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SÍNTESE

HISTÓRICA DA
GEOPOLÍTICA
ENERGÉTICA
documento de estudo
SÍNTESE
HISTÓRICA DA
GEOPOLÍTICA
ENERGÉTICA
documento de estudo

APOIO

A Geopolítica Energética

A geopolítica, como um método de estudo das relações interna-


cionais, ressalta a importância dos fatores de localização sobre as
relações entre países. Assim, a geopolítica considera os fatores
geográficos como importantes determinantes da política gover-
namental e da posição relativa de poder das nações. Neste estudo
sobre energia, esses fatores de localização são examinados, como
não podia deixar de ser, quando consideramos o acesso às maté-
rias-primas em geral.

Por sua vez, a importância de vários fatores geográficos é função


de muitos parâmetros. como a passagem do tempo, as descober-
tas tecnológicas, as necessidades de matérias-primas, os objetivos
nacionais e internacionais e a ética das relações internacionais.

Além do mais, a importância dos fatores geográficos e de loca-


lização também varia de acordo com o próprio sistema interna-
cional; novos atares internacionais entram em cena (tanto novos
países como corporações multinacionais, organizações interna-
cionais e organizações regionais econômicas e militares); a legi-
timidade e a adequabilidade dos atores tradicionais, das próprias
nações-estados, estão sujeitas a debate. O poder se torna mais
diluído; as superpotências freqüentemente são embaraçadas por
países menores que encontram espaço para manobrar dentro do
impasse criado pelos arsenais atômicos. A interdependência, tan-
to em termos de dependência mútua quer de interpenetração,
é uma realidade. neste ambiente internacional dinâmico que a
geopolítica é o acesso às matérias-primas têm que evoluir.

Existem fatores geopolíticos relacionados ao suprimento de energia


e matérias-primas que indiquem o rumo que as relações internacio-
nais deverão tomar nas próximas décadas? Quais as áreas, através do

controle de que fatores geográficos, que serão estratégica e econo-
micamente importantes no futuro? Que combinação de países esses
fatores geográficos tornarão provável? Se a energia é de vital interes-
se para a comunidade mundial, haverá “centros de energia”, como o
Oriente Médio atualmente, dos quais dependerá o resto do mundo?

Como todas as fontes de energia primária dependem de um con-


junto de medidas adicionais necessárias para transformar a ener-
gia para uma forma utilizável e transportá - Ia para as áreas de
consumo, outros fatores além da distribuição geográfica dos re-
cursos são aspectos essenciais da geopolítica energética. As linhas
de suprimento, a tecnologia e as instalações de processamento,
sem as quais os recursos brutos não valem quase nada, também
terão implicações para a política internacional.

Finalmente, a interação continuada entre os fatores que influen-


ciam a oferta (reservas processamento, novas descobertas, au-
mento do consumo de energia e pesquisa e tecnologia energética)
e os fatores que influenciam a demanda (crescimento econômico,
necessidades de um sistema econômico em particular, e disponi-
bilidade de substitutos), que com o passar do tempo modifica a
importância relativa de diferentes recursos e fatores geográficos,
também é um aspecto importante da geopolítica energética.

Interesse Nacional e Segurança Nacional

A despeito dos esforços para definir as necessidades e a política


energética dos Estados Unidos, ainda não dispomos de uma polí-
tica nacional de energia que seja ao mesmo tempo abrangente, re-
alista e aceitável por todos. As propostas do Governo constituem
os mais recentes de uma série de esforços para lidar com nossa
dependência energética. Não podemos ter certeza de que o plano

final será mais abrangente que as iniciativas anteriores. Nisso não
estamos sózinhos, pois muito poucos países industrializados no
mundo de hoje dispõem de uma política energética global.

No caso dos Estados Unidos, os objetivos energéticos se perde-


ram em muitas outras preocupações e em um labirinto de política
interna. Com o tempo o Governo mostrou que tem a capacidade
de aprender e reconhecer as implicações de nossa dependência
cada vez maior em relação ao petróleo importado. Passado não
tão recente, “iniciativas” e “políticas” energéticas refletiam ações
táticas com o objetivo de alcançar metas a curto prazo, uma abor-
dagem imediatista de um problema nacional muito importante.

Ao definir e programar uma política energética mais adequada,


os Estados Unidos se tornam mais conscientes de até que ponto a
dependência energética no comércio internacional afeta a escolha
de aliados, modifica as alianças e, em certos casos, cria a neces-
sidade de novas alianças. Os “acidentes” geológicos que concentra-
ram os recursos energéticos em sociedades pré-industriais trazem
a questão geral das relações “Norte-Sul” para a busca de acesso,
uma busca na qual os Estados Unidos talvez se vejam em disputa
com aliados tradicionais, ou empenhados em objetivos de tal modo
divergentes que possam afetar a durabilidade de nossas relações.

Interesses do Governo

Os países que dependem de recursos energéticos importados


têm dois objetivos principais: primeiro, adotar políticas destina-
das a assegurar o acesso ao suprimento externo adicional que é
essencial para suas necessidades nacionais; segundo, reduzir a ne-
cessidade de acesso a suprimentos externos.


Para assegurar o acesso a suprimentos externos, um governo tem
várias opções: pode procurar relações bilaterais com os principais
produtores; pode criar um sistema de fornecedores preferen-
ciais; pode participar de movimentos mais gerais como o diálogo
Mercado Comum-País Árabe ou de acordos de comércio como a
Convenção Lomé; pode oferecer assistência tecnológica; ou pode
participar de esforços internacionais ainda mais amplos, como a
Agência Internacional de Energia (AlE) e a Conferência de Coope-
ração Econômica Internacional (CCEI). Pode, naturalmente, fazer
tudo isso ao mesmo tempo.

Para reduzir a necessidade de acesso a suprimentos externos, um


governo pode implementar políticas de conservação, oferecer
incentvos para o desenvolvimento de alternativas energéticas,
encorajar as pesquisas, etc. Essas são medidas essencialmente
internas que um governo pode tomar para reduzir a demanda e
estimular a produção. O sucesso dessas políticas será determina-
do pela oportunidade das medidas, pela decisão com que forem
adotadas, pelas políticas econômicas vigentes e pela disponibili-
dade de recursos energéticos naturais no país.

