet e o foco escolhido Internet como meio de Silveira (2001)
pesquisa Terra e Gordon (2002)
Souza (2000)
Dias (2001)
Características do portal Funcionalidades Dias (2001)
Elementos Eckerson (1999)

Relacionamento Relacionamento através Wenger (1998)


do Portal Wasko e Faraj (2000)
Colaboração na Johnson (2001)
comunidade Hughes et al (2002)
Aprendizagem

Depois de realizada a pesquisa de campo, a etapa seguinte refere-se a definição dos parceiros e dos links do
portal.
g) Definição dos parceiros e links do portal
Tendo como base o levantamento e análise das reais necessidades de informação do público-alvo e dos demais
atores envolvidos com a temática escolhida, pode-se definir quais parceiros, ou seja, entidades, empresas,
agentes financiadores, etc. farão parte do projeto. A definição dos parceiros é necessária pois eles darão
credibilidade ao portal proposto. A pesquisa de campo realizada poderá auxiliar no aprimoramento dos serviços
que serão oferecidos e na definição dos links que tal ambiente promoverá, dependendo do interesse revelado na
mesma. Após definidos tais links e os parceiros, faz-se necessário realizar a modelagem do portal proposto.
h) Modelagem conceitual do portal
Neste momento, tendo como base todas as informações obtidas, será elaborado todo o design do Portal,
definindo-se o seu layout, ferramentas de divulgação, de comunicação e de relacionamento, parceiros, links, etc.
Desta forma, entende-se que um portal que vise o relacionamento e o surgimento de uma comunidade de
prática poderá contemplar, dependendo da temática escolhida, as seguintes ferramentas:
a) Quanto ao conteúdo: informativos, artigos da área, fotos, legislação, agenda/calendário de eventos,
cursos da área, publicações, edições anteriores, entre outros;
b) Quanto ao relacionamento: enquetes, área de acesso restrito, fórum de discussão, e-mail, blogs, chat,
instant messenger, normas de participação, encontros/reuniões virtuais, entre outros;
c) Quanto ao aprendizado: fórum de discussão, encontros/reuniões virtuais, e-mail, blogs, chat, instant
messenger, perguntas freqüentes (FAQ), relato de casos, entre outros;
d) Quanto aos serviços: links relacionados com a temática escolhida, cadastro de usuários, fale conosco
(disponibilizando e-mail para contato), entre outros dependendo do foco escolhido.
O layout de um portal genérico que busque o relacionamento entre os seus usuários pode ser visualizado na
figura a seguir.

Figura 3. Modelagem conceitual de um portal de relacionamento.

Nome do portal

Serviços Chat Blog Links relacionados

Cadastro Divulgação de
serviços das Login
empresas Senha
relacionadas a
Eventos da área
temática

Perguntas freqüentes
Enquetes Boletins de
notícias
Artigos da área

Fórum de discussão
Logotipos dos
parceiros do portal
Normas de participação Críticas ou
sugestões ao
portal
Área de acesso restrito

Cabe enfatizar que dependendo da temática escolhida, algumas ferramentas poderão não ser utilizadas e
incorporadas outras, como no caso do quadrante serviços. Além disso, tem-se que algumas ferramentas permitem
tanto o aprendizado quanto o relacionamento, como, por exemplo, os fóruns de discussão, e-mail, chat, instant
messenger, entre outros, estando presente, portanto, nestes dois quadrantes.
As etapas necessárias para o desenvolvimento de um portal de relacionamento podem ser visualizadas na
figura a seguir.

Figura 4. Etapas para desenvolvimento de portais de relacionamento.

a quem se destina os
Definição do público-alvo produtos/serviços do portal

Definição da área temática do


portal foco/tema do portal

Análise dos portais e das . serviços para ao segmento e foco escolhido


comunidades de prática existentes . ferramentas dos portais
. ferramentas das comunidades

Definição do ambiente do . conteúdo


portal e o seu diferencial . relacionamento
. aprendizado
. serviços

Definição dos níveis de relacionamento da . grupo nuclear


comunidade de prática do portal . adesão completa
. participação periférica
. participação transacional
. acesso passivo

Levantamento das necessidades de . dados de identificação


informação do público-alvo . sobre a temática do portal
. sobre internet e o foco escolhido
. sobre conteúdo e serviços
. sobre relacionamento e aprendizado

Definição dos parceiros e


links do portal escolha de empresas/instituições que
darão credibilidade ao portal

Modelagem conceitual do . layout do portal


portal . ferramentas quanto a conteúdo,
relacionamento, aprendizado e serviços
(opcional)

Após delineada a metodologia para o desenvolvimento de um portal de suporte a uma comunidade de prática, a
seguir apresentam-se as conclusões do estudo.
5. CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo desenvolver uma metodologia para o desenvolvimento de portais de
relacionamento de suporte ao surgimento de comunidades de prática. Entende-se que tal objetivo foi plenamente
alcançado na medida em que permitiu, ao seu término deste estudo, apresentar uma metodologia que
contemplasse todas as etapas consideradas necessárias para a criação de um portal que tenha como intuito o
relacionamento entre os seus usuários.
Neste sentido, para o alcance do objetivo proposto, foi realizada uma revisão de literatura que visou entender
as características das comunidades de prática e as metodologias para o desenvolvimento de portais. Foi discutido
o processo de fidelização, no qual percebeu-se que há semelhanças entre as escalas de lealdade defendidas pelos
teóricos de marketing e os níveis de participação de uma comunidade de prática definida por Wenger (1998).
Feito o levantamento teórico necessário para a construção do arcabouço, a etapa seguinte foi o
desenvolvimento de uma metodologia para o desenvolvimento de portais de relacionamento que possam dar
suporte ao surgimento de comunidades de prática. Foram definidas todas as etapas necessárias para o
desenvolvimento de portais com tal finalidade, inclusive quais os níveis de relacionamento para uma
comunidade, como se estabelece a mudança destes níveis, além de delinear, em linhas gerais quais quadrantes tal
portal deverá suportar tendo em vista a criação futura de uma comunidade de prática. Assim, visualizou-se como
necessários, pelos menos, quatro quadrantes, a saber: conteúdo, relacionamento, aprendizado e serviços, sendo
este último opcional, dependendo da temática escolhida.
Entende-se que tais quadrantes sejam necessários, na medida em que a comunidade a ser constituída precisará
de conteúdo sobre a temática escolhida e dependendo do tema, dos serviços que facilitem a divulgação dos
produtos a serem oferecidos e sua potencial comercialização. Cabe enfatizar, contudo, a relevância dos
quadrantes relacionamento e aprendizado, pois ambos serão o sustentáculo da futura comunidade. O primeiro
visa a interação, o compartilhamento, a troca de informações e experiências, o que tende a ocasionar o
aprendizado entre os seus membros. Percebe-se, assim, que estes dois quadrantes são imprescindíveis para
qualquer portal que tenha a finalidade de criar uma comunidade de prática.
Enfatiza-se, portanto, que o desenvolvimento de uma metodologia para o desenvolvimento de portais de
relacionamento revela-se como outra relevante contribuição do presente trabalho, na medida em que se constatou
na literatura a carência da mesma e verifica-se que tal metodologia poderá auxiliar aqueles interessados em
desenvolver portais que tenham interesse no relacionamento entre os seus usuários.
Ressalta-se ainda a importância e a contribuição da classificação das comunidades de prática definida por
Wenger (1998) para a realização da metodologia proposta no que se refere ao entendimento dos níveis de
relacionamento de tais comunidades.
Em relação as limitações do estudo, constata-se que a metodologia proposta para o desenvolvimento de portais
de relacionamento prima pelo contato, interação e relacionamento entre os seus usuários, não se preocupando
tanto com o caráter institucional e de divulgação de serviços/produtos. Além disso, constata-se que, no que se
refere aos níveis de relacionamento propostos na metodologia, o fato de não se aprofundar em estratégias que
objetivem passar do nível periférico ao nuclear, limitando-se a apenas apresentar as características de tais níveis e
os parâmetros para a mudança dos mesmos.

AGRADECIMENTO

Ao Cnpq pela realização do estudo.

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OS ESFORÇOS GERENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA: ESTUDO SOB A ÉGIDE DE INDICADORES DE
DESENVOLVIMENTO SOCIAL DE SANTA CATARINA

Esperidião Amin Helou Filho (UFSC/EGC) e.amin@uol.com.br


Nilo Otani (UFSC/EGC) ni_otani@yahoo.com.br
Paulo Mauricio Selig (UFSC/EGC) selig@egc.ufsc.br
Ana Maria Bencciveni Franzoni (UFSC/EGC) afranzoni@egc.ufsc.br

RESUMO
A utilização de indicadores sociais tem possibilitado o aumento de padrões de desempenho na Administração Pública
brasileira. São identificados neste trabalho, os aspectos que caracterizam o modelo burocrático de organização e as fases
da administração pública, focalizando os resultados que o País tem logrado nas componentes de seu nível de
desenvolvimento e oferecendo uma visão das desigualdades sociais. Neste contexto, a Lei do Estado de Santa Catarina
n°. 12.120, de 09/01/2002, é identificada, sob o aspecto de sua repercussão, e do conjunto de indicadores que descrevem
a condição catarinense ao exigir continuidade na busca de melhorias objetivamente aferíveis. O objetivo deste artigo é
demonstrar à luz da referida Lei, a utilização de indicadores sociais como elementos que possam contribuir com os
resultados da gestão pública. O delineamento da pesquisa configura-se como estudo exploratório e os procedimentos
sistemáticos preconizam a abordagem qualitativa. Os levantamentos permitem concluir que os conceitos dos indicadores
convergem para consolidar sua condição de referência para os órgãos públicos, sendo que os resultados apurados na
avaliação da situação de Santa Catarina demonstram compatibilidade entre os indicadores apreciados e a situação do
Estado no contexto da Federação.

PALAVRAS-CHAVE
Administração Pública; Indicadores de Desenvolvimento Social; Estado de Santa Catarina.

1. INTRODUÇÃO
Pela busca da melhor prestação de serviço ao cidadão, a Administração Pública tem procurado práticas
que contribuam com a melhoria de formulação e implementação de políticas públicas pelo Estado.
O modelo ideal de Administração Pública inspirou-se nas idéias de Taylor: separação das funções de
gerenciamento e de execução, divisão do trabalho e especialização das funções, padronização das tarefas e
estabelecimento de regras; em Weber: a adoção do princípio hierárquico nas organizações, a lealdade
impessoal aos superiores hierárquicos e a eficiência como resultante da obediência a regras e em Wilson: a
separação entre a “política” responsável pela formulação das políticas públicas e a “administração”
responsável por sua implementação (PACHECO, 2006).
A abordagem gerencial conhecida como “nova administração pública” (PEREIRA, 2005, p.7), parte do
reconhecimento de que os Estados democráticos contemporâneos buscam a formulação e a implementação de
políticas públicas estratégicas para suas respectivas sociedades, tanto na área social quanto na científica e
tecnológica. É necessário, neste sentido, que o Estado utilize práticas gerenciais modernas, sem perder de
vista sua função eminentemente pública. A perspectiva desenvolvida na administração de empresas, “fazer
acontecer” difere de “evitar que aconteça”, é válida para as organizações públicas.
À luz do magistério de Osborne e Gaebler (1998), o setor público se encontra em ritmo de mudança. O
surgimento de uma economia global pós-industrial, baseada no conhecimento, abalou velhas realidades em
todo o mundo, criando oportunidades e problemas. Os governos – grandes e pequenos, federais, estaduais e
locais – começaram a reagir.
O serviço público não pode, neste sentido, ignorar as mudanças contextualizadas do mundo, o que não
significa que a elas se submeta. As mudanças, antes de uma ameaça, devem ser consideradas como
oportunidades de desenvolvimento das organizações.
Para Trosa (2001), as razões ideológicas, às vezes, são alavancas das evoluções. Contudo, mais do que
ideologia, as principais alavancas das evoluções são as transformações profundas na sociedade que
predominam como fatores determinantes das evoluções.
O Estado não pode ficar indiferente à evolução dos usuários, estes não querem apenas serviços mais
corteses, mas, também, serviços adaptados a seus problemas. O Estado não pode ficar indiferente a seus
servidores, para os quais a ausência de capacidade de iniciativa e a lentidão dos circuitos hierárquicos e de
gestão tornam-se cada vez mais difíceis de serem toleradas. O Estado, em todos os países, é pressionado pela
opinião pública a prestar contas; não as contas tradicionais, mas, sim, conta dos serviços prestados aos
cidadãos (TROSA, 2001).
A utilização de indicadores tem se constituído uma ferramenta legitimadora para a determinação da
agenda pública para o desenvolvimento social. À medida que seus sistemas forem reconhecidos e aceitos,
podem se tornar elementos fundamentais dessa agenda, iniciando um processo de mudanças na gestão
pública.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O delineamento da pesquisa caracterizou-se como estudo exploratório, utilizando-se a ferramenta de
análise de conteúdo a pesquisa bibliográfica foi fundamentada em fontes secundárias para a formação do
referencial teórico. A pesquisa documental foi baseada na Lei n°. 12.120, de 09/01/2002 do Estado de Santa
Catarina e demais documentos de relatórios governamentais. Quanto aos procedimentos sistemáticos o
estudo se desenvolveu em um ambiente que preconizou a abordagem qualitativa.
Quanto à dimensão temporal, os resultados referem-se aos períodos analisados entre 1998 a 2004, estudos
que venham a ser feitos posteriormente poderão, portanto, permitir diferentes resultados.
Para a organização do conteúdo, fez-se inicialmente, uma incursão teórica nos aspectos que caracterizam
o modelo burocrático de organização, a administração pública, a gestão por resultados, os indicadores de
desempenho e os indicadores de exclusão social no Brasil. Na seqüência, foram abordadas as políticas
públicas preconizadas pela Lei n°. 12.120, os indicadores de desenvolvimento de Santa Catarina e as
conclusões do estudo.

3. MODELO BUROCRÁTICO DE ORGANIZAÇÃO


A Teoria Geral da Administração abrange os conhecimentos descritivos ou prescritivos que se relacionam
com as organizações e o processo administrativo. Os conhecimentos que compõem sua Teoria, de acordo
com Maximiano (2000) agrupam-se em três categorias principais: Enfoques, Escolas e Modelos. Modelo é
um conceito com dois significados: Modelo de Gestão e Modelo de Organização. O Modelo de Gestão é um
conjunto de doutrinas e técnicas do processo administrativo. O Modelo de Organização é um conjunto de
características que definem organizações e a forma como são administradas, é o produto da utilização de
determinadas doutrinas e técnicas.
O modelo burocrático de organização caracteriza-se pela regulamentação e padronização de
procedimentos. De acordo com Ramos (1983), foi Weber quem, pela primeira vez, conferiu à burocracia o
significado de um conjunto de elementos característicos de sistemas sociais relativamente avançados, quanto
ao desenvolvimento capitalista.
Weber (1944) erigiu a burocracia como sendo uma evolução positiva da administração pública. Os seus
atores são regidos por regras, por regimentos e por regulamentos. A documentação, a hierarquia funcional, a
busca da especialização funcional, a profissionalização e a submissão a normas de conduta e de
procedimentos, são avanços apropriados ao estado democrático de direito.

Ao contrário das organizações substantivas, as organizações formais são fundadas em


cálculo e, como tais, constituem sistemas projetados, criados deliberadamente para a
maximização de recursos. Como tópico da teoria padrão de organização, são artefatos
sociais e, nesse sentido, organizações formais de variados objetos têm existido em todas
as sociedades, embora só se tenham transformado em objeto de estudo sistemático num
estágio recente da história (RAMOS, 1989, p.125).

As organizações planejadas e operadas como se fossem máquinas são, portanto, chamadas de burocracia.
Seu surgimento como instituição administrativa representou um progresso, sob o aspecto moral e de gestão
na administração pública.
A administração burocrática clássica, baseada nos princípios da administração do Exército prussiano, foi
implantada nos principais países europeus e nos Estados Unidos, no século XIX. Segundo Pereira (2005), a
administração pública burocrática foi adotada em substituição à administração patrimonialista, que definiu as
monarquias absolutas e na qual o patrimônio público e o privado eram confundidos.
De acordo com Weber (1944), a razão decisiva para o avanço da organização burocrática tem sido sempre
a sua superioridade técnica sobre todas as outras formas de organização. O mecanismo burocrático
totalmente desenvolvido compara-se com outras organizações exatamente como o faz a máquina com os
modos de produção não mecanizados
Neste contexto, pode-se considerar que o advento dos princípios que regem a burocracia significou
avanço sob o aspecto moral, para a administração pública. Substituir ações originadas das práticas
patrimonialistas por regras e regulamentos supra pessoais, escritas, aplicáveis a todos caracterizam uma
respeitável concessão ao estado de direito.

4. O ESTADO BUROCRÁTICO BRASILEIRO E OS ESFORÇOS


GERENCIAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A idéia de uma administração pública gerencial no Brasil começou a ser delineada na primeira reforma
administrativa, nos anos 30, e estava na origem da segunda reforma, ocorrida em 1967. Conforme Pereira
(2005), os princípios da administração burocrática clássica foram introduzidos no país pela criação do
Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP.
O modelo de análise de administração pública supõe que a burocracia pode e deve ser agente de
mudanças sociais. Tal pressuposto, contudo, contrapõe à idéia que fazem da burocracia não só o público
leigo em geral, como também estudioso que atribuem ao processo burocrático, características que o tornam
inapto para realizar atividades inovadoras.
A burocracia é assunto complexo, além do substantivo, seu termo assume caráter poliônimo e
polissêmico. Tem sido focalizada sob variados ângulos, por vários autores. A contextualização deste
trabalho considera duas conotações básicas que o tema suscita: uma positiva; outra negativa. Determinados
autores descreveram os conceitos negativos da burocracia, entre eles, Michels (1949); Mises (1944) e
Selznick (1964).
Para Weber (1944), há que levar em consideração o conceito negativo de burocracia, quando se pretende
conferir-lhe funções modernizantes ou atribuir-lhe atividades inovadoras. Tal conceito não é uma
elaboração cerebrina. Tem fundamentos empíricos.
A burocracia, na opinião de Ramos (1983, p.237), intrinsecamente, “não é nem positiva, nem negativa.
Suas características refletem o meio social geral. Não emanam de uma essência metafísica. Mudam
historicamente”.
A estrutura do Estado Burocrático Brasileiro, teria sido, portanto, crucialmente responsável pela
incapacidade de estabelecer prioridades, agir em decorrência dessa eleição de prioridade, comportar com a
eficiência exigida e, finalmente, produzir as alterações no cenário social brasileiro, de sorte a transformar em
um modelo bem sucedido de desenvolvimento.
Ao estabelecer o primado do formalismo burocrático, parece inequívoco que o governo prioriza o “como
fazer” em relação ao resultado pretendido. Os ganhos em termos éticos não compensam os prejuízos
acumulados relativamente a políticas públicas e seus resultados, especialmente quando os dados sobre a
realidade social brasileira são confrontados com os do mundo.
O próprio enunciado das críticas ao Estado Burocrático estabelece diretrizes para um novo modelo. De
outra parte, os números mais elementares relativos ao cenário social do País há muito demonstram
expressivos fracassos em políticas públicas essenciais. Esta circunstância deve ser levada em consideração
quando se procura a explicação sociológica da hipertrofia dos quadros burocráticos no Brasil e nos outros
países latino-americanos, desde o início de sua formação.

A difusão do “jeito” reflete a vigência de uma estrutura de poder altamente


oligarquizada. A industrialização, acarretando o surgimento de classes sociais
diferenciadas e a exigência de serem adotadas normas universalísticas na elaboração de
decisões governamentais, restringe e tende a anular a eficácia do "jeito". Isto porque a
indústria, necessariamente competitiva, não subsiste sem o predomínio da racionalidade
nas relações sociais. “Por isso, o ‘jeito’ é tanto mais eficaz quanto mais o exercício do
poder público se acha submetido a interesses de famílias ou de clãs, no sentido lato do
termo. Onde domina a política de clã, pode-se sempre dar um ‘jeito’, a despeito da lei ou
contra ela. Obviamente, a prática do ‘jeito’, foi, no Brasil, mais usual ontem do que
hoje” (RAMOS, 1983, p. 289).

A busca de um modelo gerencial capaz de traduzir em resultados positivos a sua eficiência constitui o
atual desafio da administração pública. Este é o sentido da administração gerencial defendida por autores
modernos. A procura do ajustamento da gestão pública a técnicas consideradas vitoriosas pela gestão privada,
isto é, técnicas bem sucedidas no “Mercado”, conduzem os nossos esforços às formas modernas da
administração por resultados.
Pereira (2005) clarifica que a administração pública gerencial emergiu na segunda metade do século
passado como resposta à crise do Estado, como modo de enfrentar a crise fiscal, como estratégia para reduzir
o custo e tornar mais eficiente a administração dos imensos serviços que cabiam ao Estado e como um
instrumento de proteção do patrimônio público contra os interesses do rent-seeking ou da corrupção aberta.
Mais especificamente, desde a década de 1960, cresceu a insatisfação, amplamente disseminada, com relação
à administração pública burocrática. Algumas características básicas definem a administração pública
gerencial. Fundamentalmente, ela é orientada para o cidadão e para a obtenção de resultados.
As tendências favoráveis à gestão pública "testadas no mercado" baseiam-se também na possibilidade de
avaliar o desempenho do aparelho de Estado. Quando se criam incentivos à eficiência, devem criar-se,
também, meios de avaliar diferentes alternativas. Determinado programa funciona bem? Há alternativas
melhores? A resposta a essas questões fundamentais depende basicamente de que se possa aferir resultados
e adotar o critério de avaliação para orientar as decisões de política pública. Os serviços ao consumidor,
sobretudo, dependem de que se possa oferecer informação suficiente para que os cidadãos-consumidores
façam escolhas inteligentes. A avaliação do desempenho, portanto, é a pedra fundamental de muitas
reformas.
Conduzir a mudança da administração burocrática para uma nova gestão pública exige novas
competências dos dirigentes e dos gestores públicos. E antes disso: exige gerentes públicos profissionais. A
gerência no setor público deve aproveitar o que houver de melhor em tecnologia gerencial – desenvolvida no
setor privado – mas é necessário adaptar este conhecimento e tecnologia gerencial para as especificidades do
setor público (ALECIAN; FOUCHER, 2001).
A par da construção de processos de parcerias, expressões próprias de moderna visão de cidadania e
participação social, as modernas técnicas de gestão subordinam resultados tão objetivos quanto possível à
avaliação de seus procedimentos e sucessos. A capacidade de tornarem objetivos e mensuráveis os resultados
de uma gestão fará a administração gerencial mais compreensível e disseminada, especialmente como
método de gerenciamento.

5. INDICADORES DE DESEMPENHO
O termo indicador é originário do latim indicare, que significa descobrir, apontar,
anunciar, estimar. Os indicadores podem comunicar ou informar sobre o progresso em
direção a uma determinada meta, como, por exemplo, o desenvolvimento sustentável, mas
também podem ser entendidos como um recursos que deixa mais perceptível uma
tendência ou fenômeno que não seja imediatamente detectável (HAMMOND et al., 1995,
apud BELLEN, 2005, p.41).
Um exemplo corriqueiro de indicador é aquele que demonstra a velocidade de deslocamento no tempo -
km/h -. No âmbito organizacional, entre os indicadores utilizados poderiam ser citados: indicadores de
quantidade de unidades produzidas pelo número de empregados na produção; indicadores de assiduidade e de
turn over; indicadores de resultados obtidos em um determinado período de tempo.
Na opinião de Andersen (2004), os indicadores permitem um diagnóstico da realidade local e revelam a
grande diversidade existente, mesmo dentro do município e da região. A disparidade na disponibilidade de
recursos financeiros dos governos municipais, por exemplo, implica em distintas capacidades de atendimento
às demandas da sociedade, sendo que esse é um dos fatores que deve ser levado em conta nos estudos de
avaliação de desempenho das administrações.
Neste trabalho, adota-se o conceito de que indicadores são funções que permitem obter dado ou
informação numérica sobre as medidas relacionadas a um sistema, um processo, um produto ou uma
grandeza, sendo utilizados para acompanhar e melhorar os resultados do objeto de estudo ao longo do tempo.
Medir o desempenho organizacional consiste, portanto, na avaliação dos resultados dos processos
desenvolvidos por uma empresa, por meio da utilização de indicadores com objetivos previamente
determinados.
O processo avaliativo no campo da administração empresarial marca sua presença pela avaliação das
características e condições do mercado, situação dos concorrentes, expectativas e anseios dos consumidores,
performance financeira, economia global e gestão de pessoas (OTANI, 2005, p.103-104).
Os indicadores de desempenho fornecem neste sentido, dados ou informações para que a organização
verifique se as melhorias implementadas estão produzindo resultados positivos, identificando como suas
atividades vêm sendo realizadas, se os objetivos vêm sendo atingidos, se os processos estão sob controle e
onde seriam necessárias mudanças. Segundo Osborne e Gaebler (1998, p.159): “se os resultados não forem
avaliados, não há como distinguir sucesso de insucesso”.

Por indicadores de desempenho subentendem-se os índices numéricos estabelecidos sobre


as principais causas que afetam determinado indicador de qualidade. Portanto, os
resultados de um indicador de qualidade são garantidos pelo acompanhamento dos
indicadores de desempenho. Os indicadores de desempenho podem ser chamados de itens
de controle das causas, bem como são estabelecidos sobre os pontos de verificação do
processo (TACHIZAWA; ANDRADE, 2003, p.211).

Os indicadores de desempenho como instrumento de suporte ao processo decisório devem ser de fácil
compreensão. Por exemplo, o indicador de produtividade e qualidade, sem definições detalhadas, pode ter
significado diferente para diferentes funções da organização.
Para Harrington (1995), as organizações devem verificar certos aspectos quanto ao uso de indicador de
desempenho: representar metas atingíveis; ser facilmente mensurados; expressar necessidades do cliente e da
alta-administração; ser de fácil compreensão e alinhamento quanto às metas da organização.
A administração baseada no desempenho, pode, na opinião de Pereira (2005), ajudar as pessoas
envolvidas no processo a pensar mais estrategicamente. Pode ajudar os administradores públicos a se
concentrarem no melhor modo de fazer seu trabalho e de explicarem aos governantes o que estão tentando
fazer para traduzir em resultados os objetivos da legislatura. Pode ajudar os governantes a ponderar os
pedidos que disputam recursos e a alocá-los nos projetos em que podem gerar os melhores resultados. A
administração baseada no desempenho relaciona-se com a comunicação política. Mais: pode-se perceber que,
à medida que são popularizados os resultados expressos por indicadores, mais e mais esforços para aprimorá-
los são desenvolvidos.

6. INDICADORES DE EXCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL


O conceito de desenvolvimento humano parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma
população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas, também, outras características sociais,
culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana.
Os indicadores sociais, também chamados não-financeiros, são instrumentos básicos nas etapas do
processo de formulação e implementação das políticas públicas, sejam programas voltados à educação,
moradia, saúde, emprego, renda, segurança, por exemplo.
Para Januzzi (2001), um indicador social informa sobre um aspecto da realidade social ou sobre
mudanças que estão se processando na mesma, é, portanto, o elo de ligação entre os modelos explicativos da
teoria social e a evidência empírica dos fenômenos sociais observados. Ainda com este autor, os indicadores
sociais utilizados de modo responsável e transparente podem estabelecer parâmetros concretos para discussão
da natureza, conteúdo e prioridades das políticas governamentais, dos programas públicos e dos projetos de
ação social, são, portanto, instrumentos para efetivo empoderamento da sociedade civil, de controle e
direcionamento das atividades do poder público.
Considerando que os resultados, assim como os recursos empregados, devem ser avaliados por intermédio
de indicadores específicos, a utilização de indicadores sociais potencializa, entre outros aspectos, os
resultados das políticas públicas.
Uma das aferições quanto aos resultados do Brasil tem sido o conjunto de indicadores que exprimem o
quadro da exclusão social. Os atestados são unânimes: o Brasil ocupa lugar de constrangedor destaque no
“ranking” da desigualdade social. Tal assertiva é fundamentada em publicações como: Radar Social (2005);
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD (2005) e Relatório de Desenvolvimento
Humano – PNUD/RDH (2005).
O conceito de Desenvolvimento Humano é base do Relatório de Desenvolvimento Humano – RDH e do
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH. O IDH, apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1990,
foi recalculado para os anos anteriores, a partir de 1975, tornando-se referência mundial. Seu trabalho
consiste em propor uma agenda sobre temas relevantes relacionados ao desenvolvimento humano e reunir
tabelas estatísticas e informações sobre o assunto. A cargo do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, o relatório é publicado em mais de cem países.
O IDH é um indicador-chave dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas e, no
Brasil, tem sido utilizado pelo governo federal através do índice de Desenvolvimento Humano Municipal –
IDH-M, que pode ser consultado no Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil - PNUD (2005), um banco
de dados com informações sócio-econômicas sobre os 5.507 municípios do Brasil, os 26 Estados e o Distrito
Federal.
O Radar Social é publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, órgão vinculado a
Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos do Ministérios de Planejamento, Orçamento e
Gestão – SPI/MP. Seu estudo aborda a realidade social brasileira sob o enfoque de sete tópicos setoriais:
Demografia, Trabalho, Renda, Educação, Saúde, Moradia e Segurança. Segundo constata a referida
publicação, o Brasil, num universo de 130 países considerados, encontra-se no penúltimo lugar em matéria de
Desigualdade. A comparação do número de pobres do Brasil com o de outros países é dificultada em razão
dos diferentes critérios e métodos por vezes usados pelos países. No entanto, em termos de desigualdade, é
possível afirmar que a distribuição de renda no Brasil é uma das piores do mundo.
O Brasil tem uma longa história de grandes desigualdades. Conforme o PNUD (2005), os 10% das
famílias mais ricas têm 70 vezes o rendimento dos 10% mais pobres. Nos últimos 10 anos, as diferenças
entre as taxas de analfabetismo alargaram-se entre os estados mais ricos e os mais pobres. E embora a
pobreza tenha começado a declinar no princípio dos anos 90, fê-lo desigualmente e não está a cair
suficientemente depressa para o Brasil atingir o primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio. Ao
ritmo de progresso atual, o Sul é a única região que se espera poder reduzir a pobreza para a metade até
2015. Mas o Nordeste, a região mais pobre, também reduziu significativamente a pobreza, tal como as
regiões Central e do Sudeste.

7. AS POLÍTICAS PÚBLICAS PRECONIZADAS PELA LEI Nº. 12.120/2002


O Estado de Santa Catarina tem se distinguido quanto aos indicadores de desenvolvimento humano
relativamente às demais unidades da Federação.
Santa Catarina, juntamente com São Paulo, apresenta a menor proporção de municípios em situação de
exclusão social, com três focos: um localizado ao norte, na divisa com o Paraná, outro ao sul e um terceiro,
a oeste, estes dois na divisa com o Rio Grande do Sul. São Paulo, por sua vez, apresenta áreas de inclusão
social situada no nordeste e na área central do Estado (POCHMANN, 2003).
Tabela 1: Municípios referentes ao inciso I do Tabela 2: Municípios referentes ao inciso II do
art. 2° da Lei n° 12.120 art. 2° da Lei n°12.120
Classificação Município IDS
Classificação Município IDS
238 Marema 0,793 274 Ouro Verde 0,746
239 Nova Itaberaba 0,792 275 Vitor Meireles 0,744
240 Princesa 0,792 276 Lebon Régis 0,740
241 Ipuaçu 0,792 277 Imaruí 0,734
242 Herval D’Oeste 0,792 278 Saltinho 0,734
243 Santa Terezinha do Progresso 0,789 279 Anita Garibaldi 0,733
244 Ponte Serrada 0,788 280 Abdon Bartista 0,730
245 Irati 0,787 281 Flor do Sertão 0,729
246 Caxambu do Sul 0,787 282 Santa Terezinha 0,726
247 Chapadão do Lageado 0,786 283 Brunópolis 0,722
248 Capão Alto 0,785 284 Calmon 0,722
249 Monte Carlo 0,784 285 Campo Belo do Sul 0,718
250 Balneário Arroio do Silva 0,779 286 Painel 0,715
251 Araquari 0,778 287 Matos Costa 0,713
252 Monte Castelo 0,778 288 Macieira 0,710
253 Águas de Chapecó 0,777 289 São José do Cerrito 0,701
254 Bocaina do Sul 0,777 290 Bela Vista do Toldo 0,698
255 Palmeira 0,776 291 Bandeirante 0,683
256 Urubuci 0,776 292 Cerro Negro 0658
257 Garuva 0,773 293 Timbó Grande 0,629
258 São João do Sul 0,773 Fonte: Lei nº.12.120, de 9 de janeiro de 2002
259 Passo de Torres 0,772
260 Irani 0,771
261 Angelina 0,770
262 Passos Maia 0,769
263 Praia Grande 0,768
264 Pedras Grandes 0,768
265 Balneário Gaivotas 0,767
266 Entre Rios 0,764
267 Rio Rufino 0,763
268 Ibicaré 0,762
269 Bom Jesus 0,756
270 Bom Jardim da Serra 0,755
271 Alfredo Wagner 0,754
272 Irineópolis 0,752
273 Vargem 0,749
Fonte: Lei nº.12.120, de 9 de janeiro de 2002

Os cinqüenta e seis municípios catarinenses, cujos índices os faziam objeto das ações preconizadas pelo
Artigo 2 da Lei eram, em 2002, os apresentados nas Tabelas 1 e 2, com os respectivos Índices de
Desenvolvimento Social - IDS.

O projeto do Estado de Santa Catarina de homogeneização social se fundamenta na Lei


nº.12.120, de 9 de janeiro de 2002, que cria o Programa Catarinense de Inclusão Social. A
implementação do Programa se dá através da adoção e operacionalização de Políticas
Compensatórias voltadas (I) às administrações municipais com Índice de
Desenvolvimento Social – IDS – igual ou inferior a 85% do índice médio do Estado; e (II)
às pessoas residentes nos municípios com IDH igual ou inferior a 80% do índice médio do
Estado. As políticas compensatórias de vária gama transformam-se em programas e
orçamentos, em metas plurianuais (trienais e qüinqüenais) e planos de ação, tudo gerido e
avaliado por grupo executivo e de acompanhamento. Cumpre-se aqui a proposta do Banco
Mundial de que é possível erradicar a pobreza e a redução dela depende da interação de
esforços dos mercados, das instituições governamentais e da Sociedade Civil (AMIN;
BAUER, 2002, p.5).
A Lei nº. 12.120/2002 representa, portanto, um esforço de consolidação de políticas de inclusão social.
Pode-se perceber a facilidade de visualização de situações nos municípios do Estado e, a partir da situação
apurada, adotar providências com o objetivo de promover melhorias, contribuindo para elevação do nível de
vida e redução de desigualdades.
O próprio texto da lei explicita forma de gerenciamento (artigo 9º) e enuncia responsabilidades na
condução de normas pertinentes. Os parâmetros que ensejam o enquadramento dos municípios no âmbito das
ações preconizadas pela lei são subordinados ao confronto entre os índices do respectivo município e a média
do Estado.
Um rol de ações é preconizado para os municípios com IDS igual ou inferior a 85% do índice médio do
Estado. A este rol de ações sobrepõe-se outra listagem para o grupo cujo IDS esteja situado em patamar
equivalente a 80% ou menos do índice médio do Estado. O primeiro grupo correspondia, no momento da
aprovação da lei, a 56 municípios. O segundo grupo correspondia a 20 municípios.

8. OS INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO DE SANTA CATARINA:


SAÚDE, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
Os indicadores de desenvolvimento da Saúde, Educação e Desenvolvimento Econômico dos municípios
do Estado de Santa Catarina são apresentados de modo resumido nas tabelas que seguem. O Índice do
Desenvolvimento da Saúde considera a colocação do município, dentre os 293 existentes, os nascidos vivos
abaixo do peso, a mortalidade infantil menor de um ano, a mortalidade infantil menor de cinco anos, o índice
de aplicação das vacinas BCG tuberculose, DTP coqueluche, poliomielite, sarampo e s gestantes assistidas.
O Índice Saúde refere-se ao índice geral de saúde do município. O Nível relaciona-se a classificação do
município, que pode receber conceitos entre: alto, médio alto, médio, médio baixo e baixo. A Tabela 3
exemplifica dois municípios de nível alto, de nível médio alto e de nível médio baixo.

Tabela 3: Índice do Desenvolvimento da Saúde 2003/04


infantil menor

infantil menor

Vacina DTP-
Vacina BCG
vivos abaixo

Mortalidade

Mortalidade

poliomielite
tuberculose
Municípios

coquluche

Gestantes
Lugar SC

de 5 anos

assistidas
Nascidos

Sarampo

ÍNDICE
de 1 ano

SAÚDE
do peso

NÍVEL
Vacina

Vacina

SANTA CATARINA 0,920 0,930 0,970 1,000 0,990 1,000 0,900 0,970 0,960 alto

1 Macieira 0,957 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 0,995 alto

2 Nova Veneza 0,989 1,000 1,000 0,983 1,000 0,976 1,000 0,994 0,993 alto

..... ..... .....


146 Camboriú 0,912 0,929 0,889 1,000 0,890 1,000 0,950 0,968 0,942 médio alto

147 Entre Rios 0,960 1,000 1,000 0,900 0,764 0,962 0,944 1,000 0,941 médio alto

..... ..... .....


292 Palmeira 1,000 0,000 0,000 1,000 0,971 1,000 0,886 0,929 0,723 médio baixo

293 Ponte Alta 0,900 0,179 0,179 1,000 1,000 0,688 0,762 0,993 0,713 médio baixo
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde, 2005.

Na Tabela 4 - Indicadores de Desenvolvimento Social: Educação - são relacionados os municípios de


Santa Catarina discriminando a evolução do índice do desenvolvimento da educação básica – IDEB entre os
anos de 1998 e 2004.
Tabela 4: Indicadores de Desenvolvimento Social: Educação
Evolução do índice do desenvolvimento da educação básica - IDEB, segundo o Estado, Região e Municípios - 1998-2004

LVIMENTO
REGIONAL

SECRETAR
LUGAR SC

DESENVO

IDEB 1998

IDEB 2004
Municípios

VARIAÇÃ
ÍNDICE -

ÍNDICE -

2004 - %
NÍVEL -
Região e

NíVEL -

O 1998-
IAS DE
Estado,
2004

1998

2004
- SANTA CATARINA - 0,753 Médio baixo 0,837 Médio 11,11
1 Porto União 26 - Canoinhas 0,775 Médio baixo 0,914 Médio alto 17,89
2 Peritiba 06 - Concórdia 0,721 Médio baixo 0,910 Médio alto 26,13
..... ..... ..... ..... .....
144 Otacílio Costa 27 - Lages 0,667 Baixo 0,828 Médio 24,09
145 Correia Pinto 27 - Lages 0,661 Baixo 0,827 Médio 25,01
..... ..... ..... ..... .....
292 Passos Maia 05 - Xanxerê 0,698 Baixo 0,696 Baixo -0,39
293 Matos Costa 26 - Canoinhas 0,614 Baixo 0,664 Baixo 8,18
Fonte: Censo Escolar - Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia-SC, 2005.

A Tabela 5 refere-se aos Indicadores de Desenvolvimento Econômico quanto à evolução do Produto


Interno Bruto-PIB, per capita, a preços constantes de 2003 - segundo o Estado, Região e Municípios de Santa
Catarina, analisados entre 1998 a 2003. Tal como as tabelas 3 e 4, é resumida a seis municípios dentre os 293
existentes.

Tabela 5: Indicadores de Desenvolvimento econômico


Col. SC 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Variação
Município
2003 R$/hab R$/hab R$/hab R$/hab R$/hab R$/hab 2003/98 (%)
- SANTA CATARINA 10.054 9.894 10.780 10.821 10.785 11.095 10,36
1 São Francisco do Sul 15.502 18.262 23.792 33.345 40.650 45.572 193,97
2 Presidente Castello Branco 28.472 27.184 27.296 26.644 39.598 41.864 47,04
..... ..... ..... .....
145 Rio Negrinho 8.164 8.813 9.595 9.868 10.135 9.333 14,32
146 Braço do Norte 9.562 9.639 10.627 10.725 10.554 9.274 -3,01
..... ..... ..... .....
292 Laguna 4.021 3.528 3.686 3.528 3.395 3.262 -18,88
293 Governador Celso Ramos 3.271 3.156 3.209 3.214 3.029 3.002 -8,20
Fonte: Secretaria de Estado do Planejamento – SC, 2005.
OBS: Na correção dos valores para 2003, utilizou-se o deflator implícito do PIB, Conjuntura Econômica - FGV, Agosto
2005.

9. CONCLUSÕES
A realidade brasileira é marcada pela desigualdade social que constrange o nosso País e a nossa
cidadania. Ao focalizar os índices de desenvolvimento social e outros indicadores de desenvolvimento, a
Gestão Pública pode alcançar resultados que repercutam sobre a sociedade reduzindo os níveis de
desigualdade que a caracterizam. As políticas públicas centradas na melhoria dos indicadores representam
objetivamente o atingimento de níveis superiores de qualidade de vida.
É possível comparar a gestão por indicadores ao vôo por instrumentos. Ao pautar a sua conduta e os seus
procedimentos pelos informes que obtém dos instrumentos de navegação, o piloto reduz a participação do
instinto e da habilidade pessoal na condução do vôo e se subordina a um instrumento científico, cujo
resultado final tende a ser o sucesso da navegação. Portanto, mais do que ações instintivas baseadas no
sentimento e na percepção pessoal, a gestão por indicadores representa uma evolução qualitativa na gestão
pública. Propicia medir constantemente os resultados em questões cruciais para o bem estar social.
Em consonância com Osborne e Gaebler, “se os resultados não forem avaliados, não há como distinguir
sucesso de insucesso” (1998, p.159). No caso concreto, é a própria prática; a utilização reiterada de
indicadores de desenvolvimento social que assegure sua validade. Esta prática já significa fator de emulação
para os gestores e contribui para a evolução da cidadania, eis que imprensa, organizações não
governamentais e a própria sociedade já empregam índices e indicadores para expressar uma realidade.
Assim, no âmbito da pesquisa, procurou-se investigar o arcabouço teórico das práticas de medição dos
indicadores de desempenho nos órgãos públicos, com planejamento de melhoria de resultados orientados
para a sociedade brasileira.
As conclusões, se bem que passíveis de generalizações, devem ser entendidas como restritas à realidade
do Estado de Santa Catarina. Embora a pesquisa seja bibliográfica, os resultados são congruentes e alinhados
com os referenciais de indicadores sociais apresentados neste trabalho, neste sentido:
a) Os conceitos dos indicadores convergem para consolidar sua condição de referência
para os órgãos públicos no Brasil;
b) Os resultados apurados na avaliação da situação catarinense demonstram
compatibilidade entre os indicadores apreciados e a situação do estado no contexto da
Federação;
c) Os indicadores sociais apurados no Estado de Santa Catarina revelam uma posição
diferenciada do Estado em relação ao conjunto da Federação e demonstram que a Lei
Estadual nº. 12.120/2002 enseja uma efetiva mudança de paradigma de gestão; e,
d) O Estado de Santa Catarina, juntamente com São Paulo, apresenta a menor proporção
de municípios em situação de exclusão social. Com três focos: um localizado ao norte,
na divisa com o Paraná, outro ao sul e um terceiro, a oeste, estes dois na divisa com o
Rio Grande do Sul.

Neste sentido, pode-se considerar que este trabalho pretende oferecer uma visão do modelo de gestão
oferecido pela utilização de indicadores e índices, sob a ótica de se tentar criar um nível mínimo de
comparabilidade nas medidas e, como tais ferramentas são aplicadas na contemporaneidade.
Para Marcel Proust, “A verdadeira viagem de descoberta não consiste em buscar novas terras, mas em vê-
las com novos olhos”. Sob esta paráfrase, citada por Dolabela (1999, p. 189), considera-se que o processo de
desenvolvimento da Nação passa pela formação e informação de seus cidadãos. No Brasil, onde a burocracia
é inconclusa, a tarefa de transformá-la é desafiadora. Os servidores públicos, além do cumprimento de
formalidades, devem engajar-se no compromisso com resultados de qualidade, compatíveis com as políticas
orientadas para o crescimento local.
Tem-se a consciência das dificuldades contextualizadas no universo das instituições públicas, não só
brasileira, mas também mundial. Ao abordar o tema, sob égide científica, objetivou-se contribuir para a
disseminação da utilização de indicadores sociais pelos gestores públicos e para a reflexão pontual no
assunto. E, ao final, entende-se ser possível remover os obstáculos que dificultam o desenvolvimento social,
econômico, cultural e político, faces indissociáveis e essenciais ao futuro do País.

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1

AS ELITES PARLAMENTARES DO MERCOSUL E AS


TICs; PERFIL SOCIOPOLÍTICO E USO DA INTERNET
PELOS DEPUTADOS E SENADORES DA ARGENTINA,
BRASIL, PARAGUAI, URUGUAI E VENEZUELA.

Sérgio Soares Braga


Departamento de Ciências Sociais (DECISO)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
E-mail: ssbraga@ufpr.br

Maria Alejandra Nicolás


Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Mestrado em Sociologia – UFPR
E-mail: alejanicolas@hotmail.com

RESUMO

O objetivo deste trabalho é fazer uma avaliação do uso das TICs pelas elites parlamentares dos países do Mercosul e construir um
perfil sócio-político destas elites a partir das informações encontradas nos sites legislativos. Buscaremos também apresentar uma
proposta de construção de um indicador para avaliar e mensurar o grau de disponibilidade das informações sobre tais elites na
Web, especialmente nas home pages das casas legislativas onde atuam tais parlamentares, sobre as seguintes dimensões de sua
atividade: (1) perfil social e biográfico dos parlamentares; (2) trajetória política; (3) comportamento político. A partir deste
objetivo geral, cumpriremos dois objetivos específicos: a) Apresentar uma proposta de mensuração do grau em que as
informações sobre os parlamentares estão presentes nos web sites das casas legislativas; b) Elaborar e aplicar instrumentos
teórico-metodológicos para a análise de tais dados, bem como para a avaliação do significado analítico de tais informações para o
estudo das elites parlamentares de uma maneira geral.

PALAVRAS-CHAVE

Internet e política; Elites parlamentares do Mercosul; controles democráticos.

1.INTRODUÇÃO 1 .
O objetivo deste trabalho é fazer uma avaliação do uso das TICs pelas elites parlamentares dos países do Mercosul
e construir um perfil sócio-político destas elites a partir das informações encontradas nos sites legislativos.
Buscaremos também apresentar uma proposta de construção de um indicador para avaliar e mensurar o grau de
disponibilidade das informações sobre tais elites na Web, especialmente nas home pages das casas legislativas
onde atuam tais parlamentares. Nesse sentido, menos do que uma investigação exaustiva sobre as características
em si dos perfis e dos padrões de recrutamento de tais elites parlamentares, interessa-nos mapear que tipo de
informação se pode obter e até onde pode chegar a análise política a partir dos dados disponibilizados sobre tais
atores nos websites dos órgãos legislativos dos países sul-americanos.
Com efeito, embora já exista um corpo razoável de estudos sobre o recrutamento e o perfil sociopolítico dos
políticos sul-americanos de uma maneira geral, e das elites parlamentares brasileiras em particular 2 , poucos destes
estudos buscam avaliar o uso que tais atores fazem da web para interagir e se comunicar com o eleitor. Por outro
lado, os poucos estudos existentes sobre a relação entre internet e elites parlamentares (CARDOSO, 2003;
CUNHA, 2005; SILVA, 2007), geralmente relegam a segundo plano as questões relacionadas aos perfis sociais e
às características do “recrutamento” de tais elites, centrando seu foco de atenção no problema da interação ou dos
“graus de participação” do eleitor em relação a seu representante. Neste artigo, procuraremos empreender uma

1
Este artigo é uma versão preliminar de um pesquisa coletiva em andamento intitulada: As elites políticas latino-americanas e a
web; biografias políticas e uso da internet pelos Senadores e Deputados da América Latina, ora em desenvolvimento no
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná.
2
Dentre estes estudos mais recentes sobre as elites políticas e parlamentares sul-americanas, podemos mencionar os trabalhos de
(MARTINS, 2000, 2006; MARENCO, 2000, 2006).
2

análise nesse sentido, na medida em que buscaremos efetuar uma caracterização dos perfis dos parlamentares
utilizando apenas as informações disponíveis na internet. Com isso, procuraremos integrar duas áreas de pesquisa
geralmente separadas nos estudos sobre as elites políticas, especialmente as elites parlamentares: (i) por um lado,
os estudos sociológicos sobre recrutamento, perfil e valores ideológicos das elites; (ii) por outro, os estudos sobre
comunicação política e como tais elites dirigentes interagem com a opinião pública e com os cidadãos de uma
maneira geral através dos recursos da mídia. Sublinhe-se desde logo que tal objetivo se compatibiliza com a
premissa teórico-metodológica mais geral que orienta este trabalho: conforme observado por alguns autores cujas
contribuições constituem o pano de fundo mais geral do presente texto (CASTELLS, 2000; NORRIS, 2001), e
conforme observado em outros trabalhos (BRAGA, 2007a; 2007b), as ferramentas utilizadas pela internet, desde
que adequadamente utilizadas, podem ser um importante instrumento não só de conhecimento das elites dirigentes
pelos pesquisadores e pelo público especializado, mas também de controle e monitoramento de tais elites políticas
e da esfera pública de uma maneira geral pelos cidadãos.
Para abordar tais temas, organizaremos nossa exposição da seguinte maneira: (1) Em primeiro lugar,
definiremos o universo empírico de nossa pesquisa e esclareceremos algumas opções metodológicas adotadas no
curso da presente investigação; (2) em seguida, faremos uma análise geral das informações disponíveis nos
websites das casas legislativas sobre os deputados e senadores que delam fazem parte; (3) por fim,
empreenderemos um breve exame comparativo das elites parlamentares destes países, a partir das informações
disponíveis sobre as mesmas nos websites parlamentares.
Frise-se, por fim, que devido ao caráter exploratório e ainda inicial deste estudo, procuraremos analisar
algumas poucas variáveis de maneira mais intensiva, a fim de toma-las como exemplo e ilustração do tipo de
abordagem a ser ulteriormente desenvolvido de maneira mais aprofundada. Assim, não é nosso objetivo nesse
texto efetuar um estudo exaustivo de todos os problemas levantados, mas indicar diretrizes de pesquisa e
apresentar algumas evidências e resultados iniciais de uma investigação em andamento.

2. O UNIVERSO EMPÍRICO DE PESQUISA: AS ELITES PARLAMENTARES


DO MERCOSUL E A INTERNET.
Algumas características do universo empírico de nossa pesquisa estão sintetizadas na tabela a seguir. Coletamos
dados sobre e analisamos ao todo 1334 parlamentares de cinco países e nove casas legislativas, procurando
examinar o uso que os mesmos fazem da internet e alguns atributos de seu perfil social e trajetória política
anterior. Conforme afirmamos acima, dados os objetivos desta pesquisa utilizamos exclusivamente as fontes
disponíveis nos websites parlamentares para coletar as informações analisadas neste texto, já que nosso objetivo
básico não é elaborar um perfil exaustivo das elites parlamentares examinadas por si só, mas avaliar e mensurar,
numa primeira aproximação, o uso que tais atores fazem da internet bem como as informações nela disponíveis
para o estudo destas elites.
A freqüência das informações encontradas sobre os deputados e senadores examinados encontra-se resumida
na tabela abaixo.

Tabela 1: Informações disponíveis na web sobre as elites parlamentares do Mercosul.

Argentina Brasil Paraguai Uruguai Venezuela Total

CD SEN CD SEN CD SEN CD SEN CD DEP SEN

N % N % N % N % N % N % N % N % N % N % N %

1 Possui e-mail para contato? 255 99,6 70 97,2 513 100,0 80 98,8 78 97,5 45 100,0 99 100,0 30 96,8 146 88,0 1091 97,9 225 98,3
2 Possui web site pessoal ou institucional? 38 14,8 9 12,5 238 46,4 74 91,4 0 0,0 0 0,0 52 52,5 16 51,6 0 0,0 328 29,4 99 43,2

3 Há informações sobre data de nascimento? 68 26,6 45 62,5 513 100,0 51 63 0 0,0 26 57,8 40 40,4 17 54,8 1 0,6 622 55,8 139 60,7

4 Apresenta Fotografia? 255 99,6 71 98,6 513 100,0 79 97,5 78 97,5 39 86,7 94 94,9 31 100,0 71 42,8 1011 90,8 220 96,1
Informações satisfatórias sobre
5 75 29,3 52 72,2 509 99,2 66 81,5 13 16,3 30 66,7 38 38,4 13 41,9 85 51,2 720 64,6 161 70,3
escolaridade?
Informações satisfatórias sobre atividades
6 78 30,5 56 77,8 503 98,1 67 82,7 71 88,8 30 66,7 45 45,5 15 48,4 89 53,6 786 70,6 168 73,4
profissionais?
Informações satisfatórias sobre cargos
7 79 30,9 59 81,9 513 100,0 67 82,7 0 0,0 26 57,8 43 43,4 20 64,5 88 53,0 723 64,9 172 75,1
executivos anteriormente ocupados
Informações satisfatórias sobre cargos
8 81 31,6 59 81,9 513 100 67 82,7 0 0,0 29 64,4 45 45,5 16 51,6 90 54,2 729 65,4 171 74,7
legislativos ocupados?
Informações satisfatórias sobre via de
9 83 32,4 59 81,9 513 100 63 77,8 0 0,0 0 0,0 96 97,0 21 67,7 96 57,8 868 77,9 143 62,4
entrada na política?

Média 112 43,9 53,3 74,1 481 93,7 68,2 84,2 26,7 33,3 25 55,6 61,3 62 19,9 64,2 74 44,6 764 68,6 166 72,7
Total de parlamentares 256 100,0 72 100,0 513 100,0 81 100,0 80 100,0 45 100,0 99 100,0 31 100,0 166 100,0 1114 100,0 229 100,0

Fonte: Projeto “Internet e Política”/websites das casas legislativas


3

Pela tabela acima, podemos observar que a quase totalidade dos parlamentares examinados disponibiliza e-
mail para contato com a opinião pública e os cidadãos de uma maneira geral: dos 1343 parlamentares
pesquisados, 98,3% disponibilizam e-mails nas casas legislativas para o contato com os cidadãos, evidenciando
que já se tornou um procedimento generalizado a disponibilização de correio eletrônico aos cidadãos. Entretanto,
o mesmo não pode ser dito em relação ao recurso aos websites (institucionais ou pessoais) por parte dos
parlamentares, pois somente 43,2% dos parlamentares destes países sul-americano disponibilizam websites para
divulgar suas atividades para a opinião pública 3 . O percentual mais elevado de parlamentares que possuem
websites para divulgar suas atividades foi obtido pelo Senado Federal brasileiro, enquanto que em alguns órgãos
legislativos, tais como a Câmara e o Senado paraguaios e a Assembléia Nacional unicameral da Venezuela, não
foi encontrado link ou acesso a websites de nenhum parlamentar, embora constassem páginas contendo
informações biográficas sobre os parlamentares.
Por outro lado, no tocante a informações sobre algumas dimensões do perfil social dos deputados e senadores,
a distribuição das porcentagens é bastante heterogênea. Assim, enquanto alguns websites parlamentares
apresentam disponibilizam informações sobre data de nascimento, fotografia e informações satisfatórias sobre a
escolaridade de praticamente todos os eleitos, em outros websites praticamente inexistem informações sobre estes
itens.
Como pode ser observado pelos dados contidos na tabela acima, algumas casas legislativas, como é o caso da
Câmara dos Deputados brasileira e o Senado uruguaio, disponibilizam fotografias da totalidade de seus
integrantes, o que pode servir como uma fonte eficaz para a caracterização de variáveis importantes, tais como cor
da pele e gênero, este último caso devido à redação ambígua de alguns nomes.Por sua vez, o percentual mais
baixo foi obtido pela Assembléia Nacional Venezuelana, com apenas 42,8% de seus parlamentares
disponibilizando foto na internet durante o período da pesquisa 4
Já as informações sobre outras dimensões do perfil social dos parlamentares, tais como data de nascimento,
escolaridade e, especialmente, atividades profissionais, estão disponíveis de maneira bem mais reduzida. Com
efeito, a partir da consulta aos websites das casas legislativas dos países do Mercosul é possível obter informações
sobre a data de nascimento de apenas 55,8% de seus deputados e 60,7% dos senadores, sendo que os maiores e
menores percentuais são obtidos respectivamente pela Câmara dos Deputados brasileira (100,0%) e pelas
Assembléias paraguaia e venezuelana, com praticamente nenhum de seus parlamentares disponibilizando
informações sobre a data de nascimento. Quase o mesmo padrão é seguido pelas demais variáveis de perfil social,
tais como escolaridade e exercícios de atividades profissionais.

3.PERFIL SOCIAL E TRAJETÓRIA POLÍTICA DAS ELITES


PARLAMENTARES DO MERCOSUL A PARTIR DA WEB.

Podemos agora, a partir dos dados brutos e agregados sintetizados na tabela anterior, efetuar uma análise sumária
do perfil social e da trajetória política pregressa dos deputados e senadores dos países do Mercosul. Frise-se que
todas as categorias incluídas nas tabelas abaixo foram obtidas a partir dos dados brutos coletados nos websites das
casas legislativas e resumidas na tabela anterior.
No tocante ao “perfil social” destas elites parlamentares, a distribuição das informações coletadas nos é
fornecida pela tabela abaixo:

3
Não se deve confundir os websites institucionais com as páginas de perfis dos parlamentares contidas nas casas legislativas,
pois aqueles se constituem domínios próprios dos parlamentes hospedados nas casas legislativas, enquanto as páginas de perfis
oferecem apenas as informações-padrão e dados biográficos sobre os parlamentares. Sublinhe-se que ambas as fontes foram
utilizadas durante a coleta de dados para a construção das planilhas que constituem a base de dados da presente pesquisa.
4
Realizada durante os meses de junho a agosto de 2007.
4

Tabela 2) Perfil social dos parlamentares do Mercosul a partir da Web

Argentina Brasil Paraguai Uruguai Venezuela

Câmara Senado Câmara Senado Câmara Senado Câmara Senado CD

N % N % N % N % N % N % N % N % N %
A) Faixa etária
Menor de 30 0 0,0 0 0,0 5 1,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0
entre 30 e 40 9 3,5 2 2,8 25 4,9 0 0,0 0 0,0 0 0 8 8,1 0 0 1 0,6
entre 40 e 50 18 7,0 12 16,7 127 24,8 7 8,6 0 0,0 7 15,6 16 16,2 2 6,45 0 0
entre 50 e 60 29 11,3 22 30,6 201 39,2 21 25,9 0 0,0 11 24,4 15 15,2 8 25,8 0 0
maior que 60 15 5,9 11 15,3 155 30,2 23 28,4 0 0,0 10 22,2 4 4,0 7 22,6 0 0
Sem informação 185 72,3 25 34,7 0 0,0 30 37,0 80 100,0 17 37,8 56 56,6 14 45,2 165 99,4
B) Gênero
Feminino 89 34,8 31 43,1 45 8,8 10 12,3 10 12,5 4 8,9 12 12,1 3 9,7 25 15,1
Masculino 167 65,2 41 56,9 468 91,2 71 87,7 70 87,5 41 91,1 87 87,9 28 90,3 141 84,9
C) Cor da Pele
Branca 235 91,8 69 95,8 434 84,6 55 67,9 77 96,3 39 86,7 86 86,9 29 93,5 39 23,5
Negra 0 0,0 0 0,0 16 3,1 1 1,2 0 0,0 0 0 1 1,0 0 0,0 1 0,6
parda 20 7,8 2 2,8 63 12,3 23 28,4 1 1,3 0 0 7 7,1 2 6,5 32 19,3
Sem informação 1 0,4 1 1,4 0 0,0 2 2,5 2 2,5 6 13,3 5 5,1 0 0,0 94 56,6
D) Escolaridade:
ensino fundamental 0 0,0 0 0,0 9 1,8 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
ensino médio 2 0,8 0 0,0 46 9,0 6 7,4 0 0,0 1 2,2 4 4,0 1 3,2 5 3,0
superior incompleto 0 0,0 0 0,0 56 10,9 5 6,2 0 0,0 0 0,0 3 3,0 0 0,0 6 3,6
superior 73 28,5 52 72,2 398 77,6 55 67,9 13 16,3 29 64,4 31 31,3 12 38,7 74 44,6
Sem informação 181 70,7 20 27,8 4 0,8 15 18,5 67 83,8 15 33,3 61 61,6 18 58,1 81 48,8
E) Atividade profissional principal (agregado)
profissões intelectuais 74 28,9 55 76,4 423 82,5 52 64,2 49 61,3 27 60,0 37 37,4 15 48,4 82 49,4
proprietários 4 1,6 1 1,4 63 12,3 14 17,3 22 27,5 3 6,7 6 6,1 0 0,0 4 2,4
SI 178 69,5 16 22,2 10 1,9 14 17,3 9 11,3 15 33,3 54 54,5 16 51,6 77 46,4
trabalhadores manuais 0 0,0 0 0,0 17 3,3 1 1,2 0 0,0 0 0,0 2 2,0 0 0,0 3 1,8

Total 256 100,0 72 100,0 513 100,0 81 100,0 80 100,0 45 100,0 99 100,0 31 100,0 166 100,0

Fonte: Projeto “Internet e Política”/websites parlamentares

Mais uma vez verificamos uma distribuição bastante desigual do grau de transparência das informações sobre
os parlamentares contidas nas várias casas legislativas. Enquanto alguns parlamentos apresentaram elevados graus
de disponibilidade de informações sobre dimensões tais como data de nascimento, fotografia do parlamentar, grau
de escolaridade e sobre as atividades profissionais exercidas pelos deputados e senadores que dela fazem parte, tal
como a Câmara dos Deputados e o Senado brasileiros, por exemplo, o destaque negativo ficou com as casas
legislativas do Paraguai e da Venezuela, com pouquíssimas informações sobre o perfil social de seus deputados.
Pela tabela, podemos também observar que, com exceção das duas Câmaras argentinas, ainda é bastante reduzida
a participação de mulheres (15,1%) e de parlamentares de cor da pele negra (0,6%) nas casas parlamentares de
países do Mercosul.
Em relação à trajetória política pregressa dos parlamentares, as informações coletadas nos websites
legislativos encontram-se resumidas na tabela abaixo:
5

Tabela 3) Trajetória política das elites parlamentares do Mercosul.

Argentina Brasil Paraguai Uruguai Venezuela

Assembléia
Câmara Senado Câmara Senado Câmara Senado Câmara Senado
Nacional
N % N % N % N % N % N % N % N % N %
A) Período de entrada na política
anterior a 1960 1 0,4 0 0,0 0 0,0 1 1,2 0 0,0 0 0,0 1 1,0 0 0,0 2 1,2
1960-1970 0 0,0 1 1,4 0 0,0 8 9,9 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 6,5 3 1,8
1970-1980 10 3,9 8 11,1 0 0,0 16 19,8 0 0,0 3 6,7 1 1,0 3 9,7 9 5,4
1980-1990 24 9,4 27 37,5 0 0,0 23 28,4 0 0,0 2 4,4 20 20,2 10 32,3 4 2,4
1990-2000 27 10,5 22 30,6 0 0,0 12 14,8 0 0,0 6 13,3 18 18,2 5 16,1 36 21,7
2000- 14 5,5 1 1,4 0 0,0 2 2,5 0 0,0 1 2,2 7 7,1 0 0,0 11 6,6
Sem informação/ 180 70,3 13 18,1 513 100,0 19 23,5 80 100,0 33 73,3 52 52,5 11 35,5 101 60,8
B) Experiência Executiva anterior
Não ocupou cargos 31 12,1 16 22,2 235 45,8 17 21 0 0,0 21 46,7 25 25,3 10 32,3 62 37,3
Sem informação 177 69,1 13 18,1 0 0 14 17,3 80 100,0 19 42,2 56 56,6 11 35,5 78 47,0
Ocupou cargos Executivos 48 18,8 43 59,7 278 54,2 50 61,7 0 0,0 5 11,1 18 18,2 10 32,3 26 15,7
C) Experiência Legislativa anterior
Não ocupou cargos 36 14,1 15 20,8 86 16,8 19 23,5 0 0,0 14 31,1 14 14,1 3 9,7 52 31,3
Sem informação 175 68,4 13 18,1 0 0 14 17,3 80 100,0 16 35,6 54 54,5 15 48,4 76 45,8
Ocupou cargos Legislativo 45 17,6 44 61,1 427 83,2 48 59,3 0 0,0 15 33,3 31 31,3 13 41,9 38 22,9
D) Número de cargos legislativos ocupados:
Primeira legislatura 36 14,1 15 20,8 134 26,1 19 23,5 0 0,0 10 22,2 30 30,3 9 29,0 50 30,1
Segunda legislatura 20 7,8 22 30,6 130 25,3 8 9,9 0 0,0 8 17,8 10 10,1 6 19,4 17 10,2
Terceira legislatura 16 6,3 14 19,4 128 25,0 12 14,8 0 0,0 6 13,3 8 8,1 4 12,9 16 9,6
Quarta legislatura ou mais 8 3,1 8 11,1 121 23,6 28 34,6 0 0,0 2 4,4 2 2,0 1 3,2 3 1,8
SI 176 68,8 13 18,1 0 0,0 14 17,3 80 100,0 19 42,2 0 0,0 11 35,5 80 48,2

Total 256 100,0 72 100,0 513 100,0 81 100,0 80 100,0 45 100,0 99 100,0 31 100,0 166 100,0

Fonte: Projeto “Internet e Política”/websites parlamentares

Verificamos que são bastante reduzidas as informações contidas nos websites legislativos sobre a trajetória
política pregressa dos parlamentares, especialmente sobre os caminhos de entrada dos parlamentes da política.
Por fim, podemos examinar brevemente os tipos de uso de websites pelos parlamentares sul-americanos,
cotejando-os com outras variáveis. Estas informações nos são fornecidas pela tabela abaixo:

Tabela 4) Uso de website por categoria.

Com Sem
Total
web site web site

N % N % N %
I) Casa legislativa/país
Argentina 47 14,3 281 85,7 328 100,0
Brasil 312 52,5 282 47,5 594 100,0
Paraguai 0 0,0 125 100,0 125 100,0
Uruguai 68 52,3 62 47,7 130 100,0
Venezuela 0 0,0 166 100,0 166 100,0
Total 427 31,8 916 68,2 1343 100,0

II) Perfil social/faixa etária


Menor de 30 4 80,0 1 20,0 5 100,0
Entre 30 e 40 19 42,2 26 57,8 45 100,0
Entre 40 e 50 91 48,1 98 51,9 189 100,0
Entre 50 e 60 142 46,3 165 53,7 307 100,0
Maior que 60 110 48,9 115 51,1 225 100,0
SI 61 10,7 511 89,3 572 100,0
Total 427 31,8 916 68,2 1343 100,0

III) Campo ideológico


Centro 160 28,5 402 71,5 562 100,0
Direita 103 30,9 230 69,1 333 100,0
Esquerda 164 36,6 284 63,4 448 100,0
Total 427 31,8 916 68,2 1343 100,0

IV) Trajetória Política


Anterior a 1960 2 40 3 60 5 100,0
1960-1970 10 71,4 4 28,6 14 100,0
1970-1980 27 54,0 23 46 50 100,0
1980-1990 63 57,3 47 42,7 110 100,0
1990-2000 37 29,4 89 70,6 126 100,0
2000-(...) 14 38,9 22 61,1 36 100,0
SI 274 27,3 728 72,7 1002 100,0
Total 427 31,8 916 68,2 1343 100,0

Fonte: Projeto “Internet e Política”/websites parlamentares


6

Pela tabela acima, verificamos que o Brasil e o Uruguai são os países que apresentam a maior freqüência de
parlamentares que possuem websites próprios ou institucionais. No tocante à relação entre perfil social e
construção de websites, deve-se chamar a atenção para ausência de correlação significativa entre o uso de
websites e a faixa etária dos parlamentares. Com efeito, em todas as faixas etárias, com exceção dos
parlamentares com menos de trinta anos, há um percentual inferior de parlamentares com websites em
comparação a parlamentares sem website. O mesmo ocorre com a distribuição de uso de websites a partir do
espectro ideológico, caso este determinado pela distorção causada pelos parlamentares venezuelanos, a imensa
maioria deles fazendo parte do espectro ideológico de esquerda, mas recorrendo muito pouco ao uso de sites para
divulgar suas atividades, relevando um baixo grau de preocupação com a transparência das atividades
parlamentares.

4. CONCLUSÃO: UM ÍNDICE DE TRANSPARÊNCIA DOS PARLAMENTARES.


Podemos agora encerrar este artigo analisando os dados conjuntamente e abordando alguns problemas teórico-
metodológicos relacionados à mensuração das informações contidas nos web sites legislativos sobre tais elites
parlamentares. Essa preocupação com a “mensuração” das informações se corporifica na composição de um
indicador sintetizando os dados anteriormente apresentados. A composição desse indicador será feita através da
agregação dos percentuais de informação contidos sobre as elites parlamentares do Mercosul em suas casas
legislativas. Tais informações são resumidas na seguinte tabela:

Tabela 5: Acesso à internet, perfil social e trajetória


política das elites parlamentares do Mercosul (% de informações).

Argentina Brasil Paraguai Uruguai VENN

CD SF CD SF CD SF CD SF CD
1) Acesso à internet
% com e-mail 99,6 97,2 100,0 98,8 97,5 100,0 100,0 96,8 88,0
% com web site 14,8 12,5 46,4 91,4 0,0 0,0 52,5 51,6 0,0
Média 57,2 54,9 73,2 95,1 48,8 50,0 76,3 74,2 44,0

2) Perfil social
% Data de nascimento 26,6 62,5 100,0 63,0 0,0 57,8 40,4 54,8 0,6
% fotografia 99,6 98,6 100,0 97,5 97,5 86,7 94,9 100,0 42,8
% escolaridade 29,3 72,2 99,2 81,5 16,3 66,7 38,4 41,9 51,2
% atividades profissionais 30,5 77,8 98,1 82,7 88,8 66,7 45,5 48,4 53,6
Média 46,5 77,8 99,3 81,2 50,6 69,4 54,8 61,3 37,0

3) Trajetória política
% Porta de entrada na política 31,6 81,9 100,0 82,7 0,0 64,4 45,5 51,6 54,2
% Ocupação de cargos executivos 30,9 81,9 100,0 82,7 0,0 57,8 43,4 64,5 53,0
% Ocupação de cargos legislativos 31,6 81,9 100,0 82,7 0,0 64,4 45,5 51,6 54,2
Média 31,4 81,9 100,0 82,7 0,0 62,2 44,8 55,9 53,8

Índice global 45,0 71,5 90,8 86,3 33,1 60,6 58,6 63,8 44,9

Podemos resumir os dados contidos nas tabelas nos seguintes gráficos, que sintetizam as informações contidas
nos websites sobre as elites parlamentares sul-americanas:
7

Gr áf i c o 1) Ìnd i c e d e i nf o r m a t i z a ção do s we b si t e s

100
90,8
86,3

71,5
75
63,8
60,6 58,6

50 45,0 44,9

33,1

25

0
CD/ Br SF/ Br SF/ Arg SF/ Ur SF/ Pr CD/ Ur CD/ Ar g VENN CD/ Par

C a sa s l e gi sl a t i v a s

Í ndice global de inf ormat ização

Pelo gráfico, podemos observar a existência dos seguintes grupos diferenciados de sites legislativos, de acordo
com o grau de transparência contido nestes sites sobre suas elites parlamentares: (1) Parlamentos com alto grau de
informatização, tais como a Câmara dos Deputados e o Senado Federal brasileiros, que apresentam um grau
relativamente elevado de transparência sobre suas elites parlamentares; (2) casas legislativas de grau médio alto
de informatização, tais como os Senados de Argentina, Uruguai e Paraguai, que, apesar das deficiências
detectadas, apresentam níveis razoáveis de informações sobre seus parlamentares; (3) web sites com baixo grau de
informatização, tais como os sites da Argentina, Venezuela e Paraguai.
Deve-se sublinhar que uma característica que singulariza o website da Câmara dos Deputados em comparação
com os demais países do Mercosul é a existência de um formulário contendo as informações padronizadas sobre
os parlamentares, o que facilita sobremaneira a consulta do pesquisador a tais informações, bem como a interação
do cidadão-internauta com seu parlamentar.
Por fim, podemos encerrar este texto esclarecendo que as considerações acima foram uma tentativa inicial de
efetuar um primeiro mapeamento da maneira pela qual as elites parlamentares brasileiras e do Mercosul estão
utilizando a internet e do tipo de informação que pode ser encontrado nessas fontes. Observamos que, salvo em
um outro website parlamentar isolado, ainda resta muito caminho a percorrer para que a internet se constitua
numa fonte sistemática para o estudo das elites políticas, de natureza análoga a das demais. Sendo assim, é
indispensável que os analistas políticos e pesquisadores sobre as elites em geral e as elites parlamentares em
particular desenvolvam instrumentos para avaliar e monitorar a quantidade e a qualidade das informações
disponíveis em tais websites, para que estes divulguem informações sistemáticas e transparentes sobre os
políticos, e não se convertam apenas em uma espécie de outdoor virtual dos deputados e senadores que agregue
pouco valor às pesquisas sobre as elites e sistemas políticos e deixe de ser um instrumento de maior controle do
cidadão-internauta sobre estas próprias elites.

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ÉTICA NO PARADIGMA DIGITAL: UMA TEORIA
FUNDAMENTADA NA INTELIGÊNCIA COLETIVA

Letícia Canut
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora universitária.
leticiacanut@hotmail.com

RESUMO:

O presente artigo pretende apontar a existência de uma ética, pautada na inteligência coletiva, no novo modelo social
denominado paradigma digital. Para tanto, far-se-á necessário, inicialmente, superar as dificuldades conceituais que
envolvem a definição da “ética” e da “moral” para, num segundo momento, apresentar e explicitar em que consiste o
“paradigma digital” que, apesar de emergente, possui traços característicos que passam a substituir os marcos centrais do
modelo de sociedade anterior, a sociedade moderna ou industrial. Neste aspecto destacar-se-á um dos grandes marcos do
novo paradigma, o ciberespaço, e seus elementos: a internet, a cibercultura e a inteligência coletiva. Tendo em vista que a
inteligência coletiva é fundamental tanto para ao ciberespaço quanto para a cibercultura, por permitir que as melhores
potencialidades dos mesmos sejam exploradas, despender-se-á maior atenção à mesma que, ao final, será apresentada como
um valor moral fundamental na era digital e que será a base para uma teoria ética da nova sociedade, que aponta a busca do
melhor possível como o BEM a ser alcançado pelos homens.

PALAVRAS-CHAVE:

Ética, paradigma digital, ciberespaço, cibercultura, inteligência coletiva.

1. ÉTICA

A transição paradigmática enfrentada pela sociedade atual coloca em xeque instituições, valores e conceitos
padrões até então tão difundidos e aceitos no modelo social anterior, na sociedade moderna ou industrial.
Este momento de passagem da sociedade moderna/industrial para a sociedade pós-moderna/digital
caracteriza-se pelas diversas crises geradas pelas transformações sociais. Dentre estas destaca-se a crise ética
que se configura pela convivência e disputa entre valores morais e teorias éticas do passado com as do
presente e as que já estão delineadas para o futuro. É neste cenário que os termos “ética” e “moral” retornam
para o debate acadêmico e popular com todo o vigor.
No senso comum, confirmado pela mídia, os dois termos são utilizados como sinônimos. Este fato eleva
a necessidade de atenção e cuidado na abordagem destes termos. No âmbito acadêmico, pelo fato do tema
remeter principalmente à filosofia, verifica-se que vários autores e pensadores ao estudarem “ética” fazem
uma opção metodológica de analisá-la a partir de um conceito ou teoria ética específica.
Na tentativa de fugir ao senso comum e superar os debates acadêmicos que se prendem a uma teoria
ética localizada em um pensador e em um período específicos, busca-se um conceito de “ética” e de “moral”
que consiga explicar, de forma mais abrangente, o sentido destas palavras.
Nesta perspectiva, utilizando os ensinamentos de VÁSQUEZ, define-se a ética como a “teoria ou
ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. [...]” (1975, p.12).
Já para COTRIM, a “ética (do grego ethikos, ´costume´, ‘comportamento’) é a disciplina filosófica que
busca refletir sobre os sistemas morais elaborados pelos homens, buscando compreender a fundamentação
das normas e interdições próprias a cada sistema moral” (2002, p.263).
Diante destes dois posicionamentos, aproximados em relação ao “objeto de estudo” da ética, pode-se
questionar: afinal, a ética é uma ciência ou é uma disciplina filosófica?
Para responder a esta colocação buscam-se esclarecimentos nos ensinamentos de BITTAR e de
VÁSQUEZ. Aquele diz que a ética é “ [...] filosofia prática, que tem por conteúdo o agir humano.” Nesta
perspectiva o autor enfatiza que “a ciência não seria capaz de dar conta de um objeto tamanhamente
complexo, como é o objeto da ética.[...]” (2004, P.14), não conseguiria lidar com o seu aspecto especulativo.
VÁSQUEZ, defendendo a ética como uma ciência, elabora um debate acerca de tal problemática,
apresentando teorias que abarcam os dois lados da questão, a ética como filosofia e a ética como ciência.
Para encerrar a contenda ele afirma que “a ética científica está estreitamente relacionada com a filosofia,
embora, como já observamos, não com qualquer filosofia; e esta relação, longe de excluir o seu caráter
científico, o pressupõe necessariamente quando se trata de uma filosofia que se apóia na própria ciência”.
Diante deste posicionamento, as definições de ambos os autores, ao invés de se contradizerem podem se
complementar.
Apesar da importância desta contenda não há pretensão, no presente trabalho, de uma abordagem
aprofundada acerca da mesma. Basta, para o momento, esclarecer sob qual perspectiva tratar-se-á a “ética”.
Ela será analisada como uma teoria1 que se ocupa com o estudo do comportamento moral do homem.
Neste diapasão ressalta-se que todas as teorias éticas, explicando as morais efetivas de cada época e em cada
espaço, sempre tem a mesma preocupação: a busca da definição do BOM para ser seguido como
comportamento moral pelos homens. (VÁSQUEZ, 1975, p.7).
Assim, “as doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de
mudança e de sucessão que constitui propriamente a sua história” (1975, p. 235). Assim, o que muda
historicamente não é o conceito da “ética” em si, mas o valor que as teorias éticas atribuem ao “BOM”
durante a história. (VÁSQUEZ ,1975, p.7).
Desta forma, vários teóricos e filósofos ao investigarem o “BOM” deram-lhe uma definição apropriada
ao contexto sócio-histórico e claro, moral, da época. Por isso o “BOM” já assumiu e ainda assume diferentes
valores, como: “felicidade”, “amor”, “prazer”, “poder”, “solidariedade” etc. (VÁSQUEZ, 1975, p.8).
Neste sentido, podemos interpretar as colocações de BITTAR ao dispor que “as concepções éticas de
povos, civilizações, gerações...alteram-se ao sabor dos tempos. Não há uma única ética2 para todos os povos
em todos os tempos; toda construção ética se opera de acordo com a axiologia de uma cultura e de um
tempo” (004, p.21) (grifo nosso).
Para compreender melhor a essência da “ética” deve-se compreender em que consiste o seu objeto de
estudo, a moral.
Para COTRIM a “moral é o conjunto de normas, que orientam o comportamento humano tendo como
base os valores próprios a uma dada sociedade.” (2002, p.263).VÁSQUEZ, considerando o lado coletivo e
individual da moral, tentando uma definição que seja o mais abrangente possível propõe que a moral seja
compreendida como

[...] um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são


regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a
comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e
social, sejam acatadas de forma livres e conscientemente, por uma convicção
íntima, e não de uma maneira mecânica, externa e impessoal.( 1975, p.69)

Levando em conta o caráter histórico da própria moral, ou seja, tendo em vista que “em toda moral
efetiva se elaboram certos princípios, valores ou normas” e que estes mudam em conformidade com as
alterações sociais, a relação entre a ética e seu objeto de estudo – a moral - deixa explícito que com as
mudanças sociais e consequentemente morais, surgem novas teorias éticas.
Ressalta-se ainda, que a investigação teórica, sem dúvida, “ não deixa de ter conseqüências práticas,
porque ao se definir que é bom, se está traçando um caminho geral, em cujo marco os homens podem
orientar a sua conduta nas diversas situações particulares” (VÁSQUEZ, 1975, p.8). Assim, a ética acaba
também influenciando a moral.
Do exposto confirma-se não só a diferença conceitual entre “ética” e “moral”, mas também a relação
intrínseca entre ambos, permitindo uma análise que transcenda ao senso comum e um debate exclusivamente
acadêmico.

1
Recorda-se a existência do embate entre as teorias da ética objetiva e do relativismo ético.
2
Para compreender melhor podemos dizer que não há uma única teoria ou doutrina ética.
2. O PARADIGMA DIGITAL3

Desde a era primitiva a sociedade passou por muitas transformações, assumindo feições diferentes em
cada fase. É sob esta perspectiva que se afirma a existência de diferentes paradigmas4 ou modelos sociais5.
A passagem de um modelo social para outro consiste em um processo desencadeado por revoluções
tecnológicas que levam a períodos de transição - que tem sido cada vez mais acelerados. Estes períodos
caracterizam-se pela convivência concomitante da queda e desconstrução de conceitos, culturas, noções,
fundamentações, valores, sistemas econômico, de produção ou de desenvolvimento, político etc centrais e o
surgimento de novos fundamentos e instituições sociais em todos os âmbitos ora citados, que formam a base
da sociedade de uma determinada época.
Como já destacado em outra oportunidade6, no trânsito de um modelo social a outro, o antigo não é
radicalmente substituído pelo novo. O elemento central deste substitui o elemento central daquele, que não
desaparece, continua existindo e atuando na sociedade. (DE MASI, 2000, p.29).
A sociedade enfrenta, desde a segunda metade do século XX, um destes períodos. Ela saiu de um
modelo social consolidado desde as Revoluções Industrial e Francesa e entrou em um processo de transição
paradigmática a partir da Revolução da tecnologia da informação7, assim denominada por CASTELLS
(1999, p.25).
Diante deste quadro a humanidade vive uma situação de incertezas, indefinições e transformações
características da transição. Neste contexto configura-se, desde a década de 70, a crise da modernidade, que
se caracteriza como a “queda” de um modelo social criado na era industrial (DE MASI, 2000, P.27), ou , em
outras palavras, como o esgotamento das sociedades industriais que já tinha sido apontado por teóricos
como BELL e TOFFLER na década de setenta (CANUT, 2007, p.31)
Não se pode negar que todas estas mudanças são irreversíveis e profundas. E que, apesar das incertezas
quanto ao elemento central da nova sociedade, ou seja, acerca de qual será o elemento a substituir a
produção industrial (DE MAIS, 2000, p.30), já se destacam alguns traços e marcos característicos do novo
paradigma social, como o ciberespaço e a linguagem digital.
CASTELLS vai além, complementa a dúvida de DE MASI sobre o processo que viria substituir o
industrialismo, afirmando que este, na era digital, perde espaço para e um novo modelo de desenvolvimento
denominado informacionalismo. Ressalta-se então, que o modo de produção, continua sendo o capitalismo.
(1999 , p.32,33).
O mesmo autor destaca, ainda, como principais elementos desta nova era, por ele denominada
“sociedade em rede”: globalização, reestruturação do capitalismo, formação de redes organizacionais,
cultura da virtualidade real e primazia da tecnologia”. Assim, tentando configurar o novo modelo social ele
aponta cinco características do mesmo: 1) a informação é sua matéria-prima; 2) os efeitos do novo meio
tecnológico penetram em todas as atividades humanas; 3) a lógica de redes para todos os tipos de
organização; 4) flexibilidade das instituições, dos processos e das organizações, que podem ser modificados
e reorganizados; 5) convergência de tecnologias da informação para formação de um sistema integrado.
(CASTELLS, 1999 , p.78,79).
Sem dúvida alguma, no modelo de sociedade emergente a informação e o conhecimento tornam-se as
principais fontes de riqueza, substituindo o valor central atribuído à propriedade como riqueza nos
paradigmas anteriores.
Tudo isto afeta a sociedade em seus mais diversos âmbitos. A noção de tempo e de espaço sofre
alterações marcantes, falando-se hoje em “espaço de fluxos” e em um “tempo intemporal” (CASTELLS,
1999 , p.398) ou ainda “num mundo temporal interdependente, [...]”, em que a humanidade se liga mais “ao
tempo que ao espaço” (RIFIKIN, 2001, p.171).

3
A justificativa pela preferência do termo “paradigma digital” a “paradigma virtual” pode ser encontrada em
CANUT, 2007, p. 47-49.
4
Para uma conceituação de paradigmas com base em Thomas Kuhn e Cancellier de Olivo vide CANUT (2207,
p.29).
5
Na obra “Proteção do consumidor no comércio eletrônico: uma questão de inteligência coletiva que
ultrapassa o direito tradicional” faz-se uma análise, no primeiro capítulo das revoluções tecnológicas e das
transições paradigmáticas, analisando assim a passagem do nomadismo à agricultura, da agricultura à indústria e
da indústria à informação e ao conhecimento (CANUT, 2007, p.28-52).
6
Na obra Proteção do consumidor no comércio eletrônico: uma questão de inteligência coletiva que
ultrapassa o direito tradicional” (CANUT, 2007)
7
Esta revolução é marcada pela criação do primeiro computador programável e do transistor. No entanto,
CASTELLS chama atenção para o fato de que só se fala no surgimento de um novo paradigma a partir dos anos
70, quando houve a convergência das tecnologias da informação (1999 a, p.25;58).
A questão laboral, que fora profundamente alterada na passagem da era feudal para a moderna ou
industrial, sofre, novamente, mudanças fundamentais. Na Era Digital, o debate sobre o trabalho não pode
ater-se, única e simplesmente, à preocupação da substituição do homem pela máquina. Deve-se levar em
conta, também, a exigência de ampliação de capacidade intelectual dos trabalhadores e a redução do tempo
necessário de trabalho (DE MASI, 2000, p.55).
Evitando delongas na citação de exemplos das alterações marcantes provocadas pelo novo modelo de
sociedade emergente e, assim, pelo ciberespaço, ressalta-se que não restam dúvidas de que todas as
mudanças ora citadas, principalmente as relativas às características da Era Digital, afetam cada vez mais os
indivíduos em seu dia-dia e em seu modo de viver8, levando à construção de um modelo de sociedade
radicalmente novo, pautado em bases, conceitos, valores e instituições novos que substituem (como já
abordado) os elementos centrais do modelo social anterior.

3. INTELIGÊNCIA COLETIVA: UM ELEMENTO DO CIBERESPAÇO E DA


CIBERCULTURA
Sem adentrar nos grandes debates sobre o tema pode-se afirmar que o ciberespaço9, marca fundamental
do paradigma emergente, consiste em um novo espaço de comunicação que surge em decorrência das novas
possibilidades viabilizadas pela Revolução da tecnologia da informação e da convergência destas
tecnologias. Este espaço, que se forma a partir da “interconexão mundial de computadores” e das
memórias destes, abarca, ao contrário do que se pode pensar, os sistemas comunicativos eletrônicos
responsáveis pela transmissão de informações digitais e a serem digitalizadas (LÉVY, 1999, p.92) e
apresenta três elementos essenciais: a internet, a cibercultura e a inteligência coletiva.
Na conceituação supra percebe-se um dos elementos do ciberespaço, qual seja, a internet10 ou rede
mundial de comunicação. Apesar de ser a maior interconexão de redes de computador do mundo ela não é a
única. A Rede mundial é o grande símbolo do ciberespaço. Por isso deve ser compreendida além das
definições tecnológicas, para que seja vista como um meio coletivo e interativo de comunicação que
viabiliza a originalidade na criação, nas relações sociais e na “navegação pelo conhecimento”( LÉVY,
1999, p.193) ( LÉVY, 1998, p.104).
A cibercultura11, como cultura característica do novo espaço de comunicação, possui como valor central
a constituição de um universal sem totalidade que se baseia em três princípios, que se identificam, aliás, com
os princípios orientadores do crescimento do ciberespaço: a interconexão, a criação de comunidades virtuais
e a inteligência coletiva ( LÉVY, 1999, p.15, 113, 118, 247, 127-128) .
Como toda cultura, ela está presente em toda parte (CHAUÍ, 1999, p. 295), influenciando todos os
setores e âmbitos da vida e ramos da atividade humana, apresentando como diferencial a abertura para a
alteridade.
Tendo em vista que a inteligência coletiva é “um dos principais motores da cibercultura” e um dos
“primeiros idealizadores e defensores do Ciberespaço” ( LÉVY, 1999, p. 208, 29) ocupa-se, a partir de
agora, em explicar em que ela consiste.
Inicialmente cabe esclarecer que ao abordar a “inteligência coletiva” estamos tratando de um projeto
que, se concretizado, viabilizaria as melhores potencialidades do ciberespaço.
A inteligência coletiva12 “é uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada,
coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva de competências” ( LÉVY, 1998, p.
26).
A primeira parte desta definição pode ser compreendida diante da idéia de que “ninguém sabe tudo,
todos sabem alguma coisa, todo saber está na humanidade”. Ao discorrer que a inteligência coletiva é
incessantemente valorizada, percebe-se que esta característica surge na tentativa de superar o desprezo,
inutilidade e ignorância com que a sociedade tem tratado a inteligência. ( LÉVY, 1998, p.27).

8
Apesar deste trabalho não se ocupar com os desafios da nora era, destaca-se, dentre outros, a necessidade
superação da exclusão digital (tema tão polêmico num país como o Brasil) para que realmente este paradigma
emergente se efetive.
9
Para uma análise mais aprofundada sobre o ciberespaço, vide CANUT, 2007, p.52-76 e CANUT, 2004.
10
O conceito, surgimento e características da internet podem ser analisados em CASTELLS, 1999 e CANUT,
2007, p.56-63.
11
O seu conceito e características também podem ser analisados em LÉVY, 1999 e CANUT, 2007,
12
O tema sobre inteligência coletiva pode ser verificado de forma específica e aprofundada em LÉVY,1998 e
CANUT, 2007.
A sua coordenação em tempo real relaciona-se à existência do próprio ciberespaço, que permite as
interações entre os coletivos inteligentes desterritorializados. Já a mobilização efetiva de competências diz
respeito, inicialmente, à identificação e reconhecimento das competências “em toda a sua diversidade”. Esta
perspectiva trata da importância da inteligência do outro, levando em conta que não existe “um” saber e sim
vários saberes. Assim, ao valorizar o outro se permite o despertar subjetivo para projetos coletivos.
(LÉVY, 1998, p.27,28).
Para que haja inteligência coletiva há necessidade da existência de coletivos inteligentes, que só se
formam diante de um objeto-ligação. Este deve ser comum para todos os membros do grupo, no entanto,
apesar desse sentido de unidade, o objeto é visto por cada um de seus membros sob uma perspectiva própria.
Desta forma, o objeto-ligação é mantido na medida em que todos do grupo o mantêm, e o coletivo
inteligente só se forma ao fazer circular o objeto entre seus membros (LÉVY, 1996, -.130,131). Neste
coletivo “a comunidade assume como objetivo a negociação permanente da ordem estabelecida, de sua
linguagem, do papel de cada um, o discernimento e a definição de seus objetos, a reinterpretação de sua
memória. [...]” (LÉVY, 1998, p.31) .
Deve-se observar, também, que o projeto de inteligência coletiva surge a partir de processos de
cooperação competitiva (LÉVY, 2003, p.88,89), devendo ser atingido o equilíbrio entre ambos os aspectos
(cooperação e competição ) (Revista FORUM, 2002). Neste sentido retoma-se um exemplo dado por LÉVY,
ao afirmar que

os cientistas devem seu sucesso somente à capacidade de interessar outros cientistas.


Esse sucesso é frequentemente mensurado em número de citações. A citação é uma
unidade de medida interessante porque ela depende unicamente da vontade dos
outros. Um cientista não cita um colega senão porque essa citação lhe serve, de uma
forma ou outra. O| mais citado é aquele que membros da comunidade científica
julgam servir-lhes mais. O mais competitivo é assim o mais cooperativo. (2003,
p.103).

Diante destes posicionamentos verifica-se que a inteligência coletiva possui como marca a
“fecundidade” que se baseia na criatividade viabilizada pela “abertura máxima do espaço dos possíveis e a
escolha dentro do maior número de eventualidades”. Assim, ela abandona as dicotomias absolutas entre o
verdadeiro e o falso, o bem e o mal e, participando, ao mesmo tempo, dos processos de competição
cooperativa, significa a “expansão da consciência, uma manifestação do poder criador da vida”. (LÉVY,
2003, p.100, 101)
Este projeto não consiste em nenhuma novidade e assume diferentes faces13. No presente trabalho,
inspirado na obra de Pierre Lévy, aborda-se uma faceta de caráter humanístico que se preocupa com o
desenvolvimento e emancipação das pessoas supondo o abandono da perspectiva do poder14 (LÉVY, 1999,
p.131, 200, 211) e implicando em uma tecnologia, uma economia, uma política e uma ética. (LÉVY, 1998,
83).
Assim, para que o ciberespaço e a cibercultura tenham suas melhores potencialidades exploradas, faz-
se necessário a concretização do projeto de inteligência coletiva.

4. POR UMA CONCLUSÃO: A ÉTICA NO PARADIGMA DIGITAL


O novo paradigma social, o digital, apesar de emergente, já apresenta alguns traços marcantes. Dentre
eles destacou-se o ciberespaço que possui como elementos a internet, a cibercultura e inteligência coletiva.
Verificou-se que esta é fundamental para a cibercultura e para o próprio ciberespaço e que ela implica em
uma ética.
Após a análise do significado da palavra “ética”, no primeiro tópico deste trabalho, podem-se levantar
as questões que envolvem este tema e o novo paradigma.
Se, como foi explicitado, a ética é a teoria que estuda o comportamento moral do homem na intenção de
indicar o BOM como caminho a ser perseguido pelos homens de uma determinada sociedade, e que a moral
consiste no conjunto de valores e de regras que controlam o grupo social, devendo ser aceitas de maneira
livre e consciente pelos indivíduos, pode-se dizer que a inteligência coletiva surge como um valor moral

13
Esta questão pode ser verificada em CANUT, 2007, p.73,74 e em LÉVY, 1999, p.131.
14
Recorda-se que o abandono da perspectiva do poder é característico da internet, e assim do ciberespaço, que
apresenta como características: uma estrutura aberta; caráter transfronteiriço; caráter ‘universal’ e interativo
(LORENZETTI, 2004,p.25).
supremo no paradigma digital e consequentemente como base para uma nova teoria ética, que por sua vez
influenciará nos comportamentos morais.
A presença da inteligência coletiva, como valor moral, pode ser verificada no novo modelo social
diante:
1) do surgimento da WWW15 ou World Wide Web16, tendo em vista que ela se desenvolveu em
decorrência da existência de um coletivo inteligente que se forma e se mantêm em função de um objeto-
ligação comum, a WWW, que é visto por cada membro do grupo de uma forma e
2) da existência de um processo de competição cooperativa, tendo em vista que quanto mais os
membros do grupo competem uns com os outros, ou seja, quanto mais cada um deseja demonstrar que o seu
desempenho e trabalho são melhores, mais os aplicativos e funções da WWW se aperfeiçoam,
demonstrando enfim, que esta competição leva à cooperação.
Assim, a presença deste projeto é verificada e confirmada quando se trata do software livre e da “ética
hacker”17
Para propor uma ética, ou seja, uma teoria ética, baseada na inteligência coletiva deve-se retomar a idéia
de que ela ultrapassa as dicotomias entre bem e mal, verdadeiro e falso, caracterizando-se como

uma ética do melhor, mais que a uma moral do Bem. Estático, definitivo, fora de
contexto, o Bem impõe-se a priori acima das situações, ao passo que o melhor (o
melhor possível) é situado, relativo, dinâmico e provisório. O Bem não varia, o
melhor difere em toda parte. O Bem contrapõe-se ao Mal, ele o exclui. Já o melhor
‘compreende’ o mal, uma vez que, logicamente equivalente ao mal menor, contenta-
se em minimizá-lo.(LÉVY, 1998, p.208).

Diante destas colocações, buscando uma conexão e adequação entre estes pensamentos e os conceitos de
“ética” e “moral”, já abordados, recorda-se que toda teoria ética busca a definição do BOM ou BEM para ser
seguido como comportamento moral pelos homens (VÁSQUEZ, 1975, p.7) e que a diferença de uma teoria
para outra é o valor atribuído ao BOM ou BEM18.
Desta forma, pode-se dizer, modificando em alguns pontos as colocações de LÉVY, que a ética da
inteligência coletiva aborda o próprio BOM ou o BEM como algo dinâmico e não estático, definindo-o
como a busca do melhor dentro de um campo aberto de possibilidades ou potencialidades. Assim, o BEM
que os homens tentam alcançar consistiria sempre na busca do melhor, este é o valor atribuído ao BEM,
sendo que o “melhor” sempre sofrerá flutuações de sentido em cada situação e lugar, já que, como
leciona LÉVY,. “o melhor (o melhor possível) é situado, relativo, dinâmico e provisório”, variando por toda
parte (1998,p. 208).
É importante não esquecer que a busca do “melhor possível” ora destacada ocorre num contexto
próprio de inteligência coletiva que, dentre todas as características já abordadas no tópico anterior, abandona
a perspectiva do poder, permitindo decisões horizontais tomadas por coletivos inteligentes que se ocupam
com um mesmo objeto-ligação, por meio de processos de cooperação competitiva.
A ética baseada na inteligência coletiva, como a ética de uma nova cultura, de um novo tempo e espaço,
ao definir o BEM como a busca do melhor possível, influenciará o comportamento moral dos indivíduos e
tornará possível a concretização do próprio projeto da inteligência coletiva que permitirá, como já se
abordou no tópico anterior, a exploração das melhores potencialidades do ciberespaço e da cibercultura.

