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O Jardim das Delícias: A besta feita de bosta ou a bosta em forma de besta?

Semanas atrás foi o PS, o irmão mais crescido do PSD a fazer uma gracinha
através dos cornos do Pinho (sem ofensa para ninguém); agora, foi a vez do
mano mais novo demonstrar as suas habilidades por intermédio do seu
melhor artista, o AJJ.

Isso é o retrato do PS/PSD. Bando de biltres e incompetentes, excepto no


saque que se evidencia cada vez mais às claras e de forma impune. São os
processos judiciais que se abrem (contentores-Alcântara), as averiguações
que não acabam (Freeport), os julgamentos que se esquecem (Casa Pia), as
prescrições que silenciosamente ocorrrem (Tavares Moreira), os relatórios
que se sucedem (corrupção) sem consequências, as leis coxas que se
propõem para substituir leis já estropiadas (enriquecimento ilícito), a
tranquilidade com que se movem corruptos, traficantes, réus de crimes
graves, tão tranquila como a constituição de rápidas fortunas e a fuga de
capitais.

Esse retrato do PS/PSD confunde-se com o da república cleptocrática em


que se vive. Os gangs mafiosos que se apresentam para uma próxima
governação de quatro anos nada de novo têm a propor, nem têm
protagonistas credíveis e, carregam um rico historial de burlas e atraso
económico e social, com desemprego, pobreza, etc. Candidatam-se perante
um povo, tão manso que faz parecer os carneiros animais selvagens e que
caminha para mais um ciclo de roubalheira com a bonomia mansa das reses
a caminho do matadouro.

No fundo, os gangs mafiosos mostram-se nervosos e preocupados com as


suas incapacidades de conciliar o saque com uma pobreza e desigualdades
toleráveis, num contexto de estagnação económica e endividamento
elevado.

O recente caso protagonizado pelo AJJ é mais um episódio, entre outros, a


vários títulos ridículos mas, trágicos e preocupantes, pois revelam o que em
certos círculos se vai pensando para salvaguardar o funcionamento do
sistema cleptocrático, mudando qualquer coisa para enganar os tolos.
Aparecem, por vezes na praça pública, em casos como o do AJJ, emanações
inábeis sobre o que se passa nesses bastidores, sobre o que congeminam,
emanações essas que sugerem álcool etílico a bordo.

As leis eleitorais têm estado em discreta e permanente análise e discussão,


no seio do PS/PSD. Neste momento, devem estar preocupados com o
volume de abstenções e a crescente consciência do bloqueio político, que
vem aumentando a audiência da esquerda institucional; tudo isso, num
plano de crise económica e social endémica, sem fim à vista e perante a
evidência que a integração europeia, o tratado de Lisboa e afins não trazem
a bem-aventurança.

Quanto às abstenções, Carlos César levantou recentemente a hipótese do


voto obrigatório. Se as pessoas não acreditarem nos partidos, o Estado
destes obriga-as a acreditarem sob a ameaça de coimas, contra-
ordenações, polícia à porta; os mandarins querem a legitimidade, nem que
seja à força. E acautelem-se, pois as coimas podem cair sobre os herdeiros

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dos eleitores inscritos e já falecidos há anos, constantes nos cadernos
eleitorais e que, portanto, são irredutíveis abstencionistas.

Outra via, para além da actual segmentação das votações para a AR por
distritos, neutralizando os votos distritalmente minoritários e favorecendo o
PS/PSD (naturalmente) é a exigência de uma determinada percentagem de
votos para um partido estar representado na AR.

Na Alemanha essa percentagem é de 5% e isso afasta ou assusta todas as


formações que não os principais gangs locais a CDU/CSU ou o SPD que,
traduzidos para português, correspondem ao que vamos designando por
PS/PSD. Na Rússia, o czar Putin e a sua Gazprom livraram-se da oposição
exigindo 10%. Curiosamente, o BE e o PC, em 7 de Junho tiveram pouco
mais de 10% dos sufrágios…

Não pretendemos competir com a criatividade dos mandarins e dos


escritórios de advogados pagos com dinheiros públicos para formular
alternativas mas… algo estará na forja para a construção da estabilidade”,
da “governabilidade”.

Foi a pensar na “governabilidade” que, meses atrás, Manuela Ferreira Leite,


do fundo da sua incapacidade e ignorância política, deixou deslizar o desejo
de que seria bom suspender a democracia por seis meses. Todos sabemos
que a democracia é um frete que se cumpre para um ente que transitou, já
com trinta e tal anos, indiferente, do fascismo para a democracia, lado a
lado com o seu amigo Cavaco que a introduziu na política, depois de se ter
apoderado das rédeas do PSD em 1985. Para ambos, democracia, debate,
diálogo são factores litúrgicos de custo para as empresas e para a gestão
pública. Nessa linha, Manuela soltou a preocupação com os 4M euros
adicionais a gastar com eleições em datas distintas e compreensão com os
roubos na banca, o auto-abastecimento salarial dos gestores de topo ou a
titularização de que foi obreira e na qual o Estado recebeu 1700 M euros do
Citygroup por troca com 9500 M euros de dívidas fiscais de empresas aos
quais se adicionaram já, mais 3700 M euros. Em tempos, o seu
correligionário o ultra-liberal António Borges pretendia resolver não sabemos
bem o quê com o despedimento de 150000 funcionários públicos.

Neste contexto AJJ, que tem a sua própria agenda e faz o que quer, com ou
sem o aval da liderança nacional do PSD, escancarou a cloaca.