A questão do acesso aos recursos energéticos envolve na verdade


três interesses, que são compartilhados por lodos os países caren-
tes de energia:

I. O suprimento de energia importada deve ser suficiente; existe


um nível de importações abaixo do qual a segurança nacional é
colocada em risco.

2. O suprimento de energia importada deve ser contínuo. Inter-


rupções ou cortes no suprimento podem ter sérias repercussões
políticas e econômicas nos países industrializados. Naturalmente,
é esta vulnerabilidade a interrupções do suprimento que dá aos

estados fornecedores uma poderosa arma contra os países que
dependem de energia importada.

3. A energia importada deve ser obtida a preços “razoáveis”

O mais difícil de definir dos três aspectos do acesso. E evidente que


o preço pago deve guardar alguma relação com o custo de formas
alternativas de energia. tanto disponíveis como planejadas. O preço
deve também refletir o fato de que as atuais fontes de energia não
são renováveis e suas reservas estão diminuindo. O preço também
deve refletir uma “capacidade de pagar”.

Esses três fatores-um suprimento suficiente e contínuo a um preço


razoável -constituem um trio indissolúvel de interesses energéti-
cos. A falta de qualquer um desses fatores pode ter conseqüências
desastrosas para o bem-estar econômico, a estabilidade política e a
segurança nacional do país consumidor.

A Geopolítica Energética Contemporânea

O século vinte testemunhou a maior mudança nas fontes de energia


que o mundo talvez tenha experimentado desde que o uso do fogo
foi disseminado. Nos primeiros vinte e cinco anos do século, o carvão
foi indiscutivelmente a principal fonte de energia para o mundo in-
dustrializado. As necessidades energéticas dos grandes países podiam
ser atendidas inteiramente por recursos internos ou suplementadas
por fontes próximas (no caso do Japão). O carvão teria continuado a
ser a principal fonte de energia se a descoberta de grandes quantida-
des de petróleo no sul da Rússia, no Oriente Médio e, mais tarde, nos
Estados Unidos, não tivesse despertado rapidamente o interesse na
facilidade comparativa de sua cxtração e transporte, e de sua conver-
são para atender a uma grande quantidade de necessidades.

Que circunstâncias causaram a revolução do petróleo a partir de
meados dos anos cinqüenta? Que circunstâncias levaram sua dis-
ponibilidade a ser colocada no topo das prioridades nacionais?
Essas perguntas podem ser ilustradas por referências estatísticas
ao aumento do consumo de energia, a partir de 1960 (o ano em
que foi fundada a Organização dos Países Exportadores do Petró-
leo [OPEP)); naquele ano, o consumo mundial de energia foi da
ordem de 132 quintilhões de British Thermal Units (QBTU); dez
anos mais tarde, era de 217 QBTU; cinco anos depois, em 1975,
chegava a cerca de 225 QBTU. Em 1990 a 415 QBTU -um au-
mento de mais de três vezes no consumo mundial de energia em
apenas trinta anos.

Qual foi a participação do petróleo (e do gás natural) nesses au-


mentos? Em 1960, representavam 48 por cento do consumo mun-
dial de energia. Dez anos depois, a participação havia aumentado
para 63 por cento; em 1975, já estava em 67 por cento; e em 1990,
mesmo se supusermos uma grande contribuição da energia nucle-
ar, a participação do petróleo e do gás natural chega a 85 por cen-
to. As implicações em termos de quantidade são impressionantes.
Oito bilhões de barris de petróleo consumidos em todo o mundo
em 1960, 17 bilhões de barris em 1975, e 30 bilhões de barris em
1980: um aumento de quase quatro vezes do consumo de petróleo
e gás em trinta anos.

O carvão, por outro lado, que havia sido a principal fonte de ener-
gia, ainda era responsável por 47 por cento do consumo mundial
de energia em 1960, mas caiu para 30 por cento em 1976.

Assim, a conveniência do petróleo, o fato de exigir uma quan-


tidade mínima de mão-de-obra, o número extraordinário de
aplicações. e, talvez mais importante de tudo, o fato de ser rela-
tivamente barato, mais o enorme aumento da capacidade de pro-

dução, e as descobertas de imensos depósitos - tudo se combinou
para tornar o petróleo e seus derivados a forma mais desejável e
mais importante de energia.

A decisão que levaria o petróleo a assumir, anos mais tarde, o pri-


meiro lugar como fonte de energia foi tomada antes da Primeira
Guerra Mundial, quando o Almirantado Britânico resolveu con-
vencer sua esquadra de guerra para consumir óleo, uma decisão
rapidamente imitada por todas as grandes potências da época.
Esta medida resultou em toda uma série de fatores geopolíticos:
o acesso ao petróleo impôs novos e importantes compromissos
às políticas externa c de defesa. Para os ingleses especialmente,
dado o tamanho e o papel da Marinha Real, o Oriente Médio, que
ainda era considerado como a “ponte” para a Índia e o Oriente,
uma ponte a ser defendida contra as ambições dos russos, ad-
quiriu um outro significado estratégico: o acesso aos campos de
petróleo do Irã e do Golfo Pérsico.

Antes da Segunda Guerra Mundial, os interesses franceses, alemães


e norte-americanos também procuravam acesso ao petróleo. Em-
bora a importância estratégica do petróleo possa ter pesado, não foi
necessariamente o fator predominante que levou esses países a se
interessarem pelo Oriente Médio. No caso da Alemanha, o desejo
de obter uma vantagem estratégica em relação à Inglaterra pode
ter sido mais importante que o petróleo em si. Da mesma forma,
a rivalidade tradicional entre a França e a Inglaterra pode ter sido
a razão original para a presença francesa ‘no Oriente Médio, que
de qualquer forma não se baseava cm uma necessidade premente
de petróleo. No caso dos Estados Unidos, os interesses comerciais
foram os mais importassem. Talvez tenha sido principalmente no
caso do Japão (que, entretanto, procurou seus suprimentos no Su-
deste Asiático) que o reconhecimento da importância estratégica
do suprimento de petróleo motivou atividades externas.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a ameaça da expansão soviética no
Oriente Médio e a criação de Israel acrescentaram novas dimensões aos
interesses norte-americanos. A crescente importância atribuída ao petróleo
no comércio internacional de energia expandiu rapidamente a lista de pre-
ocupações norte-americanas. Entretanto, os Estados Unidos não discutiram
as implicações a longo prazo deste acentuado interesse pelo petróleo em
geral, nem seu acesso exclusivo ao petróleo da Arábia Saudita. Isto é verda-
de até hoje, embora os aliados e outros considerem ridículo que os Estados
Unidos continuem a explicar que não existe nenhuma “relação especial”
quanto às imensas reservas de petróleo daquele reino, de cuja política de-
pendem os interesses energéticos de tantos.