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15
Um dos aplicativos mais importantes da Internet, ao lado do correio eletrônico.
16
Vide LÉVY, 1999, p.199.
17
Sobre ética hacker vide HIMANEN, 2001.
18
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Andréa Glock
Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Florianópolis, SC – Brasil
aglock@egc.ufsc.br

Sandro Rautenberg1,2
1
Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Florianópolis, SC – Brasil
2 Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
srautenberg@egc.ufsc.br

Ricardo H. Guembarovski
Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A. – CELESC

Hugo Cesar Hoeschl


Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Florianópolis, SC – Brasil

José Leomar Todesco


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Florianópolis, SC – Brasil
tite@inf.usfc.br

Fernando Ostuni Gauthier


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Florianópolis, SC – Brasil

RESUMO
O Governo Eletrônico (e-Gov) vem se evidenciando-se como uma das mais importantes instituições surgidas no novo
milênio. A sua participação popular na gestao pública vem ampliando consideravelmente a participação popular na gestão
pública. E-gov pode ser definido como a gestão do poder público, dinamizada pela introdução da tecnologia da
informação em seu âmbito, com vistas à ampliação do espectro da cidadania em função da possibilidade de agilização e
transparência na gestão interna. O e-Gov pode ainda permitir uma melhor integração com a população e o mercado. A
interner, inegavelmente, é um dos grandes instrumentos do e-Gov; porém, ao mesmo tempo em que aproxima o cidadão
da gestão e dos serviços públicos, o problema do acúmulo de informações e a dificuldade de análise destes dados
aumenta. Neste contexto, a aplicação de ontologias como ferramenta de auxílio na recuperação de informações vem
demostrando ser a melhor solução para este problema. Este artigo contribui na contraposição da assertiva discutida em
RIFAIEH & BENHARKAT (2006), onde se menciona que as organizações não empregam ontologias por, entre outros
motivos, duvidarem da maturidade das tecnologias ontológicas e suas aplicações. Para tanto, este estudo discute dois
exemplos de tecnologia: o SNOBASE como Sistema Gerenciador de Ontologias proposto pela IBM e o Ontoweb como
ferramenta de busca semântica no âmbito do e-Gov. Estas ferramentas estão em fase de maturação e podem, atualmente,
contribuir com as aplicações no campo da Gestão do Conhecimento, recuperando e gerenciando informações de forma
mais relevante.

PALAVRAS-CHAVE
Ontologias, Recuperação de Informações, Gestão do Conhecimento, SNOBASE, Ontoweb, e-Gov.
1. INTRODUÇÃO
O fenômeno do Governo Eletrônico foi concebido como forma de modernização na relação entre o Estado, o
cidadão e a empresa, na perspectiva de que o fluxo de informações entre as partes pode ser facilitado através
do uso das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC), principalmente com a disseminação da
internet, ferramenta fundamental para este processo.
Ocupando um espaço cada vez maior no dia-a-dia da população, o e-Gov tornou-se o futuro da
democracia. Através da ampliação da cidadania, da agilização e transparência na gestão interna e da
integração de serviços, a idéia de Governo Eletrônico vem consolidando-se cada vez mais à medida que a
utilização da internet se propaga. Apesar de todas as facilidades prometidas nesta forma de governo, o
crescimento da internet em grande escala trouxe à tona a problemática da pesquisa e da recuperação de
informações, haja vista a quantidade de documentos que podem ser encontrados na rede. Muitas vezes a
informação solicitada não retorna de maneira qualitativa, e sim quantitativa, com resultados não
significativos e, muitas vezes, confusos. A falta de padronização no processo de compartilhamento das
informações contribui significativamente nessa carência na qualidade das buscas, indo de encontro ao
conceito de transparência instituído pelo e-Gov.
Em meados dos anos noventa, a pesquisa sobre ontologias se tornou um tópico comum às comunidades
de Inteligência Artificial, incluindo a Engenharia do Conhecimento, o Processamento de Linguagem Natural
e a Representação do Conhecimento. Mais recentemente, a noção de ontologia se tornou comum como
campo de emprego de integração de informação inteligente, recuperação de informação e Gestão do
Conhecimento. Isso se deve, em grande parte, pelo que se vislumbra com o emprego de ontologias, ou seja,
um entendimento comum e compartilhado de algum domínio que deve ser comunicado entre pessoas e
computadores, (DUINEVELD et al, 2000).
Nesse sentido, TEMPICH (2006) afirma que ontologias são usadas para melhorar a qualidade de
comunicação entre computadores, entre humanos e computadores, e entre humanos.
Para RIFAIEH & BENHARKAT (2006) existem inúmeras atividades dentro das organizações que são
desempenhadas de modo insatisfatório. A pesquisa efetuada na web, a organização e o compartilhamento de
conhecimento, o apoio à tomada de decisão, enfim, a Gestão do Conhecimento, ainda é um desafio
enfrentado no mundo corporativo. Diante deste desafio, as ontologias surgem como a principal alternativa
para viabilizar um ambiente de conhecimento. A partir das ontologias, o conhecimento associado às diversas
áreas de domínios é representado, suportando as atividades de compartilhar, deduzir e inferir. Por outro lado,
e de interesse ao objetivo do presente trabalho, os autores também expressam que existe uma rejeição quanto
à utilização das ontologias nas organizações: os especialistas em Tecnologia da Informação (TI) e os
executivos apresentam uma espécie de temor à adoção de ontologias, visto que existem poucas ferramentas
de suporte e utilização de ontologias disponíveis no mercado, ou poucos exemplos corporativos de utilização
gerando certa “fobia” quanto à utilização.
Diante disso, este trabalho tenta ajudar na superação parcial do temor apontado anteriormente,
clarificando informações sobre o contexto de utilização de ontologias e exemplificando, com ferramentas
tecnológicas de suporte, que soluções baseadas em ontologias já podem ser desenvolvidas de forma
customizada para um ambiente de Governo Eletrônico. Para tanto, é abordado sucintamente o conceito de
ontologias e o seu contexto de utilização. Também são apresentados exemplos de ferramentas que dão
sustentação ao desenvolvimento de ontologias, tentando desmitificar o temor apontado anteriormente. Neste
caso, são abordados o Semantic Network Ontology Base (SNOBASE) da IBM como um Sistema Gerenciador
de Ontologias e o OntoWeb do Instituto Ijuris como ferramenta web de recuperação de informação
semanticamente enriquecida focada em e-Gov.
2. DEFINIÇAO DE ONTOLOGIAS
Ontologia é um termo originado no campo da Filosofia (grego ontos+logoi = "conhecimento do ser"),
recentemente incorporado à Ciência da Computação como paradigma de representação do conhecimento na
Inteligência Artificial, (KIRYAKOV, 2006). Como paradigma de representação do conhecimento, uma
ontologia pode ser definida como uma especificação formal e explícita de uma conceitualização
compartilhada (GRUBER apud DUINEVELD et al, 2000). Nesse sentido, entende-se que a palavra
conceitualização se refere a um modelo abstrato de um fenômeno no mundo onde se deve identificar os
conceitos relevantes; explícita significa que o tipo de conceito usado e as restrições dos conceitos são
explicitamente definidos; e formal refere-se ao fato de que uma ontologia deveria ser computável. Já o termo
compartilhada, reflete a noção de que uma ontologia captura o conhecimento consensual isto é, não é
privado, a alguns indivíduos, mas aceita por um grupo (STUDER et al 1998).
Matematicamente, uma ontologia é um relacionamento de quatro elementos, representado por
O = C, R, I, A onde, de acordo com Kiryakov, 2006:
i. C: é o conjunto de classes que representam os conceitos com os quais se pretende raciocinar,
em um dado domínio;
ii. R: é o conjunto de relações ou associações entre os conceitos do domínio;
iii. I: é o conjunto de instâncias derivadas das classes, ou ainda, os elementos ou indivíduos
representados em uma ontologia.
iv. A: é o conjunto de axiomas do domínio, que servem para modelar sentenças, sempre resultando
em um valor-verdade.
De acordo com GUARINO (1998), ontologias são classificadas em (Figura 1):
• Top-level ontologies: ontologias de alto nível que descrevem conceitos gerais como espaço,
tempo, matéria, objetos, eventos, ações, etc.; estes são conceitos independentes de um problema ou
domínio particular. Porém parece razoável, em teoria, haver ontologias deste tipo disponíveis para
uma grande comunidade de usuários.
• Domain ontologies and task ontologies: uma ontologia de domínio descreve os elementos
(termos) genéricos de um domínio (por exemplo, o termo doença, em medicina). Já uma ontologia
de tarefa representa o conjunto de ações desempenhadas sobre um domínio (ex: diagnosticar, em
medicina). A descrição é possibilitada pelo fato de especializar os termos introduzidos em
ontologias de alto nível.
• Application ontologies: ontologias de aplicação descrevem conceitos que dependem
mutuamente de ontologias de domínio e de tarefa. Uma ontologia de aplicação geralmente é uma
especialização das duas ontologias, sendo que seus conceitos geralmente correspondem a papeis
desempenhados por entidades do domínio enquanto executam uma atividade.

Figura 1. Tipos de ontologia, de acordo com seu nível de dependência, (GUARINO, 1998).
Outra forma de classificar ontologias pode ser realizada pelo tipo de linguagem de representação utilizada
e os elementos da ontologia, ou seja, classificar uma ontologia pela expressividade e pelo formalismo. Nesse
sentido, têm-se, (GOMÉZ-PERÉZ & CORCHO, 2002):
• Lightweight ontologies: são ontologias que modelam informação de um determinado domínio
(conceitos e sua taxonomia), sem incluir axiomas e restrições. Esse tipo de ontologia não requer um
nível de expressividade elevado o que, por outro lado, dificulta o processo do raciocínio.
• Heavyweight ontologies: são ontologias que requerem um alto nível de expressividade para
incorporar axiomas e restrições, facilitando os processos de inferência neste tipo de ontologia. Nesse
contexto, a utilização de linguagens padrão XML (ex: RDF, OWL) é pertinente.

Nessa seção discutiu-se brevemente o que são ontologias e como se dá a sua classificação como
elementos balizares ao contexto de utilização de ontologias, o qual será apresentado na seção a seguir.

3. CONTEXTO DE UTILIZAÇÃO DE ONTOLOGIAS


No atual contexto da Sociedade do Conhecimento, STUDER et al (2000) enumeram o crescimento da
Internet como infra-estrutura de compartilhamento de conhecimento e o conhecimento como fator chave de
produção nas organizações como elementos impulsionadores de práticas da disciplina de Gestão do
Conhecimento, bem como ferramenta indispensável para o funcionamento das atividades de Governo
Eletrônico. Nesse cenário, segundo os autores, ontologias desempenham um papel central como meio de
representação do conhecimento. MIKA & AKKERMANS (2005) são mais específicos e citam que
ontologias podem ser utilizadas em três processos-chave de Gestão do Conhecimento: comunicação,
integração e raciocínio, sendo:

• Comunicação: as ontologias facilitam a comunicação por promover o senso comum de


entidades de um domínio permitindo, por exemplo, grupos de trabalho cooperarem eficientemente na
realização de tarefas, diminuindo mal-entendidos.
• Integração: ontologias podem incrementar o modo de navegar, pesquisar em ambientes onde o
conhecimento é disperso em fontes não estruturadas e/ou heterogêneas, como documentos, correio
eletrônico (emails), web pages, entre outras.
• Raciocínio: representa o caso mais complexo do uso de ontologia. Enquanto no processo de
comunicação se está preocupado em relação a quais conceitos estão presentes no domínio e o
processo de integração se preocupa com a forma de relacionamento entre os conceitos, no processo
de raciocínio deve-se explorar a razão por que estes conceitos se relacionam. Em outras palavras,
através de regras e princípios de certo domínio, o raciocínio é a capacidade de gerar conhecimento
novo a partir do que já se conhece.

Na realidade expressa em RIFAIEH & BENHARKAT (2006) existe um grande esforço para adequar a
evolução das ontologias segundo requisitos e objetivos das organizações, sejam elas governamentais ou
privadas. Desde o seu surgimento nos anos 90, ainda como uma alternativa para representação de
conhecimento, as ontologias evoluíram significativamente. Porém, ainda verifica-se um número pequeno de
ferramentas e sistemas que se aventuram a utilizá-las. Isso é reforçado por uma pesquisa 1 de tendência de
tecnologias, a qual aponta as principais realidades tecnológicas junto à TI. Segundo a pesquisa, há um
histórico de pouca utilização de ontologias nas organizações, onde mais de 70% das empresas não alocaram
os seus investimentos em taxonomias/ontologias devido ainda ao descrédito associado ao retorno sobre o
investimento (KNOX et al 2003 apud RIFAIEH & BENHARKAT 2006).

1
Market Research Firm Gartner (http://www4.gartner.com/Init)
Neste prisma, RIFAIEH & BENHARKAT (2006) apontam que o trabalho conjunto entre engenheiros de
ontologias, cientistas e desenvolvedores, para criar taxonomias, conceitos e relacionamentos; envolve muito
investimento associado a riscos.
Quando um determinado domínio requer categorias e conceitos que constantemente se alteram, isto
implica em processos equivocados e trabalho excessivo.
As organizações necessitam adotar novas arquiteturas e conceber seus sistemas de modo diferenciado de
como isso é feito atualmente. Facilmente se verifica que a utilização de ontologias aprimora tarefas de busca,
pesquisa, integração, compartilhamento e reuso de informações (ou conhecimento), através de ferramentas
que investem nesta tecnologia.

4. SNOBASE - SISTEMA GERENCIADOR DE ONTOLOGIAS


Tendo em vista que o advento da Internet pode ser considerado infra-estrutura de compartilhamento de
conhecimento, segundo DUINEVELD et al (2000) existe uma necessidade significativa de se criar/empregar
ferramentas amigáveis de suporte à construção de ontologias. Nesse sentido, o SNOBASE (Semantic
Network Ontology BASE), um esforço da IBM em direção à construção de um Sistema Gerenciador de
Ontologias é brevemente discutido a seguir. Ressalta-se que o SNOBASE pode ser empregado como parte de
uma infra-estrutura de construção e utilização de ontologias como meio de representação de conhecimento
organizacional, bem como de e-Gov.
LEE et al (2006) salientam que, tal qual um Sistema Gerenciador de Banco de Dados, um Sistema
Gerenciador de Ontologias deve ser uma camada independente, promovendo um nível de separação do
desenvolvimento de ontologias e a persistência de informações ontológicas. Desta forma, um Sistema
Gerenciador de Ontologias precisa atentar para questões como: modelo e projeto de ontologias, linguagens de
consulta, interface de programação, processamento de consultas e sua otimização, federalização das origens
de conhecimento, carga e indexação, suporte à transação, suporte à distribuição e suporte à segurança, entre
outras. Segundo os autores, estas questões estão diretamente ligadas ao ciclo de vida de uma ontologia nas
fases de criação, armazenamento, busca, consulta, reutilização, manutenção e integração com outras
ontologias.
Nessa visão, O SNOBASE é um Sistema Gerenciador de Ontologias que provê uma API
(Application Porgramming Interface), a JOBC (Java Ontology Base Connector). Como a API Java Data
Base Connector (JDBC), o JOBC provê uma interação baseada em conexões entre aplicações e ontologias,
(LEE & GOODWIN 2005). Cabe ressaltar que, computacionalmente, JOBC suporta linguagens baseadas no
padrão XML. A Figura 2 ilustra o esquema da arquitetura proposta para o SNOBASE, sendo os componentes
principais:

Figura 2 - Esquema de representação do SNOBASE, (Lee & Goodwin, 2005).


• Ontology Directory: provê os metadados das ontologias que estão disponíveis para o driver do
SNOBASE. Para cada ontologia, o diretório necessita armazenar a URI (Uniform Resource
Information), e adicionalmente armazenar informações sobre o conteúdo, para servir de auxílio na
otimização de consultas, assim como conter informações sobre o desenvolvimento da ontologia.
• Query Optimizer: permite às aplicações consultarem grandes bases de conhecimento, sem a
preocupação do que é ou não é carregado para a memória de trabalho. Como requisito adicional, o
Query Optimizer deve coordenar consultas que expandem múltiplas origens. A ressalva é que o
componente está em construção e deve ser adicionado a futuras versões.
• Inference Engine: provê um mecanismo para interpretar a semântica dos construtos de uma
linguagem de ontologias, representada como um conjunto de regras gramaticais específicas. As
regras são usadas para responder a consultas quando um fato requisitado não está imediatamente
disponível, mas precisa ser inferido de fatos disponíveis.

Figura 3: modelo de dados da tabela de fatos no SNOBASE.

• Database: provê uma arquitetura centralizada de banco de dados para armazenar e manipular
instâncias. Centralizando tais serviços é possível apropriar-se de vantagens consolidadas nos
Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados. Nessa solução, os fatos são armazenados numa tabela
relacional (Figura 3). Consequentemente, as regras são apresentadas em forma de triggers ou
gatilhos. Cabe ressaltar que, na tabela de fatos, estes são escritos como triplas, na notação conhecida
como N3 - verbo (sujeito, objeto). No momento em que um fato é inserido, alterado ou excluído da
tabela de fatos, um conjunto de gatilhos é disparado para manter a integridade das instâncias. Ainda
sobre a inserção de fatos, estes podem ser distinguidos como fatos afirmados ou derivados. Fatos
afirmados têm origem direta sobre a ontologia. Já os fatos que são inferidos (inseridos por gatilhos)
são denominados derivados. Computacionalmente, fatos derivados são percebidos na tabela de fatos
por incorporarem os índices (justification) dos fatos que os originaram.
• Ontology Source Connectors: provê um mecanismo para ler e escrever informações de uma
ontologia de modo persistente. A conexão mais simples é a conexão a um arquivo local.
Adicionalmente, poderão existir conexões para armazenar informações ontológicas em servidores
remotos. Outra forma de utilizar conexões é a implementação de cache remoto (num grid
computacional, por exemplo) para melhorar a performance e confiança.

Nesta seção se discutiu brevemente o SNOBASE como uma proposta de Sistema Gerenciador de
Ontologias. Tal gerenciador pode fazer parte de uma infra-estrutura de construção e utilização de ontologias
e, por incorporar elementos para o tratamento de linguagens baseadas no padrão XML, pode manipular
qualquer um dos tipos de ontologia discutidos preliminarmente. Na próxima seção se discutirá outra
ferramenta para o tratamento de ontologias, o Ontoweb, como solução comercial para manipulação de
ontologias no domínio do Governo Eletrônico.
5. ONTOWEB – FERRAMENTA DE RECUPERAÇÃO DE INFORMAÇÕES
ATRAVÉS DE ONTOLOGIAS DE DOMÍNIO
Mecanismos de busca são, por muitas vezes, limitados por: i) pobreza na indexação; ii) ranqueamento de
páginas de acordo com métricas inapropriadas; iii) ausência de palavras-chave em páginas relevantes; e iv)
inacessibilidade aos repositórios de informação distribuída e em diferentes formatos, como bases de dados.
Ao final de cada consulta nos mecanismos de busca se tem como resultado um grande conjunto de links que
precisam ser postos sob alguma ordem para capturar o conhecimento requerido (DOTSIKA & PATRICK,
2006). Em suma, a enorme quantidade e a variedade de documentos disponíveis na Internet tornaram-se um
desafio para todos aqueles que tentam recuperar informação sobre qualquer assunto. Este é um dos grandes
problemas que a Web Semântica vem tentando amenizar. Nesse sentido, esta seção discute o Ontoweb como
ferramenta de busca parametrizada, ou semanticamente enriquecida.
O Ontoweb é um mecanismo de busca disponível na Internet, que trabalha com técnicas de Inteligência
Artificial como Mineração de Textos e Raciocínio Baseado em Casos associados à Engenharia Ontológica,
(HOESCHL, 2006). Esta ferramenta utiliza semântica e estruturas valorativas para contextualizar as buscas e
refinar os seus resultados. O uso das ontologias de domínio é um dos principais pilares do sistema e é
também um dos maiores responsáveis pela alta qualidade nos processos de recuperação de informação. A
finalidade do Ontoweb é ser um instrumento de Gestão do Conhecimento, enfocando a disponibilização e a
fácil recuperação de informações. Atualmente, os exemplos de aplicação do Ontoweb se concentram em
soluções de gestão do conhecimento para Governo Eletrônico (HOESCHL, 2006). Como ressalva do
aplicativo, salienta-se que a ferramenta utiliza a linguagem padrão XML apenas como meio de representar
documentos-texto, sendo a persistência feita em banco de dados, caracterizando o tratamento de ontologias
do tipo lightweight.
Computacionalmente, existem duas atividades macro que garantem o funcionamento do Ontoweb: a
construção de ontologias de domínio e o processamento de consultas.
A elaboração das ontologias de domínio é manual e envolve a figura do Engenheiro do Conhecimento
para a construção de uma árvore de relacionamentos, num ambiente próprio (Figura 4).

Figura 4. Editor de Ontologias do Ontoweb.


A organização da árvore de relacionamento permite a definição dinâmica dos pesos das expressões de
acordo com a pergunta do usuário. São apresentados os campos com todas as relações disponíveis as quais,
segundo BUENO (2005), podem ser representadas através de:

• sinônimos: descrevem as relações entre expressões com o mesmo significado, dentro de um


mesmo domínio;
• tipo de (hipernímia e hiponímia): refere-se à conexão existente entre expressões, a partir da
qual se depreende uma relação de categoria e classe, ou gênero e espécie;
• parte de (meronímia e holonímia): determina uma idéia de fração e o todo, sendo mais
comumente encontrada na estrutura de organizações ou nos casos em que a descrição das partes é tão
relevante quanto à previsão do todo; e
• termos conexos: representam as conexões existentes entre termos fortemente relacionados que
não se enquadram em nenhum outro tipo de relação.

Exemplificando, a Figura 5 representa a construção da árvore de relacionamentos para a expressão “crime


organizado” dentro do Ontoweb.

Figura 5. Exemplo de ontologia (parcial) “Crime Organizado”. (BUENO, 2005)

Salienta-se que, na construção de ontologias, cada relação entre os termos recebe um peso diferenciado,
que será utilizado como base no cálculo da similaridade entre documentos no momento do processamento da
consulta.
No processamento de consulta, uma ontologia é utilizada em dois momentos dentro do funcionamento do
Ontoweb. No primeiro, ontologias auxiliam na persistência de instâncias de documentos, extraídas das
diferentes fontes previamente definidas. Ou seja, cada instância é indexada baseando-se nos termos e relações
definidos pelo Engenheiro do Conhecimento na ontologia em particular. Computacionalmente, o sistema
marca os documentos com todas as expressões indicativas encontradas no texto (emprego de técnicas de
Mineração de Texto), armazenando instâncias (ou casos, no âmbito do Raciocínio Baseado em Casos) de
maneira organizada na base de conhecimento.
No segundo momento, as ontologias são importantes na relação da análise disponível ao usuário. O
Ontoweb automaticamente extrai as informações relevantes da descrição em linguagem natural feita pelo
usuário no momento da consulta, e nos textos coletados na Internet. Com base nessa descrição em linguagem
natural, é gerada uma descrição formal através de índices para um caso específico. Esta descrição formal é
comparada com todos os casos armazenados na base, identificando os mais similares. Para calcular o valor de
similaridade em cada caso, um Dicionário de Ontologias é usado, fornecendo índices e expressões para a
valoração do grau de similaridade entre o texto de entrada e o texto na base de dados. Após cada caso da base
ser valorado, ele é ordenado de forma decrescente, de acordo com os pesos obtidos com a métrica de
similaridade, onde os valores de similaridade mais altos são considerados mais úteis pela ferramenta,
(BUENO, 2005). A Figura 6 ilustra um exemplo de busca no Ontoweb.

Figura 6. Exemplo de busca e resultado no Ontoweb.

6. CONCLUSÃO
Para que as ações de Governo Eletrônico atinjam seus objetivos é necessário, além de integração entre base
de dados, uma definição comum entre os domínios de conhecimento, com a finalidade de garantir a
transparência das informções colhidas na internet. Isto só é possível através da utilização de ontologias.
Este artigo tentou contribuir para a contraposição da assertiva discutida em RIFAIEH & BENHARKAT
(2006), os quais mencionam que a utilização de ontologias não é amplamente utilizada por, entre outros
motivos, duvidarem da maturidade de tecnologias ontológicas e suas aplicações. Este estudo discutiu, então,
dois exemplos de tecnologia: o SNOBASE como Sistema Gerenciador de Ontologias proposto pela IBM e o
Ontoweb como ferramenta de busca semântica em Governo Eletrônico. Tais exemplos de ferramentas estão
em maturação e podem, atualmente, contribuir para aplicações no campo da Gestão do Conhecimento e
principalmente no auxílio à Recuperação de Informações.
Como perspectiva futura, com a maturação das tecnologias de suporte como linguagens de representação
e a massificação da formação de Engenheiros do Conhecimento, as ontologias poderão atuar
significativamente nas tarefas de raciocínio (semi) automático. Isto também contribuirá para diminuir o
temor, quase não justificado atualmente, em relação ao uso de ontologias por parte de especialistas em TI
apontado em RIFAIEH & BENHARKAT (2006),. tornando o processo de Recuperação de Informações mais
confiável, seguro e relevante.

REFERÊNCIAS

BUENO, T., 2005. Engenharia da Mente: uma metodologia de representação do conhecimento para construção de
ontologias em sistemas baseados em conhecimento. Florianópolis: UFSC. Tese (Doutorado em Engenharia de
Produção).
DUINEVELD, A. J.; et al, 2000. “WonderTools? A comparative study of ontological engineering tools”. International
Journal of Human-Computer Studies, Volume 52, Number 6, June 2000, pp. 1111-1133.
GALINDO, F., 2006. Governo, Direitos e Tecnologia: As atividades dos poderes públicos. Ed. Thomson – Universidade
de Zaragoza – Espanha
GOMÉZ-PERÉZ, A.; CORCHO, O, 2002. “Ontology Languages for the Semantic Web”. IEEE Inteligent Systems,
Volume 17, Number 1, Jan-Fev 2002, pp. 54-60.
GUARINO, N., 1998. “Formal Ontology in Information Systems” In GUARINO, N. (eds.). Formal Ontology in
Information Systems. Amsterdam: IOS Press.
HOESCHL, H. C., 2006. Ontoweb: Ferramenta Informacional de Governo Eletrônico. Disponível em:
http://www.ijuris.org/blog/2006/02/ferramentainformacional.html
KIRYAKOV, A., 2006. Ontologies for Knowledge Management. In: DAVIES, J.; STUDER, R.; WARREN, P. (eds.).
Semantic Web technologies: trends and research in ontology-based systems. London: John Wiley & Sons Ltd, p. 116-
138.
LEE, J. & GOODWIN, R., 2005. “Ontology Management for Large-Scale E-Commerce Applications”. Proceedings on
Data Engineering Issues in E-Commerce, pp. 7-15, Abr.
LEE, J.; GOODWIN, R.; AKKIRAJU, R., 2006. Ontology Management for Large-Scale Enterprise Systems. In:
TANIAR; RAHAYU, J. W. (eds.). Web semantics and ontology. London: Idea Group Inc, p. 91-114.
MIKA, P.; AKKERMANS, H., 2004. “Towards a new synthesis of ontology technology and knowledge management”.
Knowledge Engineering Review, Volume 19 , issue 4, December 2004, pp. 317 – 345.
PAAR, A.; et al, 2005. “A Pluggable Architectural Model and a Formally Specified Programming Language
Independent API for an Ontological Knowledge Base Server”. Proceedings of the 2005 Australasian Ontology
Workshop, pp. 83-91, Dez.
RIFAIEH, R.; BENHARKAT, A., 2006. From Ontology Phobia to Contextual Ontology Use in Enterprise Information
Systems. In: TANIAR; RAHAYU, J. W. (eds.). Web semantics and ontology. London: Idea Group Inc.
STUDER, R.; et al, 1998. “Knowledge engineering, principles and methods”. Data and Knowledge Engineering, Volume
25, issue 1-2, March 1998, pp. 161–197.
STUDER, R.; et al, 2000. Situation and Perspective of Knowledge Engineering. In: J. Cuena, et al. (eds.), Knowledge
Engineering and Agent Technology. Amsterdam: IOS Press.
A GESTÃO DA INTELIGÊNCIA PARA A SEGURANÇA PÚBLICA
COMO UMA AÇÃO DE E-GOV: O CASO PAN2007

Glaucia Oenning
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas (IJURIS)
Santa Catarina, SC – Brasil
glaucia.oenning@ijuris.org

Thiago Paulo Silva de Oliveira


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Santa Catarina, SC – Brasil
thiago.paulo@ijuris.org

Aline Torres Nicolini


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aline.nicolini@ijuris.org

Sonali Molin Bedin


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Santa Catarina, SC – Brasil
sonali.bedin@ijuris.org

Tânia Cristina D`Agostini Bueno


Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas
Santa Catarina, SC – Brasil
tania.bueno@ijuris.org

RESUMO
O presente artigo visa apresentar o case de aplicação de Gestão de Inteligência nas atividades de
Segurança Pública do Pan Americano 2007, através da utilização de um Sistema de Inteligência Digital. O
software adquirido pela Secretaria Nacional de Segurança Públic - SENASP, foi desenvolvido com intuito
de dinamizar as tarefas diárias e minimizar o tempo na tomada de decisões do grupo designado para operar
no Centro de Inteligência dos Jogos. Foram mapeados 13 áreas temáticas tidas como relevantes no
combate e prevenção da criminalidade durante a realização do evento, que serviram de base para a
construção de ontologias.
Através de um treinamento no editor de ontologias, os profissionais dos órgãos de Segurança Pública
foram capacitados para fazer análises, visualizações textuais e gráficas das informações capazes de gerar
insumos para tomadas de decisão e investigações policiais. Impende destacar que apesar do software ter
sido desenvolvido para utilização pela equipe designada para atuar no Centro de Inteligência do Jogos,
após o evento servirá para contribuir na consolidação da inteligência organizacional na área de segurança
pública do Estado do Rio de Janeiro.

PALAVRAS-CHAVE
Segurança Pública, Inteligência Policial, Ontologias, Sistema Inteligente
1. INTRODUÇÃO
O cenário atual da Segurança Pública brasileira tem se caracterizado pelo empenho na
modernização dos órgãos atuantes com o uso da tecnologias inteligentes, no intuito de promover eficiência e
eficácia ao trabalho policial.
Estatísticas apontam, que as formas de atuação que até então eram eficientes, não estão mais
atendendo a demanda atual.
Observa-se que, para alcançar uma eficiente defesa social dos cidadãos, numa sociedade
moderna e globalizada, é imperativa a priorização na elaboração de estratégias tecnológicas e de análise
técnica das informações de segurança pública.
Nesse contexto, visando estruturar sobremaneira esse ramo de atividade e prevenir a
criminalidade durante o Panamericano 2007, a Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP, investiu
em um sistema de inteligência com tecnologias consolidadas cujo propósito é o armazenamento, análise e
difusão de informações relevantes.
A capacidade de estruturação do crime organizado leva a uma abordagem de investigações
criminais que precisam de ampla variedade de informações para surtir efeito. A velocidade da produção da
informação é essencial para o combate às novas e antigas formas de crimes praticados.
O caso apresentado nessas linhas versa, entre outros pontos relevantes, sobre a experiência da
capacitação dos profissionais selecionados para utlização da tecnologia desenvolvida para prevenção de
criminalidade e violência, com vários tipos de bases de dados e que possui vasta produção de informações
relevantes para a prevenção de crimes.
Durante o período de treinamento buscou-se focar na forma de alimentação do sistema com as
ontologias correspondentes as áreas de atuação da equipe, assim como demonstrar as funcionalidades do
sistema que permitem a busca textual e gráfica para elaboração de relatórios periódicos.

2. A GESTÃO INTELIGENTE DA SEGURANÇA PÚBLICA

Atualmente, no mundo inteiro, a gestão de segurança pública vem lidando com obstáculos cada
dia mais complexos, podendo-se dizer que, os métodos antigos da atividade policial, enfrentam situações
novas que nem sempre produzem efeitos satisfatórios na solução dos problemas.
A atividade dos órgãos de Segurança Pública precisa hoje lidar com aspectos dos atos
criminosos que seriam irreconhecíveis por profissionais da geração anterior.
Os recursos e circunstâncias da criminalidade cresceream vertiginosamente, assim como o
tamanho dos ganhos potenciais do crime. Sendo assim, as formas de percepção do comportamento criminal,
já não podem ser empregados de forma tão eficiente no combate aos atos ilícitos.
Por tudo isso, e para a sobrevivência das atuais instituições de Segurança Pública do país, é
imprescindivel a existência de uma moderna gestão da inteligência policial.
No entanto, para que essa modernização gere resultados de forma eficiente é preciso que os
agentes do órgãos envolvidos acreditem e se capacitem no processo de produção de conhecimento que a
inteligência policial enseja, confiando em suas avaliações e recomendações.
Importante obsevar que, a Inteligência policial é uma atividade que trata da busca e do
cruzamento de informações que possam dar origem a um planejamento eficaz. Resumindo, é saber o máximo
de dados sobre as organizações criminosas, as formas de agir, os locais, o poder de fogo, os pontos fortes e os
pontos fracos, com a finalidade de obter, analisar e disseminar o conhecimento que resulte no planejamento
de acões de combate ao crime.
Qualquer que seja o padrão adotado na atuação dos orgãos de Segurança Pública guiados pela
inteligência, tal modelo de gestão demanda forte comprometimento institucional, sendo preciso grande
esforço para superar velhas práticas e preconceitos.
3. E-GOV E SEGURANÇA PÚBLICA

A segurança pública é um serviço básico que o Estado deve oferecer à população e diante da
necessidade de otimizar esse serviço é que as autoridades policiais começaram a perceber a importância do
uso da tecnologia da informação como forma de combate a criminalidade.
Embora grande parte das polícias tenha preocupação apenas com as estatísticas, algumas tem
trabalhado com o potencial da informação para seja possível se antecipar aos criminosos e conhecer suas
formas de agir.
É por isso que as iniciativas de Governo Eletrônico, no âmbito da Segurança Pública, são tão
importantes, posto que oferecem amplas oportunidades no sentido de se melhorar a gestão da informação em
benefício de maior eficácia e eficiência do Estado. Dentre algumas das perspectivas acerca de Governo
Eletrônico, segundo Lenk & Traunmüller citado por JARDIM (2000) 1 destacam-se: a Perspectiva do
Cidadão, a Perspectiva de Processos, a Perspectiva da Cooperação e a Perspectiva da Gestão do
Conhecimento que visa a permitir ao Governo, em suas várias esferas, criar, gerenciar e disponibilizar em
repositórios adequados, o conhecimento tanto gerado quanto acumulado por seus vários órgãos.
Quando se fala na expressão Governo eletrônico não se deve limitar ao contexto "Internet".
Interessantes exemplos de institutos eletrônicos de governo são a urna eletrônica, os softwares inteligentes e
os simuladores, que prescindem da web para sua autonomia axiológica.
Assim, de início, já podemos perceber que "Governo Eletrônico" é um conceito que transcende
à noção de um site de uma esfera de governo.
Quanto à expressão “eletrônico” Hugo HOESCHL 2 expõe: “O sentido aqui conferido é o de
qualificativos digitais, ou seja, um governo qualificado digitalmente, por ferramentas, mídias e
procedimentos”.
Sem dúvida alguma, o sucesso de Governo Eletrônico anda, passo a passo, com o sucesso da
reforma do próprio Estado.
Diante desse quadro e do horizonte político que se aproxima, é imprescindível uma
modernização e emprego de tecnologias que possam ampliar a inserção dos conhecimentos e experiências na
prática cotidiana, de modo a propiciar mudanças significativas na “cultura informal” dos operadores de
segurança pública
E é justamente o que propõe o Sistema de Inteligência aqui mencionado.

4. O SISTEMA COMO GESTÃO DA INTELIGÊNCIA

A grande preocupação na prevenção da criminalidade no planejamento do esquema de


segurança dos Jogos foi a maneira de conseguir atender algumas exigências organizacionais mínimas para se
alcançar níveis razoáveis de eficiência na gestão de política de segurança de grandes eventos esportivos.
Sabe-se que uma política de segurança pública eficiente tem como pressupostos a articulação
interinstitucional, um planejamento sistêmico e utilização de mecanismos de gestão, como dados
qualificados, diagnósticos rigorosos, avaliação regular e monitoramento corretivo.
É imprescindível para alcançar um resultado concreto a realização de planejamentos
estratégicos de ações integradas, de forma contínua, interagindo com todos os órgãos de segurança pública
nas esferas federal, estadual e municipal.

1
PARREIRAS, T. A. S.; CARDOSO, A. M.; PARREIRAS, F. S. Governo eletrônico: uma avaliação do site da assembléia legislativa
de Minas Gerais. In: CINFORM, 5, 2004, Salvador. Anais... Salvador: UFBA, 2004. Disponível em
<http://www.fernando.parreiras.nom.br/publicacoes/egov_cinform.pdf>.

2
HOESCHL, H. C. Cenário evolutivo: o futuro do Governo Eletrônico. Revista Consultor Jurídico, 22 de outubro de 2002.
Percebe-se que a inteligência é o ponto nevrálgico da segurança pública, onde verifica-se uma
grande carência de capacitação dos profissionais, ausência de equipamentos modernos e, sobretudo, a falta
de trabalho de forma integrada.
Pensando em como extrair informações efetivamente relevantes de dentro de enormes massas
de dados e variados fluxos de comunicações, a SENASP adquiriu o sistema de Inteligência Policial que é
uma solução que integra informações a partir de um ou vários bancos de dados, auxilia na construção e
análise completa de dados, direcionando de forma adequada às necessidades dos Departamentos de
Inteligência. As informações podem ser construídas com base nos bancos de dados de fontes estruturadas dos
sistemas de Segurança Pública e fontes não estruturadas, como notícias via Internet, apresentações,
documentos externos, entre outros.
A finalidade da tecnologia implementada na Central de Inteligência dos Jogos foi a
consolidação de grande número de informações para cruzá-los com relatórios, dados de veículos e armas
comunicações monitoradas, para, com técnicas de inteligência artificial e redes de relacionamento, detectar e
identificar focos criminosos.
Considerando que a realização dos Jogos do Pan se deu em um curto espaço de tempo, foi
adotado um novo paradigma, onde os agentes atuantes da prevenção da criminalidade se viram obrigados a
antever e buscar soluções rápidas para uma extensa gama de problemas possíveis de eclodir durante o
acontecimento do evento, em contraposição a tradicional filosofia de policiamento reativo.

5. INFRA-ESTRUTURA: CENTRO DE INTELIGÊNCIA DOS JOGOS

Inaugurado em 1º de junho de 2007, na cidade do Rio de Janeiro, o Centro de Comando e


Controle foi criado para ser o Centro de Inteligência dos Jogos (CIJ) da Secretaria de Segurança do Rio,
centralizando todas as ações de segurança pública dos jogos Pan-Americanos Rio 2007.
Esta estrutura física que foi considerada como uma das mais avançadas da América Latina,
custou aproximadamente R$ 161 milhões 3 , servindo como uma referência para os órgãos do sistema de
justiça criminal no que pertine ao planejamento de uma política interna de comunicação e tomada de
decisões.
A central de inteligência reuniu informações produzidas pelo serviço reservado da Polícia
Militar (PM2) e pelo Centro de Inteligência da Polícia Civil (Cinpol), além de informações de delegacias,
batalhões da PM e Disque-Denúncia.
Para facilitar o trabalho dos agentes, o centro foi dividido em sete estações de trabalho, quais
sejam, Terrorismo, Crime Organizado, Grupos de Pressão, Distúrbios e Atos Públicos, Conjuntura
Internacional, Infra-Estrutura e Credenciamento.
Além desses, o setor de Análise de Mídia ficou responsável por acompanhar tudo o que foi
divulgado nos noticiários com finalidade de fornecer informações para as operações das forças de segurança
pública, de forma a identificar e tentar prevenir possíveis ameaças à ordem e à segurança da população.
O intrumento de apoio para análise de informações e processamento de relatórios foi um
software com grande capacidade de junção de dados.
Ressalta-se que, após a realização do evento, a estrutura continuará a ser usada pela área
operacional da Secretaria de Estado de Segurança (SESEG), e a intenção é que os softwares de análise
estatística, análise geográfica de informações e gerenciamento estratégico sejam disponibilizados para as
forças policias civil e militar do Estado do Rio de Janeiro.

5.1 Editor de ontologias


Um dos principais módulos do sistema é o editor de ontologias, destinado à definição dos
conceitos e contextos, que são utilizados pelas rotinas de Inteligência Artificial de outros módulos.
Para entender melhor, vale salientar que, quando utiliza-se um editor de ontologias 4 para ajudar
na recuperação da informação, o que se tem é um aproveitamento muito maior e uma maior relevância dos

3
Tribuna da Imprensa online. Disponível em http://www.tribuna.inf.br/anteriores/2007/julho/13/noticia.asp?noticia=pais10
4
BUENO, Tânia. et. al. Manual de Capacitação do Editor de Ontologias.
casos encontrados, pois, além de procurar por todos os sinônimos da expressão indicada: como por exemplo,
“tráfico de drogas”, o sistema também procura por todas relações semânticas referentes a ela.
Qual o motivo da diferença no resultado da busca?
No momento em que se representa o conhecimento somente baseado na expressão "tráfico de
drogas", ele fica adstrito a uma semântica literal. Se por outro lado, a representação do conhecimento se
baseia em uma “idéia” e um “conceito”, e que associa a “ação” (traficar) ao “objeto” (drogas), cria-se um
conjunto estruturado e organizado de palavras que representa melhor a realidade. Ou seja, um adequado
trabalho de construção de ontologias fixa a idéia e o conceito de uma “ação”, com um determinado “objeto”,
e garante uma boa posição também em outras situações, com outros critérios de busca, diferentes na
semântica, mas semelhantes na idéia, materializando uma ontologia orientada teleologicamente.
O editor de ontologias é uma estrutura que permite o relacionamento de termos complexos,
considerando seus conceitos no domínio específico da aplicação, permitindo a essa reconhecer o contexto de
documentos em análise.
É baseado nas ontologias que é feito todo o processamento, armazenamento das informações
coletadas e a organização da Base de Conhecimento, além de interferir de forma decisiva na qualidade da
resposta apresentada ao usuário. Elas participam ativamente de três momentos principais: a indexação dos
documentos, a recuperação destes nas interfaces de análise textual e gráfica e a sua própria manutenção por
meio deste módulo aqui descrito.
No primeiro momento a sistema identifica os documentos com todas as expressões indicativas
que forem localizadas no seu texto, armazenando-os de forma organizada na Base de Conhecimento. Assim,
é possível fazer uma pré-classificação dos registros de acordo com o que foi previsto na organização do
conhecimento promovida pelas ontologias.
Num segundo momento, as ontologias têm fundamental importância nas interfaces de análise
disponibilizadas ao usuário final do sistema. Aqui são identificadas as expressões indicativas descritas pelo
usuário que coincidem com aquelas previstas nas ontologias. As expressões indicativas que forem
identificadas determinam o fluxo da cadeia de relações a ser considerada pelo sistema na apresentação dos
resultados.
A dinamicidade da utilização das ontologias reside no fato de que quem determina a importância
das expressões indicativas a serem consideradas é o próprio usuário, no momento da descrição do texto para
pesquisa
E por fim, o editor de ontologias fica disponível no sistema, integrado a sua arquitetura, e
permite a atualização constante da base de conhecimento pela criação de novas expressões e relações não
previstas anteriormente.

5.2 Capacitação para utilização do editor de ontologias

Durante uma semana, integrantes de vários órgãos federais, estaduais e municipais que compõe o
Centro de Inteligência dos Jogos, designados para atuar nas atividades de Segurança Pública do Pan2007
receberam um treinamento especial para criação das expressões indicativas, utilização do editor de ontologias
e recuperação de informações, como um todo.
A capacitação teve por objetivo mostrar aos representantes dos 27 órgãos que integram o CIJ, quais
sejam, o SSP/SSINTE, CISPEN/SEAP, SENASP/RJ, PM2/PMERJ e Polícia Federal/CIJ, as funcionalidades
do sistema adquirido pela SENASP, que através do fluxo de informações e a integração entre as polícias
demonstrou como subsidiar as repressões qualificadas.
Considerando as inúmeras áreas de atuação da equipe, definiu-se uma série de domínios para
abranger toda a extensão de assuntos definidos como prioridade na prevenção e combate de crimes durante o
Pan, conforme demonstra figura abaixo.
Figura 1

O trabalho em sincronia desenvolvido durante a capacitação possibilitou a formação de uma base de


conhecimento fundamentada nas relações entre as expressões relevantes de um contexto, num ambiente
cooperativo de trabalho.
Para melhorar a eficiência do sistema a equipe foi capacitada para estabelecer uma rotina de
elaboração de relatórios, funções, processos e estruturas ágeis e adequadas ao cumprimento das metas e
diretrizes estabelecidas pelo Plano Nacional de Segurança Pública.
O conteúdo desenvolvido durante o treinamento foi: conceito de ontologias, representação do
conhecimento, sistema de Recuperação de Informação baseado em Ontologia, o compartilhamento do
conhecimento entre os especialistas do domínio, processo de elaboração do vocabulário controlado,
construção e expansão das relações, validação do termos e inserção no editor de ontologias.
A capacitação foi dividida em duas etapas: uma de Engenharia do Conhecimento 5 e outra de
Engenharia de ontologias, sendo que, aquela trata do processo global de desenvolvimento de Sistemas
Baseados no Conhecimento. Envolve uma forma especial de interação entre o construtor do sistema e um ou
mais especialistas no domínio em questão. Permite reconhecer oportunidades e gargalos nos processos de
desenvolvimento. O Engenheiro do Conhecimento é o ator responsável por compartilhar com os especialistas
seus procedimentos, estratégias e regras práticas para solução de problemas, e construir este conhecimento
em um sistema inteligente. O resultado é um programa que soluciona problemas à maneira dos especialistas
humanos. Nesta fase definem-se as regras para a extração automática do conhecimento, os atributos que
formam a representação dos casos, o contexto de aplicação e recuperação da informação e o modelo de
acesso e gestão da informação.
Por sua vez, na Engenharia de Ontologias 6 o processo de recuperação e a extração automática dos
índices relativos ao conteúdo jurídico dos documentos necessitam ser apoiado por uma estrutura que
relaciona termos complexos, considerando seus conceitos no domínio de conhecimento específico do
aplicativo, e permitindo que este reconheça o contexto dos documentos em análise. Desta forma, as
ontologias permitem definir o valor do índice mais útil para a recuperação de um texto, enfocando naqueles
requisitos da petição inicial que são fundamentais para a sua validade e também para o andamento
processual: nome das partes, pedido, a ação que está sendo proposta e o juízo competente para julgá-la.

5
BUENO, Tânia. et. al. Manual de Capacitação do Editor de Ontologias.
6
Idem
6. CONCLUSÃO
O case descrito procurou demonstrar a importância da Inteligência na seara da Segurança Pública,
mais especificamente no combate a criminalidade durante a realização dos Jogos panamericanos 2007.
O conjunto de funcionalidades do sistema inteligente aplicado aos contextos abordados foi um passo
inicial na revolução das formas de investigações visando a prevenção do crime, especialmente no que se
refere ao intercâmbio de dados, informações e conhecimentos relacionados às atividades das equipes dos
órgãos envolvidos na análise inteligente de informações.
Essa iniciativa de Governo Eletrônico, no sentido de se otimizar a gestão da informação em
benefício de maior eficácia e eficiência do Estado, resultou em um modelo de Segurança Pública que deverá
ser multiplicado em todos os estados brasileiros.
A equipe foi treinada utilizando especialmente o editor de ontologias no aprimoramento das
expresões indicativas, capazes de contribuir para a celeridade na análise e agregação de valor aos conteúdos.
O case aqui relatado pretendeu contribuir para estimular o desenvolvimento de novos e mais
aprofundados estudos, que venham a ampliar os conhecimentos sobre as iniciativas de gestão inteligente na
área de segurança Pública e as ações de e-gov nesse âmbito, que estão sendo realizadas em nosso país, para,
desta forma, facilitar e aprimorar o exercício da cidadania.

REFERÊNCIAS

HOESCHL, Hugo Cesar; BUENO, Tânia Cristina D' Agostini; BARCELLOS, Vânia; BORTOLON, Andre; MATTOS,
Eduardo da Silva. Olimpo System Web-Tecnology For Electronic Government And World Peace. In: 6TH
INTERNATIONAL CONFERENCE ON ENTERPRISE INFORMATION SYSTEMS, 2004, Porto. Proceedings of the
Sixth Internacional Conference on Enterprise Information Systems. Porto: Institute for Systems and Technologies of
Information, Control, and Communication, 2004. v. 2, p. 289-296.

HOESCHL, Hugo Cesar, DONATTI, Fabrício T., MATTOS, Eduardo da Silva. SANTOS, Cristina S., CASTELLA
Eduardo M. IDSeg – Sistema de Inteligência Digital para a Segurança Pública. In CONEGOV 2006.

JARDIM, José Maria; MARCONDES, Carlos Henrique. Políticas de Informação Governamental: a construção de
Governo Eletrônico na Administração Federal do Brasil. datagramazero – Revista de Ciência da Informação. v.4, n.2.
abr.2003. Disponível em <http://www.dgzero.org/out00/Art_02.html > Acessado: 15 set. 2003.

Hugo Cesar Hoeschl, Aline Junckes, Tânia Cristina D´Agostini Bueno, Cristina Souza Santos O USO DAS
ONTOLOGIAS no mundo JURÍDICO Aplicação: Jurisprudência sobre Entorpecentes. In Iberoamericana 2004.

Hugo Cesar Hoeschl, Tania Cristina D. Bueno Eduardo S. Mattos, Marcelo Stopanovski Ribeiro Érica B. Queiroz Ribeiro
Interoperabilidade de Sistemas de Informação como Estratégia de Investigação. In ICAIL 2005.
OBTENÇÃO DE CONHECIMENTO COGNITIVO POR
MEIO DE MAPAS GEOGRÁFICOS, UTILIZANDO
SOFTWARES LIVRES

Marcelo Felipe Moreira Persegona


Universidade de Brasília – Centro de Desenvolvimento Sustentável – Doutorado em Política e Gestão Ambiental
Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) – Grupo de Estudo Multidisciplinar Avançado (GEMA)
Irmãos Persegona Consultoria Ltda.
persegon@bol.com.br

Marcel Bursztyn
Universidade de Brasília – Centro de Desenvolvimento Sustentável – Doutorado em Política e Gestão Ambiental
marcel@cds.unb.br

Isabel Teresa Alves Gama


Universidade de Brasília – Centro de Desenvolvimento Sustentável – Mestrado em Política e Gestão de Ciência e
Tecnologia
itgalves@cds.unb.br

Janeína Marcolino.
IP Consultoria Ltda. SRTVS 701 Bloco O Sala 882 – Edifício Multiempresarial – CEP: 70340-000 – Brasília – DF –
ipconsultoria@ipconsultoria.com.br

Cecilia Santana Almeida Arantes


Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) – Grupo de Estudo Multidisciplinar Avançado (GEMA)
ceciliameireles@gmail.com

Maic Welington Silva


Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB) – Grupo de Estudo Multidisciplinar Avançado (GEMA)
maic.silva@bsb.politec.com.br

RESUMO
O presente artigo trata sobre como realizar a aquisição do conhecimento cognitivo por meio da utilização de um sistema
de georreferenciamento que representa a informação armazenada em banco de dados na forma de mapas. Esta forma de
trabalhar com a informação permite ao analista de inteligência extrair conhecimentos que estão ocultos nas relações das
informações existentes nas bases de dados institucionais. O georreferenciamento possibilita, ainda, entender melhor o
comportamento de cidades, regiões e países, pela representação visual dos dados em forma de mapas, possibilitando a
percepção de tendências e de informações que no formato textual não seriam percebidas devido ao grande volume de
dados a serem analisados. Este tratamento da informação, ainda, agrega maior qualidade e precisão à informação,
permitindo maior presteza, efetividade e transparência na análise a ser realizada pelos analistas de inteligência.

PALAVRAS-CHAVE
Administração Pública, Governo Eletrônico, Tecnologia da Informação, Georreferenciamento, Mapserver.

1
1. INTRODUÇÃO
Este estudo tem por finalidade exemplificar a montagem de um sistema para a aquisição do
conhecimento cognitivo utilizando softwares livres e técnicas de georreferenciamento para representação das
informações contidas em bancos de dados na forma de mapas.

Para entender melhor como é feito a obtenção de conhecimento cognitivo por meio de mapas
geográficos, faz-se necessário descrever, também, os conceitos que estão relacionados. Estes conceitos são:
pensamento, abstração, raciocínio, cognição, interação, interatividade e conhecimento. Este último se
desdobra, ainda, em dado e informação. Existem outros conceitos que, dependendo da área do conhecimento
que esteja tratando sobre o tema, também farão parte do “conhecimento cognitivo”, porém, para este artigo,
serão tratados apenas os citados. A figura 1 exibe estes conceitos com seus desdobramentos e seus
relacionamentos.

Figura 1 – Conhecimento cognitivo e os conceitos relacionados.

A definição clássica de conhecimento, originada em Platão, diz que consiste na crença verdadeira e
justificada, a figura 2 esquematiza essa definição. Então, pode-se entender por conhecimento como algo que
está no interior do indivíduo, é abstração pessoal, sobre alguma coisa que foi experimentada por esse
indivíduo. Na atualidade, existem várias definições para “conhecimento”, porém, se pode conceituar, de uma
forma informal, como sendo: “aquilo que já se conhece sobre algo ou sobre alguém”.

Figura 2 – Representação do conhecimento segundo Platão. Fonte: Adaptação feita pelos autores a partir de
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conhecimento

2
Quando se refere a conhecimento, trata-se sobre âmbito puramente subjetivo do homem, o qual é um ser
consciente do seu próprio conhecimento, sendo capaz de descrevê-lo conceitualmente em termos de
informação e organizá-lo na forma de dados. Para isso, ele se vale de vários instrumentos, entre eles o
computador e seus programas, mas o conhecimento não pode ser inserido num computador por meio de uma
representação, pois neste caso, seria reduzido a dados.

O conhecimento relaciona-se com algo existente no “mundo real” do qual se tem uma experiência direta
e usa-se a Tecnologia da Informação (informática) para modelar um pedaço desse “mundo real”, o qual é do
interesse do indivíduo para a realização de um determinado trabalho.

Para Sianes (2005:259), conhecimento é:


“... a informação agregada de valor. É um grupo de informações avaliadas quanto a sua relevância
e confiabilidade e assimiladas pelo indivíduo ou pela organização, integrando-se ao saber anterior
...”.

Já, Barreto (2005:10) diz que é na solidão fundamental que o indivíduo intencionalmente direciona os
fluxos externos de informações para comparação com sua experiência vivenciada para gerar seu próprio
conhecimento e transmiti-lo para outros indivíduos. Barreto define a solidão fundamental como o momento
de passagem onde “o pensamento se faz informação e a informação se faz conhecimento”. Para ele o
conhecimento é organizado em estruturas mentais para a assimilação da informação, e a geração de
conhecimento é a reconstrução dessas estruturas mentais realizada pelas competências cognitivas (estoque
mental de saber acumulado). Contudo, para se falar de conhecimento, é necessário abordar o que é dado e
informação, pois, o conhecimento é constituído destes.

Portanto, entende-se por dado como a forma primária da informação: a seqüência de símbolos, letras,
sons, sinais ou códigos que podem ser decifráveis ou não, ainda não processados, correlacionados,
integrados, avaliados ou interpretados e sem qualquer sentido inerente em si mesmos. Quando os códigos, até
então indecifráveis, passam a ter um significado próprio para o receptor, estabelecendo um processo
comunicativo, nesse momento, obtém-se uma informação. Portanto, pode-se dizer que dado não é somente
códigos agrupados, mas também uma base ou uma fonte de informações que podem ser descritos por meio de
representações textuais ou pictográficas (SIANES, 2005:259). Está última é utilizada no georreferenciamento
para a representação de dados e obtenção de conhecimentos.

Já, a informação é definida como uma série de dados organizados de um modo significativo, analisados e
processados, que geram hipótese, sugerem soluções, justificativas de sugestões, críticas de argumentos,
utilizada em apoio ao processo de tomada de decisão. Ela é uma abstração informal que representa algo que
possui significativo para alguém por meio de textos, imagens, sons ou animação. Exige a mediação humana.
A informação não pode ser processada diretamente em um computador. Ela precisa ser reduzida a dados1
para ser armazenada neste. Já o seu significado é dado por quem está entrando em contato com ela (o
receptor). As informações servem de base para a construção do conhecimento. Então, como se pode perceber,
o conhecimento deriva das informações absorvidas pelo receptor (SIANES, 2005:259). A informação para
Barreto (2005:9) é um instrumento de modificação da consciência humana.

Avançando um pouco mais na construção do conceito de “conhecimento”, pode-se dizer então que
“conhecimento é aquilo que se aceita como verdadeiro a partir da captação sensitiva, sendo assim acumulável
na mente humana”.

Como exposto por Sianes e Barreto, e a seguir, também por Ulbritch e Koslosky, o processo cognitivo
está ligado ao tratamento e formatação do dado, portanto, está ligado à informação. Este processo é realizado
pelas funções estruturais da representação (idéia ou imagem que se concebe do mundo ou de algo) ligadas a
um saber referente ao objeto. Constitui na execução, em conjunto, das unidades do saber da consciência, que
foram baseados nos reflexos sensoriais, representações, pensamentos e lembranças, com o processo mental

1 Uma distinção entre dado e informação é que o primeiro é sintático e o segundo possui "significado" para
alguém.

3
que consiste em escolher ou isolar um aspecto determinado de um estado de coisas relativamente complexo,
a fim de simplificar a sua avaliação, classificação ou para permitir a comunicação do mesmo por meio da
abstração2.

Segundo Ulbritch (1997, apud KOSLOSKY, 1999):

“a aquisição do conhecimento cognitivo ocorre sempre que um novo dado é assimilado à estrutura
mental existente que, ao fazer esta acomodação modifica-se, permitindo um processo contínuo de
renovação interna”.

Koslosky (1999) complementa o exposto por Ulbritch quando argumenta que:

“Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantitativas do indivíduo, seu crescimento


intelectual mediante a incorporação de elementos do meio a si próprio.

Pela acomodação, as mudanças qualitativas de desenvolvimento modificam os esquemas existentes


em função das características da nova situação; juntas justificam a adaptação intelectual e o
desenvolvimento das estruturas cognitivas”.

O processo cognitivo, mencionado por Kolosky, está composto por:


• conhecimento, necessita que o indivíduo reproduza com precisão algo que lhe foi
transmitido, podendo ser uma fórmula ou uma teoria, ou mesmo, um procedimento;
• compreensão, que demanda preparação de uma informação original, explicando-a de outra
forma ou antecipando resultados proporcionados pela informação inicial;
• aplicação, onde o indivíduo mobiliza um conhecimento geral para uma circunstância nova,
específica, real e problemática;
• análise, que decompõe a informação em dados e atribui relações entre eles; e
• síntese, que representa os procedimentos nos quais o indivíduo agrupa noções de informação
para criar novos dados que terá descrições individuais.

É no raciocínio que ocorre a operação lógica, discursiva e mental onde o intelecto humano utiliza uma
ou mais proposições, para concluir por mecanismos de comparações e abstrações, quais são os dados que
levam às respostas verdadeiras, falsas ou prováveis de um determinado problema, portanto, o processo
congnitivo. O raciocínio pode ser considerado, também, um dos integrantes dos mecanismos dos processos
cognitivos superiores da formação de conceitos e da resolução de problemas, sendo parte do pensamento.

O pensamento é construto e construtivo do conhecimento. Pode-se defini-lo como sendo a faculdade de


formular conceitos para os quais a atividade psíquica elabora os fenômenos cognitivos3, imaginativos e
planificativos. Ele é constituído por um processo mental que usa imagens e idéias, as quais permitem aos
indivíduos modelarem o mundo real e lidar com ele de uma forma mais efetiva. A geo representação da
informação pode ser utilizada nessa modelagem como um instrumento facilitador da compreensão das
informações que constituem o mundo real, para isso, ela se utiliza de instrumentos computacionais e da

2 A abstração é o processo mental no qual as idéias estão distanciadas dos objetos. É uma operação intelectual onde
existe o método que isola os generalismos teóricos dos problemas concretos. Pela a abstração podemos imaginar os
resultados de uma determinada decisão ou ação, sem recorrer a mecanismos físicos ou mecânicos de resolução. O
planejamento de uma ação extrai dos dados o que é essencial, pois o critério subjetivo do processo criativo necessita de
figuras de comparação que resultam no planejamento para a ação futura.
3 A cognição é derivada da palavra latina cognitione, que significa a aquisição de um conhecimento pela
percepção. Portanto, pode ser entendido como ato ou processo de conhecer, que envolve atenção,
percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento, linguagem, classificação, reconhecimento
e compreensão. A cognição é um processo do conhecimento que tem como material a informação do
mundo real a qual já está registrada na memória do indivíduo.

4
Ciência da Informação, da Ciência da Computação, Cartografia e Geografia para auxiliarem na modelagem e
representação.

Por outro lado, a interatividade também faz parte do processo de construção do conhecimento, uma vez
que permite o uso das pontencialidades técnicas oferecidas por um determinado canal de comunicação para
ação humana com a respectiva retroação com a máquina, neste caso o computador. Para Guadamuz (1997)
distingue dois tipos de interatividade: transitiva e intransitiva. Ela entende como interatividade transitiva a
que é permitida pela máquina, a intervenção do usuário para modificar o curso de alguma coisa, para realizar
uma ação sobre o programa, e a comunicação com máquina. Já a interatividade intransitiva é entendida como
interação significante que ocorre na cognição e na afetividade do usuário em situação de aprendizagem ao
reagir mentalmente, é a comunicação com o autor da programação. Esse último é, segundo a autora, o de uso
mais corrente do termo interatividade, abrangendo a interação humana, mediado por um recurso
computacional.

Persegona, Bursztyn e Alves (2006) argumentam que nos dias de hoje, o problema não é mais a falta de
informação, mas excesso de informações sem importância ou relevância que são encontradas durante o
levantamento de dados. Para eles, o grande desafio para as empresas e órgãos governamentais está em como
obter informações com relevância, precisão, oportunidade e valor agregado para os processos de tomada de
decisão. Para esses autores, na agregação de valor à informação é necessário que o agente mediador do
conhecimento dê tratamento adequado a informação, de forma a proporcionar significado, relevância e
precisão. É nesse processo de tratamento da informação que se insere os sistemas de georreferenciamento,
como ferramenta que propícia mais cognição para as informações.

O uso de um sistema de georreferenciamento permite ao usuário perceber e ler uma quantidade maior de
informações que no método tradicional de relatórios textuais tabulares ou na representação de forma de
gráficos geométricos (pizza, barras ou linhas). Este tipo de sistema acrescenta à informação mais uma
dimensão, a espacial, a qual permite correlacionar a informação com território a que ela se refere. Permitindo
ainda, sobrepor e acrescentar outras informações espaciais que agregam mais valor.

O georreferenciamento possibilita, ainda, entender melhor o comportamento de cidades, regiões e países,


pela representação visual dos dados em forma de mapas possibilitando a percepção de tendências e de
informações que no formato textual não seriam percebidas devido ao grande volume de dados a serem
analisados (PERSEGONA et al, 2006). Este tratamento da informação, ainda, agrega maior qualidade e
precisão à informação, permitindo maior presteza, efetividade e transparência na análise a ser realizada pelos
analistas.

O conceito de software livre pode ser definido em apenas uma palavra: “LIBERDADE”. Esta liberdade
foi definida por Richard Stallman, na década de 80, para caracterizar o que é um software livre. Para isso, o
software deve possuir quatro liberdades fundamentais:
1. A liberdade de executar o programa para qualquer propósito.
2. A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades.
Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.
3. A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo.
4. A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda
a comunidade se beneficie. Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade.

Siqueira (2005) concorda com Stallman, ao definir que os softwares livres são “sistemas e aplicativos
sem restrição de uso, cópia, distribuição ou alteração”. Em síntese, um “software livre”, diferentemente do
que é dito e divulgado equivocadamente, nada tem a ver com gratuidade, e sim com pureza e garantia da
liberdade de expressão, liberdade de compartilhar conhecimento, agregar mais conhecimento ou somente
disseminar conhecimento.

Nota-se que a finalidade da filosofia da liberdade do “software livre” é bastante abrangente, pois a sua
intenção intrínseca reside no fato que as pessoas não sejam obrigadas a pagar pelo conhecimento que podem

5
adquirir pelo aprendizado autônomo, tendo como ponto de partida o estudo iniciado por outra pessoa. Desta
maneira, ajuda-se a construir e aperfeiçoar o conhecimento iniciado por outra pessoa.

O governo federal brasileiro, desde o ano 2000, vem verificando que o investimento em “software livre”
é rentável, tanto em termos financeiros como estratégico-mercadológico, assim como o seu uso nas políticas
publica. Por essa razão, desde 2002, o Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), órgão ligado à
Presidência da Republica, vem trabalhando junto aos órgãos de governo federal de forma a estimular o uso
do “software livre” nessa esfera. Sergio Amadeu, ex-presidente do ITI, prevê que, a assim como a Internet, a
difusão global do “software livre” é o novo paradigma da era da informação e o país que estiver mais bem
alinhado com essa perspectiva terá diferencial competitivo no mercado globalizado (ibidem). Bartholo e
Bursztyn (2007), quando dirigentes da CAPES, sugeriram a utilização do software livre como uma estratégia
governamental para a difusão do conhecimento científico no Brasil e expressaram a opinião que essa deveria
ser uma estatégia mundial. Esses autores, também enfatizam a economia de recursos financeiro que advém
desse tipo de estratégia.

Além da posição a favor do software livre, sugerida por Bartholo e Bursztyn, atualmente existe um
número significativo de casos de sucesso que provam a redução de custos na adoção de “software livre”, seja
pela eliminação do pagamento de licenças e renovações dos “Softwares Proprietários”, ou pela possibilidade
de montar a mesma estrutura de tecnologia da informação, com um custo menor. Um exemplo do exposto é a
DATAPREV que substituiu sua rede NETWARE por LINUX e teve uma redução de 50% nos custos de
atendimento técnico e de usuários, além de não ter tido que pagar por renovação de licenças de uso dessa
plataforma (SIQUEIRA, 2005).

Já, na linha do uso de georreferenciamento, o governo brasileiro possui vários bons exemplos de uso
dessa tecnologia para a implementação de programas de apoio à decisão que utilizam o georreferenciamento
para a representação das informações governamentais. Entre os órgãos federais, pode-se citar: a Presidência
da República com o GeoPR o qual se constitui em uma família de programas georreferenciados, criados a
partir do Mapserver, e utilizados por diversos órgãos do governo; o Ministério do Meio Ambiente (MMA)
que também desenvolveu uma grande variedades de softwares de georreferenciamento para dar apoio a suas
atividades, com destaque para o I3geo que se está constituindo um plataforma padrão de georreferenciamento
governamental; o Ministério da Saúde (MS), o Ministério das Comunicações (MC), o Ministério da
Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

2. METODOLOGIA
Conforme colocado no objetivo principal do artigo, o propósito deste estudo foi exemplificar a
montagem de uma infra-estrutura que dê suporte a um sistema para a aquisição do conhecimento cognitivo
utilizando softwares livres e técnicas de georreferenciamento para representação das informações contidas
em bancos de dados.

A infra-estrutura proposta foi concebida tendo quatro premissas, são elas: os usuários possam criar
mapas temáticos sem conhecimento técnicos em georreferenciamento; o sistema deve funcionar em
tecnologia Web; o banco de dados livre com capacidade de georreferenciamento e geoprocessamento; e
infra-estrutura de Tecnologia da Informação (TI), em softwares livres, para dar suporte a todo o ambiente,
conforme a figura 3. A infra-estrutura de TI utilizou:
• sistema operacional Linux (distribuição Ubuntu);
• servidor de páginas de Web Apache;
• banco de dados PostgreSQL 8.1 com PostGIS;
• linguagem de programação PHP versão 5.0;
• framework I3Geo;
• PHPMapScript;
• JavaScript; e
• Mapserver.

6
Figura 3 - Premissas do sistema de georreferenciamento.

O núcleo do I3Geo é o programa MapServer o qual é programado por um arquivo texto, chamado
mapfile, onde ficam as instruções de localização dos dados geocodificados (banco de dados textuais, imagens
raster4 e temas shapesfiles5), posição geográfica em latitude e longitude ou UTM, definições de consulta a
banco de dados, nomes que vão aparecer nas legendas e rótulos. Os arquivos templates proporcionam a
interface da aplicação, definindo a posição de ferramentas de zoom, consulta, cores, logos etc. A figura 4
apresenta as principais características do Mapserver.

O MapServer suporta aos formatos de vetores: shapefiles ESRI, simples características embutidas,
ArcSDE ESRI (versão alpha), suporte ao formato raster (apenas 8-bit): TIFF/GeoTIFF, GIF, PNG, ERDAS,
JPEG e EPPL7, indexação espacial quadtree para shapefiles, é completamente personalizável quanto a saída
orientada a templates (páginas HTML), seleção de características por item/valor, ponto, área, linha, círculo,
suporte à fontes TrueType, suporte para dados raster e vetoriais, geração automática de legenda e barra de
escala, geração de mapas temáticos usando expressões lógicas ou regulares baseadas em classes,
característica de rotulação incluindo mediação de colisão de rótulos, configuração dinâmica por meio de
URLs e projeção dinâmica de coordenadas das camadas temáticas.

As etapas envolvidas na geração de mapas temáticos do I3Geo são:

• Primeira Etapa: processamento dos arquivos shapefiles, dados do banco de dados geográfico
e raster utilizando os softwares de geoprocessamento. Estes arquivos são armazenados em
uma estrutura de diretórios que será interpretada na etapa seguinte pelos arquivos mapfile.

• Segunda Etapa: codificação dos arquivos mapfile, usando uma linguagem de definição do
mapfile. Estes arquivos são criados por meio de programação realizada por um técnico
especialista. A seguir, são criados os arquivos templates na linguagem HTML que permitirão
a apresentação dos dados na aplicação I3Geo.

• Terceira Etapa: interpretação do MapServer. O software MapServer irá interpretar e executar


o arquivo mapfile, gerar a aplicação I3Geo com base nos templates, arquivos shapefile,
banco de dados geográfico e raster, e apresentá-los no navegador de Internet.

4 Representação de elementos geográficos. Os dados são armazenados e exibidos como linhas horizontais e verticais de
células uniformemente divididas – pixels. Essas imagens descrevem features embora não possuam discernimento delas
como entidades independentes.
5 Representação vetorial onde a localização e a aparência gráfica de cada objeto são representadas por um ou mais pares
de coordenadas. Essa representação pode ser feita por três tipos básicos de elementos: pontos, linhas ou áreas
(polígonos). As coordenadas geográficas são valores numéricos através dos quais podemos definir a posição de um
ponto na superfície da Terra, tendo como ponto de origem para as latitudes o Equador e o meridiano de Greenwich para
a origem das longitudes.

7
Figura 4 – Características do MapServer

O processo de desenvolvimento dos sistemas foi baseado no padrão Unified Process (UP). Este é um
processo de engenharia de software que pode ser configurado para se adaptar às necessidades específicas de
um determinado projeto e possibilita a utilização das melhores técnicas de desenvolvimento de software tais
como: desenvolvimento interativo, gerenciamento de requisitos, arquiteturas baseadas em componentes,
modelagem visual (utilizando a notação Unified Modeling Language (UML6)), verificação contínua da
qualidade e controle de alterações. A infra-estrutura proposta permite, ainda, a integração7 de sistemas
existentes com o sistema de georreferenciamento. Esta integração segue as recomendações do Governo
Federal contidas no E-ping8.

6 A UML (Unified Modeling Language) é uma linguagem para especificação, documentação, visualização e
desenvolvimento de sistemas orientados a objetosFacilita a comunicação de todas as pessoas envolvidas no
processo de desenvolvimento de um sistema - gerentes, coordenadores, analistas, desenvolvedores - por
apresentar um vocabulário de fácil entendimento.
7 Entende-se por integração como sendo o processo pelo qual dois ou mais sistemas se comunicam e trocam
informações em tempo real.
8 Padrão de interoperabilidade de sistemas do Governo Federal.

8
A infra-estrutura proposta utiliza uma grande variedade de softwares livres de georreferenciamento para
o tratamento dos dados, tais como: OpenJump; Quantum GIS; PhilCarto; e I3Geo. Esta infra-estrutura utiliza
como banco de dados o PostgreSQL 8.1 com PostGIS. A figura 5 mostra em que fase de criação dos mapas e
cartogramas os programas são utilizados e no box 1 tem-se uma breve descrição desses programas.

Figura 5 – Fase de criação dos mapas e os programas utilizados.

Atualmente, a tarefa de montar um ambiente para funcionamento de sistemas que façam tratamento de
dados geográficos ficou bastante facilitado e viável com a disponibilidade desses softwares livres. O I3Geo
destaca-se entre esses softwares por possuir a maioria das funcionalidades que o usuário irá precisar.
Também, é de fácil manuseio por se tratar de um software desenvolvido em plataforma Web, na qual a
maioria das pessoas possui conhecimento de utilização. Outro ponto que vale a pena ressaltar é que ele é um
software desenvolvido por profissionais brasileiros do Ministério do Meio Ambiente.

A seguir será descrito os passos para o tratamento de dados contidos em arquivos shape files e sua
exportação para o banco de dados PostgreSQL.

3. MODELANDO O MUNDO REAL PARA O MUNDO VIRTUAL


O processo de modelagem do mundo real começa pela identificação das informações necessárias para a
criação do sistema que irá trabalhar o problema ou necessidade demandada. Os sistemas de
georreferenciamento para serem mais eficientes no processo de apoio à decisão também necessitam que
sejam identificados os equipamentos que o território possui. Para isso, se faz necessário um levantamento das
informações geográficas que compõe esse território, tais como: estradas, rios, presença de cidades, unidades
de conservação, terras indígenas, divisão política do país, ferrovias, aeroportos etc.

Esse levantamento é importante porque o sistema permite que sejam feitos cruzamentos de tabelas de
informações geográficas com tabelas de informações textuais, o que permite representar geograficamente
uma tabela de dados textual que não possui atributo espacial. Este processo é muito simples, basta criar um
SQL de união dessas duas tabelas para se conseguir a sua representação geográfica, a figura 6 exemplifica
esse processo utilizando o arquivo de mapfile do programa Mapserver que representa os Arranjos Produtivos
Locais (APL) do Brasil. Repare na estrutura do comando DATA, o qual está em negrito (grifo dos autores), é
nesse comando que se realiza a união das tabelas. A tabela geo_br_micro é a tabela com atributo espacial
(campo the_geom) e a tabela vetor_apl é a tabela textual. A união dessas tabelas é dada pelos campos
cod_micro da tabela geo_br_micro e cod_micro6 da tabela vetor_apl. Já, na figura 7, tem-se a representação
das informações da união dessas duas tabelas no programa I3geo.

9
Box 1
• PostgreSQL é um servidor de base de dados relacional livre, liberado baixo licença BSD. É uma
alternativa a outros sistemas de bases de dados de código aberto, tais como MySQL, Firebird e
MaxDB. Concorre no mercado de Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados (SGBD) com sistemas
proprietários, tais como Oracle, MS SQL Server e DB2.
• PostGIS é uma extensão ao sistema de banco de dados object-relational PostgreSQL, que permite o
uso de objetos GIS (Sistemas de Informação Geográfica) serem armazenados em banco de dados.
• Quantum GIS é um sistema de informação geográfico de fonte aberta que funciona em Linux, Unix,
Mac OSX, e em Windows. O QGIS suporta dados vetoriais, base de dados geográficas e muitos outros
formatos de dados espaciais comuns (ESRI ShapeFile, geotiff). O QGIS é licenciado sob a licença
GNU.
• OpenJump foi um projeto desenvolvido pela empresa Vívido Soluções Inc. para o British Columbia
Ministry of Sustainable Resource Management, a qual criou um programa para combinar
automaticamente estradas e rios em mapas digitais diferentes. A equipe de desenvolvimento do
software fez o programa bastante flexível para poder ser usado não apenas para estradas e rios, mas
para qualquer tipo de dados espacial, tais como limites políticos, imagens de satélites etc.
• Philcarto é um programa de cartografia temática desenvolvido na França pelo geógrafo Philippe
Waniez. Este é disponibilizado gratuitamente pela Internet, e consiste em um software didático por ser
de fácil manuseio. Para a elaboração de cartogramas se faz necessário trabalhar com os outros dois
softwares, no caso o Microsoft Excel e o Adobe Ilustrator, sendo que no primeiro se constrói a base de
dados, e no segundo a base cartográfica necessária para o desenvolvimento do trabalho (ARCHELA,
2004).
• I3Geo é um aplicativo desenvolvido para acesso e análise de dados geográficos, baseado em softwares
livres, principalmente o Mapserver. Utiliza como plataforma de funcionamento navegadores de
Internet, como o Internet Explorer e o Firefox. Está licenciado sob GPL. Este software foi concebido
com o objetivo de difundir o uso do geoprocessamento como instrumento técnico-científico e
implementar uma interface genérica para acesso aos dados geográficos existentes em instituições
públicas, privadas ou não governamentais. O I3Geo adota padrões internacionais de interoperabilidade
e incorpora funcionalidades que facilitam o acesso remoto a dados, permitindo o estabelecimento de
redes cooperativas (BRASIL, 2007).

Figura 6 – União de tabela geográfica com tabela textual.

10
Figura 7 – Representação da união da tabela geográfica com a tabela textual utilizando I3geo.

Como foi dito anteriormente, o levantamento das informações geográficas constitui-se em passo muito
importante para a criação dos sistemas de georreferenciamento. A maioria das informações dos equipamentos
do território serão encontradas no formato shape file. A exportação desses arquivos para o banco de dados
PostgreSQL se dá pelo comando shp2pgsq, o qual transforma o shape file em comandos SQL que serão
interpretados pelo PostgreSQL. A figura 8 exemplifica a exportação dos shapes files para SQL e a figura 9
representa os passos necessários para a incorporação do shape file para o banco de dados. Este procedimento
é executado apenas uma vez para cada shape file porque a partir do momento que são incorporados no banco
de dados, lá ficam de forma permanente.

Figura 8 – Comando de exportação do shape file para o formato SQL.

Figura 9 – Passos para incorporação de um shape file ao banco de dados PostgreSQL.

A partir do momento que o banco de dados geográfico está criado com todas as informações dos
equipamentos do território, é necessário escolher um software para tratar as informações geográficas. Neste
estudo, utilizou-se o I3Geo9 por se tratar de um software de fácil obtenção e configuração. Também, foi
requisito do estudo que as informações do sistema de georreferenciamento fossem acessíveis a usuários que
não estivessem localizados na mesma região geográfica, conforme o esquema da figura 10, para cumprir esse
requisito o sistema tinha que funcionar em ambiente Web e permitir a integração de diversas bases de dados
via Web Service, requisitos que o I3Geo possui.

9 Para mais informações sobre o I3geo, consulte http://pt.wikibooks.org/wiki/I3geo

11
Figura 10 – Integração e acesso a dados geográficos locais e remotos.

O projeto da infra-estrutura considerou o fato de que as aplicações seriam executadas na Internet e


utilizadas por usuários de todo o Brasil, ver figura 9, sem prejudicar os aspectos operacionais da solução
proposta que exigiu disponibilidade, facilidade de uso e agilidade. A plataforma tecnológica utilizada
obedeceu os requisitos abaixo:

• o sistema deve dispensar a instalação de qualquer ferramenta na estação cliente, ou seja,


deverá exigir apenas o browser instalado;
• deve ser desenvolvido nas linguagens HTML, Javascript e PHP MapScript;
• deve estar em consonância com as políticas e especificações técnicas constantes nos Padrões
de Interoperabilidade de Governo Eletrônico – e-PING;
• a base de dados centralizada para o acesso de todos os usuários em diferentes lugares do país;
• Web Services devem ser empregados em pontos de interoperabilidade definidos;
• o software não pode exigir que o cliente tenha que instalar qualquer tipo de plug-in;
• os servidores de aplicação e de banco de dados devem ter a capacidade de serem processados
em diferentes arquiteturas de hardware, tendo em vista a necessidade de manter o princípio
de independência de fornecedor;
• os servidores de aplicação, Web e banco de dados devem ser operáveis em ambiente
GNU/LINUX, tendo em vista a necessidade de atender às diretrizes do Governo Eletrônico
(e-Gov);
• o módulo cliente deve ser operável por meio de interfaces gráficas intuitivas e passíveis de
serem utilizadas por usuários não técnicos;
• os dados devem ser acessíveis e contemplar múltiplos formatos, em especial os suportados
por padrões ODBC e JDBC, tendo em vista a necessidade de garantir interoperabilidade entre
ambientes;
• Portabilidade e Compatibilidade: o sistema deve ser projetado de forma a ser facilmente
portado a outro banco de dados.

A infra-estrutura de TI, criada para dar suporte ao sistema de georreferenciamento, propicia uma
excelente gestão da informação e do conhecimento, pois auxilia o uso da informação de diversas áreas. E
permite que os gestores de informação e usuários possam realizar várias ações sobre as informações
armazenadas, tais como: localizar, recuperar, tratar, armazenar, disseminar e usar.

12
Por meio da gestão da informação que o sistema de georreferenciamento proposto realiza, os dados do
banco de dados passam por um processo de tratamento que consiste na contextualização, categorização,
análise, correção e condensação. Este processo é importante, porque permite determinar quais os dados serão
armazenados e quais serão descartados, a fim de não haver redundância e inconsistência no banco. Isso
permite a utilização das informações armazenadas de uma maneira mais eficiente. A gestão da informação e
conhecimento em sistemas de georreferenciamento proporciona a análise de informações para obtenção de
respostas rápidas para o processo de tomada de decisões (PERSEGONA et al, 2007).

Outra conseqüência, da gestão da informação e do conhecimento com sistemas de georreferenciamento,


é o armazenamento e a seleção de informações que proporcionam no ambiente organizacional o
compartilhamento de conhecimentos. A gestão do conhecimento permite que as organizações desenvolvam
competências inovadoras, a fim de desenvolver novos produtos ou novos serviços de informações.

A interatividade é outro ponto forte do sistema de georreferenciamento baseado em tecnologias Web,


uma vez que permite ao usuário selecionar diversas camadas temáticas, cruza-las e aplicar nelas diversas
funções disponíveis no programa.

4. CONCLUSÃO
O processo cognitivo está ligado ao tratamento e formatação do dado, e sua transformação em
informação. Para isso, o usuário das informações, utiliza-se das funções de representação (idéia ou imagem
que tem do mundo) ligadas ao seu saber em relação ao objeto estudado/observado. O processo cognitivo
simplifica a sua avaliação, classificação para permitir a comunicação da sua interpretação dos dados por meio
da formulação de problemas concretos.

Desta forma, no processo cognitivo, o usuário obtém resultados que poderá utilizar no seu processo de
tomada de decisão que resultarão em ações e/ou decisões. Nesse processo, se utiliza figuras para realizar a
comparação de uma informação com outra que o indivíduo já possui, podendo assim produzir um novo
conhecimento. É neste processo de representação, comparação e produção de novos conhecimentos e
percepções do mundo/objeto estudado que o georreferenciamento possui grande potencial de utilização, pois
possibilita a representação da informação na forma de mapas tornando a interpretação e assimilação das
informações mais “amigáveis”.

Os sistemas de georreferenciamento, integrados ao processo cognitivo, também propiciam a captação de


uma quantidade maior de informações que de outra forma não seria possível. A representação das
informações em forma de mapas facilita o processo de captura de novos conhecimentos por estar composto
pelo conhecimento tácito do usuário, os quais são utilizados para realizar os processos de análise, de síntese e
de compreensão das novas informações que lhe são apresentadas; e aplicação, onde o indivíduo mobiliza seu
conhecimento para uma circunstância específica.

Os softwares livres viabilizam o desenvolvimento e utilização deste tipo de aplicação, por não se
necessitar adquirir licenças para o desenvolvimento e uso dos sistemas de georreferenciamento. Caso se
fizesse via softwares proprietários, o alto custo deste tipo de softwares ficaria inviabilizado.

REFERÊNCIAS
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CHAVES, Jorge B. L. Gestão Estratégica da Informação e Inteligência Competitiva. São Paulo: Editora Saraiva.
BARTHOLO, Roberto e BURSZTYN, Marcel. (2007) A Linux for Scientific Periodicals. How to find just prices to
access scientific knowledge? Disponível em: http://200.130.0.16/marcel/upload/110607_1AEC7A54.pdf Acessado
em: 29/08/2007.
BRASIL. (2005) Mapas Gerais. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. http://mapas.mma.gov.br

13
BRASIL. (2007) I3Geo. Brasília: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://pt.wikibooks.org/wiki/I3geo
Acessado em: 08/08/2007.
GUADAMUZ, L. (1997) Tecnologias Interativas no ensino á distância. Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro, n. 25
(139), pp: 27-31.
KOSLOSKY, Marco Antônio Neiva. (1999) Capítulo 3 - O pensamento lógico e as Teorias de Aprendizagem. In:
Aprendizagem baseada em casos um ambiente para ensino de lógica de programação. Florianópolis: UFSC.
Disponível em: http://www.eps.ufsc.br/disserta99/koslosky/cap3.html Acessado em: 30/07/2007.
PERSEGONA, Marcelo F. M. “et al”. (2006) La utilización de informaciones georreferenciadas para Inteligencia
Competitiva: Propuesta de una Herramienta. In: Congreso Internacional de Información 2006, Havana. Taller
Internacional sobre Inteligencia Empresarial y Gestión del Conocimiento en la Empresa. Havana: IDICT.
PERSEGONA, Marcelo F. M.; BURSZTYN, Marcel; ALVES, Isabel T. G. (2006) Adicionando valor a la Información:
Representando la Información en Mapas Geográficos para Apoyo a la Toma de Decisión. In: VII Taller
Internacional sobre Inteligencia Empresarial y Gestión del Conocimiento en la Empresa, 2006, Baruta. Intempres
2006 Venezuela. Baruta: Fundación Instituto de Estudios Avanzados (I.D.E.A.).
PERSEGONA, Marcelo F. M.; BURSZTYN, Marcel; ALVES, Isabel T. G.; PERSEGONA, A. L. M. (2007) Do dado ao
conhecimento: o georreferenciamento como ferramenta de Inteligência Competitiva. In: III Encontro Nacional de
Usuários MapServer, 2007, Brasília. III Encontro Nacional de Usuários MapServer. Vale do Itajaí: Univali.
SIANES, Marta. (2005) Compartilhar ou proteger conhecimentos? Grande desafio no comportamento informacional das
organizações. In: STAREC, Cláudio, GOMES, Elizabeth B. P., CHAVES, Jorge B. L. Gestão Estratégica da
Informação e Inteligência Competitiva. São Paulo: Editora Saraiva.
SIQUEIRA, André. (2005) Liberado ao Publico. Carta Capital, Volume 12 – dezembro nr 373, páginas 58-59.
ULBRICHT, Vânia Ribas. (1997) Modelagem de um Ambiente Hipermídia de Construção do Conhecimento em
Geometria Descritiva. Florianópolis: UFSC, 1997.

14
O SISTEMA INTELIGENTE DE MONITORAMENTO DE
INFORMAÇÕES PARA A REDUÇÃO DE GASES DE
EFEITO ESTUFA DO SETOR MADEIREIRO DO
PLANALTO NORTE CATARINENSE

Tania Bueno, Dra, Aline Nicolini, Msc, Sonali Paula Molin Bedin, Msc, Thiago Paulo, Glaucia
Oenning, Esp.
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas - IJURIS
{tania.bueno; aline.nicolini; sonali.bedin; thiago.paulo; glaucia.oenning}@ijuris.org

Marcelo Romero de Moraes, Dr., Lucia Kinceler, Msc.


Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural e Santa Catarina S.A- EPAGRI
{marcelom; kinceler}@epagri.rct-sc.br

Marzely Gorges Farias, Dra.


Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
marzely@sbs.udesc.br

Resumo
O desenvolvimento de um Sistema Inteligente de Monitoramento de Informações para Redução dos Gases de Efeito
Estufa do Setor Madeireiro do Planalto Norte Catarinense objetiva tornar os processos de tomada de decisão e
organização do conhecimento do setor madeireiro mais céleres, transparentes, compartilhadas e eficazes. Para tanto,
propõem-se a construção de um Sistema de Gestão de Informação com o uso de Inteligência Artificial e Ontologias,
associado a um modelo de implementação interativa de gestão da produção mais limpa para o setor madeireiro do
Planalto Norte Catarinense. O sistema permitirá resultados tecnológicos inovadores capazes de avaliar as práticas
adotadas pelas empresas para reduzir os gases de efeito estufa, monitorar e integrar informações relativas à gestão
ambiental das atividades de silvicultura e transformação madeireira na região, bem como facilitar iniciativas e processos
de melhoria da gestão e certificação ambiental.

Palavras-Chaves:

Sistemas Inteligentes, Monitoramento, gases de efeito estufa.

1. Introdução
O Planalto Norte Catarinense tem na produção de madeira e móveis sua fonte principal de emprego e renda.
Estes setores são considerados de alta capacidade de geração de empregos. O setor madeireiro da região se
caracteriza por ser fornecedor de matéria-prima à indústria moveleira ali localizada, tendo parte de sua
produção destinada ao mercado externo. Toda a atividade da indústria florestal da região utiliza matéria-
prima plantada, de caráter renovável. São dezenas de milhares de hectares ocupados com silvicultura, que
permitem abastecer a demanda. Devido a características como solo e clima apropriado para a silvicultura de
pinus e eucalipto, a localização e a infra-estrutura portuária do estado para exportação, o setor madeireiro da
região apresentou forte crescimento nos últimos anos. As empresas exportadoras estão expostas a uma
exigência competitiva global: aprimorar seu padrão de qualidade ambiental. Dentre as formas, a produção
mais limpa (P+L), o respeito à legislação ambiental e o uso de fontes renováveis de energia, destacam-se
como instrumentos robustos de gestão ambiental na esfera corporativa, por desenvolver uma estratégia
ambiental integrada.
Com a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto 1 , a produção sustentável de madeira, a partir da silvicultura
(cultivo de árvores) tornou-se uma forma bastante eficiente de reduzir as emissões de gases causadores de
efeito estufa, bem como o seqüestro destes gases, contribuindo para a conservação do meio ambiente,
desenvolvimento econômico e social.
A proteção dos ecossistemas e a otimização de sua utilização exigem a geração e a disseminação de
conhecimento técnico e científico através de sistemas capazes de reunir as informações dispersas e facilitar
seu uso. No mundo globalizado, caracterizado pelo excesso de documentos em meio digital, a tecnologia da
informação tem evoluído de forma bastante rápida e possui aplicações nas mais diversas áreas do
conhecimento.
No Brasil, apesar de existirem diversos estudos científicos, práticas e alguns mecanismos de financiamento,
não há uma estrutura capaz de fornecer informações fidedignas e integrar os diversos atores que compõe o
setor madeireiro. A informação precisa é uma das formas mais eficientes para o gerenciamento dos recursos
naturais de forma sustentável, tornando-se um importante instrumento para os processos de tomada de
decisão na melhoria da gestão ambiental.
Assim sendo, torna-se necessário que se estabeleçam mecanismos eficazes de suporte à produção e
informação para o setor referentes à emissão dos gases de efeito estufa. Isso é possível através da otimização
de recursos e a integração e de instituições públicas, privadas e produtores rurais (silvicultores).
A principal motivação para o desenvolvimento do sistema refere-se à necessidade de informações
relacionadas com a emissão de gases pelo setor madeireiro de Santa Catarina que causam efeito estufa. Para
tanto, propõem-se o desenvolvimento de um Sistema Inteligente para Recuperação e Organização do
Conhecimento, que visa identificar práticas ambientais locais e globais que possam ser relacionadas com a
redução da emissão dos gases de efeito estufa na produção industrial madeireira, através da produção de
informações estratégicas.
O projeto em questão foi aprovado no âmbito do Edital da Fundação de Apoio a Pesquisa Científica e
Tecnológica do Estado de Santa Catarina - FAPESC - 02/2005 – Projetos para Redução de Gases de Efeito
Estufa, tendo como proponente a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S/A
– EPAGRI e apoio da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e do Instituto de Governo
Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas - IJURIS.

2. O Projeto

O Sistema Inteligente de Monitoramento de Informações para Redução dos Gases de Efeito Estufa do Setor
Madeireiro do Planalto Norte Catarinense é idealizado dentro dos conceitos de gestão do conhecimento, seu
objetivo é tornar os processos de tomada de decisão e a organização do conhecimento do setor madeireiro
mais céleres, transparentes, compartilhadas e eficazes, através da construção de uma base de conhecimento
focada nas práticas locais e globais para redução de gases de efeito estufa da cadeia madeireira.
Nesse sentido, serão utilizados ferramentas, metodologias e estudos de comprovados resultados. Esses
estudos e metodologias serão associados a um Sistema de Recuperação de Informações baseado em
Ontologias.

1
O Protocolo de Kyoto é um documento no qual os países signatários comprometem-se a reduzir as emissões globais de gases estufa até 2012 em pelo
menos 5% dos índices medidos em 1990, entre 2008 e 2012. O requisito necessário para sua implementação era que pelo menos 55% dos países do Anexo 1
ratificassem o documento, o que aconteceu somente no final de 2004, sendo que ele entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005.
O protocolo, além de quantificar as limitações e reduções de emissões dos países do Anexo 1, prevê ainda três principais mecanismos de flexibilização a
serem utilizados para o cumprimento das metas. São eles a Implementação Conjunta (IJ), o Comércio de Emissões (ET) e o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL), sendo esse último objeto do presente projeto.
O Sistema é um instrumento de gestão do conhecimento em instituições onde atividades de inteligência
possuem uma importância destacada, enfocando a disponibilização e fácil recuperação de informações
estratégicas que contribuem para a dinamização do processo de tomada de decisões.
Uma solução com tecnologias e metodologias essencialmente nacionais, desenvolvidas no seio da
comunidade científica mundial e com aplicações em diversos níveis decisórios e operacionais é o fator
indicativo de uma notória capacidade de geração de uma solução inovadora. A associação de um modelo de
implementação interativa de gestão da produção mais limpa para o setor madeireiro do Planalto Norte
Catarinense à ferramenta permitirá os seguintes resultados:
1. identificar de forma automática as especificidades de empresas exportadoras do setor madeireiro do
planalto norte catarinense para auxiliar no processo de certificação ambiental destas empresas;
2. criar ontologia do setor madeireiro voltada às questões de redução de poluição por emissão de gases;
3. monitorar as exigências e normas ambientais do mercado global da madeira;
4. integrar empresas do setor madeireiro no sistema, através de ambiente Web;
5. identificar fatores que elevam ou diminuam a produção de gases poluentes;
6. identificar, categorizar e trocar informações com as empresas que apóiam políticas de desenvolvimento
sustentável;
7. monitorar a demanda sócio-econômica e ambiental da região do Planalto Norte Catarinense.
8. monitorar e integrar as informações relativas a projetos e tecnologias de aproveitamento energético de
matérias-primas e subprodutos florestais;
9. monitorar e integrar as informações relativas a projetos de certificação ambiental das empresas de
silvicultura e de transformação madeireira, bem como de projetos de seqüestro de carbono, envolvendo
plantios florestais;
10. capacitar na qualidade de multiplicadores, a equipe de pesquisa da EPAGRI, bem como especialistas e
gestores de empresas do setor madeireiro interessados no projeto.

2.1 A metodologia e o desenvolvimento do sistema

O Sistema tem seu desenvolvimento lingüístico baseado em ontologias. Para a construção das ontologias, são
utilizadas duas principais metodologias denominadas Engenharia do Conhecimento e Engenharia de
Ontologias. A primeira consiste em extrair e organizar o conhecimento dos especialistas do setor madeireiro
e a engenharia de ontologias consiste na representação do conhecimento através de expressões indicativas,
formando assim, uma rede semântica de relacionamentos de conceitos.
1- Engenharia do Conhecimento
O processo de Engenharia do Conhecimento é uma metodologia utilizada no desenvolvimento de sistemas
baseados em conhecimento, sendo etapa fundamental para o desenvolvimento do modelo. Esse processo é
considerado multidisciplinar por natureza e compreende tipos de pesquisas difíceis de classificar numa
abordagem bem delimitada. BUENO (2005).
Nesse sentido, o processo de Engenharia do Conhecimento é responsável pela parte de análise de domínios
do conhecimento que servem à recuperação de informações incluída na base de conhecimento que alimenta o
sistema.
A etapa de desenvolvimento do Sistema inicia-se justamente com a etapa de Engenharia do Conhecimento,
responsável pela análise de requisitos, estudos relacionados ao setor madeireiro, identificação das fontes de
informação, definição dos campos da interface e são organizados na suíte de engenharia do conhecimento. A
suíte consiste em uma estrutura computacional independente para a extração, organização e representação do
conhecimento extraído na fase de Engenharia do Conhecimento, além da construção e edição de ontologias
realizada na fase posterior de Engenharia de Ontologias. A Suíte de Engenharia do Conhecimento foi
desenvolvida para atuar em conjunto com a Representação do Conhecimento Contextualizado
Dinamicamente - RC2D®2. Entre as principais ferramentas, podemos destacar o extrator de freqüência e o
extrator semântico e o editor de ontologias.