O silêncio de Manuela e do chefes do PSD é de incómodo e por vários


motivos. Porque não é questão que convenha levantar em tempo eleitoral,
sobretudo daquela crua forma; e depois porque recorda frase com conteúdo
semelhante da Balela, tempos atrás como acima referido. E assim, ficaram
esperando que AJJ explicasse melhor o que disse pois, como sucede nestas
emergências, os jornalistas e os cidadãos é que são burros, com
interpretações ínvias e ignorância suficiente para não perceberem o
alcance, a profundidade do pensamento de inspirados mandarins como o
AJJ. E o tempo estival favorece o esquecimento de mais uma parvoíce saída
do PS/PSD.

Aproveitamentos eleitorais

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Interessante, do nosso ponto de vista, é a cegueira política do CC do PCP ao
pretender aproveitar, de forma desastrada, as propostas do biltre AJJ,
integrando-as no actual contexto de eleições à vista.

Na lógica jardínica, “comunista” é um termo que abrange toda a esquerda e


não especificamente o PCP, que até tem sido muito cordato na sua
integração no funcionamento institucional da Madeira e não tem causado
qualquer desgosto ou obstáculo ao avassalador controlo do AJJ sobre a
sociedade madeirense, como aliás, sublinhado pelo próprio fascistóide. E,
como também tem sucedido com os governos nacionais, que pagam bem,
para não ouvir o grasnar ou os insultos do imbecil.

E o PCP sabe que é assim, como sabe que não é através da forma trauliteira
do AJJ que a fascização das sociedades europeias tem avançado,
lentamente, na exacta medida da estagnação das economias europeias e da
putrefação e formalidade da democracia de mercado. A proposta do AJJ mais
parece o discurso ameaçador do polícia mau perante o preso, a que se
seguirá o polícia compreensivo e apaziguador, que virá propor algo menos
mau para “safar” o assustado prisioneiro.

Se a proposta do AJJ fosse, ela própria credível, para considerar e, se o


semovente tivesse a mesma concepção restrita de “comunista” que a
proclamada pelo CC do PCP, este estaria a oferecer-se como mártir e a
proceder como aqueles militantes islâmicos que se oferecem ao martírio
para ganhar no Além os favores de um punhado de virgens.

Como se tornou rotina, o PCP gosta de apresentar os seus selos de


autenticidade (imparcialmente) passados pelo próprio; e afirmar-se como o
regulador oficial (um género de ASAE) do uso do título de comunista, numa
visão redutora, empobrecedora que exclui todas as formas de luta por uma
sociedade comunista que não detenham o atestado ou bula passada pelo
CC do PCP.

No mundo do século XXI, embora isso fuja aos desejos do CC do PCP, a


realidade à esquerda é plural, como aliás já o era no tempo do fascismo e,
no PCP, sempre gostaram de ignorar ou menosprezar a resistência
protagonizada por anarquistas, marxistas-leninistas, maoistas, trotskistas, e
socialistas de esquerda, sobretudo se, em qualquer momento das suas
vidas, passaram por uma militância no PCP. Pelo contrário, gostam de fazer
sobressair a resistência de um ou outro caso de cidadãos católicos, sociais-
democratas ou mesmo de direita, com o espírito paternal, indulgente, de
quem faz por compreender uma criança ou um tonto de aldeia; nesses
casos, podem, mais facilmente, colocar-se mais à esquerda no espectro
ideológico.

Para além desse quadro histórico, a situação actual em Portugal e na Europa


não admite esses vanguardismos elitistas de auto-ungidos representantes
da classe operária. Essas desesperadas pretensões hegemónicas acentuam-
se, motivadas por extrapolações inconvenientes e embaraçosas quanto ao
futuro número de deputados na AR.

A situação actual exige a convergência e a unidade da esquerda, dos


militantes anti-capitalistas, dos trabalhadores e, mais abrangentemente, da
multidão de vítimas do gang PS/PSD. E a falta de unidade da esquerda é um

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atestado de insensibilidade política da esquerda institucional que
compromete mais, quem mais se afirma como dono e senhor de toda a
esquerda, com direitos de patriarcado.

Do fundo da nossa insignificância, logo expressa na criação do blog em Maio


de 2005, sugerimos ao CC do PCP para proceder e divulgar um estudo sério
sobre as causas do estoiro do “sol na terra” (termo utilizado por Cunhal
relativamente à URSS) ou à explicitação das razões da actual colagem do
PCP ao capitalismo chinês.

Sugerimos também que informem os militantes porque não aplicam os


estatutos e expulsam militantes como Saramago e Carlos do Carmo,
apoiantes expressos de António Costa, contra a lista do PCP à Câmara de
Lisboa. Se apreciássemos teorias da conspiração, perguntariamos se
aqueles dois militantes não estariam a cumprir os desígnios estratégicos do
partido, de criar uma “maioria de esquerda” e chegar ao poder como
muleta do PS. E, nessa linha, seria divertido verificar se haveria
concorrência na concretização desse desígnio estratégico.

Para fechar, salientamos que o PS também procurou aproveitar o silêncio


“manuelino”, desejoso de mostrar credenciais de partido de esquerda,
pluralista, democrático… em época de aperto eleitoral. E fê-lo através do
“ideólogo” Santos Silva, que funciona como o Rosenberg de Sócrates, como
sabemos, mais habilidoso em inglês técnico do que em matéria de
ideologia.

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