As nações industrializadas em geral não têm tido políticas energéticas apro-


priadas ao seu grau de dependência. Não é de surpreender, portanto, que
no começo dos anos 60, quando o consumo de petróleo começou realmen-
te a disparar e a se classificar bem alto na lista de interesses estratégicos
das nações, mudanças políticas nos países produtores tenham destruído o
sistema imperialista; o controle do petróleo passou para o outro lado. A
mudança foi rápida demais para permitir que os países industrializados exa-
minassem com calma as alternativas de que dispunham para recuperar a
necessária garantia de suprimento.

Necessidades Energéticas do Mundo Industrializado

O crescimento exponencial das necessidades de energia importada dos


grandes países industrializados é a condição básica que inicia uma discussão
da geopolítica energética. Três conjuntos de dados ilustram a situação: (I) o
aumento do consumo de energia desses países; (2) até que ponto essas ne-
cessidades têm sido atendidas pelo petróleo e pela importação de petróleo;
(3) a importância do Oriente Médio e da África como fornecedores.

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Observe na Tabela 1 que:

1. Durante o período 1960-1980, o consumo de energia dobrou


em geral e triplicou no caso do Japão; a Europa e o Japão continu-
aram a depender totalmente, para todos os propósitos práticos,
do petróleo importado.

2. De 1960 a 1980, a importância do petróleo para a economia


norte-americana aumentou de 20 para 35 trilhões de British
Thermal Units (BTU); as importações norte-americanas au-
mentaram de 23 por cento para 39 por cento. Foi durante este
período que os Estados Unidos deixaram de poder atender in-
ternamente a suas necessidades energéticas e deixaram de ser o
fornecedor de petróleo para o Japão e os aliados da OTAN em
caso de emergência.

3. O Oriente Médio e a África continuaram a ser os principais


fornecedores de petróleo para a Europa Ocidental e o Japão, e a
importância dessas regiões para os Estados Unidos quase tripli-
cou entre 1960 e 1980.

4. Durante o período 1960-1980, apenas a U.R.S.S. foi e conti-


nua a ser auto-suficiente em matéria de energia e portanto não
dependeu de suprimentos externos.

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Fontes de Petróleo

As imensas reservas de onde o mundo extrai o seu petróleo estão


limitadas a um pequeno número de países.

Desde o inicio da utilização moderna do petróleo, as maiores re-


servas foram encontradas no Oriente Médio; os maiores produto-
res, até recentemente, eram os Estados Unidos e a União Soviética.
Atual mente, a U.R.S.S. parece estar na liderança, com a Arábia
Saudita reduzindo rapidamente a diferença (com mais de 9 milhões
de barris por dia [MBD]) e não tendo nenhuma dificuldade técni-
ca para ultrapassar a União Soviética. Entretanto, o petróleo no
comércio mundial-que é o ponto essencial, pois atende às necessi-
dades dos países importadores-tem sido predominantemente o do
Oriente Médio. Hoje em dia, esse petróleo constitui cerca de 75
por cento do petróleo no comércio internacional.

As reservas indicam o volume de petróleo em um dado campo,


país ou região que pode ser extraído com lucro aos preços corren-
tes e com a tecnologia disponível. A capacidade de produção é a
quantidade de petróleo que pode ser extraída com as instalações de
produção existentes. As reservas dos principais produtores (com os
níveis atuais de produção e a “capacidade de reserva” indicados) e
sua participação no comércio mundial de petróleo fornecem a vi-
são mais completa da importância atual desses países. Os membros
da OPEP dominam o petróleo do mundo; sua produção é de cerca
de 30 MBD. Os países comunistas produziam 12 MBD e o resto do
mundo mais 16 MBD. As reservas de petróleo da OPEP (“estima-
das” e prováveis) também dominam: quase 480 bilhões de barris,
comparadas com 65 bilhões de barris dos países comunistas e 120
bilhões de barris do resto do mundo. Entre os países da OPEP, as
nações do Golfo Pérsico ocupam uma posição especial. São respon-
sáveis por 23 MBD (e têm capacidade para produzir 28 MBD); suas
reservas são atualmente da ordem de 365 bilhões de barris.
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Necessidades de Transportes e Refino do
Mundo Industrializado

Existem três requisitos básicos para o fornecimento de petróleo:

Produção, transporte e refinação. A produção atual de petróleo


destinado ao comércio mundial está, para todos os fins práticos,
sob o controle político dos países da OPEP. (O Canadá é no mo-
mento a única exceção, mas a política oficial do governo tem sido
no sentido de diminuir as exportações para atender ao consumo
interno.) O “controle” não é absoluto, naturalmente, mas o pa-
pel dos governos dos países produtores no controle dos níveis de
produção não tem precedentes na História.

O transporte de petróleo está atualmente sob o controle de países


que não fazem parte da OPEP. A imensa maioria dos petroleiros
pertencem ou estão alugados a uma companhia internacional de
petróleo. No caso de cortes do fornecimento, esses navios ainda es-
tão sob controle suficiente para atenderem às instruções das com-
panhias. Ou, se as companhias. Estiverem sofrendo uma pressão
muito grande do país produtor, às diretrizes das grandes potências
(exceto á ex União Soviética). Quanto à tonelagem, revelou-se
adequada nas três grandes crises de 1956, 1967 e 1973, mas foi
insuficiente em 1970. É mais que adequada em 1980, incluindo
navios de menor tamanho que são necessários para os portos nor-
te-americanos; os excedentes atuais de tonelagem são da ordem
de 40 por cento. A ex União Soviética parece possuir um núme-
ro suficiente de petroleiros para atender a suas necessidades e aos
compromissos externos. Os países da OPEP não detêm mais que 3
por cento da tonelagem de petroleiros no comércio mundial.