2 RC2D® é uma metodologia de representação de conhecimento, um processo dinâmico de aquisição do conhecimento de textos, definido através de
elaboração de um vocabulário controlado e um dicionário de termos, associado a uma análise de freqüência das palavras e expressões indicativas do
contexto.
As fontes de informação são provenientes dos órgãos possuidores de informações sobre o setor madeireiro e
instituições de pesquisa, além de bancos de dados públicos, como por exemplo: IBGE, Ministério de Minas e
Energia, dentre outros. Através da análise dos documentos encontrados nessas fontes são definidos os índices
que servirão de base para a extração de informações. Os índices são definidos para facilitar o processo de
recuperação dos documentos relativos à consulta feita pelo usuário. Essa definição deve ser realizada em
função da relevância encontrada nos conteúdos dos documentos.
Em seguida, são definidos os campos da interface que estará disponibilizada ao usuário final. Essa definição
deve passar por uma análise de critérios que envolvem a navegabilidade, usabilidade e ergonomia.
O processo de Engenharia do Conhecimento envolve diversos atores conforme demonstrado na figura a
seguir:

Como podemos observar, na área branca da figura encontram-se três elementos essenciais no processo. O
especialista da área, responsável pela organização e definição de relevância dos conhecimentos a serem
inseridos na base de conhecimento do sistema. O Engenheiro do Conhecimento, responsável pela extração e
representação do conhecimento do especialista da área. Por fim, o analista de sistemas, especialista em
tecnologia da informação, responsável por definir que tipo de ferramenta é mais adequado ao tipo de
conhecimento a ser produzido e recuperado.
2- Engenharia de Ontologias
A Engenharia de Ontologias é uma metodologia de representação do conhecimento que visa tornar os
processos de busca mais eficientes e precisas. Essa representação se dá através de expressões indicativas e
suas relações.
No Editor de Ontologias, são inseridas as expressões indicativas e suas relações, formando uma árvore de
relacionamentos considerando a semelhança dos termos cadastrados com a suas relações e pesos. Essa forma
de organização permite a atribuição dinâmica dos pesos das palavras ou expressões indicativas em relação ao
contexto da busca.
Depois de analisados os documentos, definidas as fontes de informação, definidos os índices e os campos da
interface, realizados na etapa anterior, na Engenharia de Ontologias são definidos os domínios de aplicação
dentro do setor madeireiro. Os domínios são as representações das principais variáveis que indicam as
necessidades de produção de informações relevantes dentro de uma determinada área do conhecimento, no
caso, o setor madeireiro.
Na seqüência serão elaboradas as listas de expressões indicativas, de modo a representar o conhecimento e
inicia-se o processo de relacionamento entre essas expressões. As expressões indicativas são extraídas, pelos
especialistas do setor e engenheiros do conhecimento e através do extrator de freqüência, de textos legais e
outros documentos técnicos identificados, além de expressões extraídas de acordo com a sua relevância. A
partir dessas expressões, o vocabulário é expandido por meio de relações técnicas e usuais e da validação
realizada pelo extrator semântico. Ele tem a função de definir o valor do índice mais útil para a recuperação
de um documento. Através do vocabulário construído na Engenharia de ontologias, são encontradas
expressões análogas às definidas na norma, além de muitos outros termos encontrados de forma usual em
documentos. Nesse sentido, pode-se afirmar que a árvore de relacionamentos construída a partir do Editor de
Ontologias “define as semelhanças lingüísticas, semânticas e axiológicas de condições que permitem a
determinação da semelhança local entre os valores de um índice".
A Tabela abaixo exemplifica algumas expressões indicativas:

LISTA DE EXPRESSÕES INDICATIVAS

Aumento do potencial agrícola


Redução da oferta de madeira certificada
Aumento da produção de móveis
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
Mercado de troca de emissões
Redução de gases causadores do efeito estufa

A classificação das ontologias se dá através das seguintes relações:


Relação de sinônimos: A relação de sinônimos existe entre os termos ou expressões que apresentem o mesmo
significado dentro de um mesmo domínio. Ex: Biocombustível é sinônimo de combustível limpo.
Relação de termos conexos: A relação de termos conexos ocorre quando os termos ou expressões apresentam
forte ligação, porém não tem exatamente o mesmo significado e não se enquadra em nenhuma das outras
relações. Ex: imposto de exploração é conexo de royalties.
Relação tipo de: A relação tipo de, consiste naquela baseada na classificação entre gênero e espécie. Ex:
Biodiesel é um tipo de biocombustível.
Relação parte de: A relação parte de, está relacionada a questão partitiva ou níveis de organização. Ex:
Energia alternativa é parte do PROINFA
A figura abaixo apresenta a interface de cadastro e edição de ontologias, com base na classificação
apresentada acima.
Figura 6 – Relatório Editor de Ontologias
Fonte: Bueno, 2005

A metodologia de construção das ontologias consiste nos seguintes passos: 1. Inventariar todo o domínio, isto
é, catalogar todas as fontes de informação digital que servirão como base de dados do sistema; 2. Aplicar o
Extrator de freqüência de palavras em cima da base de dados inventariada; 3. Comparação entre os resultados
dos extratores com as necessidades dos especialistas; 4. Construir, junto com o especialista um vocabulário
controlado representativo do domínio; 5. Utilizando este vocabulário, aplicar o extrator semântico na base de
dados; 6. Avaliar o resultado com base na freqüência das expressões indicativas encontradas e definir uma
lista de palavras; 7. Construir ontologias para utilização no sistema com base neste vocabulário controlado; 8.
Definir sinônimos, homônimos e hiperônimos com base doutrinária e principalmente da legislação sobre o
assunto [BUENO, 2005, p. 7].
3- Desenvolvimento da Ferramenta
A etapa de desenvolvimento da ferramenta é justamente a customização do sistema para o setor de
madeireiro. O processo inicia-se com a inserção das ontologias, o que é feito através do editor de ontologias,
indexado ao sistema. Na seqüência são implementados e testados os observadores, responsáveis por capturar
informações nas fontes de informação definidas na etapa de Engenharia do Conhecimento. A partir de então
inicia-se a concepção dos agentes inteligentes de coleta que identificarão e extrairão os documentos
relevantes de diferentes bases de dados, visando a construção de uma base de conhecimento, onde os
documentos são armazenados de forma organizada. Os agentes inteligentes de coleta são “robôs” que tem a
função de identificar e coletar documentos relevantes para a concepção do software. Esses agentes só podem
ser programados após o processo de Engenharia do Conhecimento, utilizado novamente na etapa de
desenvolvimento do software.
Atualmente o SCInfo, isto é, os agentes inteligentes de coleta estão apto a recuperar alguns tipos de formatos
de documentos, entre os quais podemos destacar HTML, Doc, Power Point, PDF e TXT.
A programação é feita em HTML e deve ser direcionada para o sítio a ser monitorado. Para tanto devem ser
identificados os principais índices de onde serão indexadas as informações, além da taxa de atualização do
sítio. Isso porque só faz sentido monitorar determinada fonte de informação se existir uma periodicidade
relativamente curta de atualização, sob pena de não agregar valor ao sistema. No caso de o sítio apresentar
diferentes campos de informação com taxas de atualização diferentes, devem ser construídos mais de um
observador, sendo um para cada campo do sítio de acordo com a taxa de atualização. Por exemplo, quando
um sítio apresenta uma seção de notícias com atualização diária e outra seção de documentos técnicos com
uma taxa de atualização mensal, devem ser construídos dois observadores, sendo que o primeiro estaria
monitorando somente as notícias e o segundo os documentos técnicos.
Os procedimentos para construção do SCInfo passam pela análise do website, definição da página inicial,
definição da profundidade da coleta, definição do intervalo da coleta, definição dos filtros de links, definição
dos delimitadores de manchete e texto e definição dos parâmetros de autenticação. A tabela abaixo demonstra
uma fração da programação utilizada na construção dos observadores. No exemplo, a programação
corresponde a um observador até o nível 2 de coleta.
Após passar pelos processos de captura, armazenamento e tratamento, os documentos passam a ser
recuperados através da interface de análise que estará disponibilizada através do portal.
Todo esse processo é aperfeiçoado constantemente, através do desenvolvimento contínuo de novas
ontologias e identificando novas fontes de informação e contribuindo para a dinâmica de troca e construção
de novos conhecimentos. Nesse sentido, o processo de construção do software envolve os três principais
atores apresentados na figura de engenharia do conhecimento.
Após a implementação dessas funcionalidades, é acoplado ao sistema um módulo para entrada de dados, com
intuito de estabelecer conexões entre os agentes da cadeia do setor madeireiro.
Por fim, definida a política de segurança, são iniciados os testes de qualidade e validação final das ontologias.
O projeto tem a vigência de 12 meses. A primeira fase, denominada Engenharia do Conhecimento está
programada para ocorrer em cerca de três meses. A fase de Engenharia de Ontologias iniciará após a fase de
Engenharia de Conhecimento e ocorrerá durante todo desenvolvimento do projeto.
O desenvolvimento do sistema ocorrerá depois da fase de Engenharia do conhecimento e durará cerca de 6
meses, isto é, do mês 4 ao mês 10 de vigência do projeto. No mês 11 serão realizados a implementação, testes
e treinamentos para o uso do sistema.
No último mês, o objetivo é expandir a rede de informações para os empresários do setor, integrando
parceiros ao projeto.

3. Resultados Esperados

O desenvolvimento do Sistema Inteligente de Monitoramento de Informações para Redução dos Gases de


Efeito Estufa do Setor Madeireiro do Planalto Norte Catarinense irá proporcionar o acesso a grande
quantidade de informações referentes à redução dos gases de efeito estufa aos produtores rurais, investidores,
setores públicos, além de outros agentes da cadeia do setor madeireiro. Além disso, o Sistema possibilitará a
criação de uma rede de relacionamentos entre os agentes que formam a cadeia do setor madeireiro.
Dentre os principais impactos tecnológicos pode-se destacar: a evolução no que tange ao desenvolvimento de
sistemas baseados em conhecimento, ao utilizar técnicas de Inteligência Artificial, e com sua lingüística
baseada em ontologias. A possibilidade de inserção de até 10.000 palavras no campo de busca é um forte
diferencial, pois rompe o paradigma de busca por palavras-chave. Outro fator que merece destaque é a
Pesquisa Contextual Estruturada – PCE, baseada em ontologias. Isso significa que o resultado à consulta
realizada pelo usuário vem de forma ordenada de acordo com o grau de similaridade entre o contexto dos
documentos da base em relação ao texto de consulta, com prioridade aos documentos que encontrem mais
expressões contidas no vocabulário de ontologias.
O projeto busca contribuir para o setor madeireiro reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa.
Isso porque a produção do setor madeireiro pode ser responsável pela diminuição da poluição nas grandes
cidades pela redução das emissões de CO2, eliminação das emissões de enxofre e ligeira diminuição das
emissões de CO. A adequação às normas internacionais e mecanismos de produção mais limpa são os
principais impactos ambientais advindos do projeto. Verificar a postura ambiental do setor madeireiro do
estado de Santa Catarina, ou seja, como o setor está posicionado frente às questões ambientas, com relação às
suas estratégias. Isto é, identificar como as atuais práticas das empresas do setor madeireiro podem ser
relacionadas à redução dos gases de efeito estufa.
Outro fator que deve ser destacado é a disseminação e compartilhamento do conhecimento, já que o acesso
ao sistema se dará através da Internet, por meio de login e senha. Para disseminação e treinamento do
sistema, serão realizados workshops nas principais regiões de Santa Catarina.
Vale ressaltar que o projeto para desenvolvimento do presente projeto foi aprovado pela Fundação de Apoio
a Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina – FAPESC, sendo proposto pela Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S/A – EPAGRI, realizado com o apoio de
importantes parceiros como a Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e o IJURIS.
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(ORNL)
El impacto de la realidad virtual con patrones de comportamiento
complejos en ambientes de inmersión sensorial enfatizados a la
innovación del aprendizaje educativo y la promoción del turismo
virtual.

Ruben Cañihua Florez


Atlantic International University - USA
ruben588888@hotmail.com

RESUMEN
Luego de culminar una investigación por mas de 3 años en el área de las tecnologías de Realidad Virtual, logre desarrollar un
Sistema prototipo de Realidad Virtual que emplea patrones de comportamientos complejos en ambientes de inmersión
sensorial creados artificialmente, orientados a potencializar el aprendizaje del estudiante peruano y fomentar la promoción
del turismo extranjero utilizando como plataformas de investigación las estructuras de representación en MCD(Diffuse
Cognitive Maps), técnicas de diseño en árboles BSP(Space Binary Partition) y algoritmos Ray Traicing(Lambert-Gouraud-
Phong) en la base geográfica del Perú para los distintos atractivos turísticos del Cusco(Sin la necesidad de visitarlos en su
realidad física a través de los sentidos del usuario donde el Guía Virtual pueda proporcionar información a tiempo real vía
voz estereofónica y datos específicos procesados por sensores inteligentes dentro de los circuitos recorridos) empleando
como herramienta clave de éxito los mecanismos del diseño VRML(Language Modeling of Virtual Reality).

PALABRAS-CLAVE
Realidad Virtual, educación 3G, ambientes sensoriales, VRML, aprendizaje virtual.

1.- ANTECEDENTES

El perfeccionamiento de computadoras de superior tecnología en la arquitectura de sus dispositivos


Microchip, junto a los avances en el diseño de sofisticados programas en el modelamiento de realidad virtual
contribuyen al desarrollo de ambientes reales creados artificialmente, viviendo ahora la época de la Realidad
Virtual. Observando que todo es real a nuestro alrededor, pero sin embargo en gran medida ficción Scrolling.
Siendo la idea básica la de insertar al estudiante dentro de un ambiente imaginario(Entornos de Virtuales) de
inmersión sensorial generado por la computadora por modelos de simulación Head Mounted Display reproduciendo
un ambiente que sea indiferenciado de la naturaleza física, logrando así una ilusión completa y totalmente real en la
percepción de los sentidos plasmada por los elementos que coexisten alrededor del ambiente virtual.
2.- OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GENERAL.


Desarrollar un Software prototipo de Realidad Virtual que permita realizar patrones de comportamiento
complejos en ambientes de inmersión sensorial, utilizando estructuras de representación en MCD(Diffuse
Cognitive Maps), técnicas de diseño en árboles BSP(Space Binary Partition) y algoritmos Ray
Traicing(Lambert-Gouraud-Phong) con mecanismos de respuesta en tiempo real, enfatizados a la
promoción del turismo receptivo, la innovación de la calidad del aprendizaje educacional y el empleo de las
plataformas virtuales para el diseño de módulos VRML.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.

 Diseñar e implementar ambientes virtuales utilizando estructuras de


representación tridimensional en MCD(Diffuse Cognitive Maps) de los centros turísticos mas importantes
del Cusco orientado al aprendizaje educativo.

 Generar comportamientos complejos de interacción dinámica a elementos reales creados artificialmente


utilizando técnicas de diseño en árboles BSP(Space Binary Partition); enfatizadas a optimizar el aprendizaje del
estudiante peruano, como herramienta académica orientada a la innovación tecnológica de la educación.

 Aplicar las herramientas de interfaz VRML a la construcción de una infraestructura artificial


modelada a partir de algoritmos Ray Traicing(Lambert-Gouraud-Phong) y componentes de interacción
sensorial que permitan fomentar, motivar y persuadir a los estudiantes de area el empleo de aplicaciones
que utilicen las plataformas de Realidad Virtual .

3.- METODOLOGÍA

La metodología que se utilizara será el Ciclo de Vida Iterativo Incremental, para lograr realizar pruebas de
carácter experimental con el usuario y reducir los riesgos en la construcción de la aplicación. El proceso
metodológico definirá las siguientes fases:
1. Fase de diagnóstico y definición
2. Fase de análisis
3. Fase de diseño
4. Fase de Implementación
5. Fase de Pruebas
De manera que nuestro diagrama de flujo presentara el siguiente esquema:
OPTIMIZE OPTIMIZE OPTIMIZE OPTIMIZE
1 I=0 NOT YES NOT YES NOT YES NOT YES END
YES

OPTIMIZE
BEGIN I=I+1 2 3 4 5 I=3

NOT

4.- TECNOLOGÍA
Se emplea un modelado heterogéneo utilizando las tecnologías de Realidad Virtual(Para destacar
la posibilidad de simular el ambiente real con una finalidad cognoscitiva) y Realidad Artificial(Para
simular entornos y escenas inexistentes, o imposibles porque incumplen leyes físicas a fin de explorar
las potencialidades expresivas del medio más allá de sus capacidades reproductivas en relación con lo real)
enfocado a la inmersión sensorial en primera persona en la categoría de realidad aumentada Generation
Mounted Display” para establecer combinaciones ópticas frente a los ojos del usuario(Utilizando integradores
gráficos tridimensionales) captando así la percepción humana y supliendo información no ordinaria
detectada por los sentidos humanos.

5.- JUSTIFICACION

 Por la inexistencia de aplicaciones que emplean las tecnologías de Realidad Virtual con patrones de
comportamiento complejo al desarrollo de aplicaciones que permitan vincular un adecuado aprendisaje orientado a
la promoción del turismo nacional e internacional; más aún cuando los programas del estado Peruano(Mincetur-
PromPeru) y los paquetes Turísticos de Empresas Privadas(Agencias de Turismo-Travel’s) en sus intentos
por potencializar el Turismo en Perú, ofrecieron resultados claramente cuestionables(situación de evidente
problema cuando, la OET-Dritinci según sus bases estadísticas estima que en el 2003 el ingreso Visitantes
Extranjeros fue de 320482 y el número de Visitantes Nacionales al Cusco fue el de 220779. Situación aun critica
cuando Mincetur precisa al 2020 un promedio de 1600 millones de llegadas internacionales para un ingreso
financiero 2 Billones de dólares el gasto turístico a nivel Mundial).

 En la actualidad los programas educativos tecnológicos en el Perú(Programas de la Secretaria de Planificación


Estratégica, la Oficina de Coordinación para el desarrollo educativo, el Proyecto Huascaran y las Unidades
Operativas de los Sistemas Educativos::Ministerio de Educación D.S. 002-96ED :: D.S. 064-2001-ED);
ofrecieron modelos educativos que obtuvieron como resultados una infraestructura en forma “Atractiva y
Multimedial” pero en el fondo poco nutrientes a la mejora de los indicadores del aprendizaje del estudiante Peruano;
determinando claramente así, un sesgo muy distante entre la unidad pedagógica del paradigma de la enseñanza con
el paradigma del aprendizaje en materia de educación(Resultados e indicadores fehacientemente determinados
por el Laboratorio Latinoamericano de Evaluación de la Calidad de la Educación (LLECE), el órgano técnico de la
Oficina Regional de Educación para América Latina y el Caribe (OREALC) de la UNESCO, el Programa de
Indicadores Mundiales de la Educación (WEI) y finalmente el Programa Internacional de Evaluación de
Estudiantes (PISA)).
 También se considero importante por la evidente necesidad de observar que un número reducido de
estudiantes de Área emplean las tecnologías de realidad virtual para implementar aplicaciones VRML;
disgregando así, el verdadero valor del potencial que ofrecen las plataformas virtuales.

6.- FACTIBILIDAD

6.1. Técnica
En los aspectos de versatibilidad de configuración del Software y requerimientos de Hardware el producto
nos ofrece resultados viables; por que para el funcionamiento y rendimiento de la aplicación bastara con
los siguientes requerimientos mínimos de Hardware:
Hardware
Procesador Pentium III+ 1.2Ghz Bus 133Mhz Memoria RAM 256MB Bus 133Mhz
Arquitectura del Mainboard Chipset Intel 815 EPEA2 FSB 133
Disco Duro 30GB+ ATA66 5400rpm Tarjeta de Sonido comp. AC’97 Codec 2.0+
Monitor Súper VGA 14” +1024x768 DPI apertura 0.26 mm.
Tarjeta de video Nvidia Riva TNT2 32MB+ (RAMDAC 66Mhz) AGP 4X
Equipo Opcional: Unidad de presentación montada HMD
(+)
Versiones superiores

Mientras que para la versatibilidad de configuración del Software se presenta un requerimiento dual:
Software
Sistema Operativo Browser de inmersión sensorial

Windows98+/NT/XP - Mac OS10.1+ Cosmo Player v.2.1.1 Platinum T


+ + + Liquid Reality v.1.0 Dimensión X
Linux kernel v.2.0.40 - SGI Irix5.0 - Sun Solaris 8.0
(+) Versiones superiores
Requerimientos aceptables en medida que la aplicación tendrá una versatibilidad de configuración e
Instalación en un CD para la comercialización al mercado y también se encontrará en módulos
interdependientes publicados en la Web en formatos WRL.

6.2 Operativa
El carácter funcional de la implantación de la Aplicación de Realidad Virtual supone efectivamente cambios
de alto nivel, tanto en la manipulación como en el monitoreo de los patrones de comportamiento de los
ambientes virtuales; situación por la cual los requerimientos de operatividad funcional hacia los usuarios no
ameritan conocimientos en computación(siendo mas que suficiente algunas nociones y aspectos básicos en
computación), motivo por el cual se utiliza el Cosmo Player 2.1.1 para realizar las inmersiones sensoriales
el que presenta un HELP, donde es especifican los requerimientos de manejo(Audio: Efectos de
configuración de sonido, Graphics: Clase de renderización de los elementos virtuales, World: Preferencias de
estructuración de los ambientes virtuales, Performance: Efectos de acción sensoriales de los elementos
tridimensionales, Mouse-Keyboard: Modificación de los comandos de controlabilidad y Advanced: Configuraciones
avanzadas del Feedback-Consola y rutinas del VRML) los aspectos alternos a las inmersiones sensoriales utilizan
plataformas de accesos directos por niveles, situación por la cual el grado de complejidad de manejo es
relativamente reducido.
7. MARCO TEÓRICO
Como es de saber la ciudad del Cusco es el Patrimonio cultural de la Humanidad siendo reconocido en
sus diferentes esferas del ámbito mundial. El presente software inspira su motivación en el legado cultural que
dejaron nuestros antepasados y orienta su enfoque a la promoción del turismo como inyección económica
y al aprendizaje como instrumento educativo empleando la tecnología de la realidad virtual.
Para el integrante de la presente proyecto de investigación este trabajo representa una culminación del anhelo que
el conocimiento como estudiante contribuye efectivamente a difundir y rescatar las riquezas culturales y humanas
que el Cusco tiene, y de estas realizar un proceso laborioso e implementarlas usando las diferentes
herramientas de realidad virtual entre otros. Siendo esta un caudal de información virtual que se presenta
al turismo. El presente software será una obra concebida y realizada en todas sus fases con los programas y
herramientas más actuales, estando omnipresente en todo el proceso,
de manera que se permita trabajar con mayor calidad. Repercutiendo este muy directamente en el uso de
la inmersión sensorial y en empleo de los patrones de comportamiento que se ofrece a los sentidos del
usuario. Se pretende desarrollar una simulación de un ambiente real donde el usuario podrá experimentar
visualmente en tres dimensiones la visita a los distintos centros culturales del Cusco. De manera que la realidad
virtual juegue un papel importante permitiéndonos apreciar una experiencia de expresión visual, sonora y de
movimiento.
Nuestro principal caso de estudio es el análisis, diseño e implementación de un Sistema de Realidad Virtual que
permita realizar inmersiones virtuales sensoriales en el Cusco, empleando herramientas de Hardware y Software
que permitan el funcionamiento de la tecnología VRML. La aplicación se encontrara asistido por un guía de
turismo virtual que ofrecerá interacción en tiempo real al usuario a través de sonidos estereofónicos y el
fenómeno de inmersión sensorial. La selección del sistema involucra una exhaustiva investigación en las
nuevas tecnologías enfocadas a la Realidad Virtual que han cobrado vital importancia en el desarrollo de centros
virtuales y su propia reconstrucción creadas artificialmente proporcionándonos objetos reales que nos permiten
interactuar en cierto grado ocasionando una sensación real en función a los niveles de visión, audición y tacto que
se le brinda al usuario. Dentro del contexto de la aplicación se observaran las estructuras virtuales de los
centros mas importantes del Cusco realizadas a través de mapas cognoscitivos difusos describiendo los entornos
reales frente a un modelamiento tridimensional de las superficies, utilizando técnicas y algoritmos
enfatizados a fundamentos matemáticos, en la simulación de los movimientos; logrando de esta manera que la
aplicación sea utilizado como un material educativo a la sociedad.

En la aplicación se esta considerado cumplir con los estándares de calidad de los mundos virtuales por utilizar
una estrategia de desarrollo iterativo con la utilización de ciclos básicos de desarrollo y una funcionalidad
cíclica especifica para la arquitectura de las capas de la mano con los patrones de notación UML; explicando
las ideas de mayor empleo enfocadas a las necesidades del usuario en los procesos iniciales del modelado
grafico por niveles de complejidad, hasta llegar a la exhaustiva implementación en términos sintácticos y
semánticos de los elementos de notación descritos posteriormente.
Al diseñar, integrar e implementar un Sistema Virtual que asista a la asignación de comportamientos
complejos frente a entornos virtuales creados con VRML y que proporcione mecanismos visuales enfatizado
a la asignación de patrones de comportamientos descritos por una arquitectura en tres dimensiones nos permite
presentar las siguientes capas organizadas de acuerdo a un modelado por niveles lógicos en la aplicación del
dominio y servicio del problema que mostrados a continuación.
Ambiente Virtual
Deposito
Deposito de
de Datos
Arquitectura Módulos
Base de Flujo Capa de Servicios Estructura VRML
Operativo
Subcapa de Acceso a Datos de Interacción
Reenderezado
Tipificación
Navegación Subcapa de Gestión de Bases de Datos VRML Estructural
Deformación Nodos
Objetos de Acceso Integrado a Datos Eventos
Rotación

Traslación Censores
Motor de Gestión Base de Datos a Tiempo
Escala Cámaras

Modelo Sonidos

Intercesión Texturas
Bases de Datos
Revolución Filtros

Imágenes
Diseño VRML Animaciones
Herramientas
Analizadores de Código Generadores de Código
Código Resultante Analizadores de Código Generadores de Código Código Fuente
Orientado a Objetos Orientado a Objetos
Analizador de Analizador de Generador de Generador de
Código Orientado Código 3D Código VRML Código 3D Código VRML Código Orientado
a Objetos a Objetos
Analizador de Código VRML Generador de Código VRML
Código HTML Código HTML

Editor y Lenguaje Visual para Asignar Comportamientos


Código VRML Código VRML

Código VRML Código VRML

Interfaz Gráfica (GUI)

Edición Dirigida por Sintaxis y Semántica


Identificación Verificación de la Actualización Compiladores
del Comando Sintaxis y Semántica del Grafo
Compilador 3D

Compilador VRML
Depósito
Serviciosde Datosa las Bases de Datos
de Acceso

Código Ejecutable
Gramática del
Grafo de Sintaxis Lenguaje Visual Archivo 3DS
Abstracta Descripción de
Nodos Censores Archivo WRL
8. Bienes financieros y bienes imperceptibles

8.1 Bienes tangibles


Nº de Valor Actual Valor Actual Desembolso Flujos de Coeficiente Clasificación Coeficiente de
Fases de Ingresos Acumulado Neto Actual Inversión (0.95) de Relación Arancelaria Amortización

I 2835.5964 2835.5964 -12194.404 2693.81654 0.1886624 Doceava 141.779818


II 2478.2319 5313.8282 -9716.172 5048.13682 0.3535481 Onceava 265.691412
III 2726.0409 8039.8691 -6990.131 7637.87569 0.5349214 Décima 401.993457
IV 2775.3338 10815.2029 -4214.797 10274.44278 0.7195744 Novena 540.760146
V 3060.4398 13875.6427 -1154.357 13181.86059 0.9231965 Octava 693.782136
VI 2908.2441 16783.8868 1753.887 15944.69245 1.1166924 Séptima 839.194340
VII 3895.8354 20679.7222 5649.722 19645.73611 1.3758964 Sexta 1033.986111
VIII 4276.8025 24956.5247 9926.525 23708.69844 1.6604474 Quinta 1247.826234
IX 3117.5530 28074.0777 13044.078 26670.37379 1.8678694 Cuarta 1403.703884
X 4012.3266 32086.4042 17056.404 30482.08402 2.1348240 Tercera 1604.320211
XI 3336.6285 35423.0327 20393.033 33651.88109 2.3568219 Segunda 1771.151636
XII 2803.3950 38226.4277 23196.428 36315.10632 2.5433418 Primera 1911.321385

Nuestra línea de acción objetiva resultaría de la inversión financiera de 15030$


para obtener una liquides periódica de 38226.6285$; obteniendo así un
excedente de 23196.4277$ como beneficio final.
A continuación procedemos a mostrar algunos gráficos donde se especifican los
indicadores de inversión empleados para el desarrollo de la aplicación:
Diagrama de egresos acumulados en función al tiempo
Análisis, diseño, implementación y pruebas
3000
2900 2782.5 2805
2760.5
2800
2659.5
2700
2570.5
2600 2481.5
2500
2343
2400
2300
2158
2200
2030 2054
2100
Egresos acumulados

1950
2000
1870
1900 1790
1800 1631.5
1700
1600
1500 1386.5
1300.5
1400
1300 1147.5
1200
1042.5
1100
961.5
1000
900
727.5
800
700
600 494
500
400
255
300
170
200 85
100
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Tiempo en semanas
Administración de Costos por Niveles Administración de Tiempos por Niveles
243 237
250

500 460
184
200
450
364.5 355.5 160
400 340 136
317.5
350 150 127

Horas
113
Precios

300 260 240 104 96 96


250 100
160 155
200 64 62
150
100 48 48 56.5 50

50
0 0
Etapas Primera Etapas Primera

Segunda Segunda

Tercera Tercera

Diagrama de egresos parciales en función al tiempo


Plan de inversión
4018.5

6 100 92 272 300 234.5 3020


Tiempo en meses

3714.5

5 92 80 271 441 512 638 1164 516.5

4 92 73 50 271 264
750.0

3 92 65 73 270 642.5
1142.5

2 92 80 50 270 653.5
1145.5

24 40

1 1765 214 90 1008 90 199 270 494


4259
65

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 3000 3200 3400 3600 3800 4000 4200 4400

Egresos parciales($)

8.2 Bienes intangibles


Procedemos consecuentemente a establecer los bienes de carácter intangible con
una visión objetiva, acorde al impacto de los Sistemas de Realidad Virtual y los
estándares en el modelamiento del lenguaje VRML para el ISO de la IEC 14772-1 del
Consorcio Cooperativo Internacional:
o Cumple en su mayor dimensión con la fácil manipulación del Browser
empleado(Por el completo monitoreo de sus comandos de control para la
navegación en acciones de enlace dinámico) a través de los diferentes ambientes
virtuales; manteniendo así la complejidad en los patrones de comportamiento de
inmersión sensorial y el soporte de las plataformas; no siendo en gran medida el
necesario conocimiento del modelado de Realidad Virtual al Usuario por ser una
interfaz grafica controlada por medio de paneles de control dimensiónales (Sliders o
Gauges ) y tridimensionales (Por medio de los paneles incluidos dentro del
ambiente virtual) para los dispositivos externos.
o El escenario dinámico de inmersión sensorial que se presenta al Usuario a través de
la incorporación de censores de proximidad, contacto, visibilidad y tiempo permite
interactuar con los distintos elementos del Ambiente Virtual lo que permite una
interacción fluida entre el Guía y el Usuario a tiempo real optimizando de esta
manera, los requerimientos que se puedan presentar durante el recorrido de los
centros turísticos.
o La capacidad de Reenderezado por el Método HAPTIC-RENDERING, nos permite
eficientar los procesos de enlace y funcionamiento de los elementos del Ambiente
Virtual permitiendo así regular la velocidad de procesamiento. Por que
generalmente los Sistemas de Realidad Virtual sacrifican el detalle en la forma por
la velocidad del reenderezado siendo necesario para este caso considerar un patrón
intermedio que regule estos dos aspectos.
o La graficación resulta ser muy eficiente en la descripción de la calidad de
resolución de los elementos tridimensionales por que se emplea segmentaciones a
través de la administración en las bases de datos por el método BSP en la
generación de los árboles de balanceo(Generando en cada elemento tridimensional
jerarquías de herencia paralelas e independientes en función a las características de
modelado especificas con sus respectivos comportamientos) de modo que se diseña
la arquitectura para describir acciones en los elementos del ambiente virtual y el
manejo de censores para el acceso al dispositivo de hardware.
o El empleo de algoritmos sofisticados como el Z-Buffer de “Catmull” o el de Ray
Traicing de “Ren Descartes” para la elaboración de los primitivos nos permitió en
gran medida el uso del modelado de los sólidos de acuerdo a las operaciones de
mallas booleanas para la generación de las curvas y la composición de superficies,
utilizando la técnica AKA-PATCHES permitiendo así, presentar formas complejas
en el modelado de las geometrías dinámicas y empleando en algunos casos las
superficies de revolución (A partir de las curvas y el diseño arquitectónico en la
plantilla de barridos sobre la rotación de sus ejes) utilizando el MORPHING.
o Se logro implantar en mayor dimensión los niveles de inmersión: Visión:
Empleando las técnicas de iluminación de Lambert y Gourand (Sombras, brillantez,
transparencias y luces); en las texturas de los objetos y perspectivas aumentando en
gran medida el realismo “Ideal” (Con una visibilidad de 6 cuadros por segundo)
mediante transformaciones de rotación, traslación y escalamiento simulando los
movimientos del Usuario dentro del escenario.
Oído: Logrando la generación de sonidos tridimensionales por medio de la técnica
“Fonders”, percibiendo así la dirección y el origen del sonido de acuerdo a las
intensidades programadas.
o Según el análisis de interacción entre los elementos del ambiente y el Usuario se
creo los siguientes accesos adicionales:
 Guiones de movimiento: Generados a partir de la modificación de la ubicación
y orientación entre los atributos de acción, por medio del sistema TICK como
un avance del reloj de simulación del Browser empleado (Que es equivalente a
un frame de animación).
 Modelado y simulación física: Generados a partir de la simulación compleja en
el modelado de las interacciones del ambiente real físico por medio del sistemas
procedurales enfatizando que estas acciones consumen memoria.
 Animación simple: Generadas a partir de formulas sencillas que controlan el
movimiento de los elementos tridimensionales.
 Guiones de acciones por conexión: Dependiendo de la naturaleza del evento
determinados a partir de la complejidad de los enlaces de acceso a tiempo real
para los diferentes archivos WRL; para lo cual se genero una cola de
prioridades de acuerdo a la actividad realizada por el usuario.

9. Riesgos, dependencias y limitaciones


9.1 Riesgos
 Se requiere de cálculos matemáticos complejos para obtener nuevos estados del
entorno virtual por la lentitud en el momento del rendering.
 Se obtiene una animación que no se conoce a priori y con un comportamiento
basado en la lógica del entorno real.
 La necesidad de un hardware sofisticado para la visualización de los entornos
virtuales.
 Riesgos de colisiones de iluminación y ejecución de sonidos.
 Distorsión de la imagen por acercamiento en los recorridos virtuales.
 Congestión de censores de interacción frente a un mismo evento con dos
actividades.
9.2 Dependencias
 La posición actual del turista, el cual accionara eventos sonoros visuales.
 Los objetos del mundo virtual solicitan información de archivo.
 El guía depende del comportamiento que haga el usuario.
 Del browser en el que será representado los recorridos virtuales
 De la tecnología de hardware.
9.3 Limitaciones
 No se utiliza la integración de periféricos para Realidad Virtual del tipo Head
Mounted Displays
 No es un sistema implementado en un ambiente multiusuario, ya que no hay una
interacción entre los usuarios del entorno virtual en forma distribuida.
 No se contempla implementar un sistema de Umbrales para el cumplimiento del
control en la interacción entre los actores y el usuario.
 No se emplea la utilización de mapas cognitivos anidados en forma paralela y de
tiempo real.
 El trabajo solo abarca el área turística del Cusco, tomando los puntos turísticos mas
importantes.
 El usuario tendrá una comunicación con el guía, el cual emitirá información según
el turista se mueva en el mundo virtual.
 Los escenarios no serán ilimitados por cuestiones técnicas estos esta limitado, si un
usuario quiere trasladarse de un escenario a otro tendrá que hacerlo mediante un
Link enlace, o mediante el menú principal.

10. ESTANDARES
Se utilizaran dos tipos de estándares:

10.1 Estándares Pre-Determinados:


Según el ISO/IEC-14772-1de(International Organization of Standardization) y la
IEC (International Electrotechnical Comisión) se empleo para la presentación de
siguiente código fuente:
GROUPING NODES SPECIAL GROUPS COMMON NODES
 Anchor, Billboard  InLine  AudioClip, DirectionalLight
 Collision  LOD  Point Light, Script, Shape
 Group,Transform  Switch  Sound, SpotLight,WorldInfo

SENSORS GEOMETRY
 CylinderSensor GEOMETRY
 PlaneSensor  Box, Cone, Cylinder
PROPERTIES
 ProximitySensor  ElevationGrid  Color
 SphereSensor,TimeSensor  Extrusion  Coordinate
 Normal
 TouchSensor,  PointSet, Sphere, Text
VisibilitySensor  TextureCoordinate

APPEARANCE INTERPOLATORS BINDABLE NODES


 ColorInterpolator
 FontStyle, ImageTexture  Background
 CoordinateInterpolator
 Material, MovieTexture  Fog
 NormalInterpolator
 PixelTexture  NavigationInfo
 OrientationInterpolator
 Texture, Transform
 PositionInterpolator, ScalarInterpolator
 Viewpoint

10.2 Estándares Post-Determinados:


SINTAXIS GENERAL: La sintaxis elegida para representar los atributos de los
objetos por ejemplo:
DEF objectname objecttype { fields } { children }
(nombre) (tipo) (campos de atributos) (hijos)
DEF Camara Camara_Museo {Cam_Nombre, Cam_RotX,...} {Cam1, Cam2,...}
DEF Evento_Dinamico Evento_Ambiente {Din_Nombre, Din_Estado,...} { Eve1, Eve2,...}
Será la representación de las primeras tres letras del primer elemento o del segundo elemento
separados por el Sub-Guión “_” del identificador del objeto posterior a la actividad que cumpla
cada parámetro variable; este prefijo siempre se utilizara por defecto y por mejorar la
interpretación del código fuente.
SINTAXIS DE EXCEPCION:
 El comportamiento del parámetro MFVec2f será un campo Multivariable que poseerá cualquier
cantidad de vectores Bi-dimensionales. MFVec2f ha sido escrito para almacenar uno o mas
pares de valores de punto flotante separados por espacio en blanco. Cuando existe mas de un
par de valores, todos los valores deberán estar encerrados entre corchetes y separados
mediante comas.
 El comportamiento del parámetro MFVec3f será un campo de valor múltiple que puede alojar
cualquier cantidad de vectores Tri-dimensionales. El MFVec3f esta concebido para archivar
uno o mas trios de valores de punto flotante separados entre si por espacio en blanco.
 Es uso de los IndexedFaceSet y el IndexedLineSet se utilizan para conformar los puntos y el
conjunto líneas.
 El procedimiento wwwInLine nos permitirá reducir de tamaño los elementos del entorno
virtual, el procedimiento utilizara procesos de incorporación de parámetros InLines y
Instancing.
 El prefijo Hierarchies servirá ara determinar la secuencia jerárquica de las escenas.
 El uso del prefijo Fields permitirá definir los atributos del objeto según los campos SF (Cuando
contengan un solo valor pudiendo ser un numero, un vector o hasta una imagen) y el MF
(Cuando alojan valores múltiples).

11. PROCESOS
Mostraremos a continuación el diseño de uno de los 15 procesos implementados en la
aplicación, en este caso se desarrollara el siguiente proceso:

Generación de eventos atmosféricos

Caso de uso: Generar eventos atmosféricos.


Actores: Usuario, Ambiente Virtual
Propósito: Se reproducen eventos atmosféricos creados artificialmente dentro del
Ambiente Virtual.
Tipo: Primario y esencial

A-1 Desplazamiento por niveles A-2 Desplazamiento por niveles

B-1 Patrón C. 1 B-2 Patrón C. 2 B-3 Patrón C. 3


Idéntica secuencia de ciclo vida con diferentes patrones de comportamiento

C-1 Patrón del censor de tiempo 1 C-2 Patrón del censor de tiempo 2

C-3 Patrón del censor de tiempo 3 C-4 Patrón del censor de tiempo 4
Curso normal de los eventos
Acción de los actores Respuesta del sistema
1) El usuario realiza desplazamientos virtuales
por el ambiente virtual(A-1,A-2) utilizando un
comportamiento especifico diferente para cada
acceso de usuario(B-1,B-2,B-3). 2) Se activan los censores de movimiento,
sonido, e imagen atmosférica (Detalles de
LOD) .
3) Se ejecuta los eventos de tipo del
ambiente virtual en forma secuencial
analizando el comportamiento del usuario.

4) A medida que transcurre el tiempo el usuario


experimental sensaciones de cambios
atmosféricos(C-1,C-2,C-3,C-4) del ambiente 5) Se actualizan y activan todos los
virtual (E4). censores atmosféricos para el posible
retorno del usuario por el mismo circuito
recorrido anteriormente.
6) Se genera la ejecución de los censores
atmosféricos en forma aleatoria analizando
la conducta del usuario (Manejando el
estado de las atenuaciones ambientales de
día y de noche).

EXCEPCIÓN
(E4) Si el recorrido por el usuario es inmediato no se presentaran cambios
atmosféricos de mayor relevancia, mas que solo eventos de incidencia alterna.

Diagrama de interacción

:C e ntro Tu ris tico :Ac t ividad :Eve nto Ad m o s fe rico


: U s ua rio : Am b ien te

I n gre s a rC en t ro T(Tu r_ N o m bre , Tu r_ Lug ar)

G en e rarA m b ien t e V irtu a l(C od _ Am b ie n te , A m b _ N o m b re )

R e alizarD e s p la za m ie n to (D e s _ Tra s _ X, D e s _ Tra s _ Y , D e s _ Tra s _ Z , D e s _ Velo c ida d , A c t _ N o m b re )

A rt ic u la rEn la c e Ev en to (A t m _ N o m b re , A t m _ R a bdo_ V is ib le )

G en e rarE v e n t o Ad m o s f e ric o (A t m _ So n ido , At m _Mo do _ Ba s e , Tip o, U b ic a c ió n )


Diagrama de actividades

In g re sa r a l
B ro w se r

C o n t ro l a r In g re sa r a l C o n t ro l a r
c a m a ra s a m b i e n te v i rtu a l ilu m in a c ió n

B fi u r c a ci ó n

< A c c e s o Un i c o > < A c c e s o v a r ia b le >

A cced e r a l A c c e d e r a l c e n t ro
m u se o t u ri st i c o

R e u n if ic a c ió n

G e n e r a r a c t iv id a d d e S im u la r a c ti v id a d
in m e r s ió n s e n s o r i a l d e s p l a z a m i e n to

P a t ro n d e G e n e ra r
c o m p o rt a m i e n t o i n t e rre l a c i ó n

B if u r c a c ió n

A c c e s o in d ir e c t o A c c e s o d ir e c t o

A c t i v a r c e n so r A c t iv id a r c e n s o r
d e p ro x i m i d a d de toqu e

A c t iv a m o s u n o d e l
R e u n if ic a c i ón os c e n s o re s de
Toqu e o d e
P r o x im id a d p a r a
q u e s e d e t e rm in a r
e l t ip o e v e n t o
a d m o s t e r ic o .

A c t iv a r c e n s o r D e f in ir t ip o d e
d e t ie m p o e v e n t o a d m o s f e r ic o

S e d e f in e e l t ip o d e
e v e n t o a d m o s f e r ic o
e n f u n c io n a l
E j e c u ta r e v e n to t ie m p o d e l p a t r o n
a tm o s f é r i c o d e c o m p o r t a m ie n t o

F in

11. VISTAS
Procedemos a mostrar algunas vistas de la aplicación
12. CONCLUSIONES
Para describir los beneficios alcanzados por la presente aplicación, se parte analizando
en que grado se cumplieron los objetivos que se plantearon al inicio de ésta. De la
misma manera, se analizan las aportaciones de este trabajo:
El principal objetivo que se planteó alcanzar en la presente aplicación fue el diseño y la
implementación de un Sistema de Realidad Virtual que contenga patrones de
comportamiento complejos a componentes inteligentes con censores de tipo y que
proporcionen mecanismos visuales para soportar percepciones sensoriales complejas.
Así mismo, se plantearon como objetivos particulares: El diseño e implementación de
Módulos Virtuales compilados y reenderezados a través del Browser de Cosmo Player
en tiempo de ejecución; enfocados a la promoción del Turismo Internacional y el
Aprendizaje en la Educación Peruana.
 El Ambiente Virtual obtenido por medio de los Mapas Cognoscitivos Difusos con VRML
sugiere una nueva forma de crear animación en Módulos virtuales, por que nos permite
evitar realizar cálculos matemáticos complejos para obtener un conjunto de nuevos
estados; esto es particularmente importante por que se presentan varios elementos
virtuales que son reenderezados en tiempos reducidos y también por que se obtiene una
animación que no se conoce a priori con un comportamiento basado en la lógica difusa de los
Ambientes Virtuales, verificando así, en mayor dimensión el grado de percepción que
se le brinda al Usuario.
 Las conductas de percepción que realizan los Usuarios dentro del ambiente de inmersión
sensorial pueden ser diversas y difusas por que se logro implementar patrones de
comportamiento de acción dinámica en tiempo de ejecución; para representar de mejor
manera la Realidad Natural en las acciones Ambientales y los eventos Atmosféricos al
Usuario. Quedando completamente demostrado la posibilidad de implementar Sistemas
Inmersivos utilizando las tecnologías de la Realidad Virtual.
 La versión actual del Sistema de Realidad Virtual, permite realizar percepciones de
inmersión sensorial complejas a los módulos virtuales generados artificialmente bajo los
esquemas del Browser de Cosmo Player con todas las características soportadas por
VRML 2.0 a partir del exquisito Modelamiento en UML para cada fase de la presente
aplicación.
13. BIBLIOGRAFIA
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en 3D con Sonido Ambiental en el WWW en el Diseño Arquitectónico. Universidad de
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Edición.
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Hill, Microsoft Press, 1ª. Edición.
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[3] "The International Organization for Standarization
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[9] Aukstakalnis, Steve; David Blatner. Silicon Mirage: The Art and Science of Virtual Reality.
Peach Pit Press. as (em itálicas). Ciudad, país, páginas.
SHORT PAPERS
GOVERNO ELETRÔNICO E INCLUSÃO DIGITAL

Sayonara Lizton Souza


Universidade Federal de Santa Catarina
Instituto de Governo Eletrônico, Inteligência Jurídica e Sistemas
sayonara.souza@ijuris.org

José Paulo Speck Pereira


Universidade Federal de Santa Catarina
passaporteespacial@yahoo.com.br

RESUMO

Apresenta o conceito de inclusão digital na sociedade atual, discutindo os desafios para combater à exclusão não
apenas digital, mas também a social, visto que uma está intimamente relacionada com a outra. Aborda sobre as
leis e aplicações do FUST e procura verificar de que forma está sendo utilizado este fundo. Enumera também,
alguns projetos do governo que possuem o intuito de tentar solucionar os problemas de um mundo “pseudo-
globalizado”, bem como pretende demonstrar a relevância que as ferramentas tecnológicas assumem como
alternativa de prestação de serviços públicos eletrônicos. Mas, apesar disso, é incontestável que as tecnologias da
informação são ferramentas que não estão disponíveis a todos, mas restrita ainda a uma elite mundial.

PALAVRAS-CHAVE: INCLUSÃO DIGITAL. INCLUSÃO SOCIAL. SOFTWARES LIVRES.


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO. GOVERNO ELETRÔNICO.
2

1. INTRODUÇÃO

A revolução tecnológica da nova sociedade da informação, se por um lado vem facilitar,


agilizando as informações em tempo muito reduzido, eliminando fronteiras, por outro fomenta e
intensifica a exclusão digital. Cada vez mais elitizadas, as tecnologias da informação estão
contribuindo para aumentar as desigualdades sociais, onde uma minoria detentora do poder conduz,
comanda e impõe o seu querer. Segundo Moore (1999, p. 105), “Teme-se cada dia mais que a criação
das sociedades da informação desemboque em uma divisão suplementar da sociedade, entre aqueles
que têm acesso à informação e são capazes de utilizá-la e aqueles que são incapazes disso”.
O assunto é de relevância mundial, diversos organismos internacionais como o Banco
Mundial, o Fórum Econômico Mundial, o G-8 vêm trabalhando na busca de soluções e no alerta para
os perigos do analfabetismo digital; afinal está surgindo um novo tipo de desequilíbrio, não menos
grave que o desequilíbrio social.
É imperativa, portanto, a necessidade de que se barateiem os custos, que se promovam
programas de inclusão nas tecnologias da informação e comunicação, como por exemplo, através do
FUST - Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, com o uso de softwares livres e
que realmente se invista pesado na disponibilidade de recursos para a comunidade em geral, inclusive
por meio da nova forma de interação governo-cidadão, que é o Governo Eletrônico. Esta é uma
questão fundamental para banir esse “abismo tecnológico” que vem ganhando força no mundo de
hoje.

2. GOVERNO ELETRÔNICO

Dentre as diversas definições sobre governo eletrônico, destaca-se a definição dada por
HOESCHL (2002):

Apresentar uma definição pacífica de "Governo" certamente não é uma tarefa fácil,
porém diversas noções são aceitáveis do ponto de vista científico. Uma delas é a
gestão do poder público, em suas esferas e funções. (...) conceituar a expressão
"eletrônico" também não é tarefa simples, e também existem diversos enfoques aceitos
cientificamente, nos planos nacional e internacional. O sentido aqui conferido é o de
qualificativos digitais, ou seja, um governo qualificado digitalmente, por ferramentas,
mídias e procedimentos, sendo útil a ressalva no sentido de que o "Governo
Eletrônico", ou "e-gov", ou "eletronic governance", também pode ser chamado de
"Governo Digital" (governo via bits).

A Internet, inquestionavelmente, vem se tornando um instrumento importante e imprescindível


na prestação de serviços públicos. Processando essencialmente informações, esses serviços estão
disponíveis, quase sempre, sob a forma de Portais. Assim, espera-se que as relações governo-cidadão
sejam facilitadas com o pagamento de taxas e impostos via on-line, diminuindo filas, reduzindo a
burocracia e agilizando os processos; além disso, a disseminação das informações governamentais
pela Internet, possibilita ao cidadão conhecer seus direitos. Historicamente sabe-se que um cidadão
consciente possui bem mais chances de fiscalizar eventuais irregularidades e de proteger os interesses
da sua comunidade.
Através desta prestação de serviços eletrônicos, o Governo vem aos poucos implementando
ações de democracia digital. Segundo Máximo (2002, p.8): “A democracia digital, além de suas
possibilidades plebiscitárias, mesmo reconhecendo seu grande potencial deliberativo, fracassa no
envolvimento dos cidadãos na era do conhecimento e da informação”. A realidade que nos cerca
mostra que, apesar da tão propalada Sociedade da Informação, a grande maioria da população
brasileira é “analfabeta” também digitalmente, permanecendo a margem do processo democrático
eletrônico. O Brasil tem 32,1 milhões de cidadãos com idade acima de dez anos que acessam a
Internet. O número parece grande, mas representa apenas 21% da população, o que põe o Brasil no 62º
3

lugar no ranking de nível de acesso no mundo, e em 4º lugar na América Latina. Os dados são do
suplemento especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2005), divulgado em
março deste ano pelo IBGE. No caso de países em desenvolvimento, a realidade sócio-econômica
exige que as políticas de implantação de sistemas de governo eletrônico devam estar casadas com
aquelas que contribuam para a promoção da inclusão digital. Diante deste quadro, a promoção de
ações voltadas a uma maior inclusão digital e disseminação da informação, precisam estar presentes
nos planos de administrações de todas as esferas públicas.
Durante a primeira reunião do Comitê Executivo do Governo Eletrônico, realizada em maio de
2003 o então Ministro da Casa Civil José Dirceu afirmou: "Governo Eletrônico é sinônimo de inclusão
digital”. Neste evento discutiu-se a respeito de um programa de Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC), especialmente orientado à inclusão digital, educação e capacitação técnica, sendo
efetivo para consolidar uma indústria de hardware e software, firmado em inovação contínua e
preferencialmente em Códigos abertos e não-proprietários. Atualmente, diante das crescentes
inovações tecnológicas, a cidadania se faz também em ser cidadão “eletrônico”, com possibilidade de
usufruir direitos e cumprir deveres pelas facilidades proporcionadas pelo acesso remoto.
O conceito de Governo Eletrônico é ainda emergente e, por isso, de difícil detalhamento, mas
é certo que já é uma tendência global. A idéia de e-Gov traz em seu escopo, colocar o governo ao
alcance de todos, ampliando as transparências de suas ações e desenvolvendo a participação cidadã.
Aqui, essa iniciativa de disponibilizar as informações governamentais tanto para empresas como para
a população em geral é conhecida pelo governo como “Transparência democrática”.
Ao abordar sobre as vantagens e objetivos do e-gov, o site do Governo Federal Brasileiro
(www.redegoverno.gov.br) pontua:

“Universalização de serviços: Promoção da universalização do acesso à Internet,


buscando soluções alternativas com base em novos dispositivos e novos meios de
comunicação; promoção de modelos de acesso coletivo ou compartilhado à internet;
e fomento a projetos que promovam a cidadania e a coesão social.”

Todavia, a implementação de qualquer sistema e-governo esbarra em questões cruciais que dificultam
a universalização do acesso à Internet. No debate sobre o acesso à tecnologia existem dois fatores a
serem considerados: a falta de infra-estrutura indispensável e o baixo poder aquisitivo da maioria dos
brasileiros que limita a conexão a uma pequena parte da população.
Para Barros; Takahachi (apud WILLECKE, 2003):

Uma das estratégias do Governo Federal para contornar esta faceta do problema de
acesso é a de implantar milhares de pontos de atendimento eletrônico ao público,
utilizando a capilaridade de escolas, agências dos correios e agências lotéricas, por
exemplo. Os Correios funcionariam também como provedor de acesso,
disponibilizando a cada habitante um endereço eletrônico.

Entretanto, entende-se que promover inclusão digital é mais do que disponibilizar quiosques
de acesso a Internet. Garantir o acesso do cidadão à Tecnologia da Informação passa também por um
amplo processo de capacitação, disponibilizado através de recursos físicos e humanos adequados à
cultura e interesses da comunidade. Conforme comenta Willecke (2003, p.75): “a participação não se
dará apenas pela "alfabetização digital" do cidadão. Além do domínio técnico, é necessário que cada
indivíduo seja sensibilizado e formado para exercer plenamente a sua cidadania. Caso contrário, o
processo de exclusão se acentuará e o processo democrático estará definitivamente comprometido,
conduzindo à implantação de uma plutocracia tecnológica”.

3. CONCEITO DE INCLUSÃO DIGITAL

Inicialmente, buscou-se definir o termo incluir, recorrendo ao dicionário Scottini (1999, p.


245): “inserir, colocar dentro, compreender, abranger, introduzir, envolver.” No site Wikipédia (2006),
4

a enciclopédia livre, procurou-se a definição da expressão inteira: “Inclusão Digital ou infoinclusão é a


democratização do acesso às tecnologias da Informação, de forma a inserir todos na sociedade da
informação”. Percebe-se, então, que é uma questão de cidadania, de direito; pois é através dessa
inclusão digital que poderá ocorrer a integração do indivíduo à sociedade. Afinal, como alerta Moore
(1999, p.104): “Os cidadãos mal informados vêem frequentemente seus direitos negados, por falta de
meios necessários para fazê-los valer”.
As novas tecnologias, em particular a Internet, vieram para ficar e já começam a alterar o
comportamento da sociedade, como um dia fizeram o telefone, o rádio e a televisão. Vive-se hoje a
Sociedade da Informação e tem-se nas mãos uma infinidade de soluções digitais cada vez mais
surpreendentes e poderosas. No entanto, todos estes avanços ainda não estão disponíveis para toda a
população. Há os problemas de custos altos, falta de infra-estrutura, ausência de capacitação e de uma
política definitiva para a inclusão digital.
A internet, junto às telecomunicações, é tida como responsável pela interligação do mundo,
formando o que hoje se denomina “aldeia global”. Mas, essa interligação, apesar de ter diversos
pontos positivos, tem gerado um enorme “abismo tecnológico”, como aponta a ONU em recente
relatório citado na Folha de São Paulo (FARAH, 2001, p. A13). O referido relatório diz que nem 5%
do mundo usa a internet e seu uso encontra-se concentrado na Alemanha, Reino Unido, Itália, França,
Holanda, Espanha, Canadá e Estados Unidos que, juntos, somam 89% dos usuários. Esse quadro é
descrito pela ONU como uma “exclusão digital” da maioria dos países. E acrescenta:
“Quem não pegar o ‘expresso internet’ será cada vez mais marginalizado. Países em desenvolvimento
somente poderão competir no mercado global caso participem dessa revolução.” (FOLHA DE SÃO
PAULO, 23 jun. 2001).
É inegável, portanto, que a exclusão sócio-econômica desencadeia a exclusão digital ao
mesmo tempo que a exclusão digital aprofunda a exclusão sócio-econômica. A inclusão digital deveria
ser fruto de uma política pública com destinação orçamentária a fim de que ações promovam a
inclusão e equiparação de oportunidades a todos os cidadãos.
Desta maneira, o local em que se nasce e a classe social a que se pertence são fatores decisivos
para o acesso a esse “mundo globalizado”. Souza (2000, p.7), comenta que:

(...) ‘surfar’ na internet não é tão simples para um jovem angolano como é para um
norte-americano, já que na África o custo médio de uma conexão é de cerca de US$
100 ao passo que nos Estados Unidos esse valor é dez vezes menor; isto sem falar da
questão do idioma, que demonstra que a Internet também é um fator de exclusão
cultural, pois a língua inglesa é usada em 80% das páginas da rede, enquanto menos
de uma pessoa em cada dez pode se comunicar nesse idioma.

Logo, é difícil discutir a inclusão digital, sem falar na necessidade crescente da inclusão social
dos indivíduos. Pois, informação continua sendo sinônimo de poder e, como tal, sua produção e
distribuição continuam sendo restritas e usadas como instrumento de dominação e exclusão e não de
emancipação para toda sociedade. O mundo pode até estar interligado, mas sem dúvida não está
integrado. Outro conceito encontrado no site do Governo Eletrônico foi:

Inclusão Digital é a denominação dada, genericamente, aos esforços de fazer com


que as populações das sociedades contemporâneas - cujas estruturas e funcionamento
estão sendo significativamente alteradas pelas tecnologias de informação e de
comunicação - possam: obter os conhecimentos necessários para utilizar com um
mínimo de proeficiência os recursos de tecnologia de informação e de comunicação
existentes e dispor de acesso físico regular a esses recursos.

É incontestável que um parceiro importante à inclusão digital é a educação. A inclusão digital


deve ser parte do processo de ensino de forma a promover a educação continuada. Embora a ação
governamental seja de suma importância, ela deve ter a participação de toda a sociedade, mesmo que
esta auxilie apenas na conscientização do uso de outros meios de inclusão, como por exemplo, os
softwares livres.
5

3.1. FUST
O Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações - FUST foi estabelecido sob a
lei nº. 9.998, de 17 de agosto de 2000. O Art. 5º desta lei dispõe sobre as devidas aplicações dos
recursos do Fust, algumas mais relevantes listadas a seguir:

Art. 5o Os recursos do Fust serão aplicados em programas, projetos e


atividades que estejam em consonância com plano geral de metas para
universalização de serviço de telecomunicações ou suas ampliações que
contemplarão, entre outros, os seguintes objetivos:
I – atendimento a localidades com menos de cem habitantes;
III – complementação de metas estabelecidas no Plano Geral de Metas de
Universalização para atendimento de comunidades de baixo poder aquisitivo;
IV – implantação de acessos individuais para prestação do serviço telefônico,
em condições favorecidas, a estabelecimentos de ensino e de saúde e bibliotecas;
VI – implantação de acessos para utilização de serviços de redes digitais de
informação destinadas ao acesso público, inclusive da internet, em condições
favorecidas, a estabelecimentos de ensino e bibliotecas, (...)
VII – redução das contas de serviços de telecomunicações de estabelecimentos
de ensino e bibliotecas referentes à utilização de serviços de redes digitais de
informação destinadas ao acesso do público, inclusive da internet, de forma a
beneficiar em percentuais maiores os estabelecimentos freqüentados por população
carente, de acordo com a regulamentação do Poder Executivo;
VIII – instalação de redes de alta velocidade, destinadas ao intercâmbio de
sinais e à implantação de serviços de teleconferência entre estabelecimentos de
ensino e bibliotecas;
IX – atendimento a áreas remotas e de fronteira de interesse estratégico;
XI – implantação de serviços de telecomunicações em unidades do serviço
público, civis ou militares, situadas em pontos remotos do território nacional;
XII – fornecimento de acessos individuais e equipamentos de interface a
instituições de assistência a deficientes;
XIV – implantação da telefonia rural. (BRASIL, 2007a).

De acordo com esta lei, ficou decidido que 30% por cento dos recursos do FUST seriam
aplicados em programas, projetos e atividades executadas pelas concessionárias do Sistema Telefônico
Fixo Comutado – STFC nas áreas abrangidas pela Sudam e Sudene. Além disso, dezoito por cento dos
recursos seriam aplicados em educação, para os estabelecimentos públicos de ensino. E na aplicação
destes recursos seria privilegiado o atendimento aos deficientes.
Coube ao Ministério das Comunicações (Minicom) o compromisso de formular as políticas, as
diretrizes gerais e as prioridades que dirigem as aplicações do FUST, bem como definir os programas,
projetos e atividades financiadas com os recursos do Fundo.
Para a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, ficou a responsabilidade de
realizar, acompanhar e fiscalizar os programas, projetos e atividades que se servem dos recursos do
FUST. Também compete a ANATEL produzir e submeter anualmente ao Ministério das
Comunicações a proposta orçamentária do FUST e prestar contas da sua execução.
Os cinco bilhões que foram arrecadados desde a criação do FUST até o ano de 2005, até agora
não teriam sido utilizados para seus propósitos, mas servia como fonte de receita anual para os cofres
do Tesouro Nacional. A arrecadação da receita do FUST é de 1% da receita operacional bruta das
operadoras de telecomunicações, além de repasses de 50% de parcelas que compõem receitas que a
ANATEL percebe com o FISTEL (Fundo de Fiscalização das Telecomunicações), concessões de
serviços públicos, exploração de serviços privados e direito de uso de radiofreqüência. Conforme a lei,
a UNIÃO também deve colaborar financeiramente para o desenvolvimento das receitas do FUST, com
dotações orçamentárias anuais.
De acordo com afirmações de diversos políticos, a lei presente institui critérios excessivamente
severos para o uso dos recursos do FUST. Por essa razão, fica praticamente impossível utilizar o
dinheiro sem ter problemas com o Tribunal de Contas da União.
6

Consequentemente foi apresentado emenda Projeto de Lei 6.677, de 2006, que altera a Lei nº. 9.998,
de 17 de agosto de 2000, para tornar mais viável as aplicações do fundo às suas finalidades.

[...] o TCU reconhece, também, que, para aplicar os recursos no que chama de
“redes digitais”, será necessário criar um novo serviço público de
telecomunicações, por meio de concessão. Hoje, o único serviço público é o serviço
telefônico fixo comutado (STFC), ou seja, a telefonia de voz e dados até 64 kbps
prestado pelas concessionárias [...]. Pela Lei do Fust, os recursos não podem ser
aplicados em serviço de telecomunicações prestado em regime privado, como é o
caso da telefonia celular, entre vários outros, ou em projetos de inclusão geridos
pela sociedade civil ou pelo Terceiro Setor. Para mudar a destinação dos recursos
do Fust, será preciso mudar a lei. (DIAS, 2007b).

E para agravar mais esse problema é apontado em relatório recente do TCU, que os recursos do
FUST não foram gastos por incapacidade do Minicom de definir política pública, o mesmo também
coloca uma possível mudança na lei e sugere que a coordenação das aplicações dos recursos do FUST
seja assumida pela Casa Civil.
Há uma verdadeira campanha conhecida como “Fust Já” - criada pelo Comitê para
Democratização da Informática (CDI), que recebeu a adesão de instituições como Rits (Rede de
Informações do Terceiro Setor), Sucesu (Associação de usuários de informática e Telecomunicações,
Fundação Avina, Fundação Ashoka e Movimento Software Livre – que já está mostrando resultados
positivos. Segundo Rodrigo Baggio diretor-executivo e fundador do CDI, esse relatório do TCU é de
uma lucidez formidável e faz uma crítica construtiva à atuação do governo federal na questão da
inclusão digital, afinal há 4 anos cada um de nós dá 1% da conta telefônica para o Fust. Agora, é hora
de democratizar o conhecimento em torno do desafio do Fust. O movimento Fust Já realizou uma
passeata virtual, enviando dez mil mensagens de protesto, solicitando que cada destinatário passasse a
mensagem adiante.
O primeiro resultado foi à própria mobilização. Temos que exercer a nossa
indignação cidadã porque o Fust não é o único fundo, temos outros na mesma
situação. Não se trata aqui de pedir a liberação de um fundo, é uma questão de
cumprir a Lei. Tem mais: por que uns falam em R$ 4 bilhões, outros em R$ 5 bi? A
sociedade tem o direito de saber este número com precisão de decimais. (BAGGIO,
2005).

Diante disso, observa-se a fundamental importância da articulação e movimentação social para


assegurar e apressar o desfecho dessa história, conseguindo ao menos destinar as novas arrecadações
do Fust para ações sociais. Pois sempre existe o perigo, caso essa situação não seja definitivamente
solucionada, de que as verbas do Fust acabem se tornando ferramenta eleitoral.
Porém, nem tudo são críticas, haja vista que a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE)
aprovou em abril deste ano o projeto de Lei do Senado, que institui:

(...) 75% dos recursos arrecadados para o Fust, ao longo dos próximos seis anos,
serão destinados à implantação de terminais e redes de acesso à internet em escolas
e bibliotecas, na sua interligação e no subsídio às contas dos serviços envolvidos.
(BRASIL, 2007b).

Sendo assim, esse projeto visa levar redes digitais de informação a todas as escolas públicas e
particulares de educação básica e superior, até o final do ano de 2013. Como no Brasil apenas 30%
dos alunos do ensino fundamental estudam em escolas onde há algum computador, o projeto prevê
inclusive a instalação de no mínimo um computador com acesso à internet para cada 10 alunos, em
cada turno.
Conforme o Ministério das Comunicações (2007), o conceito de universalização dos serviços
de telecomunicações evoluiu muito ao longo dos últimos 20 anos. Originalmente, a universalização se
limitava ao serviço de telefonia, mas atualmente esse conceito ampliou-se de modo abranger até o
processo de inclusão digital.
7

Por isso a universalização dos serviços de Telecomunicações deve contemplar,


simultaneamente, a expansão da telefonia e o acesso a redes digitais de
computadores, inclusive a internet. É uma incoerência aplicar os recursos do Fust
sem passar pela banda larga, tecnologia que promove verdadeiramente a inclusão
digital e social. (COSTA, 2007).

A proposta do Ministério tem em vista a criação de um Conselho de Universalização com


membros da Casa Civil, dos Ministérios da Comunicação, da Fazenda, do Planejamento, da Ciência e
Tecnologia, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e da Anatel. O objetivo principal desse
conselho é tornar mais transparentes as atividades beneficiárias dos recursos do fundo.

3.1.1. Outros Programas de inclusão digital desenvolvidos no Brasil

Além das atividades desenvolvidas com as verbas do FUST, há outros programas que o
Governo Federal (Brasil, 2007c) criou e mantém com parcerias voltadas a inclusão digital. Como
exemplo tem-se o Casa Brasil, um projeto que visa combater a exclusão digital, construindo espaços
multifuncionais em comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano (IDH). Foi idealizado
através de um conjunto de módulos, que formam um centro de aprendizado. A princípio, cada unidade
tem um telecentro (destinado ao acesso à Internet, utilização e disseminação do software livre,
realização de cursos de introdução à informática, oficinas e uso livre), e pelo menos mais dois outros
tipos de módulos, como um estúdio multimídia, um auditório, uma biblioteca escolar, uma oficina de
produção de rádio, um laboratório de popularização da ciência ou mesmo uma oficina de manutenção
de equipamentos de informática. Além de um espaço para atividades comunitárias e, quando for
viável, um módulo de inclusão bancária. Segundo o Governo Federal (BRASIL, 2007c), já existem 45
unidades em funcionamento em todas as regiões do Brasil, atendendo uma média de 50 mil pessoas.
Mais de mil pessoas já receberam capacitação através dos cursos oferecidos pelo Casa Brasil.
Outro programa em andamento é o Maré – Telecentros de Pesca. Propõe a implantação de
telecentros em comunidades de pescadores, fornecendo equipamentos, conexão via Gesac (Governo
Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão, Internet via satélite), formação e manutenção de
agentes locais para monitoria e uso de software livre. Há cinco unidades em funcionamento espalhadas
pelo país e outras 15 em implantação.
Merece destaque também, o programa Cultura Viva – Cultura Digital, que tem como objetivo
criar Pontos de Cultura: iniciativas culturais locais/populares, por meio de repasse financeiro de até R$
185.000,00. A ação Cultura Digital permite a implantação de equipamentos e formação de agentes
locais para produção e intercâmbio de vídeo, áudio, fotografia e multimídia digital com uso de
software livre e conexão via satélite à Internet pelo programa GESAC. O Ponto de Cultura incita o
jovem a trabalhar com algum produto cultural, podendo fazer disso uma profissão no futuro. São
pessoas entre 16 e 24 anos que recebem R$ 150,00 mensalmente, por um período de 6 meses, para
desenvolver ações previstas no projeto de seu Ponto de Cultura, pelo que informa o Ministério da
Cultura (BRASIL, 2007d). Se a unidade trabalha com maracatu, ou escola de samba, por exemplo, há
espaço para atividades como confecção de fantasias, oficinas musicais; se o tema é Hip Hop, os
trabalhos podem girar em torno de grafitagem, formação de DJs e organização de eventos. As
possibilidades são inúmeras. A coordenação do Ponto de Cultura dá educação em empreendedorismo
cultural e micro crédito, na intenção de que a própria comunidade inicie uma geração de renda.
Atualmente há 500 projetos culturais financeiramente apoiados pelo programa Cultura Viva.
Os projetos acima apresentados mostram que o Governo Federal procura incluir a parcela
menos favorecida economicamente da população em iniciativas que promovam inclusão digital, o que
contraria, pelo menos em parte, a idéia simplista de que convém ao Estado manter sua população
ignorante e alheia a atividades educacionais e culturais.
É certo que mesmo programas como o Casa Brasil e os Pontos de Cultura não conseguirão
abarcar toda a população carente, seja pela impossibilidade de construir unidades físicas em todas as
cidades brasileiras ou mesmo por questões como exclusão em virtude da faixa etária, por exemplo.
8

Porém, o fato de tais iniciativas já estarem em prática é extremamente louvável, visto que outras tantas
não saíram do discurso demagógico de alguns políticos.
É importante que a imprensa e a população em geral se esforcem em vistoriar o andamento
desses projetos, pois a vontade política em promover inclusão digital não está a salvo de ações
corruptas. O modo como tais programas estão estruturados ou são implantados é em muitas vezes
questionável.
Autores como Stanton (2002) e Meira (2003), também se preocupavam com a falta de um
planejamento integrado quando se fala em possibilitar acesso a Internet. Em determinado momento
contratam-se os serviços de operadoras para conectar escolas, mais tarde faz-se a mesma coisa para
conectar hospitais, em seguida fóruns, bibliotecas, prefeituras, etc. Tal prática acaba transferindo boa
parte dos recursos públicos para as operadoras. O ideal é que se criasse uma rede, “que conectaria a
cidade, internamente articulada entre suas instituições de todos os níveis de governo e terceiro setor”
(MEIRA, 2003). Tal problema pode, a princípio, ser resolvido aderindo-se ao Gesac, que proporciona
uma infra-estrutura fundamental e gratuita para formação de uma rede de acesso a Internet. Ele
pretende chegar a todos os 5.565 municípios do Brasil.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em se tratando de políticas públicas, o conceito de inclusão digital vai além do simples acesso a
computadores ligados a Web pela população. Ele abrange, também, o ensino de como utilizar
adequadamente as ferramentas disponíveis desta máquina e as que a navegação on line oferece. Mas
também diz respeito ao desenvolvimento de uma consciência, dentro daquele que será “incluído”, de
que o uso adequado da Internet e dos softwares, em especial aqueles ditos “livres”, é uma forma de
exercer cidadania, especialmente na época atual, onde praticamente tudo é informatizado.
No Brasil há muito a se fazer para por fim a exclusão digital. Ainda hoje, luta-se para banir o
analfabetismo. A educação é um elemento essencial, pois através dela as pessoas tomam
conhecimento de seus direitos e deveres. Assim, acredita-se que na Sociedade da Informação, as
tecnologias podem ajudar os indivíduos a obter conhecimento, como por exemplo, através da Internet
a qual permite o acesso aos mais variados tipos de informação. Por isso é preciso que se promova a
inclusão digital, para que todos possam ter seu espaço na sociedade, a qual visivelmente já sofre
mudanças com as novas tecnologias. Segundo Mattos (2006, não paginado):

A inclusão digital representa, nesse momento, um instrumento importantíssimo para


a concorrência empresarial e para o desenvolvimento da sociabilidade entre as
pessoas, incluídas aí não apenas as atividades de lazer, mas também o amplo rol de
qualificações pessoais e profissionais necessárias para a inserção dos
trabalhadores nos mercados de trabalho nacionais.

Dessa forma, é importante que o governo continue a promover programas de inclusão digital e
que através de fundos de arrecadação, como o FUST, aplique políticas e medidas que venham a
facilitar o acesso das pessoas as tecnologias e redes de informação. Mas vale lembrar que não basta
apenas arrecadar, é preciso por em prática os projetos para que possam ocorrer mudanças na sociedade
e que assim se promova à inclusão digital.
Observa-se a necessidade de uma maior transparência na utilização das verbas do FUST, bem
como uma divulgação mais ampla dos programas já implantados pelo Governo que atendem à questão
da inclusão digital. Evitaria, assim, diversas acusações de descaso direcionado aos governantes.
9

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Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC, 2003.
A EDUCAÇÃO CORPORATIVA COMO ESTRATÉGIA
COMPETITIVA: A UNIVERSIDADE DA CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL

Nilo Otani (UFSC/EGC) ni_otani@yahoo.com.br


Ana Maria Bencciveni Franzoni (UFSC/EGC) afranzoni@egc.ufsc.br
Francisco Antonio Pereira Fialho (UFSC/EGC) fapfialho@gmail.com
Gregório Jean Varvakis Rados (UFSC/EGC) grego@deps.ufsc.br

RESUMO
Este artigo versa sobre a educação corporativa como estratégia competitiva nas organizações. Objetiva compreender o
surgimento das universidades corporativas na dinâmica da educação corporativa a partir do estudo de suas principais
características discernindo-as das universidades tradicionais, bem como, seus processos. A digressão teórica trata de
aspetos relacionados ao ensino superior, educação a distância, educação corporativa, estratégia competitiva e
universidade corporativa. O objetivo consiste em analisar os efeitos do programa de educação corporativa da
Universidade CAIXA, sobre o desempenho dos funcionários. Para tanto, foi desenvolvida uma pesquisa descritiva com
abordagem predominantemente qualitativa com 23 de seus gestores de seis capitais brasileiras: São Paulo/SP,
Brasília/DF, Florianópolis/SC, Rio de Janeiro/RJ, Curitiba/PR, e Fortaleza/CE, em uma amostra intencional. Para a coleta
de dados foram consideradas as bases de estudo de caso. Os resultados permitem concluir, entre outros aspectos que, o
desempenho dos funcionários melhora com a participação nos cursos do programa de educação corporativa da CAIXA.

PALAVRAS-CHAVE
Educação Corporativa. Estratégia Competitiva. Universidade CAIXA.

1. INTRODUÇÃO
O terceiro milênio tem como característica a passagem da sociedade industrial baseado no capital e na
mão-de-obra para a sociedade da informação. Neste período de novas ordens econômicas e sociais no mundo,
o conhecimento é considerado seu principal fator de produção. O desenvolvimento tecnológico observado e
vivido nas últimas décadas, entre outros aspectos, contribuiu para essa mudança. Assim, a inserção do Brasil
na competitividade mundial levanta questões complexas e multifacetadas, o qual passa a tornar-se um desafio
para a moderna administração.
A estratégia de investir na capacitação de seus funcionários, seja por questões gerenciais ou por pressões
provenientes das necessidades do mercado profissional, pode trazer resultados positivos. Segundo Meister
(1999), a empresa do século XXI terá uma economia gerada pelo capital intelectual, nela, trabalho e
aprendizagem estão essencialmente relacionados, com ênfase no desenvolvimento da capacidade do
indivíduo de aprender.
Para prosperar nesse ambiente em constante transformação torna-se necessário uma nova forma de pensar
compartilhada nos ambientes organizacionais e, em particular, nas instituições de ensino superior. Terra
(2001) considera que as organizações empresariais e instituições brasileiras têm focado suas atenções na
criação de produtos inovadores, competitivos e de sucesso no mercado global e que dentre elas estão as
universidades.
Norteada pela responsabilidade que lhe é atribuída, sua função vai além da formação de profissionais
egressos para o mercado de trabalho. Diz respeito à participação no desenvolvimento da sociedade, aliando à
produção e a disseminação do conhecimento ao crescimento da Nação. A precípua relação existente das
instituições de ensino superior com as organizações empresariais é contextualizada sob o enfoque da
Educação Corporativa, e, mais especificamente, nos projetos das Universidades Corporativas, apresentado
neste artigo.

2. A CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR


A universidade surgiu na Europa, segundo Mance (1999) ainda no período medieval, entre os séculos XI
e XII. Nas Américas, em regiões de colônias inglesas, francesas e espanholas, o ensino superior foi
contemporâneo dos alvores da colonização. No Brasil, de acordo com Souza (2001), as primeiras faculdades
nasceram três séculos após seu descobrimento, possuíam um caráter elitista no modelo de instituto isolado e
de natureza profissionalizante para atender os filhos da aristocracia colonial que não tinham acesso às
academias européias.
De acordo com Romanelli (1978), a Universidade do Rio de Janeiro criada em 7 de setembro de 1920, foi
a primeira universidade reconhecida pelo governo federal. A Universidade do Paraná, implementada em
1912, não teve o reconhecimento federal, pois não atendia ao critério de possuir na época mais de 100.000
habitantes. Em 1927, surgiu a Universidade de Minas Gerais com a fusão das escolas de Direito, Engenharia
e Medicina. A Universidade de São Paulo fundada em 25 de janeiro de 1934, foi a primeira que atendia às
normas do Estatuto das Universidades pelo Decreto 19.851/31, até então as universidades tinham se
organizado pela simples incorporação de faculdades autônomas existentes.
O Brasil somava 16 universidades em 1954 sendo: três nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais e Pernambuco; duas no Rio Grande do Sul e uma nos estados do Paraná e na Bahia. Desse total, cinco
eram confessionais, quatro católicas e uma protestante, as outras eram mantidas pelo Estado (CUNHA,
1983).
Com base no Ministério da Educação - MEC (2006, p.1):
A missão do Ensino Superior do Brasil deve significar um ponto de equilíbrio entre a
soberania popular e a autonomia do fazer acadêmico, de tal modo que a sociedade
reconheça, na missão proposta, a expressão de um compromisso para o qual se mobilizam
recursos humanos, materiais e financeiros. Cabe às Universidades a missão de criar,
desenvolver, sistematizar e difundir conhecimentos, em suas áreas de atuação, a partir da
liberdade de pensamento e de opinião, tendo como meta participar e contribuir para o
desenvolvimento social, econômico, cultural e científico da nação, promovendo a inclusão
da diversidade étnico-cultural e a redução das desigualdades sociais e regionais do país.

No atual contexto, em que vive o homem, as mudanças têm ocorrido em termos históricos e repercutem
em transformações na forma de vida e nas concepções de mundo e sociedade. Com a evolução tecnológica,
os impactos sócio-econômicos e culturais têm se propagado em conformidade com os acontecimentos. Uma
das principais características deste novo tempo é o vertiginoso acúmulo e armazenamento da informação em
todos os domínios.
Este processo torna-se cada vez mais visível e vem afetando, em diferentes níveis as rotinas dos
indivíduos de todo o mundo, faz-se necessário, portanto, na opinião de Marins (2006), que a educação esteja
atenta a todas essas mudanças, pois tudo passa pela educação, assim como, as universidades não podem
ignorar por mais tempo tais mudanças.
Para Buarque (1994), a universidade, para enfrentar estes novos problemas, tem de ter consciência plena e
se renovar de forma a ajustar seu trabalho às exigências da ruptura com a crença da utopia obsoleta, e sua
substituição por novos objetivos da civilização. Segundo este autor, de todas as mudanças que hoje ocorrem
no mundo, nenhuma talvez incomode mais a comunidade universitária do que a descoberta, nos últimos anos,
de que ela está isolada do povo, com interesses diferentes e mesmo conflitantes, daqueles da maioria da
população de seus países. E isso não apenas nos países em desenvolvimento, nestes, ao longo de muitas
décadas de luta a universidade se identificou com os interesses do povo: pela soberania, pelo
desenvolvimento científico e tecnológico, pela democracia e liberdade política.
Na atualidade, não há nação que possa prescindir da instituição universitária, redefinir seu papel diante
dessa atual conjuntura sócio-econômica são desafios que precisam ser assumidos para fortalecer o ensino. A
vocação da universidade, tal como se concebe, é a do comprometimento com a sua realidade, como antena
sensível deve captar as grandes tendências, discussões, e alternativas do mundo e oferecendo sua
contribuição para o desenvolvimento. Cabe-lhe também conforme Wertheim (2004), preparar os
trabalhadores para a sociedade do conhecimento, sob pena de perda de espaço no processo de mundialização,
de empobrecimento do país e de aprofundamento das disparidades sociais.
Novos paradigmas, portanto, pontuam o desenvolvimento deste tema. Os diversos encontros e fóruns de
debates entre especialistas e a sociedade têm procurado identificar os principais problemas que as instituições
educacionais não só do Brasil, como também do mundo, têm enfrentado.

3. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A Educação a Distância – EaD é uma modalidade de ensino com uma forma particular de criar espaços
para gerar e promover situações em que as pessoas estudem. O estudante mesmo não estando presente
fisicamente em um ambiente formal de ensino-aprendizagem, tem a oportunidade de construir conhecimentos
em uma nova proposta: os docentes e estudantes em conexão em um espaço que não compartilham.
A EaD conforme Kramer et al. (1999), remonta os tempos de Platão (427~347 a.C.). Sua formalização
teve início no século XVIII nos Estados Unidos, através de uma publicação na Gazeta de Boston, em 1728,
onde um professor de taquigrafia Caleb Phillips, oferecia seu curso por correspondência. Pela lavra de
Sherron e Boettcher (1997), o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação como o rádio, a
televisão e a internet, deram um impulso e uma nova dinâmica ao funcionamento da EaD,
O marco na evolução da EaD foi a criação da UK Open University em 1971, na Inglaterra. Segundo
Kramer et al. (1999) cerca de 43 mil candidatos disputaram 24 mil vagas oferecidas pela UK. O termo
“aberta” faz menção para a possibilidade de estudo em qualquer lugar e horário e para alunos de qualquer
idade
Conforme Pfromm Neto (apud LEMOS, 2003), a EaD teve início no Brasil pela radiodifusão em 1923,
com a iniciativa de Edgard Roquette Pinto e um grupo de professores e intelectuais que fundaram a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro. Foi transformada em 1936 em rádio Ministério da Educação e Cultura - Rádio
MEC -. Essa estação de rádio, de caráter essencialmente educativo e cultural desempenhou um papel pioneiro
no campo da EaD no Brasil.
A primeira universidade a criar um programa de ensino a distância foi a Universidade de Brasília – UnB,
em 1979. Para Schneider (1999) a inspiração desse projeto veio por intermédio da UK Open University por
um convênio disponibilizando os direitos de publicação e distribuição de seu material de ensino.
No contexto mundial, os programas em EaD foram desenvolvidos há mais tempo, entretanto, no Brasil foi
efetivamente integrada ao sistema educacional com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º
9.394, de 20 de dezembro de 1996), foram estabelecidas, ainda, pelo Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de
1998 (publicado no D.O.U. de 11/02/98), Decreto n.º 2.561, de 27 de abril de 1998 (publicado no D.O.U. de
28/04/98) e pela Portaria Ministerial n.º 301, de 07 de abril de 1998 (publicada no D.O.U. de 09/04/98).
O e-learning é uma instância da EaD apoiada na tecnologia da internet. Sua expansão tem se dado não
apenas no ambientes acadêmicos e nas estruturas tradicionais de ensino, mas também no âmbito das
empresas, que vislumbraram a possibilidade em capacitar e aperfeiçoar seus colaboradores.
Segundo as estatísticas do MEC (2006) a demanda por cursos, em diferentes níveis de ensino e
especificidades têm apresentado crescimento, fazendo com que novos cursos, principalmente nas instituições
privadas, sejam abertos e ampliando o número de alunos.

4. GESTÃO DO CONHECIMENTO E EDUCAÇÃO CORPORATIVA


É reconhecido que a economia mundial está articulada em torno da atividade baseada no uso intensivo de
conhecimento. Ao contrário de capital, máquinas, matéria-prima e dos demais fatores de produção que
influíram o período econômico capitaneado pela indústria, o conhecimento representa um recurso infinito e
pode ser compartilhado entre os usuários.
“O conhecimento é a fonte de poder da mais alta qualidade e a chave para a futura mudança de poder”
(TOFFLER apud NONAKA e TAKEUCHI, 1997, p.5).
Mundim e Ricardo (2004) salientam que tais características criam um novo ambiente empresarial em que
o conhecimento da empresa ou o conhecimento corporativo é o principal instrumento para alianças entre
empresas e para o estímulo da inovação e do desenvolvimento de suas possibilidades de aplicação.
Na visão contemporânea, o conhecimento é continuamente atualizado, pode continuar no interior das
organizações, assim o profissional depois de graduado pode retornar ao processo de ensino-aprendizagem
para fins de reciclagem profissional, sendo que esta pode se dar no âmbito das próprias organizações através
de centros de Treinamento e Desenvolvimento - T&D e de Programas de Educação Corporativa.
As empresas que estão redefinindo seu processo nos centros de T&D utilizam conceitos de educação e
desenvolvimento de pessoal, o qual visa o aperfeiçoamento do indivíduo para o seu crescimento, tanto
pessoal, quanto profissional. Os efeitos dessa educação continuada nas empresas, segundo Teixeira (2001), é
duradouro e reflete em resultados que aparecerão em longo prazo, ao contrário dos centros de T&D.
A busca de vantagem competitiva pela aprendizagem corporativa trata de um conceito que envolve toda a
organização em uma mudança contínua e projetada para atingir os resultados desejados pela organização,
sendo que as organizações modernas estão cada vez mais preocupadas em direcionar os investimentos no
desenvolvimento humano, de modo que eles agreguem valor para as pessoas e para a mesma.

Modelo de Educação
Modelo de Educação Tradicional
Corporativa
1. Estudantes não
• Período: 2 a 5 anos tradicionais
universitários. 2. Avanços tecnológicos • Universidade virtual.
3. Necessidade de
• Perfil: entre18 e 24 anos. Tempo aprendizagem contínua • Parcerias.
integral. 4. Educação a distância
• Foco nos negócios.
• Intensivo investimento de
capital.

Figura 1 – Modelo de Educação Tradicional e Modelo de Educação Corporativa


Adaptado de: Kraemer (2004)

A educação corporativa, nesse contexto, passa a ter para Mundim (2004), cada vez mais um papel de
destaque dentro do panorama empresarial, seja pela alavancagem estratégica, que é possibilitada pelo
desenvolvimento dos profissionais existentes nos quadros empresariais, seja pela agregação de resultados,
que permitem, após a captação e assimilação do conhecimento pelo seu capital humano de um número maior
de competências e habilidades.
O principal objetivo da educação corporativa na visão do mesmo autor é:
Evitar que o profissional se desatualize técnica, cultural e profissionalmente e perca sua
capacidade de exercer a profissão com comprometimento e eficiência, causando
desrespeito à profissão, além do sentido de incapacidade profissional. É, portanto, o
conjunto de práticas educacionais planejadas para promover oportunidades de
desenvolvimento do funcionário, com a finalidade de ajudá-lo a atuar com eficácia na sua
vida institucional (2002, pg.63).

Eboli (2005) considera que com um mercado cada vez mais globalizado e competitivo, não há dúvida de
que as organizações devem conscientizar-se da necessidade de investir na educação e na qualificação de seus
colaboradores e parceiros como um elemento-chave na criação de diferencial competitivo.
A figura 1 apresenta as principais características do Modelo de Educação Tradicional e do Modelo de
Educação Corporativa e os fatores da convergência.

5. ESTRATÉGIA COMPETITIVA
Nos levantamentos realizados sobre as universidades corporativas, o termo “estratégia” contempla os
trabalhos de diferentes autores, levando à constatação de que, tanto as instituições de ensino superior formais,
como as empresas necessitam de estratégias voltadas para atender às necessidades de seu público.
O conceito de estratégia nasceu da necessidade de realizar objetivos em situações de concorrência, como
é o caso na guerra, nos jogos e nos negócios, à qual significa anular ou frustrar o objetivo do concorrente.
Envolve certa conotação de astúcia na tentativa de superar pela aplicação de algum procedimento inesperado,
que provoca ilusão ou que o faz agir não como deveria, mas segundo os interesses do estrategista
(MAXIMIANO, 2000, p.392).
Para Eboli (2005), a educação corporativa não é tratada como mais um modismo na área de gestão
empresarial, mas sim de um sistema que realmente dará sustentação para uma atuação estratégica e bem-
sucedida das empresas.
Porter (1996) afirma que, quer seja de forma implícita, quer seja de forma explícita, todas as organizações
possuem uma estratégia. Estratégia competitiva é para o autor, o conjunto de planos, políticas, programas e
ações desenvolvidas por uma empresa ou unidade de negócios para ampliar ou manter, de modo sustentável,
suas vantagens competitivas frente aos concorrentes. O desafio enfrentado pela gerência consiste em escolher
ou criar um contexto ambiental em que as competências e recursos da empresa possam produzir vantagens
competitivas.

ESTRATÉGIA TRADICIONAL ESTRATÉGIA COMPETITIVA


MISSÃO
• Educar pessoas • Melhorar a organização pelo aprendizado contínuo.
OBJETIVOS
• Cumprir orçamentos • Aplicar aprendizado na realidade da empresa, melhorando
continuamente sua performance.
• Centro de custos • Centro de lucros
• Burocrático • Competitivo
• Sem vinculação com a cultura • Melhorando a cultura
ESTRATÉGIAS
• Concentrada na sala de aula • Aberta para o mundo
• Visão endógena • Visão exógena; Visitas; Entrevistas e
Benchmarking
• Não há exigência de aplicação • Busca aplicação em projetos
• Não há vinculação com a avaliação • Serve como indicador de desenvolvimento de carreira
de desempenho
• Responsabilidade da empresa • Responsabilidade conjunta entre colaborador e empresa
• Avalia os professores • Avalia a aplicação
• Consultores externos • Consultores internos e externos
• Tecnologia tradicional • Tecnologias avançadas
Quadro 1 – Área de Treinamento e Desenvolvimento
Fonte: Vianna e Junqueira (2005)

Os programas estratégicos de educação superior – os das instituições formais ou os das universidades


corporativas – voltados para a formação de talentos humanos para o mundo do trabalho devem segundo
Meister (1999, p.242), desenvolver qualificações, competências e conhecimentos básicos no educando, para
o ambiente de negócios.

6. UNIVERSIDADE CORPORATIVA
Embora se fale a respeito de universidade corporativa há 50 anos, desde que a General Electric lançou a
Crotonville Management Development Institute em 1955, Eboli (2005) destaca que o surto de interesse como
estratégia de gerenciamento para o aprendizado e desenvolvimento dos funcionários de uma organização
ocorreu no final da década de 80. Em 1988, nos Estados Unidos, haviam 400 empresas investindo em seus
próprios centros de estudo e preparação de alto nível, em 2004, já eram aproximadamente 2.000.
No Brasil, a migração dos centros de T&D de pessoal para a educação corporativa ganhou força
estratégica, o qual evidencia como um dos pilares da uma gestão empresarial bem sucedida. A adoção desse
conceito, conforme Eboli (2002) teve início na década de 90, com o advento de um mercado globalizado,
pressiona as organizações a investirem na qualificação de seus colaboradores e se comprometerem com seu
desenvolvimento contínuo como elemento chave na criação de diferencial competitivo.
As universidades corporativas surgiram e se propagaram no contexto das organizações em plena era da
informação, onde, o conhecimento tornou-se base para a formação de riqueza corporativa. A rápida
obsolescência do conhecimento associado ao sentido de urgência tem sido um dos fatores do impulso do
desenvolvimento e crescimento das universidades corporativas.
A missão dessa universidade é, conforme Eboli (2004), formar e desenvolver os talentos humanos nas
organizações. Para tanto, deve-se segundo o autor, promover a gestão do conhecimento organizacional, bem
como, objetivar o desenvolvimento e a instalação das competências profissionais, técnicas e gerenciais,
consideradas essenciais para a viabilização das estratégias da organização.
Segundo Souza (2001), os cursos, os programas e as atividades das universidades corporativas nascem
das necessidades das empresas obedecem aos reclamos do mercado e visam agregar valor a seus produtos e
serviços. A estrutura de suas atividades é modular e os processos pedagógicos, que desenvolvem, fazem uso
intensivo das novas tecnologias de informação e comunicação. A linguagem didática deve estar em
consonância com a era da informação e suas programações se adequarem aos imperativos da educação
permanente.
A universidade corporativa justifica-se, na medida em que responde pelo plano estratégico do
desenvolvimento empresarial, com vistas à identificação e ao atendimento das competências essenciais
ligadas ao ramo de negócio da empresa.

7. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a consecução dos objetivos é necessário indicar o tipo de estudo da pesquisa. O tipo de pesquisa
deste trabalho de acordo com Gil (2002) é descritivo. Este tipo de pesquisa tem como objetivo a descrição
das características de determinada população ou fenômeno ou, o estabelecimento de relação entre variáveis.
Nesta linha, para Triviños (1995), o foco essencial destes estudos reside no desejo de conhecer a
comunidade, tendo a pretensão de descrever os fatos e os fenômenos relacionados a esta realidade. Minayo
(1999, p.115) explica que “expõe características de determinado fenômeno, pode, também, estabelecer
correlações entre variáveis e definir a sua natureza. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que
descreve, embora sirva de base para tal explicação”.
Os levantamentos da pesquisa descritiva foram por intermédio de pesquisas em fontes primárias e
secundárias. As fontes primárias referem-se aos levantamentos realizados junto aos gestores da Caixa
Econômica Federal - CAIXA. Para Gil (1996), as pesquisas deste tipo caracterizam-se pela interrogação
direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer permitindo desta forma, o conhecimento da
realidade. As fontes secundárias referem-se aos levantamentos bibliográficos.
Segundo Richardson et al. (1999), método em pesquisa significa a escolha de procedimentos sistemáticos
para a descrição e explicação dos fenômenos. Para se determinar o método de investigação apropriado para a
descrição e explicação de fenômenos em pesquisa científica, fazem-se necessários considerar a natureza e o
nível de aprofundamentos do problema. Os métodos são classificados em quantitativos e qualitativos e se
diferem pela sistemática e pela forma de abordagem do problema. A abordagem desta pesquisa foi
predominantemente qualitativa, e o levantamento do tipo transversal.
Para a identificação desta pesquisa segundo seu delineamento, que é o procedimento para a coleta de
dados, o pesquisador adotou as bases do estudo de caso para a apreensão de uma realidade particular. De
acordo com Godoy (1995), o estudo de caso constitui-se em um tipo de pesquisa que tem por objetivo a
análise intensa de uma dada unidade, que se pode ser uma empresa, um grupo de indivíduos ou até mesmo
uma única pessoa.
O universo é formado pelos gestores da CAIXA de todo o território nacional. Quanto à amostra, é
intencional composta por 23 gestores da CAIXA das cidades de São Paulo/SP, Brasília/DF, Florianópolis/SC,
Rio de Janeiro/RJ, Curitiba/PR, e Fortaleza/CE.

8. ORGANIZAÇÃO ESTUDADA E RESULTADOS DE PESQUISA


A CAIXA (2006) é uma instituição financeira, constituída sob a forma de Empresa Pública de Direito
Privado, criada nos termos do Decreto-Lei 759, de 12 de agosto de 1969. Tem sede e foro na capital da
República e representatividade em todo o território nacional. Está sujeita à disciplina normativa do Conselho
Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil.
Na atividade de fomento, atua na concessão de financiamentos com recursos das cadernetas de poupança
e como repassadora de recursos do FGTS e de outros fundos e programas, diretamente aos beneficiários
finais ou a agentes financeiros participantes do sistema.
Sua rede física de atendimento está distribuída em mais de 17,4 mil pontos de atendimento e conta com
60.442 empregados, além de outros colaboradores externos que incluem terceirizados, lotéricos e
correspondentes bancários. É o único banco presente nos 5.562 municípios brasileiros. Até o final de 2006,
serão mais 500 agências.
A missão da CAIXA é promover a melhoria contínua da qualidade de vida da sociedade. Têm como
valores fundamentais, o direcionamento de ações para o atendimento das expectativas da sociedade e dos
clientes, a busca permanente de excelência na qualidade de serviços e a valorização à gestão de pessoas.
A Universidade Corporativa CAIXA (2006) é um projeto pioneiro entre as empresas estatais brasileiras.
Aliadas às estratégias da organização, sua implantação decorreu de necessidade crescente de treinamento e
desenvolvimento dos empregados, buscando-se por intermédio do incentivo profissional a obtenção de
resultados agrega dores à empresa e ao empregado.
Iniciado com programas de treinamento e desenvolvimento exclusivamente presenciais e, em sua maioria,
com foco no desenvolvimento de gerentes, o processo de educação corporativa cresceu de forma horizontal e
vertical, pois, além de ampliar o público atendido, passou também a utilizar outras modalidades de ensino-
aprendizagem, como a Educação a Distância, o Treinamento em Serviço - On the Job, o Aprendizado Prático
Monitorado, o Suporte ao Desempenho, e, ainda, mídias alternativas como meio para prover a aprendizagem.
A Universidade Corporativa CAIXA é resultado de um trabalho focado no desenvolvimento integral das
pessoas, iniciado em 1996, com o Programa Crescer com a CAIXA.
A Universidade Corporativa CAIXA tem como missão fomentar o aprendizado contínuo e o
desenvolvimento de competências, objetivando o alcance de resultados sustentáveis para as pessoas, para a
organização e para a sociedade. Sua visão como ser reconhecida como um centro de excelência em soluções
de aprendizagem para o desenvolvimento profissional e social da CAIXA e seus parceiros.
A proposta andragógica da Universidade Corporativa CAIXA está dividida em duas linhas de programa;
uma com conteúdos de atualização técnica, com programas operacionais, e outra de educação permanente,
com programas de caráter tático e estratégico. Os cursos de atualização técnica estão ligados à rotina da
organização e são destinados aos empregados, estagiários e prestadores de serviços, sua metodologia é ensino
a distância, fornece certificado de participação de uso interno. Os cursos de educação permanente contam
com programas de caráter tático e estratégico. São realizados por instituições de ensino superior através de
parcerias com instituições de ensino, com outras universidades corporativas e com órgãos do poder público.
Os resultados de pesquisa, na percepção dos gestores da CAIXA sobre a avaliação do desempenho dos
funcionários que participam do programa de educação corporativa da Universidade Corporativa CAIXA,
apresentaram os seguintes resultados:
a. Desempenho: 73,91% consideraram que o desempenho melhorou e 26,09 entendem que o
desempenho não mudou. Nenhum gestor considerou que o desempenho tenha piorado;
b. Fatores Determinantes: para 4,35% dos gestores “Não é perceptível” nenhum tipo de fator
determinante para se avaliar o desempenho dos funcionários; 4,35% não destacaram nenhum
fator que fosse determinante; 13,04% não haviam feito este tipo de análise e que, após a
entrevista passariam a observar; 13,04% Fator Determinante: Relacionamento; 65,22% Fator
Determinante: Habilidade Técnica. As respostas que envolviam os termos: capacidade técnica;
técnica pessoal; técnica profissional; técnica de trabalho e apresentação técnica e foi sintetizado
e considerado pelo pesquisador como “Habilidade Técnica”, após devida concordância dos
gestores. O Gráfico 1 ilustra estes resultados.

4,35%
4,35%
13,04%

13,04%
65,22%

Habilidade técnica Relacionamento Não analisou


Nenhum destaque Não é perceptível

Gráfico 1 - Fatores Determinantes

21,73%
30,42%
4,35%

4,35%
8,70%
4,35% 8,70% 8,70%
8,70%
Não pôr em prática o que foi aprendido Não reconhecimento da chefia
Não reconhecimento dos colegas Não têm cursos de seu interesse
Falta de interesse pessoal Ambiente interno
Falta de motivação pessoal Faz o curso porque o outro fez
Não existem fatores restritivos

Gráfico 2 - Fatores Restritivos

c. Fatores Restritivos: 4,35% para três situações: “Faz o curso porque o outro fez”; “Falta de
motivação pessoal” e “Ambiente interno”. 8,70% em quatro situações: “Falta de interesse
pessoal”; “Não tem cursos de seu interesse”; “Não reconhecimento dos colegas” e “Não
reconhecimento da chefia” e 30,42% para “Não pôr em prática o que foi aprendido”. Alguns
depoimentos: “Alguns fazem os cursos pelo interesse pessoal no assunto, pois não tem relação
com seu trabalho. Torna-se um fator restritivo, pois não existe a prática”. “O ideal seria o
funcionário consultar seu gerente e juntos analisarem as competências críticas do departamento.
No entanto, fazem cursos que não serão de utilidade para as suas funções”. “Existem aqueles
que fazem para dizer que fizeram”. “Não coloca em prática o que foi aprendido porque o curso
não tem ligação com seu trabalho”. “Muitos apenas avançam as telas dos cursos. Sem ler o
conteúdo e sem faz as devidas avaliações que têm em alguns cursos. Prejudica sua avaliação no
sentido que não existe aproveitamento”. O Gráfico 2 ilustra os fatores restritivos.

9. CONCLUSÕES
Além dos aspectos Desempenho, Fatores Determinantes e Fatores Restritivos foram abordados e
analisados outros dois: “Processo de compartilhar conhecimento” e “Estrutura de avaliação de desempenho”.
Processo de compartilhar conhecimento refere-se à existência ou não, de uma atividade estruturada que
vise troca de informações pelos participantes. Pelos gestores: 43,47% “Não existem processos estruturados”;
43,47% “Existência de processos informais”.
Estrutura de avaliação de desempenho refere-se à existência ou não, de avaliações formais objetivando a
avaliação dos que participam dos cursos. Assim, 34,77% “Desconhecem a existência de avaliações formais”.
Não há, portanto, a existência de um processo estruturado para se avaliar o desempenho dos funcionários
que participam dos cursos da Universidade CAIXA, assim como, não existe na prática um processo definido
em compartilhar o conhecimento adquirido pelos participantes.
Com base nestes dados é possível concluir que:

a) Ainda que a forma de avaliação dos gestores não seja formal, o desempenho dos
funcionários melhora com a participação dos cursos;
b) O principal fator determinante para se avaliar o funcionário de participa dos cursos é a
habilidade técnica;
c) O principal fator restritivo é não pôr em prática o que foi aprendido;
d) Ao longo dos cursos e mesmo após a realização, não existem processos estruturados de
compartilhar o conhecimento adquirido; e,
e) Não existe uma avaliação formal definida para avaliar o desempenho dos funcionários que
participam dos cursos.

Os levantamentos relacionados à Gestão do Conhecimento partem do pressuposto que é necessário


desenvolver competências para gerar riquezas dentro deste contexto: produzir e reproduzir conhecimentos, se
bem utilizada pode gerar ainda mais conhecimento, ela é inexaurível e não exclusiva. Mesmo a avaliação de
desempenho, se bem utilizada, de modo objetivo e imparcial, torna-se um instrumento que contribui para o
desenvolvimento da instituição, assim como, dos funcionários.
Salientam-se as ações pioneiras da CAIXA quanto ao investimento na educação de seus empregados.
Tem os autores a percepção, que o processo ainda se encontra em desenvolvimento, face ao reduzido tempo
de sua existência.
Pela circunstância de o tema ser emergente, ainda há muito que se refletir sobre a Educação Corporativa.
Tem-se a expectativa que as informações contextualizadas contribuam para fomentar seu debate, deixando
aberto um campo ainda a ser percorrido por outros pesquisadores. Outros trabalhos nessa égide, além de
disseminarem o assunto podem nortear as organizações estudadas a usufruírem de seus profícuos resultados.

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Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
BENCHMARKING: ABORDAGENS PARA O SUCESSO NA
IMPLEMENTAÇÃO

Adroaldo Guimarães Rossetti1


Embrapa Agroindústria Tropical. E-mail: adroaldo@cnpat.embrapa.br.
1
Doutorando(a) do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC) da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
E-mail: rossettiag@egc.ufsc.br

Cláudia Viviane Viegas1


Centro Universitário Feevale – Novo Hamburgo (RS).
E-mails: claudiaviegas@feevale.br e claudiav@egc.ufsc.br

Rejane Sartori1
Universidade Estadual de Maringá - Cesumar/Fafijan
E-mail: rejane@egc.ufsc.br

Roseli Búrigo1
E-mail: roseburigo@pop.com.br

Viviane D’Barsoles Gonçalves Werutskyi1


Núcleo de Estudos em Gestão Inovação e Tecnologia da Informação - IGTI da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC).
E-mail: viviane@egc.ufsc.br

Neri dos Santos


Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do
Conhecimento (EGC).
E-mail: neri@egc.ufsc.br.

RESUMO
Os profissionais de hoje compreendem que o mundo empresarial está em permanente mudança e que a sobrevivência está
ao alcance dos mais rápidos e nem sempre dos mais aptos. Como muitas das idéias realmente úteis, o benchmarking
surgiu como ferramenta para estudar as melhores práticas de outras organizações e adotá-las para introduzir melhorias na
própria organização. É um processo que tem que ser contínuo para ser eficaz. Fazer benchmarking é “comparar para
crescer”. Trata-se de uma ferramenta de gestão que chama a atenção, pela facilidade de aplicação a várias disciplinas,
incluindo engenharia, educação, saúde, negócios, etc. É uma ferramenta de suporte à melhoria das organizações. A sua
eficácia exige continuidade e comprometimento da alta gerência. Existem vários estudos referentes à aplicação de
benchmarking para a melhoria de práticas de trabalho. A chave para que as organizações o implantem está, inicialmente,
formalizada na prática de boas relações ou no princípio da reciprocidade entre as organizações. O objetivo deste artigo é
apresentar uma abordagem sobre benchmarking no contexto de competitividade, aprendizagem, tipificação, metodologia,
processo, benefícios, fatores críticos e requisitos para que ele seja bem-sucedido.

PALAVRAS-CHAVE
Processos de benchmarking. Requisitos para um modelo de benchmarking. Benefícios do benchmarking.
Fatores críticos. Aplicações de benchmarking.

1. INTRODUÇÃO
O benchmarking não é um conceito novo. Isto não significa que seja fácil de ser bem feito. Como muitas
das idéias realmente úteis, o benchmarking surgiu como ferramenta para estudar as melhores práticas de
outras organizações, com o objetivo de adotá-las, a fim de introduzir melhorias na própria organização. Os
profissionais de hoje compreendem que o mundo empresarial está em permanente mudança e que a
sobrevivência está ao alcance dos mais rápidos, e nem sempre dos mais aptos.
O vocábulo benchmarking, segundo Spendolini (1992), foi dividido em partes, conforme os interesses de
tantas organizações e adaptado por elas, às suas circunstâncias. Com base nessa idéia, Camp (1997) afirma
que benchmarking é um processo contínuo de avaliação de produtos, serviços ou práticas gerenciais,
comparativamente aos concorrentes ou empresas consideradas líderes. Já para Camp e Andersen (1995),
benchmarking é a prática de ser humilde o suficiente para admitir que alguém é melhor em algo, e ser
bastante sensato para aprender como alcançá-lo e superá-lo. Para Fong et al. (1998), benchmarking é uma
ferramenta de gestão recentemente estabelecida, que chama a atenção de várias disciplinas, incluindo
engenharia, educação, saúde, negócios, etc. Existem vários estudos referentes à aplicação de benchmarking
para a melhoria de práticas de trabalho. Segundo esses autores, o que atrai para as organizações, é a
expectativa de melhoria do desempenho, que é uma norma no campo da gestão em geral e pode ser aplicado
a todas as vertentes de um negócio, em produtos, serviços e processos, para torná-los cada vez mais eficientes
e eficazes aos clientes. Em todos os processos existem resultados, ou outputs, que correspondem a respostas
às necessidades do cliente, quer ele seja interno ou externo, consumidor ou utilizador.
A chave para que as organizações pratiquem benchmarking está inicialmente baseada na prática de boas
relações ou no princípio da reciprocidade entre elas. A técnica do benchmarking tem como objetivo principal,
conforme Tarapanoff (2001, p.246), “filtrar o que os concorrentes têm de melhor no mercado”, identificando
e selecionando as melhores organizações, de forma que a identificação e a comparação das melhores práticas
de mercado devem estar apoiadas em duas ações:
a) identificar e selecionar empresas que atuem em qualquer nicho de mercado e que possuam
comprovadamente desempenho superior; e
b) estudar comparativamente as principais tarefas que interferem na satisfação de clientes.
AEPortugal (2004) menciona que benchmarking, para ser eficaz, deve ser um processo sistemático e
contínuo de avaliação dos produtos, serviços e processos de trabalho, de organizações que são reconhecidas
como representantes das melhores práticas, com a finalidade de introduzir melhorias na organização. Refere-
se que quando se estuda organizações de excelência, fica-se com excelentes idéias para a própria companhia.
Além disso, apresenta o que considera os princípios básicos do benchmarking, tais como:
• Sistematização: o benchmarking não é um método aleatório de busca de informação. Trata-se de um
processo sistemático, estruturado etapa a etapa, com o objetivo de avaliar os métodos de trabalho no
mercado. Os outputs desse processo proporcionam às empresas comparar os seus produtos, serviços e
métodos de trabalho com os das organizações representantes das melhores práticas.
• Continuidade: o benchmarking é um processo de melhoria que tem que ser contínuo para ser realmente
eficaz. Não pode ser desenvolvido uma vez e negligenciado depois, pensando-se que a tarefa está
concluída. Tem que ser um processo em constante avaliação, uma vez que as práticas estão em
permanente mudança. As organizações representantes das melhores práticas não são estáticas, mas
prosseguem, num espírito de melhoria contínua, não deixando que a sua concorrência as alcance. Assim,
sem haver continuidade, corre-se o risco de que o trabalho desenvolvido na medição do desempenho das
organizações representantes das melhores práticas fique rapidamente desatualizado.
• Melhores práticas: o processo de benchmarking concentra-se nas atividades com mais êxito; no entanto,
este não deve ser dirigido somente aos concorrentes diretos dos produtos ou serviços. De fato, poderá
cometer-se um erro, uma vez que tais concorrentes diretos poderão ter práticas menos atrativas. O
benchmarking deve ser direcionado também a empresas ou atividades de negócio reconhecidas como as
melhores, independente da similaridade com a empresa que o aplica. Encontrar parceiros para esse
trabalho nem sempre é fácil, é necessária uma investigação cuidadosa para encontrá-los, bem como é
importante justificar o porquê dos parceiros.
• Melhoria: a melhoria da organização é o objetivo final do benchmarking, pois se trata de um processo
consumidor de tempo e recursos, que deixaria de ter algum interesse se não fosse, de alguma forma,
proveitoso para a organização. O benchmarking constitui um compromisso com o princípio da melhoria
contínua, pois possibilita utilizar a informação recompilada de várias formas, de modo a produzir um
efeito significativo nos processos das organizações.
Além destes princípios básicos, é importante não esquecer que o benchmarking é uma prática
fundamentada na reciprocidade, na qual todos os participantes se beneficiam da partilha da informação. A
idéia de que é bom para todos é fundamental, caso contrário, rapidamente um dos parceiros desiste.
Para Souza (2004), fazer benchmarking é comparar para crescer. A autora garante que o benchmarking
pode aumentar a competitividade da empresa. Para isso, é preciso comparar a empresa às dos concorrentes,
e/ou não concorrentes, desde que sejam líderes em áreas que se quer melhorar. Ela dá sugestões para iniciar
esse processo visitando empresas, a fim de conhecer o que elas fazem para conseguir seus resultados;
aprender com elas como resolver seus problemas; saber que tecnologias elas utilizam; que capacitação dão a
seus funcionários; se elas têm um sistema de informação eficiente e como ele funciona. Em fim, ver o
conjunto de ações que lhes destacam e aplicar esse novo conhecimento para melhorar a sua performance.
Mas visitar concorrentes geralmente não é fácil. Porém, não é a única opção. Se não se pensar num setor ou
ramo de atividade específico, abstraindo-se dessa idéia, ver-se-á que numa indústria, por exemplo, existem
processos que se assemelham a outros, de empresas diferentes, que a princípio não são concorrentes. O ideal
é não focar numa só, mas ter várias referências. Geralmente as empresas não concorrentes estão abertas a
essas visitas. Empresas que são referência, geralmente, têm orgulho disso, gostam de falar e mostrar suas
práticas. Então, se não for um concorrente, não há problema. Para a pesquisadora, o benchmarking pode ser
mais proveitoso que um workshop ou uma consultoria e a visita tem a vantagem de se ver a prática. Souza
(2004) diz que o processo de benchmarking consiste, primeiramente, em identificar o que vai ser comparado,
ter um objetivo claro. O primeiro passo para iniciar um processo de benchmarking é identificar um objetivo.
Qual a área ou função que se deseja melhorar? A partir da definição do que vai ser comparado, o próximo
passo é identificar com quem comparar. A partir daí é estabelecer as estratégias de trabalho, que pode ser por
conta própria, por serviços de consultorias ou através de um mediador, por exemplo, sobretudo quando se
trata de concorrente. É preciso, porém, sistematizar o processo, fazer um planejamento de visitas, depois
estudar e consolidar as informações obtidas, analisar e transformar o resultado dessa pesquisa num plano de
ação. As informações devem ajudar a tomar decisões sobre o que deve ser melhorado. É necessário, em
seguida, verificar como aplicar essas boas práticas; se estão de acordo com as estratégias da empresa, se há
recursos, se vale para o setor, se aquilo tudo faz sentido e estabelecer um cronograma de aplicação. Às vezes
não convém fazer de uma vez só. É preciso avaliar continuamente o posicionamento da empresa, para
verificar o grau de melhoria.

2. REVISÃO TEÓRICA
Para Wolfram-Cox et al. (1997), o significado de benchmarking se diferencia conforme o processo ou
prática que lhe é submetida. Em face disso, apresentam-se três descrições populares e comentários sobre a
utilidade dessa ferramenta. Camp (1989a) refere-se a benchmarking como a busca por melhores práticas
industriais que podem levar a um desempenho superior. Esta abordagem é suficientemente ampla para
acomodar todos os níveis de práticas de benchmarking.
Biesada (1991) afirma que benchmarking pode funcionar em todas as áreas possíveis de produtos,
serviços e em processos correlatos entre diferentes fronteiras nacionais ou de negócios. Envolve mudanças
nas atuais práticas de trabalho ou métodos de negócios para se atingirem determinados objetivos. Para Camp
(1989a), o benchmarking é um programa de aprendizagem por comparação de melhores práticas industriais
para se atingir metas operacionais e de produtividade, levando a um desempenho superior. Isto deixaria os
grupos encaixados em suas mentes, à procura das melhores práticas, já que apenas essas práticas podem
resultar em desempenho superior. Para Biesada (1991), uma melhor prática é um método selecionado por
uma organização para destacar suas atividades individuais. Além disso, as melhores práticas não apenas
existem em países desenvolvidos ou em indústrias relevantes, mas também podem estar presentes em outros
países ou em pequenas indústrias. As organizações devem procurar pelo melhor entre quaisquer meios
disponíveis, de outro modo sofreriam de paridade, mas não ganhariam em superioridade.
Camp (1989a) refere-se a esta busca como “dantotsu”, isto é, a melhor entre as melhores práticas. Este
conceito oferece, segundo Lema e Price (1995), mais detalhes para abranger a natureza genérica do
benchmarking em quatro temas essenciais: o valor da aprendizagem a partir do contexto externo da
organização em um quadro de referência usual; a importância de tomar o uso desta aprendizagem em uma
forma de abordagem estruturada; as comparações de práticas entre elas mesmas e as melhores em sua classe,
em uma base contínua; e a utilidade da informação para dirigir ações de melhoria do desempenho.

2.1 Tipos de benchmarking

Kyrö (2003) identifica cinco tipos de benchmarking: de desempenho; de tecnologia; de processo; de


competência; e estratégico. A autora acrescenta que há relações entre esses tipos e que é importante um
detalhamento refinado das características do(s) parceiro(s). Ela determina alguns fatores e categorias com
diferentes opções, destacando entre eles a revisão, mencionando que o conceito revisado, mais atual de
benchmarking:
(...) refere-se à avaliação e às melhorias em uma organização; ao desempenho de suas
unidades ou de suas redes; a tecnologias; processos; competências e/ou estratégias dentro
de um escopo geográfico bem definido, por meio da aprendizagem a partir de e/ou com
sua própria unidade, com outra organização ou com uma rede identificada como tendo as
melhores práticas em seu respectivo campo como competidora, enquanto operando na
mesma indústria, cluster ou setor em um amplo contexto, com um cluster geográfico
definido (KYRÖ, 2003, p. 220).
Existem vários tipos de atividades de benchmarking, cada uma das quais se define como objetivo ou
objeto da atividade do benchmarking. Anteriormente, a prática de comparações organizacionais estava um
tanto limitada a áreas estruturais ou relacionadas com produtos, coisas de fácil observação. Sem dúvida, a
experiência com o benchmarking tem aumentado muitíssimo as áreas potenciais para investigação. É
surpreendente a quantidade e a qualidade de informações disponíveis para quem se propõe encontrá-la. As
categorias de informações aqui apresentadas não representam uma lista exaustiva das áreas que podem ser
submetidas a benchmarking, mas, por si, representam as áreas que mais correm em busca de informação que
as empresas têm tentado compilar, como parte de suas investigações de benchmarking: produtos e serviços;
processos de trabalho; funções de apoio; desempenho organizacional; e estratégia.
A ênfase fundamental do cliente define-se pelo objetivo desejado da atividade. Especificamente, o
interno, o competitivo, o funcional (genérico), ou uma combinação dos três. A intenção e os objetivos do
cliente do benchmarking, podem-se diagnosticar estabelecendo as classes de benchmarking desejadas. As
conseqüências das atividades do benchmarking são fortemente afetadas pela amplitude do seu foco. A
magnitude do esforço do benchmarking incrementa-se enormemente à medida que o processo avança. O
processo de benchmarking é uma atividade complexa que envolve um trabalho intenso e prolongado.
O uso que se faz da informação incide na quantidade de esforço necessário para identificar e recompilar
essa informação, afetando significativamente a seleção que vem dos sócios e o tipo de perguntas que a eles
chegam. A quantidade de informação que se deseja é um aspecto importante das necessidades do cliente. Ela
é gerada durante as etapas de investigação do processo e pode ser muito extensa, de modo que é importante
esclarecer as expectativas do cliente para assegurar que este defina suas necessidades de informação de
maneira realista e que apóie os esforços necessários para gerar a informação solicitada. Outro aspecto da
quantidade de informação está relacionado ao volume de documentação recompilada, procedente dos sócios
do benchmarking. O nível de detalhe que se espera é tal que afete a quantidade de tempo necessário para
recompilar, analisar, catalogar e resumir a informação de benchmarking. A quantidade de tempo e recursos
dedicados ao desenvolvimento, à entrega e à manutenção das informações varia consideravelmente entre as
organizações. Contudo, há uma tendência contrária à prática de gerar grandes quantidades de informações.
No contexto da Gestão, Jager (1999) salienta que a ferramenta (KMAT - Knowledge Management
Assessment Tool), de avaliação da Gestão do Conhecimento, é projetada para ajudar as organizações a
fazerem uma avaliação inicial de alto nível sobre como elas gerenciam o conhecimento. Liderança, cultura,
tecnologia e medidas são características utilizadas em tal avaliação. Jager (1999) menciona que o
benchmarking implica o estabelecimento de metas por meio do uso de objetivos, padrões externos e
aprendizagem de outros. O benchmarking pode ajudar no estabelecimento de metas realistas quantificáveis,
baseadas em desempenho superior a partir do conhecimento. Nesse contexto, Jager (1999) tipifica o
benchmarking em: competitivo; cooperativo; colaborativo; interno; quantitativo e qualitativo.
AEPortugal (2004) salienta que o benchmarking permite a análise e a melhoria dos processos chave de
uma organização, a valorização do principal, em vez do acessório, a melhoria no desempenho e o aumento da
rentabilidade. A força do benchmarking concentra-se no fato de possibilitar a tomada de decisões com base
em fatos e não em intuições, e apresentar um potencial enorme de benefícios para as organizações, quando
usado como um processo contínuo, identificador de áreas de mudança potencial e como um processo de
medição para monitorar as melhorias atingidas. Tipifica também benchmarking como: empresarial;
governamental; setorial; interno; competitivo; funcional e genérico.
Nota-se, contudo, que falta consenso a respeito da tipologia e classificação de benchmarking. Cada
sistema de classificação tem seus próprios prós e contras. Altany (1990), Harkleroad (1992) e Wolfram-Cox
et al. (1997) sugerem que a natureza distinta do benchmarking tem recebido atenção insuficiente. Contudo, as
distinções entre tipos de benchmarking ajudariam a promover as perspectivas organizacionais e a auxiliar na
composição de vários objetivos específicos, que mais adiante se tornariam planos de ação em nível
operacional. É importante classificar diferentes tipos de benchmarking. Como esta prática ainda está em sua
infância, conforme destacam vários autores, a formação de uma classificação operacionalizável requer tipos
de informações para a sua aplicação mais específica.
O resumo de algumas tipologias mostrado na Tabela 2 é fruto de uma revisão inicial estabelecida por
Lema e Price (1995), com base na natureza de outro referencial: o conteúdo do que estava sendo submetido a
benchmarking e o propósito da formação de relações inter-organizacionais que lhe são associadas.
Tabela 2: Classificação do benchmarking
Classificação Tipo Significado
Natureza do outro referente Interno Comparação, dentro da organização, sobre o desempenho de unidades de
negócios ou processos similares.
Competidor Comparação com competidores diretos, atinge ou ultrapassa o desempenho
geral.
Indústria Comparação com uma companhia da mesma indústria, incluindo não
competidores.
Genérico Comparação com uma organização que se estende além das fronteiras
industriais
Global Comparação com uma organização cujas fronteiras geográficas estendem-
se para além do país.
Conteúdo do benchmarking Processo Pertence aos processos de trabalho discretos e sistemas operacionais
Funcional Aplicação do processo de benchmarking que compara funções de negócios
particulares de duas ou mais organizações.
Desempenho Referente a características de resultados, quantificáveis em termos de
preço, velocidade, confiabilidade etc.
Propósito da relação Estratégica Envolve a avaliação estratégica mais do que aspectos operacionais
Competitiva Comparação para obter superioridade sobre os outros.
Colaborativa Comparação para desenvolver uma atmosfera de aprendizagem e
compartilhamento do conhecimento.
Fonte: Fong et al. (1998).

2.2 Benchmarking Competitivo

A expressão benchmarking competitivo foi utilizada pela primeira vez, conforme Spendolini (1992), em
1982, durante uma reunião da Xerox Corporation, realizada em Rochester, quando a organização tratava o
aspecto referente a seus competidores, cujo sistema impressionou, pela maneira como a informação foi
recebida. Foram então conhecidas duas facetas do benchmarking: a primeira era um processo para entender
os competidores ou não competidores, cuja chave era separar as medidas comuns em funções similares; a
segunda enfatizava os aspectos do processo, não somente da produção, mas como se desenhava, como se
fabricava, como se comercializava e como se proporcionava o serviço, o produto. A empresa continuou
aperfeiçoando o conceito de benchmarking competitivo durante os anos 80 e só ao final destes se deu a forma
a que hoje é benchmarking.

2.3 Benchmarking como aprendizagem

O benchmarking é um processo de aprendizagem em si mesmo, pois envolve a captação e a análise de


informações de uma empresa a partir de práticas consagradas desta, para a melhoria de desempenho da que
busca, o que ocorre por meio de adaptações e processos empíricos. Especificamente, este conceito é outra
forma alternativa de desenvolvimento profissional que complementa as outras maneiras de aprendizagem.
Neste contexto, percebeu-se que o benchmarking era muito razoável e complementava os métodos de
desenvolvimento profissional.
É importante que, por trás de todas as atividades de planejamento, organização e análise, defina-se o
benchmarking como experiência, onde estejam os objetivos fundamentais de aprendizagem de algo novo e o
aproveitamento de novas idéias para a organização. O termo de maior importância é a organização que
aprende, e os conceitos externos que as empresas devem ter delas e examinar cuidadosamente seus pontos de
vista acerca do mundo. O benchmarking, então, se converte em uma ferramenta fundamental que pode guiar
as pessoas a executar o processo de análise do exterior, em busca de idéias e inspirações.

2.4 Metodologia de implementação de um processo de benchmarking

O conceito original de benchmarking induz ao compartilhamento de melhores práticas entre organizações


envolvidas. Booth (1995) sugere que o benchmarking envolve uma metodologia para o desenvolvimento de
uma estrutura, incluindo um entendimento da atual posição e da direção almejada e a seleção dos critérios e
parceiros certos com os quais fazer o benchmarking.
A escolha de parceiros adequados para o benchmarking é importante porque a competitividade
aumentada, segundo Wolfram-Cox et al. (1997), estará ligada mais provavelmente à colaboração. Às vezes, a
melhor prática pode ser prerrogativa de um competidor direto.
O processo de implementação está dividido, segundo Spendolini (1992), em cinco fases, que por sua vez,
estão subdivididas em atividades, e estas, em tarefas. As cinco fases deste processo, são:
a) planejamento, que envolve as atividades e tarefas que se seguem: identificação do item; obtenção o apoio
da direção; desenvolvimento do sistema de medida; desenvolvimento do plano de coleta de informação;
revisão dos planos; e caracterização do item.
b) Coleta interna de informação, cujas atividades e tarefas são: coleta e análise de informação publicada
internamente; seleção de potenciais parceiros internos; caracterização do item em cada parceiro; coleta
interna de dados; e realização de visitas aos parceiros.
c) Coleta externa de informação, com duas grandes atividades: coleta de informação publicada
externamente; e coleta de dados externos.
d) Melhoria do desempenho do item, envolvendo: identificação de ações corretivas; desenvolvimento do
plano de implementação; obtenção da aprovação da solução; e implementação e verificação da solução.
e) Melhoria contínua, com duas atividades: manutenção da base de dados; e implementação da melhoria
contínua do desempenho.

2.5 O processo de benchmarking

O benchmarking pode ser descrito como um processo estruturado. A estrutura do processo de


benchmarking se dá pelo desenvolvimento de um modelo de processo passo a passo. Sem dúvida, um
processo estruturado não deve agregar complexidade a uma idéia simples. E a estrutura não deve interpor-se
no caminho do processo. Os modelos de processos têm dois atributos básicos que os tornam úteis quando
usados apropriadamente. Eles proporcionam uma estrutura e uma linguagem comuns.
Estrutura: Qualquer tipo de modelo de processo de benchmarking deve proporcionar uma estrutura
apropriada para um planejamento com êxito e a execução da investigação de benchmarking. Ademais, deve
ser suficientemente flexível para animar as pessoas a modificarem o processo para que se adapte às suas
necessidades e aos seus requerimentos de projeto.
Linguagem comum: Os diversos passos ou etapas de um modelo também ajudam a estabelecer uma
linguagem comum entre seus usuários. Os passos do processo ajudam a definir grupos de atividades ou
tarefas relacionadas. O modelo de benchmarking tem proporcionado uma linguagem especial que lhes
permite comunicar-se com eficácia sobre um processo que pode ser relativamente novo para eles.
Não existe uma receita pronta para o benchmarking, mas algumas observações podem facilitar sua
implementação, caso a caso: a companhia tem que implementar algum tipo de processo organizado para
benchmarking; o processo de benchmarking tem que estar incorporado ao processo normal de tomada de
decisões; o processo deve estar bastante difundido por toda a organização; a companhia tem que demonstrar
que implementou com êxito o processo; e a organização devia estar disposta a compartilhar com outras
companhias o resultado dos esforços do processo.
2.6 Requisitos para um modelo de benchmarking bem sucedido

O processo de implementação do benchmarking exige muito mais planejamento e determinação do que


qualquer outro atributo, por isto destacam-se os seguintes procedimentos:
a) seguir uma seqüência simples e lógica de atividades: a mensagem fundamental aqui não é acerca dos
termos, passos ou fases, do número de passos ou fases, senão da clareza. Talvez a melhor maneira de
medir o nível de clareza de um modelo de processo é a habilidade das pessoas para descrevê-lo a outras
pessoas, incluindo a habilidade de explicar por que é importante cada parte do processo para o usuário;
b) colocar uma ênfase vigorosa no planejamento e na organização: As classes de atividades incluídas
nesta parte do processo compreendem um entendimento preciso das necessidades do cliente do
benchmarking, obtenção de recursos apropriados para que a equipe possa cumprir sua missão, seleção de
membros da equipe e instruções a essa equipe, utilização de ferramentas e técnicas para um planejamento,
desenvolvimento de instrumentos específicos para reunir informações e implantação de protocolos que
definam comportamentos;
c) implementação de benchmarking focado no cliente: Um processo de benchmarking focado no cliente
põe forte ênfase em estabelecer contatos com os clientes de benchmarking e em usar algum tipo de
processo formal para identificar as necessidades específicas dos clientes acerca do processo, do protocolo
e da própria informação.
d) convertê-lo em um processo genérico: Isto significa que o processo de benchmarking deve ser coerente
em uma organização. Nela deve haver alguma flexibilidade em todo o processo para acomodar certo nível
de variação. Não há necessidade de um modelo exclusivo de processo de benchmarking para cada
departamento, divisão ou seção de uma organização.

2.7 Benefícios do benchmarking

Sendo o benchmarking um método formal, segundo Mittelstaedt Jr. (1992), quanto mais sistemático o
método, maiores os benefícios que os resultados eventuais irão assegurar. Alguns autores, entre os quais,
Camp (1989b) e Mittelstaedt Jr. (1992), sugerem que o método sistemático teria um desempenho fora do
comum, enquanto os métodos informais não o teriam. Os benefícios potenciais do benchmarking estão
listados na Tabela 4.
Tabela 4: Benefícios do benchmarking.
Definição dos requerimentos dos consumidores Realidade do mercado; avaliação de objetivos; alta
conformidade.
Estabelecimento de metas e objetivos específicos Acreditáveis; não discutíveis; proativos; líder da
indústria
Desenvolvimento de verdadeiras medidas de Resolução de problemas reais; entendimento dos
produtividade resultados, baseado nas melhores práticas da
indústria
Ser competitivo Entendimento concreto da competição; novas idéias
de práticas e tecnologias provadas; alto
comprometimento
Melhores práticas da indústria Busca proativa da mudança, por exemplo; novas
tecnologias; muitas opções; ruptura de práticas de
negócios; desempenho superior.
Fonte: Fong et al. (1998).
Os benefícios que uma organização poderá tirar do processo de benchmarking, na opinião de Spendolini
(1992), estão relacionados com: o aumento da probabilidade de satisfazer as necessidades dos clientes ao
entender a identificação das suas necessidades como um processo da organização; o estabelecimento de
objetivos (metas) eficazes ao forçar a organização a manter um permanente enfoque no ambiente externo e
assegurar a sua adaptação; a obtenção de verdadeira produtividade – sustentada ao longo do tempo – ao
envolver os colaboradores, em todos os níveis, na resolução dos problemas da organização; a garantia da
competitividade ao entender e conhecer a concorrência e os clientes; a possibilidade de implementação das
melhores práticas nos processos, ao procurar a aprendizagem das práticas usadas por organizações que são
reconhecidas como sendo as melhores; o aumento da motivação, ao encorajar a organização a procurar metas
realistas e a mudar as práticas de trabalho existentes, que em outra situação teriam que ser impostas; e
facilitar a necessidade de mudança na interiorização dos recursos humanos da organização, dando um senso
de urgência para a melhoria.

2.8 Fatores críticos de sucesso

O comprometimento da alta direção para com o benchmarking terá que ser traduzido numa postura que
envolva aspectos como: vontade de mudar; interiorização de que a concorrência está em permanente
mudança; boa vontade para partilhar informação com os parceiros de benchmarking; espírito aberto para
novas idéias, criatividade, inovação; e promoção da institucionalização do benchmarking.

2.9 Algumas aplicações de benchmarking

O benchmarking é hoje uma ferramenta com aplicação em diversas áreas, tanto no setor privado como no
público.
Dorsch e Yasin (1998) destacam, inicialmente, para efeito de ilustração, dois exemplos do setor público, a
fim de mostrar que para este setor também é importante, tanto quanto para o privado, atingir metas de
eficiência e eficácia e reduzir custos operacionais. Então, o setor público deve usar ferramentas semelhantes
às do setor privado para tais finalidades. Contudo, ele deve olhar além do seu ambiente imediato e querer
compartilhar informações, aprender, a partir do setor privado, pois estes autores consideram benchmarking
como “aprender com os outros”. Relatam, entre outros, um exemplo de benchmarking no setor público dos
Estados Unidos: a Tennessee Valley Authority (TVA), instituição federal que cuida de geração de
eletricidade, desenvolvimento econômico e guarda da bacia do Rio Tennessee, investindo em projetos de
construção contra cheias e outros. Ela buscou benchmarking junto a empresas privadas de construção,
agências federais e empresas de energia, também privadas. Outro exemplo é a The Veterans Health
Administration (VHA), parte do Departamento de Negócios de Veteranos dos Estados Unidos. Esta
instituição, que atende a área de saúde de veteranos de guerra, gastava 44% de seu orçamento total de US$
358 milhões em atendimento à saúde, em 1994. Alguns hospitais dessa rede, aos poucos, fizeram um
benchmarking em clínicas e hospitais privados e modificaram procedimentos para baixar custos.
Na indústria, segundo Camp e Andersen (1995), o benchmarking industrial é uma ferramenta que avalia o
posicionamento competitivo das empresas brasileiras, por exemplo, frente às líderes mundiais de seu setor. É
direcionado a indústrias de médio e grande porte, empenhadas em desenvolver a sua gestão empresarial. O
benchmarking industrial é um processo participativo, através do qual a alta administração e colaboradores de
diversas funções e diferentes níveis da empresa auto-avaliam e pontuam, em reunião de consenso, os
indicadores constantes do questionário do benchmarking industrial. Posteriormente, discutem com os
facilitadores credenciados a coerência da auto-avaliação e ajustam as pontuações à realidade da empresa. A
partir da comparação de sua pontuação com as melhores empresas mundiais do setor específico de atuação,
as empresas estudadas obtêm a informação de seu posicionamento em relação à prática e à performance das
líderes de seu setor, ou seja, a distância ou gap a percorrer para alcançar o padrão das líderes internacionais.
Aplicar benchmarking em um ambiente empresarial competitivo, como a indústria, é essencial para as
empresas melhorarem seus resultados, para que possam sobreviver e continuar crescendo. Mas quais são os
resultados obtidos pelas empresas? Como esses resultados são comparados com a concorrência?
Muitas empresas acreditam conhecer as respostas, mas o único caminho para realmente saber se uma
empresa é considerada “classe mundial” ou qual a posição que ela ocupa em relação à média do seu setor é
através da comparação ou benchmarking. O benchmarking industrial auxilia a definir o nível de performance
atual de uma empresa. Através dele é possível entender como as práticas implementadas e a cultura da
empresa influenciam na satisfação dos seus clientes e nos seus resultados como um todo.
A aplicação do benchmarking industrial é uma importante ferramenta estratégica que não só possibilita a
comparação da empresa com seus concorrentes, identificando as áreas com oportunidades de melhoria e
áreas nas quais a empresa se destaca, mas também auxilia na elaboração de planos de ação para atuar sobre as
oportunidades identificadas. Quando utilizado nas várias unidades operacionais de uma mesma empresa, o
benchmarking torna-se uma poderosa ferramenta para disseminação de melhores práticas e comparação de
desempenho. Isso permite o compartilhamento de informações, experiências de sucesso e competências
internas entre diversas unidades. O benchmarking industrial pode avaliar o desempenho de uma empresa
através da análise das seguintes áreas: qualidade total; desenvolvimento de novos produtos; logística;
produção enxuta; meio ambiente; saúde; segurança; gestão da inovação; e organização e cultura.
Camp e Andersen (1995) denotam que a aplicação do benchmarking na indústria é feita em três etapas:
Etapa 1: A empresa recebe dois manuais contendo explicações do processo de aplicação do
benchmarking industrial e um questionário para ser respondido por um time, composto por até oito pessoas
de diferentes níveis e funções, chamado time de benchmarking da empresa. Cada membro do time
responderá ao questionário, individualmente, e depois é buscado consenso quanto às notas, em uma reunião.
Esta etapa dura de três a quatro horas.
Etapa 2: Esta etapa tem a duração de dois dias. No primeiro dia, o facilitador credenciado para aplicar o
benchmarking industrial visita a empresa e realiza uma reunião de consenso da pontuação do questionário
junto com o time de benchmarking. No segundo dia, o facilitador processa os dados e apresenta os resultados
para a empresa.
Etapa 3: Esta é uma etapa opcional na qual a empresa pode solicitar o auxílio do facilitador do
benchmarking industrial na elaboração de planos de ação nas áreas onde houve maiores oportunidades de
melhoria.
Os principais benefícios do benchmarking industrial são: comparação com banco de dados internacional
formado por um número representativo, como acima de mil empresas, por exemplo, de diversos setores
industriais; identificação de oportunidades de melhoria na empresa; avaliação da relação prática-
performance; estímulo à integração entre as áreas da empresa; motivação da equipe pelo uso do enfoque
participativo; fornecimento de subsídios para o estabelecimento de metas factíveis; e auxílio na elaboração de
um plano de ação.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não obstante alguns autores se referirem ao benchmarking como uma idéia recente, é grande a quantidade
de aplicações que se encontra na literatura. Na verdade, trata-se de um recurso de suporte à melhoria das
organizações que permite, além da sobrevivência com sucesso, em ambientes altamente competitivos, a
busca constante da criação de valor aos produtos e processos entregues aos clientes, visando à sua satisfação.
Mesmo que alguns autores se refiram à formação de clusters, resultados similares ou correspondentes, por
exemplo, nenhum desses testes ou métodos de análise foi encontrado no material consultado. Nota-se,
portanto, uma lacuna sobretudo no tocante à interação com outras áreas do conhecimento, como a Estatística,
por exemplo, que certamente seria um grande instrumento a auxiliar especialmente na análise e interpretação
das informações coletadas, tanto quantitativa como qualitativamente. Há autores como AEPortugal (2004),
por exemplo, que enfatizam que, com uma análise qualitativa se consegue identificar as melhores práticas,
que a avaliação quantitativa identifica a diferença e que a avaliação qualitativa identifica o porquê da
diferença.
Jager (1999), ao reportar-se como as organizações gerenciam o conhecimento, refere-se a medidas como
características utilizadas nas avaliações; menciona que o benchmarking pode ajudar no estabelecimento de
metas realistas quantificáveis, mas limita-se apenas à apresentação de percentuais, como parâmetros de
avaliação, e assim por diante.
Parece interessante trabalhar essa importante ferramenta, associada a outras áreas, de modo a permitirem-
se análises mais consistentes, apoiadas em modelos tão consagrados na literatura e com ampla aplicação em
outras áreas do conhecimento.

4. CONCLUSÕES

4.1 O benchmarking é um processo que para ser eficaz precisa ser realizado continuamente.
4.2 É uma ferramenta viável para a melhoria do desempenho organizacional, aplicável a qualquer
organização e atividade.
4.3 É uma atividade que consome tempo, recursos, requer disciplina e compromisso da alta gerência.
4.4 Seu compartilhamento contribui para desenvolver uma atmosfera de aprendizagem e conhecimento.
Destaca-se, que apesar da diversidade de referenciais teóricos e de produção acadêmica registrada sob o
título ou envolvendo de alguma forma o benchmarking, mais relevantes são as práticas que os sustentam.
Estas dependem, principalmente, da capacidade de planejamento, avaliação, correção de rumos e atuação,
bem como do estabelecimento de ações numa lógica seqüencial bem detalhada, sempre com foco na razão de
ser do benchmarking, que é a satisfação do cliente.

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disentangling assumptions of competition and collaboration. Journal of Management Studies, Cambridge, v.34, n.2,
p.285-314.
TRANSPARÊNCIA POLÍTICA: UMA ABORDAGEM DE
MONITORAMENTO DE AÇÕES BASEADO EM
ONTOLOGIAS
Sonali Paula Molin Bedin
IJURIS
sonali.bedin@ijuris.org

Tânia Cristina D’Agostini Bueno


IJURIS
tania.bueno@ijuris.org

RESUMO

Apresenta uma nova aplicação do sistema de recuperação de informação instalado no Observatório Regional Base de
Indicadores de Sustentabilidade Metropolitano de Curitiba – ORBIS, que busca através da utilização de sistema
inteligente prestar serviços de produção de informações através do monitoramento de vários aspectos sociais
relacionados à cidadania. Será apresentada a construção de ontologias para o monitoramento de ações
governamentais através dos reflexos na mídia das expressões mais freqüentes, com propósito de garantir a
transparência política. As ações monitoradas se inserem no contexto de “representação política”.

PALAVRAS-CHAVE
Software público. Software livre. Redes de cooperação. Compartilhamento de conhecimento. Governo
eletrônico. Disseminação.

1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento científico e tecnológico evidencia o progresso significativo do e-Gov, que pode ser
definido pelo uso da tecnologia para aumentar o acesso e melhorar o fornecimento de serviços do governo
para cidadãos, fornecedores e servidores. As oportunidades geradas pelo e-Gov envolvem diferentes
campos da esfera social na prestação de serviços, redesenhando a relação entre cidadão e governo. Tal
enfoque espelha uma nova sociedade desburocratizada e justa. O e-Gov se estabelece para fomentar a
participação do cidadão no processo democrático, sensibilizando o governo quanto às demandas sociais.
HOESCHL (2002) teoriza que "governo eletrônico" não se resume nem a portais nem ao poder executivo.
Para o autor, diversos são “os efeitos positivos do governo via bits: melhoria da qualidade, segurança e
rapidez dos serviços para o cidadão; simplificação dos procedimentos e diminuição da burocracia; avanço
da cidadania; democracia da informação; transparência e otimização das ações do governo; educação para
a sociedade da informação; facilidade de acessar o governo; integração das informações para o cidadão;
geração de empregos na iniciativa privada; otimização no uso e aplicação dos recursos disponíveis;
integração entre os órgãos do governo; aproximação com o cidadão; desenvolvimento do profissional do
serviço público; aperfeiçoamento dos modelos de gestão pública; universalização do acesso da
informação.”
Certamente é possível dizer que o governo eletrônico tem fornecido subsídios para uma ampliação das
práticas democráticas necessárias à modernização das organizações públicas e a transparência nas ações
do Governo sendo que esta transparência reflete respeito aos usuários públicos.
Neste esteio, o esperado é que aplicações efetivas de e-gov concretizem a democratização do poder
público e garantam o pleno exercício da cidadania. A utilização dos recursos tecnológicos disponíveis, as
chamadas TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) vem favorecer a transparência das ações
governamentais, que são um clamor da sociedade civil.
Dentro do contexto de governo eletrônico, sistemas inteligentes vêm sendo utilizados como uma
importante aplicação para gestão pública. Instituições de várias áreas do conhecimento têm empregado
esforços no sentido de utilizar as informações possíveis a partir destes sistemas que através do emprego
da inteligência artificial permitem, além de várias entradas e armazenamento de informações, uma melhor
definição da forma como estas informações vão ser acessadas pelo usuário.
Nesta perspectiva se insere o Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade
Metropolitano de Curitiba – ORBIS, que busca através da utilização de sistema inteligente prestar
serviços de produção de informações através do monitoramento de vários aspectos sociais relacionados à
cidadania.
Estão disponíveis hoje, várias metodologias de gestão da informação adequadas aos sistemas inteligentes.
Uma destas metodologias é a utilização de ontologias que possibilita a construção da base de
conhecimento e gestão da informação de forma contextualizada.
Neste trabalho, será apresentada a construção de ontologias para o monitoramento de ações
governamentais através dos reflexos na mídia das expressões mais freqüentes, com propósito de garantir a
transparência política. As ações monitoradas se inserem no contexto de “representação política”.

2. O SISTEMA ORBIS
O Observatório Regional Base de Indicadores de Sustentabilidade Metropolitano de Curitiba (ORBIS) foi
fundado em 31 de maio de 2004 com o objetivo de “reunir indicadores de desenvolvimento urbano e de
qualidade de vida dos 26 municípios da região”, conforme site institucional disponível em
<http://www.observatorio.org.br>. Estes indicadores são coletados em fontes oficiais sendo que são
avaliados por especialistas para então seus resultados servirem de base para a formulação de políticas
voltadas ao desenvolvimento uniforme da região.
Organismo integrante da Rede Mundial de Observatórios Urbanos, programa da ONU para
Assentamentos Urbanos (UN-Habitat), conta com o apoio do Observatório Global Urbano (GUO), da
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Instituto Paraná Desenvolvimento (IPD), Governo
do Estado por meio da Secretaria Especial de Assuntos Metropolitanos, Prefeitura de Curitiba dentre
outras instituições que têm por objetivo ajudar a implantar a Agenda Habitat e a Agenda do Milênio
(Agenda 21), gerando informações em âmbito local e nacional.
Os indicadores econômicos são utilizados para o acompanhamento das ações e permitem uma prospecção
de futuro, uma vez que o ORBIS se propõe a apoiar a iniciativa governamental e privada de um
desenvolvimento sustentável para a Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
Como base para o agrupamento e análise destes indicadores, o Observatório está apoiado na Agenda
Habitat e nos Oito Objetivos do Milênio, estabelecidos na Declaração do milênio das Nações Unidas em
reunião da ONU com 147 Chefes de Estado e de Governo de 191 Países em setembro de 2000. As metas
do milênio levam em consideração questões como a erradicação da fome e da pobreza, educação, saúde
além da sustentabilidade ambiental.
Conforme consta em sua divulgação institucional, “o Observatório selecionou parte dos 48 indicadores
estabelecidos pela ONU, seguindo o critério de adequá-los à realidade da RMC, para serem aplicados na
formulação de políticas e planejamento estratégico dos Municípios”.
Baseados nisto, os especialistas e pesquisadores do Observatório efetuaram levantamento do perfil das
localidades da região de abrangência, utilizando dados que demonstram a condição dos municípios e da
vida da população.
Com estes dados, foi elaborado o relatório Indicadores do Milênio na Região Metropolitana de Curitiba
como forma de possibilitar a verificação dos resultados das ações da sociedade e dos governos para
melhorar a qualidade de vida e a sustentabilidade da região.
Para atender a seus objetivos, o ORBIS tem como ferramenta um Sistema de Informação baseado em
Inteligência Artificial utilizado por seus consultores e disponibilizado para consulta via web.

2.1 Apresentação do Sistema


O Sistema de Informações KMAI/ORBIS tem o intuito de contribuir para a integração de instituições que
compõem a RMC, além de estabelecer um ambiente cooperativo de troca de conhecimentos. A tecnologia
KMAI® é utilizada para o monitoramento de informações em tempo real e para o cruzamento dessas
informações. Como resultados são produzidas informações estratégicas voltadas ao suporte dos processos
de elaboração e tomada de decisão das políticas públicas.
Entre as principais vantagens do projeto, pode-se destacar:
• A indexação de documentos em tempo real nas fontes de informação monitoradas. Por meio
desse mecanismo, o processo de captura, armazenamento e tratamento das informações torna-se mais
ágil.
• Melhor aproveitamento de oportunidades e recursos em organismos de financiamento pelo
monitoramento constante das fontes de financiamento nacional e internacional.
• Visualização gráfica, facilitando assim, a interpretação dos fatos.
• Busca textual, facilitando a recuperação de documentos relevantes ao conteúdo da consulta.
• Retro-alimentação do sistema, ou seja, a possibilidade de inserção de novos conhecimentos
através de notas informativas que serão recuperadas pelo usuário. Nesse sentido, o aumento da utilização
do sistema gera também um aumento de performance do mesmo. Por fim, a possibilidade de relações
entre diversos aspectos, como por exemplo, “poluição do ar” e “camada de ozônio” ou “produção de
recursos naturais” e “gestão do ambiente e de seus recursos”.
O desenvolvimento do projeto do Observatório permite a realização em paralelo da construção de uma
cesta de indicadores, processo esse que está em sinergia com a produção de informações estratégicas
geradas pelo sistema.

2.2 O uso de Ontologias


Na Inteligência Artificial (IA), as ontologias se apresentam como linguagens ou formas de representação
do conhecimento que possibilitam a comunicação entre os Sistemas de Recuperação da Informação e os
usuários, além de favorecer o entendimento dos conteúdos pelo compartilhamento do conhecimento,
representado nos termos ou expressões construídos com base nos conceitos. É uma forma de representar e
organizar, considerando os princípios semânticos.
Voltados para a estruturação e representação do conhecimento, Swartout et. al. (1996) se referem a
ontologia como um conjunto de termos estruturados que descrevem algum domínio e são a estrutura para
uma base de conhecimento.
O termo ontologia é associado diretamente à descrição de um conhecimento específico, se apresentando
como forma de representação do domínio do conhecimento através de um vocabulário construído para
esta finalidade. Este vocabulário vai abranger os conceitos e as relações que podem existir dentro do
domínio.
As ontologias por meio de suas características pretendem abranger todo o domínio-alvo de sua
construção, representando o conhecimento por meio de termos de entendimento comum e suas
respectivas relações, assim como contribuindo para a facilidade de recuperação das informações ali
representadas.
A utilização de ontologias como recurso nos SRI encerra algumas vantagens, conforme descreve
Guimarães (2002):
• Fornecem vocabulário para representação do conhecimento apoiado na conceitualização, o que
reduz a ambigüidade;
• Permitem o compartilhamento do conhecimento;
• Fornecem descrição exata do conhecimento uma vez que o vocabulário construído será
amparado pela conceitualização comum dentro de um domínio;
• Uma mesma conceitualização pode ser expressa em várias línguas;
• Pode ser estendida de forma que se adeqüe a domínios específicos.
A possibilidade de aplicações variadas além das diversas classificações de ontologias demonstra que, seu
uso está diretamente relacionado à necessidade emergente de representação e compartilhamento do
conhecimento e a diversidade dos Sistemas de Recuperação de Informação.
A metodologia de construção das ontologias consiste nos seguintes passos: 1. Inventariar todo o domínio,
isto é, catalogar todas as fontes de informação digital que servirão como base de dados do sistema; 2.
Aplicar o Extrator de freqüência de palavras em cima da base de dados inventariada; 3. Comparação entre
os resultados dos extratores com as necessidades dos especialistas; 4. Construir, junto com o especialista
um vocabulário controlado representativo do domínio; 5. Utilizando este vocabulário, aplicar o extrator
semântico na base de dados; 6. Avaliar o resultado com base na freqüência das expressões indicativas
encontradas e definir uma lista de palavras; 7. Construir ontologias para utilização no sistema com base
neste vocabulário controlado; 8. Definir sinônimos, homônimos e hiperônimos com base doutrinária e
principalmente da legislação sobre o assunto [BUENO, 2005, p. 7].
3. MONITORAMENTO DE AÇÕES DO GOVERNO
Ampliando o uso do sistema, inicialmente concebido para monitorar ações de desenvolvimento humano e
social da região, o ORBIS se volta a outra ação apoiada nos princípios de e-gov: a transparência pública.
Para tal contexto, levado pela necessidade emergente de acompanhamento das iniciativas públicas que
envolvem temáticas como ética e uso de recursos públicos e em parceria com a iniciativa privada, foi
identificado como de fundamental importância o universo da “representação política”.
A crescente mobilização de instituições do poder público em todos os níveis, tem levado ao conhecimento
da sociedade situações de corrupção, mau uso do dinheiro público, tráfico de influências, negociatas de
toda ordem, lavagem de dinheiro, para citar apenas alguns. A necessidade de monitoramento destas ações,
dos envolvidos, das relações que se estabelecem a partir e dentro delas e seus desdobramentos foram itens
norteadores para a delimitação do contexto ontológico a ser trabalhado.
Para tal, foi definido um grupo de pesquisadores com conhecimento na área política e interessados em
construir uma base de conhecimento que permita o acompanhamento destas ações. Através de reuniões de
sincronização de conhecimento e expectativas, o grupo identificou tópicos pontuais considerados
importantes para compor o sistema.
Dentro do contexto Representação Política, caracterizado no sistema como “domínio”, foram
identificados especificamente quais os temas que necessitam ser monitorados indo ao encontro do
objetivo desta nova aplicação do sistema: construir uma base de conhecimento com informações pontuais
e constantemente atualizadas e que estejam de fácil acesso para que possam ser consultadas pelo cidadão
comum.
Para estes temas específicos dá-se a denominação de sub domínio, ou seja, aquele campo ou temática que
se pretende trabalhar detalhadamente. Estes sub domínios foram categorizados como:

• Ética na política
• Defesa da Democracia
• Promoção do Desenvolvimento
• Agenda Estratégica para o Brasil
• Medidas estratégicas
• Reformas

A definição destes sub domínios contou com a participação de especialistas na área, representantes da
iniciativa privada, analistas que farão uso do sistema e representantes do Observatório.
Ao processo de definição do contexto e sub domínios bem como definição das fontes e delimitação dos
aspectos a serem monitorados, chama-se Engenharia do Conhecimento. Deste processo participam todos
os envolvidos na elaboração e aplicação do projeto como forma de garantir que os resultados finais
obtidos estejam alinhados com os objetivos inicialmente propostos e espelhem a expectativa do cliente
chamado usuário final.
Após a definição dos sub domínios, foram identificadas exaustivamente todas as ações governamentais
desenvolvidas ao longo dos últimos anos que apresentam ou apresentaram no seu escopo, a busca por
ativos desviados, crimes de lavagem de dinheiro, atos de corrupção pública, sonegação de impostos com a
interferência de agentes públicos, desvios de recursos públicos com a conivência de servidores,
instituições federais envolvidas, nomes das ações e locais onde se desenvolveram. Esta identificação
envolveu todos os especialistas e analistas, considerando que as ações governamentais com o objetivo de
interferir e abortar atividades ilegais que comprometem o andamento da máquina pública, são
caracterizadas com nomes específicos que tenham alguma conotação com as atividades desenvolvidas.
É de domínio público que, cada ação conta com vários envolvidos em diversas regiões do país formando
redes bastante complexas. Estes envolvidos, por sua vez, não raro estão ligados a mais de uma rede, o que
amplia sobremaneira o universo a ser monitorado.
Outra questão importante considerada foi a identificação de sites pessoais de políticos dos governos
federal, estadual e municipal que trazem ações, propostas, atividades, agenda, posicionamentos
individuais, dentre outras questões importantes diretamente ligadas aos mandatos legislativos atuais e
futuras perspectivas.
Com o objetivo de monitorar as ações governamentais, foram incluídos sites que trazem informações de
interesse público, resultados de reuniões estratégicas dos diversos setores públicos, aplicação de recursos,
prestação de contas, além de dados estatísticos dos diversos mapeamentos disponíveis nos bancos de
dados brasileiros.
Os princípios do governo eletrônico estão presentes em todas as decisões tomadas pela equipe envolvida
no desenvolvimento desta aplicação. Os monitoramentos pretendem, antes de qualquer estudo, dar
condição ao cidadão de conhecer o universo governamental, sua administração, a aplicação dos recursos e
a situação atual de vários temas.

CONSIDERAÇÕES
A nova funcionalidade do sistema de informação instalado no ORBIS vem demonstrar que a evolução
tecnológica está a passos largos se colocando a serviço do cidadão. Deixando de ser apenas para grandes
aplicações nas áreas de produção industrial ou nos meios de comunicação, sistemas cada vez mais
inteligentes começam a ser vistos como importantes ferramentas também para as administrações públicas.
Não é possível mais conceber que o cidadão comum não possa ter acesso às facilidades e opções que
estes sistemas podem trazer e representar para o seu cotidiano.
O monitoramento das ações governamentais dentro do contexto da representação política resultado do
esforço para estabelecer parcerias entre a iniciativa privada e o setor público e se volta a trazer
informações que permitam o conhecimento que vai influenciar diretamente no exercício da cidadania.
Como resultados esperados do sistema, o ORBIS pretende disponibilizar uma base de conhecimento
sobre a temática, construída dentro de um contexto ontológico e que seja de fácil acesso. Com o apoio da
iniciativa privada e dentro dos princípios de governo eletrônico, são iniciativas que se voltam ao cidadão.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
BEDIN, Sonali P.M.. Metodologia para validação de ontologias: o caso ORBIS_MC. Florianópolis: UFSC.
Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Federal de Santa Catarina, 2007.

BUENO T. C. D et al. Knowledge Engineering Suite: a Tool to Create Ontologies for Automatic Knowledge
Representation in Knowledge-based Systems. in: The 2nd International Workshop on Natural Language
Understanding And Cognitive Science (NLUCS-2005) in ICEIS - 7th international conference. 7TH International
Conference on Enterprise Information Systems, 2005, Miami. Proceedings of Seventh International Conference On
Enterprise Information Systems. 2005.

GARCIA, Thais H.B. et. al. A democracia na era do governo eletrônico. Anais do Simpósio Internacional de
Propriedade Intelectual, Informação e Ética II Ciberética 2003. Florianópolis, 2003. Disponível em:
http://www.ciberetica.org.br/trabalhos/anais/27-64-c1-8.pdf. Acesso em 03 set 2007.

GUIMARÃES, Francisco José Zamith. Utilização de ontologias no domínio B2C. Rio de Janeiro: PUC. Dissertação
(Mestrado em Informática) – Pontifícia Universidade Católica, 2002.

HOESCHL, H. C. Cenário evolutivo: o futuro do Governo Eletrônico. Revista Consultor Jurídico, 22 de outubro de
2002.

MONTORO, André Franco. O município no século XXI: cenários e perspectivas. Cepam: São Paulo, 1999.
Disponível em <http://www.cepam.sp.gov.br/v11/cepam30anos/pdf/Cap%204/cap%204.pdf>. Acesso em 20 set.
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SIQUEIRA, E. Um retrato do e-government no Brasil. O Estado de São Paulo, São Paulo, 08 ago. 2004. Disponível
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SWARTOUT, Bill, et.al. Toward Distributed Use of Large-Scale Ontologies. Disponível em <
http://ksi.cpsc.ucalgary.ca/KAW/KAW96/swartout/Banff_96_final_2.html>. Acesso em 20 maio 2006.
INCLUSÃO DIGITAL DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
ATRAVÉS DE UM AMBIENTE VIRTUAL DE
APRENDIZAGEM

Alessandra Luzia da Gama Cotta


Graduação em Psicologia – Universidade Gama Filho
Especialização em Sexualidade Humana – Universidade Gama Filho
Coordenadora Municipal de DST/AIDS de Alegre - ES
Professora do Instituto de Ensino Superior do Espírito Santo
alessandra.cotta@yahoo.com.br

Ednéa Zandonadi Brambila


Graduação em Pedagogia – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Alegre
Mestre em Ciência da Informação – Pontifícia Universidade de Campinas
Professora do Instituto de Ensino Superior do Espírito Santo
Consultora da Tecsystem Educacional
edneabrambila@yahoo.com.br

Jardel Calvi Grancieri


Graduação em Ciência da Computação – Faculdade de Castelo
Mestrando em Pesquisa Operacional e Inteligência Computacional – Universidade Cândido Mendes
Desenvolvedor de Sistemas da Tecsystem Tecnologia em Software
Consultor da Tecsystem Educacional
jardel01@yahoo.com.br

ABSTRACT

The organization model in the Information Society and of the Knowledge it involves all of the sections of the society, be
them publics or private. The Internet altered the production forms creating means in the daily and intensifying the
communication forms and social interactions. However, your use is still restricted due to some factors, among them, the
competence of the information and the access conditions. Government, business local initiatives and of the third section
for the Digital Inclusion has been reaching considerable results in the education, in the world of the work and in the
construction of the citizenship. Therefore, a project of digital Inclusion will be demonstrated uniting Contents of the
Fundamental Teaching, Informatics and Education the Distance.

KEY-WORDS
Digital inclusion, Technologies of Access to the Teaching, Virtual Atmosphere of Learning, Citizenship,
Digital Literacy.

RESUMO
O modelo de organização na Sociedade da Informação e do Conhecimento envolve todos os setores da sociedade, sejam
eles públicos ou privados. A Internet alterou as formas de produção criando facilidades no cotidiano e intensificando as
formas de comunicação e interações sociais. Porém, seu uso ainda é restrito devido a alguns fatores, entre eles, a
competência informacional e as condições de acesso. Iniciativas locais governamentais, empresariais e do terceiro setor
para a Inclusão Digital tem alcançado resultados consideráveis na educação, no mundo do trabalho e na construção da
cidadania. Portanto, demonstrar-se-á um projeto de Inclusão digital unindo Conteúdos Programáticos do Ensino
Fundamental, Informática e Educação a Distância.
PALAVRA CHAVE
Inclusão Digital, Tecnologias de Acesso ao Ensino, Ambiente Virtual de Aprendizagem, Cidadania,
Alfabetização Digital.

1. INTRODUÇÃO
Na busca constante de se construir políticas nacionais voltadas a inserção da população brasileira na
Sociedade da Informação e do Conhecimento, o papel das tecnologias no processo de ensino aprendizagem
pode ser de sucesso ou de fracasso. Depende é claro da visão institucional e do elemento principal desse
processo: o educador.

A globalização intensificada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) alterou os processos


organizacionais, levando todos os setores do país a repensarem suas metodologias de trabalho. Assim
também a educação deve buscar alternativas que viabilizem uma educação de qualidade estando preparada
para mudanças pedagógicas e tecnológicas.

A inclusão digital é umas das formas da evolução e disseminação do conhecimento. Quando pessoas
possuem condições democráticas de acesso às novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) e
capacidade de interagir com essas tecnologias, estas tendem a ter cada vez mais, uma maior produção
intelectual, armazenando e compartilhando conhecimentos.

A Revolução Industrial alterou os processos de produção no trabalho, assim como a revolução informacional
altera as formas de geração de riqueza e poder de um país. Karl Marx já afirmava há uns poucos séculos atrás
que o sistema capitalista torna-se excludente devido às tendências do mercado. As regras de acumulação de
capital são definidas pelo mercado, conforme a demanda numa rede global de interações, procura e
consumismo. Portanto, torna-se necessário repensar e desenvolver estratégias inclusivas e tecnológicas que
alcancem democraticamente todas as camadas da população, principalmente as de menor renda.

Iniciativas governamentais e privadas estão sendo desenvolvidas pelo país buscando amenizar a disparidade
de acessos e uso dos recursos tecnológicos, e uma grande parte delas alcançam sucesso, porém, se torna
necessário potencializar este acesso para a geração de conhecimento. Mas, mesmo com tantos incentivos,
onde instituições de ensino, por exemplo, estão se tornando centros de referência, grande parte da população
e também educadores, elemento principal do processo de aprendizagem, ainda não sabem lidar com tal
tecnologia.

Tendo como objetivo geral apresentar um projeto de capacitação e treinamento de educadores na Rede
Pública de Ensino, bem como aspectos pertinentes a inserção das tecnologias neste ambiente de
aprendizagem, apresentaremos um projeto que busca ligar o educador às tecnologias inovadoras, alterando
assim as formas de ensino-aprendizagem e sua maneira de encarar a informática, tendo-a como uma grande
parceira na evolução da sociedade e no resgate da cidadania.

Portanto, tornou-se necessário criar um ambiente em que profissionais da Educação da Rede Municipal de
Ensino busquem capacitação e, assim, possam elevar o padrão de qualidade da educação, apoiado em Novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), independente das distâncias, sejam elas territoriais ou
culturais.

2. INCLUSÃO DIGITAL, TECNOLOGIA E PROMOÇÃO DA CIDADANIA

2.1 Disparidades Sociais e Cidadania


A aproximação do indivíduo com as Tecnologias de Informação e Comunicação está intimamente
relacionada, no mundo globalizado, aos direitos básicos à informação e à condição do indivíduo poder opinar
e se expressar. A exclusão digital está entre uma das várias formas de manifestação da exclusão social e
impossibilidade de exercício da cidadania. A exclusão digital não se trata de um processo isolado e que
possa ser compreendido de tal forma, pois se trata de mais um resultado das diferenças na distribuição de
poder e renda.

As tecnologias da informação e da comunicação precisam se tornar ferramentas que


contribuam para o desenvolvimento social, intelectual, econômico e político do cidadão.
Do ponto de vista de uma comunidade, isto significa aplicá-las a processos que
contribuam para o fortalecimento de suas atividades econômicas, de sua capacidade de
organização, do nível educacional e da autoestima de seus integrantes, de sua
comunicação com outros grupos, de suas entidades e serviços locais e de sua qualidade de
vida. (CRUZ, 2004, p. 13).

É de fundamental importância, que a inclusão digital seja vista através do ponto de vista ético e considerada
uma ação de promoção da conquista da cidadania, contribuindo assim para uma sociedade mais igualitária.

Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em
resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado,
ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os
direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o
direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranqüila. Exercer
a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais, fruto de um longo processo
histórico que levou a sociedade ocidental a conquistar parte desses direitos. (PINSKY,
2003, p. 9).

A construção da cidadania passa, necessariamente, pela questão do acesso e uso da informação. Tanto a
conquista de direitos políticos, civis e sociais, quanto à implementação dos deveres do cidadão, dependem do
livre acesso à informação sobre tais direitos e deveres.

As iniciativas governamentais só alcançarão sucesso e amenizarão as estatísticas da exclusão quando


viabilizarem iniciativas territoriais, agregando valor a particularidades locais, sejam elas políticas,
econômicas, gráficas ou sociais. Pois, iniciativas locais estimulam ações globais, visto que,

A globalização caracteriza-se por reconhecermos as particularidades locais através do


global, bem como no reconhecimento das pluralidades e dos acontecimentos locais. Na
contemporaneidade, esse reconhecimento através do mundo globalizado gera uma nova
identidade coletiva. (BRAMBILA, 2006, p. 37).

Em reconhecimento dos diferentes ritmos de expansão das novas tecnologias, tornou realidade o que foi
denominado como brechas digitais. Aplicado inicialmente para indicar as distâncias de acesso digital que
separam os países avançados dos restantes, foi crescendo a visão de que mais significativas que aquelas são
as brechas e fraturas internas, separando os que têm dos que não têm condições de acesso ao novo universo.
Junto com isso, cresce também o entendimento de que, sem superar as fraturas internas, será impossível
diminuir as distâncias que nos separam hoje dos países avançados.

A inclusão digital não se resume à disponibilidade de computadores e de telefones, mas à


capacitação das pessoas para o uso efetivo dos recursos tecnológicos. Para ser incluída
digitalmente, não basta ter acesso a micros conectados à Internet. Também é preciso estar
preparado para usar estas máquinas, não somente com capacitação em informática, mas
com uma preparação educacional que permita usufruir de seus recursos de maneira plena.
(CRUZ, 2004, p. 13).

Criar estratégias sociais é proporcionar condições sólidas para a organização social. Organizar-se socialmente
em um mundo virtual significa democratizar o acesso coletivo aos meios tecnológicos. Mas, como
democratizar esse acesso em um país com imensas disparidades? Há necessidade de se incentivar setores
públicos e privados a viabilizarem projetos viáveis que priorizam a grande parcela da população: os
excluídos de baixa renda.

Em decorrência disso, segue abaixo 12 aspectos, definidos pela Bridgers, Orgs apud Cruz (2004, p. 16-17),
de avaliação do real acesso à essas tecnologias:
 Acesso Físico - os computadores e telefones precisam ser acessíveis e estar disponíveis ao usuário.
 Adequação - as soluções tecnológicas devem ser adequadas às condições locais de vida.
 Preço Acessível - o custo da tecnologia e de seu uso precisa estar de acordo com a capacidade que a
maioria das pessoas e organizações tem de pagar por elas.
 Capacidade - as pessoas precisam conhecer o potencial de uso da tecnologia de maneira ampla, de
forma a poder empregá-la criativamente nos diversos momentos de sua vida.
 Conteúdo Relevante - é necessário haver conteúdo adequado aos interesses e às atividades da
comunidade local, bem como linguagem acessível.
 Integração - a tecnologia não pode se tornar uma dificuldade na vida das pessoas, mas deve se
integrar ao dia-a-dia da comunidade.
 Fatores Socioculturais - questões como gênero e raça não podem ser barreiras ao acesso à tecnologia.
 Confiança - as pessoas precisam ter condições de confiar na tecnologia que usam e entender suas
implicações no que diz respeito a questões como privacidade e segurança.
 Estrutura Legal e Regulatória - as leis e regulamentos devem ser elaboradas com o objetivo de
incentivar o uso da tecnologia.
 Ambiente Econômico Local - deve haver condições que permitam o uso da tecnologia para o
crescimento da economia local.
 Ambiente Macroeconômico - a política econômica deve dar sustentação ao uso da tecnologia, em
questões como transparência, desregulamentação, investimento e trabalho.
 Vontade Política - os governos precisam de vontade política para fazer as mudanças necessárias para
uma adoção ampla da tecnologia, com base em forte apoio da população.

A partir da análise de tais aspectos é possível criar ações efetivas através de parcerias estratégicas entre o
governo, o setor privado e terceiro setor para que a Inclusão Digital aconteça em todos os setores da
sociedade,

2.2 Inclusão Digital X Exclusão Digital


Os maiores problemas sociais, políticos e econômicos da atualidade referem-se ao desarmamento, ao uso
indevido de drogas, ao equilíbrio ecológico, às transformações no mercado de trabalho, ao desemprego, à
educação, à saúde, à miséria, e tantos outros mais. Nenhum dos setores da sociedade têm soluções simples ou
definitivas para resolvê-los e a abordagem séria dessas questões exige, a mobilização do governo, das
empresas, do terceiro setor e de toda a sociedade, e, ao mesmo tempo, do acesso e do uso das informações e
conhecimentos construídos e ainda em construção pela humanidade.

Segundo Cruz (2004, p. 10) ―Inclusão Digital significa aplicar as tecnologias a processos que contribuam
para o fortalecimento de suas atividades econômicas, de sua capacidade de organização, do nível educacional
e da auto-estima de seus integrantes, de sua comunicação com grupos, de suas entidades e serviços locais e
de sua qualidade de vida‖. E vai mais além, afirmando que o acesso as Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) é um direito básico, assim como os direitos fundamentais de qualquer indivíduo.

O acesso e o uso das novas tecnologias de comunicação e informação, em especial a Internet, são uma
alternativa na ampliação de conhecimentos, favorecendo a melhoria das condições sociais e econômicas, em
especial das pessoas que encontram-se em situação de risco social.

(...) a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em especial,


aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico, traça o
seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a evolução histórica e a
transformação social, a tecnologia (ou a sua falta) incorpora a capacidade de
transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sempre em um
processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnológico. (CASTELLS, 1999, p.
26).
Segundo o Mapa das desigualdades digitais do Brasil publicado pela Rede de Informação Tecnológica Latino
Americana – RITLA (2007, p. 5), ―entre os estudantes do Ensino Fundamental, só 2,5% dos mais pobres
usaram computador na escola. Esse índice sobe para 37,3% no grupo de alunos de maior nível de renda‖.

Iniciativas governamentais são voltadas para a estruturação tecnológica das escolas, não visando a
capacitação dos educadores. Os modelos pedagógicos inadequados, a falta de conhecimentos e o
analfabetismo são fatores que contribuem para a exclusão digital. A necessidade de ações urgentes de
inclusão digital da grande parcela da população rumo a Sociedade da Informação e do Conhecimento se dá
na mudança de valores sociais (Produção em Massa X Gestão do Conhecimento, Capacidade de produção
(Auto-aprendizagem)) ditada pelo mercado de trabalho competitivo. Exemplos de ações de responsabilidade
social empresarial e governamental bem sucedidas vem sendo demonstradas constantemente, sendo que,

Mais da metade dos internautas brasileiros não tem acesso residencial e depende dos
computadores localizados em centros comunitários, nas escolas e no trabalho. As
empresas do setor de tecnologia — como operadoras de telecomunicações, fabricantes de
computadores e equipamentos de informática e fornecedoras de software — possuem um
incentivo natural para contribuir para a inclusão digital: para elas, trata-se de criar
demanda e colocar no mercado de trabalho pessoas preparadas para adotar as suas
soluções tecnológicas. Ao ampliar o uso da tecnologia, essas empresas podem
democratizá-la e auxiliar o avanço da inclusão digital. (CRUZ, 2004, p. 44)

Existe um pressuposto de que as classes sociais menos favorecidas economicamente não têm acesso à
Internet e tal fato é necessariamente negativo; e que as classes sociais mais favorecidas, por sua vez, têm
maior possibilidade de acesso, e isso faz com que os ricos sejam cada vez mais ricos; portanto, o acesso às
novas tecnologias é então algo positivo, pois é fator contribuinte para a acumulação de riquezas e aumento do
poder. O dinheiro para comprar um computador e conectá-lo à Internet faz parte apenas de um dos fatores
que influenciam a inclusão/exclusão digital, mas não está sozinho, e talvez, nem seja o mais importante,
como veremos a seguir.

2.3 Evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação (recursos de


informática no processo de aprendizagem)
A cada dia que passa, a informática está mais presente na sociedade, desde as atividades profissionais até as
atividades de lazer, de casa ao trabalho, em todo os lugares depara-se com o computador. Não é diferente
quando se trata do processo educacional, o computador já é um instrumento presente na maioria das escolas.
A informática é um importante instrumento de desenvolvimento pedagógico, portanto, não só pode como
deve ser utilizado em todos os níveis de desenvolvimento da relação ensino – aprendizagem.

A introdução dos computadores e da informática na escola pode ocupar um lugar de destaque pelo poder de
processamento de informação que possui. A informática é ao mesmo tempo uma ferramenta e um
instrumento de mediação. É uma ferramenta porque permite ao usuário (seja ele aluno ou professor) construir
objetos virtuais, modelar fenômenos em quase todos os campos do conhecimento, desenvolver a capacidade
de concentração e possibilitar o estabelecimento de novas relações para a construção do conhecimento. Ao
educador, oferece um novo modo de representação do conteúdo ensinado, e ao aluno proporciona uma
atividade educacional que se torna um instrumento motivador.

As tecnologias de comunicação e informação são recursos de grande importância para


auxiliar o processo de ensino-aprendizagem. Mesmo que já façam parte da vida dos
alunos, devem ser inseridas na educação de forma crítica e criativa para tornar o processo
educativo mais dinâmico, rico e contextualizado,de maneira a contribuir para a renovação,
reorientação e melhorias na área educacional. (SOUZA; SANTOS, 2005, p. 60).
O computador como ferramenta de ensino possui diversos recursos que podem ser explorados, a fim de
facilitar o processo de desenvolvimento da construção do conhecimento. A informática disponibiliza recursos
que são excelentes ferramentas que não só despertam o interesse e a concentração como também aperfeiçoam
o desenvolvimento da criatividade e habilidade do educando.

O uso crescente das tecnologias digitais e das redes e comunicação interativa acompanha e amplifica uma
profunda mutação na relação com o saber sendo que as novas possibilidades de criação coletiva distribuida,
aprendizagem cooperativa e colaboração em rede oferecidas pelo ciberespaço colocam novamente em
questão o funcionamento das instituições e os modos habituais de divisão do trabalho, tanto empresas como
nas escolas. (LÉVY, 1999).

Quando se discute a informática educativa, não se pode esquecer da Internet. A rede mundial de
computadores é um dos adventos mais marcantes da sociedade humana no final do século 20, com sua
conectividade e acessibilidade é capaz de transformar completamente a vida e os conceitos de nossa
sociedade. A Internet tem sido considerada como um evento quase mágico que cai sobre a escola para ser
assimilada pelos educadores, considerada muitas vezes como um acontecimento à parte da escola, ou
somente como fonte de acesso à informação adicional. Ante as tecnologias inovadoras da informática e da
Internet a escola é muitas vezes considerada ultrapassada. Uma das dificuldades dos novos processos
tecnológicos é identificar a essência do novo. É fundamental reconhecer o que há de singular na inovação,
esta deve associar-se ao processo educativo, pois não são excludentes, mas sim associativas.

A informática possibilitou o surgimento de inúmeros softwares e aplicativos desenvolvidos especialmente


para a educação na construção do conhecimento. Dewey (1979, p.26) propôs que a aprendizagem se
caracteriza por um “continuun” experimental, isso é, que a aquisição do saber é fruto da reflexão sobre a
experiência, continuamente representada ou reconstruída. ―Todo conhecimento em desenvolvimento faz uso
das experiências passadas e influi nas experiências futuras‖. Portanto, não há conhecimento sem construção e
não há construção sem experiência. É necessário que as experiências tenham um significado educativo e
motivem o aluno ao prazer de aprender. Nesse sentido, cabe ao educador compreender o processo de
aprendizagem dos educandos e prover um direcionamento para suas experiências, a educação deve se
desenvolver segundo os princípios da continuidade e interação do conhecimento que está sendo construído e
as experiências que estão sendo experimentadas.

As descobertas científicos e tecnológicos sempre trazem benefícios e consequências. Os benefícios são os


avanços e progressos obtidos na área em busca da melhoria da qualidade de vida. As consequências,
principalmente em países em desenvolvimento geram desigualdades e descompartilhamento de benefícios.

Bill Gattes (2007) afirma que a revolução digital só agora está tomando corpo e que grandes transformações
ocorrerão nos próximos anos, tanto em hardware quanto software. A grande questão é saber como ficará
nossa interação com o mundo. E vai mais além, afirmando que o maior impacto se dará na disseminação da
revolução digital entre bilhões de pessoas sem acesso aos instrumentos que permitem participar da economia
do conhecimento, visto que temos que pensar em fatores como a conectividade, treinamento, manutenção e
suporte dessas tecnologias.

Há três ou quatro anos, quando alguém se deparava com um problema prático ou teórico, e precisava de
algum tipo de informação, procurava um livro especializado, uma biblioteca, ou alguém que já tivesse
passado por problema semelhante. Hoje, pode-se dizer, sem risco de exagero, que todo o conhecimento
humano está disponível na Internet. Tem-se acesso a bibliotecas tradicionais, museus, universidades,
agências de governo e indivíduos ao redor do mundo.

As bibliotecas digitais prometem inúmeros e valiosos benefícios para a sociedade. O mais óbvio é o fim das
restrições de espaço e tempo ao acesso à informação, além de contribuir para redução das desigualdades
sociais e regionais.

Há o consenso de que o que caracteriza nosso mundo atual é a crescente ligação das atividades humanas com
as tecnologias digitais. Existem diversas realidades no mundo demonstrando que essas tecnologias, se bem
utilizadas, podem incrementar de forma significativa o desenvolvimento econômico, a igualdade entre os
homens, a capacidade de intercâmbio e o enriquecimento cultural, o crescimento a pesquisa e a melhoria
educacional. E isso é, precisamente, o que está sendo chamado de sociedade da informação e do
conhecimento, um fenômeno bem recente na história da humanidade, de não mais de três décadas, mas que já
deixou sua marca em todos os campos de atividade humana.

Nos gráficos abaixo, os indicadores analisados, expressos originalmente como percentagens – Internet
domiciliar e uso de Internet – ou como relação entre duas categorias – brancos/negros ou ricos/pobres –
foram convertidos em uma métrica comum: padronizados e transformados em uma escala onde a média do
Brasil representa 50 pontos e cada desvio padrão 10 pontos.

Considerando que as escalas propostas pretendem representar os níveis de discriminação existentes em cada
um dos indicadores ou dimensões, quanto maior seu valor de escala, maiores as desigualdades encontradas.
Dado que 50 pontos representam a média nacional, quanto mais próximo desse valor, mais perto o Estado se
encontra da média nacional. Quanto mais distante dessa média para cima, maiores as desigualdades
encontradas. Quanto mais baixos os índices estabelecidos para um estado, menores as desigualdades.

Deve ser levado em conta que os indicadores e dimensões que compõem o índice representam escalas de
discriminação, isto é, valores mais elevados na escala significam maiores níveis de discriminação ou
desigualdade.
Fonte: Indicadores construídos a partir dos microdados da PNAD 2005
Fonte: Indicadores construídos a partir dos microdados da PNAD 2005
Fonte: Indicadores construídos a partir dos microdados da PNAD 2005
Fonte: Indicadores construídos a partir dos microdados da PNAD 2005
Fonte: Indicadores construídos a partir dos microdados da PNAD 2005

Baseado nos gráficos do PNAD/IBGE de 2005 interpretados pela Ritla (2007) existe uma identificação clara
de prioridades e de insuficiência de ações. Somente 11,6% dos alunos do Ensino Fundamental tiveram
condições de ter acesso à Internet em suas escolas, caindo para 8,5% quando desagregadas as escolas
públicas.
Diante desse contexto, percebemos claramente as palavras de Lampert (2003) afirmando que a Internet, como
toda a tecnologia, apresenta vantagens e desvantagens. Um insignificante percentual de pessoas tem acesso, o
que faz com que aumente, ainda mais, o hiato entre ricos e pobres. Mesmo havendo uma infinidade de
informações sobre praticamente todos os temas, a abordagem superficial, a veracidade, a confiabilidade e a
fidelidade dos conteúdos são aspectos questionados. A dificuldade reside em escolher quais são os mais
significativos e úteis.

2.4 Tecsystem Educacional: Informática na Escola


Devido aos grandes avanços tecnológicos, bem como o processo de globalização que alavanca a evolução da
sociedade, percebe-se que os profissionais da Rede Pública de Ensino possuem dificuldades na atualização,
capacitação e/ou aperfeiçoamento na área da Informática Educacional e demais aspectos pertinentes às áreas
de tecnologia voltadas para o Ensino do país.

Ao realizar uma pesquisa de campo utilizando questionários estruturados com professores da Rede Municipal
de Ensino no Município de Castelo no Estado do Espírito Santo, percebeu-se o desconhecimento dos
recursos computacionais quanto a conceituação e utilização de tecnologias no processo de ensino-
aprendizagem. Como exemplo desta lacuna, constatou-se que 51% nunca tiveram acesso a Internet e um
software auxiliador de apresentações escolares foi utilizado esporadicamente por apenas 9%, lembrando que,
parte das Escolas Públicas de Ensino possuem laboratórios de informática.

Diante desta realidade a necessidade da capacitação dos professores em informática se dá na busca de


uniformizar os conhecimentos entre professor e aluno, visto que, com a democratização do acesso aos meios
tecnológicos, existe uma enorme disparidade, seja, em conhecimentos básicos ou utilização, entre educadores
e educandos.

Dessa maneira, proporciona-se a participação de professores e alunos da Rede Pública de Ensino, no


processo de Inclusão Digital, conhecendo novas tecnologias e as utilizando em tarefas diárias, com isso,
enriquecendo o conteúdo das aulas e tornando-as mais dinâmicas e atrativas.

A educação a distância (EAD) está tomando forma e se inserindo no campo educacional


como uma nova modalidade educacional, possibilitando que mais pessoas venham a
buscar formação e qualificação. Ela se apresenta como uma inovação para suprir algumas
carências na educação, relacionadas ao acesso a escolaridade, devido aos contextos
sociais em que as pessoas se encontram, tornando o ensino mais abrangente. (DE
BASTOS; ALBERTI; MAZZARDO, 2005)

A proposta tem por objetivos através de Projetos Educacionais:


 Capacitação de professores da Rede Pública de Ensino de modo que adquiram conhecimentos básicos
em informática e os utilizem com os alunos nos laboratórios como meio potencializador no processo
ensino-aprendizagem;
 Tornar os professores capazes de orientar e estimular os alunos a freqüentarem o laboratório de
informática, visando à complementação de sua formação escolar;
 Criar condições de valorização e organização de conteúdos curriculares por meio de questões,
problematizações e situações-problema;
 Desenvolver um ambiente que desperte e motive o professor-aluno a aprender através da resolução de
problemas;
 Contribuir para a melhoria da qualidade do ensino, além, de incluir os Profissionais da Educação na
Sociedade da Informação estabelecida pelo Livro Verde, instituído pelo Ministério da Ciência e
Tecnologia;
 Valorizar a comunicação através de meios tecnológicos com fins educacionais;
 Incentivar a busca incessante de materiais disponíveis e/ou artefatos tecnológicos (textos, programas,
recursos audiovisuais, etc.) no Internet Explorer que auxiliam no ambiente de aprendizagem sem
excessos ou desvios;
Nesse projeto a informática é utilizada como um meio de aprendizagem e disseminação do conhecimento, em
que os cursos presenciais e à distância vão aperfeiçoar e habilitar os professores a utilizarem a informática e
os projetos pedagógicos, disponíveis no Ambiente Educacional Tecsystem – AET, dentro dos laboratórios de
informática nas escolas.

Após a capacitação, os educadores terão habilidades de proporcionar aos seus alunos (crianças do Ensino
Fundamental) aulas mais dinâmicas e interativas, contribuindo no processo de ensino-aprendizagem
agradável e eficaz.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso agregar valor ao laboratório de informática das Escolas Públicas. É preciso dar utilidade e
validação. Portanto, deve-se investir na capacitação e treinamentodos educadores, que são os responsáveis
pelos estímulos do uso educativo dos meios tecnológicos. O ponto de partida se dá na capacitação e
treinamento dos educadores para viabilizar com consciência o acesso aos recuros tecnológicos disponíveis na
Escola Pública.

Considerando que a inclusão digital é uma necessidade inerente à cidadania, o cidadão deve levar em
consideração esse novo fator de cidadania e constituir como questão ética, oferecer essa oportunidade a
todos, isto é, o cidadão tem o direito à inclusão digital, e o dever de reconhecer que esse direito deve ser
estendido a todos.

Nos dias atuais, não há como viver alheio à utilização da informática. Os processos de informação e
informatização estão cada vez mais presentes em todas as atividades humanas, por isso a informática deve ser
utilizada cada vez mais no processo educativo, pois além de uma excelente ferramenta educacional e um
instrumento mediador da construção do conhecimento e uma tecnologia indispensável para o
desenvolvimento das atividades humanas no século 21.

4 REFERÊNCIAS
BRAMBILA, Ednéa Zandonadi. Biblioteca pública e o resgate informacional da cultura
territorializada...Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação), Campinas, 2006.

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura Tradução:
Roneide Venâncio Majer e Klauss Brandini Gerhardt. 1. vol. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

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Empresas e Responsabilidade Social, 2004.

DE BASTOS, Fábio da Purificação; ALBERT, Tais Fim; MAZZARDO, Mara Denise. Ambientes virtuais de
ensino-aprendizagem: os desafios dos novos espaços de ensinar e aprender e suas implicações no contexto
escolar. Revista Novas Tecnologias na Educação, UFRGS, v. 3, n. 1, maio de 2005. Disponível em: <
http://www.cinted.ufrgs.br/renote/maio2005/artigos/a22_ensinoaprendizagem.pdf>. Acesso em 30 de agosto
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GATTES, Bill. A hora da colheita. Veja Tecnologia, São Paulo, ano 40, edição especial, p.68-72., agosto de
2007.

LAMPERT, Ernani. As interfaces entre a internet e a educação. Revista Brasileira de Tecnologia


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LÉVY, Pierre. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 1999.

MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA; ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS. Ciência,


tecnologia e inovação: desafio para a sociedade brasileira: livro verde. Brasília, 2001. Disponível em:
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PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2003.

REDE DE INFORMAÇÃO TECNOLÓGICA LATINO AMERICANA (RITLA). Mapa das desigualdades


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SOUZA, Fabio Maia de; SANTOS, Robson. A importância da usabilidade de interfaces para a qualidade do
aprendizado mediado pelo computador. Revista Brasileira de Tecnologia Educacional, Rio de Janeiro, ano
XXXIII, n. 167/169, p. 59-70, out. 2004/jun. 2005.
A OUVIDORIA E AS CHAVES PÚBLICAS ELETRÔNICAS:
UMA REFLEXÃO PARA A LEGITIMAÇÃO DAS
INFORMAÇÕES CONTIDAS NOS DIVERSOS SISTEMAS
DE INFORMAÇÃO

Cristina Miho Takahashi Ikuta


Ouvidoria da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba
cikuta@sms.curitiba.pr.gov.br

Fábio André Chedid Silvestre


IJURIS
facsadvogado@terra.com.br;

RESUMO
Este artigo procura discutir o armazenamento de informações e o trâmite de documentos por meios eletrônicos de forma
legítima, evitando o acúmulo de papéis e otimizando sua manipulação, principalmente quando se trata de organizações
governamentais. O novo papel da Tecnologia da Informação (TI) seria o de substituir os documentos em papel por
documentos eletrônicos nas organizações. Para isso muitos conceitos inclusive o de chaves eletrônicas foram discutidos,
para que as ações propostas sejam bem definidas. Baseado na literatura e legislação vigente foram expostos alguns
conceitos e apresentado um estudo de caso da Prefeitura Municipal de Curitiba da Ouviforia da Secretaria Municipal de
Sapude e do Arquivo Público Municipal para tratamento das Informações.

PALAVRAS-CHAVE
Ouvidoria, chaves públicas eletrônicas, Tecnologia da Informação, Arquivo Público Municipal, validação,
segurança.

1. INTRODUÇÃO
A Tecnologia da Informação (TI) e a Internet estão presentes no cotidiano das pessoas, de empresas, de
organizações governamentais e não governamentais. A prestação eletrônica de serviços ao cidadão (e-
serviços) aumenta a cada dia, estimulada inclusive pela legislação, como é o caso da declaração de imposto
de renda pela Internet. A partir da inclusão crescente das TIs nas organizações, é fundamental, não só a
prestação de serviços, mas a legitimação das informações implícitas nos mesmos.
Instituições públicas inseridas num mundo globalizado devem ter um relacionamento estruturado com o
usuário, como a Ouvidoria, capaz de gerar excelência no atendimento, como um diferencial. O sucesso na
implantação depende da formação da equipe, de um sistema adequado, suporte técnico e da infra-estrutura de
comunicação.
A Lei nº 10.259, de 2001, possibilitou o emprego de meios eletrônicos no âmbito dos Juizados Especiais
Federais (BRASIL, 2001). Esta abriu precedentes para outras organizações de todos os setores públicos e
privados.
A prestação de serviços de uma Ouvidoria pressupõe o tratamento das manifestações, as quais acumulam
uma série de informações. A proposta deste artigo é a de discutir o armazenamento de informações e o
trâmite de documentos por meios eletrônicos de forma a serem reconhecidos legalmente ou dotá-los de fé
pública, principalmente quando se trata de organizações governamentais. O papel da TI seria o de substituir
os documentos em papel (meio físico) por documentos eletrônicos nas organizações. Para isso muitos
conceitos inclusive o de chaves eletrônicas devem ser explicitados, para que as ações propostas sejam bem
definidas. Baseado na literatura e legislação vigente serão expostos alguns conceitos.
2. CONCEITOS

2.1 Ouvidoria
Para Oliveira (2006, p. 1):
“Hoje, a ouvidoria brasileira é, sem dúvida, um canal de diálogo com a população; uma porta aberta
para a participação popular através do escutar da reivindicação e da reclamação; um celeiro de
recomendações para a melhoria do serviço público; um espaço na esfera de respeito ao ser humano”.
A partir da década de 80, em conseqüência da democratização do leste europeu e da redemocratização de
vários países latino americanos, foram criadas as condições necessárias para a constituição do instituto do
Ombudsman (Ouvidor) na Europa, abrindo caminho para sua implantação na América Latina (ANAC, 2007).
A função de Ouvidor, empregada na Administração Pública é correspondente à de ombudsman, utilizada
no meio empresarial privado. Seu propósito é o de perceber o sentimento de satisfação do destinatário final
de um produto ou serviço, buscar soluções para as questões por ele levantadas e oferecer informações
gerenciais e sugestões aos gestores, visando o aprimoramento do processo. A Constituição Federal, em seu
art. 37, § 3º determina que “A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública
direta e indireta, regulando especialmente: I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em
geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e as avaliações periódicas, externas e
internas, da qualidade dos serviços”. Sendo assim a Administração Pública deverá obedecer ao princípio da
eficiência, e prever a ação de órgãos de atendimento às reclamações relativas à prestação dos serviços
públicos como forma de participação do cidadão-usuário. (BRASIL, 1988; PARAÍBA, 2007). Como base
legal para a institucionalização das Ouvidorias no poder público, ocorre pela interpretação extensiva da
Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998, no “Art. 3º O caput, os incisos I, II, V, VII, X, XI, XIII,
XIV, XV, XVI, XVII e XIX e o § 3º do art. 37 da Constituição Federal passam a vigorar com a seguinte
redação, acrescendo-se ao artigo os §§ 7º a 9º: § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
administração pública direta e indireta, regulando especialmente: I - as reclamações relativas à prestação dos
serviços públicos em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação
periódica, externa e interna, da qualidade dos serviços; II - o acesso dos usuários a registros administrativos e
a informações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º...” (BRASIL, 1998):
A Constituição de 1988 estabeleceu canais de comunicação entre as instituições e os cidadãos que
facilitaram a circulação das informações, aumentaram a conscientização da população em relação ao
exercício de seus direitos junto à administração pública, ampliaram os mecanismos de controle e permitiram
a transparência indispensável ao desempenho e aperfeiçoamento do regime democrático. Dentre os canais de
comunicação encontramos a Ouvidoria que atua como agente indutor de aperfeiçoamento do serviço público.
Tem poder propositivo, e não punitivo, realizando a função de indutor de reformas estruturais e funcionando
como fator de renovação na instituição que fiscaliza (ANAC, 2007).
O Código de Defesa do Consumidor no art. 3º deste código abrange a figura da pessoa jurídica pública.
Prevê o atendimento da necessidade do consumidor, o respeito à dignidade, à melhoria da qualidade de vida,
à transparência e harmonia das relações de consumo (BRASIL, 1990).
A figura do Ouvidor, enquanto Ombudsman surgiu no Brasil em 1986, com a instalação da Ouvidoria da
cidade de Curitiba, no estado do Paraná que instituiu o primeiro Ouvidor geral estadual em 1991 e o
Ministério da Justiça, a primeira Ouvidoria pública federal, em 1992, sob a denominação de Ouvidoria-Geral
da República. As iniciativas desse período se concentraram no âmbito do poder executivo, especialmente,
com grande êxito na esfera de governo municipal (ANAC, 2007).
O Decreto n. 3.507, de 13 de junho de 2000, estabeleceu as diretrizes normativas para a fixação de
padrões de qualidade do atendimento prestado pelos órgãos e entidades da Administração Pública Federal
direta, indireta e de fundações que atendem diretamente aos cidadãos. Observou o § 2º do Art. 4º do Decreto
a obrigatoriedade da aferição do grau de satisfação dos usuários com o atendimento recebido, indicando a
necessidade da instituição de uma unidade administrativa ou metodologia para realizá-la.
Quanto ao canal de atendimento, há os tipos básicos para contato entre o cidadão/usuário e o setor
público: audiência pessoal; acesso telefônico (gratuito ou não); eletrônico (Internet ou e-mail); e/ou físico
(carta-resposta, carta, fax ou formulário).
A Ouvidoria pode integrar os sistemas de controle interno e externo da instituição, as gerências de
planejamento e os programas de qualidade e desburocratização, vinculando-se a esfera administrativa
superior (ANAC, 2007).
Para a instalação de Ouvidorias há necessidade da abordagem técnico/política e estudos especializados.
Este projeto envolve grande diversidade de variáveis, atores, interesses e tecnologias e tende a determinar o
grau de sucesso e de desempenho da atividade para todos os envolvidos (órgão/instituição e
sociedade/clientela). Vale, ainda, ressaltar a importância do investimento na capacitação da equipe e na
definição de metas próprias a serem alcançadas pela gestão de uma Ouvidoria. Para estruturar programas
específicos e estabelecer ações temáticas são fundamentais a consolidação de dados e a emissão de relatórios
destinados ao monitoramento da qualidade e à eficácia dos serviços prestados (ANAC, 2007)..
A implantação adequada de uma Ouvidoria pode minimizar custos administrativos e evitar assimetrias no
atendimento, conflitos institucionais, lentidão dos processos de trabalho de registro e diversas
desconformidades tecnológicas. Pode ser um importante instrumento para a formulação de políticas públicas
preventivas e corretivas, pode conduzir o estabelecimento de parcerias internas e garantir a credibilidade tão
essencial ao órgão público Além disso, a instalação de uma Ouvidoria representa uma mudança de cultura
institucional que em muitos casos sugere algum desconforto, principalmente, para aqueles habituados com
velhas práticas burocráticas (ANAC, 2007).
Para o estabelecimento de uma Ouvidoria capaz de responder à altura as suas atribuições, é necessária a
organização de um sistema de canais de acesso ao cidadão/usuário e ferramentas operacionais. A Ouvidoria a
fim de prestar o relevante serviço público incumbida depende do apoio direto e manifesto da direção ou
chefia maior da instituição. Sem a compreensão da importância do seu serviço para a Instituição que a abriga,
as iniciativas de sensibilização interna para a necessidade de garantir a satisfação do cidadão/usuário não
atinge a significação pretendida. (ANAC, 2007).