Os oleodutos são encontrados principalmente no interior dos Es-


tados Unidos, Canadá, Europa e União Soviética. São ingredien-
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tes essenciais para o fornecimento seguro e contínuo de petróleo
e gás natural. Nenhum deles, naturalmente, está sob o controle
de uns pais membro da OPEP. Apenas os oleodutos e gasodutos
que abastecem a Europa com petróleo e gás soviético devem ser
considerados atualmente como vulneráveis a uma interrupção
por motivos políticos ou de guerra econômica. Os oleodutos do
Irã e o sistema através do qual o Iraque e a Arábia Saudita forne-
cem petróleo aos países do Leste do Mediterrâneo estão sob o
controle exclusivo do pais importador (ou são compartilhados
em trânsito). Nenhum deles é essencial (por causa dos pequenos
volumes de petróleo e da existência de rotas e terminais alterna-
tivos) para o comércio internacional de petróleo. A instalação do
novo oleoduto da Arábia Saudita para o Mar Vermelho provavel-
mente não mudará a situação.

As vulnerabilidades do suprimento no atual sistema logístico estão


relacionadas: (I) à contribuição para a energia da Europa do pe-
tróleo e gás produzidos pela ex União Soviética ou que transitam
por esse pais; e (2) à composição quantitativa e qualitativa da frota
mundial de petroleiros. Com referência ao primeiro item, os for-
necimentos da ex U.R.S.S. não foram expressivos, por qualquer
critério, mas são obviamente um fator que deve ser observado no
futuro, especialmente com relação ao gás natural. No caso dos pe-
troleiros, a tendência para navios maiores e mais especializados po-
derá no futuro reduzir a flexibilidade do sistema logístico.

Quanto às refinarias, a capacidade de processamento dos princi-


pais países consumidores de energia é no momento mais que su-
ficiente. Todos possuem uma rede de refinarias capaz de atender
a suas necessidades energéticas (no caso dos Estados Unidos, as
importantes refinarias das Antilhas são consideradas “seguras”).
As intenções expressas dos países produtores de petróleo de pas-
sarem a refinar eles mesmos o produto até hoje não se concretiza-
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ram. As refinarias são controladas pelos países industrializados. No
fornecimento de petróleo refinado, apenas as refinarias das Antilhas
levantam questões de segurança de transporte; quase todo o pe-
tróleo do comércio mundial é transportado como petróleo bruto.
Além do mais, nenhum pai da OPEP representa individualmente
um segmento importante do consumo mundial de petróleo; mes-
mo tomados em conjunto, esses países não consomem uma quanti-
dade significativa: o consumo total dos países da OPEP é da ordem
de 2 MBD. Os grandes mercados do petróleo da OPEP estão con-
centrados nos países industrializados. Em resumo:

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A Indústria Internacional de Petróleo

O papel que o petróleo ocupa no panorama energético mundial


deve ser atribuído às companhias privadas de petróleo, especial-
mente às “grandes internacionais” cujos vastos capitais, capacida-
de empresarial, aplicação de capital e tecnologia à prospecção e
exploração de petróleo, sistemas logísticos, instalações de pro-
cessamento e sistemas de distribuição foram combinados em uma
operação integrada de enorme influência e eficiência.

Desde o início, o controle de petróleo internacional pelas companhias


inglesas e norte-americanas tem sido uma “constante”; em 1980, ain-
da é possível observar que não existem “competidores” próximos.

Alguma concorrência é oferecida pela ENI, a CFP e outras com-


panhias estatais de vários países. Além disso, muitas companhias
“independentes” entraram no comércio internacional de petróleo a
partir de 1950. Entretanto, as maiores mudanças na indústria inter-
nacional de petróleo foram causadas por atos diretos de governos.

Além das medidas tomadas pelos governos dos países produto-


res para garantir o comrole sobre a destinação do seu petróleo,
as medidas dos governos dos países consumidores para limitar
a liberdade das companhias internacionais de petróleo têm sido
importantes, duradouras e bem-sucedidas, obrigando essas com-
panhias a revelarem informações a respeito de preços, lucros e
planejamento. Assim, tanto os países produtores como os consu-
midores têm agido no sentido de diminuir a influência das gran-
des companhias internacionais de petróleo.

Por outro lado, certas funções exercidas pelas “grandes” conti-


nuam a ser insubstituíveis: o controle da circulação mundial do
petróleo cru e o acesso aos petroleiros, refinarias e mercados na
escala gigantesca necessários para atender ao comércio mundial.
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O papel dessas companhias como geradoras de capital diminuiu
consideravelmente, pelo menos nos países produtores. Mesmo
a pesquisa e a tecnologia já não são privilégio das “grandes”. En-
tretanto, a aplicação geral da tecnologia é um empreendimento
muito complexo e ainda é considerada como domínio exclusivo
das “Grandes”. Como também o é a aplicação dessa tecnologia
em ambientes muito hostis, como o Mar do Norte e o Alasca.

As grandes companhias internacionais perderam grande parte


do seu poder de decisão com relação ao volume de produção e
aos preços, e estão começando a perder também a capacidade
de fazer planos e assumir compromissos independentemente dos
governos dos países consumidores. As “grandes” são consideradas
sensíveis ou obedientes a políticas e diretrizes de seus próprios
governos; acredita-se, na realidade, que são e sempre têm sido
“instrumentos de política externa” (como foram falsamente des-
critas por Acheson).

Dependendo do ponto de vista, o fato de que as companhias nun-


ca atenderam totalmente aos interesses dos seus governos pode
ser considerado como uma afirmação de independência ou como
uma conseqüência do fato de que esses governos nunca definiram
claramente seus interesses energéticos e os parâmetros dentro
dos quais as companhias teriam que operar. De qualquer forma, o
papel das companhias ainda é indispensável a todos os interesses,
embora mais limitado que antes.