2.2 Documentos arquivísticos


A prestação de serviços de uma Ouvidoria pressupõe o tratamento das manifestações, as quais acumulam
uma série de informações, tanto em meio físico (papel), como em meio eletrônico quando se utilizam
sistemas para registro da manifestação. Quando se fala de armazenamento de documentos eletrônicos
remetemos a discussão deste artigo à outra instância. O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em
Telecomunicações (CPqD) apoiou o Arquivo Nacional na redação dos requisitos de segurança,
armazenamento, preservação, funções administrativas e técnicas, usabilidade, interoperabilidade,
disponibilidade, desempenho e escalabilidade.
Como resultado do trabalho da Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos do Conselho Nacional de
Arquivos no período de 2004 a 2006, pode-se referir o Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados
de Gestão Arquivística de Documentos (e-ARQ Brasil).
É fundamental explicitar algumas definições correlatas, como a de documento arquivístico e documento
arquivístico digital, estabelecidas pela Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos (CTDE), estão expostas a
seguir:
Documento arquivístico: é um documento produzido e/ou recebido por pessoa física ou jurídica, no
desempenho das suas atividades, qualquer que seja o suporte, e dotado de organicidade.
ƒ digital: é um documento arquivístico codificado em dígitos binários, produzido, tramitado e
armazenado por meio eletrônico. São exemplos de documentos arquivísticos digitais: textos,
imagens fixas, imagens em movimento, gravações sonoras, mensagens de correio
eletrônico,páginas web, bases de dados, dentre outras possibilidades de um vasto repertório de
diversidade crescente.
ƒ convencional: é um documento arquivístico produzido, tramitado e armazenado em formato não
digital.
Considerando os fundamentos da diplomática, da arquivologia, especialmente da gestão documental, e da
TI para fornecer um conjunto de requisitos que seja amplo, rigoroso e de qualidade, foi criado o e-ARQ
Brasil que é uma especificação de requisitos e condições a serem cumpridas pela organização
produtora/recebedora de documentos, pelo sistema de gestão arquivística e pelos próprios documentos a fim
de garantir a sua confiabilidade e autenticidade, assim como seu acesso. O e-ARQ Brasil pode ser usado para
orientar a identificação de documentos arquivísticos digitais (ROCHA et al, 2006).
O e-ARQ Brasil estabelece requisitos mínimos para um Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de
Documentos (SIGAD), independente da plataforma tecnológica de desenvolvimento ou implantação do
sistema. É enfatizado que não trata de processos de digitalização, isto é, de procedimentos técnicos de
conversão de um documento em qualquer suporte ou formato para o formato digital, por meio de dispositivo
apropriado, como o scanner. Os requisitos se dirigem a todos que fazem uso de sistemas informatizados
como parte do seu trabalho rotineiro de produzir, receber, armazenar e acessar documentos arquivísticos,
para conferir credibilidade à produção e à manutenção de documentos arquivísticos.
Nesse sentido, é importante estabelecer a diferença entre Sistema de Informação, Gestão Arquivística de
Documentos, Sistema de Gestão Arquivística de Documentos, Gerenciamento Eletrônico de Documentos
(GED), Sistema Informatizado de Gestão E Arquivística de Documentos (SIGAD):
Sistema de Informação: é um conjunto organizado de políticas, procedimentos, pessoas, equipamentos e
programas computacionais para produzir, processar, armazenam e prover acesso à informação proveniente de
fontes internas e externas com o intuito de apoiar o desempenho das atividades de uma organização.
Gestão Arquivística de Documentos: é o conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à
produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento dos documentos em fase corrente e intermediária, com
vistas à sua eliminação ou seu recolhimento para a guarda permanente.
Sistema de Gestão Arquivística de Documentos: é o conjunto de procedimentos e operações técnicas,
que permite a eficiência e a eficácia da gestão arquivística de documentos.
Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED): é o conjunto de tecnologias utilizadas para
organização da informação não-estruturada de uma organização, que pode ser dividido nas seguintes
funcionalidades: captura, gerenciamento, armazenamento e distribuição. O GED pode englobar tecnologias
de digitalização, automação de fluxos de trabalho (workflow), processamento de formulários, indexação,
gestão de documentos, repositórios, entre outras.
Informação não estruturada: é aquela que não está armazenada em banco de dados, tal como
mensagem de correio eletrônico, arquivo de texto, imagem ou som, planilhas, etc.
Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos (SIGAD): é um conjunto de
procedimentos e operações técnicas, característico do sistema de gestão arquivística de documentos,
processado por computador. É aplicável em sistemas híbridos, onde se utilizam documentos digitais e
documentos convencionais (ROCHA et al, 2006).
A organização deve ter a visão tecnológica e organizacional, revendo seus processos em questão, sem
automatizá-los simplesmente.

3. A OUVIDORIA E A TI
A partir da inclusão crescente das TIs nas organizações, a consideração da legalidade dos documentos
eletrônicos e coordenação dos mesmos passa a ter importância fundamental, não só na busca de novas
tecnologias como no desenvolvimento e aperfeiçoamento daquelas em utilização.
A Ouvidoria acolhe as manifestações dos usuários. Boa parte dos documentos produzidos são
documentos arquivísticos produzidos, tramitados e armazenados em meio físico (formato não digital).
Considerando a facilidade e praticidade de armazenamento e busca de documentos nos meios eletrônicos, o
novo paradigma traz para as instituições ao mundo virtual e globalizado.
O desafio é a utilização de um Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos que permit
a tramitação de documentos arquivísticos digitais de uma forma organizada e segura. Principalmente porque
a TI oferece a redução de tempo e custo na tramitação das manifestações. Sendo assim o conceito de
segurança de documentos eletrônicos ganha relevância, por prover melhores práticas no armazenamento de
informações e trâmite de documentos nas organizações.
Tendo em vista o montante de documentos gerados, e o volume de papel, o grande desafio é a
possibilidade da substituição por documentos eletrônicos, pois o documento eletrônico ocupa fisicamente
menos espaço. São evidentes as vantagens no que se refere ao armazenamento, transmissão e recuperação de
documentos eletrônicos, se comparados com o papel (OAB, 2007).

4. AS CHAVES ELETRÔNICAS
A Medida Provisória (MP) de nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, institui a Infra-Estrutura de Chaves
Públicas Brasileira (ICP-Brasil), onde transforma o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação em
autarquia e dá outras providências (BRASIL, 2002). Esta MP, conforme o artigo primeiro, visa garantir a
autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de
suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transações
eletrônicas seguras (BRASIL, 2002).
O ICP tem a função de atestar a autenticidade de documentos eletrônicos, identificando, de modo
confiável, as partes de uma transação eletrônica. Isto ocorre por meio de pares de chaves criptográficas
assimétricas, uma pública e outra privada. Este fato determina que uma chave (um código criptográfico)
codifique o documento e apenas o outro código (a outra chave criptográfica do par) pode "abrir" o
documento. Nesta MP, o Art. 6º, determina que as Autoridades Certificadoras (AC), são entidades
credenciadas a emitir certificados digitais vinculando pares de chaves criptográficas. Ao respectivo titular,
compete emitir, expedir, distribuir, revogar e gerenciar os certificados, bem como colocar à disposição dos
usuários listas de certificados revogados. No parágrafo único comenta que o par de chaves criptográficas será
gerado sempre pelo próprio titular e sua chave privada de assinatura será de seu exclusivo controle, uso e
conhecimento (BRASIL, 2002).
No Art. 7º, consta que compete às Autoridade de Registro (AR), entidades operacionalmente vinculadas a
determinada AC, compete identificar e cadastrar usuários na presença destes, encaminhar solicitações de
certificados às AC e manter registros de suas operações (BRASIL, 2002).
É possível garantir a integridade dos documentos eletrônicos, pois a maioria dos browsers do mercado
está apta a criptografar documentos, garantindo a integridade desses quando transmitidos. Soma-se a esta
garantia de autenticidade, isto é, a transmissão do documento sem violação (íntegro) e com a demonstração
recíproca, às partes. Além do mais: a própria assinatura (certificação) também concorre para atestar a
preservação da integridade do documento, que se desfaz em caso de qualquer modificação no conteúdo
documental (BRASIL, 2002).
Quanto à validade jurídica dos documentos eletrônicos, há que se considerar o art. 131 do Código Civil
remete ao Decreto nº 6.022, de 22 de janeiro de 2007 que institui o Sistema Público de Escrituração Digital
(Sped); o art. 84, inciso IV e art. 37, inciso XXII da Constituição Federal (CF); nos artigos 10 e 11 da MP nº
2.200-2; e nos artigos 219, 1.179 e 1.180 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Sendo assim, são
considerados documentos públicos ou particulares, para todos os fins legais, os documentos eletrônicos de
que trata a MP nº 2.200-2. Esta validade recai sobre quaisquer modalidades documentais reconhecidas pela
lei civil (BRASIL, 2007).
A MP nº 2.200-2, no § 2º do art. 10, comenta que não é vedada a utilização de outro meio de
comprovação da autoria e integridade de documentos em forma eletrônica, inclusive para os que utilizem
certificados não emitidos pela ICP-Brasil, desde que admitido pelas partes como válido ou aceito pela pessoa
a quem for oposto o documento (BRASIL, 2002).
A partir do exposto, a organizações podem adotar infra-estrutura para validar seus documentos. A adoção
de sistemas que conferem esta garantia de validação dos documentos eletrônicos, de forma pertinente, supõe
a mobilização da instituição, dos desenvolvedores, dos gerentes e até mesmo dos usuários. Além disso, o
reconhecimento da necessidade da validade jurídica dos documentos eletrônicos, o desenvolvimento de ações
associadas à adoção de sistemas deve contribuir para o reconhecimento organizacional. Denota-se assim a
necessidade do investimento na formação dos envolvidos para o uso correto e adequados dos sistemas, com a
adoção de sistemas seguros e de forma estratégica. Este evento não pode ser observado com uma visão
puramente tecnológica ou apenas como um realinhamento dos processos organizacionais. O lado da
responsabilidade legal de todos envolvidos no processo de trabalho deve ser exposto.

5. ESTUDO DE CASO
A antiga Central de Atendimento ao Usuário (CAU) em fase de transição para Ouvidoria da Secretaria
Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba é a instância administrativa responsável pelas manifestações de
sugestões, reclamações, denúncias, elogios e críticas dos cidadãos quanto aos serviços SUS/Curitiba.
O objetivo da Ouvidoria é estreitar a relação entre os usuários e a SMS, permitindo melhorar a qualidade
dos serviços prestados. Além de evidenciar transparência nas relações com os usuários, a Ouvidoria contribui
para o efetivo controle social das atividades desenvolvidas pelo SUS/Curitiba. Na prática, isso significa
defender os direitos e interesses do cidadão, dentro do sistema SUS/Curitiba.
O foco da Ouvidoria é em primeiro lugar o registro das manifestações oriundas dos usuários e dar o
tratamento adequado às mesmas. Em segundo lugar é contribuir através de relatórios analíticos com
informações que subsidiem melhorias gerenciais.
Com o desenvolvimento da gestão participativa e das pressões exercidas pela sociedade organizada, a
demanda da Ouvidoria da SMS/PMC gera o armazenamento das manifestações recebidas mensalmente, que é
em torno de 3000 manifestações, com uma média de três folhas, que geraria em torno de nove mil folhas de
papel sulfite mês para armazenamento. Dos atendimentos, pouco mais de 50% é de informação, registrados
no Sistema 156, com média mensal de 1.700 ocorrências, as quais estão armazenadas somente em meio
digital, que gera uma significativa economia de papel, tinta, espaço e mão-de-obra para armazenamento das
mesmas.
A Ouvidoria atende à referida Emenda 19, artigo 3º, onde as manifestações armazenadas no Sistema 156 1
Ouvidoria podem ser acompanhadas pelo cidadão/usuário mediante consulta on-line ou via telefone, e podem
servir para alimentar as estratégias de gestão. Se considerarmos a dinâmica da rede de informações e
serviços, e uma das limitações deste tipo de análise é a impossibilidade metodológica de generalização dos
dados amostrais para o universo desta rede.
Como muitas das manifestações possuem registros em meio físico (papel), os mesmos depois de
tramitados devem ser armazenados. Para melhor gerenciamento das informações de todos os Órgãos da
Prefeitura Municipal de Curitiba foi implantado o Arquivo Público Municipal, com mapeamento do acervo e
implantação do Sistema Único de Protocolo (CURITIBA, 2006).
Para tal, foram implantadas comissões responsáveis, em cada órgão da prefeitura, para avaliar, classificar,
identificar e destinar os documentos do acervo municipal. Foi desenvolvido o sistema de Gestão Documental
e do Sistema Único de Protocolo. A reestruturação do arquivo permite agilidade na consulta pelos munícipes
e agentes públicos. É uma forma de garantir a transparência em toda a administração, enquanto interesse
social (CURITIBA, 2006).
A documentação gerada nos diversos setores da PMC permanece no local de origem, durante um ano. O
próximo passo é seguir para o Arquivo Público, para o setor de guarda intermediária onde permanecerá por
um período que varia de cinco a 75 anos (CURITIBA, 2006). A Ouvidoria envia para arquivo anualmente
aproximadamente 128 mil folhas de papel referente à diversas manifestações tramitadas.
Para 2007, a Secretaria da Administração desenvolveu um projeto de gestão documental que possibilita o
acesso em tempo real pela Internet e pelo celular de todos os processos em trâmite na Prefeitura de Curitiba.
O Arquivo Público é responsável pelo gerenciamento, guarda e disponibilização de aproximadamente
dois milhões de documentos. Por isso é preciso o uso adequado da TI para rever e discutir os processo de
acordo com a orientação estratégica para obtenção de resultados positivos em curto prazo. A percepção
adequada relativa ao impacto da inclusão das TIs nos colaboradores, permite evitar o desperdício de esforços
organizacionais na implantação.

5.1 O processo na prática


A dificuldade em portar os documentos para o meio eletrônico reside na segurança comparável à que se
obtém dos documentos físicos conferido pela assinatura manuscrita. Os documentos eletrônicos, se não
tratados adequadamente, podem ser facilmente alterados, sem deixar vestígios físicos apuráveis. Por esse
motivo é imprescindível a utilização de mecanismos técnicos que possam permitir conferir a autenticidade e
a integridade de um documento eletrônico. Por autenticidade, é preciso designar a certeza quanto à pessoa
que criou o documento que, em termos jurídicos, presta a declaração nele constante. Por integridade,
corresponde à não adulteração de um documento, posteriormente à sua criação (OAB, 2007).
Um sistema de Ouvidoria deve possibilitar o armazenamento das manifestações do usuário. As
informações podem ser registradas nos diversos canais de comunicações, ou seja, pela Internet, telefone ou

1
A Central de Atendimento e Informações - 156 é o Contact Center desenvolvido e gerenciado pelo ICI (Instituto Curitiba de
Informática), com o objetivo de viabilizar um sistema de comunicação ágil e eficiente entre o cidadão e a Prefeitura de Curitiba,
permitindo o registro e atendimento da demanda de informações e solicitações da população, com segurança, confiabilidade e,
principalmente, qualidade.
presencial nos balcões de atendimento. Este sistema pode permitir ao usuário acesso a informações sobre o
andamento da manifestação, pelos mesmos canais de comunicação.
Segundo a ANAC (2007), um projeto de implantação da Ouvidoria deve considerar:
a) diagnóstico do impacto do serviço de Ouvidoria na instituição;
b) sensibilidade dos setores quanto ao relacionamento com tal serviço;
c) grau de comprometimento dos gestores com a qualidade dos serviços e produtos que fornecem;
d) consideração das alternativas de políticas mais desejáveis (menores custos administrativos, maior
eficácia, efeitos internos da sua atuação etc.);
e) regulamentação acordada com o conceitual e o operacional previamente definidos;
f) ações e etapas de implantação;
g) definição das estruturas e ferramentas operacionais necessárias à atividade;
h) definição dos conteúdos teóricos;
i) definição de equipes de trabalho envolvidas;
j) perfil dos profissionais envolvidos; etc.
Algumas características desejáveis seriam: interface amigável, cadastro de manifestação por tipo e
emissão automática de protocolo, plataforma web para facilitar o acesso, assunto, área responsável pela
resposta da manifestação, acesso organizacional a todos os envolvidos pela resposta, encaminhamento
automático da manifestação aos envolvidos, acompanhamento do andamento, alerta para prazos a expirar,
possibilidade de encerramento da manifestação quando a mesma for improcedente com a manutenção do
registro, possibilidade de inserção de pesquisa de satisfação do usuário depois de finalizada a manifestação,
relatórios diversos para acompanhamento gerencial da instituição. Enfim, na engenharia de softwares, a
descrição dos requisitos necessários a um sistema deve ser feito através da descrição dos dados, relações e
funções do sistema na busca do entendimento completo do processo para a posterior informatização.
Nem sempre os processo são apropriados pelos usuários envolvidos, com resistência por parte de alguns
usuários do sistema. O reconhecimento do processo como um todo faz com que o colaborador perceba a
importância de sua função nos diversos processos de trabalho. Incentivar o colaborador a se sentir
responsável, junto com desenvolvedores do projeto, pelo sucesso da implantação, é uma boa forma de
disseminar a idéia de responsabilidade na organização. Os desenvolvedores devem se aproximar dos usuários
(colaboradores da organização) do novo sistema em questão, no sentido de repartir com eles sucessos e
fracassos que ocorrerão durante o desenvolvimento, criando assim uma responsabilidade comum. Parece ser
uma tarefa óbvia, quando se faz uso da TI para auxiliar os processos de uma organização. No entanto,
geralmente, não fica claro o quanto esse desenvolvimento auxiliará o colaborador no desempenho de suas
funções na organização.

5.2 A certificação digital na prática


Segundo Silvestre (2003), os mecanismos destinados à certificação digital é importante em qualquer
estrutura de serviços de atendimento direto das demandas publicas operada através do ciberespaço, sem
perder de vista os impactos semióticos ocorrentes quando da sobreposição e aplicação de soluções virtuais às
demandas do mundo físico (SILVESTRE, 2003).
O mesmo autor faz críticas ao modelo de implementação da ICP-Brasil, considera que o Executivo não
pode se valer das Medidas Provisórias (MP) para implantar de forma impositiva, sem sustentação de qualquer
urgência relevante em suas causas, já que adotáveis mediante projeto de lei em caráter de urgência. O Estado
reagiu com a Emenda Constitucional nº 32, com referência à vigência das MPs. Realiza ainda crítica à
certificação digital, que ficou ao encargo do Ministério da Ciência e da Tecnologia, mesmo que não se trate
exclusivamente de tecnologia, mas, sobretudo, de direito constitucional (semiótica jurídica).
Silvestre (2003) afirma ainda que é de todo absurdo implantar um modelo de “fé pública”, com seu
corolário de confiança e segurança, base funcional da propriedade e liberdade contemporâneas, através de
mecanismos voláteis, efêmeros, questionáveis pelo Legislativo e Judiciários, infectado pela virulência da
inconstitucionalidade, pois o que é provisório é passageiro e não pode ser tido em caráter definitivo.

6. CONCLUSÃO
Para a legitimação das Ouvidorias, o ideal é ter uma visão de futuro utilizando as tecnologias adequadas à
organização, discutindo os processos de trabalho e reestruturando setores para a obtenção de um melhor
resultado, incentivando os colaboradores a explorar e redesenhar os processos, na busca de melhorias
contínuas.
A transformação é inerente à qualidade de competência. Discussões, reavaliações e mudanças, são ações
que agregam valor à organização, fundamental para que a cultura da transformação seja disseminada e
permeada a toda a organização.
Na era digital, é premente a introdução da cultura do gerenciamento adequado das informações nos meios
eletrônicos, preparando os colaboradores, não só para utilizar os sistemas, mas para discutir as
responsabilidades sobre as informações geradas na organização e sua classificação de acordo com a
arquivologia.
A utilização da criptografia e mecanismos de classificação e arquivamento de informações eletrônicas
otimiza a segurança e também a busca para utilização das informações.
A negociação de novas mudanças, novas tecnologias, inovações e condições de trabalho deve ser
permanente.
Não há como pensar em uso de TI, informatização de processos ou de setores se os usuários que se
apoiarão nessa tecnologia não estiverem suficientemente preparados para tal.
A visão refere-se a todos os envolvidos com a organização e a tecnologia. O desenvolvimento de soluções
tecnológicas não pode se restringir aos processos organizacionais e à tecnologia empregada. Deve-se levar
em conta os colaboradores que se utilizarão deste avanço tecnológico. Os idealizadores dos sistemas devem
ser os geradores de mudança de pensamento na organização. Delegar e assumir as responsabilidades, tomar
iniciativa, enfrentar situações, mobilizar recursos humanos, estar preparado para transformações, comunicar-
se e negociar devem ser compartilhadas.
Porém não será fácil uma mudança, pois representa quebra da estabilidade dos padrões de esquemas
cognitivos adquiridos ao longo do tempo.
A melhor visão é a de que a partir da implantação de sistemas e mudança de processos, deve-se
proporcionar a orientação para disseminação da nova cultura organizacional, trazendo os colaboradores de
uma organização para a mesa das discussões estratégicas. Assim a melhoria do desempenho permite a
manipulação e efetivo reconhecimento das informações armazenadas na organização.
Indique claramente vantagens, limitações e possíveis aplicações.

AGRADECIMENTO
Agradecimentos aos colegas da Ouvidoria que estimularam a produção deste trabalho.

REFERÊNCIAS
ANAC, 2007. A Ouvidoria: participação cidadã na gestão pública. Nota técnica. Disponível em:
<http://www.anac.gov.br/arquivos/pdf/notaTecnica01.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2007.
BRASIL. Casa Civil. 1988. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 12 set. 2007
BRASIL, Ministério da Justiça. 1990. Código de Defesa do Consumidor. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.
Disponível em: < www.mj.gov.br/DPDC/servicos/legislacao/cdc.htm - 81k>. Acesso em: 12 set. 2007.
BRASIL. Casa Civil. 2001. Emenda Constitucional nº19, de 04 de junho de 1998. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm>. Acesso em: 12 set. 2007.
BRASIL. Casa Civil. 2001. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso em: 12 set. 2007.
BRASIL. Casa Civil. 2002. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em 12 set. 2007.
BRASIL. Receita Federal. 2007. Decreto nº 6.022, de 22 de janeiro de 2007. Disponível em:
<http://www.dji.com.br/decretos/2007-006022/2007-006022.htm>. Acesso em: 12 set. 2007.
CURITIBA. Central de informações e notícias da Prefeitura de Curitiba. 2006. Modernização do Arquivo Público reduz
tempo e custo dos serviços. Agência de Notícias. Publicado em 21 jun. 2006. Disponível em:
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OLIVEIRA, João Elias. 2006. Ouvidoria pública brasileira : a evolução de um modelo único. Disponível em:
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PARAÍBA. Controladoria Geral do Estado. 2007. Ouvidoria: o que é. Fala Cidadão. Disponível
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ROCHA, Claudia Lacombe et al.Câmara Técnica de Documentos Eletrônicos.2006. Modelo de Requisitos para Sistemas
Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos e-ARQ Brasil. Disponível em:
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SILVESTRE, Fábio André Chedid. 2003 A ilegitimidade constitucional crítica da infra-estrutura de chaves públicas
brasileira: uma semiótica do poder. Dissertação submetida à Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos
requisitos para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Produção e Sistemas. Disponível em:
<http://www.conarq.arquivo http://teses.eps.ufsc.br/defesa/pdf/8110.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2007.
A QUALIFICAÇÃO DA GESTÃO PARTICIPATIVA DO
TRANSPORTE E TRÂNSITO EM BELO HORIZONTE A
PARTIR DO ACESSO À INFORMAÇÃO

Cláudio Moreira dos Santos


Mestrando em Ciência da Informação na UFMG
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S.A- BHTRANS
cmsantos@pbh.gov.br

Míriam Gontijo de Moraes


Doutora em Ciência da Informação pela UFMG
Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S.A- BHTRANS
mgontijo@pbh.gov.br

Resumo
As experiências das gestões públicas comprometidas com o avanço da democratização da sociedade brasileira têm
demonstrado a possibilidade de se efetivarem novas relações entre Estado e sociedade, qualificando a democracia
representativa, estabelecendo formas de envolvimento direto da população na formulação e na definição das políticas
públicas. Este artigo faz a retrospectiva histórica das inter-relações entre o público e o privado na sociedade
contemporânea destacando uma das facetas dos programas de orçamento participativo que são as comissões populares
deliberativas, especificamente as Comissões de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte. Em seguida foca a
participação de comissões regionais de transporte e trânsito na implantação de telecentros em duas estações de ônibus de
Belo Horizonte (Barreiro e Venda Nova) com o objetivo de fortalecer a participação popular na gestão pública e
identificar os reflexos da condição de infoexclusão da gestão do transporte e trânsito. Na oportunidade foi traçado o
perfil informacional dos membros das duas comissões quanto à necessidade de informação para ampliar a participação.
A iniciativa terá repercussão inclusive no que tange à mobilidade urbana, entendida como uma função pública destinada a
garantir a acessibilidade para todas as pessoas aos serviços, bens e oportunidades no âmbito das cidades.

Palavras-Chaves:

democratização-gestão pública- infoinclusão -informação- percepção-qualidade.

1. Introdução
No período denominado “o milagre brasileiro”, compreendido entre os anos de 1968 e 1974, a economia
brasileira sofreria uma notável expansão, refletida no crescimento acelerado do Produto Interno Bruto (PIB).
Apesar do crescimento econômico, a transformação do País em uma sociedade urbano-industrial complexa
evidenciou as diferenças entre camadas da população, com o aumento da parcela daqueles em condição de
pobreza. Segundo Gouvêa (2005), entre 1973 e 74, foram criadas pelo governo federal as nove primeiras
Regiões Metropolitanas brasileiras, como decorrência do fenômeno da metropolização brasileiro, que se
caracterizou inicialmente por um intenso ritmo de crescimento urbano verificado em torno das principais
capitais estaduais, cuja problemática se traduz, em síntese, na desigualdade verificada entre os Municípios
que compõem as RMs e na inexistência de arranjos institucionais estáveis para a gestão de políticas públicas
plurimunicipais. As décadas de 70 e 80 foram marcadas pela organização da sociedade civil que, por meio de
movimentos sociais de diferentes naturezas, lutava para ser reconhecida, nas suas mais diversas facetas,
como atores legítimos para as negociações de demandas da população. Melhor qualidade de vida, moradia,
alimentação, infra-estrutura e prestação de serviços públicos eram os principais elementos que compunham
as pautas de reivindicações de tais grupos. 1
A Constituição de 1988 trouxe significativos avanços, em termos de descentralização política,
administrativa e financeira, e transferiu da União para os Estados a responsabilidade de criação das Regiões
Metropolitanas. Mesmo assim, conforme Gouvêa (2005), apesar do grau de autonomia política, a profunda
desigualdade física, econômica e social verificada entre os Municípios que compõem a maioria das RMs e a
inexistência de arranjos institucionais estáveis para dar suporte ao equacionamento de questões cuja
complexidade, magnitude e abrangência, não se limitam ao âmbito de uma municipalidade específica, por
mais importante que seja, pode-se afirmar que as RMs tornaram-se os mais significativos loci de exclusão
social, segregação espacial e de miséria.
Os movimentos sociais, na medida em que foram sendo reconhecidos pelos governos, colaboraram para a
criação de uma maneira diferente de se atuar na esfera política, desassociada das estruturas corporativas do
Estado. Ainda que articuladas as ações dos grupos sociais com sindicatos de classes trabalhadoras e partidos
políticos (DOIMO, 1995), estas se davam com independência dos propósitos de uns e outros. E adquirem,
gradativamente, importância, à medida que passam a fazer intermediação entre povo e governo, interferindo
nos processos de gestão das políticas públicas, de âmbito municipal. Uma rede formada por movimentos
coletivos, organizações não governamentais – ongs, e, igreja, estabelece relação com o governo e as
lideranças políticas brasileiras. Há então uma nova parceria para a elaboração das políticas públicas, Não
mais só o governo é então quem define os meios pelos quais serão solucionados os problemas urbanos.
Especificamente sobre as questões de política urbana, alguns municípios apresentam experiências em que
foi consolidada a participação popular no processo de gestão. Ficou estabelecido que as leis orgânicas\teriam
como preceito a cooperação das associações representativas no planejamento municipal. A Constituição
estabeleceu, sobre a participação popular diretamente ligada à política municipal, a consulta por meio de
plebiscito, quando da fusão, incorporação ou desmembramento de municípios; a iniciativa popular em
projetos de lei de interesse específico do município, da cidade ou de bairros, mediante manifestação de pelo
menos 5% do eleitorado; a colocação das contas dos municípios à disposição de qualquer contribuinte
durante 60 dias para exame, apreciação e, ainda, questionamento.
Naquele período, foi relevante a participação dos movimentos sociais na Assembléia Nacional
Constituinte, encabeçada pelo Movimento Nacional de Reforma Urbana – MNRU, que desenvolveu o lobby
dos movimentos sociais na Constituinte Federal para que fossem incluídas na Carta Magna a questão da
política urbana e a participação social na gestão municipal. Em sua emenda à Constituição, denominada
“Emenda Popular de Reforma Urbana”, o MNRU determinou o tratamento da gestão das cidades sob o viés
do cumprimento da função social (SILVA, 2002). Após 1988, originado do MNRU, é criado então o Fórum
Nacional de Reforma Urbana, cujo objetivo era o de fazer uma intermediação legislativa que se tornou
conhecida por “Estatuto da Cidade”.
Assim, são disseminadas as experiências de orçamento participativo, mutirões habitacionais, fóruns de
cidade e conselhos municipais. Aumenta-se a capacidade de atuação da população na política, quer seja pela
participação no processo da consolidação das políticas públicas municipais, quer seja no controle social que
dessa prática advêm. Como desdobramento das novas práticas políticas, é ampliada a ação popular, por meio
da participação nos conselhos municipais responsáveis pelas questões relativas às políticas sociais. Possuem
tais conselhos, assim, estruturas híbridas, compostas por membros do Estado e da sociedade, na constituição
da esfera pública, criando uma nova institucionalidade no país, capaz de quebrar o monopólio de atores
tradicionais como: o partido, os poderes Executivo e Legislativo, o sindicato, os grupos de pressão etc.
(TEIXEIRA, 2000).

1
Vale mencionar aqui, ao tratar-se da organização da sociedade civil , das imbricações dos temas memória e identidade social: “O
suporte fundamental da identidade é a memória.” (Menezes, 1984: 33) “A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar
identidade, individual ou coletiva.” (Lê Goff 1996: 476) A construção da memória social é, portanto, decisiva para a formação de
identidades coletivas e a construção e desconstrução de identidades coletivas é parte integrante do processo político. Movimentos
sociais, políticos e culturais, consciente ou inconscientemente, operam ações que resultam na construção de identidades coletivas. a
memória dá o sentido de trajetória a identidade cultural, informando ao proprietário daquela identidade o seu lugar num sistema social
que o engloba. A memória dá o sentido de história à identidade social.
Nos anos 90, os projetos de participação e controle social se tornam prioridade para os governantes das
grandes cidades brasileiras. Com isso, proliferam as experiências de descentralização das políticas sociais e
também o estabelecimento dos conselhos municipais.Uma experiência que se destacou dentre as demais foi a
do orçamento participativo – OP, que consiste, em linhas gerais, na deliberação - em assembléias regionais
da cidade - de recursos que o governo municipal destina para as obras urbanas. Nas assembléias do
orçamento participativo, delegados eleitos nas diferentes regiões da cidade, encaminham demandas que são
votadas e decididas como prioridade de investimento de recursos.
O valor maior da prática do orçamento participativo está no ganho político que ele proporciona, isto é, na
possibilidade de que sejam incluídas no processo de decisão política municipal pessoas que até então dele
eram impedidas de participar. As assembléias regionais de eleição das prioridades introduzem uma forma
democrática e pública de negociação entre o poder público e a população, substituindo as formas tradicionais
de distribuição de recursos e favores.
Nessa perspectiva, a democratização deve expressar a desprivatização do Estado e a construção das
condições para a sociedade civil participar efetivamente na elaboração de políticas que atendam interesses
públicos. Implica na criação de espaços de debate e negociação não monopolizados ou controlados pelo
Estado, representando canais de expressão política dos diferentes interesses presentes na sociedade.
O espaço público é um fenômeno social elementar, entretanto ele não é arrolado entre os conceitos
tradicionais elaborados para descrever a ordem social. Nos fundamentamos no conceito de esfera pública de
Habermas (1997) “ que constitui principalmente uma estrutura comunicacional do agir orientado pelo
entendimento, a qual tem a ver com o espaço social gerado no agir comunicativo, não com as funções nem
com os conteúdos da comunicação cotidiana”. Assim como Habermas, Arendt (1959) assinala os
procedimentos dialogais, como a ação compartilhada e a convivência de uma pluralidade de interesses, como
traços fundamentais do espaço público. O espaço público seria o local onde as pessoas - através de
procedimentos discursivos, da convivência com a pluralidade humana, dos argumentos - podem compartilhar
a construção de um mundo comum legitimado pelo reconhecimento público e intersubjetivo dos outros. O
reconhecimento público da diferença e sua legitimidade aparecem como procedimentos que delineiam a
emergência de um espaço público de debate e deliberação, cenário no qual os conflitos de interesses são
administrados com bases em normas pactuadas e públicas, e não confinados ao terreno do privado ou
submetidos aos interesses dos mais fortes.
Arendt (1959) enfatiza o reconhecimento de sujeitos, de falas, de argumentos e de interesses diferentes,
sua pertinência e relevância para a construção de um mundo comum, são partes significativas da sua
contribuição para a construção de um conceito atual de espaço público. Tal conceito se coloca como
categoria analítica importante para contribuir na formulação de políticas públicas urbanas em um contexto de
descentralização e desigualdades, em se tratando das realidades municipais brasileiras e da urgência em se
construir uma gestão metropolitana.
O conceito de esfera pública nos remete aos reflexos do acesso ágil à informação de qualidade para o
fortalecimento da participação dos usuários e cidadãos constatados a partir da introdução de novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na administração pública, notadamente a Internet, que
tem se caracterizado como ferramenta de ampliação do espaço público, de participação do cidadão bem
como de reforma e democratização da gestão urbana.
No entanto, este acesso se apresenta como um problema para sociedades e governos, em se tratando de
possibilitar o acesso (individual ou comunitário) às TICs e à informação a um custo viável e em igualdade de
oportunidades, no contexto em que a informação reduz incerteza em ambientes de alta complexidade. A
mínima noção do termo exclusão digital, segundo Silveira (2003), passa pela situação de exclusão do acesso
ao computador e aos conhecimentos básicos de uso. A noção ampliada relaciona a exclusão ao acesso à
Internet.
O conceito de Infoexclusão (MORAES, 2005) traduz a condição definida acima, acrescida da
incapacitação para a cidadania, em um contexto da chamada Sociedade da Informação, cujo direito à
informação, notadamente à informação pública, é uma prerrogativa cidadã. Aspectos como o tempo
disponível e a qualidade do acesso afetam o grau de infoexclusão como também o fato das TICs obrigarem a
uma atualização constante de hardware e dos sistemas de acesso, exigindo um investimento regular por parte
do usuário (SORJ e GUEDES, 2OO4).
Espaços de co-gestão podem ser exemplos de espaços públicos se forem amplos e heterogêneos, onde o
Estado deve entrar como mais um ator, como parte interessada num jogo pluripartite em que a legitimação de
atores e de interesses se estabelece pela própria dinâmica conflitiva, reguladas por normas pactuadas pelas
partes em conflito. Mas como manter um jogo pluripartite, em uma situação em que o exercício da
argumentação, da explicitação dos conflitos, da fundamentação das demandas em critérios de racionalidade
pública, se vê comprometido pela brecha digital característica da contemporaneidade? E como ainda pensar,
segundo Rolnik e Somekh (2000), em uma governança urbana, entendida como um processo de gestão que
supera o âmbito restrito ao poder público e que envolve os diversos atores de forma compartilhada.
Ações identificadas no âmbito do Governo Eletrônico têm sido apresentadas como propostas para se
reduzir o problema. Em Belo Horizonte, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte,
BHTRANS, é responsável pelo gerenciamento do sistema de transportes e do trânsito da quarta capital do
Brasil,e ao longo dos anos construiu uma cultura de compromisso com a cidade, estimulando a participação
dos cidadãos usuários nas decisões da empresa, por meio das Comissões Regionais de Transportes e Trânsito.
No âmbito da BHTRANS, as ações de governo eletrônico tiveram início a partir da implantação de um
website da BHTRANS (www.bhtrans.pbh.gov.br) com informações e serviços para auxiliar no atendimento à
demanda que se concentra na Gerência de Atendimento ao Usuário e dar mais transparência às ações do
órgão público. Numa segunda etapa, após pesquisa e discussão junto às Comissões Regionais de Transporte e
Trânsito, com o apoio da Assessoria de Mobilização Social (AMOS), foi constituído grupo de trabalho para
estruturar a implantação piloto de Telecentros de acesso à Internet em duas das principais estações de
integração do sistema de transporte coletivo por ônibus: Venda Nova, onde circulam diariamente 46,3 mil
usuários, que correspondem a 25% do total de usuários estimados na região e Barreiro cuja circulação é
estimada em 100 mil pessoas por dia.
A iniciativa veio ao encontro do Programa de Consolidação da Gestão da BHTRANS, previsto no Plano
de Metas da empresa para 2001 a 2004 e operacionalizado por meio do projeto de Fortalecimento da
Participação da Sociedade no Controle dos Transportes. De acordo com o Planejamento Estratégico da
empresa para o período de 2005-2008, o Fortalecimento dos Canais de Participação Popular é um dos
projetos que compõem a estratégia de Construção da Mobilidade Sustentável no município de Belo
Horizonte, e tem como objetivo, entre outros, propor novos canais para ampliar a discussão do tema na
cidade; socializar informações, democratizar e dar mais transparência à gestão. (BHTRANS, 2005).
Como forma de avançar na questão do acesso à informação para qualificar, ainda mais, a participação
popular na gestão do transporte e trânsito de Belo Horizonte, foram construídas categorias para medir o grau
de percepção que os membros das comissões regionais de transportes e trânsito têm do trabalho da comissão
a qual pertencem e das outras comissões existentes; dos canais de participação na cidade, das ações da
administração pública municipal, notadamente no âmbito do gerenciamento dos transportes e do trânsito.
A seguir, iremos descrever a estratégia metodológica desenvolvida para aferir o grau de percepção dos
usuários e as principais revelações da aplicação da mesma, principalmente, tendo em vista a necessidade de
construção de uma gestão que leve em conta um pacto de mobilidade e a perspectiva de gestão supra
municipal, como será melhor explicitada nas considerações finais deste artigo.

2. Estratégia Metodológica

Para os fins objetivados, conforme Moraes (2005),estipulou-se como universo investigado duas das nove
comissões regionais formadas no âmbito das administrações regionais de Belo Horizonte, compostas, até
2005, por 25 membros titulares, representantes da população das micro-regiões locais. O processo de
investigação se deu por grupos focais representativos dessas comissões. Para alcançar o parâmetro de
homogeneidade social, a autora utilizou a noção de Tipo Regional, sugerida em Machado (2003), que
identifica cinco tipos, tendo como referência o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) da Prefeitura de Belo
Horizonte, construído a partir da avaliação das populações conforme as dimensões ambiental, cultural,
econômica, jurídica e de segurança de sobrevivência. A partir dos Tipos Regionais, Machado (2003)
classifica 77 das 81 Unidades de Planejamento (Ups), distribuídas da seguinte maneira:
Quadro 1. características das Ups conforme o Tipo Regional

Características das Unidades de Planejamento (Ups)


Tipo Regional
Tipo Regional I (elevada vulnerabilidade) 17 Ups distribuídas em todas as regionais, com predominância nas
regionais Centro-Sul, Oeste e Noroeste.

Tipo Regional II (alta vulnerabilidade) 21 Ups nas regionais de Venda Nova (6), Norte (4), Barreiro (4),
Pampulha (3), Nordeste (2), Noroeste (1) e Oeste (1).

Tipo Regional III (média vulnerabilidade) 15 Ups nas regionais Noroeste (4), Leste (3), Oeste (3), Pampulha
(2), Nordeste (1), Barreiro (1), Venda Nova (1).

Tipo Regional IV (vulnerabilidade relativamente 12 Ups próximas à região central, parte da Pampulha e a UP
baixa) Planalto na Região Norte.

Tipo Regional V(baixa vulnerabilidade) 12 UPs das quais 11 estão na regional Centro-sul
Fonte: MACHADO, Carlos Wagner Costa.

Segundo Moraes (2005), os Tipos Regionais orientaram a formação dos grupos focais a partir do grau de
vulnerabilidade social para efeito da pesquisa junto aos usuários do transporte coletivo nas regionais
escolhidas. A análise da população pobre de Belo Horizonte, a partir do Mapa das Áreas Prioritárias para
Inclusão Urbana e Social, aponta, conforme Moscovich (2003), que 79% do contingente populacional do
grupo dos pobres estão concentrados nas regionais Venda Nova (15,8%), Barreiro (15,6%).
A avaliação da condição de infoexcluído do gerenciamento do transporte e trânsito não se restringiu à
vulnerabilidade social, apesar da sua importância para categorizar as populações infoexcluídas, isto porque,
segundo Sorj e Guedes (2004), a exclusão digital não se limita ao universo daqueles que não têm acesso a
computador e Internet. Aspectos como a capacidade de leitura e de interpretação da informação por parte do
usuário da Internet e de sua rede social devem também ser avaliados. A condição de infoexclusão está ainda
relacionada ao que Ferreira e Dudziak (2004) identificam como exclusão informacional e social e a condição
de exclusão informacional está relacionada às dificuldades no processo de busca de informação para construir
conhecimento a partir de relações entre vários tipos de informações disponíveis. Já a exclusão social tem
como condicionante às barreiras para ter acesso às informações o desenvolvimento de um pensamento
crítico, autônomo, de cidadãos capazes de transformação social.
Levando em consideração os parâmetros para caracterização das populações infoexcluídas fornecidos
pela literatura, a avaliação da condição de infoexclusão do grupo se baseou na análise das seguintes
dimensões:
Quadro 2. dimensões para categorizar a infoexclusão

Dimensões de Cidadania
(acesso) * Variáveis
Acesso residencial à água encanada
Infra-estrutural Acesso residencial à rede de esgoto
Acesso residencial à energia elétrica
Acesso residencial à rede telefônica
Acesso residencial à rua asfaltada
Acesso residencial a telefone fixo
Acesso a telefone celular
Acesso residencial à televisão
Acesso residencial a TV a cabo
Acesso residencial a computador com Internet
Acesso ao transporte Coletivo
Equipamento social Acesso à escola próximo à residência
Acesso a hospital/posto de saúde próximo à residência

Acesso à educação /grau de escolaridade


Cultural e Informacional Acesso a Biblioteca próxima à residência
Acesso a Banca de Jornal e Revistas
Acesso a microcomputadores em rede
No trabalho
Econômica Acesso ao emprego/aposentadoria
Nível de Renda
Fonte: Elaborado pela autora com base em SORJ e GUEDES (2004) e FERREIRA e DUDZIAK (2004).
* possibilidade de consumo além das necessidades básicas.
Conforme Moraes (2005), as pesquisas relacionadas ao Trabalho Cooperativo Suportado por Computador
(CSCW) 2 contribuíram com os conceitos de cooperação e de percepção (awareness). O primeiro está
relacionado ao trabalhar ou agir em conjunto para um objetivo comum, e o segundo, grosso modo, diz
respeito ao conhecimento dos indivíduos sobre o grupo ao qual pertencem e sobre as atividades
desenvolvidas conjuntamente. Conforme nossa avaliação, ambos são muito úteis ao estudo de uso e usuários
da Internet em comunidades ou grupos, ou mesmo para abordar a questão da participação.
Abordagens no campo do CSCW apontam diversos problemas que se apresentam para atingir a
cooperação, sendo que um deles consiste na falta de contexto comum entre os participantes. Ocorre quando
os membros de um grupo de trabalho desconhecem o que seus colegas estão fazendo, ou não sabem situar as
próprias atividades no trabalho como um todo, nem qual é a posição atual desse trabalho, conforme Borges;
Pinheiro e Lima (2003). O problema da falta de contextualização entre os participantes, ou seja, quando há
barreiras para o conhecimento coletivo da ação como um todo é a questão estudada a partir do conceito de
percepção (awareness). Tal problema pode gerar redundâncias nas tarefas (vários membros realizando as
mesmas tarefas, sem conhecimento dos demais), inconsistências (um membro referenciando uma atividade
que não será mais realizada) e contradições (membros depositando contribuições opostas ou contraditórias,
sem noção das demais contribuições). A percepção, ou a consciência de (awareness), é peça chave para
qualquer forma de cooperação, uma vez que perceber, reconhecer e compreender as atividades dos outros são
requisitos básicos para a interação humana e a comunicação em geral. Vários mecanismos de suporte à
percepção vêm sendo propostos no campo do trabalho mediado pelas TICs. Estes transformam interações
irregulares em interações consistentes e perceptíveis, permitindo aos membros do grupo manterem-se
atualizados sobre eventos importantes, contribuindo para que suas atividades sejam realizadas de modo
eficaz (ARAÚJO; DIAS e BORGES, 1997).
A análise destes mecanismos aponta para as características usadas na classificação desses suportes, e que
se referem a seis questões: o que, quando, onde, como, quem e quanto. Cada uma dessas questões identifica
aspectos vitais para o fornecimento de percepção dentro de um groupware 3 . O quadro abaixo sintetiza cada
uma dessas características e a sua forma de operacionalização:
Quadro 3. características de suporte à percepção

Características Referência Ambiente Assíncrono Ambiente Síncrono


O QUÊ Atividades Visão global Visão detalhada
Papéis Diferenciação das informações de acordo com o papel
desempenhado
QUANDO Evento gerador Passado, passado contínuo e Presente e futuro
futuro.
Persistência Alta Baixa
Apresentação Imediata Posterior
ONDE Origem Compartilhamento de Espaço on-line compartilhado e
objetos via histórico e ferramentas como chats, talks,
ferramentas de conferências.
comunicação como e-mail
Destino

COMO Filtragem Balanceado e conforme o membro e a atividade realizada


Agrupamento
QUEM Presença Não obrigatório, mas Obrigatório com ferramentas
possibilitado por síncronas
ferramentas de
comunicação assíncronas.

2 Muitos dos sistemas apoiados por computadores permitiam apenas a interação entre um usuário e o sistema.O desenvolvimento de tecnologias destinadas ao espaço ocupacional , na década de 80, resultou na
Automação de Escritório, cuja preocupação inicial da pesquisa era a utilização de sistemas corporativos e de computação pessoal,a partir de 94 a pesquisa focou a investigação sobre como as pessoas trabalham em
grupo nas organizações e como a tecnologia os afeta. Pesquisas multidisciplinares passam a ser planejadas e a esse campo denominaram de Computer Supported Cooperative Work
(CSCW), de apoio
comunicacional ao trabalho.
3"
Sistema baseado em computadores que apóia grupos de trabalho envolvidos em uma atividade ou objetivo comum que provê uma interface para ambiente compartilhado" (ELLIS et alli., 1991,p. 40
.
QUANTO Insuficiência Varia conforme o ambiente, o tipo de atividade realizada, o
Sobrecarga papel e os interesses de cada membro.
Fonte: Elaborado pela autora com base em BORGES; PINHEIRO e LIMA, 2003.

Ao transpormos o problema da falta de contextualização para o caso das atividades relacionadas às


Comissões Regionais de Transportes e Trânsito, consideramos que ele poderia ser sintetizado pela barreira na
percepção entre os membros da própria comissão sobre o trabalho que estão desenvolvendo, ou de outras
comissões, na ação do coletivo. A percepção envolve a consciência dos participantes em saber quem é do
grupo, quais seus objetivos e suas atividades, o que aconteceu, o que vem acontecendo, e o que se está
passando. Para medir esse grau de percepção, lançamos mão das características importantes para o suporte à
percepção, apontadas por Borges; Pinheiro e Lima (2003) e a sua adaptação aos objetivos dessa pesquisa
resultaram no quadro a seguir:
Quadro 4. categorias para avaliar a percepção informacional

Categorias Variáveis
Informações sobre quem são os atores do gerenciamento
Quem dos transportes e trânsito de BH

Os papéis desempenhados pelos atores do


gerenciamento dos transportes e trânsito de Belo
Horizonte
Nível de responsabilidade de cada ator

Nível de conhecimento das informações que explicitam


O que as atividades globais no gerenciamento dos transportes e
trânsito de Belo Horizonte
Identificação dos problemas informacionais
Identificação dos eventos geradores das informações
Quando sobre o gerenciamento dos transportes e trânsito de Belo
Horizonte
Eventos geradores de informações no passado, presente
e futuro.
Origem das informações sobre o gerenciamento dos
Onde transportes e trânsito de Belo Horizonte.
Níveis de hierarquia na gestão do transporte e trânsito
de Belo Horizonte
Identificação dos canais de comunicação com os atores
Como do gerenciamento dos transportes e trânsito de Belo
Horizonte
Identificação das formas de disponibilizar as
informações geradas nas atividades do gerenciamento
dos transportes e trânsito de Belo Horizonte.
Identificação dos canais de participação popular
Fonte: Elaborado pela autora com base em BORGES; PINHEIRO e LIMA, 2003.

Para avaliar o grau de percepção informacional, foram relacionados às categorias definidas


no quadro acima, critérios arbitrados para fins de mensuração conforme sintetizamos no quadro,
a seguir:
Quadro 5. avaliação da percepção informacional dos membros dos grupos focais quanto à gestão dos
transportes e trânsito

Questão que
Categorias da percepção operacionaliza as Avaliação da percepção Classificação
Variáveis
Setores identificados; Conforme o número de Excelente (todas e acrescentou)
Quem papéis desempenhados opções identificadas Ótima (todas)
e nível de Boa (mais da metade)
responsabilidade de Regular (metade)
cada ator na estrutura Ruim (menos da metade)
municipal. Péssima (nenhuma)
Nível de conhecimento Conforme o número de Excelente (todas e acrescentou)
O quê das as atividades opções identificadas Ótima (todas)
globais Boa (mais da metade)
Regular (metade)
Ruim (menos da metade)
Péssima (nenhuma)
Identificação dos Comparação com as outras Acima da média (excelente
problemas respostas ótima).
informacionais Na média (boa e regular)
Abaixo da média (ruim e
péssima)
Identificação dos Conforme o número de Excelente (todas e acrescentou)
Quando eventos geradores das opções identificadas Ótima (todas)
informações Boa (mais da metade)
Regular (metade)
Ruim (menos da metade)
Péssima (nenhuma)
Eventos geradores de Comparação com as outras Acima da média (excelente
informações no passado, respostas ótima).
presente e futuro. Na média (boa e regular)
Abaixo da média (ruim e
péssima).
Origem das Comparação com as outras Acima da média (excelente
Onde informações e Níveis respostas ótima).
de hierarquia Na média (boa e regular)
Abaixo da média (ruim e
péssima).
Identificação dos Conforme o número de Excelente (todas e acrescentou)
Como canais de comunicação opções identificadas Ótima (todas)
com os atores Boa (mais da metade)
Regular (metade)
Ruim (menos da metade)
Péssima (nenhuma)
Identificação das Comparação com as outras Acima da média (excelente
formas de respostas ótima).
disponibilizar as Na média (boa e regular)
informações geradas Abaixo da média (ruim e
nas atividades e dos péssima)
canais de participação
popular
Fonte: Elaborado pela autora com base em BORGES; PINHEIRO e LIMA, 2003.

3. Algumas conclusões

Durante as dinâmicas de grupo focal foi possível inferir como a percepção informacional dos membros das
comissões se restringe à questão do transporte coletivo em nível micro, indicando uma limitação quanto à
percepção do trabalho global da administração municipal e como a gestão dos transportes e trânsito está
inserida nessa estrutura. Outra evidência da ausência de uma consciência que transcende a participação nas
Comissões Regionais de Transportes e Trânsito diz respeito à restrição de demandas e reclamações dos
problemas de transportes e trânsito, e poucos perceberam a relação entre as novas tecnologias de informação
e comunicação e as possibilidades que essas ferramentas podem significar para ampliá-la a participação na
gestão.
Outra constatação diz respeito ao grau de percepção dos membros quanto aos principais projetos
definidos no planejamento estratégico da empresa; a demanda de informação em relação aos projetos; o nível
de conhecimento do acompanhamento das demandas solicitadas pelas comissões, quanto ao orçamento,
cronograma de implantação, execução conforme os padrões, cumprimento de prazos de entrega. Em todas
estas questões, a limitação espacial e o pouco acesso à informação estratégica contribuíram para o baixo nível
de conhecimento. Conforme os comentários de participantes, que viram no questionário uma oportunidade
para acrescentar informações sobre a gestão dos transportes e trânsito em muitos aspectos que desconheciam,
foi possível identificar, no caso do grupo focal de Venda Nova, a demanda de informações sobre os
principais projetos da BHTRANS.
Os resultados acima também foram relacionados ao perfil dos grupos quanto à infra-estrutura e aos
equipamentos sociais confirmando a situação de infoexclusão no que diz respeito ao acesso a bibliotecas
públicas e à internet em casa ou comunitária. Outra confirmação, já constatada na literatura, está relacionada
à correlação entre idade e uso de computador, grau de escolaridade e uso do computador, e que a exclusão
digital se dá também entre gênero (sexo) e grupos etários. No caso da correlação infoexclusão e faixa etária, a
literatura aponta para uma tendência decrescente do uso da informática à proporção em que se avança na
faixa etária (CLEMENT, 2000). Tal tendência se explica pelas menores chances de empregabilidade do
idoso, e pelo fato do acesso ao computador com Internet no trabalho ser um facilitador (MORAES, 2000).
Informações recolhidas junto ao grupo focal da Comissão Regional de Transporte e Trânsito do Barreiro
ilustraram melhor as tendências verificadas quando correlacionamos a condição de não ter acesso ao
computador/faixa etária/percepção informacional, e Tipos Regionais por unidades de planejamento. As
informações indicam que entre os membros que não possuem computador em casa e no trabalho com Internet
predominam a faixa etária de 51 a 55 e acima de 60 anos, o grau de escolaridade equivalente ao 1º
incompleto, coincidindo também com uma percepção informacional com predominância de ruim e péssima.
Entre os membros que acusaram um tipo de acesso ao computador e à Internet, observou uma menor
incidência da faixa etária 51 a 55 e acima de 60 anos, a predominância do 2º grau completo e até e a
percepção informacional também apresentou uma tendência estável.
Quantos aos conceitos de Esfera Pública e Percepção, apesar de o objetivo da pesquisa acima mencionada
não ter sido o de construir ferramentas para trabalhar a análise de participação popular em ambiente
metropolizado, enquanto construtos teóricos se mostram adequados para as análises de realidades em
contextos envolvendo problemáticas de regiões metropolitanas que envolvem redes de infra-estrutura que
ultrapassam as fronteiras de um município, e que muito se assemelham (tanto em arquitetura como em
problemas) às redes informacionais.
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O USO DE WEB SEMÂNTICA E ONTOLOGIAS NO
DOMÍNIO JURÍDICO: PERSPECTIVAS DE SUA
APLICAÇÃO NO ÂMBITO DOS CRIMES CIBERNÉTICOS

Hélio Santiago Ramos Júnior


Discente de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Campus Trindade –
UFSC – Florianópolis – SC – Brasil
hramos@egc.ufsc.br

Aires José Rover, Dr.


Professor do Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Campus Trindade – UFSC –
Florianópolis – SC – Brasil
aires.rover@gmail.com

Douglas Kaminski
Discente de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Campus Trindade –
UFSC – Florianópolis – SC – Brasil
kaminskidk@gmail.com

Tarcísio Vanzin, Dr.


Professor do Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Campus Trindade – UFSC –
Florianópolis – SC – Brasil
tvanzin@yahoo.com.br

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo investigar o que a Web Semântica pode trazer de benefícios para o combate aos
crimes cibernéticos e alguns exemplos de ontologias do domínio jurídico que podem servir como referências neste estudo.
Inicialmente, foram feitas abordagens teóricas tais como: a identificação de artigos do Código Penal que sejam aplicáveis
aos crimes cibernéticos no Brasil como outras leis penais e como estes crimes estão sendo tratados no âmbito
internacional. Após a conceituação efetuou-se a caracterização da Web Semântica e do uso de ontologias em relação aos
crimes cibernéticos. Em seguida, foram relatadas algumas ontologias utilizadas na área jurídica. Acredita-se que as
informações apresentadas por este relatório de pesquisa, somadas a outras iniciativas, contribuirão efetivamente para que a
Web Semântica esteja cada vez mais presente nos sistemas web.

PALAVRAS-CHAVE
Web semântica, ontologias, crimes cibernéticos.

ABSTRACT

The aim of this work is to investigate the Semantic Web benefits for the cybercrimes combat and it gives some examples
of ontologies in the legal domain which were used as references in this study. Initially, it presents some articles of the
Brazilian Criminal Code and other laws which can be applied to the cybercrimes, after that this paper makes an overview
about how these crimes are being treated in the international scope. It also shows the characteristics of the Semantic Web
and the use of ontologies related to the cybercrimes. It presents ontologies for the juridical area. We believe that the
information presented in this research report, including others initiatives, will contribute effectively so that the Semantic
Web will become more present in the systems web.

KEYWORDS
Semantic web, ontologies, cybercrimes.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é apresentar a possibilidade da aplicação da web semântica no contexto dos
crimes cibernéticos e expor exemplos de ontologias no domínio jurídico. A justificativa pela escolha deste
tema deve-se ao fato da necessidade de uma legislação específica para garantir a segurança jurídica na web,
bem como no âmbito do comércio eletrônico e demais atividades que são realizadas através do ciberespaço.

Parte-se para o estudo dos crimes cibernéticos no Brasil, dando ênfase à questão dos crimes praticados
contra a segurança dos sistemas informatizados da Administração Pública, inseridos nos artigos 313-A e 313-
B do Código Penal pela Lei nº 9.983/2000. Em seguida, comentam-se também os crimes cibernéticos no
direito comparado. A seguir, desenvolve-se um estudo sobre a Web Semântica buscando suscitar a
discussão sobre as formas de como ela pode colaborar para elaboração de leis destinadas ao combate aos
crimes praticados na web. A possibilidade de uso de ontologias, para facilitar a classificação dos conceitos
destes crimes, é abordada como forma de padronizar a busca por informações, além de possibilitar também a
reflexão sobre o uso de agentes inteligentes na detecção e combate aos crimes cibernéticos. Por último,
disserta-se a respeito de como a ontologia pode oferecer respostas a alguns tipos de questões, apresentando
exemplos de aplicação no domínio jurídico, com ênfase na questão dos crimes cibernéticos.

2. CRIMES CIBERNÉTICOS NO BRASIL


2.1 A aplicabilidade do Código Penal aos crimes cibernéticos
No Brasil ainda não existe uma legislação específica sobre crimes cibernéticos, sendo aplicável o Código
Penal quando a internet se apresenta como um meio para a prática do crime. Assim, por exemplo, são
condutas penalmente típicas, ainda que praticadas em meio virtual, os crimes contra a honra: calúnia (art.
138), difamação (art. 139) e injúria (art. 140). Em relação aos crimes contra o patrimônio, observa-se que o
crime de estelionato (art. 171) pode ser aplicável a todas as modalidades de golpes eletrônicos onde o agente
induz o internauta ao erro visando à obtenção de vantagem ilícita para si ou para outrem. Por sua vez, o crime
de furto (art. 155) através da internet pode ocorrer quando o agente "invade os computadores de um banco e
desvia valores das contas de todos os clientes para uma conta fantasma" (Vianna, 2002, p. 221). De acordo
com o mesmo autor, “se alguém acessa sem autorização o sistema computacional de um banco e transfere
indevidamente dinheiro para sua conta, estará cometendo dois delitos distintos: o acesso não autorizado a
sistemas computacionais e o furto; o primeiro, crime informático, o segundo, patrimonial” (Vianna, 2003, p.
25).

Há também determinados crimes que possuem em sua essência a natureza de crime de informática, tais
como: o crime de violação de direito de autor de programa de computador previsto no art. 12 da Lei nº
9.609/98 e o crime de interceptação de comunicações de informática tipificado no art. 10 da Lei nº 9.296/96.
Existe ainda a Lei nº 9.983/2000 que inseriu no Código Penal os crimes de inserção de dados falsos em
sistemas de informação da Administração Pública (art. 313-A) e o crime de modificação não autorizada de
tais sistemas (art. 313-B), os quais serão objeto de estudo mais aprofundado neste capítulo. Antes de comentá-
los, é importante enfatizar que, tanto o art. 313-A quanto o art. 313-B do Código Penal, tutelam a segurança
dos sistemas de informações da Administração Pública e não os sistemas de informações de entidades
particulares ou privadas. Por isso foram inseridos no Título XI do Código Penal que trata justamente dos
crimes contra a Administração Pública.

2.2 Crime de inserção de dados falsos em sistemas de informação


De acordo com o art. 313-A do Código Penal, considera-se crime de inserção de dados falsos em sistemas
de informações a conduta de "inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar
ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração
Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano". A pena atribuída
a este crime é de reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Esta norma penal tutela a segurança dos sistemas informatizados e bancos de dados da Administração
Pública visando responsabilizar penalmente o funcionário público que, possuindo autorização para acessar o
sistema, aproveita-se desta situação para inserir direta ou indiretamente dados falsos, alterar ou excluir dados
corretos com a finalidade de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano. Trata-se de
um crime próprio, ou seja, "que exige determinada qualidade ou condição pessoal do agente" (Bitencourt,
2002, p.148). No caso concreto, isto significa dizer que o sujeito ativo deste crime não pode ser qualquer
funcionário público, mas somente aquele funcionário autorizado pela Administração Pública para gerir o
sistema de informações ou acessar e alterar o banco de dados.

Não obstante o fato de o delito do art. 313-A ser considerado um crime próprio, é possível haver concurso
de agentes quando terceiros praticam a conduta descrita no tipo penal em conluio com o funcionário público
autorizado o qual vem a facilitar a ação criminosa. É considerado também um crime formal, pois a sua
consumação independe do agente ter conseguido atingir o resultado pretendido. Neste sentido, o crime formal
"descreve um resultado, que, contudo, não precisa verificar-se para ocorrer a consumação. Basta a ação do
agente e a vontade de concretizá-lo (...)" (Bitencourt, 2002, p. 146).

Isto significa dizer que quando o funcionário autorizado insere dados falsos no sistema de informações da
Administração Pública com a consciência de que tais dados são falsos e com a vontade de realizar esta ação
para obter vantagem para si ou para outrem ou para causar dano, o crime se consuma a partir do momento em
que os dados falsos foram inseridos no sistema de informações, independentemente da obtenção de vantagem
ou do dano causado em decorrência da prática do crime. (Ramos Júnior, 2007, p. 65).

2.3 Crime de modificação não autorizada de sistemas de informações


O crime de modificação ou alteração não autorizada de sistemas de informações está tipificado no art.
313-B do Código Penal e consiste na conduta de "modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações
ou programa de informática sem autorização ou solicitação da autoridade competente". A pena aplicável a
este crime é de detenção, de 03 (três) meses a 02 (dois) anos, e multa. No entanto, se a modificação ou a
alteração resultar dano para a Administração Pública ou para o administrado, a pena é aumentada de um terço
até a metade.

Trata-se de crime próprio que somente pode ser praticado por funcionário público, haja vista a expressa
referência a esta qualidade no tipo penal. É oportuno mencionar que o art. 327, caput, do Código Penal
estabelece que, para efeitos penais, considera-se funcionário público quem, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública; sendo que o §1º deste artigo determina que se
equipara a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função pública, em entidade paraestatal e
quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade
típica da Administração Pública.

Outro aspecto importante que cabe destacar é que, diferentemente do artigo anterior (art. 313-A) que exige
que o funcionário público, autor do crime, seja autorizado pela Administração Pública para operar o sistema,
o crime previsto no art. 313-B, por sua vez, pode ser praticado por qualquer funcionário público desde que a
modificação ou alteração do sistema de informações ou do programa de computador não tenha sido autorizada
nem solicitada pela autoridade competente.

É considerado um crime de mera conduta, ou seja, basta que o agente pratique o comportamento descrito
na norma penal para a sua consumação. No caso, o crime se consuma com a simples modificação ou alteração
do sistema de informações ou do programa de informática desde que a conduta seja praticada sem que haja
autorização ou solicitação da autoridade competente. (Ramos Júnior, 2007, p. 66-67).

Neste sentido, "consuma-se o crime previsto no art. 313-B com a modificação ou alteração total ou parcial
do sistema de informações ou do programa de informática, independentemente de haver ou não prejuízo
efetivo para a Administração Pública ou terceiro. Se este ocorrer, o crime será qualificado" (Mirabete, 2005,
p. 2.336).
2.4 A necessidade de tutela específica e os projetos de lei em tramitação no
Brasil
A necessidade de tutela penal visando à proteção dos sistemas de informações da Administração Pública
perante terceiros se tornou mais evidente com o advento da internet e de um fenômeno conhecido como
governo eletrônico. Pode-se conceituar o governo eletrônico como “uma infra-estrutura única de comunicação
compartilhada por diferentes órgãos públicos a partir da qual a tecnologia da informação e da comunicação é
usada de forma intensiva para melhorar a gestão pública e o atendimento ao cidadão. Assim, o seu objetivo é
colocar o governo ao alcance de todos, ampliando a transparência das suas ações e incrementando a
participação cidadã” (Rover, 2005, p. 55).

Princípios constitucionais trouxeram a necessidade de utilização da internet como um meio para tornar o
governo mais eficiente e mais próximo do cidadão. Neste sentido, “a Lei nº 9.755, de 16 de dezembro de
1998, ao dispor sobre a criação de homepage na Internet, pelo TCU, para divulgação dos dados e
informações, criou a norma jurídica necessária para o cumprimento do previsto no art. 37 da Constituição
Federal brasileira, no que diz respeito aos princípios da transparência e da publicidade nesse novo modo de
organização da sociedade e do Estado” (Olivo, 2004, p. 175).

Além da transparência e da publicidade, há também o princípio constitucional da eficiência administrativa


que foi inserido no caput do art. 37 da Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº 19/98 e que serve
de argumento para justificar a informatização e modernização da Administração Pública.

Está em tramitação o projeto de lei substitutivo ao PLS 76/2000, PLS 137/2000 e PLC 89/2003 que,
dentre outras coisas, pretende inserir o art. 339-A no Código Penal tipificando a conduta de “acessar
indevidamente rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado”. É caracterizado
como um crime de mera conduta, ou seja, basta o agente praticar o acesso indevido para consumar o delito. O
projeto substitutivo também define, por exemplo, no art. 339-C, inciso III, o conceito de sistema
informatizado para fins penais como: “o equipamento ativo da rede de comunicação de dados com ou sem fio,
a rede de telefonia fixa ou móvel, a rede de televisão, a base de dados, o programa de computador, ou
qualquer outro sistema capaz de processar, capturar, armazenar ou transmitir dados eletrônica ou digitalmente
ou de forma equivalente”.

2.5 Direito comparado e crimes cibernéticos no âmbito internacional


No final do mês de novembro de 2001, entrou em vigor na Venezuela a Lei Especial contra Delitos
Informáticos que teve como objetivo a proteção integral dos sistemas que utilizam tecnologias da informação.
Assim como a prevenção e sanção dos delitos cometidos contra tais sistemas ou qualquer de seus
componentes ou ainda os cometidos mediante o uso de tais tecnologias nos termos da lei.

A lei venezuelana, em seu capítulo primeiro, define como crimes contra os sistemas que utilizam
tecnologias da informação: o acesso indevido (art. 6), a sabotagem ou danos aos sistemas (art. 7), a sabotagem
ou danos culposos (art. 8), o acesso indevido ou sabotagem a sistemas protegidos (art. 9), a posse
de equipamentos ou prestação de serviços de sabotagem (art. 10), a espionagem informática (art. 11) e a
falsificação de documentos (art. 12). Por sistemas protegidos a lei considera aqueles que estejam
protegidos por medidas de segurança e que sejam destinados a funções públicas ou que contenham
informações pessoais ou patrimoniais de pessoas naturais ou jurídicas.

Os Estados Unidos também se mostram preocupados com a questão dos crimes cibernéticos. Tal
preocupação se evidencia através da S.RES. nº 204, de 16 de maio de 2007, a qual estabeleceu o mês de julho
como sendo o mês nacional da segurança da internet. "Ademais, ilustrando a maturidade da estrutura legal
voltada aos crimes cibernéticos, no âmbito federal, os Estados Unidos contam com as previsões normativas do
US Code, ou U.S.C., uma compilação de leis de caráter geral aprovada em 1926 pelos membros do Congresso
americano e que, tal qual a Constituição, deve ser observado por todos os cidadãos, em todos os
estados. Especificamente, no Título 18 do U.S.C. são encontrados os artigos referentes a fraudes envolvendo
conexões, esquemas de acesso, utilização de computadores, interceptação de comunicações e assemelhados"
(Dias, 2007, p. 37).

Em âmbito internacional, a Itália se destaca como sendo um país referência no que concerne à tutela penal
em face dos crimes cibernéticos. Neste sentido, "dispondo de uma estrutura voltada à introdução e
viabilização das tecnologias da informação e das redes de conexões, o país é referência por possuir um
extenso corpo normativo, hiperpenalizador dos crimes cibernéticos, contando, ainda, com um aparato
institucional voltado à prevenção e denúncia desses crimes" (Dias, 2007, p. 65).

Diante da constatação de que os crimes cibernéticos podem ultrapassar as fronteiras territoriais dos países,
foi celebrada em 2001, em Budapeste, na Hungria, a Convenção Européia sobre crimes cibernéticos
objetivando garantir a segurança jurídica de tais países e dar um tratamento uniforme para esta questão.

3. WEB SEMÂNTICA
O conteúdo presente na Internet, ao não seguir alguns padrões da Web Semântica, dificulta o trabalho de
busca por informações e de busca de possíveis relações entre termos que poderiam ser elaborados para se
chegar a um resultado mais fiel de um problema especifico de busca. Ou seja, a web é acessível em sua maior
parte apenas por humanos. Os computadores compreendem a estrutura e o layout dos web sites, mas não
conseguem compreender o seu significado e abstrair soluções para determinados problemas.

Para Faria & Girardi (2006), a Web Semântica possui como desafio a criação de uma linguagem que seja
capaz de expressar o significado dos dados e ao mesmo tempo raciocinar sobre eles a partir de regras,
repassando este conhecimento refinado sobre os dados aos usuários.

Com isso, surgem os seguintes questionamentos:

 De que forma a Web Semântica poderia colaborar para elaboração de leis de combate aos crimes
praticados na web?

 Uma ontologia poderia facilitar a classificação dos conceitos sobre estes crimes como forma de
padronizar a busca por informações?

 Agentes inteligentes poderiam ser capazes de detectar os crimes na web contra a segurança dos
sistemas de informação da administração pública, por exemplo?

Na Figura 1, verifica-se a arquitetura em camadas da Web Semântica definida pelo W3C (Koivunen e
Miller, 2001). A primeira camada, formada pelos padrões UNICODE e URI, é responsável pela identificação
dos objetos. A camada formada pelo XML, namespace e xmlschema integra as definições presentes na Web
Semântica com outros padrões XML. A próxima camada composta pelo RDF mais o rdfschema torna
possível enunciar objetos através de URI´s e ao mesmo tempo elaborar vocabulários que podem ser
referenciados pelas próprias URI´s, sendo esta camada responsável por classificar recursos e links.

As ontologias são utilizadas para definir relações entre conceitos de um determinado domínio, por
exemplo. As demais camadas formada pela Lógica, Prova e Confiança funcionam basicamente desta forma: a
camada lógica elabora regras para a camada de prova executar e avaliar em conjunto com a camada de
confiança, onde é feito através de mecanismos se é possível alcançar a prova ou não. E, por último, a camada
de assinatura digital onde é possível identificar o autor de um documento e possíveis alterações realizadas.
Figura 1 – Camadas da Web Semântica. Fonte: Koivunen e Miller, 2001.

Um sistema web com estas características poderia trazer benefícios para o combate aos crimes
cibernéticos, como, por exemplo, em uma decisão judicial acerca de um crime ocorrido contra a base de
dados da receita federal. Juízes e promotores receberiam o apoio do sistema com informações,
jurisprudências, intercâmbio de dados com outros sistemas de segurança (interoperabilidade), dentre outros.
Além disso, os agentes inteligentes percorreriam a estrutura do sistema tendo ontologias como base e
utilizando as ferramentas disponíveis pela Web Semântica, de maneira mais fácil, pois seria mais transparente
a lógica presente no código fonte, o que possibilitaria uma busca mais eficiente por informações. No entanto,
Hendler (2001) relata como mais interessante, a comunicação entre agentes que não utilizam as mesmas
ontologias. Assim, essas ontologias poderiam ser combinadas e estendidas a fim de torná-las mais
abrangentes em relação a um determinado domínio ao qual representam. Estes mesmos agentes não alcançam
níveis de acessibilidade necessários para definir uma busca mais refinada sobre um determinado problema em
um sistema que não emprega uma arquitetura de Web Semântica.

O World Wide Web Consortium (W3C), consórcio fundado em 1994, têm como finalidade a construção
de padrões para web por meio da interoperabilidade, ou seja, tornar possível a comunicação e o trabalho
conjunto entre hardware e software de diferentes tecnologias (W3C, 2007). Os padrões desenvolvidos para
tornar possível a Web Semântica também são definidos por este consórcio.
Para Lee et al (2001) a semântica traria significado para os dados presentes numa página web, entretanto,
os computadores precisariam acessar uma coleção de informações estruturadas e uma série de regras de
inferência para poder criar um raciocínio automatizado sobre os dados. Com isso, dados sobre crimes
cibernéticos, estruturados em arquivos XML e XML Schema, poderiam ser pesquisados por agentes e a partir
de regras, buscar e gerar, quando possível, um conhecimento menos custoso do que os atuais sistemas de
busca. Somando a isso a possibilidade de unir os sistemas de segurança pública através da interoperabilidade,
aumenta a integração e a riqueza de informações sobre os mais variados crimes cometidos.

4. ONTOLOGIAS NO DOMÍNIO JURÍDICO


As ontologias servem como base do conhecimento na Web Semântica. A partir delas, Heflin (2004)
afirma que pessoas, banco de dados e aplicações conseguem abstrair informações de um determinado domínio
específico e que futuras aplicações poderiam se tornar mais eficientes que humanos a nível conceitual. As
ontologias devem possuir uma estrutura hierárquica de conceitos com as seguintes definições: classes,
relacionamentos e propriedades. “Uma ontologia é uma especificação explícita e formal de uma
conceitualização compartilhada”. (Studer et al 1998).
No caso deste artigo, o domínio das ontologias é os crimes cibernéticos. O motivo dessa conceituação se
deve ao fato de ser ainda um domínio que carece de classificações e relacionamentos entre as informações
sobre condutas praticadas na web que se caracterizam como delitos informáticos. O objetivo principal é criar
uma definição homogênea acerca deste domínio específico a fim de disponibilizar, para sistemas web, uma
hierarquia de conceitos padrão. Então, aplicações desenvolvidas posteriormente tendo como base essas
ontologias, podem facilitar o intercâmbio de informações ao trabalharem com as mesmas definições e
relacionamentos. Além disso, as ontologias são utilizadas para anotar semanticamente o conteúdo
disponibilizado, o que permite que agentes de software compreendam a semântica embutida nas páginas web,
sem ambigüidade, viabilizando o intercâmbio de informações.

No entanto, antes de começar um projeto de construção de ontologias é preciso seguir alguns


procedimentos (Fernández e Pérez, 1997):

• Deve-se planejar as principais tarefas que serão executadas, como elas serão organizadas.

• Não se deve iniciar o desenvolvimento de uma ontologia sem saber sobre seu propósito e seu escopo.
As seguintes questões devem ser respondidas: porque essa ontologia está sendo construída? O que se
pretende com seu uso? Quem são seus usuários finais?

• O conhecimento de um domínio necessita de técnicas apropriadas.

• Deve-se conceituar o conhecimento em um modelo conceitual que descreva os problemas e as


soluções.

• Ontologias são reutilizáveis e, por isso, deve-se tentar integrá-las em construção ao maior número
possível de ontologias existentes.

• As ontologias só são computáveis se implementadas em uma linguagem formal.

• Antes de tornar pública uma ontologia, é preciso avaliar sua consistência, eliminando a possibilidade
de erros conceituais.

• Para reutilizar ontologias é preciso documentá-las.

• A manutenção da estrutura das ontologias deve ser uma constante.

Noy e McGuinness (2001) também definem como importante na definição do escopo das ontologias as
questões de competência, ou seja, quais os tipos de questões a informação presente numa ontologia deve
prover respostas. Sendo assim, dado um crime cibernético, as perguntas abaixo devem ser respondida por
meio da ontologia empregada:
• Em qual categoria ele pertence?

• Qual legislação deve ser aplicada?

• Existe alguma jurisprudência acerca da matéria?

Neste sentido, Rover (2000, p. 210-211) destaca a importância desta classificação ao considerar que
“toda atividade que tem como objeto o Direito exige entendimento, compreensão e interpretação do domínio
do conhecimento jurídico em jogo, indistintamente, e indica diversos campos de atuação, como o
enquadramento, o planejamento legal, a argumentação jurídica, a decisão judicial”. Nessa direção, Braga et al
(2007, p.7), acrescentam que:

“no que concerne à construção de um sistema de conhecimento jurídico de apoio à


decisão judicial, quanto a aspectos relacionados ao direito penal, mais
especificamente quanto à tipificação de crimes, deve-se ter um cuidado especial em
sua elaboração e verificar se os resultados são juridicamente válidos, tendo em
vista que o ordenamento jurídico brasileiro não admite a analogia para forçar a
consumação de um delito cuja conduta não esteja expressamente prevista em lei”.

Dentre os exemplos de ontologias utilizadas no domínio jurídico que poderão servir como modelos de
referência para a proposta deste artigo, destacam-se: ontologias para recuperação de jurisprudências sobre
entorpecentes; o software Aletheia sobre direito do consumidor; o Ontoweb sobre governo eletrônico; e,
especificamente no âmbito dos crimes cibernéticos, o Legal Mapping of Ciberspace, da Universidade de
George Mason, dos Estados Unidos.

Em relação às ontologias de Recuperação de Jurisprudências sobre Entorpecentes, estas apresentam as


seguintes características:
• Possui um dicionário de ontologias e estabelece relações conceituais baseadas no contexto do
domínio trabalhado, gerando uma rede constituída de conceitos unidos por diferentes relações
semânticas.
• Utiliza a metodologia de representação do conhecimento RC2D.
Segundo Hoeschl (2004), esta metodologia consiste em uma técnica que:
"prevê a construção de uma base de conhecimento, estruturada sobre um conjunto
de expressões, utilizando diferentes referenciais, de forma a tratar com o máximo
de personalização estas expressões. Cria-se, então, uma rede de conceitos
relacionados por diversos tipos de conexão que representam cada um, um valor
para o cálculo da similaridade entre os casos".
Tratando-se do software Aletheia, este pode ser definido como sendo “um sistema que utiliza técnicas de
Inteligência Artificial (IA) – como o Raciocínio Baseado em Casos (RBC) e a Pesquisa Contextual
Estruturada (PCE) – para a recuperação de informações contidas no Código de Proteção e Defesa do
Consumidor (CDC).” (GARCIA, 2003). Deste modo, o programa Aletheia se apresenta como uma ferramenta
capaz de facilitar a realização da consulta ao Código de Defesa do Consumidor por parte do cidadão leigo. Ele
permite ao usuário realizar a consulta por meio da formulação de perguntas em linguagem comum, dando
como resposta o trecho correspondente ao enquadramento legal referente a uma situação do cotidiano que
envolva relação de consumo.
Por sua vez, o que diferencia o Ontoweb do software Aletheia é o fato de que o domínio de abordagem
neste caso é informações relacionadas ao governo eletrônico, além disso o Ontoweb realiza a pesquisa em
sites de agências e órgãos governamentais enquanto que a pesquisa no Aletheia provém dos artigos do Código
de Defesa do Consumidor.
Entretanto, o sistema que mais se assemelha à proposta deste trabalho é o Legal Mapping of Cyberspace, o
qual foi desenvolvido pela Universidade de George Mason nos Estados Unidos e possui a finalidade de
categorizar todos os documentos legais sobre crimes cibernéticos a partir de uma ontologia geral.
Peng et al (2006) definem a ontologia do protótipo desta forma: uma ID identifica a origem legal, título,
autor e créditos, palavras-chave, resumo, tipo do documento e nacionalidade. Todos os documentos são
categorizados como constitucional, legislativos (estatutos), executivos (regulamentações), judiciário (casos) e
internacional.
A arquitetura deste sistema que roda na web utiliza a plataforma Java com as seguintes características:
• A comunicação entre os clientes e servidor web é feito através da linguagem JSP.
• O banco de dados utilizado é o mysql.
• O sistema pode ser estendido para usar RDF, OWL, RuleML ou Jess quando for preciso.
Nota-se que a arquitetura apresentada pelo sistema já suporta algumas funcionalidades da Web Semântica
ao utilizar RDF (Representa Informação - meta-dados), OWL (Linguagem para Ontologias), RuleML
(Inferências) e Jess (API Java para a definição de regras). A partir da ontologia utilizada pelo sistema é
possível com o auxílio de uma árvore de decisão determinar respostas para uma questão legal.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo discutiu aspectos relacionados ao campo da Web Semântica no que tange ao domínio jurídico
e, mais especificamente, aos crimes cibernéticos, refletindo sobre a necessidade de legislação específica para
garantir a segurança jurídica na rede e também sobre a possibilidade da web semântica contribuir para auxiliar
no combate a tais crimes.

Devido ao caráter mutável dos crimes cibernéticos, as ontologias podem facilitar a inserção de novos
conceitos, classificações e regras que ajudam, por exemplo, na tomada de decisão judicial.

A principal indicação de continuidade desta pesquisa diz respeito à proposta de elaboração de ontologias
específicas para os crimes cibernéticos no Brasil visando à integração dos sistemas informatizados de
Segurança Pública, Delegacias especializadas em Crimes Cibernéticos, do Poder Judiciário e do Ministério
Público em relação a este domínio específico.

Por fim, o uso da web semântica no domínio jurídico pode trazer benefícios tanto para uma maior
eficiência da atividade jurisdicional como para a investigação forense. Além disso, pode contribuir também
para a inclusão digital das pessoas leigas, aproximando a linguagem rebuscada jurídica da linguagem popular.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITENCOURT, C. R. Manual de Direito Penal: parte geral. v.1. 7.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 744 p.

BRAGA, M. de M.; RAMOS JUNIOR, H. S.; COELHO, T. de F. "Aplicações de Ontologias na Recuperação de


Informações Jurídicas na Web Semântica". In: Anales 36 JAIIO - Jornadas Argentinas de Informática. Simposio
Argentino de Informática y Derecho. Buenos Aires: Sociedad Argentina de Informática, 2007.

DIAS, V. S. Aspectos da Segurança Jurídica no Âmbito dos Crimes Cibernéticos. Monografia. Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, 2007. 74 p.

FARIA, C. G.; GIRARDI, R. Uma Análise da Web Semântica e suas Implicações no acesso à Informação. Disponível
em: <http://maae.deinf.ufma.br>. Acesso em: 03 ago. 2007.

FERNÁNDEZ, L.; PÉREZ, G. "Methontology: From ontological art towards ontological engineering." In: Spring
Symposium Series, Stanford. pp. 33-40.

GARCIA, T. H. B. et al. “Portal do Consumidor catarinense: um modelo de atendimento ao cidadão no âmbito do


governo eletrônico”. In: Anais do II Ciberética - Simpósio Internacional de Propriedade Intelectual, Informação e Ética.
Florianópolis, 2003.

HEFLIN, J. "Web Ontology Language (OWL) Use Cases and Requirements." In: W3C Recommendation, Fevereiro 2004.

HENDLER, J. "Agents and the Semantic Web," IEEE Intelligent Systems, vol. 16, no. 2, Mar./ Apr. 2001, pp. 30-37.

HOESCHL, H. C et al. "Ontologias e sistemas de conhecimento jurídico: uma abordagem sobre entorpecentes". In: Anais
da I Conferência Sul-Americana em Ciência e Tecnologia Aplicada ao Governo Eletrônico. Florianópolis: Ijuris, 2004.
pp.161-168.
KOIVUNEN, M-R.; MILLER, E.. “W3C Semantic Web Activity.” In: Proceedings of the Semantic Web Kick-off Seminar
in Finland, November 2001.

LEE, T. B.; HENDLER, J..; LASSILA, O.. "The Semantic Web." In: Scientific American, Maio 2001.

MIRABETE, J. F. Código Penal interpretado. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2005. 2700 p.

NOY, Natalya F.; McGUINNESS, Deborah L. Ontology Development 101: A Guide to Creating Your First Ontology.
Stanford University: Stanford, 2001. Disponível em:
<http://protege.stanford.edu/publications/ontology_development/ontology101-noy-mcguinness.html> Acessado em: 08
ago. 2007.

OLIVO, L. C. C. de. A Reglobalização do Estado e da Sociedade em Rede na Era do Acesso. Florianópolis: Fundação
Boiteux, 2004. 221 p.

PENG, L. et al. "An ontology-based distributed whiteboard to determine legal responses to online cyber attacks". In:
Internet Research. v. 16. n. 5, 2006. pp. 475-490.

RAMOS JÚNIOR, H. S. “Crimes contra a Segurança dos Sistemas de Informações da Administração Pública”. In:
Proceedings of the Second International Conference of Forensic Computer Science. Departamento de Política Federal:
Brasília, 2007. pp. 64-69.

ROVER, A. J. “Sistemas especialistas legais: uma solução inteligente para o Direito”. In: ROVER, A. J. (Org). Direito,
sociedade e informática: limites e perspectivas da vida digital. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2000. pp.207-212.

ROVER, A. J. "Governo eletrônico: uma introdução". In: Anais da II Conferência Sul-Americana em Ciência e
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STUDER, R., BENJAMINS, R., FENSEL, D. (1998). Knowledge Engineering: Principles and Methods. Data and
Knowledge Engineering. 25:161-197.

VIANNA, T. L. "Dos crimes pela internet". In: Reinaldo Filho, D. (Org). Direito da Informática: temas polêmicos. Bauru
(SP): Edipro, 2002. pp.211-224.

VIANNA, T. L. Fundamentos do Direito Penal Informático: do acesso não autorizado a sistemas computacionais. Rio de
Janeiro: Forense, 2003.

W3C. World Wide Web Consortium. Disponível em: <http://www.w3c.org>. Acesso em: 08 ago. 2007.
1

PROCESSO DE MODELAGEM DE CURSOS À DISTÂNCIA


VIA INTERNET: UMA PROPOSTA DE VIABILIDADE
TÉCNICA-PEDAGÓGICA

Andréa Paula Osório Duque


Doutoranda em Ciência da Informação
aduque@pobox.com

RESUMO
O presente estudo apresenta uma reflexão sobre o capítulo ‘Processo de Modelagem de Cursos a Distância via Internet’
da dissertação de mestrado ‘Modelagem de Cursos à Distância via Internet, à luz da Ciência da Informação’, de 2001.
Pretende ainda possibilitar uma discussão mais orientada sobre a importância de se planejar a gestação de um curso à
distância via Internet. O estudo será construído em cinco etapas que integram a modelagem de cursos à distância via
Internet. A etapa Diagnóstico apresenta o universo trabalhado, os dados coletados e processados e a tomada de decisão
sobre a proposta de EAD. Na etapa Planejamento destacam-se a produção da informação e os objetivos que sinalizarão o
caminhar do educador e do educando na obtenção de novos saberes e a inclusão digital e social como cidadão. A etapa
Desenvolvimento objetiva padronizar e sistematizar a informação no espaço virtual, a Internet. A etapa Implementação se
apóia em algumas ações para a execução da proposta do curso a distância. A etapa Avaliação é importante para conhecer
os rumos a serem estabelecidos pós-curso.

PALAVRAS-CHAVE
Cursos à distância via Internet; modelagem de cursos; educação à distância; planejamento de cursos;cursos
online.

1. INTRODUÇÃO
O presente estudo pretende introduzir e oferecer sugestões para modelagem de um curso à distância via
Internet construindo um cenário técnico pedagógico de uma proposta de EAD.
As políticas brasileiras para a educação à distância via Internet (EAD) ainda são incipientes para atender
uma demanda crescente por profissionais para esta modalidade de ensino e consequentemente também as
expectativas de crescimento do público-alvo.
Segundo Silva Filho (2006), o programa de e-gov abarca um processo crescente das funções do governo
que exige rapidez e eficiência na prestação de serviços a seus cidadãos. Essa tendência é globalizada, onde
governos de todo mundo concentram seus esforços no desenvolvimento de políticas e de padrões - em termos
de uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), visando construir uma arquitetura
interoperável a fim munir os cidadãos com acesso a informação e serviços.
É objeto de nossa proposta de cursos, a educação como um todo, que Segundo Morin (2001, p. 65) “deve
contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar
como se tornar cidadão”.
Esse enfoque do autor é a preocupação principal dos estrategistas e construtores de um cursos à distância
quer por iniciativa do governo ou de suas instituições e entidades, ou por empresas e redes de ensino de
caráter privado, no mundo da cibercultura.
Com relação a cibercultura, LEVY (1999) assim se expressa:
“A grande questão da cibercultura, tanto no plano de redução dos custos como no do
acesso de todos à educação, não é tanto a passagem do “presencial” à “distância”, nem
do escrito e do oral tradicional a “multimídia”. É a transição de uma educação e uma
formação estritamente institucionalizadas (a escola, a universidade) para uma situação de
2

troca generalizada dos saberes, o ensino da sociedade por ela mesma, de reconhecimento
autogerenciado, móvel e contextual das competências.”

Em busca de resultados significativos, as propostas de cursos à distância via Web estão ocupando um
espaço que cresce exponencialmente quase na mesma velocidade de novas informações. Os resultados mais
identificáveis de um programa de EAD têm sido apurados em cursos rápidos de treinamento e
aperfeiçoamento de desempenho em postos de trabalho.
Embora os dados de avaliação não sejam muito conhecidos, o governo está sinalizando uma mudança em
suas políticas educacionais, com o intuito de favorecer a EAD de maneira a atender uma demanda que
esbarra na grande extensão territorial e na exigência presencial do aluno que em seu entorno não conta com a
escola tradicional. Esse desencontro entre políticas educacionais e a inserção e reconhecimento da EAD
como uma nova modalidade de educação caminha rapidamente para uma solução que atenda os anseios e as
expectativas da realidade do país.

2. ROTEIRIZAÇÃO DA MODELAGEM
O processo de modelagem de um curso à distância via Internet deve ser harmoniosamente planejado de
forma a roteirizar um seqüencial de atividades que se sucederá em cadeia, pois o resultado de uma etapa
depende dos dados e informações das anteriores.
Segundo Duque (2001, 34), o roteiro da modelagem está fundamento em cinco etapas:
• Diagnóstico (processo de definir os ambientes onde o projeto será implantado)
• Planejamento (processo de definir o que é para ser ensinado e como ensinar)
• Desenvolvimento (processo de organizar e padronizar as informações)
• Implementação (processo de instalação do projeto no contexto real e virtual)
• Avaliação (processo de determinar a adequação da proposta educativa)
Pretende-se neste estudo seguir a proposta de Duque (2001) que adotou em sua dissertação de mestrado
‘Modelagem de Cursos à Distância via Internet, à luz da Ciência da Informação’ um roteiro de modelagem
adaptado à realidade de nosso país. Sua abordagem é simples o bastante para facilitar as ações a serem
planejadas e executadas pela equipe de profissionais responsáveis pela roteirização da modelagem de cursos
à distância via Internet. Na Figura 1 é possível visualizar as etapas e suas inter-relações.

FIGURA 1 – Etapas da modelagem de cursos à distância via Internet

Etapas da modelagem de cursos à distância via Internet

Diagnóstico Planejamento Desenvolvimento Implementação

o Coleta de Dados Plano de Curso o Conteúdo o Requisitos


o Conteúdos o Forma técnicos
o Análise e o Objetivos
Tomada de o Estratégias
Decisão o Avaliação

Avaliação de
Processo

Fonte: Duque, 2001, p. 35.


3

2.1 Etapa Diagnóstico


O Diagnóstico pressupõe um conhecimento da realidade em determinado momento para, através de
informações, compor cenários variados que servirão de plataformas para o desenrolar de um curso à distância
via Internet. Esse conhecimento da realidade só se efetiva através da coleta e análise de dados e
reconstituição da realidade através da construção de cenários externos e internos do ambiente pesquisado
para a aplicabilidade em EAD.
Cenários desfavoráveis podem ser corrigidos ou atenuados através de ações de tomada de decisão dos
gestores do programa. Para Duque (2001, p. 36) “a faculdade de intervir no processo de desenvolvimento de
cursos à distância via Internet está bem sinalizada no momento de se diagnosticar os cenários e tomar
decisões para, inclusive, considerar as mudanças como oportunidades, não como ameaças”.
A determinação de cenários para construção de um curso à distância, pode ser beneficiada pelos estudos
de Duque (2001), Weissman (1972) e Williams (2001) que sugeriram questionamentos essenciais para obter
dados e informações que irão constituir a realidade interna e externa do processo de modelagem. O cenário
externo pode ser diagnosticado através das seguintes indagações:
• Que instituições, entidades, empresas ou pessoas físicas irão patrocinar ou serem parceiros?
• Qual a missão dessas instituições/entidades/empresas?
• O que as instituições/entidades/empresas oferecem para o desenvolvimento do curso? (software,
facilidades, financiamento, suporte para desenvolvimento)
• Que papéis os promotores do evento desempenharão nesta proposta?
• Que poder os promotores do evento detêm quanto à tomada de decisões; ao aporte de recursos
financeiros, tecnológicos e computacionais; ao suporte técnico-pedagógico?
• Que profissionais serão necessários para viabilizar o projeto?
• Qual o tempo necessário de dedicação dos profissionais envolvidos?
• Que tipo de curso pretende-se disponibilizar? (treinamento, capacitação, especialização, graduação?)
• Já existe curso similar no mercado?
• Qual o teor de novidades que caracteriza a oferta do curso?
• Qual a demanda do mercado de trabalho por profissionais específicos?
• Qual a política educacional do governo sobre EAD?
• Existem regras específicas para atuação na área de EAD?
• Que investimentos são necessários? (aporte financeiro, equipamentos, Recursos Humanos, etc.)
• Qual o prazo e condições para recurso do investimento?
• Como atuar como prestador de serviços na área EAD?
As TICs, os recursos tecnológicos, hardware (máquinas) e software (aplicativos) que comporão a
plataforma dos cursos à distância, farão parte da etapa Diagnóstico para criar o cenário dos recursos materiais
e virtuais da proposta de EAD. Os gestores do processo de modelagem e roteirização necessitam conhecer e
aplicar a legislação autoral brasileira (9.610/98) para evitar o cometimento do não respeito aos direitos do
autor e suas obras. Isso se aplica ao uso do hardware e software e os conteúdos elaborados para a nova mídia,
a Internet.
Ainda, segundo Duque (2001, p. 37) “Nesta fase de investigação, informações de custo, custo/benefício
advindo da implementação de uma inovação, convênios, associações, lançamento, divulgação na mídia e
outras variáveis, devem ser pesquisadas juntamente com as informações de suporte”. Para a autora, diversos
questionamentos podem compor o núcleo desse diagnóstico, como:
• Que profissionais especializados são necessários para consecução do curso?
• Que tipo de investimento será necessário para o aporte de tecnologias digitais?
• O curso à distância permitirá aplicações interativas (chat, mural, videoconferência, links)?
• Que ferramentas tecnológicas são necessárias? Custo? Equipamentos?
• Hardware e software suportam o tipo de estratégias educacionais que integrarão os cursos à distância?
• Qual a previsão de tempo para disponibilização do curso?
• O curso será oferecido através de software educativos ou páginas Web?
• Os conteúdos informacionais já estão digitalizados?
• O conteúdo informacional já está manualizado?
• O perfil dos ciber-alunos já foi objeto de análise?
4

As informações necessárias a esse diagnóstico podem ser extraídas de diversas fontes, como cita Duque
(2001, p. 38):
• seções de jornais, revistas, periódicos especializados no campo do conhecimento do curso a ser
oferecido;
• seções de emprego;
• órgãos governamentais e de classe;
• instituições acadêmicas;
• indicadores de economia; e
• demanda pela informação.
Algumas informações devem ser pesquisadas para a composição dos calendários de viabilização dos
cursos que deverão integrar o portfolio da proposta: fusos horários variados; horário de verão; feriados
municipais,estaduais e nacionais, entre outros. Este leque de indicadores deve ser observado em propostas de
calendários de cursos à distância para evitar atrasos na programação.
A etapa Diagnóstico, como um todo, está centrada na análise das informações do cenário e na tomada de
decisão. Os ambientes externos e virtuais devem ser integrados às propostas de EAD sob constante avaliação.
Cabe aos gestores apresentarem alternativas de solução que exija ações criativas, rompimento de padrões pré-
estabelecidos e rápida tomada de decisão.

2.2 Etapa Planejamento


Nesta etapa, a produção de conteúdos informacionais, se bem construída, irá determinar o sucesso da
proposta de EAD, pois nela estão inseridos elementos vitais para concretizar a proposta de construção do
conhecimento. Esta atividade requer a participação da equipe de profissionais, com destaque para o
conteudista.
Barreto (1999) define as atividades dessa etapa de Planejamento, afirmando que: “representa atividades
relacionadas a reunião, seleção, codificação, redução, classificação e armazenamento de informação. Todas
essas atividades orientam-se para a organização e controle dos estoques de informação, para uso imediato ou
futuro”.
O autor (apud Duque, 2001, p. 39) ressalta ainda que a competência desse estoque de informações para
produzir conhecimento apenas “se efetiva a partir de uma ação de comunicação consentida entre a fonte (os
estoques) e o receptor”. Portanto, o planejamento do que ensinar, como ensinar e avaliar o que foi ensinado,
integram as preocupações pela geração da informação; redução estrutural da informação para inserção na
Web; novas linguagens aplicáveis à realidade virtual; estratégias adequadas para o alcance dos objetivos de
ensino-aprendizagem e satisfação das necessidades do público-alvo (ciber-aluno).
Essa etapa é complexa, pois traduzirá a proposta educativa onde o ciber-aluno deverá estabelecer seu
processo de construção do conhecimento mediante estratégias de informação e comunicação. Indagações
como: ‘O que ensinar?’ envolve a disponibilização dos conteúdos informacionais em ambiente Web. ‘O que
ensinar?’ pressupõe a utilização de teorias de ensino-aprendizagem e técnicas didáticas para orientar e tutorar
o público-alvo da ação educativa.
Nessa etapa, a equipe de profissionais (coordenador, conteudista, revisor lingüístico, revisor pedagógico,
roteirista instrucional, webdesigner, webmaster, monitor e turtor) é intensamente atuante para construir e
gerar os conteúdos informacionais; manualizar as informações que serão disponibilizadas para diversos fins;
elaborar manuais para ciber-alunos e tutores; construir a ementa do curso; roteirizar o conteúdo educativo;
elaborar a documentação administrativa, entre outros.
Essa etapa, bem construída, irá determinar o sucesso da proposta de EAD, pois nela estão inseridos
elementos vitais para concretizar a proposta de construção do conhecimento, como demonstrada no Quadro
1.
Quadro 1 – Etapa de Planejamento
Variáveis Estratégias Plano de Curso de EAD
O que ensinar? Desenvolvimento da Informação Objetivos claros e precisos.
O que aprender? Mídias para suporte
Como ensinar? Teorias da aprendizagem Estruturação das informações de acordo
Como aprender? Técnicas didáticas com a proposta de abordagem e
disponibilização das informações.
5

Como e com quem Ciber-aluno/tutor Orientação e acompanhamento.


interagir Ciber-alunos entre si Propostas inovadoras e criativas.
Ciber-alunos e a realidade
em que estão inseridos
Como promover a Atividades interativas Atividades de integração e interação com o
inclusão digital e Chats, sites, links meio-ambiente, comunidade e espaço
social? Visitas às comunidades periféricas geográfico mais amplo.

Como avaliar? Avaliação de resultados Coleta de dados e informações sobre EAD


Avaliação de reação com propostas de correção de rumo e
Avaliação de custo-benefício adequação as expectativas do público-alvo.
Avaliação de Investimentos
Fonte: Duque (2007)

A estruturação desta etapa engloba, em sua totalidade, as ações de construção do Plano de Curso, de
acordo com as orientações técnico-pedagógicas de proposições similares. Esse roteiro irá determinar – ‘o
que?’ ‘como?’ ‘quando?’ ‘para quem?’ entre outros questionamentos - a proposta de disponibilização e uso
da informação para construção de novos saberes em programas de EAD via Internet.

2.3 Etapa Desenvolvimento


Nesta etapa, vários ambientes já foram desenvolvidos para abrigar as informações gestadas e recebem
uma nova identidade em ambiente virtual. A informação, nesse momento, passa a receber um tratamento
mais elaborado em seu conteúdo e forma.
Os materiais didáticos e a linguagem oral/escrita de um curso à distância em ambiente Web diferem em
muito aos utilizados em cursos presenciais.
Le Coadic (1996, p. 110) afirma “...o centro de gravidade das práticas informacionais desloca-se
inexoravelmente de um pólo constituído pelo papel para um pólo eletrônico onde o oral e o visual retornam
um lugar que o textual havia lhes tomado, deixando entrever o surgimento de uma nova cultura
informacional”. Essa cultura informacional ancorada em tecnologias digitais ainda não encontrou um ponto
comum na representação da informação para ambientes virtuais. A experiência profissional de planejamento
e gestão de cursos à distância e minha formação no campo da Ciência da Informação facilitaram a
observação da inadequação de conteúdo e forma das informações em inúmeras propostas de educação à
distância.
Figura 2 – Etapa de Desenvolvimento

Etapa Desenvolvimento

Conteúdo Forma

ƒ Unidades lógicas ƒ Modelagem


ƒ Estilo redacional ƒ Cabeçalho/ Rodapé
ƒ Redundância ƒ Estilo tipográfico
ƒ Links ƒ Comprimento e
ƒ Impressão largura das páginas
ƒ Direitos autorais ƒ Barra de
Navegação

Fonte: Duque, 2001, p. 46.


6

Os segmentos Conteúdo e Forma que integram esta etapa foram baseados nos estudos de Horton (2000).
No segmento Conteúdo, as falhas mais comuns na construção de conteúdos informacionais detectadas
referem-se à:
ƒ construção inadequada de unidades lógicas dos conteúdos informacionais, com textos longos e
desnecessários;
ƒ estilo redacional próprio para textos de livros sem se ater a diálogos interativos e tramtamento
mais pessoal e cúmplice com o ciber-aluno.
ƒ redundância na proposições apresentadas no texto;
ƒ ausência ou abundância de links que comprometem o foco da aprendizagem;
ƒ impressão gráfica de textos para os alunos como mera cópia das telas das aulas;
ƒ descuido ou desconhecimento no uso da legislação de Direitos Autorais (9.610/98).
O segmento forma apresenta o primeiro impacto junto ao ciber-aluno. Seu contato inicial com as
informações do curso à distância via Internet se efetiva pelo sentido da visão e, portanto, exige dos
profissionais de webdesign sensibilidade, ousadia, harmonia, criatividade, para determinar o visual gráfico.
Segundo Duque (2001, p. 53) “O primeiro passo ao criar um curso é decidir o seu desenho gráfico, que tem
duas funções básicas: ‘encantar’ o público-alvo (ciber-aluno) e, uma vez capturada sua atenção, ajudá-lo a
percorrer o caminho da informação”.
Cohen (apud Duque, 2001, p. 53) afirma que as leis da percepção visual não podem ser negligenciadas
pelos planejadores dos serviços de informação online, que devem conhecer e dominar os processos de
identificação, integração e de memorização da informação. A autora reforça a necessidade de observância
dos princípios ergonômicos em razão da estrutura complexa dos documentos eletrônicos e das modalidades
específicas de navegação e de leitura na tela do computador.
Cohen (2000, p. 192) descreve as leis da proximidade e da similitude, que ocupam um papel importante
na organização visual da informação. A lei da proximidade relaciona-se aos fenômenos de categorização e
garante instantânea percepção da estrutura: o olho tende a agrupar os elementos que são próximos. A lei da
similitude acelera os processos de identificação e integração da informação: o olho tende a reagrupar dentro
do campo visual, os elementos que apresentam as características comuns de luminosidade, de talho e de
forma.

2.4 Etapa Implementação


Nessa etapa constituiu-se a ação mais esperada pela equipe, pois o sucesso dela sinalizará o sucesso das
demais. Rodrigues (2001) utiliza o conceito de ‘implementação’ do vocábulo inglês delivery (Moore, 1996,
Willis, 1996) como “significando o curso propriamente dito, as aulas, os trabalhos, a apropriação do
conhecimento, os seminários, as estruturas de suporte aos alunos, as interações, as aplicações dos testes”.
Após a modelagem e roteirização de cursos à distância via Internet o primeiro teste de aplicabilidade dos
cursos deve ser antecedido de algumas ações para orientar o gerenciamento do curso.
Clark (2001) apresenta algumas considerações sobre esta etapa com “lembretes” para orientar o
gerenciamento do curso:
• Descrição clara e completa do curso.
• Descrição da população alvo.
• Instruções para administração do curso.
• Instruções para correção e pontuação de testes.
• Instruções para assistência e avaliação de alunos.
• Lista de todas as tarefas a serem realizadas.
• Mapa ou seqüência do curso.
• Programa do curso.
• Cópia de todo o material do curso.
Segundo Duque (2001, p. 65), a área administrativa do programa também deve atuar antecipadamente
para garantir o sucesso da iniciativa, conforme a seguir:
• Treinamento de tutores/monitores para atuarem como orientadores e incentivadores do ciber-aluno,
na proposta de construção do conhecimento.
• Edição dos manuais do ciber-aluno, com informações sobre o calendário escolar; pré-requisitos;
programa de curso; técnicas de nivelamento; comportamento requerido (netiqueta); tempo e esforço
7

requerido (gerenciamento do tempo); atividades presenciais obrigatórias; atividades de


interação/socialização e os resultados de aprendizagem necessários para o alcance dos objetivos
instrucionais.
• Edição de tabelas para registro, controle, acompanhamento e avaliação de ensino aprendizagem.
Confecção e registro de diplomas/certificados.
• Edição do manual do tutor e do monitor, com descrição de seus papéis, calendário de atividades
síncronas/assíncronas. Gerenciamento do tempo e disponibilidade para atendimento individual ou de
grupos.
• Edição de manual de suporte e manutenção do hardware e do software e aplicativos, para inclusive
permitir ao tutor apresentar soluções rápidas para problemas de fácil solução, como: comando que
não obedece; congelamento de página na tela do computador; download inoperante, páginas fora de
seqüência, links que não funcionam.
• Providências para efetivação dos testes de hardware e software e para o registro/autorização do curso
junto aos órgãos competentes.
• Revisão de todas as etapas da elaboração de cursos à distância via Internet, efetuada através de
checklist, comparando os indicadores de qualidade com a proposta do curso. Deve-se dar especial
ênfase à parte de imagem gráfica e demais componentes da etapa Desenvolvimento.
• Envio de e-mail de boas-vindas aos ciber-alunos. (tutor)
• Elaboração de tabelas de acompanhamento do desempenho dos ciber-alunos. (monitor)
Com esse roteiro encerram-se as ações de implementação dos cursos à distância via Internet. A
atuação dos tutores durante o programa deve facilitar e favorecer a construção de saberes, conforme
corrobora Lévy (1999, p.171) “O professor torna-se um animador da inteligência coletiva dos grupos que
estão a seu encargo. Sua atividade está centrada no acompanhamento e na gestão das aprendizagens: o
incitamento à troca dos saberes, a mediação relacional e simbólica, a pilotagem personalizada dos
percursos de aprendizagem etc.”

2.5 Etapa Avaliação de Processo


Esta etapa é considerada a última no processo de modelagem de cursos à distância via Internet. Embora
tenha sido planejada anteriormente à implantação dos cursos, ela ganha realce durante e após o término das
atividades, ocasião em que é retroalimentada de informações pelo desenrolar de todas as etapas.
A Avaliação consiste em uma reflexão crítica de todo o desenrolar do curso e tem o propósito de
comparar o que foi proposto e o que realmente foi alcançado. As informações oriundas dessas observações de
caráter avaliativo devem conduzir à adoção de ações que irão corrigir os erros de percurso.
Segundo Duque (2001, p. 67) “o diagnóstico, planejamento, desenvolvimento e implementação de cursos
à distância via Internet não podem ser considerados como adequados e prontos para repetição em períodos
subseqüentes sem que haja uma reavaliação dos ambientes externo, computacional e da determinação do
perfil do público-alvo. [...] A posição de analisar, refletir e agir torna os conteúdos informacionais mais
dinâmicos e afinados com a realidade”.
O processo de Avaliação de um curso à distância via internet deve envolver todo o trânsito informacional
em seus vários níveis de disponibilização e uso.
Segundo Lancaster (1993, p. 121), existem quatro níveis possíveis no qual a avaliação de um serviço de
informação, no caso cursos à distância, pode ser realizada:
• Avaliação de eficácia que objetiva avaliar se os serviços prestados satisfazem as necessidades de
informação de seus usuários. Esta avaliação pode ser objetiva e quantitativa.
• Avaliação de benefícios que busca identificar como os usuários foram beneficiados com o serviço. É
uma avaliação com tendências subjetivas.
• Avaliação da eficácia de custos que objetiva medir os custos do serviço.
• Avaliação da relação custo-benefício que relaciona os custos de fornecer algum serviço aos
benefícios de ter um serviço. Segundo o autor, este nível de avaliação é usualmente difícil de se
utilizar por causa dos problemas envolvidos na tentativa de determinar valor monetário real à
informação.
8

O fluxo da informação de um curso à distância via Internet demonstrado na FIG. 3 mostra a importância
das inter-relações entre cenários/ambientes e as etapas da modelagem de cursos à distância via Internet.

FIGURA 3 - Fluxo da Informação x etapas da modelagem x equipe responsável

Cenários

Diagnóstico Tomada de
Decisão

Ambientes

Público-alvo Externo Computacional

Planejamento – Plano de Curso

Objetivos Conteúdos Estratégias Avaliação

Desenvolvimento

Conteúdo Forma

Implementação

Avaliação de Processo

Coordenador/Administrador do ambiente
Conteudista/Designer Instrucional/Tutor/Monitor
Conteudista/Designer Instrucional/Webdesigner/Profissional de Informática
Equipe de profissionais
Equipe de profissionais
Fonte: Duque, 2001, p. 69.
9

3. CONCLUSÃO
A proposta de modelagem de cursos à distância via Internet, calcada em estudos que integram a minha
dissertação de mestrado, pode facilitar uma reflexão mais crítica e objetiva das etapas que integram a referida
abordagem.
Uma análise mais acurada do processo de construção de cursos a distância via Internet evidencia vários
indicadores que tornam ideal essa modalidade de ensino, em contraponto com a educação formal, guardadas
as devidas proporções.
A educação tradicional tem a seu favor a consolidação de suas técnicas pedagógicas e materias didáticos.
Já a educação à distância ancorada na plataforma Web, carece de nova visão técnico-pedagógica, novo
modelo de professor-tutor e novos materiais para novas mídias.
Os estudo da modelagem por si só é autoexplicativo pela sua abordagem roteirizada e pretende facilitar a
construção de cursos à distância via Internet de acordo com os pressupostos de ensino-aprendizagem em
ambiente Web.
Utilizar a roteirização da modelagem significa ‘aprender a fazer, fazendo’, aproveitando as oportunidades
para beneficiar-se dos estudos anteriormente elaborados.
Segundo Delors (1999) “Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o
acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa conceber a educação
como um todo. Esta perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da
elaboração de programas como da definição de novas políticas pedagógicas”.
A proposta apresentada neste estudo deve contribuir para formalizar as políticas públicas de e-gov no
setor de educação à distância via Internet, pois explora estratégias de construção e modelagem aplicadas a
essa modalidade de ensino.

REFERÊNCIAS
BARRETO, Aldo de Albuquerque (1999). Informação, comunicação e conhecimento. URL [on
line]:http://www.alternex.com.br/~aldoibict/reco/aula1/aula1.htm. Acesso em: 22 de março 2001.

COHEN, Joelle (2000). L’écran efficace: trois lois fondamentales de la perception visuelle. Documentaliste – Sciences
de L’information , v.37, n. 3-4.

DELORS, J. et al (1998). Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre
Educação para o século XXI. Cortez , São Paulo.

DUQUE, Andréa Paula Osório (2001). Modelagem de cursos à distância via Internet: à luz da Ciência da Informação.
Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - UFRJ/ECO-MCT/IBICT, Rio de Janeiro.

HORTON, Sarah (2000). Web teaching guide: a practical approach to creating course web site.Yale University Press,
New Haven.

LANCASTER, F.Wilfrid (1996). Avaliação de serviços de biblioteca. Briquet de Lemos Livros, Brasília, DF.

LE COADIC, Yves-François (1996). A ciência da informação. Briquet de Lemos Livros , Brasília.

LÉVY, Pierre (1999). Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Ed. 34, São Paulo.

MORIN, Edgar (2001). A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro.

RODRIGUES, Rosângela Schwarz (1998). Modelo da avaliação para cursos no ensino a distância: estrutura, aplicação e
avaliação. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, Santa Catarina.
10

WEISSMAN, Herman M. (1972) Information systems, services and centers. Willey-Becker-Hayes Publications, New
York: Washington.

WILLIAMS, Pryia (2001). How to develop an online course. URL [on line]:
http://www.stylusinc.com/online_course/tutorial/process.htm. Acesso em: 12 de setembro de 2007.

WILLIS, Barry (1993). Distance education: a practical guide. Englewood Cliffs, NJ: Educational.
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: UMA ABORDAGEM À
LUZ DA MUDANÇA CULTURAL

Rosana Rosa Silveira (UFSC/EGC) rosanarsil@yahoo.com.br


Nilo Otani (UFSC/EGC) ni_otani@yahoo.com.br
Ana Maria Bencciveni Franzoni (UFSC/EGC) afranzoni@egc.ufsc.br
Angela Regina Heinzen Amin Helou (UFSC/EGC) angela.amin@uol.com.br
Pedro Antônio de Melo (UFSC/CAD) pedromelo@cse.ufsc.br

RESUMO
O propósito deste ensaio é discutir as possibilidades de desenvolvimento em ambientes virtuais de aprendizagem, mais
especificamente a Educação a Distância, que propicie a construção do conhecimento de modo interativo, estudos
realizados indicam a necessidade de criação desses ambientes. A finalidade é utilizar estratégias que despertem a atenção
dos alunos para o processo ensino-aprendizagem e desenvolvam suas habilidades e, sobretudo, a capacidade de análise.
Este trabalho fundamenta-se nas mudanças culturais relativas à Educação a Distância, buscando discutir o surgimento de
um novo paradigma para esta modalidade de ensino. Metodologicamente caracteriza-se bibliográfica, exploratória e
qualitativa. A opção por tal procedimento é consoante ao objetivo proposto, ou seja, discutir a educação a distância (EaD)
sob o foco de uma abordagem à luz da mudança cultural.

PALAVRAS-CHAVE
Palavras-chave: Paradigma; Mudança Cultura; Educação a Distância.

1. INTRODUÇÃO
Nas duas últimas décadas, a educação a distância - EAD tem crescido de forma exponencial,
apresentando uma gama expressiva de interessados sobre essa modalidade de ensino. Tal interesse é
demonstrado em virtude do avanço das novas tecnologias, sobretudo, oriundas de espaços virtuais da internet
(PETERS, 2003; SILVA, 2003).
Em linhas gerais, as pessoas têm buscado essa nova concepção pedagógica a fim de realizar experimentos
e compreender o processo de ensino-aprendizagem no tocante à referida metodologia objetivando uma maior
interatividade dos programas disponibilizados nas diversas mídias. A incorporação dessas inovações
tecnológicas acaba provocando modificações nas formas tradicionais de gestão educacional,
indica, portanto, que há uma nova dinâmica sendo operacionalizado no interior das organizações.
Frente a isso, sabe-se que o número de instituições de ensino que atuam com a educação a distância vem
se expandindo para as esferas pública e privada. Assim, têm-se conhecimento também do aumento da
realização de pesquisas, programas, cursos e eventos científicos nesta área (SILVA, 2003). Dentro desse teor,
pode-se dizer que diversas investigações, abordagens, perspectivas e análises vêm sendo elaboradas por
pesquisadores e cientistas de inúmeras áreas do conhecimento para estudar e interpretar tal modalidade de
ensino.
Com base nestas questões, pode-se afirmar que este crescimento tem contribuído significativamente para
a o desenvolvimento de um paradigma educacional voltado à um nova cultura, propiciando o surgimento de
novos valores e princípios. Ou seja, novos significados estão sendo entendidos e assimilados pela sociedade,
em termos de se criar uma cultura e ascendência desta modalidade de ensino. Esses novos significados e
interpretações costumam formar novos padrões simbólicos, como, por exemplo, as normas, os valores e as
crenças (SMIRCICH, 1983). Dessa forma entende-se que, em decorrência do que foi exposto, as pessoas
podem optar por outros tipos de ensino-aprendizagem. Essas são questões mais subjetivas e abrangentes que
merecem um olhar mais acurado, em especial com o advento de um novo paradigma.

2. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
A pesquisa corresponde a um procedimento intelectual cujo objetivo é buscar conhecimentos acerca de
uma realidade, um fato ou problema; é realizada por meio de uma investigação (FACHIN, 2003).
Pensando nisso e com a finalidade de se atingir o objetivo pretendido e obter as informações desejadas,
caracterizou-se a presente pesquisa como sendo do tipo: bibliográfica, exploratória e qualitativa. A opção por
tal procedimento foi entrar em consonância com o objetivo proposto nesta pesquisa, ou seja, discutir a
educação a distância - EAD sob o foco de uma abordagem à luz da mudança cultural.
Para Gil (1994), a pesquisa bibliográfica desenvolve-se a partir de material já elaborado, sobretudo aquele
já consolidado em livros e artigos científicos. No entendimento de Fachin (2003), ela objetiva conduzir o
pesquisador a determinado assunto favorecendo-lhe na condução da produção, armazenamento, reprodução e
utilização dos materiais coletados para o desempenho da pesquisa. A pesquisa bibliográfica tem como meta
nortear a fundamentação teórica do estudo em curso.
A pesquisa exploratória, conforme esclarecem Santos (1999) e Gil (1994), por meio dela procura-se
aproximar-se de um tema com o propósito de criar uma relação de familiaridade com um fenômeno ou fato.
Desse modo, explorar pode significar novas fontes de informação visando-se esclarecer conceitos e idéias.
Esse tipo de pesquisa gera uma visão aproximativa a respeito de uma determinada realidade.
Segundo Costa (2001), na pesquisa qualitativa valorizam-se a experiência e a sensibilidade do
pesquisador. Nessa abordagem, geralmente procura-se saber o “quê” dos fenômenos, como significados,
crenças, valores e os motivos que desencadearam ou influenciaram uma situação. O pesquisador colhe
informações e examina cuidadosamente cada caso em separado e tenta construir um panorama da situação.

3. NOVOS PARADIGMAS
Kuhn (2000) atribui ao termo paradigma: padrões, crenças e valores que se tem na mente
humana. Os citados elementos alicerçam-se em experiências passadas e orientam as questões do
presente.
A esse respeito, o referido autor argumenta que, no momento em que ocorre uma ruptura
nesses elementos básicos ocasionados normalmente por uma crise aguda ou revoluções
científicas, elas acabam provocando profundas implicações, não somente para a ciência, mas
também, para toda a natureza humana. Esse período é conhecido como pré e pós-paradigmático.
Em conseqüência, surgem novos fatos, novas teorias, novos métodos, novos conhecimentos e
uma nova compreensão da vida em todos os níveis. Da mesma forma, nesse mesmo intervalo de
tempo, há uma possibilidade de reavaliarem-se os fatos anteriores.
Na realidade, os paradigmas servem para referendar uma determinada fase da história da
humanidade, por conseguinte, passam por transformações de tempos em tempos. Para se entender
a transição de um paradigma para outro, é indispensável algumas reflexões acerca do tema. Essas
interpretações têm como intuito explicar a história da mudança que tem permeado as
organizações.
Convém esclarecer que o arcabouço conceitual que predominou, principalmente, no campo da
ciência no século XVII foi o velho paradigma newtoniano-cartesiano. Sua concepção focaliza-se
dentro de uma noção mecânica e reducionista, ou seja, apresenta como elementos centrais os
seguintes aspectos: visão fragmentada da realidade, ênfase nas partes e obsessão com a
quantificação.
Na concepção de Capra (1997); Nóbrega (1996); Vergara e Branco (1993), as leis fundamentam-se nas
ciências exatas, cuja previsibilidade, certeza e estabilidade determinam à natureza do ambiente. Os valores se
alicerçam no antropocentrismo e a interpretação dos fenômenos baseia-se numa análise racional e
linear preocupando-se apenas com a causa e o efeito. Os principais expoentes desse paradigma são: Bacon,
Descartes e Newton.
Essa visão fragmentada influenciou a mentalidade de toda uma sociedade, sobretudo no seu
sistema de valores e crenças, e vem dominando a cultura vigente, há mais de trezentos anos. Sob
esta égide, o velho paradigma reducionista baseado no modelo newtoniano-cartesiano moldou a
organização do tipo burocrática, segundo os princípios mecânicos.
Morgan (1996) argumenta que as organizações mecanicistas funcionam bem somente sob a
condição de que as máquinas também funcionem bem. Em outros termos, quando o ambiente era
estável e o trabalho, definido, mediante rotinas predefinidas e repetitivas, estabeleciam-se acordos
rígidos e um estreito controle. Enfim, o trabalho era concebido a partir de um mesmo produto e de
forma sempre contínua.
De acordo com Morgan (1996), um ponto limitante, que se torna cada vez mais evidente nos
dias de hoje, é que esse tipo de organização mecanicista dificulta a sua adaptabilidade,
principalmente em se tratando das grandes mudanças que estão ocorrendo na conjuntura atual.
Ela cria um efeito desumanizante sobre as pessoas reduzindo-as a meros objetos. Tal modelo de
organização não proporciona um ambiente favorável à criatividade, a inovação, ao diálogo e a
aprendizagem.
Torna-se mister destacar que na modernidade, porém, há uma nova compreensão científica da vida, cuja
realidade se apresenta de forma diferente em todas as esferas. As novas concepções têm gerado uma
mudança profunda de mentalidade. Nesse sentido, Ferguson (1997, p. 23) declara que “mais ampla do que
uma reforma, mais profunda do que uma revolução, essa conspiração benigna a favor de uma nova ordem
deflagrou o mais rápido realinhamento cultural da História”. Então, uma nova mentalidade acaba
gerando novas perspectivas, e essas, por sua vez, criam novas épocas históricas com novos
paradigmas.
A esse respeito, Capra (1997, p. 25) esclarece que o novo paradigma emergente requer uma
expansão, não apenas das percepções e da forma de pensar, mas também dos seus valores. Esses
valores têm guiado a transição de uma mudança profunda: da concepção mecanicista para uma
concepção holística ou ecológica.
O novo paradigma, denominado por Capra (1997) de ecológico, estabelece uma nova estrutura
conceitual, cuja base se alicerça numa nova concepção do universo.
Nesses termos, torna-se importante enfatizar que as mudanças organizacionais estão sendo
realizadas para se adaptarem a este novo paradigma ecológico, do qual elas participam e sobre o
qual também exercem influência.
A partir desse enfoque, a seguir será discutido brevemente quanto a respeito da relevância de
se implementar uma mudança cultural direcionada a uma nova modalidade de ensino, com novos
valores e novos padrões.

4. MUDANÇA CULTURAL
O mundo está mudando e numa intensidade surpreendente, que não se tem tempo para
planejar, experimentar e seguir às exigências da realidade. Essa assertiva, mais ou menos
consensual, parece óbvia e tautológica. Motta diz (1999, p. xiii) que “a mudança aparece não só
como inevitável, mas necessária à sobrevivência”. A grande preocupação do momento é a
possibilidade do ser humano controlar o processo de mudança. Reações e transações mútuas estão
ocorrendo diretamente entre as organizações e o meio ambiente social.
Diante dessas circunstâncias ambientais, Bassi (1997) opina que elas podem provocar
mudanças nas organizações. O autor atribui ao fenômeno da globalização o principal agente de
mudanças que têm afetado as estruturas empresariais. O argumento básico de sua retórica
consiste em afirmar que a gênese da globalização expressa um movimento que ultrapassa
domínios territoriais, ocasionando um processo de integração mundial.
Arruda Júnior e Ramos (1998, p. 19), nessa mesma direção, alegam que, ao se considerar a dimensão do
fenômeno, percebe-se que ele não explicita um sentido único e unívoco, pelo contrário, quando se refere aos
aspectos da mudança profunda, tal fenômeno traz em seu bojo resultados evidentes. Assim, pode-se dizer que
a globalização representa uma mudança social mundial, que pressupõe uma revolução cultural sem
precedentes.
À medida que evoluem as organizações, a mudança cultural passa a ser essencial para todas as
organizações, especialmente quanto à implantação de uma cultura sólida e saudável, para
transformar-se em uma entidade bem-sucedida e competitiva. Dessa maneira, uma empresa com
um trabalho de equipe composta por um quadro de funcionários que cooperam entre si, com forte
capacidade de liderança e um processo de melhoria contínua com relação ao atendimento ao
cliente, alcançará os seus objetivos mais rapidamente (ATKINSON, 2000).
O autor salienta que para se criar ou moldar uma nova cultura positiva, faz-se necessário ter um
projeto envolvendo um planejamento, o qual se dá início com o enfrentamento dos problemas-
chaves com que se deparam muitas organizações e também uma dose de entusiasmo. Além disso,
ele também ressalta a importância de se olhar para trás e procurar entender as causas do fracasso,
pois tal procedimento auxiliará a implantar-se uma mudança cultural sem cometer os mesmos erros
anteriores.
Schein (1992) assinala que a cultura no universo organizacional pode apresentar diferentes
possibilidades de mudança, em razão de que ela constitui-se de diferentes estágios de evolução.
Em contradição a esse pensamento, Meyerson e Martin, citado por Donato (1996), afirmam que,
pelo fato da cultura organizacional se construir socialmente dentro de uma realidade específica, a
mudança cultural vai depender de que maneira se define e se interpreta a cultura.
Para Fleury (1993), três tipos de mudanças culturais podem ocorrer na organização, são eles: a
mudança aparente, a revolução cultural e o incrementalismo cultural. A primeira corresponde a
manter-se a cultura da organização, mesmo diante de alguma mudança. A segunda implica uma
característica diferente da primeira, isto é, indica uma situação em que os novos valores
incorporados passam a ser antagônicos aos anteriores, daí então, instala-se um quadro de
resistência a mudanças. No último caso, os valores propostos complementam-se aos existentes.
Na opinião de Fleury (1993), forças internas e externas podem provocar mudanças nos
padrões vigentes.
Ao referir-se ainda às forças externas e internas ocasionadas pelas mudanças culturais,
Megginson et al. (1998) argumentam que, para que a organização possa sobreviver no seu ambiente
operacional, ela deverá obrigatoriamente desenvolver a capacidade de se adaptar às diversas
mudanças. Os autores alegam também que os fatos que induzem a um processo de mudança cultural
podem ter diversas causas, dentre elas, oriundas de forças externas quanto internas.
Conforme os autores, as forças externas podem produzir um impacto maior na organização, visto que é
demasiadamente complexo e dificultoso para os gestores controlarem os inúmeros fatores ou processos que
se produzem no ambiente, principalmente aqueles ocasionados pelo ambiente externo.
No tocante ao ambiente interno, as mudanças podem ser atribuídas à elaboração de novos objetivos
organizacionais, às novas diretrizes, novas tecnologias, novas atitudes e mudanças culturais. É pertinente
lembrar que os valores que constituem a cultura da organização são formados tanto pelos valores normativos
adquiridos pelas pessoas mediante o processo de socialização, quanto pelos valores sociais transmitidos pelo
ambiente social externo à organização.
Motta (1999) esclarece que a mudança ameaça a cultura organizacional, mais especificamente os valores,
as concepções e a forma de agir dos indivíduos. Uma nova ordem questiona e obriga as pessoas a reavaliarem
seus próprios valores, comportamentos, atitudes e condições de trabalho.
A mudança e a inovação consistem essencialmente num processo social e cultural, com relação a isso,
kovács (apud GUIMARÃES, 1992, p.2) relata que a inovação sócio-organizacional “pressupõe novas
concepções sobre a organização que rompem com os padrões tradicionais”. Nesses termos, modificarem
produtos, serviços, tecnologias ou organogramas pode significar uma agressão ao sistema de valores
existente na organização e ao sistema cultural.
Acreditar na existência de uma cultura organizacional é aceitar a existência de características que lhe são
inerentes e diferenciadoras. Nessa concepção, se o contexto cultural do universo organizacional é único, o
processo de mudança e a inovação tendenciam a ser o mesmo. A mudança é mais um processo cultural do
que tecnológico, portanto, exige atenção aos reais significados e símbolos relacionados aos processos de
produção. Motta (1999, p. 210) acrescenta que “a cultura organizacional já define previamente as condições
favoráveis ou desfavoráveis à mudança”.
Dentro dessa perspectiva, Freitas (1991) compreende a mudança cultural como sendo uma nova maneira
de fazer as coisas. Essa mudança baseia-se em novos valores e novos rituais. Todavia, é importante
mencionar que, quanto mais forte e conservadora a cultura organizacional, maior a possibilidade de
resistência à mudança e, por sua vez, maior a dificuldade em se implantá-la na instituição.
Uma cultura forte pode trazer como conseqüência um maior comprometimento e senso comum da missão
aos empregados, bem como tornar mais intensos bons hábitos de trabalho para elevar a produtividade e
atender melhor os clientes. Porém, pelo fato de representarem uma cultura mais sólida, é mais difícil de
mudá-la. Culturas que estão sendo formadas ou culturas fracas são mais facilmente capazes de mudar.
Ferro (1991), complementando as idéias de Freitas (1991), assevera que, para que a cultura existente no
âmbito organizacional seja eficiente diante das constantes mudanças ambientais é indispensável levar-se em
consideração o seguinte aspecto: a atividade humana deve ser proativa e focalizada na resolução dos
problemas mediante a cooperação, confiança e ajuda de todos os colaboradores da organização em direção a
um futuro próximo. Também é importante visualizar o ambiente como sendo administrável e controlável.
O autor acrescenta ainda que a verdade deve ser alcançada por meio de formas pragmáticas. Já em relação
ao pensamento integrativo, ele destaca que esse pensamento deve prevalecer no ambiente organizacional,
opondo-se à segmentação das ações e dos problemas. As ações e decisões precisam ser combinadas em
conjunto. E, por último, ele aponta a relevância dos agentes inovadores na organização, os quais necessitam
encorajar e reforçar a capacidade de inovação para se criar uma nova cultura com novos valores
organizacionais.
Na opinião de Peters (2003), os agentes inovadores devem aproveitar cada oportunidade nova que surge
transmitindo crenças profundas e apaixonadas voltadas à inovação organizacional. O essencial é utilizar o
poder das idéias criativas para prosperar em meio à mudança. Buscar algo melhor e contínuo através daquilo
que a maioria deixa passar despercebido.
Logo, se a organização deseja melhorar seu desempenho atendendo as novas perspectivas do mercado
financeiro, ser flexível e inovadora, então, ela precisa rever seus padrões, estilos de comportamento, crenças
mais profundas, valores compartilhados e pressuposições adquiridas ao longo de sua história, apesar de serem
difíceis de mudar. As culturas bem-sucedidas estão procurando se adaptar as novas circunstâncias concretas
da realidade visando melhor competirem com novos produtos, novos serviços e um novo conjunto de valores
organizacionais. Nesse sentido, aliada a globalização está se buscando uma nova abordagem ou novo
paradigma para a educação.
De acordo com esse contexto, a educação a distância veio para promover a mudança cultural no que se
refere ao ensino-aprendizagem.

5. EDUCAÇÃO A DISTANCIA (EaD)


A modalidade EAD de ensino vem se desenvolvendo há mais de dois séculos mediante os cursos por
correspondência, todavia, recebeu grande impulso nas últimas décadas, mais precisamente em 1969, pelo
desenvolvimento, na Inglaterra, da Open University (OLIVEIRA, 2003). Semelhante ao sistema
convencional de ensino, a EAD surgiu com o intuito de transmitir cursos via televisão, isto é, programas de
teleducação que passaram a estar disponíveis em canais livres. Sua pretensão inicial era atender um número
expressivo de alunos com menor custo.
Nessa mesma linha de raciocínio, Lévy (1988) menciona que desde os tempos mais remotos, por meio
das técnicas de comunicação, o homem vem empregando educação a distância, uma vez que sempre existiu a
transmissão do conhecimento entre a humanidade. Este se propagou através do tambor, dos gestos, do som da
voz, da escrita, entre outros meios. Portanto, a EAD não é um fenômeno contemporâneo.
Visando clarificar seu conceito, sabe-se, a priori, que o termo referia-se à distância física entre alunos e
professores desconsiderando o tempo e o lugar, cujos métodos se sustentavam na interação e na mentalidade
pró-ativa. Impressos ou eletrônicos eram os meios utilizados.
Já na década de 90 em diante, adiciona-se o uso das novas tecnologias de informação e comunicação para
originar a interatividade e colaboração professores-alunos.
Corroborando a essa idéia, Urdan e Weggen (2000, p. 88) registram que a EAD ocorre em “locais
remotos via meios de comunicação síncrono ou assíncrono, incluindo correspondência escrita, textos,
gráficos, áudio e videotape, CD-ROM, aprendizado online, áudio e videoconferências, TV interativa e fax”.
Na visão de Pedroso (2006, p. 55), “a educação a distância articula as novas tecnologias da comunicação
e informação a um modelo educacional que pressupõe a distância física do aluno e a diversidade tempo”.
Esses elementos são estruturados a um modelo pedagógico que se utiliza de diversas mídias; possui o apoio
de uma equipe técnica como também pedagógica.
O Ministério da Educação (2005) define a educação a distância como uma modalidade educacional cuja
intervenção didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e
tecnologias de informação e comunicação. Os estudantes e professores desenvolvem atividades educativas ou
trabalhos específicos em lugares ou tempos diversos. Essa definição está expressa no Decreto 5.622, de
19.12.2005 (que revoga o Decreto 2.494/98 e regulamenta o Art. 80 da Lei 9394/96 - LDB).
Nesse sentido, a nova Lei de Diretrizes e Bases – Lei n° 9.394 de 1996, no seu art. 80, determina que o
Poder Público deve incentivar o desenvolvimento de programas de ensino a distância, em todos os níveis e
modalidades, até mesmo de formação continuada. Veja-se que a expansão da EAD é de interesse do Estado.
A ele interessa desenvolver o ensino superior para todas as regiões do país. A EAD representa uma nova
oportunidade para as universidades no atendimento de demandas que necessitam quebrar barreiras
geográficas, sociais, culturais e temporais. Atende uma população desordenada que, de outra maneira, não
teria acesso à educação; incitando-a a ser sujeito de sua própria aprendizagem.
O ensino na modalidade de EAD está suscitando uma nova visão pedagógica. A intenção é re-significar o
fazer pedagógico; popularizar o acesso à educação; gerar um ensino de qualidade e inovador; enfim, busca-se
corroborar para uma aprendizagem autônoma e permanente (MORAN, 1993).
Essa nova modalidade de ensino está reformulando também as necessidades, as expectativas e as
oportunidades educacionais e de aprendizado (URDAN; WEGGEN, 2000).
Porém, não necessariamente a EAD requer ao mesmo tempo a interação entre professor e aluno haja vista
seu aspecto ser auto-instrutivo. Normalmente, os materiais que são comumente utilizados são produzidos
previamente; isto facilita o estudo individual e serve como organização de apoio. Vale lembrar que esses
materiais necessitam estar em consonância com as aulas virtuais, seus objetivos e seu público-alvo.
Nessa perspectiva, os principais recursos didáticos que estão sendo utilizados para a EAD são: material
impresso, TV, vídeo, DVD, teleconferência, videoconferência, telefone, fax, computador, entre outras
mídias.
Rominszowski (2007) chama a atenção para a montagem dos cursos a distância. Para o autor, essa
montagem responde a sistemas que apresentam problemas complexos e probabilísticos, pois visa atender as
dificuldades dessa nova era. Tais dificuldades estão levando as organizações a desempenharem diversas
mudanças estruturais e culturais.
Diante das referidas mudanças, a educação a distância está vindo à tona nas organizações como um dos
principais recursos destinados para treinamento e aprendizagem dos colaboradores. (DE LUCA, 2002;
GUEDINE; TESTA; FREITAS, 2002).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como atividade humana não é possível desconsiderar a EAD dos aspectos culturais. Sob a perspectiva de
um novo paradigma cultural, ela representa uma nova forma de se transmitir o conhecimento, e assem, os
meios de comunicação de massa têm se apropriado de tecnologias sofisticadas propiciando a instauração de
um novo estilo cognitivo. Desse modo, com base na pesquisa bibliográfica, pode-se sugerir que ela se
encaixa dentro de um novo paradigma na educação.
De certa maneira, ela está alterando a forma de transmissão do conhecimento instigando a uma mudança
cultural. São transformações que estão ocorrendo no processo educacional ocasionadas pela expansão das
ferramentas computacionais e impostas pela informatização. Mesmo assim, é importante enfatizar que, com o
emprego de novas tecnologias na educação, ainda se percebe que há certa reserva com a adoção desse
procedimento.
Uma das metas da EAD é nortear a ação educativa por meio da melhoria de ensino, bem como difundir
conhecimentos em pontos dispersos geograficamente. Objetivando atingir esse fim, vale-se de uma
pedagogia centrada nas tecnologias possibilitando tornar o processo de ensino-aprendizagem mais interativo
e dinâmico. Conseqüentemente, novas técnicas e metodologias, como também uma nova forma de aprender
estão sendo incorporadas.
Pode-se dizer que a EAD está impondo a necessidade de quebra de paradigmas. Mas para que isso corra,
é necessário rever os padrões vigentes, principalmente aqueles oriundos do processo ensino-aprendizagem.
Logo, um ambiente virtual exige que os aprendizes sejam sujeitos ativos direcionados para a construção do
saber e empenhados em seu desenvolvimento. Desse modo, acredita-se que a aprendizagem depende da
iniciativa do aprendiz. A modalidade de EAD se apresenta como uma proposta de apoio à aprendizagem, e
talvez, no futuro, supere o paradigma educacional vigente da que existe na escola tradicional. Hoje o que se
sabe é que é possível coexistirem duas modalidades de ensino.

REFERÊNCIAS
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6, nov/dez., p. 20-33, 1993.
REDES DE INFORMAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL NA
CIDADE DE MARILIA (SP)
Plácida L. V.A.C. Santos
Unesp
Plácida@flash.tv.br

Aldinar M. Bottentuit
Unesp
Aldinar@marilia.unesp.br

Ângela Grossi
Unesp
angelgrossi@uol.com.br

Maria José V. Jorente


Unesp
mjjorente@yahoo.com.br

RESUMO

A inserção do Brasil na Sociedade da Informação, em rede, pressupõe, sobretudo, qualidade no atendimento das
necessidades e demandas de conteúdo informacional por parte dos cidadãos. Nesse sentido, é necessária uma reflexão
crítica sobre as formas pelas quais o Estado está conduzindo estratégias que promovam e garantam o acesso e o uso
qualitativo dos recursos informacionais disponíveis em rede digital. A educação do cidadão é vital para que possa
atuar e viver em condições de igualdade e de oportunidade, posto que a inclusão infodigital exija aprendizagem
contínua. Entende-se que as tecnologias de informação e comunicação (TICs) podem prestar enorme contribuição
para que os programas de infoinclusão digital ganhem maior efetividade, visibilidade e alcancem cada vez mais um
número maior de pessoas, de comunidades e de regiões. Com o objetivo de oferecer subsídios para formulação de
políticas públicas de informação e fundamentação de ações de fomento de alcance sociopolítico, na cidade de
Marília, SP, propõem-se diretrizes epistemológicas para o entendimento da informação nas diferentes formas e
suportes em que se apresenta e ações aplicativas para mapear, analisar, avaliar e participar das estratégias
desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Ensino para as escolas públicas municipais na cidade de Marilia, São
Paulo, inseridas nos programas de Infra-Estrutura Única de Comunicação (INTRAGOV)1. No processo de
construção metodológica, adota-se uma orientação epistemológica e prática. Como resultado, identifica-se a garantia
de melhores condições de desenvolvimento das competências informacionais em ambiente digital dos sujeitos
envolvidos, fato percebido no encaminhamento das atividades da oficina ”Informação e Comunicação Visual” com a
participação de 22 instrutores de ensino de informática das EMEFs. A oficina consolidou uma percepção da
necessidade da parceria que culminou com resultados mais aprimorados e expressivos de uso de informações e das
tecnologias de informática por alunos de ensino fundamental no concurso Multimídia que contou com a participação
de 19 escolas municipais de Ensino Fundamental. O resultado revela que é necessária a capacitação desses instrutores
para uma aplicação e uso estratégicos das mídias disponíveis na disseminação e uso das informações. Considera-se a
partir desses resultados uma potencialização dos estudos, das pesquisas, da produção de novos conhecimentos. Neste
sentido, o envolvimento em parcerias entre docentes e discentes da Pós-Graduação em Ciência da Informação, da
UNESP, campus Marília, técnicos e docentes das escolas municipais, contribuirá para dar visibilidade às situações
que desafiam e afetam os programas de inclusão digital na administração pública municipal; e na formação crítica e
reflexiva de profissionais para dar conta de pensar, tratar e buscar medidas de intervenção e resolução para tais
situações, conjuntamente.

PALAVRAS-CHAVE: Redes de Informação. Inclusão digital. Multiplicadores de informação. Governo eletrônico.


Tecnologia e Informação.

1
O INTRAGOV é uma infra-estrutura única de comunicação, em implantação pelo Governo de São Paulo, cujo
objetivo é melhorar a eficiência administrativa, a racionalização e a transparência na gestão dos recursos públicos,
dentro de um conceito mais abrangente de Governo Eletrônico, que consiste na utilização racional da tecnologia da
informação, proporcionando uma otimização na gestão do Estado e traduzindo-se em benefícios concretos para os
cidadãos e entidades da sociedade civil (SÃO PAULO, 2007)
1 INTRODUÇÃO

A Ciência da Informação tem buscado, com o auxílio das Tecnologias da Informação e


Comunicação (TICs)2, soluções para os problemas referentes ao uso, armazenamento, fluxo, transferência
e socialização de informação.
A discussão sobre as TICs deve partir do viés das políticas públicas e ações da sociedade civil
organizada para que possa obter sucesso. Não basta apenas o simples incentivo. São necessárias propostas
e ações para que o mundo digital não seja mais um espaço apenas para os mais abastados. É bem sabido
que “o maior acesso à informação poderá conduzir as sociedades e relações sociais mais democráticas,
mas também poderá gerar uma nova lógica de exclusão, acentuando as desigualdades e exclusões já
existentes” (TAKAHASHI, 2000, p. 7).
Uma preocupação inerente ao campo da Ciência da Informação se refere à geração e ao uso da
informação. Segundo Barreto (2005, p. 1), “a informação identifica-se com a organização de vários
sistemas de seres vivos racionais”. Para que exista o processo de transferência de informação, é
necessário que seus estoques estejam organizados, completando assim o fluxo informacional, chegando
até as pessoas.
Quando há interação com a tecnologia, ou com o suporte da informação, as pessoas realizam
reflexões e passam a buscar conceitos intimamente ligados à informação que receberam até então. Diante
desse processo, o conhecimento é estruturado por meio de um “fluxo de processos explícitos do
pensamento” (BARRETO, 2005, p. 4) e de um conjunto de manifestações tácitas, existente em cada
indivíduo racional. Barreto (2005) acredita que essas proposições podem ser aplicadas a todos os tipos de
estrutura de informação, influindo na compreensão da transformação da informação em conhecimento.
O cenário atual evidencia que o uso das tecnologias da informação e comunicação, atrelado às
metas da “sociedade da informação”3, pode ser de grande valia para o campo da Ciência da Informação,
visto que sua aplicabilidade em ambientes digitais e virtuais pode ser considerada um fator importante na
recuperação e transferência de informação, proporcionando a interatividade entre comunidades
científicas.
No Brasil, as iniciativas em torno da Sociedade da Informação têm sido coordenadas pelo
Ministério de Ciência e Tecnologia. O Programa Sociedade da Informação, Livro Verde4, foi lançado em
2000, elaborado sob o signo de cooperação entre profissionais de áreas de atuação diversa, denominado
Grupo de Implantação 5, com o objetivo de “integrar, coordenar e fomentar ações para a utilização de
tecnologias de informação e comunicação, de forma a contribuir para a inclusão social de todos os
brasileiros na nova sociedade e, ao mesmo tempo, contribuir para que a economia do País tenha
condições de competir no mercado global”.
O capítulo referente à educação busca “investir na criação de competências amplas que permite
ao cidadão ter uma atuação na produção de bens e serviços, operar com fluência nos novos meios, e
ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias” (BRASIL, 2000, p. 45).
Dois anos depois, o Livro Branco6 também referendava tais ações e prescrevia que para educar para a
Sociedade do Conhecimento era necessário: Induzir um ambiente favorável a um aprendizado
permanente; difundir a cultura científica e tecnológica na sociedade; ampliar condições de acesso e uso de
Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) para os distintos segmentos da sociedade; estimular a
utilização da TIC na universalização do acesso à educação científica e tecnológica; incentivar o
envolvimento dos meios de comunicação na cobertura dos assuntos de CT&I; contribuir para
modernizar e aperfeiçoar o ensino de ciências e; promover e apoiar a implantação de museus e exposições
de C&T. (BRASIL, 2003, p.67)
Desta maneira, entende-se que a cultura simbólica dessa sociedade implica novas formas de
aprendizagem, o que sugere a emergência de um modelo de 'sociedade' cujos veículos mais eficazes de

2
Para melhor compreensão utilizaremos ao longo do texto a abreviação TICs para nos referirmos as Tecnologias da
Informação e Comunicação.
3
Sociedade da Informação é a nomenclatura dada para os programas nacionais voltados às Tecnologias da
Informação e Comunicação como forma de garantir sua utilização e distribuição para toda a população, para
assegurar que as TICs não sejam mais um fator de exclusão social. O termo nasce em Portugal em meados da década
de 1990 e vai ganhando força em todo o mundo.
4
Disponível em: www.socinfo.gov.br
5
Grupo de Implantação constituído por profissionais do País e do Exterior, advindos de universidades, do
governo, de institutos de pesquisa e fomento, de Ongs, de empreses e que durante 13 meses elaboraram o Programa.
6
Disponível em : www.cgee.org.br/arquivos/livro_branco_cti.pdf

2
acesso são os "processos de aquisição desse conhecimento, uma vez que são as ferramentas mais
poderosas para espalhar ou distribuir socialmente essas novas formas de gestão do conhecimento"
(POZO, 2004). Taylor, no mesmo sentido aponta:

Agora, como a tecnologia digital e outros fatores fazem com da globalização extensiva
uma realidade inevitável, nós devemos encontrar novas abordagens da realidade, outras
maneiras de compreender e ensinar a equivalência da identidade cultural. […] Agora
nós devemos usar a educação para ajudar as pessoas a firmar realidades sociais que
venham de encontro às necessidade humanas de identidade, mas faze-lo sem os aspectos
danosos e destrutivos que foram parte tão freqüente das identidades que desenvolvemos
no passado. Talvez a comunicação global em escolas através de sitios da web e outros
irão prover parte da resposta. (TAYLOR, 2003, p.7)

É importante ressaltar que as políticas educacionais no Brasil têm sido marcadas por muitas
críticas, pela sua descontinuidade e descaso com a educação. Isto é comprovado pelos péssimos índices
que o país obteve nas últimas avaliações implementadas por organismos internacionais com a anuência do
Ministério da Educação. A título de ilustração apresentam-se dois indicativos que nos ajudam a mensurar
estes índices: em pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), o Brasil ficou em
último lugar entre 32 países industrializados, na avaliação sobre o letramento em leitura obtido por
jovens de 15 anos, cuja avaliação engloba à “capacidade de o jovem compreender e utilizar textos de
vários gêneros para alcançar seus objetivos, desenvolver novos conhecimentos”. E na pesquisa Retrato da
Leitura no Brasil, desenvolvida em 2001, pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), Sindicato Nacional dos
Editores de Livros (SNEL) e Associação Brasileira dos Editores de Livros (ABRELIVROS), outras
variáveis sobre a situação da leitura no país são evidenciadas, como a média de leitura do brasileiro
corresponde a 1,8 livro lido por ano, índice, que segundo a pesquisa é muito baixo, se comparado ao de
países como a França (7,0), os Estados Unidos (5,1), a Inglaterra (4,9) ou a Colômbia (2,4). (BRASIL.
MEC, 2007).
Em que pese que a taxa de alfabetismo funcional da população de 15 anos ou mais no Brasil
diminuiu de 65,3%, em 1900, para 13,6%, em 2000 conforme dados do Mapa do Alfabetismo (PNLL
<http://www.vivaleitura.com.br/pnll2/justificativa.asp>), ainda estamos longe do ideal, de prática de
leitura e escrita de qualidade, principalmente, na atualidade, onde o modo de produção do conhecimento
exige competências informacionais. Estes são alguns desafios que o Brasil tem que enfrentar para a
consolidação de uma sociedade da informação, pois é inadmissível um país conviver com tantas
desigualdades e isto nos leva a dimensionar algumas questões: Que políticas públicas de educação têm
sido efetivamente desenvolvidas no interior do Projeto Sociedade da Informação? As escolas têm
conseguido acompanhar os desafios de uma sociedade que elege a informação e o conhecimento como a
sua base de sustentação? Os/as professores/as estão sendo capacitados/as para lidar com autonomia as
tecnologias de informação em sala de aula? Como as pesquisas estão sendo desenvolvidas no interior das
bibliotecas escolares? Os/as professores/as conhecem e utilizam em suas práticas de pesquisa as fontes
eletrônicas, as bibliotecas digitais, virtuais? Que competências estão sendo exigidas dos/as alunos/as e
professores/as numa sociedade em rede, mediada por tecnologias de informação? Que práticas inclusivas
estão sendo implantadas quando se sabe que no Brasil somente 10% da população tem acesso a Internet 7?
Diante desse cenário de avanços e retrocessos, o investimento em modelos de transferência de
informação se justifica pelo fato de que “na transferência de informação tem-se a idéia de deslocamento,
uma mudança de uma área ou meio de armazenamento para outra área ou meio de armazenamento [...]
com melhor distribuição e conseqüente apropriação da informação”. (BARRETO, 2005, p. 5).
A idéia é que, apropriando-se de novos conhecimentos e ferramentas, os cidadãos possam
desenvolver uma consciência histórica, política e ética, associada a uma ação cidadã e de transformação
social, ao mesmo tempo em que se qualificam profissionalmente. Assim, com iniciativas que visem ao
uso consciente e proativo da rede, poderemos ampliar a comunidade virtual e diminuir as novas e velhas
diferenças e desigualdades sociais, permitindo às pessoas que sofrem com o apharteid digital e que estão
historicamente afastadas dos bens culturais, se inserirem de fato na sociedade da informação. Entretanto,
Taylor, no mesmo ensaio aponta que:
Se por um lado treinamentos e retreinamentos podem oferecer aos
professores visões renovadoras, isto custa muito dinheiro, tanto em termos de
tempo dos professores quanto em salários dos treinadores.
Desafortunadamente, uma coisa que apreendemos desde 1980 é que as
escolas e instituições educacionais são geralmente relutantes em avalizar tais
custos, particularmente para qualquer forma de retreinamento periódico que

7
Dados do IBGE e Comitê Gestor da Intenet. Disponível em :

3
não tem um fim permanente. Em retorno do seu investimento, os investidores
parecem preferir gastar em objetos físicos que eles possam enxergar
facilmente mais do que em treinamentos, cujos resultados podem ser difíceis
de acessar. (TAYLOR, 2003, p.08)

Portanto, se por um lado, essa situação de exclusão nos preocupa, por outro lado, nos anima,
sobretudo, a reverter esse quadro vislumbrando outras formas de investimento em acesso e uso das
informações disponíveis nos mais diversos ambientes, e consequentemente em desenvolvimento social,
pois um dos desafios-chave para esta sociedade diz respeito a qualidade da educação, principalmente
com a presença das novas tecnologias de informação nas instituições voltadas para o fomento do ensino,
da pesquisa e da produção de conhecimentos
Assim, busca-se desenvolver ações de inclusão digital nas escolas públicas da cidade de Marília,
Estado de São Paulo, que embora apareça nas pesquisas entre os Estados mais informatizados do país
apresenta problemas em relação à distribuição desta informatização como é o caso da cidade em que este
trabalho se insere. Constam das mesmas pesquisas, dados que testemunham uma relação de 22 PIDs para
uma população de cerca de 220.000 habitantes. Neste sentido é muito relevante aprimorar o trabalho nas
Escolas envolvidas com o Programa Infra-Estrutura Única de Comunicação (INTRAGOV), com o intuito
de se criar uma política que viabilize efetivamente a apropriação da informação por meio dos alunos do
programa governamental, melhorando assim a qualidade de vida desses cidadãos beneficiados. Portanto,
ampliar o acesso à tecnologia nas escolas, que visem a facilitar o acesso à informação e à produção do
saber, incluindo capacitação continuada dos professores para melhor aproveitamento das tecnologias de
informação e comunicação em suas salas de aulas, em sua práticas de orientação aos alunos nas buscas
de informação em bibliotecas entre outra fontes, em meio eletrônico ou digital.
Vista a complexidade do tema e para desenvolvimento do trabalho em tela, adotaram-se a
pesquisa documental e a pesquisa empírica no processo de construção metodológica, apoiando-se na
contribuição teórico-epistemológica de autores como Taylor (2003), Castells (2003), Mattellart (2002,
2005), Cohen (2007), Bernes-Lee (2007), Saracevic (1995), Robredo (2003) e Barreto (2003, 2005) entre
outros, que vêm pesquisando as questões evidenciadas aqui. Nesse caminhar, acredita-se que a sociedade
brasileira tem para si grandes desafios no que se refere a um projeto político educacional comprometido
com a qualidade de vida do cidadão/ã. Com base nesse pressuposto, é que se desenvolveu o presente
trabalho, cujo tema se insere no conjunto de discussões acerca de redes de informação, inclusão
infodigital, multiplicadores de informação, governo eletrônico, tecnologia e informação, intersemiose,
objetos de um eixo da linha de investigação Informação e Tecnologia , do Programa de Pós-graduação em
Ciência da Informação (PPGCI- FFC/UNESP).
Propõe-se também uma avaliação de conceitos-chave, compreendendo: políticas de
transferência de informação, gestão do conhecimento e da informação, competência informacional,
aprendizagem e alfabetização digital. Assim, poderemos contribuir para o processo de inclusão digital,
tornando-o reflexivo e com condições suficientes de capilarizar um grande número de pessoas e não
apenas uma casta social, que já se beneficia, historicamente, dos bens culturais, como o acesso a vários
serviços de informação.

2 PERSPECTIVA EPISTEMOLÓGICA

Pode-se dizer que a Ciência da Informação é dividida em três fases. A primeira seria o tempo da
gerência da informação, situado entre 1948 e 1980. A segunda é o tempo do conhecimento, que vai de
1980 a 1990. A partir da década de 1990 vivemos a terceira fase, o tempo da sociedade da informação.
Esta fase é marcada sistematicamente pelo desenvolvimento das TICs, pela convergência da base
tecnológica, pela agregação de vários fenômenos ligados à informação e ao conhecimento.
Ao longo do tempo, a Ciência da Informação passa a enfrentar o problema da explosão da
informação, um “[...] problema social que teve seu início com o desenvolvimento das ciências, e hoje
estende-se para todas as atividades humanas”. (SARACEVIC, 1995, p. 37).
Com o avanço das tecnologias da informação e comunicação, a valorização e disseminação da
informação e do conhecimento na sociedade da informação, a preocupação volta-se para uma melhor
distribuição do saber, sem gerar mais um tipo de exclusão, a digital.

4
O domínio das TICs pode contribuir para uma melhoria de vida do cidadão, em particular nas
atividades que têm como fundo a utilização da informação e do conhecimento. De acordo com Carvalho
(2005, p. 28),

[...] surgem duas categorias de inclusão no universo das tecnologias: digital e on-line. A
inclusão digital é assegurada pelo acesso de qualquer pessoa a um computador conectado à
Internet e pelo uso básico das funções dos equipamentos e programas. Já a inclusão on-line
é uma abordagem em construção, mas que, inicialmente, funda-se em três aspectos:
compreensão, interpretação e ação digital. A partir da inclusão digital (acesso à tecnologia),
é necessária uma alfabetização digital, diríamos forçosamente.

Outro fator fundamental para que a cidadania digital seja possível é o investimento em políticas
públicas que privilegiem o uso das TICs. Assim, a transferência de informação, realizada por estes meios
pode contribuir na sociedade da informação com a produção, disseminação e absorção de informação e
conhecimento.
Com a análise da transferência de informação, as possibilidades para que os programas de
inclusão digital não vejam a inclusão digital apenas como a simples conectividade à rede se ampliam, pois
se passa a valorizar não só a conduta sócio-comportamental, mas também a cognição. A “a visão sócio-
comportamental enfatiza ‘o que’ e como certos processos de transferência de informação assumem
posição, e a visão cognitiva pode suprir discernimentos sobre ‘por que’ tais processos ocorrem em
indivíduos e grupos” (INGWERSEN, 1992, p. 303). Robredo (2003) vai além e diz:

A transferência do conhecimento ocorre quando o conhecimento é difundido de um


indivíduo para outro ou para um grupo. Muito conhecimento é transferido, por exemplo,
por intercâmbio social e cultural. O conhecimento é transferido mediante processos de
socialização, educação e aprendizado. O conhecimento pode ser transferido
propositadamente ou pode acontecer como resultado de outra atividade. Esses processos
sociais de transferência de conhecimento são resultado, de uma forma ou de outra, da
codificação de conhecimentos individuais, de grupos e de organizações, onde a codificação
de numa linguagem determinada, com níveis variáveis de utilização de terminologias
especializadas, dependerá das características dos públicos a que se destinam. A
comunicação e a transmissão oral, com o suporte ou não de técnicas próprias da mídia de
massa, podem desempenhar um papel significativo na transferência do conhecimento, e a
este título devem interessar aos estudiosos da ciência da informação, já que por si só abrem
para ela um espaço no domínio maior das ciências sociais aplicadas. (ROBREDO, 2003, p.
22)

O autor evidencia a importância da transferência de informação em veículos massivos, tais como


a televisão, o rádio e a Internet, pois a ‘rede das redes’ deve ser vista não mais como ambiente, mas como
meio de comunicação e transmissão de informação e conhecimento.
Lembrando que uma das funções da informação é promover o desenvolvimento socio-
educacional do cidadão dentro de um grupo ou sociedade, como essa promoção pode ocorrer quando não
há acesso, estoque, fluxo e transferência de informação? É provável que muitos digam que a informação
vem de todos os cantos e que estar inserido na rede não garante um acúmulo de conhecimento. Mas é bem
verdade que o fato de se estar conectado pode encurtar muitos caminhos e facilitar a concretização desse
processo, ou seja, o de transferência de informação.
Se no Mapa de Inclusão Digital no Brasil, que o Instituto Brasileiro de Informação Cientifica e
Tecnológica (IBICT)8, recentemente divulgou São Paulo é o Estado que mais apresenta pontos de
inclusão digital (PIDs)9, 2.640, seguido de Pernambuco, com 2.257 como também visto, entretanto, a
divisão não é equilibrada. Ora, se as tecnologias de informação e comunicação podem prestar enorme
contribuição para que os programas de educação ganhem maior eficácia e alcancem cada vez maior
número de escolas, necessário se faz o investimento eficiente em políticas de fomento.
A contemporaneidade tem sido marcada por transformações de natureza econômica, política e
social e essas têm ressonância direta no trabalho, na educação e na produção de bens e serviços. Todo
esse conjunto tem exigido do/a cidadão/ã outras habilidade ou competências com o trato da informação. E
a falta dela, tem ocasionado, como evidencia Castells (2003, p.203), a disparidade do conhecimento, ou
da divisão digital, que se caracteriza como a desigualdade de acesso a Internet: “[...] se há consenso

8
Disponível em : http://inclusao.ibict.br. Acesso em: 22 de maio de 2007.
9
São iniciativas de acesso público a Internet no País, implementadas por organismos públicos e privados. (IBICT,
2007)

5
acerca da necessidade atual de aprendizado contínuo, ou o “aprendizado –do –aprender”, (CASTELLS,
2003, p.212), necessário se faz a implementação de políticas nacionais de fomento para educação.
Estes são alguns desafios que o Brasil, de modo geral, e as cidades, em particular, têm que
enfrentar para a consolidação de uma sociedade da informação, pois é inadmissível a um país conviver,
tranquilamente, com velhas e novas desigualdades sociais. A este respeito, Mattelart (2005, p. 10)
expressa que “[...] é fundamental instituir políticas públicas que permitam aos cidadãos construir em
torno desses novos instrumentos de comunicação, em combinação com os antigos, estoques de
conhecimento que correspondam a suas necessidades e estejam em harmonia com suas culturas.” Taylor
também finaliza de seu texto de 2003, Reflexões sobre Computadores na Escola, advertindo:
Isto significa que o que quer que façamos quando alteramos nossos sistemas
educacionais para fazê-los mais digitais e mais globais, nós devemos
trabalhar para garantir que a corrente educação ao lado de incluir treinamento
e uso de tecnologia digital, continuamente enfatize nossa dependencia um do
outro e o perigo implicito em nossa tendencia natural em avançarmos sem
adequados cuidados, ou mesmo desrespeitando os outros. Ao mesmo tempo
em que a educação deveria ajudar-nos a lembrar constantemente dos limites
que habitar um mundo finito impõe à atividade humana, quer gostemos
destes limites ou não. (TAYLOR, 2003, p.10)

Com o Projeto da Sociedade da Informação, entende-se que outras competências são exigidas
hoje do cidadão para atuar nessa sociedade. E se essas competências não forem desenvolvidas,
destinaremos um grande contingente a permanecer na ignorância, na infoexclusão. Dessa maneira, as
escolas têm papel fundamental no encaminhamento dessas políticas públicas educacionais, criando
condições materiais10 e cognitivas para os alunos desenvolverem seu potencial de estudo, pesquisa e
produção de conhecimento. Ampliar o acesso à tecnologia nas instituições públicas que visem a facilitar o
acesso à informação e à produção do saber, incluindo capacitação continuada para melhor aproveitamento
das tecnologias de informação e comunicação, é, portanto, meta a ser alcançada.
A Internet pela sua própria configuração rizomática, tem grande potencial como veículo de
expressão da diversidade cultural, para a prestação de serviços on line, desenvolvimento de práticas
educacionais inclusivas, utilizando, para tanto, os recursos da web 1.0 em sintonia com a web 2.0.
Timothy Bernes-Lee (2007), o idealizador da Web afirma que a habilidade da rede em permitir
que as pessoas construam links a transforma em um espaço abstrato de informação digital sobre todos os
aspectos da vida, continuamente recriada hipertextualmente. Destaca que a Web descansa sobre
protocolos tecnológicos e convenções sociais. Os protocolos tecnológicos determinam como os
computadores interagem e as convenções sociais - com os inúmeros incentivos atuais a linkagem e a
disponibilização de acesso a fontes valiosas, regras de engajamento em um site da rede social da Web-
versam sobre como as pessoas gostam e estão possibilitadas a interagir:

Como a Web atravessa sua primeira década de uso expandido, nós


surpreendentemente sabemos muito pouco sobre esses mecanismos complexos
técnicos e sociais. Nós estamos somente arranhando a superfície do que poderia ser
alcançado com uma investigação cientifica mais profunda de seu design,
operacionalidade e impacto sobre a sociedade. A Web permanece uma plataforma
universal: independentemente de qualquer instrumento de hardware específico de uma
plataforma de software, de linguagem, cultura ou falta de habilidades. Que a Web não
se torne controlada por uma única empresa – ou por um único país (BERNES-LEE,
2007, tradução nossa).

Podemos considerar que em tempos de Web 2.0 devem ser enfatizados aspectos da Web 1.0 que
dizem respeito integramente à cooperação e empoderamento, como participação, conversação, auto-
arquivamento (wikipedia e blogs), código visualizável e contextualizável, permitindo a constante
agregação de dados. Neste sentido torna-se instrumento de ajuda cotidiana, abrindo as portas para os
próximos passos que irão mudar paradigmas em um grau muito maior.

3 APLICAÇÃO METODOLÓGICA

10
Condições materiais referem-se a aparelhagem de Hardware, conexão com a rede em banda larga, softwares de
boa qualidade, etc.

6
A visualização da necessidade de aplicação de um projeto de políticas públicas de inclusão nas
escolas de Ensino fundamental de Marília, partiu de atuação da coordenação do Grupo de Pesquisa -
Novas Tecnologias em Informação, ligado à linha de pesquisa - Informação e Tecnologias da Pós-
Graduação em Ciência da Informação da FFC/UNESP, quando convidada a participar, em 2005, como
banca examinadora de evento promovido pela Secretaria Municipal da Educação de Marília entre alunos
da rede de escolas do ensino fundamental, que se iniciavam no mundo da informação mediada por
computador. Para tratar das dificuldades ali percebidas e que a contratação de instrutores de informática,
aprovados em concurso técnico promovido para tanto, não conseguira dirimir, foi indicado um trabalho
de preparação dos mesmos instrutores para sua efetiva ação como multiplicadores de conhecimento. A
estes, embora bem formados em Ciência da Computação, faltava o necessário conhecimento das
linguagens articulatórias mediada pelas Novas Tecnologias da Informação.
De maneira diversa da estrutura linear predominante até esta atual fase transitória de nossa
cultura, a informação tramitada nos novos meios interativos de informação e comunicação, congrega
hipertextualmente, imagens, símbolos, textos e outras muitas estruturas informacionais para a
comunicação de seus conteúdos. Há que se aprender, portanto, as novas formas de codificação das
informações que estas mudanças exigem.
Iniciou-se assim, um projeto embrionário de análise para o posterior trabalho da capacitação dos
instrutores, através de oficina laboratorial coordenada, em 2006, por integrante do Grupo de Pesquisa -
Novas Tecnologias em Informação e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciência da
Informação da FFC/UNESP. Na oficina, foram recolhidos, por meio de metodologia de observação dos
indivíduos instrutores em suas unidades computacionais, dados para a construção de um projeto amplo
envolvendo os diversos membros do grupo de pesquisas, que começa desta maneira, a se expandir entre
as redes de nós das diversas especializações e projetos individuais, bem como das disponibilidades de sair
a campo para aplicação. Membros cujos projetos de teses e dissertações estão de alguma maneira
convergentes no direcionamento das políticas públicas de transferência, disseminação e uso de
informação pelos novos meios de comunicação e novas mídias.
Partindo-se do princípio de que não se pode praticar qualquer atividade ignorarando os aspectos
políticos e sociais nela implicados, a preocupação com a formação de um ser social que atua no presente
procura mesclar o trabalho de capacitação digital e a vida da comunidade a qual será destinado. Para
uma aprendizagem através da experiência, é necessário que se considere o conhecimento já existente.
Assim adotaram-se estratégias projetuais de criação de cooperativas de trabalho com
comunicações que interessem a comunidade (jornal eletrônico, blog ou portal) a ser atendida. Os
participantes devem ser instados a compor, discutir e editar seus trabalhos em pequenos grupos, antes de
apresentarem resultados (textos, imagens, experiências através de informações documentadas
multimediáticamente em depoimentos, circulares, cartas, boletins, testemunhos, etc). Tudo deve passar
pela experiência de vida, para que o aprendizado seja integrado ao que se aprende. Isso só é possível pela
ação, através do trabalho que desenvolve o pensamento lógico e inteligente, fazendo-se a partir de
preocupações materiais. É um degrau para a abstração, segundo Celestine Freinet que, no início do século
XX, trabalhou com a introdução de metodologia de aprendizado de técnicas de Impressão - a melhor
tecnologia de disseminação massiva de informação naquele momento - adotada aqui como referência. É
vital para o ser humano viver em grupo, ter sucesso, agir, descobrir e se organizar, exercitando a criação,
expressão, e a comunicação como cidadão autônomo e cooperativo, podendo fazer uso das oportunidades
de criação na pesquisa e tateio experimental.
Uma programação teórico-prática busca, desta forma, alternar a introdução de conceitos
necessários para o entendimento das novas estruturas imagéticas partindo da análise facilitada em rede de
textos clássicos como o de Walter Benjamin em A obra de arte na época de sua reprodutibilidade
técnica, de 1937, de Rudolf Arnheim, em Visual Thinking, de 1969, e de Donis A. Dondis, em A Sintaxe
da Linguagem Visual, de 1973 e contemporâneos como os de André Parente em Imagem Máquina de
1993 e Tramas da Rede, de 2004, de Gilles Fauconnier e Mark Turner em Conceptual Blending and The
Mind´s Hidden Complexities, de 2002 e Mark Turner em The Artful Mind, de 2006 e de Nestor G.
Canclini em Culturas Híbridas, de 1997.
A estes exercícios de conceituação aderem-se práticas laboratoriais instrumentalizadoras, como
oficinas de construção de blogs, aprendizado de práticas de utilização e auto-arquivamento de imagens,
vídeos e outros suportes informacionais, de forma legal e protegida, através de recursos oferecidos por
inovações de âmbito nacional e internacional, projeto Creative Commons, e outros de etiquetagem, novas
abordagens de ferramentas tradicionais, como o Power Point e agora o Movie Maker, também buscando
instrumentalização otimizada de uso dos recursos de busca, disseminação e trocas de informação
imagética e algumas incursões em linguagens de programação, para as camadas mais especializadas de

7
indivíduos que compõem o todo do projeto, criando práticas de autonomia em todos os níveis de
aplicação .
É importante ressaltar, entretanto, que se trata de projeto em andamento. Sua conclusão está
longe de se considerar, já que novas necessidades se mostram a cada prática ou encontro teórico,
colocando-o como permanente objeto de discussão conjunta com a parceria da Secretaria Municipal de
Ensino. Vê-se, ao contrário, que parcerias como esta deveriam ser mantidas processualmente por várias
“gerações” de pesquisadores e instrutores até que as condições de abordagem, reuso e disseminação da
informação, tornem-se mais igualitárias.
Por outro lado, a crescente inclusão de tecnologia digital nas escolas do mundo inteiro
irá requirer treinamento caro e de desgaste de tempo, primeiro inicialmente e então
periodicamente, a partir do uso das tecnologias. Os professores podem somente tornar-
se e permanecer treinadores capazes de guiar os alunos através de atividades complexas
digitalmente formatadas que irão continuar se desenvolvendo conforme nos adiantemos
no tempo.(TAYLOR, 2003, p.7-8)
Nesse sentido o Grupo de Novas Tecnologias em Informação criou também o Intersemioses,
para formar novos gestores de mudanças entre os pesquisadores dentro da Universidade. Contando
atualmente com doze integrantes, alunos da graduação em Biblioteconomia da Unesp, o Intersemioses
será responsável por estabelecer uma continuidade das futuras pontes com a sociedade em torno,
justificando o emprego dos recursos públicos em projetos como o enviado pelo grupo a diversos órgãos
de fomento. Os alunos da graduação participam das atividades, auxiliando na operacionalização,
oferecendo monitorias nos eventos, em discussões teóricas de conceituação, recebendo e repassando
instruções de capacitação enfim.
Para a realização deste projeto de pesquisa e extensão, adotaram-se, portanto, como objetivos: a)
contribuir para o aumento da eficiência e efetividade social dos programas no atendimento das
necessidades infomacionais e pedagógicas das escolas que compõem o universo de aplicação e análise; b)
formar e capacitar agentes e técnicos de programas de inclusão digital para atender e acompanhar os
usuários na busca de informação em ambientes digitais na escola pública e na comunidade; c) divulgar e
disseminar os resultados dessa pesquisa como forma de ampliar o alcance dos conhecimentos gerados,
das experiências parceiras e fomento para novas pesquisas em Ciência da Informação e campos
interdisciplinares e; d) contribuir para a produção do conhecimento no campo da Ciência da Informação,
na linha de Informação e Tecnologia.
Toda pesquisa de natureza científica carece de um processo de investigação metódica que visa à
compreensão dos fenômenos em seu conjunto. Para Oliveira (2000, p.18) o método envolve técnicas que
devem estar sintonizadas com aquilo que se propõe; mas, além disso, diz respeito a fundamentos e
processos, nos quais se apóia a reflexão. Reflexão essa que deve estar pautada num referencial
epistemológico consistente.
Existem duas formas de inserção do cidadão. A forma espontânea vê o acesso e uso das TICs
em que os cidadãos estão imersos com a entrada da sociedade na era da informação, tendo ou não
formação para tal uso. A simples vivência em metrópoles coloca o indivíduo em meio a novos processos
e produtos em que ele terá que desenvolver capacidades de uso das TICs. Já a segunda forma, induzida,
reconhece os projetos induzidos de inclusão às tecnologias eletrônicas e às redes de computadores
executados por empresas privadas, instituições governamentais e/ou não governamentais. Esta segunda
forma pode ser dividida em 3 categorias: Técnica - Destreza no manuseio do computador, dos principais
softwares e do acesso à Internet. Estímulo do capital técnico; Cognitiva – autonomia e independência no
uso complexo das TICs. Visão crítica dos meios, estímulo dos capitais cultural, social e intelectual.
Prática social transformadora e consciente. Capacidade de compreender os desafios da sociedade
contemporânea; Econômica - capacidade financeira em adquirir e manter computadores e custeio para
acesso à rede e softwares básicos.
Tem-se como problema central, compreender os mecanismos de efetivação das políticas
públicas, e auxiliar como possível na implementação para que o programa de inclusão digital
(INTRAGOV) e outros desenvolvidos nas escolas públicas municipais de Marília consigam cumprir seu
objetivo de inserção digital dos sujeitos e, a partir de suas práticas pedagógicas, ampliar suas perspectivas
de mudança e melhoria de vida.
Ainda em 2006, em uma nova participação dos pesquisadores da UNESP no mesmo evento que
determinou o início do projeto já faz entrever os primeiros resultados das intervenções com melhorias nos
trabalhos finais e firmou-se oficialmente, em 2007, o acordo de parceria entre a Secretaria Municipal de
Educação e o GP-NTI, da UNESP. A parceria envolve também em um primeiro momento quatro
membros da Secretaria, sendo dois do setor de informática, responsável pela preparação de pessoal
interno do departamento de informática da Secretaria Municipal de Educação e as duas instrutoras
vencedoras do II Concurso de Multimídia Experts e II Concurso Multimídia Kids, de 2006, e da UNESP,
além dos doutorandos e mestrandos do PPGCI, integrantes e coordenadora do GP-NTI , o Grupo de

8
Estudos - Intersemioses, interessados nas formas hipertextuais da reinvenção cotidiana da informação
que circula atualmente nos ambientes informacionais digitais.
As atividades do projeto desenvolvem-se assim de duas formas, primordialmente:
No âmbito interno da Universidade, busca preparar uma nova geração de pesquisadores atuantes
em práticas sociais de disseminação do conhecimento, a que tiveram acesso graças ao esforço de uma
grande maioria de indivíduos que, geradores da riqueza circulante, não têm lugar nos bancos escolares do
ensino universitário. Não se veja nesta postulação, porém, perspectiva assistencialista, mas uma forma
justa de devolver à sociedade como um todo o que lhe é de direito.
No âmbito da atuação em campo também se enfatiza o aspecto processual, no preparo dos
instrutores/multiplicadores.
Percebe-se pelo objetivo do programa INTRAGOV e pelo disposto no discurso do governo, a
intenção de buscar resolver o problema da concentração de acesso a rede Internet, por uma minoria, que
corresponde aproximadamente a 10% da população. Quando se sabe, que a expressiva maioria da
população brasileira, está historicamente alijada do acesso aos bens culturais e simbólicos, interditada,
quer seja por questões sociais, econômicas, educacionais ou físicas. Neste sentido, é importante buscar
respostas para as questões apontadas logo no início desse trabalho, que devem permear os programas de
inclusão.
A observação, como técnica de coleta de dado não-verbal, é adotada em conjunto com os outros
instrumentos de captação de informação. O seu lugar na pesquisa é relevante na medida em que
possibilita confrontar o dito com as práticas. No nosso caso, a observação do comportamento de busca e
acesso à informação, e a usabilidade dos sistemas digitais, trarão subsídios para análise dos indicadores
técnicos e cognitivos.
A pesquisa verifica e avalia como as iniciativas públicas municipais para o uso das TIC estão
contribuindo para a inclusão digital, para a melhoria da cidadania e das condições de vida da população
beneficiária. Em se tratando de uma pesquisa ativa, entendemos que a análise deva ser construída com os
atores das escolas envolvidos.

4. CONSIDERAÇÕES

Em se tratando de uma pesquisa em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, esta vem
participando de todas as atividades concernentes ao desenvolvimento da pesquisa, uma vez que é de sua
responsabilidade a implementação de ações que visem à resolução de problemas concernentes à inclusão
digital. Dessa forma, a implementação, a execução, avaliação e a continuidade da pesquisa depende dessa
conexão e da relação de responsabilidade e compromisso.
Nesta etapa da pesquisa identificou-se melhores condições de desenvolvimento tanto das
competências informacionais - (busca, seleção, organização e produção de novas informações ), quanto
de práticas laboratoriais instrumentalizadoras, como oficinas de construção de blogs, aprendizado de
práticas de utilização e auto-arquivamento de imagens, vídeos e outros suportes informacionais, de forma
legal e protegida, dos alunos e professores envolvidos, o que foi percebido no encaminhamento das
atividades da oficina ”Informação e Comunicação Visual” com a participação de 22 instrutores de ensino
de informática das EMEFs. Essa atividade culminou com resultados mais aprimorados e expressivos de
uso das tecnologias de informática por alunos de ensino fundamental no II Concurso Multimídia que
contou com a participação de 19 escolas municipais de Ensino Fundamental. Resultado que já revela
melhoras na capacitação desses instrutores para uma aplicação e uso estratégicos das mídias disponíveis
na disseminação e uso das informações.
Destaca-se que, nos resultados do último concurso multimídia realizado em Marília, SP, as duas
instrutoras responsáveis pelos projetos vencedores participaram ativamente da oficina “Informação e
Comunicação Visual”, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa – Novas Tecnologias em Informação,
FFC/UNESP, e como multiplicadoras de informação dividiram seus conhecimentos com as crianças das
EMFS onde trabalham e produziram um trabalho de resultados visual e informacional diferenciado dos
demais concorrentes.

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http://www.citejournal.org/vol3/iss1/seminal/article2.cfm

10
A Alimentação como um Direito do Cidadão –
A Revitalização do Programa Armazém da Família

Leomar de Andrade
Maria Aparecida Andrade e José de Andrade
leandrade@pmc.curitiba.pr.gov.br

Lia Nara Paludo


Lurdes Maria Schwartz Paludo e Aquilino Paludo
lianara@smab.curitiba.pr.gov.br

RESUMO

O Armazém da Família é um programa criado pela Prefeitura Municipal de Curitiba para oferecer produtos
alimentícios, de higiene e limpeza com preços acessíveis para a população de baixa renda do município. Criado em 1986,
o programa foi, ao longo dos anos, sofrendo mudanças de acordo com os direcionamentos da Administração Municipal e,
ao final de 2004, encontrava-se em estado crítico, com baixa procura pelos consumidores, que reclamavam da qualidade e
da variedade dos produtos, bem como dos preços praticados. A insatisfação dos clientes provocou um esvaziamento do
Programa e levou ao questionamento sobre a sua viabilidade como programa social. Várias ações foram tomadas pela
atual gestão municipal com o intuito de resgatar o Programa e torná-lo viável para a Administração Pública e vantajoso
para a população. Os procedimentos de compra foram simplificados e um sistema informatizado foi desenvolvido para
apoiar os gestores. Com ferramentas de controle e informações gerenciais disponíveis foi possível priorizar compras,
reduzir estoques, compor preços etc. O resultado das ações veio com o retorno do consumidor, triplicando o número de
atendimentos registrado no início de 2005. Ações de controle foram planejadas para resguardar o objetivo social do
Programa, e mais uma vez, a ferramenta de informática teve papel fundamental na execução destas ações. Hoje, o
Armazém da Família se consolidou como uma das principais políticas sociais do Município de Curitiba, provando que,
com vontade política e modernas ferramentas de gestão, é possível estender o acesso aos direitos elementares para todos
os cidadãos, promovendo a cidadania e a dignidade humana.

PALAVRAS-CHAVE
Segurança alimentar, revitalização, programa social, combate à fome, gestão pública, tecnologia da
informação.

1. INTRODUÇÃO
O Programa Armazém da Família facilita o acesso ao alimento e está inserido na política local de
abastecimento, segurança alimentar e combate à fome. Atende a população de baixa renda em 24 pontos
distribuídos em bairros na periferia na cidade. É alternativa viável de barateamento da alimentação em áreas
urbanas e metropolitanas por meio da comercialização de alimentos com preços até 30% abaixo do mercado
formal, possibilitando a transferência indireta de renda. Criado pela Prefeitura de Curitiba em 1986, teve,
desde o início, uma aceitação bastante grande por parte da população e por ir de encontro a uma necessidade
elementar do ser humano – a alimentação - o programa foi rapidamente assimilado. O critério para acesso ao
programa é a renda familiar de até três salários mínimos/mês. Atualmente estão inscritos no Programa
170.000 usuários e suas famílias. Ao fazer suas compras no Armazém da Família, os usuários garantem
economia na parcela do orçamento familiar destinado a alimentação e produtos básicos, recurso que pode ser
redirecionado para saúde, educação etc. O programa beneficia outras políticas públicas como saúde,
educação e trabalho, já que pessoas bem nutridas produzem mais no trabalho e adoecem menos. Desta forma
toda a população usuária dos serviços públicos de atendimento é beneficiada com a desoneração do sistema.
O programa foi sofrendo mudanças e, ao final de 2004, havia uma grande insatisfação dos consumidores, que
reclamavam da qualidade e da variedade dos produtos, além dos preços praticados. Isto provocou um
esvaziamento e levou ao questionamento sobre a sua viabilidade como política social.
Após avaliação minuciosa das potencialidades do programa e dos ganhos com a sua revitalização, foi
elaborado diagnóstico com os motivos que o levaram ao declínio e estudadas as possíveis soluções para o
problema.
Para revitalizar o programa, os processos internos foram redesenhados e uma ferramenta informatizada de
gestão foi criada para apoiar os gestores. Com a utilização do aplicativo, desenvolvido especialmente para o
Programa, foi possível realizar a gestão completa do processo. Como resultado, a operacionalização se tornou
mais ágil, os custos operacionais foram reduzidos e os recursos disponíveis otimizados. Tudo isto tornou o
programa novamente viável para a Administração Pública e vantajoso para a população, possibilitando o seu
incremento e expandindo o seu alcance social.

2. IMPORTÂNCIA DOS TEMAS SEGURANÇA ALIMENTAR, GESTÃO


PÚBLICA E TI E GOVERNO ELETRÔNICO.
Analisando a importância das questões do direito humano à alimentação, segurança alimentar, gestão
pública, inovação tecnológica, TI e governo eletrônico, e suas profundas relações com as políticas de
abastecimento alimentar, considera-se importante apresentar estes temas e alguns dos conceitos relacionados
ao processo de revitalização do Programa Armazém da Família.

2.1 Segurança Alimentar


Os problemas da Fome no Mundo, e no Brasil, denunciam a violação do mais fundamental dos direitos
humanos, o direito a uma alimentação adequada assegurado pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de 1948, no seu artigo 25: “Toda pessoa tem direito a um nível de vida adequado, que lhe
assegure, e à sua família, saúde e bem estar e, em especial, alimentação, vestimenta e moradia, assistência
médica e os serviços sociais necessários” (DECLARAÇÃO, 2005). È definido como Segurança Alimentar a
“garantia a todos, condições de acesso a alimentos básicos, seguros e de qualidade, em quantidade suficiente
para uma existência digna”. Conforme Lei nº11.346/2006 (LEI 11.346, 2006), que cria o Sistema de
Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN, “Todo cidadão deve ter acesso à comida digna, diariamente em
quantidade, qualidade e regularidade suficiente para nutri-lo e manter a saúde”, recomendação também feita
pela FAO -Organização Mundial para Alimentação e Agricultura (FAO, 2004).
O alimento dá força e dignidade aos indivíduos rumo à conquista da cidadania. Curitiba tem 37% da
população com renda de até três salários mínimos (CENSO 2.000) e conta hoje com uma população de
1.788.599 pessoas, conforme IBGE – Estimativa das Populações Residentes nos Municípios/2006. Um dos
desafios da administração pública é promover o acesso destes cidadãos aos direitos garantidos
constitucionalmente, dentre os quais, a alimentação é o mais fundamental. A Prefeitura de Curitiba tem
enfrentado esse desafio com grande êxito. Através do Programa Armazém da Família a população de baixa
renda tem o acesso facilitado à alimentação.

2. 2 Gestão Pública e Administração Pública Gerencial


Configura-se um novo marco teórico/prático que substitui a perspectiva "burocrática" para a
administração pública — a abordagem "gerencial". Também conhecida como “nova administração pública",
esta abordagem parte do reconhecimento de que os Estados democráticos contemporâneos não são simples
instrumentos para garantir a propriedade e os contratos, mas formulam e implementam políticas públicas
estratégicas para a sociedade, tanto na área social quanto na científica e tecnológica. E para isso é necessário
que o Estado utilize práticas gerenciais modernas, sem perder de vista sua função eminentemente pública.
"Gerenciar" difere de "controlar" quase da mesma forma que "fazer acontecer" difere de "evitar que
aconteça" (BRESSER, 1998). Essa perspectiva, desenvolvida na administração das empresas, é também
válida para as organizações públicas. Não se trata, porém, da simples importação de modelos idealizados do
mundo empresarial, e sim do reconhecimento de que as novas funções do Estado em um mundo globalizado
exigem novas competências, novas estratégias administrativas e novas instituições. A Revitalização do
Armazém da Família só foi possível devido ao conjunto de ações que vão desde a flexibilização dos contratos
de compra à remuneração variável por desempenho dos funcionários, sendo esforços necessários e
direcionados a fazer acontecer a revitalização aqui registrada.

2. 3 TI e Governo Eletrônico
Hoje em dia, o cidadão tem cada vez mais acesso à informação. Apesar dos percalços que a educação
ainda enfrenta em nosso país, os níveis de instrução vem subindo ano a ano. A população esclarecida,
conhecedora de seus direitos e obrigações, demanda cada vez qualidade nos serviços oferecidos pelo poder
público.
O governo municipal constitui-se a esfera de governo mais próxima do cidadão. A maioria dos serviços que o
atingem diretamente é provida pelo Município. Paradoxalmente são as prefeituras que recebem a menor
parcela da arrecadação fiscal. Este cenário dificulta o atendimento ao cidadão e torna necessária a definição
de novos modelos de Gestão Pública que possibilitem a efetividade das ações governamentais através da
utilização adequada dos recursos disponíveis.
"O Governo eletrônico é uma condição dos governos contemporâneos, e não mais uma opção" (FERRER,
2007). Essa afirmação demonstra que o caminho a ser seguido para que os governos possam cumprir sua
função elementar de atender a população com serviços de qualidade passa pela implantação do Governo
Eletrônico. Através da desburocratização de processos e do subsídio de informações aos gestores públicos o
governo agrega qualidade aos seus serviços e reduz os seus custos de gestão interna. Com isto torna possíveis
investimentos nas áreas sociais ou mesmo a redução da carga tributária.
Na informática a inovação nem sempre está na utilização dos equipamentos mais modernos ou na aplicação
das mais novas tecnologias descobertas. Ela reside muitas vezes na simples aplicação de ferramentas
adequadas. O estado da arte de uma tecnologia pode ser um sistema simples que forneça informações
relevantes, indicadores e métricas de controle, permita auditorias e indique oportunidades e carências, que
possibilite a realização de correções de rumo quando necessárias.
O uso que se faz da tecnologia e da informação pode representar a maior das inovações, ela pode ser o
diferencial que permitirá ao poder público, através da gestão eficiente dos recursos disponíveis, a
implantação de políticas públicas sustentáveis que promovam o acesso do cidadão aos seus direitos. A isto
podemos chamar Governo Eletrônico.
A Tecnologia da Informação é uma ciência que, assim como o seu produto: a informação, não se encerra em
si mesma. Antes disso, só tem sentido como apoio às ações que garantam a efetividade no atendimento ao
público. Esta constatação ganha ainda mais força quando tratamos de serviços sociais, que buscam atingir a
camada mais necessitada da população. Neste caso a TI e o Governo Eletrônico se constituem em agentes de
promoção humana, ligados intimamente ao desenvolvimento das pessoas e à sua inserção na sociedade.

3. SITUAÇÃO PROBLEMA OS ARMAZÉNS DA FAMÍLIA:


Ao final de 2004, observou-se um esvaziamento do programa, revelado pela diminuição dos volumes
comercializados e pela redução do número de clientes nas lojas. Houve queda de - 61,36% no número de
atendimentos, - 47,30% volume comercializado (Kg) e - 18,21% comercialização ($), com relação ao período
anterior (PALUDO, 2006).
Para identificar a razão do problema, foi realizada pesquisa junto aos usuários (Curitiba, 2005) onde foram
ouvidas 387 pessoas no mês de novembro de 2004, através de abordagem quantitativa, com a aplicação de
questionários previamente estruturados. A amostra com nível de confiança de 95% e margem de erro de 5%.
A pesquisa realizada revelou insatisfação nos quesitos, preço, qualidade, marcas e variedade dos produtos
comercializados. Destes, o maior grau de insatisfação concentrou-se no preço e nas marcas dos produtos
ofertados, com notas 6.5 e 7,4 (PALUDO, 2006)..
Além da pesquisa, foi feito um trabalho de análise dos processos internos praticados até então. Descobriu-se
que a forma como as compras eram realizadas, apesar de enquadradas na lei de licitações públicas tornava o
processo lento e custoso. Isto era incompatível com a agilidade necessária para se gerir um processo de venda
no varejo. A participação de fornecedores nos certames era extremamente pequena. Afastadas pelo baixo
volume de compras de cada processo e pela burocracia envolvida nos procedimentos de cadastro e
habilitação, as empresas não viam vantagens em vender para o Programa. Também a Secretaria era
penalizada pelo processo, que, com poucos participantes não permitia que se comprasse o produto desejado
pelos consumidores, mas sim a mercadoria que os fornecedores, quase exclusivos no processo, estavam
dispostos a vender. A baixa concorrência também permitia que os preços fossem ditados pelos fornecedores e
a qualidade dos produtos muitas vezes deixava a desejar. Todos estes problemas podiam ser sentidos na
insatisfação demonstrada pelos clientes.
Também a gestão dos estoques era ineficiente. Não havia um controle efetivo e centralizado dos produtos
disponíveis nas diversas lojas e/ou armazenados no depósito central. Isto impossibilitava que uma loja que
tivesse determinado produto em grande quantidade transferisse o excedente para outra unidade. Compras
desnecessárias provocavam estocagens exageradas de determinado produto e, muitas vezes,
desabastecimento de outros.
Os problemas descritos acima evidenciaram a necessidade de se modernizar os procedimentos e controles.
Todo o processo, desde a compra dos produtos até a sua comercialização, passando pela logística de
armazenamento e distribuição entre as lojas, carecia de ferramentas ágeis e eficientes que apoiassem os
gestores na sua execução.
Os custos, operacionais e de aquisição de produtos, precisavam ser reduzidos e os recursos disponíveis
tinham que ser otimizados, de outra forma não seria possível atingir a meta do Programa de comercializar
produtos com economia média de 30% em relação aos preços praticados pelo mercado formal.

4. SOLUÇÕES ENCONTRADAS:

4.1 Fornecedores e contratos


Como solução para os problemas diagnosticados a Secretaria Municipal do Abastecimento redesenhou os
processos internos relacionados ao programa e alternativas legais foram buscadas para tornar os
procedimentos mais ágeis. Através da dispensa de licitação, respaldada pelo art. 17 da lei 8666/93 (LEI Nº
8.666), as compras se tornaram mais simples e dinâmicas. O cadastro de fornecedores foi simplificado.
Reduziram-se as exigências burocráticas, sem que isso, no entanto, representasse riscos para a Administração
Pública. A Secretaria também mudou sua postura no relacionamento com as empresas, passando a ser ativa e
realizando prospecção de possíveis fornecedores. Indústrias, cooperativas, frigoríficos, entre outros, foram
atraídos para participar dos processos. O número de fornecedores aumentou, passando de 16 fornecedores
contratados em média, com 75% do volume financeiro contratado com 3 fornecedores para 90 fornecedores
contratados com 81% do volume financeiro contratado com 55 fornecedores em média. Com o aumento da
concorrência, a qualidade dos produtos também melhorou e houve queda nos preços praticados.

4.2 Equipe
Os funcionários envolvidos no processo receberam treinamentos para atendimento aos clientes, segurança
preventiva, logística de distribuição e operação dos aplicativos. Foram criados incentivos à qualidade e
produtividade no trabalho para motivar as pessoas através de gratificações pagas aos funcionários.

4.3 Solução de informática – SISMAB


As melhorias aplicadas pela direção do programa foram apoiadas pelo Sistema de Gestão da Secretaria
Municipal do Abastecimento – SISMAB. O aplicativo, desenvolvido especialmente para a Secretaria,
permite a gestão completa do Programa, controlando o volume de vendas, o estoque central e de cada uma
das lojas, o volume comercializado em Kg e em espécie, entre outros. Os estoques passaram a ter um
controle efetivo, que permitiu planejar as compras de acordo com o giro dos produtos nas lojas e várias
projeções estão disponíveis no aplicativo, permitindo aos gestores priorizar compras, reduzir estoques e
compor preços das mercadorias comercializadas.
Informações antes inalcançáveis estão agora disponíveis para os gerentes em tempo real.
A solução de informática implementada contempla o software gestor, que controla todas as lojas da rede,
cadastra os usuários e faz a gestão do programa, o aplicativo de controle das lojas que identifica o cliente,
registra a venda e controla o saldo disponível para compras do usuário e ainda o sistema de sincronismo das
informações que transmite periodicamente os dados registrados nas lojas para um servidor central. Todas as
aplicações foram desenvolvidas pelo Instituto Curitiba de Informática - ICI para atender as peculiaridades do
Programa.
São utilizados na solução de informática: servidores locais nas lojas que garantem a segurança dos registros
de vendas e permitem uma performance melhor à aplicação. Há ainda um servidor central hospedado em
datacenter para onde convergem as informações originadas nas lojas. A comunicação entre os ambientes é
realizada através de links ADSL, em sua maioria de 128 Kb. Os caixas das lojas operam com equipamentos
específicos para supermercados (leitores óticos, gavetas de dinheiro, mini-impressoras etc).
4.3.1 Ambiente de Hardware e Software
Em Curitiba há o Instituto Curitiba de Informática – ICI, organização social criada com o objetivo de atender
as necessidades da Prefeitura Municipal no que se refere a informática.
É o ICI o fornecedor de toda a estrutura de hardware, software e conectividade para o programa Armazém da
Família.
A estrutura de hardware é composta por um servidor central para onde as informações das lojas convergem.
Cada loja possui um servidor local e os pontos de venda (caixas). A comunicação entre as lojas e o servidor
central é feita através de link ADSL. Os softwares da solução: o sistema gestor, o aplicativo dos caixas e o
sincronizador de informações foram desenvolvidos pelo ICI para o programa.