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A Política dos Países Carentes de Energia

Houve duas fases na história da política de petróleo desses países:

Primeiro veio o período imperialista, no qual os governos e as


companhias competiam pelas concessões de petróleo; o apoio
governamental a esses acordos sempre foi considerado como a
maior garantia de sua durabilidade.

Naturalmente, para as companhias internacionais de petróleo,


ontem e hoje dominadas pelos gigantes ingleses e norte-america-
nos, as prioridades estavam invertidas; seus interesses comerciais
eram o fator mais importante; para elas. As rivalidades entre os
países eram aspectos do eterno problema de acesso a volumes
cada vez maiores de petróleo-para serem usados quando neces-
sário. As companhias internacionais de petróleo não encorajaram
seus governos a desenvolverem politicas energéticas que pudes-
sem limitar a liberdade de ação considerada essencial para suas
operações em escala mundial. Apoio ou proteção dos governos?
Sim. Orientação ou controle? Não.

A segunda fase-que começou no período entre as duas guerras


mundiais - foi caracterizada pelo aparecimento de companhias
estatais de petróleo, cujos objetivos eram os seguintes: (I) per-
mitir a participação nacional no fornecimento de um produto
cuja importância estava se tornando vital; (2) desafiar o mono-
pólio inglês e norte-americano no comércio mundial de petró-
leo. No primeiro objetivo, a preocupação central era aumentar o
controle sobre as atividades dos principais fornecedores e avaliar
melhor as condições em que o petróleo estava sendo importado.
No segundo objetivo, os governos talvez mais por questões de
prestígio do que para obter vantagens comerciais - encorajaram
as atividades internacionais de companhias nacionais. Esses dois
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objetivos, muitas vezes interligados, têm aumentado de impor-
tância com o passar dos anos.

A criação das companhias estatais de petróleo dos países consu-


midores ocorreu quase simultaneamente com o aparecimento
das organizações dos países produtores, refletindo assim pelo
menos um interesse comum nas condições em que se desenvolve
o comércio mundial.

A participação dos governos dos países produtores e importa-


dores de petróleo relegou a segundo plano os fatores puramen-
te comerciais; o suprimento de petróleo se tornou um fator tão
importante para a segurança nacional que outros fatores além da
simples economia de mercado tiveram necessariamente de entrar
em cena. Em conseqüência, os governos hoje em dia podem estar
dispostos a usar de todos os meios a seu alcance para assegurar
um suprimento adequado e contínuo a um preço aceitável; do
ponto de vista de produtores e consumidores, outros interesses
estão atualmente envolvidos no acesso ao petróleo: assistência
militar - tecnólogia, investimentos, objetivos econômicos e po-
líticos, todos os quais complicam consideravelmente o contexto
no qual os recursos energéticos são discutidos.

No processo, as companhias estatais de petróleo dos países con-


sumidores começaram a adquirir a capacidade de agirem direta
ou indiretamente como instrumentos de políticas que refletem
uma faixa mais ampla de preocupações e que são menos egoís-
tas ao ajudarem a fixar os lermos comerciais em que o petróleo
é fornecido. Hoje em dia, esses termos são estabelecidos quase
sempre pelas companhias estatais dos países produtores, e essas
condições também podem refletir uma faixa muito grande de in-
teresses dos produtores, dos quais o “comércio”, embora impor-
tante, é apenas um dos aspectos.
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Dada a existência desses aspectos não comerciais do petróleo,
as complexidades envolvidas no processo de tentar assegurar o
suprimento se tornaram evidentes nas negociações que levaram â
criação da Agência Internacional de Energia para as nações consu-
midoras importadoras. O propósito ostensivo da AIE era chegar
a um acordo quanto à forma mais justa de dividir O petróleo
disponível em caso de outra emergência; já foram aprovadas algu-
mas medidas, como a de estabelecer um programa de estoques de
emergência que no futuro poderá atender a noventa dias de con-
sumo. Entretanto, desde a ocasião em que o governo norte-ame-
ricano começou a apoiar a criação da AIe, os países consumidores
ficaram com receio (e ainda estão) de que se ocorrer outro corte
ou embargo, os Estados Unidos serão provavelmente o alvo prin-
cipal, e portanto a participação de outros países em um acordo
desse tipo trará mais desvantagens do que vantagens.

Por trás da clara hesitação dos consumidores em se compromete-


rem de antemão a compartilhar o petróleo com outros, estava a
questão mais básica: A AIE não seria encarada como um “desafio”
pelos países produtores? Não estariam a Europa e o Japão arris-
cando muito mais que os Estados Unidos? Graças principalmen-
te à habilidade de Etienne Davignon, que convenceu o Mercado
Comum, a AIE foi criada e passou a constituir um dos alicerces
fundamentais da estratégia dos Estados Unidos para “lidar com a
OPEP”, isto é, uma frente unida de países consumidores.

Entretanto, nenhum membro da AIE deixa de reconhecer que


a diplomacia, a política, a energia e a economia estão indissolu-
velmente ligadas, e que a AIE pouco poderá fazer sozinha, a não
ser que muitas outras medidas sejam tomadas para persuadir os
países produtores a atenderem à demanda cada vez maior de pe-
tróleo dos países industrializados.

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As tentativas neste sentido começaram em dezembro de 1975 em
Paris. Com o lançamento da Conferência de Cooperação Econô-
mica Internacional, uma iniciativa da Arábia Saudita c da França,
começou o processo de discussão das questões interligadas de
energia, outros bens primários, desenvolvimento econômico e
questões financeiras. As teses da CCEI foram combatidas inicial-
mente, e, segundo alguns, permanentemente pelos Estados Uni-
dos, mas foram apoiadas por outros países, que as consideravam,
pelo menos, como uma forma de evitar o “confronto” e de chegar
possivelmente a um entendimento mais satisfatório, do qual o
acesso confiável ao suprimento energético fosse uma parte im-
portante. Trata-se de outro esforço para estabelecer uma relação
mais satisfatória para ambas as partes entre os fornecedores e os
consumidores de matérias-primas que o antigo sistema imperia-
lista. O sucesso da CCEI não esta. assegurado; grandes interesses
estão em jogo, e talvez não seja possível conciliar a todos.