4.4 Resultados
O resultado das ações veio com a resposta imediata do consumidor, que retornou às lojas aumentando o
número de atendimentos em mais de 400%, passando de 23. 898 atendimentos registrados em Janeiro/05 para
104.083 atendimentos em Janeiro/07. A elevação da procura exigiu da Administração Municipal o aumento
da capacidade de atendimento, através da ampliação do número de lojas, que passou de 19 para 22 em 2006.
O incremento ocorrido no Programa despertou interesse de muitas pessoas, mesmo daquelas que não se
enquadrariam nos requisitos exigidos para participação, como população com renda superior à estabelecida
ou mesmo pequenos comerciantes, interessados em revender os produtos. Isto, logicamente, trouxe uma
demanda que o Programa não estava estruturado para atender, visto que não foi projetado para este fim.
Surgiram então, problemas ocasionados pela demanda exagerada e ações de controle precisaram ser
planejadas para que o objetivo maior do Programa, qual seja, o atendimento à população mais necessitada,
fosse resguardado.
SISMAB - Modulo Cadastro Cliente: Novamente, a ferramenta de informática teve papel fundamental na
execução das ações. Foram implementados controles sobre a renda dos usuários cadastrados. A identificação
do consumidor permitirá controlar o consumo realizado e cotas mensais de compras foram estabelecidas.
Tudo isto com o intuito de coibir abusos e garantir a sobrevivência do Programa.
Participação da comunidade e outros programas alimentares: A Secretaria Municipal de Abastecimento
mantém parceria com as Associações de Moradores que orientam e organizam as comunidades para
participar do programa. Além disso, outros programas sociais da Prefeitura de Curitiba são parceiros dos
Armazéns. Programas como o Armazém da Solidariedade que permite que entidades beneficentes sejam
atendidas pelo Programa e possam comprar nas lojas os víveres necessários para sua manutenção e o
Programa Vale-Vovó, de transferência de renda, que oferece aos idosos carentes vale-compras para utilizar
nas lojas dos Armazéns da Família, são exemplos dessas parcerias.
Metropolização do Programa: Prefeituras de municípios da região metropolitana de Curitiba também mantém
convênio com a SMAB e se utilizam da infra-estrutura do Programa para repassar os produtos aos seus
munícipes com as mesmas vantagens oferecidas aos curitibanos. Estes convênios obedecem às regras do
Programa e estão sujeitos à supervisão da secretaria de Curitiba. Em Araucária e São José dos Pinhais já
existem lojas do Armazém da Família. Os municípios de Campo Magro, Campo Largo, Almirante
Tamandaré e Fazenda Rio Grande ainda estão em fase de implantação, e até lá a população pode adquirir os
produtos nos Armazéns em Curitiba.
O programa Armazém da Família está inserido na política de segurança alimentar do Município de Curitiba
implementada pela Secretaria Municipal de Abastecimento. Esta política faz parte do eixo de políticas sociais
do Plano de Governo da Administração Municipal de Curitiba.

5. EFETIVIDADE:
O número de atendimentos ao público é o principal indicador de desempenho do programa. Conforme a
Tabela 1 podemos calcular e comparar as médias mensais, e em 2006 foram realizados em média 99.174
atendimentos/mês, correspondendo a um crescimento de 72% no número de atendimentos em relação a 2005.
Também verificou-se um crescimento em 99,7 % na comercialização dos produtos em relação a 2005. Em
2006 foram totalizados 1.190 milhões de atendimentos e comercializados 29.780 toneladas de gêneros
alimentícios. Demonstraram ganhos significativos os indicadores de desempenho: número de atendimentos,
volume comercializado (Kg), comercialização ($).

Tabela 1. Atendimentos realizados no Armazém da Família.


Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2005 23.898 29.664 29.004 37.168 53.763 67.367 71.902 73.893 74.772 74.729 81.098 73.267
2006 76.554 84.919 105.416 91.840 107.889 103.975 107.293 114.802 107.295 105.235 104.568 80.308
2007 104.083 102.345 124.612 100.331 119.948

Considera-se que os resultados do Programa Armazéns da Família foram muito favoráveis no período,
conforme evolução demonstrada no gráfico um, onde se pode observar o crescimento dos indicadores com
23. 898 atendimentos registrados em Janeiro/05 para 104.083 atendimentos em Janeiro/07.

Gráfico 1. Atendimentos realizados no Armazém da Família.

140.000
120.000
100.000
80.000 2005
60.000 2006

40.000 2007

20.000
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Os preços no Armazém da Família ficaram em média 30% abaixo da média dos supermercados, garantindo
economia no orçamento familiar dos usuários, nos itens alimentação e produtos básicos. A boa aceitação do
programa pela população é percebida no aumento da demanda em 131% para confecção de novos cadastros
de usuários do Armazém da Família, nas Gerências Regionais da SMAB. Foram Implantados dois novos
Armazéns da Família em 2006 passando de 19 para 21 lojas. Em 2007 já são 24 e até o final de 2008 serão
29 lojas. A Pesquisa realizada com 400 usuários do Armazém da Família (CURITIBA, 2006), em julho de
2006, revela satisfação dos usuários nos quesitos, preço, qualidade, marcas, variedade e disponibilidade de
produtos comercializados. Notas alcançada 98.8% de aprovação do Programa junto ao público usuário.
O ativo real líquido, ou patrimônio do Fundo de Abastecimento Alimentar de Curitiba - FAAC obteve um
crescimento de 30% ao ano em 2006. Percebe-se o acerto na condução desta política de abastecimento
observando–se os balanços orçamentário, financeiro e patrimonial do FAAC – Fundo de Abastecimento
Alimentar, fundo rotativo que viabiliza a operacionalização do programa onde houve crescente capitalização
do recurso extra-orçamentário, e aumento de bens patrimoniais , resultados decorrentes da gestão assertiva da
compra e venda de mercadorias e manutenção dos estoques adequados , comprando-se mercadorias em
quantidade para proporcionar giro rápido em relação às vendas, e estocando o volume necessário para atender
às unidades sem que ocorra falta do produto ou perdas.

O Programa Armazém da Família tem como instrumento para seu funcionamento o Fundo de Abastecimento
Alimentar – FAAC, fundo rotativo criado em 1990 com finalidade de compor o capital de giro necessário
para operacionalizar a compra e venda dos alimentos do Programa. A comercialização dos alimentos
realizada com baixíssima margem gera recursos para investimentos em equipamentos para modernização das
lojas, construção e reforma de Armazéns e também para custeio de todas as operações do programa tais como
armazenagem, logística de distribuição e transporte de mercadorias, transporte de valores, sistema de
segurança etc. O Fundo também subsidia programas e ações de Educação Alimentar e promove o cultivo de
hortas e lavouras.
A Prefeitura de Curitiba subsidia o programa arcando com custos de pessoal sendo funcionários do quadro
próprio nas funções de coordenação da logística, transporte, compras, coordenadores de armazéns, vendas
(caixas, recepcionistas), controle de qualidade etc. São terceirizados serviços de carga e descarga de
mercadorias, reposição de mercadorias nas lojas, serviço de limpeza. Observamos que o custo total do
programa em 2006 foi de R$11.350.000,00. No balanço de resultados em 2006 houve um giro de R$
64.077.000,00 em mercadorias. Considerando que o programa vende com 30 % de desconto, o mesmo
proporcionou aos seus usuários uma economia conjunta de R$ 34.000.000,00 e descontando-se o custo anual
de R$11.350.000,00 demonstrado na tabela 2, chega-se a um ganho de R$ 22.650.000,00 gerado pelo
programa no ano de 2006.
Consideramos estes resultados muito satisfatórios no que se refere aos objetivos estratégicos da instituição,
que é de facilitar o acesso ao alimento pela população de baixa renda. Desta forma rende mais o salário da
população e os recursos podem ser direcionados para outras necessidades básicas das famílias.

Tabela 2 :Custos aproximados do programa no ano 2006


Custeio 2006 Investimentos 2006 Total
Orçamento PMC
1.Pessoal - serviços terceirizados e 7.600.000,00
quadro próprio.
2. Investimentos 350.000,00 7.950.000,00

Orçamento FAAC 2.100.000,00 1.300.000,00 3.400.000,00


TOTAL 11.350.000,00

6. CONCLUSÃO
Na administração pública, não é raro nos depararmos com programas que, não obstante sua importância para
a população, são descontinuados quando ocorre a troca de governo. Isso ocorre a despeito do programa ser
bem sucedido ou não. A revitalização de um programa requer a conjugação de vários fatores que envolvem
desde capacidade técnica, vontade política e os olhos voltados para o bem comum, até recursos de tecnologia
e financeiros. Os gestores envolvidos precisam olhar o programa com os olhos do seu público alvo e entender
os seus anseios.
A participação de gestores de TI é importante para apoiar no dimensionamento das necessidades de
tecnologia e informação e na implementação das soluções. As variáveis no processo são as necessidades
tecnológicas e financeiras que irão depender do programa em questão, porém os fatores descritos acima são
imprescindíveis e, por serem qualidades inerentes a um bom gestor, tornam iniciativas como esta, passíveis
de reprodução por qualquer órgão ou instituição.
As soluções encontradas indicam que o poder público deve estar sempre monitorando seus programas por
meio de indicadores, pesquisa e consultas com os usuários, de modo a estar sempre revendo sua atuação e
reinventando formas de agir.
É necessária a definição de novos modelos de Gestão Pública que possibilitem a efetividade das ações
governamentais, diante dos diversos desafios e limitações que o setor público enfrenta para o alcance efetivo
de sua missão. A escassez de recursos financeiros e humanos, o ambiente político no qual o setor está
inserido, as restrições do funcionamento burocrático e as expectativas crescentes da sociedade por padrões de
qualidades cada vez mais elevados (FINGER; BRAND, 2001).No setor público, o governo cria valor para a
sociedade através de programas e ações que visam à proteção e manutenção da vida. O valor público se
baseia nos desejos e nas percepções dos cidadãos e uma vez que os recursos financeiros do setor público
provêm dos impostos pagos pela população em geral, é importante garantir que seus recursos estão sendo
bem empregados. Conforme afirma MOORE (2002), “os gerentes públicos devem procurar descobrir e
definir o que seria proveitoso fazer, assumindo uma atitude inovadora e promovendo mudanças naquilo que
fazem e na forma como fazem”. Nessa visão os gerentes focam seu olhar para fora da organização, ou seja,
no valor dos produtos e serviços que prestam, e também, para dentro da organização, na busca por eficácia e
adequação de seus instrumentos. Estes conceitos apesar de soarem como premissas, nem sempre condizem
com a prática observada na maioria das administrações públicas. A evidência disto acaba por dar a essas
práticas a característica de ineditismo.
Para o Armazém da Família, bons preços, qualidade e maior oferta de produtos e marcas são as principais
causas do sucesso do programa. Foi possível ganhar qualidade e preço nos produtos comprados, com
flexibilidade e agilidade no processo e respeitando-se a lei 8.666 de licitações. A experiência é inovadora e
aponta boas idéias e soluções, estas, aliadas a vontade de mudanças, mostram possibilidades de sucesso e
excelência na gestão pública.
Como política de segurança alimentar e política social o programa extrapola o quesito alimentação e
transcende para a saúde pública na medida que objetiva a nutrição das pessoas de baixa renda, sabidamente
as mais suscetíveis aos males provocados pela má alimentação. A visão da prevenção de doenças através da
oferta de boas condições de vida aos cidadãos também se configura em inovação nas políticas públicas no
Brasil.
A inovação tecnológica pode ser sentida no sistema de gestão do programa, que permite que as regras
estabelecidas sejam obedecidas à risca, garantido o propósito social do programa e coibindo abusos. O
sistema de renda máxima estabelecido como pré-requisito para participação, as cotas de consumo
estabelecidas para os clientes e ainda a identificação do cliente no momento da compra garantem que os
usuários tenham seus direitos respeitados e permitem ao Programa continuar existindo.
Os preços praticados nas lojas só são possíveis graças à gestão eficiente do programa. Sem uma ferramenta
que permitisse modernizar os processos reduzindo os custos operacionais e oferecesse condições de gerenciar
o sistema disponibilizando informações estratégicas e oportunas, certamente não seria possível atender a
clientela atual do Programa e ainda ampliar as unidades de atendimento.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos colegas da PMC que de alguma forma tornaram possível à revitalização do Armazém da
Família proporcionando maior facilidade de acesso aos alimentos à parcela importante da população de
Curitiba.
REFERÊNCIAS

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CURITIBA, Prefeitura Municipal/SMAB. Pesquisa PPQ. Curitiba, 2006.

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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948. Disponível em: www.onu-


brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php acesso em: 31.08.2005.
LEI Nº 11.346, DE 15 DE SETEMBRO DE 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e. Nutricional –
SISAN
Disponível em: http://www.rlc.fao.org/iniciativa/pdf/DAbrasil.pdf
Acesso em 12/09/2007

FAO - DIRETRIZES VOLUNTÁRIAS PARA O DIREITO À ALIMENTAÇÃO Roma, 23 de setembro de 2004.


Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/consea/static/documentos/dietrizesvoluntarias.pdf. Acesso em: 31 ago. 2005.

FERRER, Florência. O Governo eletrônico é uma condição dos governos contemporâneos, e não mais uma opção.
São Paulo, 2007. Disponível em : http://www.e-strategiapublica.com.br/docs/artigos/b2bjunho07.pdf Acesso em: 12 set.
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FERRER, Florência. E-government - O Governo Eletrônico no Brasil. São Paulo: Editora Saraiva, 2004.

FINGER, M.; BRAND, S. B. Conceito de “organização de aprendizagem” aplicado à transformação do setor público:
contribuição ao desenvolvimento da teoria. In: EASTERBY-SMITH, M.; BURGOYNE,L.A.(Coord.). Aprendizagem
organizacional e organização de aprendizagem: desenvolvimento na teoria e na prática. São Paulo: Atlas, 2001.

LEI Nº 8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8666compilado.htm. Acesso em: 31 ago. 2005.

PALUDO, Lia Nara. Armazém da Família: Afastamento e retomada da clientela em 2004 e 2005- Estudo de Caso.
Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2005.

MOORE, H.M. Criando Valor Público: gestão estratégica no governo. Rio de Janeiro, DF: ENAP, 2002.

PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter. Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. Rio de
Janeiro, RJ. Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998.
0

.
.

DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE
AMBIENTAL

Dalberty Marcos Souza Bravim


UNISAL-Lorena
Dalberty@ig.com.br

NATALIA MAIA NÓBREGA PEDROSO SOUZA BRAVIM


UNISAL-Lorena
Natmaiapedroso@hotmail.com

RESUMO

Para atender parcialmente às questões de aumento considerável da crise ambientalista e a necessidade de se


propagar o desenvolvimento sustentável, será colocada a priori no presente estudo tanto esta crise ambiental como a
necessidade de desenvolvimento sustentável, pretendendo dar uma contribuição nos seguintes aspectos:

- Identificar a necessidade da realização de um desenvolvimento sustentável;

- Expor como será possível driblar o crescimento econômico de forma que não afete o meio ambiente;

- Mostrar que há necessidade da construção de um novo paradigma e que se tem esta capacidade de
construir uma econômia entrelaçada ao bem estar e a natureza, de forma que as políticas ambientais podem se tornar
grandes negócios e, não apresentaram a face destruidora do meio ambiente como é vista atualmente em alguns países.

PALAVRAS-CHAVE:

1- Desenvolvimento e Sustentabilidade

2- Sustentabilidade Ambiental

3- Crise Ambiental

0
1

4- Construção de um novo paradigma

INTRODUÇÃO.

Recentemente, muito se tem falado sobre a relação entre a crise ambiental, o


desenvolvimento e a necessidade de se implantar um mundo sustentável. Apesar da
ampla diversidade de interesses e objetivos, das propostas de desenvolvimento
sustentável, muitas vezes parece que se faz menção a um único objetivo o bem comum.
Esse, portanto, é um dos propósitos deste texto, ou seja, mapear as tendências político-
ideológicas do despontar sustentável, analisando os significados, objetivos, interesses
que o constitui, assim como a necessidade da formação de uma nova estratégia político-
econômica ambiental, um novo paradigma.
A evolução do mundo capitalista sem o cuidado com o meio ambiente em que se
vive gerou um grande desequilíbrio, assim, apesar dos trabalhos de “formiguinhas” no
sentido de tentar restabelecer a crise ambiental, ainda se faz necessário implantar várias
políticas para combater a crise ambiental. Este trabalho tem como objetivo ressaltar
alguns aspectos relevantes neste universo ambiental, visando servir de esclarecimento e
aumento de saber nesta tão delicada área, que pouco ainda se tem feito de forma
eficiente, pois o meio ambiente é a sobrevivência de todos os seres humanos.
È importante que se tenha consciência da degradação e que se implante novas
técnicas para diminuir o impacto desta degradação, através principalmente de educação
ambiental para todos, indistintamente, sendo um zelar de todos os países sem
preconceitos quanto ao nível de desenvolvimento dos mesmos.
Este trabalho traz em seu bojo um estudo dinâmico sobre a crise ambiental e suas
conseqüências e também sobre a construção de um novo paradigma, ou seja, algumas
saídas para a desmistificação de que uma econômia avançada não corresponde a uma
econômia atenta aos cuidados com o meio ambiente.

1. “NOÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE”.

O homem vem sofrendo várias transformações ao longo do tempo, influenciado


inclusive pela nova era da informatização, ou seja, revolução tecnológica. Com isso
originou-se uma nova sociedade, uma sociedade pós-industrial, que altera as relações
sociais, ocorrendo à globalização da econômia, mais exigência e seletividade por parte
do mercado consumidor (flexibilização) e, ainda captação de mão –de – obra, ocorrendo
simultaneamente deterioração do meio ambiente natural, resultando em diversos
problemas de cunho social.
“Na época da Revolução Industrial, nada se fazia pela segurança dos
trabalhadores e quase nada também quanto aos aspectos ambientais das unidades fabris
(...)” (Assumpção, 2005, p. 13).
Assim nasce um novo olhar com a degradação ambiental que decorre de
milhares de anos, pois as alterações no meio ambiente provocam extinção de espécies e

1
2

com isso acabou no passado por condicionar o destino de antigas civilizações. Mesmo
assim, essa questão ambiental não é discutida de forma séria em todos os países, para
alguns países em desenvolvimento a era ambientalista é apenas um modismo.
Há necessidade de se analisar a degradação ambiental, para se alcançar um
equilíbrio ambiental, de modo que o mesmo não seja uma limitação ao crescimento e
sim a compatibilização do crescimento com a manutenção da qualidade ambiental para
a humanidade.
O sistema como um todo, empregador e operário, traz em seu bojo valores da
época da revolução indústrial, passando atualmente pela era da tecnologia onde se
agregou mais valores no mesmo sentido como: competição, aquisição de bens materiais,
obsessão pela tecnologia e ciência, de modo que tais valores fizeram do homem, um
ganancioso na busca de objetivos, que visam o crescimento econômico e tecnológico
acima de tudo, sem qualquer limitação. Gerando uma crise interna no sistema, nascendo
uma preocupação em repensar e formar um desenvolvimento sustentável.
No mesmo sentido, compartilha o ilustre engenheiro Arlindo Philippi Jr.:
As modificações ambientais decorrentes do processo antrópico de ocupação dos
espaços e de urbanização, que vem acontecendo em escala global, especialmente nos
dois últimos séculos, ocorrem em taxas incompatíveis com a capacidade de suporte dos
ecossistemas naturais, resultando em esgotamento de recursos naturais e poluição dos
ecossistemas. (2005, p. 61).

Com as diversas transformações e o progresso, não houve preocupações com a


natureza dentro da produção desenfreada, gerando assim muitos processos de destruição
ecológica e ambiental. O conceito de sustentabilidade surge do reconhecimento da
função vital da natureza, condição e potencial do processo de produção.
Sustentabilidade é a necessidade de viver em um planeta capaz de produzir tudo o que o
homem necessita, inclusive tendo boa qualidade de vida, viver de forma saudável em
harmonia com a fauna e a flora.
Assim, desenvolvimento sustentável é considerado: aquele que atende as
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem a suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos - chave:
- o conceito de ‘necessidades’, sobretudo as necessidades essenciais dos mais pobres do
mundo, que devem receber a máxima prioridade;
- a noção das limitações que o estagio da tecnologia e da organização social impõe ao
meio ambiente, impedindo-o de atender ás necessidades presentes e futuras.
Portanto, ao se definirem os objetivos do desenvolvimento econômico e social, é
preciso levar em conta sua sustentabilidade em todos os países – desenvolvidos ou em
desenvolvimento, com economia de mercado ou planejamento central.
O desenvolvimento supõe uma transformação progressiva da econômia e da
sociedade. Caso uma via de desenvolvimento se sustente em sentido físico,
teoricamente ela pode ser tentado mesmo num contexto social e político rígido. Mas só
se pode ter certeza da sustentabilidade física se as políticas de desenvolvimento
considerar a possibilidade de mudanças quanto ao acesso aos recursos e quanto á
distribuição de custos e benefícios. Mesmo na noção mais estreita de sustentabilidade
física está implícita uma preocupação com a equidade social entre gerações, que deve,
evidentemente, ser extensiva á equidade em cada geração.

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3

A necessidade de zelar pelos mais pobres, por países em desenvolvimento onde


falta comida, roupas, necessidades básicas é condição essencial, e também, o
reconhecimento de a tecnologia e a organização social estão impondo limites à
capacidade do meio ambiente de suprir as necessidades das gerações presentes e futuras.
Trata-se ainda, da evolução da econômia e da sociedade, elemento crucial, por
caracterizar-se como principal fator que condiciona a consecução do desenvolvimento
sustentável.
O conceito de sustentabilidade é sempre bem amplo, como se pode perceber:
O conceito foi introduzido no início da década de 1980 por Lester Brown,
fundador do Wordwatch Institui, que definiu comunidade sustentável como a que é
capaz de satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações
futuras. (CAPRA in TRIGUEIRO, André, Meio Ambiente no Século XXI, 2005,
p. 19).

É a propriedade de um processo que, além de continuar a existir no tempo, revela-


se capaz de: (a) manter padrão positivo de qualidade, (b) apresentar, no menor espaço
de tempo possível, autonomia de manutenção (contar com suas próprias forças), (c)
pertencer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e (d)
promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de qualquer tipo de
concentração e/ou centralidade, tendo em vista a harmonia das relações sociedade –
natureza
(http://www.sustentabilidade.org.br/doku.php?id=portug:redesustent:conc
eitos)

Desenvolvimento sustentável pode ser considerado como um processo que


permite satisfazer as necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de
atender as gerações futuras e principalmente a sua qualidade de vida.
É o processo político-participativo que integra sustentabilidades econômica,
ambiental, cultural, além das sustentabilidades coletivas e individuais, para o alcance e a
manutenção da qualidade de vida, seja nos momentos de presença de recursos, ou
quando há períodos de escassez, cujas perspectivas são a cooperação e a solidariedade,
entre os povos e as gerações.
(http://www.sustentabilidade.org.br/doku.php?id=portug:redesustent:conc
eitos).

“Porém a concepção de desenvolvimento sustentável tem sua base fixada na


Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em
Estocolmo, capital da Suécia, em junho de 1972”. (Philippi Jr., 2005, p. 257)
Nasce com isso à consciência da necessidade de se conseguir um crescimento
sustentado, com base em princípios de sustentabilidade, que trate da qualidade de vida
saudável e que trate também, da destinação dos dejetos industriais e mesmo caseiros,
para que isso não afete também o equilíbrio do meio ambiente.
A preocupação com o desenvolvimento sustentável foi proclamada, oficializada
e difundida com base na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o

3
4

Desenvolvimento, que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992, cujo objetivo era


exatamente a busca do entrelaçamento da econômia com a ecologia. (Philippi Jr.,
2005, p. 262).

Apartir da Conferência do Rio de Janeiro se busca de forma eficiente uma


reconciliação entre o crescimento econômico e a proteção ambiental, sendo este o desafio
mais latente para que haja um desenvolvimento sustentável mundial, os países precisam se
unir para realizar uma estratégia de crescimento com responsabilidade ambiental, para que
isso ocorra com eficiência se faz necessária a observação de alguns objetivos, pois como o
próprio nome diz desenvolvimento requer um processo contínuo e progressivo.

1.1 “OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento tem dentre os objetivos


do milênio, como meta de nº.- 07 Garantir a sustentabilidade ambiental, tendo como
objetivos a alcançar: “ integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas
políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais, reduzir pela
metade, até 2015, a proporção da população sem acesso permanente e sustentável a
água potável segura e até 2020, ter alcançado uma melhora significativa nas vidas de
pelo menos 100 milhões de habitantes de bairros degradados” (site:
http://www.pnud.org.br/odm/)
Em uma primeira idéia se faz necessário reativar o crescimento, principalmente
dos países em desenvolvimento onde se concentra maior índice de pobreza e para a
satisfação das necessidades essenciais e o acontecimento do desenvolvimento
sustentável é preciso que haja crescimento econômico, há uma inter-relação entre
ambos que caminham juntos.
Precisa-se mudar o padrão de crescimento utilizado por todos, criando um
padrão de desenvolvimento sustentável em longo prazo.
Deve-se alterar assim: o teor do crescimento, buscando torna-lo menos intensivo
de matérias-primas e energia, e mais eqüitativo em seu impacto.
Tais mudanças precisam ocorrer em todos os paises, como parte de um pacote de
medidas para manter a reserva de capital ecológico, melhorar as distribuição de renda e
reduzir o grau de vulnerabilidade as crises econômicas.
O desenvolvimento sustentável precisa atender as necessidades básicas e
essenciais para humanidade, tais como alimento, emprego, vestuário, água, dentre
outras coisas que são necessidades básicas de qualquer pessoa em qualquer lugar do
mundo, sendo preciso realizar um atendimento priorizado começando das camadas mais
pobres da população.
Os níveis de crescimento da população devem ser analisados para se criar um
nível seguro e sustentável, pois o desenvolvimento sustentável esta relacionado com o
crescimento populacional à medida que essa população cresce e como se relaciona com
os recursos naturais disponíveis.
Um outro objetivo será conservar e melhorar a base dos recursos naturais, sendo
evidente a preocupação e o dever da geração presente zelar para que as próximas
gerações encontrem respaldo para sobreviver, devendo manter a diversidade necessária
ao funcionamento equilibrado do ecossistema. Havendo com isso a busca em reorientar

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a tecnologia e gerenciar os riscos por ela causados, a tecnologia embora tenha em


muitos casos o seu perfil devastador é uma grande aliada para o homem, ela deve ser
reorientada para servir como base fundamental para o desenvolvimento sustentável.
Usar a tecnologia em prol do bem comum, ou seja, o equilíbrio e gestão correta do meio
ambiente.
Integrar o econômico e o ecológico exige mudança de atitude e objetivos em
diversos níveis, pois somente as leis não são capazes de alterar os interesses da
população, se faz necessário uma atuação dos governantes em conjunto com uma
política educacional forte e clara. È necessário que as pessoas se unam para tornar as
leis e as políticas mais efetivas e priorizar o meio ambiente, para solucionar esta
interação entre a economia e o meio ambiente saudável.
Para que o desenvolvimento sustentável se torne realmente aplicável se faz
preciso analisar uma serie de pré-requisitos como um sistema político que de uma maior
participação às pessoas, um sistema de produção ecologicamente responsável, uma
tecnologia voltada às preocupações ambientais, educação para todos, inclusive educação
ambiental. Sendo que esses pré-requisitos devem ser implantados em pequenas regiões
ou grandes, de maneira que se torne tão universal como a preocupação ambiental.
O sistema educacional é o mais importante devido a sua função, como principal
responsável pela transmissão constante do conjunto de valores, normas e regras,
definindo atitudes, crenças e o comportamento da sociedade.
Para que ocorra desenvolvimento sustentável sabe-se que será preciso integrar os
paises pobres com os considerados desenvolvidos, bem como unir todas as nações
através de uma política educacional e de conscientização da necessidade de prevenção e
restauração do meio ambiente degradado, bem como se utilizar de legislação atinente ao
problema, planejamento integrado, investimento do poder público e privado, utilização
do desenvolvimento tecnológico neste sentido, controle e responsabilidade social de
todos.
O crescimento sustentado deve ocorrer de forma global para sanar os problemas
que o planeta terra está apresentando, bem como aqueles que virão ainda com o
desenvolvimento desenfreado.

2. “A CRISE AMBIENTAL E O PRINCIPIO DE SUSTENTABILIDADE”.

O princípio da sustentabilidade pode-se afirmar oriundo do mundo globalizado,


onde a degradação ambiental trouxe em seu bojo a crise ambiental, onde se pauta
discussões acerca do crescimento econômico e a necessidade de sustentabilidade
ecológica, para a reconstrução garantia da sobrevivência humana.
Segundo o entendimento de Enrique Leff:
... A sustentabilidade ecológica aparece assim como um critério normativo para
a reconstrução da ordem econômica, como uma condição para a sobrevivência humana
e um suporte para chegar a um desenvolvimento duradouro, questionando as próprias
bases da produção. (2001, p. 15)

5
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Como já mencionado o conceito de sustentabilidade veio através da noção


mesmo que distorcida de que a natureza é a base para a produção, passando com isso a
surgir uma nova visão sobre a irracionalidade ecológica, definindo limites apartir de
então necessários para que o crescimento econômico possua novas estratégias de eco-
desenvolvimento.
Foi, entretanto, a partir das décadas de 60 e 70 do século XX que se tornaram
mais evidentes e generalizados os sinais de uma crise socioambiental de amplas
proporções e dotada de novas características. Trata-se, em primeiro lugar, de uma crise
global que incorpora e atinge, embora de maneira desigual, todos os continentes,
sociedades e ecossistemas planetários, ressignificando fronteiras geográficas, políticas e
sociais. ( Lima,2005, p. 110).
A constatação dessa realidade mundial que atinge as diversas camadas sociais e
as minorias, que abrange todo o planeta, demonstrando a vulnerabilidade do ser humano
diante da natureza. Cresce assim a preocupação de toda a sociedade e esta aos poucos
ocupando o espaço do progresso econômico. A degradação ambiental é sintoma da crise
de civilização, necessitando de reconstrução em todo o sistema, com as estratégias de
desenvolvimento sendo reformuladas. A idéia é vencer o mito da contradição entre
crescimento econômico e preservação da natureza.
Faz-se necessário conseguir um crescimento sustentado, com base em princípios
da sustentabilidade. As políticas do desenvolvimento sustentável acabam por desativar,
diluir e deturpar o conceito de ambiente, sendo assim um forte aliado à visão contraria,
necessita-se alcançar um desenvolvimento sustentável com equidade e justiça dentre
todas as nações.
Na percepção desta crise ecológica foi sendo configurado um conceito de
ambiente como uma nova visão do desenvolvimento humano, que reintegra os valores e
potenciais da natureza, as externalidades sociais, os saberes subjulgados e a
complexidade do mundo negados pela racionalidade mecanicistas, simplificadora,
unidimensional e fragmentadora que conduziu o processo de modernização. (Leff,
2001, p. 17).
A quebra do mito desenvolvimentista contrario ao meio ambiente é uma chave
para abrir as portas do desenvolvimento sustentável e da nova fase a ser vivida onde ser
vantajoso se preocupar com o meio ambiente.Porem esta percepção não está evidente
em todo o mundo pois para muitos essa idéia não passa de sonhadora.
No entanto, “o esgotamento de recursos esta se dando exatamente porque em
alguns lugares o modelo de produção, que parece infinito, deu ‘certo’. Desse modo, o
desenvolvimento e a sustentabilidade são aspectos contraditórios do processo. Onde deu
mais certo a produção de mais e mais mercadorias é onde mais se destruiu a natureza”. (
Loureiro apud Rodrigues, 2005, p. 117).
Com a globalização econômica começa-se agora a pensar em desenvolvimento
sustentável, desmistificando um pouco o pensamento contrario ao crescimento de forma
saudável, pois a crise dos paises de terceiro mundo esta afetando todos os demais, por
isso há necessidade de união entre eles para discutir sobre as questões ambientais, pois a
cada dia surgem novas situações que alteram o meio em que se vive, com as novas

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fases, como a cibernética, a biotecnologia dentre outras que estão crescentes e trazendo
grandes desarranjos ao mundo ecológico.
Para combater a crise ambiental em que se vive é necessário unir esforços
internacionais e nacionais no sentido de promover tecnologias compatíveis com a
preservação do meio-ambiente nas áreas como a energia, gestão de águas, agricultura e
transportes. Países em desenvolvimento precisam de melhores ferramentas científicas e
tecnológicas que lhes permitam basear suas ações num entendimento das condições
existentes. Além disso, o financiamento público, acordos de compra e outros
mecanismos podem ser utilizados para promover o desenvolvimento de inovações
ambientalmente benéficas.
“Alias, os próprios ecologistas argumentam que a questão ambiental não é uma ‘
especificidade’, mas uma dimensão que deve estar presente na reflexão global sobre a
sociedade” ( Hogan,1995,p.29).
Busca-se incorporar a natureza ao capital, de modo que se altere o homem, a
cultura e a natureza como formas aparentes de uma mesma essência: o capital. Passando
assim a ter a biodiversidade como patrimônio comum da humanidade e recodifica os
países de terceiro mundo como parte do capital humano do planeta.
Existe a possibilidade da tecnologia, aquela mesma que degradou o meio
ambiente deixe de ser vilã e com isso se passe a resolver os problemas necessários para
o desenvolvimento sustentável.
As estratégicas de sustentabilidade encontram respaldo nos princípios de
sustentabilidade ecológica, democracia participativa e racionalidade ambiental.
Tem se assim, a necessidade de encararmos o mundo como parte de nós mesmo,
que neste momento requer uma ordem econômico-ecológica globalizada.

3. “DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A CONSTRUÇÃO PARA UM


NOVO PARADÍGMA ( CONCLUSÃO)”.

O desequilíbrio ambiental embora muito comentado recentemente não deixe de


ser um problema que afetada o planeta a milhares de anos, com o uso inadequado do
solo, o desmatamento, a contaminação dos recursos hídricos foram percebidos e citados
em varias épocas, em diferentes contextos econômicos e sociais. Em muitos casos
foram causadores de desequilíbrio nas espécies e no meio ambiente como um todo.
A alteração na natureza é percebida praticamente em todos os momentos da historia,
porem a noção dessas alterações com um problema que necessita de tratamento e
reestabilização do equilíbrio é recente esta noção ainda esta em formação na cultura e
educação de muitos povos.
Com essa nova preocupação crescente em cuidar do meio ambiente de forma
sustentável, sabe-se que é necessário um crescimento renovável, com mudança de
qualidade do crescimento, de forma que haja a satisfação integral das necessidades
essenciais como emprego, saúde, saneamento básico, comida e mais necessidades
básicas para se viver.

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Bem como surge o dever de garantir um crescimento da população com nível de


sustentabilidade, com conservação e proteção dos recursos naturais existentes, o
surgimento de uma nova visão reorientadora da tecnologia e gerenciamento do risco e
das relações econômicas internacionais.
Assim, muitas empresas que não se adaptarem as novas exigências do mercado
sustentável irão desaparecer, seja pelo esgotamento dos recursos naturais dos quais
dependem diretamente, seja pela imposição do novo mercado consumidor cada vez
mais exigente e disposto a zelar pela sua sobrevivência, aquelas empresa que se utilizam
do desmatamento ou do trabalho escravo estão fadadas à morte.
Como fica evidente com o relato do Cebds:
De acordo com a avaliação da S&P, os cerca de 100 grupos empresariais
sobreviventes certamente serão muito diferentes do que são hoje. Mesmo sem bola de
cristal, podemos prever que as empresas que permanecerão no mercado nas próximas
décadas são aquelas cujos gestores subverteram a
ordem do modelo do capitalismo excludente e predador, e começaram, enfim, a adotar
uma estratégia com visão de longo prazo, aprendendo a transformar riscos e desafios
socioambientais em oportunidades de negócios(...) . Como diz o presidente do
WBCSD, o norueguês Bjorn Stigson: Não existe empresa saudável em uma sociedade
falida. (http://www.cebds.org.br/)
Passando com isso a existir uma nova visão de oportunidade de negócios
baseado na sustentabilidade ambiental surgirá um novo paradigma a ser seguido, onde
as vantagens serão aproveitadas e convergiram para o bem comum. Algumas empresas
terão que implantar mecanismos recriando e reciclando seus processos produtivos,
orientando-se sempre pela sobrevivência do planeta como todo.
Também se deve ater a preocupação com a formação de lideres que tenham a
melhor compreensão e aplicação da sustentabilidade dentro da empresa, o incentivo e
estimulo de parcerias com o objetivo de criar uma educação ambiental eficiente, como o
uso da credibilidade das empresas e as pessoas formadoras de opinião no sentido de
alterar sistemas, estruturas e políticas publicas sustentáveis.
Existem atualmente fortes grupos empresariais que estão conscientes e
trabalhando para que este quadro aumente entre as empresas, porém somente essas
empresas com suas políticas não resolve, pois precisa de uma mobilização mundial de
todos os setores políticos, sociais e empresariais para que ocorra um resultado
satisfatório.
O desenvolvimento sustentável somente terá eficiência quando a sociedade civil,
empresarial e política caminharem na mesma direção, será assim um fator determinante
para velocidade da mudança ambiental.
Conclui-se assim, que a questão ambiental precisa ser resolvida partindo da
junção dos governos nacionais e as comunidades internacionais para programarem
intervenções específicas na gestão do meio-ambiente, promovendo mudanças estruturais
e integrando questões ambientais a todas as políticas setoriais, bem como montar uma
política educacional que tenha seu foco no meio ambiente equilibrado, perfazendo
assim uma rede que una desde pequenas comunidades imbuídas de ajudar ao planeta até
os maiores países desenvolvimentista voltados para a mesma necessidade de se
recuperar o planeta, para essa geração e principalmente para as futuras.

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9

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

ABETRE – Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos –


Disponível em: http://www.abetre.org.br/. Acesso em 6 jul. 2007.

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9
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Disponível em : http://www.ibps.com.br/. Acesso 20 agosto 2007.

LEFF, Enrique; traduzido por Lúcia Mathilde Endlich Orth.. 2004. Saber
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Rede da Sustentabilidade –Disponível em:


http://www.sustentabilidade.org.br/doku.php. Acesso 25 agosto 2007.

10
PORTAL COMO TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO (TIC) NO APOIO A POLÍTICAS
PÚBLICAS: A DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES
SOBRE ESTUDOS E RELATÓRIOS DE IMPACTO
AMBIENTAL (EIAS-RIMAS)

Cláudia Viviane Viegas


Departamento de Pós-graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina
claudiav@egc.ufsc.br

RESUMO
A adoção de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) por parte de governos, visando a agilizar e modernizar a
disponibilização de informações em áreas como a de Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIAs-RIMAs), vem
delineando um campo de ação que pode ser caracterizado como o das políticas públicas de TICs para o meio ambiente. O
presente artigo mostra a emergência deste novo campo de ação, em seu significado social, como lapso de conhecimento e
de comunicação entre especialistas e elaboradores dessas políticas públicas e entre elaboradores e cidadãos,
respectivamente. Além disto, analisa desdobramentos das políticas de TICs na área governamental, especificamente
quanto ao uso de portal – mecanismo de busca e troca de informações em ambientes organizacionais – na disseminação
dos EIAs e RIMAs no Brasil. Por fim, apresenta e discute aspectos relativos à estruturação e funcionalidade do Portal
Nacional de Licenciamento Ambiental (PNLA), um projeto do Ministério do Meio Ambiente, quanto a seus problemas e
oportunidades na disseminação de EIAs e RIMAs.

PALAVRAS-CHAVE
Tecnologias de Informação e Comunicação; portal; políticas públicas; Estudos de Impacto Ambiental;
Relatórios de Impacto Ambiental.

1. INTRODUÇÃO: O PORTAL NACIONAL DE LICENCIAMENTO


AMBIENTAL (PNLA) COMO TIC PARA POLÍTICA PÚBLICA

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vêm ocupando espaço decisivo na disseminação de


políticas públicas à medida que os governos necessitam modernizar suas formas de interação com a
sociedade. Ambos os conceitos – de TIC e de políticas públicas – apresentam contornos ao mesmo tempo
nebulosos e interligados. Segundo Cohen et al. (2002: 34), assim como as tecnologias são construções sociais
em amplo sentido, e as TIC, em particular, são “um conceito jovem”, as políticas públicas carecem de uma
definição estrita (Birkland, 2001). Os portais, por sua vez, podem ser entendidos como modalidades de TICs
adequadas também à disseminação de políticas públicas. Este artigo tem por objetivo apresentar e discutir
conceitos de TICs voltados a políticas públicas, especialmente na área ambiental, como é o caso do Portal
Nacional de Licenciamento Ambiental. Também conhecido pela sigla PNLA, o referido portal é um projeto
criado em 2005 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). A análise é especialmente focada nos problemas
e oportunidades do PNLA quanto à sua capacidade de disponibilização, para o público, de Estudos (EIAs) e
Relatórios de Impacto Ambiental (RIMAs), sendo estes últimos documentos simplificados, derivados de
EIAs, cujo teor é eminentemente técnico. Os EIAS e RIMAs são exigidos por lei para empreendimentos de
significativo impacto ambiental. No item 2, apresentam-se e discutem-se conceitos de TICs, políticas
públicas e portais, bem como alguns impasses inerentes à realização prática desses conceitos. No item 3,
aborda-se o portal como TIC na disseminação de EIAs e RIMAs. No item 4, são apresentados critérios para
análise de portais. A descrição e a análise do PNLA estão no item 5 e, no item 6, apresenta-se uma breve
discussão sobre esta análise, sendo as conclusões expostas no item 7.

2. TICS, POLÍTICAS PÚBLICAS E PORTAIS: CONCEITOS E IMPASSES

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) são instrumentos que podem apoiar políticas
púbicas, dependendo da forma como estão estruturadas e se permitem ágil acesso por parte da população.
Uma política pública pode ser definida como uma ampla declaração com respeito às decisões legislativas e de
cortes judiciais, com fundamental referência pelo Estado e pelo conjunto da sociedade (Alberta Justice,
1995). Inclui leis, planos, ações e até mesmo a motivação de comportamentos (Birkland, 2001). Este autor
lembra que as políticas públicas podem também ser intenções declaradas por governos, as quais levam ou
não a ações efetivas. Assim, tais políticas determinam, por exemplo, um maior ou menor grau de
compromisso dos governos com respeito à elaboração, à estruturação e à disseminação de informações
pertinentes a ele mesmo, bem como determinam sua maior ou menor propensão ao uso de TICs. Estas, por
sua vez – também denominadas por Cohen et al. (2002) como “Tecnologias de Informação”, “Novas
Tecnologias de Informação” e até mesmo “Telemática” –, já estão incorporadas às políticas públicas, como
elementos extensivos às formas com que governos, especialistas e cidadãos interagem. As TICs, em resumo,
são:

(...) uma família de tecnologias e serviços eletrônicos utilizados para processar,


armazenar e disseminar informações, facilitando o desempenho de atividades
humanas relacionadas a informações, providas por e servidas para setores de
negócios e setores institucionais, bem como para o grande público (Cohen et al.,
2002: 35).

Especialmente nas últimas duas a três décadas, identifica-se uma crescente popularização das TICs,
acompanhando a transição de uma sociedade baseada nos valores típicos da produção industrial para a dos
valores calcados na economia da informação e, mais recentemente, do conhecimento. Na arena das políticas
públicas, a adoção das TICs reflete as expectativas e visões dos governos – principalmente dos especialistas
encarregados em traduzir tais políticas em ferramentas modernas de interface com a sociedade.
Fletcher (2003: 269) destaca a importância das políticas públicas de gerenciamento voltado à informação
na transição de governos “baseados em papéis” para governos “eletrônicos”. Mais recentemente, tem-se
problematizado a absorção das TICs na área pública como forma de os governos “esconderem do usuário
final um Estado burocrático” (Filho, 2005: 91).
Seja qual for a linha de debate, o que se percebe claramente, na relação entre políticas públicas e TICs,
especialmente quando se trata de analisar a apropriação, a adaptação e a aplicação dessas tecnologias pelo
setor público, é a configuração de impasses calcados em dois grandes lapsos: de conhecimento e de
comunicação. À medida que as TICs tornam-se foco de políticas públicas, elas passam a requerer maior
integração entre especialistas em áreas diversas – saúde, transportes, meio ambiente e outras – e especialistas
em elaborar essas políticas. Delineia-se, aí, uma grande possibilidade de instauração de gaps de
conhecimento, pois “a percepção das TICs por diferentes atores afeta o modo com o qual se percebe o papel
da intervenção das políticas públicas” (Cohen et al. 2002: 35).
Assim, enquanto o lapso de conhecimento ocorre ao nível da concepção das políticas em termos de
produtos e serviços materializados em TICs, o lapso de comunicação é configurado a partir das interações
entre sociedade em geral e os sistemas resultantes dessas TICs. Tais interações irão resultar nas formas mais
ou menos acessíveis de disseminação das políticas públicas através das TICs – como, por exemplo, na
maneira da oferta de serviços e documentos informatizados aos cidadãos.
Cohen et al. (2002: 36) chegam a mencionar e caracterizar o termo “política pública de TIC” como sendo
“(...) qualquer ação do setor público para avançar no desenvolvimento das TICs ou para promover o uso de
seus constituintes em benefício da sociedade”. Para eles, tal política existe de duas maneiras: como um fim

2
em si mesma, para estimular a utilização de TICs pela sociedade, ou de forma indireta, como um meio para
promover o acesso universal a informações e serviços que possibilitam mudanças de atitudes e
comportamentos. Neste último caso, pode-se mencionar a aplicação das TICs na disseminação de políticas
públicas para a área ambiental, visando a informar e a estimular a participação de cidadãos em processos
como a apreciação de Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIAs e RIMAs), por exemplo.
A publicidade dos atos administrativos referentes a EIAs é um princípio constitucional (Brasil, 1988) e
está implícita na legislação ambiental federal (Brasil, 1986; Brasil, 1997) à medida que textos legais de
resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão do Ministério do Meio Ambiente,
prevêem audiências e a participação pública para a apreciação de relatórios (RIMAs) derivados de EIAs. Na
maioria dos casos, esses relatórios são disponibilizados em órgãos ambientais estaduais ou municipais –
dependendo da competência do licenciamento. São geralmente volumosos e permanecem por cerca de 40
dias disponíveis, sendo o cidadão interessado obrigado a comparecer a tais órgãos públicos para ter acesso
aos mesmos. A possibilidade de disponibilização digital não apenas facilita a consulta a esses documentos
como permite aos cidadãos os arquivarem para consulta em qualquer momento, o que lhes proporciona tê-los
como fonte de consulta e aprendizagem perenes.
No presente artigo, os portais são concebidos também como TICs essenciais à disseminação de
conhecimentos para a popularização de Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIAs-RIMAs).

3. PORTAL COMO TIC NA DISSEMINAÇÃO DE ESTUDOS E


RELATÓRIOS DE IMPACTO AMBIENTAL (EIAS-RIMAS)
Assim como as políticas públicas em geral valem-se cada vez mais das TICs para se estruturarem e
difundirem, os Estudos de Impacto Ambiental (EIAs) aparecem como alvos naturais de formas específicas de
TICs. Isto ocorre em razão da extensão desses estudos – originalmente disponibilizados em tomos e volumes
que ocupam muito espaço e são de difícil portabilidade, estando acessíveis somente em repartições públicas
que muitas vezes funcionam em horário restrito – e de sua complexidade – que exige a simplificação da
linguagem e até mesmo a recorrência a recursos visuais mais atraentes, como figuras, fotos e infográficos,
por exemplo.
Cabe ressaltar que o conceito de EIAs não é simples. Segundo Zilberman (1995), eles constituem um
processo sistemático que envolve coleta, estruturação e análises de informações de acordo com diretrizes,
procedimentos e técnicas consagrados, e análise prévia das conseqüências de ações relativas à instalação,
modificação ou ampliação de empreendimentos que apresentem significativo impacto ao ambiente natural ou
criado pelo homem.
Pode-se considerar os EIAs como sistemas de informações que precisam ser gerenciadas para a obtenção
de licenciamento ambiental, ato administrativo introduzido pela Lei 6.938/1981, da Política Nacional do
Meio Ambiente (BRASIL, 1981). Os EIAs são práticas de políticas públicas ambientais recentes no Brasil,
tendo, no máximo, 26 anos. São produzidos por equipes técnicas, geralmente compostas por profissionais de
diferentes áreas, que coletam, identificam, compilam e organizam informações e conhecimentos visando ao
melhor mapeamento possível de contextos ambientais e dos impactos das possíveis mudanças desses
contextos, face à implantação ou modificação de empreendimentos. Podem ser elaborados sob orientação de
âmbito federal, sob competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), ou de órgãos
governamentais estaduais, dependendo de sua área de influência. Mais recentemente, até mesmo os
municípios vêm procedendo ao licenciamento ambiental de atividades locais de baixo impacto ambiental.
Os EIAs e seus RIMAs são considerados de domínio público porque servem para que os cidadãos
possam, em audiências públicas, opinar sobre as informações neles constantes. Por isto, segundo as
Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 001/1986 (Brasil, 1986) e 237/1997 (Brasil,
1997), tais documentos devem, necessariamente, ser disponibilizados a qualquer pessoa interessada. Em
geral, o acesso se dá por meio dos Relatórios de Impacto Ambiental (RIMAs), documentos que traduzem o
essencial dos EIAs em linguagem mais acessível à população, traduzindo termos técnicos em um conteúdo
mais compreensível a leigos. Contudo, pelo fato de serem volumosos e pesados – geralmente apresentados
em mídia impressa – e, desta forma, acessíveis apenas em órgãos públicos, e pelo fato de utilizarem

3
linguagem técnica – mesmo os RIMAs, muitas vezes, não conseguem evitá-la em um certo grau –, há uma
tradicional limitação quanto à acessibilidade desses documentos.
Visando a tornar os EIAs e RIMAs mais próximos dos cidadãos, algumas entidades governamentais da
área ambiental os têm formatado em mídia eletrônica e possibilitado o acesso a eles via Internet, em seus
websites, por meio de downloads. Mais recentemente, este tipo de acesso eletrônico vem evoluindo para o
formato de portal, o que permite uma contextualização mais abrangente dos EIAs e RIMAs em ambientes
informatizados. Contudo, esta não é uma transição fácil, dada a heterogeneidade entre diferentes websites de
órgaõs ambientais, bem como as barreiras já abordadas na concepção, estruturação e disseminação de TICs
como portais – lapsos de conhecimento e de comunicação. Além disto, o portal, em si mesmo, é um elemento
novo na área de TICs:

Portais de informações empresariais são aplicativos que permitem às empresas


libertarem informações armazenadas interna e externamente, provendo aos
usuários uma única via de acesso à informação personalizada necessária para a
tomada de decisão em negócios (Shilakes e Tylman, apud Dias, 2001:51).

O conceito trazido por Dias (2001), embora focado na área empresarial, pode ser compreendido no
contexto das políticas públicas de órgãos ambientais. Neste âmbito, os portais podem ser caracterizados como
amplas e abrangentes formas de acesso a documentos diversos – relatórios, estudos, formulários – que
possibilitam ao cidadão interagir com entidades governamentais e até mesmo valer-se de serviços públicos.
Conforme Kakumanu e Mezzacca (2005):

A tecnologia de portal emergiu primeiro quando motores de busca gigantes,


como Yahoo! e InfoSeek, desenvolveram uma avenida comum para usuários de
web, para que eles buscassem e desenvolvessem informações da Internet. Esses
itens emergiram como portões com rico conteúdo e lhes foi dado o título de
Portais (Kakumanu e Mezzacca, 2005: 129).

Os mesmos autores identificam o ano de 1998 como data de surgimento do primeiro portal corporativo no
mundo – o da Merrill Lynch que, ao lançar um relatório, naquele ano, teria se referido ao termo “portal” – ou
Entreprise Information Portals (EIP) – como um tipo de TIC emergente. Assim, os portais evoluíram do
status de meras ferramentas de busca de informações via Internet para poderosos mecanismos de estruturação
e integração de dados, possibilitando a personalização e a agregação de valor a funções de negócios nas
organizações. Dias (2001) os classifica, quanto à situação de uso, em públicos – que permitem amplo acesso
– ou corporativos – de uso exclusivo de corporações. Já quanto à função, os portais podem ser de suporte à
decisão ou de processamento cooperativo entre pessoas de uma mesma organização. No caso dos órgãos
ambientais responsáveis por disponibilizar EIAs à sociedade, os portais são de natureza pública/cooperativa.

4. CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DE PORTAIS


A avaliação de websites, tanto quanto a de portais, esbarra sempre em fatores subjetivos. Esta é uma
realidade presente nas análises de grande parte dos pesquisadores e desenvolvedores de websites:

Não apenas existe pouca concordância entre as fontes sobre quais são os critérios
mais importantes ou mais apropriados para avaliar um site web como também
poucos desses critérios aparecem em revisões, sugerindo uma falta de consenso
continuada (Sweetland, apud Furquim, 2004: 49).

Esta crítica tem respaldo também em Mok (apud Anderson, 2000), para quem “os critérios para um bom
website são muito relativos” (...), pois “as pessoas fazem julgamentos que refletem seus conceitos”
(Anderson, 2000: 48). Assim, segundo Mok (apud Andersom, 2000), se para alguns o importante em um
website ou portal é a arquitetura de software, para outros o design de comunicação é o mais relevante.
Nielsen (apud Anderson, 2000: 51) reforça que “ basicamente, a web é um ambiente muito dirigido pelo
usuário. As pessoas vão para a web para ver o que querem, quando querem e como querem” .

4
Fletcher (2003), ao relatar o desenvolvimento do portal FirstGov, elaborado em apenas nove meses
durante o governo do ex-presidente Bill Clinton (EUA), destaca a importância da integração dos times de
desenvolvimento e disseminação de informações, bem como a elaboração de uma taxonomia (sistema de
classificação por palavras-chave) robusta e compreensível ao grande público. Já Dias (2001) assinala a
usabilidade como uma das principais características de um portal. Usabilidade é:

(...) capacidade de um produto ser usado por usuários específicos para atingir
objetivos específicos com eficácia, eficiência e satisfação, em um contexto
específico de uso (ISO 9241, apud Dias, 2001: 51).

Numa conceituação menos técnica, mas também mais clara, Nielsen (apud Anderson, 2000: 52) destaca a
usabilidade como se tratando (...) “do entendimento de diferentes perspectivas e do entendimento do que
outras pessoas pensam” a respeito da utilização de um website. Já para Mok (apud Anderson, 2000), trata-se
do resultado do entendimento na colaboração entre indivíduos e grupos.
Tendo em vista a dificuldade de elencar critérios rigorosamente representativos para a análise de portais,
foram considerados, no presente estudo, itens compilados a partir de diversas pesquisas descritas por
Furquim (2004) e da análise por ela realizada com respeito a um site de compras governamental. Esta
compilação resultou em um quadro de análise (Quadro 1), cujos critérios são, no item 6, empregados para a
discussão dos problemas e oportunidades do Portal Nacional de Licenciamento Ambiental (PNLA) do
Ministério do Meio Ambiente do governo brasileiro, após a descrição deste portal, apresentada no item 5.

Quadro 1. Critérios para avaliação de portais


Critérios Atributos
Conteúdo Utilidade, confiabilidade e
atualidade das informações;
comodidade para encontrá-las
Estrutura Fácil entendimento da estrutura do
portal, facilidade de localização da
informação desejada, textos
preferencialmente curtos
Aparência Efeito visual agradável, impressão
satisfatória das telas, reprodução de
figuras sem perda de sua
funcionalidade, uso modesto de
efeitos visuais
Links Coerência dos links, inexistência de
links “quebrados”
Uso Facilidade de navegação, existência
de “mapa do site, tempo rápido de
resposta
Fonte: adaptado de Furquim (2004)

5. O PORTAL NACIONAL DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL (PNLA):


DESCRIÇÃO
O Portal Nacional de Licenciamento Ambiental (PNLA) foi lançado no início de junho de 2005 como um
instrumento de divulgação de informações sobre o licenciamento ambiental em âmbito nacional, atendendo à
Lei n º 10.650, de 16 de abril de 2003 (MMA, 2005). Tal lei contém dispositivos que determinam o acesso
público a dados e informações ambientais existentes nos órgãos e entidades que compõem o Sistema
Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) – o Instituto Nacional do Meio Ambiente (Ibama) e secretarias e

5
autarquias de Estados, do Distrito Federal e de municípios brasileiros envolvidos com atividades de
licenciamento ambiental. Conforme o Ministério do Meio Ambiente, o PNLA é “um mecanismo que
assegura a transparência do processo de licenciamento, permite o controle social, além de ser uma ferramenta
de suporte para a formulação de políticas e diretrizes de ação do MMA” (MMA, 2005).
Atualmente, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o PNLA inclui informações dos seguintes
Estados: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato
Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio
Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
Boa parte dos processos de licenciamento ambiental – que incluem EIAs e RIMAs, no caso de
empreendimentos de significativas alterações ao ambiente – estão a cargo de órgãos de governos estaduais,
das administrações diretas ou indiretas dos Estados. Isto dificulta não apenas o acesso, mas a integração de
informações desses estudos em um ambiente de fácil acesso e em uma linguagem homogênea. O resultado é
que os interessados nesses estudos perdem a possibilidade de acompanhá-los de forma ágil. Conforme o
próprio MMA, “com a implementação do PNLA, o Ministério do Meio Ambiente espera contribuir para a
democratização da informação e consolidação do licenciamento ambiental como instrumento público de
controle e gestão ambiental” (MMA, 2005).

4.1 Localização de EIAs e RIMAs na estrutura do PNLA


O PNLA apresenta um menu vertical lateral, à esquerda da página de Introdução, com doze links para
janelas, que são os seguintes: “O Portal”, “Licenciamento Ambiental”, “Órgãos Licenciadores”,
“Licenciamento do Setor Energético”, “Atividades/Empreendimentos”, “Pesquisar
Atividades/Empreendimentos”, “Legislação”, “Teses e Dissertações”, “Publicações”, “Estudos Ambientais”,
“Audiências Públicas”, “Galeria de Fotos”, “Vídeos”, “Links”, “Colaboradores”, “Contatos”,
“Seminários/Cursos/Manuais”, “Avaliação Ambiental Estratégica”, “Estatísticas de Acesso” (Figura 1).
Na parte superior do site, há um menu horizontal formado por três itens principais: “Temas”,
“Colegiados”, “Serviços”. Este menu horizontal não dá acesso a links para Estudos de Impacto Ambiental
(EIAs) nem para Relatórios de Impacto Ambiental (RIMAs), razão pela qual não é objeto de detalhamento.

6
Figura 1. Página de abertura do PNLA

Fonte: MMA: http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=46

Partindo-se do menu vertical (destacado com elipse pontilhada na Figura 1), buscaram-se os termos “EIA”,
“RIMA”, em suas siglas e por extenso. O resultado sumarizado da busca está esquematizado na Figura 2.

7
Figura 2. Esquema de resultado da busca por “EIA” e “RIMA” no PNLA

Temas Serviços Colegiados Entidades Vinculadas

O que é o Licenciamento?
Estrutura do SISNAMA
Introdução
Competências para o Licenciamento
O Portal Histórico
Etapas do Licenciamento
O que é o Licenciamento? Texto
Estudos Ambientais
Licenciamento Ambiental Atividades/Empreendimentos descritivo
Audiência Pública
Procedimentos
Prazos de Análise
Órgãos Licenciadores Acordo de Coop. Internacional
Validade das Licenças
Estatísticas de acesso
Estatísticas de Acesso

Licenciamento do setor
energético

Pesquisar Atividades/
Empreendimentos Órgão Federal
IBAMA
Legislação www.ibama.gov.br/licenciamento
Busca EIA
Teses/Dissertações Órgãos Estaduais via site do
Federal ACRE órgão
Publicações
www.seiam.ac.gov.br ambiental
(...)
Estudos Ambientais

Audiências Públicas

Galeria de Fotos I
B
A EIAs
Vídeos RIMAS
M
Links federais
A
Colaboradores
Contatos
Seminários/Cursos/Manuais
Avaliação Ambiental Estratégica
Estatísticas de Acesso

Geo Processamento
Checar coordenadas
Cadastro Técnico Federal
Rimas Federal
Estatísticas de Acesso

Fonte: esquema elaborado pela autora

Conforme o esquema representativo mostrado na Figura 2, acessado até 11 de setembro de 2007, a partir
do menu da esquerda, somente os itens segundo (Licenciamento Ambiental), sexto (Legislação) e nono
(Estudos Ambientais) fornecem, como resposta à busca pelos termos “Estudos Ambientais”, “EIA” ou
“EIAs”, links para os documentos correspondentes. No caso do segundo item, isto se efetiva apenas no
quarto link do menu, de cima para baixo, mas os EIAs não são encontrados, e sim apenas um texto descritivo.
A busca dos mesmos termos através do item “Órgãos Licenciadores” possibilita acessar um link para o órgão
licenciador federal (Ibama) com a subseqüente consulta e possibilidade de acesso a documentos de Relatórios
de Impacto Ambiental (RIMAs) federais.
Porém, a mesma consulta a partir de “Órgãos Licenciadores”, aplicada aos links de órgãos estaduais,
fornece poucos resultados efetivos. Dos 25 links estaduais indicados, 15 não deram acesso aos documentos

8
integrais de EIAs ou RIMAs (AC, CE, DF, ES, GO, MT, MG, PA, PB, PR, PI, RN, RS, SE, TO). Três, na
data acessada (11 de setembro de 2007), encontravam-se em manutenção ou não acessíveis (AL, AP, BA).
Dois sequer entraram em páginas de órgãos de meio ambiente, mas de governos dos Estados respectivos
(MA, RR). Três deram acesso a listas de EIAs e RIMAs, com nomes, indicação de elaboradores e dados
genéricos afins, mas sem fornecer a íntegra desses documentos. Apenas nos links referentes aos estados do
Amazonas (um EIA e três RIMAs) e Rio de Janeiro (dez RIMAs) foi possível localizar a íntegra de EIAs ou
RIMAs. Já o nono item do menu principal lateral “Estudos Ambientais” permite novamente chegar aos
RIMAs de competência federal disponibilizados no site do Ibama.

6. DISCUSSÃO: PROBLEMAS E OPORTUNIDADES DO PNLA QUANTO


À LOCALIZAÇÃO DE EIAS E RIMAS

Considerando-se os critérios elencados no Quadro 1 para a análise do PNLA, verifica-se que, quanto ao
quesito “Conteúdo”, as informações do portal são bastante genéricas para quem busca acessar a íntegra de
EIAs e RIMAs. Trata-se de informações repetitivas sobre o processo que envolve elaboração de EIAs, pois a
legislação básica que rege a construção desses estudos é a mesma em todo o país, ressalvadas exigências
específicas de órgãos estaduais. Somente nos links do órgão ambiental federal (Ibama) e dos correspondentes
estaduais do Amazonas e do Rio de Janeiro foi possível acessar links para downloads de EIAs ou RIMAs.
No que diz respeito ao requisito “Estrutura”, há clareza e concisão na apresentação dos itens dos menus
do portal, porém, existem informações redundantes entre os textos e não se conseguem localizar EIAs e
RIMAs integrais em todos os órgãos estaduais.
Quanto aos atributos “Aparência” e “Uso”, estes são, sem dúvida, o ponto forte do PNLA. Há uma
harmonia na apresentação de cores e na distribuição dos menus, sem sobreposição nem excesso. E existe um
mapa do site facilmente acessível. As janelas, a partir dos acessos aos links, abrem-se facilmente.
O requisito “Links”, contudo, apresenta alguns problemas, pois verificou-se, no caso da tentativa de
acesso aos órgãos ambientais de Alagoas, do Amapá e da Bahia, a situação de “página não encontrada” ou
“em manutenção”. Contudo, tal responsabilidade não pode ser atribuída necessariamente ao portal nacional.
Demanda uma investigação mais amiúde se a solução deste problema cabe ou não aos provedores dos
respectivos órgãos estaduais.
A busca de harmonia entre os diferentes websites de órgãos ambientais estaduais aparece como o grande
desafio do PNLA. Observa-se falta de integração entre a equipe desenvolvedora do portal e os responsáveis
pelos websites de órgãos ambientais estaduais que integram o PNLA. Isto fica claro quando, ao buscar
informações, acaba-se em páginas não encontradas, ou em páginas que não contêm o termo procurado, ou
mesmo em páginas cuja estrutura e apresentação sequer lembram a do portal nacional.
Nota-se uma oportunidade de melhoria a partir da eliminação dos chamados “lapsos de conhecimento” no
desenvolvimento de TICs para políticas públicas apontados por Cohen et al. (2002). Deveria haver
padronização dos websites de órgãos ambientais estaduais de meio ambiente conforme traços de design do
PNLA. Assim, pode-se, na atual situação do portal, questionar se ele preenche mesmo os requisitos do que se
entende tecnicamente como “portal”, especialmente quando se visualizam os mesmos enquanto estruturas de
TICs voltadas à gestão do conhecimento, e não apenas à busca de informações pontuais. Para o público que
procura pelo conteúdo integral de EIAs e RIMAs, o portal deixa muito a desejar e falha no cumprimento do
constitucional direito a informação e dever de publicidade dos EIAs, que cabe ao Estado, segundo o artigo
225 da Constituição Federal (Brasil, 1988).

7. CONCLUSÕES
Políticas públicas dependem sempre de instrumentos de informação e comunicação. As TICs são grandes
famílias de tecnologias e serviços eletrônicos que permitem aos governos agilizar e aprofundar o acesso das
pessoas em geral às informações de que elas precisam para exercer sua cidadania. Os portais,
particularmente, assomam como uma das TICs mais bem formatadas ao relacionamento entre governo e

9
cidadãos, dada a sua característica de via de acesso a informações em volumes e formas diversificadas e dado
o seu potencial de interatividade.
Contudo, ainda existem lapsos de conhecimento e de comunicação ao se projetarem portais, entre outras
TICs. Esses lapsos são claros nas políticas públicas voltadas à disseminação de EIAs e RIMAs no Brasil,
conforme se pôde analisar no caso do PNLA. Em que pese a falta de critérios puramente objetivos na análise
de portais e websites em geral, observa-se a necessidade de superação dos lapsos de conhecimento – entre
especialistas e elaboradores de políticas públicas – e de comunicação – entre elaboradores dessas políticas e
cidadãos – para a construção de portais com conteúdo, estrutura, aparência, empregabilidade de links e
usabilidade geral capazes de satisfazer a grande maioria das pessoas.

REFERÊNCIAS
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http://www.justice.gov.ab.ca/public_education/vocabulary.aspx?print=true. Acesso em 15 de junho de 2007.

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Birkland, T., 2001 An Introduction to the Policy Process: Theories, Concepts, and Models of Public Policy Making.
Armonk, NY: M.E. Sharpe.

Brasil, 1981. Lei 6.938. Brasília: Diário Oficial da União, 02 de setembro de 1981.

________, 1986. Resolução Conama nº 001/1986. Brasília: Diário Oficial da União, 17 de fevereiro de 1986.

_________, 1988. Constituição Federal. Diário Oficial da União, 5 de outubro de 1988.

________, 1997. Resolução Conama nº 237. Brasília: Diário Oficial da União, 22 de dezembro de 1997.

Cohen, G.; Salomon, I.; Nijkamp, P., 2002. Information-communications technologies (ICT) and transport: does
knowledge underpin policy? Telecommunications Policy, Elsevier, 26, 31-52.

Dias, C. A., 2001. Portal corporativo: conceitos e características. Ciência da Informação, Vol 30, Nº 1, Brasília, Jan/Abr.

Fletcher, P. D., 2003. Creating the front door to government: a case study of the FirstGov Portal. Library Trends. Urbana,
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Filho, A. R., 2005. E-citizen: why waiting for the governments. In: E-government: towards electronic democracy,
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Furquim, T. A., 2004. Fatores motivadores de uso de um website: um estudo de caso. Ciência da Informação, Vol 33, Nº
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Kakumanu, P. e Mezzacca, M., 2005. Importance of Portal Standardization and Ensuring Adoption in Organizational
Environments. Journal of American Academy of Business. Cambridge, Sept. 7,2, ABI/INFORM Global: 128.

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Zilberman, I., 1995. Conceitos e Metodologias para Estudos de Impacto Ambiental. Ed. Ulbra: Canoas (RS).

10
Estratégias para o Sistema Nacional de Inovação

Marcos Malagrici, Instituto Nacional da Propriedade Intelectual – INPI. Rio de Janeiro, RJ. Brasil;
Raul Suste,r Instituto Nacional da Propriedade Intelectual – INPI. Rio de Janeiro, RJ. Brasil;
Cláudia Pomar, Instituto Jurídico de Governo Eletrônico, Inteligência e Sistemas.

RESUMO: Nesta dobrada de milênio, a fronteira do conhecimento move-se freneticamente no tempo e no espaço,
extravasando reflexos na perspectiva mundial demarcada pelo dinamismo intensivo e acelerado das inovações
tecnológicas que abarcam desde softwares e semicondutores, perpassando os fármacos e atingindo áreas do futuro
como nanotecnologia, biotecnologia e energias renováveis. Este contexto permite o reconhecimento de que um sólido
Sistema de Inovação, cujos vetores são a promoção, proteção e transferência das energias criativas - proporciona um
estágio mais avançado e sustentável na economia dos países, indica estabilidade para investidores nacionais e
estrangeiros, e ancora avanços extraordinariamente relevantes para toda a humanidade que se beneficia dos resultados
das inovações globalizadas, estabelecendo a conexão entre produção do conhecimento, inovação tecnológica e
flexibilidade institucional.

PALAVRAS-CHAVE: Sistema Nacional de Inovação

1. Introdução

Até o final da década de 60, a visão que se tinha do processo de inovação era a de que a inovação ocorria
em estágios sucessivos e independentes de pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento,
produção e difusão (visão linear da inovação). Somente a partir da década de 70, baseado em diversos
estudos empíricos, é que se passa a ter uma visão do processo de inovação como um fenômeno complexo
e sistêmico (CASSIOLATO et al, 2005).
Dentre esses estudos, deve-se destacar os de Christopher Freeman a quem se a atribui a primeira
definição de Sistema Nacional de Inovação, que identificou Sistema Nacional de Inovação como “uma
rede de instituições no setor publico e privado cujas atividades e interações teriam como objetivo iniciar,
importar, modificar e difundir novas tecnologias” (FERREIRA NETTO et al, 2001).
Além de Freeman, estudos realizados por Richard Nelson, B. Lundvall, Keith Pavit, François, C.
Edquist, entre outros, trouxeram importantes contribuições para a compreensão do processo de inovação e
sobre Sistemas Nacionais de Inovação.
Sistema Nacional de Inovação pode ser conceituado como um conjunto de instituições que contribuem
para o desenvolvimento da capacidade de inovação e aprendizado de um país. Constitui-se de elementos
que interagem na produção, difusão e uso do conhecimento. “A idéia básica do conceito de sistema de
inovação é que o desempenho inovativo não depende apenas do desempenho de empresas e organizações
de ensino e pesquisa, mas também de como elas interagem entre si e com vários outros atores, e como as
instituições – inclusive as políticas – afetam o desenvolvimento do sistema” (Cassiolato et al, 2001).

2. Sistema Nacional de Inovação


De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, o recente
surgimento de políticas de inovação como um amálgama de políticas de ciência e tecnologia e política
industrial, sinaliza um crescente reconhecimento de que o conhecimento, em todas as suas formas,
desempenha um papel fundamental no progresso econômico, que a inovação está no âmago dessa
“economia baseada no conhecimento” e que a inovação é um fenômeno muito mais complexo e sistêmico
do que se imaginava. As abordagens sistêmicas à inovação deslocam o foco das políticas, dando ênfase
para as interações das instituições, quanto à criação do conhecimento, sua aplicação e difusão. Este
conjunto de instituições e fluxos de conhecimento passou a ser denominado de “Sistema Nacional de
Inovações” (OCDE, 1996).
De modo mais sintético, o Sistema Nacional de Inovação pode ser definido como “o conjunto de
instituições públicas e privadas que, no âmbito de um país, formulam, planejam executam, financiam,
apóiam atividades de C,T&I, bem como os usuários e beneficiários dessas atividades”1 .
No caso brasileiro, as principais instituições do sistema nacional brasileiro de inovação são, entre
outros: o governo, responsável pela política (como por exemplo, MCT, MIDC, INPI, INMETRO) e
principal financiador (através de por exemplo, FINEP, FAP’s); as universidades e institutos tecnológicos
(públicos e privados), responsáveis pela formação de recursos humanos (RH) e pesquisa. Diferentemente
do que ocorre nos países mais avançados, as firmas industriais têm pouca participação no sistema.
Somente no final da década de 90, após a abertura comercial, é que a inovação passou a ser
considerada no Brasil, a exemplo do que já ocorria nos países desenvolvidos, como importante elemento
das estratégias de desenvolvimento econômico, passando a ser incluída nas políticas tecnológicas e
industriais, e partir daí, é que uma série de medidas foram implementadas visando aumentar o volume do
financiamento para P,D&I, como por exemplo, a criação dos Fundos Setoriais (iniciada em 1999),
formados por recursos extra-orçamentários oriundos de contribuições sobre o faturamento de empresas
e/ou sobre o resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União, que se constituíram num
mecanismo “inovador” de estímulo ao fortalecimento do sistema de C&T nacional.
Apesar do baixo investimento em C&T ocorrido durante a década de 90, em função da crise
econômica pela qual o país passava, isso não impediu que o sistema científico se mantivesse numa
trajetória de crescente qualificação, mais no seguimento industrial o país conseguiu manter bom
desempenho econômico em apenas alguns setores específicos, tais como: aeroespacial, energia,
mineração, metalurgia, automobilístico, agronegócios, entre outros.
O resultado dessa política de baixo investimento em C&T, na década de 90, pode ser mensurado na
década seguinte. Enquanto que no período 2001/2003 a ciência feita no país cresceu a taxa superior a 8%
ao ano e a formação de doutores teve uma evolução anual média na ordem de 14%, a taxa de inovação da
indústria brasileira teve um tímido crescimento da ordem de apenas 1,8% 2 .
De acordo com a Pesquisa Nacional de Inovação Tecnológica – Pintec - 2005, no período 2000 a
2003, o número de empresas que faziam pesquisa e desenvolvimento de forma continuada no Brasil
diminuiu de 3.178 empresas para apenas 2.432 empresas.
Das grandes empresas brasileiras, somente 4% são inovadoras, sendo os setores que concentram a
grande maioria das firmas inovadoras o de mecânica e o de química, que correspondem, respectivamente,
a 26,2% e 22,5% das empresas brasileiras 3 .

3 Estratégias para o Desenvolvimento do Sistema Nacional de Inovação

Visando reverter este quadro, através da articulação das diversas instituições que formam o sistema
nacional brasileiro de inovação, o governo federal lançou, em março de 2004, a Política Industrial,
Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE, baseada num conjunto articulado de medidas que visa
fortalecer e expandir a base industrial brasileira por meio da melhoria da capacidade inovadora das
empresas.
Em dezembro daquele mesmo ano, foi criada a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial –
ABDI, tendo como objetivo executar e articular ações e estratégias da política industrial por meio do

1
Definição do Glossário da FINEP.
2
Revista Engenhar, editorial. O desequilíbrio entre produção e ciência e inovação.
3
IPEA-DISET/2006.
apoio ao desenvolvimento do processo de inovação e do fomento à competitividade do setor produtivo, e
também estimular a obtenção de propriedade intelectual 4 .
Ainda em dezembro de 2004, o governo federal promulgou a Lei da Inovação (Lei nº 10.973 –
02/12/2004), através da qual busca-se incentivar a parceria entre o setor produtivo e as instituições
públicas de pesquisa, e assim, fomentar a inovação no país.
Em 2005, foi promulgada a Lei nº 11.196 (21/11/2005), conhecida como Lei do Bem que, no seu
Capítulo III, cria incentivos fiscais e não-fiscais à inovação tecnológica.
Os Fundos Setoriais, a Lei da Inovação e da Lei do Bem, visa dotar o sistema nacional brasileiro de
inovação de um arcabouço legal institucional que estimule as empresas empreendedoras a desenvolver
P,D&I no país.
Entretanto, alguns óbices institucionais deverão ser superados, dentro os quais cabe destacar: a cultura
existente de baixa importância à inovação no meio empresarial e acadêmico; a falta de detalhamento de
procedimentos e orientações para efetiva operacionalização da Lei da Inovação; a falta de estruturas de
P,D&I nas empresas; a falta de estrutura nos órgãos governamentais envolvidos para atender a possível
demanda; a falta de continuidade das políticas e de prioridades; e a inexistência de macro-planejamento a
nível de país.
Outro fator a considerar é a necessidade de se aumentar os investimentos em P,D&I no país,
principalmente pelo setor privado, pois a taxa dos recursos aplicados anualmente em ciência, pesquisa e
desenvolvimento tecnológico representa apenas cerca de 0,89% do PIB, muito inferior àquelas aplicadas
pelas maiores economias do mundo, como por exemplo: os EUA (2,7%), Japão (3%) ou a Coréia do Sul
(2,5%). Uma outra característica é que nestes países 60% dos investimentos em P&D são feitos pela
iniciativa privada, em especial pelas indústrias, enquanto que no Brasil o setor público responde por 60%
e a iniciativa privada por 40% dos investimentos (PEREIRA, 2004).
Além disso, no que se refere à locação do capital intelectual, enquanto que nos países desenvolvidos
até 80% dos pesquisadores estão nas empresas e 20% na academia, no Brasil a proporção se inverte.
Enquanto nos EUA e na Coréia do Sul existem 760 mil e 94 mil pesquisadores nas empresas,
respectivamente, no Brasil, existem menos de 30 mil pesquisadores nas empresas, mas cerca de 120 mil
na academia. Esses dados talvez expliquem a baixa participação de produtos com médio e alto valor
agregado em nossas exportações, pois o esforço da academia, onde se concentra cerca de 80% dos
pesquisadores, não está direcionado para a inovação tecnológica, e sim para a pesquisa na fronteira do
conhecimento 5 .
De acordo com estudo do INPI (2006), no “ranking” dos 10 maiores depositantes brasileiros de
patentes, entre 1999 e 2003, em primeiro lugar aparece a UNICAMP (191 depósitos) e em segundo a
PETROBRÁS (177 depósitos) 6 . Entre os 20 primeiros colocados, 8 estão ligados ao setor publico, dos
quais cinco são universidades, que ocupam um espaço que deveria ser ocupado pelas empresas
industriais, a exemplo do que ocorre nos países tecnologicamente avançados.
Ao se utilizar como indicador da atividade inovativa o número de patentes concedidas nos EUA,
verifica-se que o país pouco avançou a partir dos anos 90.
Em 1991, o número de patentes concedidas nos EUA à Coréia do Sul era próximo do número de
patentes concedidas ao Brasil, 824 e 593 patentes, respectivamente. Em 2005, a Coréia do Sul, se
descolando dos demais países emergentes, alcança 4.428 patentes 7 , enquanto isso o Brasil consegue obter
apenas 280 patentes. Conseqüentemente, no “ranking” internacional, o país se afasta ainda mais do grupo
dos países desenvolvidos.
A analise do volume e do perfil do patenteamento no Brasil, também mostra o baixo desempenho do
país com relação às inovações. Dos 19.424 depósitos de patentes (PI e MU) realizados no Brasil em 2002,
verifica-se que 65% (12.692) foram de não-residentes, e 35% (6.732) de residentes. Praticamente a
totalidade dos depósitos estrangeiros (12.645) foram relativos a pedidos de invenções, inovações que
agregam maior conteúdo tecnológico, enquanto que os pedidos nacionais ficaram divididos,
aproximadamente 50% (3.363) pedidos relativos a invenções e 50% (3.369) relativos a modelos de
utilidades, na proporção de 3,7 pedidos de invenções estrangeiros para cada 1 nacional 8 .
O baixo desempenho do Brasil na área da inovação mostra a necessidade premente de interação entre
as diferentes instituições que integram o sistema nacional brasileiro de inovação.

4
Criada pela lei nº 11.080 de 30 de dezembro de 2004 e regulamentada pelo Decreto nº 5.352 de 24 de janeiro de
2005.
5
Revista Engenhar, editorial. O desequilíbrio entre produção e ciência e inovação.
6
Elaboração: INPI-DART
7
Fonte: OMPI – estatísticas.
8
Relatório de Atividades do INPI, 2003.
4. Considerações Finais

O Sistema de Inovação significa uma contribuição para o delineamento de um cenário favorável ao


desenvolvimento concomitante da pesquisa e da tecnologia – agentes da inovação, das estruturas
econômicas deste novo Século - oportunizando crescente transferência do capital intelectual concentrado
nos centros geradores de conhecimento para o sistema produtivo, ampliando a capacidade de
desenvolvimento industrial do País. Expressa ainda, afinidade com a atual Política Industrial, Tecnológica
e de Comércio Exterior (PITCE) do Governo Federal, vez que esta objetiva fortalecer e expandir o
Sistema Produtivo Nacional, utilizando-se, inclusive, de uma engenharia institucional que perpassa ações
complementares de melhoria dos processos de obtenção de marcas e patentes, certificação de produtos
para acesso a novos mercados, linhas de financiamento ao processo inovador e programas de capacitação,
elementos essenciais para um Sistema de Inovação.

Referências Bibliográficas

- Agencia Brasileira do Desenvolvimento Industrial. Disponível: www.abdi.gov.br.


- Cassiolato, J. E.; Lastres, H. – “Inovação e competitividade na industria brasileira nos anos 90”,
UNICAMP, Campinas (1997).
- Cassiolato, J. E.; Lastres, H. – “Sistemas de Inovação e Desenvolvimento: as implicações políticas”, São
Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 1, p. 34-45, São Paulo, (jan./mar.2005).
- Ferreira Netto, Maria J. S.; Antunes, Adelaide M. S. - “A Importância de um Sistema Nacional de
Inovação para o Setor de Termoplásticos no Mercosul”, Polímeros: Ciência e Tecnologia, vol. 11, nº 1, p.
16-26, Rio de Janeiro (2001). Disponível: www.scielo.br/pdf/po/v11n1/v11n1a05.pdf.
- Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP / Glossário. Disponível: www.finep.gov.br.
- Kaminskas, Reinaldo Góes. – “A Economia da Inovação Periférica – Formação do Padrão Inovativo
Brasileiro”. UNICAMP – Instituto de Economia, Campinas (2005).
- Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior. Disponível:
www.desenvolvimento.gov.br.
- OCDE. – “Manual de Oslo”, 2ª ed. (1996).
1

OBSERVATÓRIO, TIC E GESTÃO POR RESULTADOS

Esperidião Amin Helou Filho1, André C. Donadel1


1
Engenharia e Gestão do Conhecimento – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Caixa Postal 476 – 88040-900 – Florianópolis – SC – Brasil
e.amin@uol.com.br,donadel@egc.ufsc.br

Resumo: Este artigo tem como objetivo explorar as possibilidades de utilização


de Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC’s - na modernização da
Administração Pública, especialmente, na adoção da Gestão por Resultados,
baseada em indicadores e índices de desempenho. A utilização de TIC’s
apropriadas permite que os indicadores adotados – com transparência e
cautelas inteligentes e necessárias – possam ser acompanhadas,
particularmente, nos aglomerados urbanos, por observatórios implantados
segundo preceitos da ONU e por organizações não-governamentais com vistas
a assegurar legitimidade e credibilidade aos dados e às informações que devem
exprimir níveis de resultados de metas de interesse social. Valorizando os
atores em todos os escalões de governo e de entidades não-governamentais, a
Gestão por Resultados procura motivar o conjunto “agente público –
observatório – ONG’s – cidadania” a fixar, acompanhar, avaliar e
redimensionar objetivos de políticas públicas associadas, no foco deste
trabalho, às Agendas HABITAT e 21 da ONU.

Palavras-Chave: Gestão por Resultados, Indicadores, Observatório,


Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC´s.

Abstract: This article has the objective to explore the possibilities of utilization
of Communication and Information Technologies - CIT’s – in the process of
modernization in Public Management, specially, on adopting the Management
by Results, based in performance indicators and index-finger’s. The CTI’s,
when well adopted, admit that the indicators – utilized with transparence and
necessary and intelligent caution – may be followed, particularly, in the urban
conglomerations, by observatories implemented according UN precepts and by
non-governmental organizations to look at to guarantee legitimacy and
credibility of the data and of the information those must to express social goals
beyond result levels. Through the valorization of the agents of all the
government levels and of the non-government organizations, the process of
Management by Results seeks to motivate the group “public agent –
observatory – NGO’s – citizenship” to firm, to follow, to evaluate and to
redefine the object of public policies linked, according this work, with 21 and
HABITAT Agenda of the UN.

Key-Words: Management by Results, Indicators, Observatory, Communication


and Information Technologies - CTI´s.
2

1 Introdução

“No desenvolvimento sustentável, todos são usuários e provedores de informação, no sentido


amplo. Isto inclui dados, informação, experiências e conhecimento ordenados de forma
conveniente. A necessidade informação surge em todos os níveis, desde o nível executivo
nacional e internacional de tomada de decisões ao nível das bases e dos indivíduos. (Agenda 21,
capítulo 40)”.

Este texto propõe, a partir dos conceitos, aplicações e tendências de redes computacionais,
descrever e analisar as possibilidades de aprimoramento da coleta de dados e informações por
um observatório urbano (de indicadores) nos moldes preconizados pela ONU para, mediante
acompanhamento e avaliação da qualidade de vida em áreas urbanas sob análise, contribuir para
o aprimoramento do desempenho da gestão pública na região respectiva.
As condições em que vivem os aglomerados urbanos passaram a ser foco de preocupação
crescente de governos e entidades não-governamentais responsáveis por avaliação dessas
condições.
As razões fundamentais dessa preocupação crescente decorrem da evolução do processo de
urbanização que caracterizam a expansão populacional do Brasil. Segundo dados do IBGE, a
população urbana evoluiu de 12,5 milhões de habitantes, em 1940, para mais de 120 milhões em
2000.
Essa transformação da demografia do Brasil tem se manifestado através de desequilíbrio que
situa nosso País como um dos campeões da desigualdade social (RADAR SOCIAL, 2005, p.60-
61).
Não é errado agregar a tal fenômeno a incapacidade da Administração Pública diante dos
desafios que se apresentam. A falta de preocupação inteligente com o resultado seria corrigida
pela adoção de gestão “orientada para o cidadão e para o resultado”. (PEREIRA, 2005, p.25).
A Administração Pública em nosso País não conseguiu consolidar um modelo dotado da
autocrítica indispensável à sua permanente atualização de sorte a fazê-la competente diante de
uma realidade tão complexa. Como integrante da teoria padrão de organização, a administração
publica, entendida como exemplo das “organizações formais de variados objetos, têm existido
em todas as sociedades, embora só se tenham transformado em objeto de estudo sistemático
num estágio recente da história”. (RAMOS, 1989, p.125).
A Gestão por Resultados pretende incorporar à administração pública as melhores e mais
eficazes políticas desenvolvidas pela iniciativa privada. Visa impedir, pela preocupação
permanente com os resultados, que ocorra o fenômeno objeto da advertência de Osborne: “Após
seis meses na direção de uma instituição destinada a servir o público, especialmente se for
governamental, a pessoa mais inovativa e empreendedora passa a se comportar como um
burocrata da pior espécie, lento e rotineiro, ou como um político ávido de poder” (1994, p.
XIX).
Para que os resultados objetivos possam ser perseguidos e acompanhados permanentemente, é
necessário recorrer a recursos que a Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC)
disponibiliza de forma progressivamente inovadora. Tais recursos podem contribuir de maneira
relevante para a eficiência da Gestão por Resultados. A demonstração dessas possibilidades
constitui o eixo deste trabalho.
3

Sylvie Trosa afirma que “o serviço público evolui da pirâmide hierárquica à constelação de
atores diversificados” (2001, p. 37).

2 Tecnologia da Informação como suporte a gestão por resultado

Os avanços tecnológicos produzem desafios para as empresas e para a respectiva


competitividade. Igualmente, os governos, preocupados com os resultados que oferecem à
sociedade, são instados a modernizar a própria gestão e a apropriação dos atos, fatos e
atendimentos que geram e/ou produzem.
Um dos pilares da gestão é controle efetivo e robusto dos aspectos que envolvem o processo
gerido. Dentro da perspectiva de observatórios e de gestão por resultado o controle de dados e
informações torna-se indispensável. O volume de dados gerado e os controles efetuados por
estas ferramentas precisam ser estruturados por mecanismos confiáveis e precisos. Dentro desta
prerrogativa colocam-se as tecnologias de informação (TI) com soluções ágeis e concisas para
potencializar a transformação de dados em informações e conhecimentos. Entre as ferramentas
de TI que podem suportar características desta natureza, destacam-se os sistemas de informação.
Para Stair (1998), sistema de informação (SI) é um conjunto de componentes inter-relacionados
trabalhando, juntos para coletar, recuperar, processar armazenar e distribuir informações, com a
finalidade de facilitar o planejamento, o controle, a coordenação, a análise e o processo
decisório em empresas e organizações. Os usuários de SI são provenientes, tanto do nível
operacional, como do nível tático e mesmo estratégico e utilizam SI para alcançar os objetivos e
as metas de suas áreas funcionais.
Rezende(2000) coloca que um SI é provido de indicadores que: induzem a estratégia em toda a
organização e são, portanto, adequados para responder ao gestor se ele está ou não atingindo
suas metas; induzem os comportamentos desejados nos funcionários da empresa; expressam o
que deve ser feito; informam às pessoas como elas estão se saindo, individualmente e em grupo;
comunicam os resultados das ações realizadas (projetos e processos); estimulam a melhoria
contínua; reduzem a dissonância de focos, isto é, os desentendimentos quanto a objetivos;
disseminam o uso universal de conceitos por meio de uma linguagem comum. Neste trabalho, o
uso da tecnologia de SI é sugerido para suportar a coleta, armazenamento e disposição das
informações de geradas nos ambientes de observatórios. Estes apoiando a manutenção dos
indicadores que criam os alicerces para a gestão por resultados.

2.1 Arquitetura Proposta

O modelo de controle de dados proposto trabalha com uma arquitetura difusa para coleta de
dados e centralizada para o seu armazenamento. Seu objetivo é permitir a entrada de dados onde
eles são gerados, trabalhando com as alternativas de coleta disposta pelo local (Computador,
Palmtop ou outros sistemas de controle). Tais dados após coletados são enviados
automaticamente para um repositório central que além de agrupar as informações coletadas por
cada ponto de coleta ainda permite estabelecer um rastreamento da origem das informações. A
partir do sistema central de informações é possível acessar através da internet os indicadores de
controle em tempo real. Desta forma, a comunidade e os agentes de interesse podem
acompanhar a evolução de cada ação e apoiar a tomada de decisão em uma base concisa robusta
de informações. A figura 1 ilustra de forma genérica o fluxo de informações.
4

Figura 1 – Arquitetura proposta de controle de informação

2.3 Gestão da Informação e do Conhecimento

A gestão do conhecimento surgiu da necessidade de se capturar, armazenar, processar e


distribuir o conhecimento. Para Drucker (1999) a gestão do conhecimento é a seqüência lógica
da gestão da informação. Sua operação está relacionada e é interdependente conforme
apresentado na figura 2.

Dado Informação Conhecimento

Processamento de Gestão da Gestão do


dados informação conhecimento

Figura 2 – Evolução do Conhecimento (DRUCKER, 1999)

Os dados são fatos discretos e objetivos sobre eventos, sendo caracterizados como insumos para
a construção de informações. Já a informação é caracterizada por fluxos de dados interpretados
seguindo um determinado propósito. (DRUCKER, 1999).
Para Macintosh e Kingston (1999) gestão do conhecimento é a identificação e análise dos
requisitos e processos de conhecimento, juntamente com o planejamento e controle das ações
desenvolvidas por estes para o cumprimento dos objetivos da organização.
5

A soma de todos os recursos de conhecimento que ajudam uma organização pode ser
considerada a memória organizacional da empresa e para sua plena gestão a organização
precisa: (KINGSTON e MACINTOSH,2002)
• Ser capaz de capturar e representar seus recursos de informação e conhecimento;
• Compartilhar e reusar suas informações e conhecimentos para diferentes aplicações;
• Manter as informações e conhecimento disponível onde forem necessários para a
organização;
• Criar uma cultura que motive o compartilhamento e reuso da informação e do
conhecimento.
Segundo Davenport, Long e Beers (1998) a informação/conhecimento é um recurso, mas seu
efetivo gerenciamento requer investimentos também de outros tipos de recursos. Para os autores
existem muitas atividades de gestão de informação/conhecimento que necessitam de
investimentos para que sejam efetivas, entre elas se destacam:
• Captura da informação/conhecimento, i.e criação de documentos e migração deste para
sistemas computacionais;
• Adição de valor a informação/conhecimento através de edição,organização e refino;
• Desenvolvimento de informações de infra-estrutura tecnológicas e aplicações para
distribuição do conhecimento;
• Capacitação dos empregados na criação, compartilhamento e uso do
informação/conhecimento.
A gestão da informação e por conseqüência do conhecimento é fundamental dentro do modelo
de trabalho proposto. Tal ferramenta permite, a partir da estruturação dos dados coletados no
campo, através de um sistema de informação, estabelecer as informações de agregadoras de
valor que possibilitam a tomada de decisão por parte do consolidador das informações. A
associação de uma base de dados formal e de práticas de gestão da informação e do
conhecimento potencializam as ações e permitem o compartilhamento e aprimoramento das
práticas de gestão dos envolvidos.

3 Gestão por Resultados e Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)

A principal crítica ao modelo burocrático decorre da constatação de que ele dedica mais
energias ao "como fazer" do que ao resultado. Bresser Pereira adverte: “em todos os casos, o
esforço para avaliar os resultados e usar esses dados para servir de orientação às decisões
político-administrativas tem sido vital à revolução global da administração pública” (2005,
p.87).
O cerne da mudança pretendida está resumido na assertiva de Osborne: “se os resultados não
forem avaliados, não há como distinguir sucesso de insucesso” (1994, p.159).
A forma de avaliar, isto é, medir os resultados traduz-se em indicadores. Estes, segundo Hardi e
Berg (1997, apud BELLEN, 2005, p.45), “são utilizados para simplificar informações sobre
fenômenos complexos e para tornar a comunicação sobre eles mais compreensível e
quantificável”.
6

Exige-se dos indicadores a satisfação de requisitos como: a) relevância política; b) simplicidade;


c) validade; d) série temporal de dados; e) disponibilidade de dados de boa qualidade; f)
habilidade de agregar informações; g) sensitividade; e h) confiabilidade.
Para promover a transição do modelo burocrático para o fundado na Gestão por Resultados, são
recomendados alguns passos essenciais:
a) deflagrar processo de reflexão nos diversos níveis de gestão da organização, se
possível a partir de levantamentos/pesquisas que revelem graus de insatisfação e de
insucesso junto ao público-alvo, isto é, a sociedade;
b) socializar o conhecimento sobre o propósito da existência da organização com vistas
a deslocar o eixo da análise de gestão dos processos para os resultados e seus
impactos junto ao público-alvo:
c) conformar e/ou produzir indicadores e índices que traduzam objetivamente
resultados, constituindo-os referências para o aperfeiçoamento do processo de
trabalho da organização;
d) conceber dinâmica de atualização periódica de tais indicadores de forma a
transformá-los em subsídio para a racionalização das ações e do uso dos recursos
públicos;
e) indicadores atualizados passam a atuar como, aferidores de situação, fornecendo
informações necessárias para a adoção de medidas de gestão com vistas a aperfeiçoar
os processos, identificando e, classificando resultados;
f) transformar a série histórica, isto é, a evolução dos resultados expressos através de
indicadores em forma de avaliação/retribuição dos colaboradores e de prestação de
contas a comunidade.

A alimentação de dados e a própria dinâmica do processo dependem da disponibilidade de


informação de comunicação.
Essa dependência pode ser constatada e comprovada em se tratando, por exemplo, de uma rede
de postos de saúde.
Trabalhos sobre governo eletrônico resultam em requisição de tecnologia de informação e
comunicação compatível, conformada em rede de gerenciamento de dados, sem a qual os
registros locais são desprezíveis para finas de formulação, avaliação e reformulação de políticas
públicas.
Exemplo claro e eloqüente de utilização de rede para gerenciamento é fornecido pelo programa
Capital Criança, desenvolvido em Florianópolis, sob a liderança da sua Prefeitura Municipal,
com a participação ativa de entidades governamentais e não-governamentais. Em síntese, o
programa resultou na redução do índice de mortalidade infantil de 21,6/1000, em 1997, para
7,6/1000, em 2004, segundo informa a Secretaria Municipal de Saúde (Capital Criança, 2004).
Sem um sistema de informação, a estrutura não disporá dos dados indispensáveis para sua
operacionalização.
As aplicações e tendências examinadas no capítulo II são de crucial importância para a
formatação da Gestão por Resultados e delimitação de seu horizonte.
7

4 Observatórios Urbanos, Indicadores e TIC

O sistema de observatórios urbanos, iniciativa da ONU, pretende ser uma rede mundial de
informação com vistas a contribuir para a implementação da Agenda Habitat e da Agenda 21,
em âmbitos local, regional e nacional.
O objetivo dos Observatórios Urbanos é ajudar autoridades e comunidades a “melhorar a coleta,
análise e uso de informações para formulação de políticas urbanas mais eficazes” (Instalacion
de um OU, p.2).
A partir deste objetivo, os observatórios pretendem entender o funcionamento das cidades como
sistemas sociais e econômicos e, evoluindo a partir desse entendimento, favorecer a construção
de um planejamento integrado e eficaz, reunindo, no caso brasileiro, os entes federados.
Sob a coordenação de um Observatório Urbano Global (OUG), a rede de observatórios urbanos
pretende: a) fomentar processos de consulta visando colaborar na identificação e integração de
necessidades urbanas de informação; b) contribuir para o desenvolvimento de capacidades para
compilação de dados, formulação e aplicação de políticas públicas centradas em indicadores e
índices de desempenho; c) disponibilizar informações e análises de dados e de conjunturas
visando estimular participação comunitária nas decisões de políticas urbanas; e d) compartilhar
informação e conhecimentos, utilizando tecnologia de informação e comunicação modernas.
Através de uma rede global de observatórios locais, nacionais e regionais, associada a entidades
governamentais e não-governamentais, o OUG pretende oferecer a possibilidade de
comparações que estimulem e enalteçam as melhores práticas e os respectivos melhores
resultados, apurados em consonância com indicadores, isto é, de maneira objetiva. A ONU,
mentora deste processo, considera que o êxito ou o fracasso de uma política urbana é
conseqüência da ativa participação local. Por isto, enfatiza a necessidade de observatórios locais
capacitados para um diálogo construtivo e criativo com os agentes políticos locais e com a
sociedade organizada. A plataforma básica de informações de um Observatório Urbano Local
(OUL) se baseia nessa interação, de sorte a que se produza um “informe bienal sobre o estado
da Cidade”. Estabelece, ainda, regras para formação de grupo diretivo local, formas de
realização de consultas, avaliação da capacidade das entidades existentes e/ou a serem criadas,
como requisitos para o reconhecimento do observatório. Mais uma vez, avulta a importância de
adequada rede computacional capaz de conferir capacidade de obter e gerir informações e
dados.
Procedimentos e regras equivalentes são estabelecidos para o credenciamento de observatórios
urbanos nacionais e regionais.
A consecução de sistemas locais de informação dotados de transparência e credibilidade, úteis,
portanto, a uma administração eficaz é o foco pretendido pelo modelo de gestão pública por
resultados.
Na opinião de Osborne (1994), os governos são famosos pelos seus formulários e pelos números
que não têm fim. Muito raramente, os relatórios governamentais se relacionam com resultados
de interesse da sociedade.
Daí decorre que as experiências de sistemas locais de informação convivem com o desafio de
bem disporem três atividades básicas: entrada confiável e atual, processamento em tempo real e
saída em tempo real com resultados mensuráveis. Mais uma vez, o desafio da TIC está presente
na viabilização do objetivo do trabalho.
8

Além dessas três atividades, a realimentação (feedback) é fundamental para corrigir processos e
recomendar revisões. Comentando um sistema local de informação e a gestão pública da
qualidade de vida nas cidades, Tânia Keinert et al (2002, p.118) afirmam: “um sistema de
informação é composto por organizações, pessoas e tecnologia (meio pelo qual os dados são
transformados e organizados para uso das pessoas)”. Laudon & Laudon (1999, apud
KEINERT et al, 2002, p.118) propõem uma perspectiva sóciotécnica dos sistemas de
informação, segundo a qual os indivíduos passam por um processo de ajuste e descoberta na
medida em que os sistemas são desenvolvidos. De acordo com esta visão, a adequação da TIC
ao escopo da atividade não dispensa a compatibilidade com os agentes que operam o sistema, ou
seja , o conjunto de prestadores de serviços.
Para que um observatório cumpra finalidades úteis à gestão pública, alguns requisitos são
indispensáveis: a) atualização constante dos trabalhos, permitindo que as informações reflitam
com precisão a realidade e contribuam para formular, gerir e avaliar; b) análise territorializada,
de forma a vincular indicadores à componente espacial, ou seja, uma jurisdição; c)
inteligibilidade dos indicadores, ou seja, utilização de índices compreensíveis e comunicáveis; e
d) expressão de condições efetivamente importantes para a sociedade a que se volta o
observatório.
Os propositores dos observatórios partem do princípio de que “se o observatório não tem a
capacidade de influir na política pública, ele não deve existir!”. O papel do observatório,
portanto, não é o de definir políticas públicas, mas disponibilizar dados e informações úteis para
que os tomadores de decisões possam saber o que é melhor e por que razão.

5 Contribuição do Observatório e da TIC para a Gestão por Resultados

As duas agendas propostas pela ONU convergem, em nível local e regional. Os objetivos da
Agenda Habitat desdobram-se nos seguintes indicadores:
1.- Acesso a água potável;
2.- Acesso a serviços essenciais;
3.- Coleta de lixo;
4.- Durabilidade das habitações;
5.- Área suficiente para viver;
6.- Crescimento da população;
7.- Famílias pobres;
8.- Indicador chave de mortalidade em menores de cinco anos;
9.- Alfabetização;
10.- Emprego informal;
11.- Desemprego;
12.- PIB;
13.- Arrecadação de impostos;
14.- Ocupação segura / regime de ocupação;
15.- Segurança da propriedade (loteamentos irregulares);
16.- Preço da água;
17.- Esgoto e efluentes tratados;
18.- Criminalidade (homicídios);
19.- Tempo de translado.
9

De outra parte, a Agenda 21 sistematiza os seguintes “Objetivos do Milênio”, ancorados nos


respectivos indicadores e pretendidas metas:

Objetivos do Milênio Indicadores Metas


1- Erradicar a extrema a) percentual de pessoas abaixo da a) reduzir pela metade, até
pobreza e a fome linha de pobreza; 2015, a proporção da
b) intensidade da pobreza; população com renda abaixo
c) participação dos 20% mais da linha da pobreza;
pobres na renda total. b) reduzir pela. metade, até
2015 a proporção da
população que sofre de fome.
2- Educação básica de a) crianças de seis a quatorze anos Garantir que até 2015, todas
qualidade para todos freqüentando a escola; as crianças, de ambos os
b) taxa de conclusão do primário sexos, concluam um ciclo
por idade; completo de ensino básico.
c) taxa de alfabetização na faixa
etária de quinze a vinte e quatro
anos.
3- Igualdade entre sexos a) relação entre meninas e meninos Eliminar as disparidades entre
no ensino fundamental e médio; os sexos em todos os níveis de
b) relação entre mulheres e homens ensino, até 2015.
alfabetizados na faixa etária de
quinze a vinte e quatro anos;
c) relação entre rendimento e
ocupação de mulheres e homens
com emprego formal;
d) proporção de mandatos ocupados
por mulheres na câmara de
vereadores.
4- Reduzir a mortalidade a) taxa de mortalidade de crianças Redução em dois terços, até
infantil menores de cinco anos; 2015 da mortalidade de
b) taxa de mortalidade infantil; crianças menores de cinco
c) proporção de crianças de um ano anos.
imunizadas contra o sarampo.
5- Melhorar a saúde a) taxa de mortalidade materna; Reduzir em três quartos, até
materna b) porcentual de gravidez na 2015 a taxa de mortalidade
adolescência; materna.
c) assistência médica às gestantes.

Objetivos do Milênio Indicadores Metas


6- Combater a AIDS e a) taxa de mortalidade AIDS; a) até 2015, deter a
outras doenças b) incidência de AIDS. propagação do HIV/AIDS e
começar a reverter seu
10

crescimento;
b) até 2015, deter a incidência
de malária e outras doenças e
começar a reverter seu
crescimento.
7- Garantir a a) proporção da população com a) integrar os princípios do
sustentabilidade acesso a água tratada; desenvolvimento sustentável
ambiental b) proporção da população com nas políticas e programas
acesso a tratamento sanitário; nacionais e reverter a perda de
c) proporção de famílias com título recursos ambientais;
seguro de posse do domicilio. b) reduzir pela metade, até
2015, a proporção da
população sem acesso
sustentável a água potável
segura e saneamento básico;
c) até 2020, ter alcançado uma
melhoria de vida significativa
para os habitantes de bairros
pobres/favelas.
8- Estabelecer parcerias a) linhas telefônicas por 100 a) avançar no
para o desenvolvimento habitantes; desenvolvimento de um
b) computadores pessoais por 100 sistema comercial e financeiro
habitantes. aberto, baseado em regras
previsíveis e não
discriminatórias;
b) formular e implementar
estratégias que permitam que
os jovens obtenham um
trabalho digno e produtivo;
c) em cooperação com
empresas farmacêuticas
proporcionar acesso a
medicamentos.
Quadro 1: Objetivos para o Milênio.
Fonte: ONU/Agenda 21 (2007).

A experiência mostra que a utilização de indicadores está sujeita a armadilhas e perigos,


traduzidos nos seguintes elementos: a) “visão de túnel” – ênfase no que é quantificável,
desprezando-se os aspectos de desempenho não quantificáveis; b) “sub-otimização” – prioridade
para rotinas prejudicando objetivos mais amplos; c) “miopia” – perda de objetivos de longo
prazo; d) “fixação no número”, em prejuízo do serviço aferido; e) “má representação” – fraude
deliberada dos dados; f) “má interpretação” – aceitação acrítica do resultado; g) “jogo” –
produção de metas fáceis para sucessos aparentes; e h) “ossificação” – inflexibilidade na fixação
de objetivos.

6 Conclusões e Recomendações
11

Os Observatórios Urbanos podem converter-se em instrumento importante para estimular o


desenvolvimento da Administração Pública, dotando-a de mecanismos de motivação e
emulação, pela fixação de metas objetivas e pela comparação de resultados entre organizações
governamentais e não-governamentais locais.
A emulação referida enseja a possibilidade de se construir um "ciclo virtuoso" no qual a energia
dos agentes públicos seja estimulada a superar o desempenho alcançado por ela mesma
anteriormente ou por outra jurisdição.
O estabelecimento de indicadores deve levar em conta algumas armadilhas. As relacionadas a
inteligência e à credibilidade dos dados são as que mais conspiram contra a boa prática da
Gestão por Resultados, exigindo, conseqüentemente, cautelas e busca de segurança.
A sistematização desses indicadores e a participação de agentes independentes na auditoria de
seus elementos constitutivos e nos sistemas de informação e comunicação que ensejam sua
atualização podem contribuir para sua legitimidade e confiabilidade.
O desenvolvimento e a aplicação das TIC's determinará as possibilidades reais de alimentação
dos sistemas organizacionais com dados atuais, permitindo sua conversão em instrumentos de
gestão. A participação comprometida de todos os escalões governamentais e das organizações
comunitárias, aliada à transparência, é requisito essencial.
Finalmente, a conjugação positiva e cooperativa de Observatórios Urbanos, TIC, ONG's e a
Gestão por Resultados podem representar a reabilitação da Administração Pública, tomando-a
útil para a elevação da qualidade de vida das pessoas e da Sociedade.

Referências
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ed. Rio de Janeiro: Ed. da Fundação Getúlio Vargas, 1983. 350 p.
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RESEARCH ABSTRCTS
PENSAMENTO SISTÊMICO NA EDUCAÇÃO:
IMPRESCINDIBILIDADE NA ERA DO CONHECIMENTO

Adelcio Machado dos Santos (UFSC/EGC) adelcio@rebelnet.com.br


Nilo Otani (UFSC/EGC) ni_otani@yahoo.com.br
Ana Maria Bencciveni Franzoni (UFSC/EGC) afranzoni@egc.ufsc.br
Pedro Antônio de Melo (UFSC/CAD) pedromelo@cse.ufsc.br

RESUMO
Para melhor direcionamento do esforço em busca de se atingir o aperfeiçoamento da educação, alguns conceitos nos
campos de pesquisa e desenvolvimento precisam ser abordados, assim, é possível observar o real significado da qualidade
do ensino e de um processo. A eficácia, para que tais objetivos sejam alcançados, encontra-se principalmente no
indivíduo que aprende. A escola é o universo aonde acontece o encontro do conhecimento com a ânsia do saber,
precisando essa estar bem compreendida, ao mesmo tempo buscando novas maneiras de ensinar e o pensamento
sistêmico vem ganhando espaço cada vez maior no contexto educacional. Nesse sentido, surge a teoria dos sistemas que
tem seu fundamento situado no livro desse biólogo intitulado de Teoria Geral dos Sistemas, dado à luz em 1968,
princípios esses voltados principalmente para a Física, Sociologia e Ciências Biológicas, ademais de modelos gerais para
qualquer das ciências envolvidas. O conhecimento tornou-se um dos fatores principais de superação de desigualdades, de
agregação de valor, criação de emprego qualificado e de propagação do bem-estar. As mudanças e as inovações
tecnológicas, na Era do Conhecimento, acontecem em ritmo tão acelerado que se faz essencial a Gestão do Conhecimento
nas organizações, mormente no âmbito educacional.

PALAVRAS-CHAVE
Pensamento Sistêmico; Educação; Sociedade do Conhecimento.

1. INTRODUÇÃO
O Pensamento Sistêmico pode ser entendido como a capacidade de perceber, modelar e avaliar as
conseqüências das ações de maneira expandida no tempo e no espaço. Podendo ser tido também como a
forma de pensar e construir pensamento, no sentido cognitivo, em que o processamento deste conhecimento é
influenciado por uma linguagem de base sistêmica.
No mundo moderno, cada vez mais se observa a necessidade de novas maneiras de ensinar, pensar e agir.
Com as modificações tecnológicas, faz-se necessário um sistema educacional que primeiro e
primordialmente faça com que a ciência chegue ao menos favorecidos, é necessário a compreensão de física,
química, matemática e a biologia. Dessa maneira será possível, entre outros aspectos, utilizar
sistematicamente os conhecimentos adquiridos nesses campos de conhecimento.
Entretanto, a dificuldade para se implementar inovações é um dos obstáculos encontrados para colocar em
prática novas idéias. Os indivíduos confiam em suas antigas e testadas maneiras de agirem empiricamente.
Nesse contexto, o universo organizacional se assemelha ao universo, tal como é conhecido, tanto na forma
estrutural com em suas dinâmicas. Existem ainda visões semelhantes, na comparação entre os dois universos,
para o entendimento do nível micro e macro. Numa compreensão integrada desse universo organizacional, o
Pensamento Sistêmico apresenta-se como possibilidade promissora, visto que busca entender essas visões
macro e micro segundo um todo maior do que a soma das compreensões segmentadas, compreensões estas
que ainda predominam nos estudos sobre tal universo.
Alternativas de compreensão das organizações constituem-se em particular desafiador entre os estudos
organizacionais: pois, embora as organizações existam, não existem compreensões suficientemente
consistentes que unam o macro ao micro-universo organizacional.
Na década de 60, Peter Senge apresentou as abordagens referentes à Quinta Disciplina, que servem como
embasamento para o Pensamento Sistêmico apresentado nesse artigo. Observa-se dessa maneira demonstrar
algumas transformações ocorridas com a educação nos últimos tempos, de que maneira essas mudanças têm
modificado a maneira de agir, de pensar, de ensinar, de aprender.
Com o surgimento do Pensamento Sistêmico tendo como base das idéias de Senge pretende-se
incrementar as metodologias sistemáticas de ensino, como será demonstrado. Até porque a abordagem
sistêmica busca lidar com a complexidade dos sistemas, o realismo dos modelos, e a resolutividade dos
problemas. À medida que o sistema é simplificado, perde o realismo, mas se torna de maior resolutividade.
Em contraposição, na medida em que se aumenta o realismo do modelo proposto, mais complexo se torna o
sistema e de mais difícil resolução.
Entretanto, ainda com todos esses conceitos novos sendo colocados em prática, ainda observa-se uma
lacuna entre a ação e a teoria, sendo aos poucos preenchidas pelas ciências sociais, que vêm relativizando
alguns conceitos, como o da neutralidade total do cientista e nesse papel as diferentes metodologias
sistêmicas tem um papel fundamental.

2. AS TRANSFORMAÇÕES DA EDUCAÇÃO
Com o crescente desenvolvimento de novas tecnologias, aconteceram mudanças significativas na
concepção de administração, levando-a evoluir para uma busca continuada para se atingir seus objetivos, com
a eficácia passando a ser o principal fundamento do esforço administrativo.
Trazendo-se tal conceito para a educação, diretores e professores necessitam cada vez mais ser
estimulados a serem empreendedores e apresentarem uma percepção bastante ampla do que é esperado da
educação, tanto como processo que educa, quanto na estrutura que a viabiliza.
É indispensável, entretanto, para direcionar o esforço do aperfeiçoamento, que se defina, nos aspectos de
pesquisa e desenvolvimento e, em especial, na compreensão do que é a qualidade do ensino nas facetas do
processo. É preciso disponibilizar a resposta para o que se deseja e necessita aperfeiçoar. Planejar de maneira
estratégica para buscar o resultado apenas será possível, com a eficácia requerida, depois de uma clara
definição.
Conceitos políticos e econômicos tradicionalmente resistentes ganham novas conotações pode-se afirmar,
de acordo com Drucker (apud MELO, 1979, p. 10) que “o capital sem o elemento humano é estéril, ao passo
que as pessoas podem transpor montanhas sem ele”, uma vez que “o desenvolvimento humano requer o
rápido crescimento dos talentos humanos e seu emprego nas oportunidades; requer liderança de ordem
superior e também seguidores que possam transformar em realidade a visão do líder”.
Dessa maneira, é possível observar que o real significado da qualidade do ensino precisa ser o mesmo
para os envolvidos no processo, tanto de forma direta, como indiretamente. Mesmo que, tenham percepções
diferentes, mas não antagônicas, o conceito, no que for fundamental, tem que ser único. É necessário que
esses aspectos tenham procedimentos relativos à qualidade ao alcance de todos, afinal, conhecimento e
comprometimento formam a base do sucesso.
Para que se possa oferecer o conhecimento adequado à compreensão do que, cada um precisa contribuir
para que a qualidade seja alcançada, faz-se necessário decodificar o conceito e as tarefas correspondentes a
cada atividade. Exclusivamente quando se consegue a compreensão exata do que é esperado é que se pode
sentir a motivação e o comprometimento.
Para se obter essa qualidade, de acordo com Melo (1979) os investimentos em educação devem obedecer
a uma estratégia bastante sofisticada a fim de que realmente ofereçam os resultados que se espera delas. As
reflexões devem indagar sobre os fins desejados pela educação não devem apenas atender as aspirações
atuais, mas também às que serão emergentes do processo de mudanças.
Tal como a Qualidade Total que verificou ser imprescindível abranger fornecedores e clientes no
empenho para atingir seus objetivos, também a Educação necessita fazê-lo. Comunidade, prefeitura clubes de
serviço, associações comerciais, enfim, as forças vivas da sociedade precisam juntar esforços para que os
objetivos sejam alcançados.
O sistema educacional precisa ser revisto pelos seus agentes. O ambiente externo ao sistema tornou-se
turbulento; as expectativas sociais mudaram. Somente num processo contínuo de aprendizagem é possível
manter atuais os procedimentos em uso e, para isso é preciso que sejam resolvidos os problemas de forma
sistemática, experimentando novas abordagens, aprendendo com o passado, aprendendo também com as
melhores práticas dos outros e transferir conhecimentos.
Faz-se imprescindível também manter o sistema educacional em ininterrupta interação com o meio
ambiente, tornando-o dessa forma flexível, inovador, eficaz e participativo, enquanto estrutura
organizacional.
A eficácia, porém, encontra-se do outro lado da sala, o principal elemento do processo é o indivíduo que
aprende. Ao se considerar a pessoa que aprende e não a que ensina como personagem central do processo
determina a característica das tecnologias modernas de aprendizagem.
É necessário que se procure de maneira contínua no sistema educacional, a aprendizagem, entendida
como uma mudança no indivíduo, devida à interação desse indivíduo com o seu ambiente, que preenche uma
necessidade e o torna mais apto a lidar adequadamente com o seu ambiente.
A busca da excelência na educação engloba fundamentalmente o fazer pedagógico, a direção do fazer e
do complexo sistêmico que ambienta esse fazer.
Um sistema eficaz que derive, de forma obrigatória, num aluno educado, sempre que esse mantenha
"adequação" – sendo essa entendida como a satisfação das exigências básicas do processo - dentro do tempo
previsto para essa realização. O sistema deve, do mesmo modo, possuir instrumentos capacitados a avaliar e
reajustar, com sucesso progressivo, os alunos que venham a oferecer deformidades nessa "adequacidade",
compreendida assim, sua saúde física e mental, além de sua motivação pessoal.
O aluno, não age por acaso, mas movido pelas suas necessidades, da família ou até mesmo do grupo
social. São vulneráveis às necessidades externas a si e elas o levam a decidir-se por seus objetivos como
pessoa ou, o que é ainda mais comum, pelos objetivos dos seus responsáveis, e essa realidade precisa estar
sempre contemplada no sistema.
Ao se compreender a escola de maneira integrada e dinâmica, sob o prisma de um pensamento sistêmico
e capacitado a fornecer-lhe instrumentos conceituais que a admitam operar com disciplina metodológica e
independência pedagógica, é uma questão que necessita ter como resposta propostas claras, conhecida e
aceitas pelos envolvidos nesse processo.
A escola, sendo o universo aonde acontece o encontro do conhecimento com a ânsia do saber, precisa ser
bem compreendida, não apenas como realidade atual, mas ao mesmo tempo como busca do futuro, do
inusitado, do vir a ser, dentre todas essas transformações, o pensamento sistêmico vem ganhando espaço cada
vez maior no contexto educacional.

2.1 MUDANÇAS DA EDUCAÇÃO


O mundo passa por constantes transformações que acabam afetando diretamente as técnicas e maneiras de
se fazer educação. Algumas dessas transformações dizem respeito a exigências de um novo tipo de
trabalhador, isto é, o profissional precisa ser flexível e polivalente, o que acaba por provocar certa
valorização da educação formadora de novas habilidades cognitivas e de competências sociais e pessoais.
Na tentativa de auxílio a todos, são desenvolvidos caminhos, atalhos e conhecimentos, que mesmo
algumas vezes não sendo bem-sucedidos, auxiliam na elaboração de melhores modelos de aprendizagem, o
pensamento sistêmico pode ser encaixado nessa nova metodologia a ser apresentada (ANDRADE et al,
2006).
As mudanças na educação, entretanto, não passam somente pelo currículo. Passam, sobretudo, pelos
processos e pelas pessoas que fazem a educação funcionar. Imersa em grandes mudanças ambientais, a
educação precisa passar por grandes mudanças. Além disso, pode-se destacar também que o capitalismo leva
a instituir, para a escola, finalidades que possuam mais compatibilidade com os interesses do mercado. Os
objetivos e as prioridades da escola são modificados para que atendam as necessidades e expectativas do
mercado.
Nesse contexto, destacam Libâneo, Oliveira e Toschi (2003), são produzidas modificações nos interesses,
nas necessidades e também nos valores escolares. O que por sua vez, força a escola a mudar suas práticas em
decorrência do avanço tecnológico dos meios de comunicação e da introdução da informática.
Alterações são induzidas na atitude do professor e no trabalho docente, uma vez que os meios de
comunicação e os demais recursos tecnológicos são por si só, bastante motivadores.
A importância adquirida nessa nova realidade mundial, pela ciência e inovação tecnológica, faz com que
os estudiosos denominem a sociedade atual de sociedade do conhecimento, de sociedade técnico-
informacional ou de sociedade tecnológica, significando que o conhecimento, o saber e a ciência assumem
um papel muito mais destacado do que o assumido tempos atrás (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2003).
Também é importante destacar que estando a educação ligada aos fenômenos de interação do indivíduo
com o meio, todas as constatações científicas dos processos de interação entre o organismo e o meio são,
basicamente, decisivas para a construção de uma teoria sobre educação. Lima (1984) destaca que a educação
quando baseada no treinamento e no exercício supõe uma sociedade estática e um organismo vazio, onde
tudo se encontra em constante transformação. O educador é, exclusivamente, um espectador que estimula um
processo que já se encontra em curso.
Dessa forma, a instituição escolar, já não é considerada a única maneira ou meio mais eficiente e ágil de
socialização dos conhecimentos técnico-científicos e de desenvolvimento de habilidades cognitivas e de
competências sociais requeridas para a vida prática. Posto que se colime a tensão existente no âmbito
educacional, não significa que ela terá um fim como instituição social educativa ou de início de um processo
de desescolarização da sociedade.
Libâneo, Oliveira e Toschi (2003) indicam o início de um processo de reestruturação dos sistemas
educativos e da instituição tal como é conhecida atualmente, assim, é necessário que o ensino escolar
contribua, entre outros aspectos, com a formação de indivíduos capazes de aprender e com o
desenvolvimento da consciência de cidadania.
O papel da escola tem passado por transformações consideráveis, já que o mundo atual tem a obrigado a
isso. Uma das transformações mais importantes está relacionada à reavaliação que o sistema capitalista faz de
seus objetivos, já que esse sistema para manter sua hegemonia reorganiza suas formas de produção e de
consumo e elimina fronteiras comerciais para integrar mundialmente a economia. As mudanças são com o
objetivo de fortalecê-lo, o que significa o fortalecimento de nações desenvolvidas e submeter os países mais
pobres à dependência como consumidores.
Destaca-se entre as mudanças ocorridas, a educacional. Onde os países ricos realizaram suas reformas
educacionais, as quais na maior parte dos casos submeteram a escolarização às exigências da produção e do
mercado.
Como ponto fundamental dessas mudanças, pode-se citar o Modelo Sistêmico de Educação. Com base
nisso, pode-se ter cada vez mais educação de qualidade, malgrado a todos os obstáculos.
Um entendimento a respeito da mudança vem sendo construído pelo estudo e pela experiência juntamente
com o Pensamento Sistêmico, que implica numa maneira distinta de enxergar as comunidades humanas e
como elas mudam de fato. Dessa forma, fica mais claro enxergar essas comunidades de uma maneira
alternativa à mecanicista, onde elas surgem como organismos vivos, como sistemas humanos, essencialmente
políticos e culturais, como cérebros, ou como fluxo de transformação contínua (ANDRADE et al., 2006).
O fenômeno educativo só se torna possível pelo fato de todo organismo tender, de maneira espontânea,
para a assimilação de seu meio a seus esquemas de ação e pelo fato de os esquemas de assimilação serem
passíveis de acomodação, isto é, de se modificarem, em vista de situações exteriores a que eles se aplicam.
Na educação, o pressuposto fundamental, é a ação assimiladora do organismo e a maior ou menor
plasticidade dos esquemas de assimilação.
O processo educativo, de acordo com Lima (1984), funciona como variável colocada no meio para
produzir determinado tipo de regulação na atividade do sujeito, o que significa que educação é uma auto-
atividade do educador dependente de seus esquemas prévios. Cabe ao professor, nesse contexto, fazer com os
alunos tenham condições de enfrentar todos os obstáculos que surgirão.
Outras mudanças relacionadas à educação dizem respeito a novas tecnologias, uma vez que a escola é
uma instituição mais tradicional que inovadora. A cultura escolar tem resistido às mudanças, onde os
modelos de ensino focados no professor são predominantes, não obstante os avanços teóricos em busca de
mudanças do foco do ensino para o de aprendizagem. Isto mostra que não será fácil mudar tal cultura escolar
tradicional, onde as inovações serão lentas, e muitas instituições reproduzirão no virtual o modelo
centralizador no conteúdo e no professor do ensino presencial.
De acordo com Moran (2006), com os processos convencionais de ensino e com a atual disseminação da
atenção da vida urbana, fica cada vez mais difícil a autonomia, a organização pessoal, imprescindíveis para
os processos de aprendizagem a distância.
Se o aluno for desorganizado poderá deixar passar o tempo correspondente para cada atividade,
discussão, produção e podendo sentir dessa maneira dificuldade em acompanhar o ritmo de um curso. Isso
será empecilho para sua motivação, própria aprendizagem e também a do grupo, o que criará tensão ou
indiferença. Tais alunos poderão deixar de participar, de produzir e terão dificuldade, à distância, de retomar
a motivação, o entusiasmo pelo curso. No presencial, uma conversa dos colegas mais próximos ou do
professor poderá auxiliar a que queiram voltar a participar do curso.
Moran (2006) destaca ainda que mesmo com todos os alunos enfrentados pelos alunos, eles estão prontos
para a multimídia, os professores, na sua maioria, não, já que esses sentem cada vez mais o descompasso no
domínio das tecnologias e, tentam segurar o máximo que podem, fazendo pequenas concessões, sem mudar o
essencial. Tem-se a sensação de que muitos professores têm medo de revelar sua dificuldade frente ao aluno.
Por isso e pelo hábito mantêm uma estrutura repressiva, controladora, repetidora.
As ciências e suas conseqüências tecnológicas tiveram nos últimos anos um desenvolvimento inédito na
história da humanidade, época essa da gênese e desenvolvimento da revolução informacional, via
microeletrônica (GATTI, 2005).
Gatti (2005) considera ainda, sobre a importância de perceber que essa possibilidade de superação do
dogmatismo científico produziu em corolário, a valorização do sujeito cognoscente, antes visto como um
receptor passivo e agente de memorização, elevado à qualidade de interprete, com necessidades novas de
aparelhamento cognitivo e discernimento ético e moral, já que suas posições passam a ser, teoricamente,
resultado de escolhas mais individualizadas.
Muitas vezes as instituições exigem mudanças dos professores sem dar-lhes condições para que essas
sejam efetuadas. Freqüentemente algumas introduzem computadores, conectam as escolas com a Internet e
esperam que só isso melhore os problemas do ensino. Os gestores se frustram ao ver que tanto esforço e
numerário investido e não se traduzem em mudanças significativas nas aulas e nas atitudes do corpo docente.
Dentro desse contexto, apresenta-se como uma ferramenta para o processo de busca de novos
conhecimentos, ampliando as possibilidades de aquisição de conhecimento, expandindo horizontes, sendo
que a interatividade possível pela rede cria condições novas de intercambio de idéias com custos reduzidos, o
que possibilita a formação de grupos de discussão e o estabelecimento de conversação extremamente
profícua, sendo de grande utilidade também para a transmissão de novos ensinamentos.

3. PENSAMENTO SISTÊMICO
Quando desistirmos dessa ilusão (de um mundo fragmentado, sem conexão), poderemos
construir as “organizações que aprendem”, organizações nas quais as pessoas expandem
continuamente sua capacidade de criar os resultados que realmente desejam, onde se
estimulam padrões de pensamento novos e abrangentes, a aspiração coletiva ganha
liberdade e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender juntas (SENGE, 1999,
p.37).

Sistemas são organizações, cidades, comunidades, com o passar dos tempos, essas organizações tem
apresentado problemas, pois não terem desenvolvido a capacidade de se adaptar e de se auto-renovar
criativamente para o novo mundo. Nesse novo mundo, as pessoas anseiam por ambientes de trabalhos mais
humanos e criativos, onde a inteligência precisa brotar de cada canto, energizar-se no trabalho participativo e
gerar a capacidade de se adaptar e recriar.
Nesse ínterim existe um debate em algumas áreas do conhecimento humano bradando por uma nova
visão de mundo integradora que permita superar as crises epistemológicas e psicológicas que se abatem sobre
a ciência e a cultura. Algumas propostas têm sido colocadas, sendo que uma delas é o Pensamento Sistêmico,
enquanto uma abordagem e também linguagem prática.
Além de auxiliar no emprego correto do termo ‘sistêmico’, a identificação das características do
Pensamento Sistêmico também tem a função de esclarecer o conjunto de idéias que o suportam.
Tais idéias foram se constituindo ao longo de uma história, e consolida-se à medida que os resultados dos
experimentos outorgam mais credibilidade às próprias idéias, na ciência e na vida prática.
A história construída pela história da contextualização do pensamento mecanicista, sendo que esse
encontrou seus limites no início do século XX, a partir daí se fez necessário uma nova maneira de se pensar,
necessitando de características especiais para compreender os novos fenômenos complexos diante dos olhos
dos cientistas e das pessoas em geral na vida prática.
As características do Pensamento Sistêmico se incorporaram ao longo dos anos a uma maneira específica
de se ver os problemas do mundo. Aconteceu assim, uma mudança gradual de ênfases, afastando a nova
forma de pensar das características do método mecanicista, caracterizando um novo paradigma.
Perceber a realidade dessa nova maneira é percebê-la de a maneira sistêmica, também resolver os
problemas com base nessa percepção, leva a uma espécie de ação sistêmica. De acordo com Andrade et al.
(2006), todos trilham o mesmo caminho onde a aprendizagem é o processo que interliga o mundo com as
mentes, onde são praticadas ações e colhido resultados, a um nível mais profundo de crenças, pressupostos,
normas e rotinas de comportamento e teorias sobre como funciona a realidade. A esse conjunto de idéias e
resultados é dado o nome de modelos mentais.
Esses modelos mentais são modificados por intermédio de experiências de aprendizagem. Entretanto, esse
é um processo lento, já que mudanças profundas e culturais precisam de estruturas e ambientes nos quais as
pessoas possam projetar experimentos e realizar experiências para que, de maneira compartilhada, tenham
condições de observar, refletir, chegar a conclusões precisas e agir de maneira efetiva e sustentada.
Neste contexto, avulta a abordagem proposta por Senge (1999). Tal abordagem compreende um corpo de
métodos, ferramentas e princípios orientados para as inter-relações sistêmicas e o pensamento de processo.
Possui também algumas dimensões subjacentes, como um conjunto de princípios e pressupostos, um método
de aplicação, de análise e solução de problemas, além de uma linguagem e uma visão de mundo (visão de
processos).
As principais idéias desse Pensamento referem-se à visão de processos em substituição à visão de objetos,
a utilização do organismo e do fluxo e transformação em substituição a máquina como metáfora dominante, o
entendimento de que as principais características de um todo se encontram nas relações e não nas partes, e a
importância crescente do padrão de organização em relação à estrutura. Aceita uma linguagem como meio de
influenciar o pensamento e coloca especial proeminência nos padrões circulares de causa e efeito, em
oposição aos padrões lineares. Postula que mudanças significativas na realidade dão-se nos níveis estruturais.
Epistemologicamente, recomenda a substituição da estrutura pela rede como metáfora para a construção do
conhecimento.
Dentro desse conceito de mudança, surge o pensamento sistêmico que junto com a Quinta Disciplina de
Senge (1999) trazia novas idéias a respeito de aprendizagem organizacional.
As cinco disciplinas de Senge (1999) referem-se a corpos de teorias, métodos e ferramentas. Sendo que o
primeiro sentido do termo disciplina é o de um conjunto de conhecimentos sistematizados úteis para algum
propósito. O outro sentido é o de disciplina como habilidades que se desenvolvem pela prática.
Dessa maneira, as cinco disciplinas são corpos de conhecimento para desenvolver as habilidades de
aspiração, reflexão e conversação, e conceituação nos níveis individual e coletivo, conforme Quadro 1.

Individual Coletivo
Aspiração Domínio Pessoal Visão Compartilhada
Reflexão e conversação Modelos Mentais Aprendizagem em Grupo
Conceituação Pensamento Sistêmico
QUADRO 1: As cinco disciplinas
Adaptado de: Senge (1999, p.40-45)

A quinta disciplina é justamente o Pensamento Sistêmico, aquela que integra o modelo, mesmo sendo a
primeira ela é interdependente das outras. Isso significa que, o Domínio Pessoal é altamente inter-relacionado
a sistemas maiores. As mudanças pessoais podem ser o local mais alavancador da mudança de uma realidade
complexa. A pessoa é uma parte criativa e interdependente do sistema, através do Pensamento Sistêmico, a
pessoa tem condições de reconhecer não apenas como contribuir criativamente para criar o futuro, mas
reconhecer como contribuir para criar o presente, e isso implica em uma compreensão das estruturas internas
e das inter-relações com as estruturas externas.
Entender sistematicamente uma realidade social que requer reconhecer os Modelos Mentais que a criam.
Para isso, muitas vezes é necessário examiná-los, refleti-los, verbalizá-los e até investigá-los. A efetividade e
a redução da defensividade para tais propósitos envolvem as habilidades de reflexão e conversação na
disciplina de Modelos Mentais.
A Visão Compartilhada significa que esforços de Pensamento Sistêmico podem levar a um sentimento de
incapacidade diante da complexidade. Quanto mais se conhece as estruturas sistêmicas da realidade, mas é
necessário um propósito comum para obter energia criativa e saber no que transformá-la. Por intermédio da
alavancagem fornecida pelo Pensamento Sistêmico é possível transformar uma realidade complexa em um
futuro desejado compartilhado.
A Aprendizagem em Grupo explica porque o Pensamento Sistêmico é praticado em grupo. Só um grupo
com alta capacidade de aprender junto pode ter uma visão ampliada do sistema, explorando-o de diversas
maneiras. O Pensamento Sistêmico apresenta-se de maneira mais eficaz quando acontece coletivamente,
nesse ponto observa-se o quanto o indivíduo é influenciado mutuamente, no grupo e na organização maior.
Andrade et al. (2006) destaca dessa forma, que as cinco disciplinas são decorrência de um todo integrado,
construído sobre o estudo de conhecimentos anteriores, costurados de maneira coerente.
A chave para entender a proposta e suas necessidades é o próprio Pensamento Sistêmico. Sendo esse o
pré-requisito básico para entender e pôr em prática de maneira mais abrangente o trabalho, mesmo não sendo
uma disciplina trivial, já que reconhecer o todo, as inter-relações, os processos de mudança, as estruturas, os
padrões de comportamento, os modelos mentais e os agentes não são nem um pouco fácil num mundo onde
se ensina a buscar a parte, os objetos, o instantâneo, os eventos, os dados analíticos, a superficialidade das
ações das pessoas ou as causas lineares.
Senge (1999) salienta que os programas de mudanças podem apresentar falhas pois chocam com as
crenças e pressupostos das pessoas, já que uma organização é produto da forma como as pessoas pensam e
interagem, os programas de mudanças devem levar em conta a realidade e as necessidades de mudança na
cultura da organização para estabelecer um novo patamar de capacidades organizacionais.
Com esses conhecimentos em mente é possível reconhecer o potencial do Pensamento Sistêmico para
reinterpretar a realidade problemática, e passar a desenvolver teorias, métodos e ferramentas úteis para as
pessoas dentro de uma organização (ANDRADE et al, 2006).

4. SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
O conhecimento tornou-se um dos fatores principais de superação de desigualdades, de agregação de
valor, criação de emprego qualificado e de propagação do bem-estar.
As mudanças e as inovações tecnológicas acontecem em um ritmo tão acelerado que, além dos fatores
tradicionais de produção, como capital, terra e trabalho, é essencial identificar e governar de forma
inteligente o conhecimento das pessoas nas organizações.
Russell (1976) já dizia crer que o ser humano deseja que suas crenças, pelo menos algumas vezes, gerem
conhecimento, afinal a crença por si só não gera conhecimento a não ser que seja verdadeira. O
conhecimento deve ser inferido pelos movimentos corporais e, principalmente pelo que se diz ou escreve.
Ensinar especificamente para a sociedade do conhecimento, prepara os alunos e as sociedades para a
prosperidade econômica, entretanto, as relações das pessoas àquelas instrumentais e econômicas, restringe-as
das interações de grupo ao mundo do rodízio de trabalho em equipe temporária, canalizando as paixões e os
desejos das pessoas para a terapia varejista das compras e do entretenimento, cada vez distanciando-as mais
das interações uma com as outras.
Na Sociedade do Conhecimento o capital humano é valioso, o que os membros das organizações
conhecem e o que cada um pode repassar. Quando este conceito é projetado para o ambiente externo verifica-
se que os indivíduos tornam-se exigentes e em busca de produtos que lhe forneçam valor agregado. Isso faz
com que o conhecimento seja a principal matéria-prima das organizações.
Nos dias atuais o trabalho, que deveria ser algo prazeroso, com o objetivo de contribuir de alguma
maneira com a sociedade, acabou por se tornar sinônimo de ambição. Dessa maneira, a busca acaba por ser
apenas por resultados pessoais ou para a organização, ficando em segundo plano a vida e o conhecimento,
uma vez que o indivíduo está buscando exclusivamente a satisfação material.
Com essas atitudes torna-se visível o enfraquecimento da sociedade, já que ao invés de difundir o
conhecimento, está ocorrendo a sua elitização, onde poucos têm acesso à informação.
Harmonizar os objetivos econômicos e sociais da educação e preparar as pessoas para ganhar a vida e
viver tem se revelado ao longo da história como uma tarefa difícil. É preciso que os educadores se dediquem
a unir essas duas missões, de ensinar para a sociedade do conhecimento e além dela, em uma só, tornando-a o
ponto alto de seu propósito profissional.
Os professores encontram-se presos em um triângulo informal de pressões e expectativas contraditórias
na sociedade do conhecimento. Esses lutam para atingir um máximo de realização profissional ao serem
catalisadores de uma economia do conhecimento bem-sucedida e contrapontos eficazes para alguns de seus
efeitos socialmente mais desagregadores.
Nas condições de baixa da sociedade do conhecimento, em lugar de promover a aprendizagem profunda e
o envolvimento emocional dos alunos com sua aprendizagem e também uns com os outros, os professores se
encontram cada vez mais preocupados em treiná-los para exames padronizados. Em vez de aprender
permanentemente a ensinar de forma diferente e melhor, e a se relacionar de modo mais eficiente com alunos
e outras pessoas, como um alicerce para a aprendizagem, mais e mais professores são pressionados a ensinar
como lhes mandam.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo de ensino e pesquisa demonstrado busca provocar o debate e instigar a criatividade para a
construção de um modelo de pesquisa que englobem um entendimento sistêmico das organizações e sistemas
produtivos. Tem um caráter simplesmente temporário, e coloca-se anexo à apreciação, avaliação e crítica,
com vistas ao desenvolvimento de um entendimento mais elevado. Com tais desdobramentos estimular-se-á
um debate na área.
De outro vértice, faz-se mister esforço no mapeamento epistêmico e operacional do Pensamento
Sistêmico, visando a avaliar o estado da arte de muitas áreas de conhecimento.
Dentre as possibilidades de utilização da abordagem sistêmica pelas diferentes áreas do conhecimento,
poderão ser encontradas algumas dificuldades por essa metodologia, entretanto, a mesma surgiu com a
necessidade de atender algumas necessidades, uma vez que fornece um referencial teórico com propriedades
e estruturas que podem ser utilizadas como métodos gerais aplicados. O Pensamento Sistêmico possibilita,
dessa maneira, a ampliação das idéias e teorias de uma área de conhecimento para outros, a partir de uma
perspectiva mais ampla.
Por outro lado, há uma grande pressão para a definição de métodos que consigam lidar com a
complexidade crescente dos problemas a serem resolvidos. A abordagem sistêmica oferece uma
simplificação, a partir da compreensão e atenuação da complexidade.
Um dos objetivos da abordagem sistêmica é assegurar que os subsistemas trabalhem juntos e contribuam,
de uma maneira geral, aos objetivos do sistema como um todo. Todavia, encontram-se inúmeras dificuldades
para a consecução deste objetivo.
A abordagem sistêmica por sua vez requer que todas as unidades de decisão estejam integradas para lidar
com o problema comum independentemente de sua organização formal, o que significa a otimização do
sistema como um todo, sem levar em consideração a descentralização de seus subsistemas.
Por sua vez, a aprendizagem organizacional não pode ser desvinculada de seu desempenho. Os indícios
de que uma organização está aprendendo são bem mais sutis e difíceis de mensurar que os indicadores de
desempenho. Observa-se cada vez mais a necessidade de incremento nas metodologias de ensino em uma
nova era de conhecimento, com novas tecnologias surgindo a cada instante.
Enfim, a aprendizagem, destarte, adquire significado muito mais amplo do que apenas internalização e
informação. Trata-se de verídica mutação de mentalidade, a qual pode capacitar as organizações a criarem
seu próprio futuro, a partir da implementação do Pensamento Sistêmico.

REFERÊNCIAS
ANDRADE, Aurélio L.; et al. Pensamento sistêmico: caderno de campo: o desafio da mudança sustentada nas
organizações e na sociedade. Porto Alegre: Bookman, 2006.

BAKER, Michael; FOOTE, Martha. O ensino apesar da sociedade do conhecimento I: o fim da inventividade. In:
HARGREAVES, Andy. O ensino na sociedade do conhecimento: educação na era da insegurança. Porto Alegre:
Artmed, 2004.

GATTI, Daniel Couto. Sociedade informacional e analfabetismo digital: relações entre comunicação, computação e
Internet. Bauru: Edusc. Uberlândia: Edufu, 2005.

LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e
organização. São Paulo: Cortez, 2003.

LIMA, Lauro de Oliveira. A construção do homem segundo Piaget: uma teoria da educação. São Paulo: Summus,
1984.

MARTINELLI, Dante Pinheiro; VENTURA, Carla Aparecida Arena. Visão sistêmica e administração: conceitos,
metodologias e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2006.

MELO, Osvaldo Ferreira de. Teoria e prática do planejamento educacional. Porto Alegre: Globo, 1979.

MORAN, José Manuel. A integração das tecnologias na educação. Disponível em:


<http://www.eca.usp.br/prof/moran/integracao.htm>. Acesso em: 01 de julho de 2006.

MUNIZ, Adir Jaime de Oliveira Muniz; FARIA, Hermínio Augusto. Teoria geral da administração: noções básicas. 4
ed. São Paulo: Atlas, 2001.

RATTNER, Henrique. Estudos do futuro: Introdução à antecipação tecnológica e social. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1979.

RUSSELL, Betrand. A análise da mente. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.

SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte e prática da organização de aprendizagem. 5.ed. São Paulo: Best Seller,
1999.

VASCONCELOS, Maria José Esteves de. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. 4 ed. Campinas:
Papirus, 2002.
UM ABIENTE COLOBAROTIVO COM BUSCA INTELIGENTE
PARA GERENCIAR OS CASOS DE USO E SEUS ARTEFATOS
GARANTINDO A CONSISTÊNCIA EM UM PROCESSO DE
SOFTWARE
Marlon Domingos
Mestrado em Engenharia e Gestão do Conhecimento – UFSC, Florianópolis, SC, Brasil
marlondom@egc.ufsc.br
http://www.egc.ufsc.br
E-Gov, Juridical Intelligence and Systems Institute – Ijuris, Florianópolis, SC, Brasil
marlondom@gmail.com
http://www.ijuris.org/

Hugo César Hoeschl


Centro de Informática e Automação do Estado de Santa Catarina – CIASC, Florianópolis, SC, Brasil
hugo@ciasc.org
http://www.ciasc.org.br

RESUMO
O assunto tratado nesse artigo visa apresentar uma proposta de automatizar o processo de documentação dos requisitos, os casos de
uso – padrão UML (Unified Modeling Language), utilizando mecanismos de inteligência artificial e busca de informação, visando
assim melhorar e possibilitar uma maior consistência na representação do conhecimento nas etapas iniciais e indispensáveis do
processo de documentação. Outro aspecto, ao qual este projeto apresenta, é uma interface remota onde os clientes e desenvolvedores
possam ter acesso aos mesmos documentos, objetivando uma maior facilidade para os clientes validarem os requisitos como
também para os analistas criticarem os casos de uso. Logo, uma ferramenta que proporcione um mecanismo inteligente de acesso
aos artefatos, busca inteligente (que retorna casos contextualmente similares) e um mecanismo de consistência entre os casos de uso
buscando assim garantir consitência e veracidade nas informaçãoes, se define como o objetivo deste trabalho.

PALAVRAS-CHAVE
Inteligência Artificial, Busca Inteligente, UML, Casos de Uso.

1. INTRODUÇÃO
A indústria de software é uma das que mais cresce no cenário mundial (VEJA, 2007). Segundo pesquisas
internacionais, o setor de software é um dos responsáveis pelos maiores índices de crescimento na economia global (,
2005). Este crescimento pode ser observado também no Brasil. Apesar da importância inerente deste setor, muitos
projetos atuais são executados sem um processo estabelecido de desenvolvimento de software (FALBO et. al, 2005).
Um processo de software tem como objetivo final, o desenvolvimento do sistema (LARMAM, 2000). Para isso, o
desenvolvimento de uma ferramenta que ofereça recursos de colaboração entre os participantes objetivam contribuir
para a garantia de consistência em um processo de software. As funcionalidades proposta objetivam auxiliar analista e
programadores no reaproveitamento, a fim de evitar a duplicidade e ganhar tempo. Estas funcionalidades serão
desenvolvidas no contexto acadêmico em um projeto de mestrado.

2. O ONTOCASE
A compreensão de um projeto é essencial para que seu desenvolvimento seja bem sucedido. Obter o
conhecimento necessário para o projeto tem como objetivos principais a previsão de riscos e o auxílio na definição do
escopo para o processo de desenvolvimento (PARREIRAS, 2005). Neste sentido torna-se claro a necessidade de
estabelecer um método para garantir a documentação eficiente dos desejos do cliente.
Encontrar requisitos específicos e mapeá-los em declarações claras e concisas é uma tarefa difícil para o
desenvolvedor e para o cliente. É interessante obter uma forma de facilitar este trabalho para que as tarefas feitas pelos
usuários possam estar garantidas pelos requisitos. Neste sentido, surgem os diagramas de casos de uso, que são parte
integrante do padrão UML (Unified Modeling Language) (OMG, 1999). Este padrão os define como sendo um
documento narrativo que descreve a seqüência de eventos de um ator que usa o sistema para completar uma tarefa,
onde estes são histórias ou casos de utilização de um sistema, sempre escritos como vistos pelos atores (LARMAM,
2000).
Os projetos de software são complexos e a sua decomposição (dividir para conquistar) é uma estratégia básica
para lidar com esta complexidade – quebrar um problema em unidades que possam ser administradas (LARMAM,
2000). Logo, a coleta e o posterior armazenamento de grandes volumes de informação tornam inviável se não fizer
parte de um eficiente sistema de gestão amparado por técnicas de organização do conhecimento e Inteligência
Artificial que realize (RIBEIRO, 2004), automaticamente, a análise e classificação do documento da mesma forma
que o especialista o faria. Conseqüentemente um mecanismo que auxilie na busca de documentos contextualmente
semelhantes pode ajudar diretamente neste sentido. Todavia, as ontologias, termo originário das ciências filosóficas,
têm desempenhado um importante papel na representação do conhecimento e vêm sendo comumente utilizadas no
desenvolvimento de tecnologias inteligentes para a gestão do conhecimento (GUILLÉN, 2004).
Neste sentido, a busca inteligente (RIBEIRO, 2004) de documentos de casos de uso ou seus artefatos, tem como
objetivo ajudar o programador ou analista a reconhecer especificações semelhantes, que a princípio pode ser útil nas
descrições de um novo artefato, verificando se já existem outros com objetivos semelhantes. Conseqüentemente, as
possibilidades objetivam reaproveitamento a fim de evitar a duplicidade dos trabalhos e com isto obter um melhor
desempenho no processo. Logo, para amparar, está em desenvolvimento uma plataforma de apoio à tomada de
decisão que utiliza técnicas de gestão do conhecimento e inteligência artificial, tecnologia denominada KMAI –
Gestão do conhecimento com Inteligência Artificial (RIBEIRO, 2004).
Outro dos grandes problemas no desenvolvimento de software é consistência entre os documentos de
especificação, que neste projeto aborda os diagramas de casos de uso e seus artefatos – quando um documento é
alterado, todos que estão associados a ele receberão um sinal de aviso comunicando que é necessário à revisão do
especialista.
Estas funcionalidades permitem um monitoramento remoto, visto que esta funciona pela internet ou intranet, onde
o cliente durante a execução do projeto poderá ter um maior comprometimento do mesmo com o resultado final.

3. CONCLUSÃO
Não há ferramentas Case que se proponha a oferecer mecanismos inteligentes na parte textual da documentação
de requisitos. Sendo que, dentro de todo o processo de análise, a descrição dos cenários de requisitos que caracterizam
os casos de uso são uma das primeiras etapas de toda a documentação. Neste sentido, este trabalho utilizará técnicas
de Inteligência Artificial e Sistemas Inteligentes no contexto da engenharia de software, se focando na área de
concentração da Engenharia do Conhecimento e Engenharia de Software.

REFERÊNCIAS
FALBO, Ricardo; RUY, Fabiano Borges; FIÓRIO, Geovando Carpanedo; NARDI, Júlio César; ARANTES, Lucas de Oliveira;
MORO, Rodrigo Dal; BUBACK, Silvano Nogueira. LabES – Laboratório de Engenharia de Software – UFES.
http://www.inf.ufes.br/~labes/pesquisaQualidade. Acesso: 11 de maio de 2005.
GUILLÉN, Ana Isabel Santos; MORENO, José Manuel Piedrafita; BADAYA, David Marañón. Ontologías para la Gestión del
Conocimiento. Disponível em: <http://es.geocities.com/ontologia04/>. Acesso em: 31 de junho de 2004.
LARMAM, Craig. Utilizando UML e padrões à análise e ao projeto orientado a objetos. trad. Luiz A. Meirelles Salgado. –
Porto Alegre: Bookmam, 2000.
OMG. Unified Modeling Language Specification. v.1.3. http://www.omg.org, 1999.
PARREIRAS, F. S., BAX, M. P. A gestão de conteúdos no apoio a engenharia de software. In: KMBrasil, 2003, São Paulo.
Anais... São Paulo: SBGC - Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. 2003. CD-ROM. Disponível em
<http://www.fernando.parreiras.nom.br/publicacoes/pgct142.pdf >. Acesso: 11 de maio 2005.
RIBEIRO, Marcelo Stopanovski; MATTOS, Eduardo da Silva.; BUENO, Tania Cristina D´Agostini; HOESCHL, Hugo Cesar..
KMAI - Gestão do Conhecimento com Inteligência Artificial. In: Congresso Nacional de Tecnologia da Informação e
Comunicação. Florianópolis. 2004. Referências adicionais: Classificação do evento: Nacional; Brasil/Português; Meio de
divulgação: Impresso; Homepage: <www.sucesu2004.rg.br>.
VEJA, revista, 2007. Em crescimento, no calcanhar dos chineses. Editora abril S.A.
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/conheca_pais/india/economia.html. Acesso em: 19 de agosto de 2007.
1

‘Inteligência Colaborativa a Partir da Visão Sistêmica da Cadeia Produtiva


da Bananicultura no Norte do Estado de Santa Catarina

Giampaolo Buso
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis– SC – Brasil
giampaolo@egc.ufsc.br

André C. Donadel
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis– SC – Brasil
donadel@egc.ufsc.br

Alex Eckschmidt
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis– SC – Brasil
alex@egc.ufsc.br

Gregorio Varvakis
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - Florianópolis– SC – Brasil
grego@deps.ufsc.br

Resumo

O presente artigo aborda o tema da inteligência colaborativa a partir da visão sistêmica da


cadeia produtiva da bananicultura no norte do Estado de Santa Catarina. A perda da
competitividade dos produtores de banana do norte de Santa Catarina deve-se à fragmentação
entre os articuladores justamente pela falta de ações colaborativas e cooperativas em
contraposição ao aspecto competitivo. Com base nessa premissa, o objetivo principal do
estudo foi identificar a possibilidade de melhoria na eficiência comercial a partir da gestão do
conhecimento e das relações sistêmicas na cadeia consumidor/produtor. A metodologia
utilizada teve seu respaldo em um levantamento bibliográfico relacionado a ações
colaborativas, e a aplicação do trabalho foi apoiado por meio de uma parceria junto ao Sebrae
e ao Arranjo Produtivo Local dos Bananicultores do Norte do Estado de Santa Catarina. As
visitas a campo foram realizadas nas capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Porto
Alegre, Curitiba, Buenos Aires e Montevidéu, objetivando entrevistar os agentes da cadeia
produtiva, a fim de colher deles suas percepções sobre as relações anteriores e posteriores à
sua localização na estrutura. Para tanto, foram utilizados questionários com perguntas abertas
e não-estruturadas. A tabulação ocorreu na forma de descrição das opiniões. Após a
finalização das entrevistas, foram realizadas reuniões com as associações de produtores
envolvidas e órgãos de extensão para a validação da informação e, quando necessário, a
confirmação da mesma. Como resultado, ficou constatado a necessidade de melhoria da
qualidade do produto. Os selos de qualidade regionais e estaduais e o PIF (Produção Integrada
de Frutas) são bem recebidos pela distribuição. O produto catarinense era conhecido de todos
os entrevistados, sendo que Santa Catarina é referência em se tratando de preços inferiores. A
confiabilidade no fornecedor catarinense, que troca de mercado, nacional e internacional, de
acordo com a condição comercial mais favorável, foi uma observação freqüente citada pelos
distribuidores. Poder-se-ia concluir, então, que a cadeia produtiva da bananicultura, embora
seja representativa economicamente para a região norte do Estado catarinense, os produtores,
atacadistas e distribuidores mantêm um modelo de comunicação não-colaborativa e, por
conseqüência, ineficiente, que acentua a dificuldade de posicionamento comercial do produto.
Emerge, desse modo, a necessidade de se executar um projeto prático de aplicação dos
2

conceitos acadêmicos sobre gestão e colaboração para os agentes, restando claro que somente
com um acompanhamento muito próximo é que se obterá o resultado desejado para a
manutenção da atual posição do setor.

Palavras-chave: inteligência colaborativa, visão sistêmica, cadeia produtiva, bananicultura.

Encaminhamentos

A Cadeia Produtiva da Bananicultura dentro do Estado de Santa Catarina é


representativa economicamente para a região norte do Estado.
Do produtor até as redes de distribuição existe, gradativamente, um decréscimo no
nível de gestão aplicada à atividade. Gestão traduz-se, neste estudo, como a elaboração de
planejamento produtivo, econômico, comercial de informação e conhecimento.
Não obstante ao baixo uso de ferramentas de gestão, os produtores, atacadistas e
distribuidores mantêm um modelo de comunicação não colaborativa e, por conseqüência,
ineficiente, que acentua a dificuldade de posicionamento comercial do produto. A maioria dos
agentes da cadeia produtiva desconhece as necessidades de fornecedores e clientes, apesar da
interdependência.
No decorrer do trabalho, grande parte dos produtores alegou, em diversas situações,
que o atacadista não tem interesse em valorizar o produto de melhor qualidade, o que torna
inviável o investimento na cultura. Porém, ao ouvir o atacadista e questioná-lo sobre a
possibilidade de estabelecer acordos com fornecedores com preços superiores à média de
mercado para produtos qualitativamente melhores, a resposta foi positiva e ávida pela
realização do compromisso.
Os trabalhos de estudos de cadeias produtivas, para o estabelecimento de uma visão
sistêmica, têm permanecido no campo exploratório, por meio de diagnósticos do segmento de
mercado.
É necessário executar um projeto prático de aplicação dos conceitos acadêmicos sobre
gestão e colaboração para os agentes.
Somente com a realização de um projeto de tal natureza e escopo, permitindo um caso
prático, é que, possivelmente, produtores, atacadistas e distribuidores se sensibilizarão e
agirão de forma mais eficaz na mudança de paradigma.
Para isto, ficou claro, pelas entrevistas realizadas, que somente com um
acompanhamento muito próximo é que se obterá o resultado desejado. Caso contrário, mesmo
que ocorra uma mudança, a velocidade da mesma talvez não seja em tempo suficiente para a
manutenção da atual posição do setor.
empregados ou da escala da rede. Em ambos os casos,
SOFTWARE DE a manutenção da rede para reabastecimento de
energia se torna impraticável. Mais ainda, caso seja
SIMULAÇÃO DE REDES necessário substituir a bateria de um sensor
freqüentemente, as principais vantagens de uma
DE SENSORES SEM FIO RSSF seriam perdidas.
Redes de sensores sem fio são um dos
primeiros exemplos no mundo real de computação, a
noção que dispositivos de computação e
Gleucio Dias da Silva sensoriamento pequenos, inteligentes, e baratos irão
Orientador : Clevertom Marlom eventualmente permear o ambiente. Esta noção tem
infiltrado os círculos de tecnologia da informação por
Departamento de Ciências da Computação mais de uma década. Mas agora, os investimentos
Fundação Regional de Gurupi (UNIRG) - gurupi, TO multimilionários em pesquisa em dispositivos de
redes sem fio estão finalmente dando seus frutos.
– Brasil
Hardware e software, tão fundamentais para
Gleucio.silva@hotmail.com implementação da computação pervasiva, estão
RESUMO emergindo.
Nas mentes de muitos, uma RSSF é uma
Fruto da necessidade de promover ensino de tecnologia com potencial de se tornar tão importante
forma massiva, a aprendizagem nas instituições de
quanto a Internet: assim como a Internet permite
ensino superior é organizada em torno de aulas
expositivas. O aparecimento da internet e a computadores compartilhem informação não
informatização vêm mudando este panorama, devido importando onde ela está armazenada, redes de
ao caráter interativo do computador, e pela sofisticação sensores expandirão a habilidade das pessoas em
dos recursos de programas atuais. Experiências interagirem remotamente com o mundo físico.
educacionais novas, algumas de caráter já massivo, Dispositivos sensores são geralmente referidos como
com alunos em posição ativa interagindo com uma nova classe de sistemas de computadores,
interfaces gráficas inteligentes, guiados pelos diferenciados do hardware do passado por sua
professores, vêm sendo reportadas em várias ubiqüidade e capacidade analítica coletiva. Muitos
instituições de ensino superior. Apresentamos aqui o
pesquisadores que trabalham na área estimam que
protótipo de um software interativo, para auxiliar nas
disciplinas de redes de sensores sem fio. dentro de uma década sensoriamento e computação
distribuída irão invadir casas, escritórios, fábricas,
PALAVRAS-CHAVE: Simulação em redes carros, ruas, e fazendas.
RSSFs. As redes de sensores atuais podem explorar
tecnologias não disponíveis 20 anos atrás e executar
funções nem mesmo sonhadas na época. Sensores,
1. INTRODUÇÃO. processadores, e dispositivos de comunicação estão
todos se tornando menores e mais baratos. Grandes
Redes de Sensores sem Fio (RSSFs) é uma empresas já comercializam esses pequenos nós
tecnologia emergente que promete uma sensores, juntamente com “soluções completas”.
funcionalidade sem precedentes para monitorar, Essas empresas fornecem uma visão de como nossas
instrumentar, e, possivelmente, controlar o mundo vidas irão se beneficiar através de uma rede de
físico. Redes de sensores sem fio consistem de um pequenos nós sensores embutidos.
grande número de dispositivos sem fios (nós sensores Nessas redes, cada nó é equipado com uma
ou simplesmente sensores) densamente distribuídos variedade de sensores, tais como acústico, sísmico,
em uma região de interesse. Sensores têm infravermelho, vídeo-câmara, calor, temperatura e
conectividade sem fio e são conectados a uma rede, pressão. Esses nodos podem ser organizados em
tal como a Internet. Eles são tipicamente alimentados grupos (clusters) onde pelo menos um dos sensores
por baterias com comunicação e funções de deve ser capaz de detectar um evento na região,
computação limitadas. Cada nó pode ser equipado processa-lo e tomar uma decisão se deve fazer ou não
com uma variedade de modalidades de sensoriamento uma difusão (broadcast) do resultado para outros
tais como acústico, sísmico, e infravermelho. nodos. A visão é que RSSFs se tornem disponíveis
RSSFs podem operar por períodos de tempo em todos lugares executando as tarefas mais
variando de semanas a anos de forma autônoma. Isso diferentes possíveis.
depende fundamentalmente da quantidade de energia Parte dos problemas do ensino sobre redes de
disponível para cada sensor na rede. Em muitas sensores sem fio pode ser atribuída ao aspecto
aplicações nós sensores podem não estar facilmente passivo do ensino expositivo. Durante uma aula
acessíveis por causa da localização onde são expositiva, os alunos devem prestar atenção o
professor(a), que expõe temas. É neste contexto que nenhum tipo de criptografia, o sistema traz alguns
se enquadra a nossa inquietude por criar uma algoritmo como RC5, TEA, DES, SKIPJACK, mas o
ferramenta educacional verdadeiramente útil, usuário poderá usar um outro algoritmo existente
complementar ao professor(a), e ao livro texto, para clicando no botão procurar, em seguida o usuário
uso em sala de aula e inclusive em casa. O software entra com a quantidade de nós a ser inserido, o
se transformara em um aliado ao professor(a), e usuário escolhe qual nó será o nó principal
alunos, nas aulas práticas sobre redes de sensores sem (Sorvedouro) e digita o seu número, em seguida
fio. informa ao sistema a quantidade de processos, o
usuário poderá usar o hardware disponível do
2. SIMULAÇÃO. simulador MICA 2, ou podendo inserir os dados de
um outro hardware para ser utilizado na simulação,
Simulação é a técnica de estudar o em seguida informa os dados sobres os nós sensores e
comportamento e reações de um determinado sistema o tamanho da área a ser simulada na simulação. Os
através de modelos, que imitam na totalidade ou em botões localizados na parte inferior da tela são os
parte as propriedades e comportamentos deste sistema botões denominados botões de ação, o primeiro é o
em uma escala menor, permitindo sua manipulação e botão SAIR, este botão fecha o RSSF SIM 1.0, o
estudo detalhado. botão SIMULAR realiza a simulação dos dados
A evolução vertiginosa da informática nos inseridos, REPETIR repete a simulação anterior,
últimos anos tornou o computador um importante CANCELAR cancela uma determinada simulação,
aliado da simulação. A simulação por computador é SALVAR salva a simulação em disco e LIMPAR
usada nas mais diversas áreas, citando como limpa todos os campos do formulário.
exemplos as análises de previsão meteorológica,
treinamento de estratégia para militares e pilotagem 4. CONCLUSÃO.
de veículos ou aviões.
Concluímos que o aparecimento da Internet,
redes de sensores sem fio e de linguagens de
3. RSSF SIM 1.0. programação gráfica unificadas permitem
desenvolver ferramentas de aprendizado altamente
O RSSF SIM 1.0 será de grande auxilio aos interativas. A idéia chave do RSSF SIM 1.0 é
professores(a), na área de redes de sensores sem fio, desenvolver essa interface formulando-a como árvore
esse software fará a simulação de uma rede no lógica, específica na área de redes de sensores sem
próprio browsers, não precisando ser instalado, fio, incluindo elementos interativos sistematicamente,
devido ser desenvolvido em cima da plataforma como por exemplo a correção das conclusões do
Framework SimJava, ao contrario de outros aluno(a), no desenvolvimento passo a passo, e a
simuladores que precisam ser instalados ocupando possibilidade de apresentar – ao mesmo tempo – um
um grande espaço no disco e requerendo uma boa panorama completo da simulação assim como
quantidade de memória RAM. detalhes de cada uma das partes de uma determinada
rede.

5. Referencias.
[1] Annual Meeting of the Educational Research
Association, Montreal, Canadá, 1999.
[2] The PC-Maestro Project, Chitose Institute of Science
and Technology, Japão, 2004.
[3] http://www.cin.ufpe.br/~tg/2004-1/rca4.doc acessado
em 27/03/2007.
[4] Wikipedia, disponível em
http://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page.
[5] Miguel Elias Mitre Campista, Otto Carlos Muniz
Bandeira Duarte, “Segurança em Redes de Sensores
Sem Fio”.
figura 2. Tela principal RSSF SIM 1.0 [6] Ana Paula Ribeiro da Silva, Fernando Augusto Teixeira,
Hao Chi Wong, José Marcos S. Nogueira, “Aspectos
A figura 2 demonstra a tela principal do de Detecção de Intrusos em Redes de Sensores sem
RSSF SIM 1.0 tem uma interface interativa e de fácil Fio”.
utilização, o usuário terá que escolher um algoritmo [7] simulação disponível em
para realizar a simulação ou se preferir não utilizar http://pt.wikipedia.org/wiki/Simula.
TELECENTROS PARANAVEGAR

Holiwod Borges Alves Ribeiro


Compa n hia de Inform ática do Paraná
holiwod@celepar.pr.gov.br

RESUMO

Informação e conhecime n to represe n ta m poder, observan do o fato de muitas pessoas detere m o


poder e não querere m compa r tilhá - lo, o Governo do Estado do Paraná, através da Secretaria para
Assunto s Estratégicos, idealizara m e implanta ra m os Telecentros Paranavegar. Mais que um
progra ma de inclusão digital, os Telecentr os Paranavegar forma m uma rede de distribuição do
conhecime n t o, assegura n d o que a democracia seja real e a cidada nia se torne inerente à vida
cotidiana da população. Hoje aten de n d o 107 municípios no Paraná e mais de 40 mil usuários, o
progra ma é respo n sável pelo aumen to do IDH- M (Índice de Desenvolvime nto Humano Municipal),
índice esse que é o principal atribu to na escolha do munípio a ser conte m pla do pelo progra ma.

PALAVRAS- CHAVE

Inclusão Digital, Cidania, Informação, Conhecime nt o, Telecentros

1. INTRODUÇÃO

Os impactos sociais da informá tica, conquista da ciência e da tecnologia, são capaze s de levar a
uma transfor m a ç ã o maior que a da máquina a vapor. Uma socieda de basea da cada vez mais na
troca de valores simbólicos, do dinheiro à informação, vai mudar o eixo da economia, acabar com o
conceito atual de trabalho, valorizar mais que tudo o conhecime nto e a aprendiz a ge m. Neste
cenário, os excluídos serão cada vez mais excluídos - com o poder se concentr a n d o nas esferas
virtuais (com profun d o controle nas esferas reais) - a não ser que se impleme n te m eficazes e
massivas ações para pro mover sua "inclusão digital".
2. TELECENTROS PARANAVEGAR
Como ação concreta de Inclusão Digital, esse Progra ma trabalha na criação de
Telecentros Paranavegar, espaços públicos e gratuitos de utilização de comput a d o re s
ligados à internet, destinado s especialme nt e àquelas parcelas da comunida de local que
não tem contato com as tecnologias da informação no trabalho ou na escola. Para a
concretização destes espaços, o Governo procura a parceria com as prefeitura s
municipais, empres as privadas e terceiro setor.
Os Telecentros Paranavegar deste Program a são geridos com a participação efetiva
da comunida de, através de represe nt a n t es eleitos em Assembléia, que fazem parte do
Conselho Gestor. O Conselho Gestor é criado para realizar a gestão do Telecentro,
compos to por represen t a n t e s da comunida d e e dos parceiros envolvidos.
A represent ação no Conselho Gestor é paritária, ou seja, cada parceiro indica os
represe nt a n t e s e a comunida de elege os seus represent a n t e s em número igual ao dos
indicados pelos parceiros. Para a eleição dos represen t a n t e s da comunida d e é realizada
ampla divulgação e discuss ões em assem bléias abertas.
Uma vez instituído e empos s a d o, o Conselho Gestor terá a finalidade de
estabelecer as regras de funciona m e n t o e uso do espaço do Telecentro, aponta n d o os
rumos futuros, incentivando o exercício pleno da cidada nia e dando ferrame nt a s para que
a comunida de se desenvolva social e economica m e n t e. As reuniões são periódicas em
assem bléias abertas, para que toda a comuni da de decida sobre suas necessida de s. As
regras de funciona m e n t o do Telecentro estão formalizada s no Regimento Interno que
pode ser revisto pelo Conselho Gestor.
Onde e quando a realidade local permitir a auto - sustent ação do Telecent ro, os
Governos se retira m da gestão, com a doação da infra - estrut u r a existente à época para a
comunida de, que a partir daí, assu me m integralme nt e todos os custos de manut enção
daquela infra - estrut ur a tecnológica.
São considera d a s prioritárias para as ações deste Program a as cidades de menor
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH- M) do Paraná. O IDH foi criado
originalmen t e para medir o nível de desenvolviment o human o dos países, a partir de
indicadore s de educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (esperança de
vida ao nascer) e renda (PIB per capita).
O IDH- M é aplicado para aferir o nível de desenvolviment o huma no de
municípios. As dimensões são as mes m as - educação, longevidade e renda - mas alguns
dos indicadores levados em conta são mais adequa do s para avaliar as condições de
núcleos sociais menores.
O Progra m a de Telecentros Paranavegar do Governo do Estado do Paraná é uma
estratégia de justiça social, usando a inclusão digital como instru m e n t o para o
desenvolviment o local e regional, pois as comunida d e s, adquirindo as habilidades
advindas da Tecnologia da Informação, recupera m cidadania e dignida de, melhoran d o seu
conhecime nt o e renda, incidindo positivamen t e sobre o IDH municipal.
3. CONCLUSÃO
Apesar do sucesso, o progra m a Paranavegar tem um longo caminho à percorrer, pois o
abismo tecnológico entre detentores da inform ação e desprovidos de inform ação, ainda é
percebido. Deve ficar claro que esse moviment o de estende r acesso à informá tica e à
Internet represe nt a um caminho no qual não há retorno e que provavelment e mudará, a
longo prazo, e relação entre o cidadão e o Estado municipal, estadual e federal. Daqui em
diante será mais fácil para grupos de cidadãos com interesses específicos se organizare m
para agir de forma a ter o maior impacto possível.

REFERÊNCIAS
CHOMSKY, Noam e DIETERICH, Heinz, 1999 A Sociedade Global: educação, mercado e
democracia, FURB, Blumena u.
GERMAN, Christiano, 2005 O caminho do Brasil rumo à era da Inform ação, Fundação Konrad
Adenaue r, São Paulo
NERI, Marcelo Cortês, 2006 Mapa da Exclusão Digital , FGV/IBRE, CPS, Rio de Janeiro.
DO PAPEL AO DIGITAL: UM DOS PROCESSOS PARA
MELHORIA DA GESTÃO PÚBLICA

Maria do Carmo Cattani


Diretora do Arquivo Público do Município de Curitiba
mcattani@pmc.curitiba.pr.gov.br

Gerson Guérios
Coordenador da área de Tecnologia para Gestão Documental
gguerios@ici.curitiba.org.br

Juliana Jenny Kolb


Líder de Projetos da Coordenação de Gestão Documental
jkolb@ici.curitiba.org.br

RESUMO

O Programa de Gestão Arquivística de Documentos do Município de Curitiba – PGAD, contempla um conjunto de


disciplinas, técnicas e tecnologias que, utilizadas em harmonia, propiciam normas, procedimentos, ferramentas e práticas
necessárias para o arquivamento, preservação, geração de indicadores, processos de negócios e disponibilização de
documentos quer seja no âmbito público ou privado.
O PGAD foi elaborado observando princípios para uma gestão administrativamente adequada, politicamente correta e
ecologicamente alinhada. Para tanto, fez-se necessário à reorganização dos procedimentos institucionais para a geração
de informações e melhor atendimento aos órgãos da administração direta e indireta, servidores municipais, cidadãos,
comunidades, empresas e outras esferas de governo.
As metas do PGAD convergem para as perspectivas do Governo Eletrônico, onde o objetivo final consiste no
atendimento a quatro metas da gestão pública: oferecer serviços de utilidade pública ao cidadão contribuinte; repensar o
modus-operandi dos processos produtivos; integrar vários órgãos governamentais e não-governamentais e permitir criar,
gerenciar e disponibilizar o conhecimento, tanto o gerado quanto o acumulado. Também, o PGAD é aderente à iniciativa
ePING (conectividade e interoperabilidade), assim como obedece às recomendações da Câmara Técnica de Documentos
Eletrônicos – CTDE e do Conselho Nacional de Arquivos – CONARQ.
O resultado obtido até agora demonstra uma clareza na definição de metodologias e procedimentos e no entendimento do
que é a gestão arquivística de documentos e informação, e traz impacto positivo no relacionamento com os órgãos
internos, com a sociedade e com cidadãos na realização e prestação de serviços de qualidade e eficiência. Ainda, conclue-
se com maior exatidão a importância dos sistemas informatizados e a necessidade urgente de criar instrumentos, meios e
ferramentas para amenizar a crescente produção de documentos em papel e em outros suportes, que vem ocorrendo no
município de Curitiba, tal como acontece em todos os lugares que atravessam um surto desenvolmentista acentuado.

PALAVRAS-CHAVE
Arquivo público; Município de Curitiba; gestão arquivística de documentos; gestão de sistemas de
informação; governo eletrônico; documento convencional (papel); documento eletrônico (digital, vídeo,
áudio, fotografias, filmes).

1. INTRODUÇÃO
A implantação da política de gestão arquivística de documentos e informação, dos procedimentos, dos
sistemas, das normas e práticas que levam os Órgãos da Administração Direta e Indireta a criarem e
manterem documentos arquivísticos, é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Administração –
SMAD, através do Arquivo Público Municipal – ADAP criado através da lei 11.087 de 01 de julho de 2004.
O ADAP tem por missão preservar, catalogar, armazenar e facilitar o acesso aos documentos, mantendo-
os fidedignos, autênticos, acessíveis e preservados. A origem destes documentos em seus diferentes formatos
está no Poder Executivo, no Poder Legislativo e na comunidade constituída por cidadãos, por si próprios e
por empresas ou outras formas de associação que possam existir.
O desafio do Município de Curitiba é classificar, identificar, acessar e armazenar adequadamente os
documentos existentes e que estão sendo produzidas e disponibilizadas por diferentes atividades. Também,
gerenciar de forma transparente e eficiente esta massa documental, gerando informações e indicadores aos
gestores municipais auxiliando-os no processo de tomada de decisão, bem como no atendimento ao cliente
cidadão.
Os acervos documentais apresentam-se nos mais variados suportes desde papel, fotografias, filmes
convencionais, microfilmes em rolos e jaquetas, fitas de áudio e vídeo, discos digitais contendo áudio, vídeo
e fotografias, como também conteúdos de páginas de web site que devem ser preservados ou como
documento ou como informação.
Por outro lado, os tempos atuais exigem da Administração Pública um maior contato com a comunidade
como também uma oferta adequada de serviços públicos via meios de comunicação, no estilo Governo
Eletrônico.

2. ETAPAS DO PROCESSO DE MELHORIA DA GESTÃO


Os profissionais do ADAP responsáveis pela implantação da política de gestão arquivística de documentos,
diante do desafio de classificar, identificar, preservar, armazenar e disponibilizar os documentos e
informações existentes no município estabeleceu regras de atuação, tais como: estudo do programa de
governo para levantar critérios e prioridades pertinentes à documentação; entrevistas com gestores
responsáveis pela implantação da política organizacional de cada órgão da esfera municipal para conhecer a
situação real de cada parte da instituição; utilização de serviços prestados por profissionais especialistas nas
áreas de atuação técnicas de gestão de documentos, informação e informática; participação em eventos
técnicos da área e levantamento completo das iniciativas já realizadas com o mesmo objetivo no âmbito
municipal.
A partir do exercício efetivo de todas estas práticas, o ADAP definiu e propôs à Secretaria de
Administração de Curitiba as etapas necessárias para atingimento do objetivo.
Cada uma das etapas trata de um assunto específico e foram desenvolvidas concomitantemente, onde a
etapa seguinte não era dependente da etapa anterior.
O universo de abrangência do PGAD é a instituição como um todo, como pode ser visto na Figura 1.
Figura 1: Áreas de atuação do PGAD.

As etapas são as seguintes:

2.1 NORMAS E PROCEDIMENTOS

Como primeira atividade desta etapa, resgatou-se a Tabela de Temporalidade implantada alguns anos atrás
após um estudo de técnicos da Prefeitura. A Tabela de Temporalidade foi revista, atualizada e adaptada aos
tempos atuais, criando-se condições para a classificação não somente de assuntos pertinentes a documentos
convencionais como também de assuntos que fazem ou farão parte de documentos que já nascem eletrônicos.
Muitos órgãos da Administração Direta e da Indireta já praticavam cada a sua maneira a gestão
arquivística de documentos. Levantaram-se todas as normas e procedimentos de cada um. Na ausência da
prática pelo órgão da gestão arquivística, estudou-se a prática corrente, suas vantagens e desvantagens. A
partir deste levantamento geral, o ADAP emitiu um procedimento interno abrangente com vistas à normatizar
efetivamente o exercício da gestão arquivística de documentos na Prefeitura Municipal como um todo.
Determinou-se a estrita observância destas normas e procedimentos, com obrigatoriedade de classificação
prévia do novo documento a ser emitido através da regra contida na Tabela de Temporalidade.

2.2 IMPLANTAÇÃO DAS COMISSÕES DE AVALIAÇÃO DE DOCUMENTOS

Com a finalidade de levantar e avaliar o acervo documental presente em cada um dos órgãos, foram criadas,
implantadas e capacitadas as Comissões de Avaliação de Documentos - CAD´s.
A CAD atua internamente no órgão, dentro das normas e procedimentos já adotados. A CAD deve
levantar o acervo documental levando em conta os três grandes aspectos: o arquivo corrente, que deve
permanecer no órgão, para consultas e uso imediato; o arquivo intermediário, que são documentos antes
correntes e em fase de transferência para o ADAP; os documentos do arquivo permanente, que devem ser
classificados, catalogados e remetidos o ADAP definitivamente.
A CAD deve acompanhar todos os documentos correntes afim de que estejam classificados e catalogados
no momento do nascimento com a utilização da tabela de temporalidade; o arquivo intermediário deve ser
classificado, catalogado e eliminado depois de cumprido a temporalidade e transferido rotineiramente ao
ADAP, mesmo procedimento para documentação de caráter permanente a ser transferida para o ADAP
dentro do prazo de temporalidade dependendo do porte do acervo.
2.3 CAPACITAÇÃO DE SERVIDORES

A capacitação de servidores foi conduzida no sentido de sensibilização e mobilização a respeito da prática de


gestão arquivística de documentos, tendo como temas: classificação, identificação, catalogação,
conservação, preservação e armazenamento.
As palestras e cursos foram ministrados para grupos homogêneos (funcionários do mesmo órgão) e
grupos heterogêneos (funcionários de diversos órgãos) para fixação de conceitos, práticas e troca de
experiências.
Na última etapa de capacitação, foi apresentado o sistema arqDoc especialmente desenvolvido para
gerenciamento eletrônico dos documentos.

2.4 ORGANIZAÇÃO FÍSICA

Para a guarda permanente de acervos documentais em diferentes suportes, providenciou-se um ambiente


adequado especialmente a esta prática, com recursos de armazenamento apropriados, controle efetivo de
acesso ao acervo, proteção contra incêndios e outros danos naturais possíveis, em local de acesso facilitado,
porém distante do centro da cidade devido aos custos advindos da localização.
Também, como alternativa ao armazém físico geral, providenciou-se outro local para a guarda temporária
de documentos em fase de intermediário para permanente.
Estamos trabalhando em busca de recursos para um novo armazém físico especialmente desenhado para
abrigar documentos em suporte diferentes de papel, como fitas, filmes, fotografias, discos digitais, fitas
digitais e outros. Estes suportes requerem ambiente específico e controlado.
A localização física do documento é controlada em caixa-box ( poliondas). A localização da caixa-box é
realizada em armazém, sala, corredor e estante. No caso de mudança física, altera-se apenas o cadastro da
caixa-box e não do seu conteúdo.

Figura 2: Imagem do acervo do ADAP.

2.5 SISTEMA DE INFORMAÇÃO

O PGAD somente estaria completo com a adoção de um sistema de programas de computador adequado às
necessidades da gestão.
O sistema arqDoc foi especialmente criado com a observância e aderência as recomendações ePing e
eArq, a partir dos requisitos apontadas pelo ADAP como essenciais.
O arqDoc é visto como um armazém virtual: em algum momento no futuro todo o acervo documental do
armazém físico estará também no armazém virtual. Além disso, todos os documentos eletrônicos que já
nasceram desta forma e nunca passaram pelo armazém físico, estarão no armazém virtual.
Com a evolução acelerada da Tecnologia da Informação, nos tempos atuais pode-se planejar, desenvolver
e implantar sistemas adequados e eficientes de Gestão Documental a custos adequados à complexidade do
tratamento de acervos documentais.
O arqDoc trabalha sob o conceito de demanda: alguém (cidadão, empresa, comunidade, outras esferas de
governo) necessita de acessar um documento quer em inteiro teor, quer apenas para consulta; o servidor
localizado no armazém virtual a cópia digital do documento e, se não for encontrada, encomenda a
digitalização e catalogação desse documento; o interessado contribuinte recebe pessoalmente o documento e
o servidor recebe via correio eletrônico. A Figura 3 ilustra o fluxo operacional atual do PGAD:

Figura 3: Fluxo operacional atual do PGAD.

2.6 ACOMPANHAMENTO E AJUSTES

A etapa de acompanhamento e ajustes está sendo praticada no dia-a-dia com o objetivo de manter o PGAD
atualizado e coerente com a realidade presente, buscando sempre a adequação aos novos documentos, aos
novos tempos e às novas exigências legais, sociais, tributárias e arquivísticas.

3. DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA DA GESTÃO ARQUIVÍSTICA


DE DOCUMENTOS
3.1 DIVULGAÇÃO DA PROPOSTA DO ADAP JUNTO AOS DEMAIS ORGÃOS DIRETOS E
INDIRETOS
A proposta de execução do PGAD foi divulgada através de palestras proferidas pelo Secretário de
Administração. Utilizou-se também a divulgação via web site e através da Rádio Prefeitura.

3.2 OBTENÇÃO DE RECURSOS BÁSICOS PARA EXECUÇÃO DO PLANO

Os recursos básicos para inicio de execução do PGAD vieram do orçamento municipal.


No entanto, para dar continuidade ao projeto e efetivamente torná-lo perene, estamos buscando recursos
junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social através do programa PMAT – Programa
de Modernização da Administração Tributária. O projeto específico para obtenção deste recurso está em fase
de análise prévia.

3.3 EXECUÇÃO GRADATIVA DAS ETAPAS DO PROCESSO DE MELHORIA DA GESTÃO

O PGAD continua sendo executado gradativamente, à medida da disponibilidade orçamentária.


Estamos colocando em funcionamento a etapa II que consiste na consolidação da relação via Internet com
os interessados em documentos, utilizando inclusive mensagens via celular para avisar o cidadão a respeito
do andamento de seu pedido de documentos.
Os armazéns físicos continuam em organização contínua. O armazém virtual está sendo reforçado com a
aquisição de uma unidade de armazenamento de dados com capacidade inicial de 2 (dois) terabytes e
capacidade final de 16 (dezesseis) terabytes. A capacidade inicial suportará o armazenamento de até
36.000.000 (trinta e seis milhões) de páginas de documentos tamanho A4 digitalizadas em cores preto e
branco, com compressão tipo fax, com tamanho estimado de 60 kilobytes cada uma.
A capacitação dos servidores públicos do ADAP está sendo conduzida para uma maior especialização no
que concerne a documentos eletrônicos e controle de fluxo de processos.

4. METAS ALCANÇADAS
4.1 ATENDIMENTO INTERNO

Através do sistema arqDoc, os servidores municipais solicitam documentos utilizando um acesso


personalizado ou solicitando diretamente aos atendentes do ADAP, e recebem o documento digital via
correio eletrônico, através de um link de acesso, evitando a sobrecarregar o sistema de correio eletrônico.

Figura 4: Cópia digital enviada via correio eletrônico.


4.2 ATENDIMENTO AO CIDADÃO, EMPRESAS, COMUNIDADES E OUTRAS ESFERAS DE
GOVERNO

No momento presente, o atendimento aos cidadãos, empresas, comunidades e outras esferas de governo ainda
é realizado através das centrais de atendimento. Quando é solicitado um documento que já faz parte do
armazém virtual, o atendente simplesmente associa a solicitação e após a análise de legitimidade o
documento digital é entregue ao solicitante em questão de minutos.
Outro aspecto importante é que o documento entregue pode ser fornecido gratuitamente se o solicitante
levar algum tipo de dispositivo eletrônico como um pen drive, ou fornecido através de um CD se o solicitante
preferir. Em último caso o documento é impresso e entregue em papel.
Na etapa seguinte, a solicitação será realizada através da internet, por qualquer interessado, pessoa física
ou jurídica, mediante a criação de uma conta única de acesso.
A partir desta solicitação, o sistema arqDoc dispara tarefas de forma automática para que as equipes de
trabalho dispersas nos armazéns físicos possam processar o pedido; o processo é concluído com o aviso ao
solicitante de que o documento está pronto e à sua disposição; este aviso pode ser emitido via mensagem
SMS para celular, ou ligação telefônica convencional através do sistema 156 ou ainda através do correio
eletrônico do interessado.
Por outro lado, é possível manter-se uma trilha auditável referente à entrega do documento ao cidadão.
Facilidades tecnológicas contidas no sistema arqDoc possibilitam apanhar e registrar o “clique” do usuário
para obtenção do arquivo contendo a cópia do documento solicitado, conforme a Figura 5:

Figura 5: Relatório de acompanhamento.


A seguinte análise pode ser feita a partir da Figura 5, extraída do sistema arqDoc: após a solicitação, todo
o processo, desde a digitalização até a leitura por e-mail, levou cerca de 2 minutos; até a data de hoje, o
solicitante leu o documento apenas uma vez e apenas em um equipamento.

4.3 REDUÇÃO DO CUSTEIO

Apesar dos investimentos efetuados no PGAD, já é possível aferir-se uma redução no custeio da operação
como um todo. O último levantamento mostra que 180 (cento e oitenta) resmas de papel tamanho A4
deixaram de ser impressas, provocando economia correspondente a insumos como tonner, energia elétrica e
aluguel de impressoras.
Por outro lado, o custeio indireto (entende-se como o gasto que o cidadão faria por sua conta para obter o
documento) também diminuiu através da agilidade no atendimento e na facilidade de obtenção de cópias de
documentos.
A etapa III do PGAD que prevê a substituição de novos documentos em papel por documentos nascidos
eletronicamente deve acelerar a redução de custeio. O novo sistema denominado eDoc – Memorandos e
Ofícios Eletrônicos deve reduzir em torno de 600 (seiscentas) resmas o consumo de papel A4, também
provocando economia correspondente em insumos.

4.4 A QUESTÃO POLÍTICA E ECOLÓGICA

Desde a implantação do arqDoc, em março de 2007, a ADAP enviou via correio eletrônico 6.381
documentos, cerca de 84.612 páginas deixaram de ser impressas. Isso sem considerar os documentos digitais
entregues em CD ou pen drive.
Estes dados também indicam que servidores deixaram de se deslocar até o ADAP cerca de 6.381 vezes,
economizando combustível, desgaste da frota de veículo da Prefeitura Municipal de Curitiba e tempo de
trabalho.
O prazo de entrega dos documentos também diminuiu consideravelmente, em 2005 o tempo médio de
retorno era de 20 dias úteis, hoje através do sistema a entrega leva em média 3,11 dias corridos.
Do ponto de vista político estamos atendendo de forma equânime a todos os cidadãos.
Do ponto de vista ecológico, estamos contribuindo para a redução da emissão de carbono quer seja pela
não utilização de novas cópias em papel, quer seja evitando desperdícios em deslocamentos desnecessários
de pessoas e veículos.

5. UMA VISÃO DE FUTURO


A informação arquivística, produzida, recebida, utilizada e conservada em sistemas informatizados, vem
constituindo um novo tipo de legado: Patrimônio Arquivístico Digital.
O ADAP, dentro da visão da Gestão Arquivística de Documentos, tem como um dos seus objetivos
implantar sistemas de informação para, além dos procedimentos de armazenamento e busca, gerar
indicadores para decisões estratégicas da PMC, estando previstas as seguintes iniciativas:

5.1 FACILITAÇÃO DO ACESSO DOS CIDADÃOS AO ACERVO DOCUMENTAL

Na próxima etapa do sistema arqDoc está prevista a implantação de processo de controle de fluxo para a
criação de uma conta única para o cidadão ou empresa que tenha interesse em acessar e receber informações
não apenas do ADAP, mas de toda a PMC. Estamos utilizando conceitos contidos na técnica denominada
BPM (Business Process Management).
A Figura 6 ilustra as ações necessárias para a criação de uma conta única de acesso:
Figura 6: Criação de conta única de acesso.

O cidadão, pessoa física ou jurídica representada, desloca-se ao Local de Atendimento, apenas a primeira
vez que desejar requerer um documento sob a guarda do ADAP, apresentando seus documentos pessoais
(RG, CPF, Procuração, entre outros). Estes são digitalizados, armazenados e vinculados ao seu cadastro.
O sistema arqDoc, através de uma integração, envia à aplicação de autenticação os dados do cidadão e
recebe uma conta (login e senha) para que o mesmo possa acessar o sistema pela Internet (cadastro de
solicitações, consultas, entre outros).
Este procedimento possibilita a Análise de Legitimidade remota, isto é, os documentos do cidadão estarão
disponíveis em qualquer que seja o local de legitimidade de entrega. Através desse controle, o cidadão poderá
receber os documentos solicitados através do seu correio eletrônico.
A partir da criação de conta única de acesso do cidadão, pessoa física ou jurídica representada, o sistema
arqDoc estará totalmente incluído nas perpectivas do Governo Eletrônico, facilitando o acesso às
informações, gerando indicadores de apoio às decisões estratégicas, aplicando um fluxo operacional
inteligente e proporcionando o armazenamento seguro de documentos digitais, conforme a Figura 7:
Figura 7: PGAD e Governo Eletrônico.

Outro objetivo da segunda etapa de desenvolvimento arqDoc é melhorar a comunicação com o cidadão. A
partir do momento que o ADAP passar a conhecer melhor o seu cliente, através dos dados fornecidos para a
criação da conta única, será possível disponibilizar serviços como envio de mensagens SMS (aparelho
telefônico celular), Central de Atendimento 156 e correio eletrônico. A Figura 8 ilustra o fluxo operacional
completo do sistema arqDoc:

Figura 8: Fluxo operacional completo do arqDoc.


5.2 OFÍCIOS E MEMORANDOS ELETRÔNICOS

O sistema de Ofícios e Memorandos Eletrônicos – eDoc tem como objetivo eliminar o trâmite de documentos
em papel no âmbito da PMC. Os memorandos e ofícios criados em meio digital serão classificados segundo
os assuntos da Tabela de Temporalidade e seguirão o curso previsto de preservação no armazém virtual do
ADAP.
O sistema eDoc está preparado para utilizar a estrutura hierárquica de cada um dos órgãos de
administração direta e indireta, com possibilidade de múltiplos destinatários, facilitando a edição, envio,
anexação de documentos, leitura e despacho com agregação dos documentos em listas de trabalho, p.ex.: em
tramitação, recebidos para análise, emitidos, arquivados, etc.
Além de reduzir o custeio, o sistema eDoc introduz na administração pública conceitos inovadores de
trâmite com possibilidade de imediata localização do estado do processo e últimos despachos. O eDoc não
permite a alteração do texto original ou mesmo a exclusão do memorando ou ofício: uma vez emitido fará
parte integrante do acervo documental. Depois de arquivados, o eDoc tem inteligência artificial suficiente
para expurgar memorandos ou ofícios que estejam classificados com assuntos não suscetíveis à guarda no
arquivo permanente. Para aqueles memorandos ou ofícios que irão definitivamente para o armazém virtual, o
eDoc gera um arquivo gráfico em formato PDF com vistas à preservação de conteúdo desde o texto original
até o último despacho.

Figura 9: Fluxo operacional do eDoc.

5.3 LEGISLAÇÃO MUNICIPAL CERTIFICADA DIGITALMENTE

Uma das atribuições do ADAP é preservar definitivamente a Legislação Municipal oriunda do Executivo e
do Legislativo.
Faz parte das próximas etapas do PGAD a implantação do sistema legislaDoc, que tem por finalidade
controlar efetivamente o diploma legal desde a sua outorga ou promulgação, publicação, preservação,
catalogação, referenciação em relação a outros diplomas legais correlatos e pesquisa por parte de interessados
com obtenção de simples cópia ou de cópia autêntica.

Figura 10: Fluxo operacional do legislaDoc.

5.4 ADMINISTRAÇÃO AVANÇADA DE CONTRATOS PÚBLICOS

Outra área sensível que será abordada futuramente é o controle documental dos contratos firmados entre a
Administração Pública e fornecedores privados ou públicos.
O sistema que denominados contrataDoc irá utilizar-se de todo a infra-estrutura já existente para ofertar
facilmente ao servidor público e aos interessados a cópia autêntica dos contratos firmados.

6. CONCLUSÃO

A estrita observância a normas e procedimentos determinou o bom andamento do programa, bem como a
participação ativa do corpo técnico, jurídico e administrativo da Prefeitura Municipal de Curitiba que visa à
melhoria contínua no atendimento aos usuários dos serviços públicos.
Apesar de que a Legislação pátria não define ainda com exatidão a efetiva validade da documentação
digitalizada, utilizamos o conceito da utilidade e praticidade: é menos oneroso para a Administração Pública
e traz maior satisfação ao cidadão pesquisar e receber cópias de documentos com agilidade e presteza do que
aguardar um tempo muito maior quando utilizar-se meios convencionais.
Isto não significa que deixaremos de lado em qualquer momento a estrita observância do conceito da
legalidade.
A adoção de sistemas informatizados, de documentos digitalizados, de documentos eletrônicos em vez de
documentos convencionais traz um resultado muito mais adequado à Administração Pública do que os
métodos convencionais.
O processo administrativo deve seguir os passos do processo jurídico: os Tribunais superiores estão
utilizando cada vez mais a digitalização de documentos para agilizar o andamento de processos. Como
exemplo pode-se citar o recente inquérito conduzido pelo Supremo Tribunal Federal no caso do “mensalão”.
Logo, faz parte do PGAD a intenção manifesta de manter preservado o acervo documental, como também
utilizar modernas técnicas de gestão e tecnologias adequadas para aproximar-se cada vez mais do real
cumprimento da missão do ADAP: ser um repositório de informações úteis e não apenas um depósito de
papéis velhos.

AGRADECIMENTO
Ao  Secretário  Municipal  de  Administração  José  Richa  Filho  e  ao  Superintendente  Aldair  Wanderlei  Petry 
pelo apoio no desenvolvimento e aplicação do Programa; as Equipes Técnicas da Assessoria de Planejamento 
da SMAD, Assessoria de Tecnologia da Informação e do Instituto Curitiba de Informática pelas orientações 
tecnológicas  e  desenvolvimento  de  ferramentas;  a  Professora  Doutora  Eliana  Rezende  pela  consultoria 
acadêmica; e, a Procuradoria Geral do Município pela compreensão e aplicação da legislação. 
Agradecimento especial a toda equipe de servidores, técnicos e profissionais do Arquivo Público Municipal, 
que vem conduzindo de forma competente a  implantação o Programa de Gestão Arquivísta de Documentos 
no Município de Curitiba. 
 

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