Energia e a ex União Soviética

De todas as grandes potências industrializadas, a ex U.R.S.S. é a


única que no momento é auto-suficiente em matéria de energia.
(A produção soviética de petróleo e gás natural atende às necessi-
dades internas atuais. De acordo com os dados conhecidos, a pro-
dução interna de energia da ex U.R.S.S. atende a uma demanda
geral de 60 QBTU através de um suprimento constituído por 34
por cento de carvão, 23 por cento de gás natural e 36 por cento
de petróleo.

O principal problema energético que a ex U.R.S.S. está tendo que


enfrentar é a dificuldade de atender às necessidades energéticas dos
países da Europa Oriental, dos quais insiste em ser a principal for-
22
necedora. O consumo atual de petróleo da Europa Oriental é da
ordem de 1,8 MBD; a Rússia fornece 90 por cento das importa-
ções da região, principalmente a partir dos seus próprios recursos,
e o restante é obtido no norte da África e no Golfo Pérsico.

O aumento dos recursos energéticos soviéticos envolve custos


imensos. Dificuldades topográficas, logísticas e técnicas, e os lon-
gos sistemas de oleodutos necessários para explorar os campos
da Sibéria Oriental continuarão a ser obstáculos para o aumento
da produção. Até hoje, os esforços soviéticos para adquirir a atual
tecnologia (técnicas de perfuração em terra e no mar e processos
de recuperação) das companhias de petróleo do Ocidente e do
Japão, que é considerada essencial para o aumento dos recursos
energéticos da Rússia, têm sido mal sucedidos. Entretanto, os
russos insistem. As estimativas das necessidades de importação
dos russos na próxima década variam de pouco mais de I MBD
até 9 MBD. Simplesmente não sabemos ao certo e só podemos
afirmar que provavelmente a Rússia terá que importar petróleo
nesta década, até que seja capaz de explorar novos recursos em
seu território. A tecnologia ocidental ajudaria a ex U.R.S.S. a
manter sua autonomia energética. O relatório da Central Inteli-
gence Agency , que estimou as importações da ex União Soviéti-
ca em 1985 em 3,5 a 4,5 MBD (petróleo importado do Oriente
Médio) está consideravelmente acima do grau de dependência
previsto por outros estudiosos.

Uma questão a respeito da política soviética que há muito tempo


os governos produtores “radicais” do seu lado em um programa
de guerra econômica contra o Ocidente e o Japão. Tem havido
oportunidades para isso: a Crise de Suez de 1956, a Guerra de
Junho de 1967, e a Guerra de Outubro (e conseqüente embargo)
em 1973-1974. Além do mais, poderia parecer que nos três casos
havia sentimentos anti ocidentais mais que suficientes para asse-
gurar um aumento da influência soviética. Além disso, grandes
23
investimentos soviéticos em empréstimos, projetos de desenvol-
vimento, equipamentos e treinamento militar em vários países e
ocasiões desde a Segunda Guerra Mundial – no Iraque, Síria, Egi-
to e mais recentemente na Somália e Etiópia – devem ter pareci-
do ao Kremlin razão suficiente para acreditar que estava criando
uma presença permanente no Oriente Médio, que há muito vi-
nha buscando mas que parecia um objetivo inatingível. Entretan-
to, nenhuma dessas iniciativas surtiu resultados suficientemente
duradouros, até hoje, para colocar em risco o suprimento de pe-
tróleo. Até o momento, pelo menos, a campanha da Rússia contra
os “imperialistas do petróleo” tem sido um fracasso.

As razões para esse insucesso não são muito claras, mas três con-
siderações parecem válidas:

I. Os russos deixaram de identificar seus próprios objetivos e ide-


ologia aos dos regimes “radicais” do Oriente Médio e do norte da
África, a despeito de relações táticas ocasionais e relativamente
fugazes, que não foram suficientemente abrangentes para se tor-
narem “permanentes” ou “estratégicas”.

Por mais radicais que alguns países árabes possam parecer, pro-
vavelmente muito poucos estão dispostos a se submeterem a um
novo controle estrangeiro depois de se livrarem do controle do
Ocídente.

2. Os russos não conseguiram penetrar significamente no Kuwait,


Irã e Arábia Saudita, cujos interesses petrolíferos superam de lon-
ge o único país produtor de petróleo que a ex União Soviética
conseguiu controlar: o Iraque. Sem a forte influência desses ou-
tros produtores, O Iraque nunca foi suficiente.

Hoje cm dia, talvez a União Soviética não considere o Iraque


como “digno de confiança”. Além disso, o Kuwait, o Irã e a Arábia
24
Saudita têm sido forças conservadoras na região, menos inclina-
das a compartilhar seu futuro com o do mundo ex comunista.

3. Os russos não foram capazes de convencer os países produto-


res de que qualquer interrupção do fornecimento de petróleo ao
Ocidente, causada por medidas dos governos dos países produto-
res contra as companhias internacionais de petróleo, poderia ser
compensada pela substituição imediata dos técnicos das compa-
nhias por elementos locais, com a assistência da União Soviética.
Finalmente, nunca houve qualquer possibilidade de que as im-
portações de petróleo do Mundo Comunista atingissem um vo-
lume suficiente para proporcionarem ao Oriente Médio, mesmo
por um curto período de tempo, a mesma renda obtida através de
vendas para o Ocidente e o Japão.

Pode haver uma quarta explicação: a U.R.S.S. pode ter julgado


que seus esforços para prejudicar os acordos de petróleo com o
Ocidente poderiam resultar em uma reação dos Estados Unidos
que, em época de crise, talvez levasse à guerra. Até o momento,
nenhuma crisc, genuína ou provocada pelos russos, foi suficien-
temente séria para conduzir a este desfecho. Ou é possível que os
soviéticos possam ter sido mal sucedidos em sua busca de aliados
porque o Kremlin não pôde ou não quis oferecer uma assistência
no nível que os clientes em potencial consideravam desejável?

25
A Política dos Países Produtores

Quanto à evolução da política dos países produtores, a obser-


vação crítica é que cada país exportador de petróleo (inclusive
quase todos os pequenos produtores) passou por uma variedade
de experiências colonialistas sob o controle de um dos impérios
ocidentais; se o país não era uma colônia no sentido formal da
palavra, seus lideres e seu povo provavelmente se consideravam
como colônias. Como em muitos casos o início da exploração do
petróleo teve lugar durante uma experiência neocolonialista, a
nacionalização do controle da extração de petróleo foi encarada
por esses povos como o sinal do fim de uma era. Assim, pratica-
mente para todos eles, o “petróleo” tem um signhicado profundo
em sua emancipação política e econômica. A lista inclui o Mé-
xico, a Venezuela, a Argélia, a Líbia, o Irã, o Iraque, o Kuwait, a
Indonésia e a Malásia.

Ao libertar-se de uma relação “colonial” e assumir o controle so-


bre a exploração do petróleo, o México mostrou o caminho em
1938, desapropriando as companhias estrangeiras de petróleo.
Isso aconteceu há mais de sessenta anos, mas a situação perdura
até hoje: quem resolve o que vai fazer com o seu petróleo é o
México, e não os estrangeiros e os interesses estrangeiros.

No Irã-no governo de Mossadegh-a situação tornou-se particular-


mente explosiva. Se o pai assumisse o controle do petróleo, isto
teria um efeito incendiário sobre as concessões e o papel das gran-
des companhias em todo o Oriente Médio. Embora Mossadegh
tenha “fracassado”, graças principalmente ao embargo das com-
panhias petrolíferas inglesas e norte-americanas, o resultado pode
ser considerado, na verdade, como uma vitória para o Irã. No final,
o quase monopólio da Anglo-Iranian Oil Company foi substituído
por um consórcio, com participação significativa de companhias
26
norte-americanas, que passou a funcionar em condições bem di-
ferentes. Afinal, o Irã assumiu o controle sobre o petróleo como
uma parte essencial de sua independência econômica e política,
e o exemplo iraniano veio a servir de modelo para a política de
petróleo de outros países menos desenvolvidos (PMD).

A Indonésia também foi um país pioneiro. General Ibnu esta-


va convencido de que enquanto o sistema colonialista de con-
cessões prevalecesse ás corrosivas políticas internas de petróleo
não poderiam ser contidas. Ele insistiu em que era essencial uma
nova política de petróleo, e as companhias foram forçadas a ce-
der. Contratos de serviços e de risco se tornaram a regra geral e
removeram rapidamente o estigma político da exploração estran-
geira do petróleo da Indonésia.

No caso da Nigéria, a exploração das reservas de petróleo come-


çou depois da independência política, mas sua atitude hoje em
dia resulta da experiência como colônia e em um período caóti-
co depois da independência, que foi complicado ainda mais pelas
maquinações das grandes potências. Assim, a política de petróleo
da Nigéria se baseia na crença de que a independência econômica
é um requisito essencial para a independência política, a mesma
crença que motiva outros PMO.

O Canadá e a Austrália poderiam ser considerados exceções à


regra que liga o petróleo ao “colonialismo”, mas a realidade é
outra. Qualquer um que tenha acompanhado a evolução política
desses dois países não ignora a atitude dominante de que seus re-
cursos estão sendo explorados por estrangeiros; nos dois casos,
O governo acredita que a indústria energética está a serviço de
interesses externos. Assim, por exemplo, quase 90 por cento do
petróleo do Canadá é controlado por subsidiárias de companhias
de petróleo norte-americanas. A experiência da Austrália não é
27
muito diferente. Na questão do petróleo, esses países estão quase
na mesma situação que os exportadores da OPEP. Alguns consi-
deram a Arábia Saudita como a única verdadeira exceção à expe-
riência colonial de outros produtores. Originalmente, os sauditas
deram preferência aos interesses norte-americanos, principal-
mente porque os Estados Unidos eram “diferentes” e poderiam
contrabalançar o domínio inglês no Golfo Pérsico. Até hoje, as
relações entre a Arábia Saudita e os Estados Unidos têm perma-
necido relativamente livres do antagonismo que tem caracteriza-
do as relações entre outros produtores e aqueles que controlam
o seu petróleo. Mesmo assim, dada a enorme importância do pe-
tróleo saudita, é necessário considerar as perspectivas presentes
e futuras à luz de três observações: primeiro, é possível que, em
um momento crítico, alguns dos líderes sauditas procurem obter
vantagens políticas do fato incontestável de que as companhias
de petróleo norte-americanas desde o inicio monopolizaram a
exploração e distribuição dos imensos recursos sauditas; em se-
gundo lugar, a Arábia Saudita assumiu o controle político do seu
petróleo mais ou menos na mesma ocasião que os outros países da
OPEP, de modo que o fato de assumir o controle sobre o petróleo
une os sauditas aos outros produtores; em terceiro lugar, os sau-
ditas não podem se isolar dos seus vizinhos do Golfo Pérsico. Eles
não estão imunes às pressões e tendências políticas da região.

Em resumo, os sinais de alerta de que haveria mudanças políticas


no controle do petróleo vieram há algum tempo, e depois a situ-
ação evoluiu rapidamente. Não há indícios de que os atores prin-
cipais -os gigantes internacionais do petróleo -tenham previsto
as mudanças. Quando a crise chegou, a politização do petróleo
se disseminou com uma rapidez que impediu que as companhias
e seus governos se ajustassem a tempo, mesmo que estivessem
dispostos a fazê-lo (o que não estavam).
28
Parte do ressentimento ou desconfiança dos produtores pelas
companhias internacionais de petróleo advém da ligação óbvia
entre os interesses imperialistas britânicos e o controle por parte
dos ingleses de uma parte significativa de duas das onipresentes
“Sete Irmãs”. As outras cinco “Irmãs” têm sido controladas pelos
norte-americanos, e nesse caso o ressentimento ou apreensão tem
sido dirigido contra este símbolo de “capitalismo internacional”
do ponto de vista das lideranças socialistas dos PMD. Os maiores
produtores e exportadores de petróleo são também PMD.

Observações a Respeito da Energia

I. A dependência inevitável de praticamente todos os grandes paí-


ses carentes de energia em relação ao petróleo do Oriente Médio
é o fato fundamental. Tão grande é no momento a capacidade de
produção não-utilizada na região (cerca de 5 MBD) que, se todas
as outras fontes de petróleo do comércio mundial fossem extin-
tas, os grandes países industrializados poderiam satisfazer a todas
as suas necessidades de importação de energia recorrendo apenas
à capacidade de reserva do Oriente Médio.

2. Durante as últimas décadas, fora do Oriente Médio e do mundo


ex comunista, não foram descobertas grandes reservas de petró-
leo, a não ser na Líbia, Nigéria, Mar do Norte, Alasca e Méxíco.
Atualmente as descobertas do Pré sal implicam tecnologias de per-
furação dispendiosas e estão ainda numa fase de extração em nível
pouco alargado. Uma estimativa conservadora do tempo necessá-
rio para explorar “provar” desenvolver e produzir uma quantidade
significativa de petróleo para o comércio mundial é de cinco a dez
anos. É extremamente improvável que essas descobertas resultem
em uma produção capaz de superar o aumento da demanda mun-
dial de petróleo e inverter a tendência da relação reservas/produ-
ção, de modo a assegurar o suprimento até o final do século.
29
1.Não é provável, portanto, que a importância do petróleo do Orien-
te Médio diminua nesta década ou mesmo até o final do século.

2.A ex U.R.S.S. (e os países vizinhos) não é atualmente candida-


ta direta ao petróleo do Oriente Médio. A competição pelo pe-
tróleo do Oriente Médio é entre os aliados da OTAN e o Japão.

3.Atualmente, a OPEP é menos importante que a OPAEP. Mais


exatamente, a capacidade de produção ociosa da Arábia Saudita e
sua produção potencial são as mais importantes. A Arábia Saudita
produz atualmente cerca de 9,5 MBD; sua capacidade de pro-
dução atual é estimada em 11,5 MBD; e sua produção potencial
pode chegar a 20 MBD ou mais. Assim, qualquer decisão saudita
a respeito de volumes e preços é muito importante.

4.O problema principal da Organização dos Países Árabes Expor-


tadores de Petróleo (OPAEP) é a possível diversidade de interes-
ses dos países do Golfo Pérsico, especialmente o Iraque, o Irã, O
Kuwait, e a Arábia Saudita, e os problemas e oportunidades que
isto pode apresentar para as grandes potências industrializadas.

5. As relações “especiais” entre os Estados Unidos e a Arábia Sau-


dita são de longe as ligações mais importantes entre produtores
e os grandes importadores de petróleo. Entretanto, a Europa e
o Japão dependem muito mais do petróleo saudita e iraniano do
que os Estados Unidos, o que sugere que a ligação entre os Esta-
dos Unidos e esses países produtores pode ocasionar alguns pro-
blemas nas relações com a Europa e o Japão. Além do mais, dada
a hostilidade que existe entre o Irã e a Arábia Saudita, talvez os
Estados Unidos encontrem dificuldades em manter uma relação
“especial” com os dois países.

6. Os países-membros da OPEP -todos PMD -controlam a pro-


dução de “quase” todo o petróleo do comércio mundial.
30
7. Os países produtores controlam uma parcela significativa das
rotas marítimas, que começam em seus terminais e instalações de
carregamento e se estendem pelo Golfo Pérsico, Oceano Índico,
Mar Vermelho e Suez, o Canal de Moçambique, os Estreitos de
Málaca e Lombok. Todo esse trajeto está sujeito a interferências
ou interrupções por parte de produtores ou PMD, ou ambos.

10. O controle do resto do sistema logístico-petroleiros, oleodu-


tos e instalações de processamento (e da tecnologia energética)
ainda está nas mãos do mundo industrializado, assim como os
grandes mercados de petróleo. Apenas cerca de 3 por cento da
rota mundial de petroleiros de 320 milhões de toneladas está atu-
almente sob o com role dos países da OPEP. Apenas os oleodutos
que transportam o petróleo para os terminais de carregamento
dos petroleiros estão nas mãos desses países; nenhum dos que
atendem diretamente aos países consumidores é afetado. Os paí-
ses consumidores dispõem atualmente de uma grande capacidade
de refino e são auto-suficientes neste particular.

11. A Europa, o Japão e o Oriente Médio dispõem de portos para


superpetroleiros que são suficientes para suas necessidades atuais.
Os Estados Unidos ainda não podem valer-se plenamente da eco-
nomia proporcionada pelos “very large crude carriers” (VLCC).
Como não dispõem de portos com calado suficiente, os Estados
Unidos dependem de navios menores, que atualmente não são
fabricados no mesmo ritmo que os VLCC.

12. Os países-membros da Agência Internacional de Energia, atra-


vés de seu plano de compartilhar o suprimento disponível de pe-
tróleo em caso de interrupções do suprimento por qualquer razão,
podem ser capazes de suportar melhor os efeitos de interrupções
ou cortes do fornecimento do que no passado. Pelo menos, o me-
canismo de emergência parece adequado, introduzindo assim um
fator de incerteza nos planos dos produtores de petróleo.
31
13. As companhias internacionais de petróleo continuam a de-
sempenhar um papel essencial tanto para os países produtores
como para os consumidores, graças aos seus sistemas logísticos e
ao acesso a instalações de processamento, que lhes permitem ma-
nipular grandes volumes de petróleo. Pelo menos 80 por cento
do comércio mundial de petróleo (28 MBD) é de responsabilida-
de dessas companhias. Em vinte e quatro horas, essas companhias
transportam cerca de um bilhão de barris de petróleo de um local
para outro.

14. Justamente quando o petróleo assumiu uma importância vital


para os países industrializados, o “controle” do acesso a este re-
curso foi tomado pelos produtores das companhias de petróleo
dos países consumidores. Até o momento produtores e consu-
midores não chegaram a nenhum acordo global que garanta o
suprimento de petróleo; não se chegou nem mesmo a um pro-
cesso para elaborar o acordo. Os preços são determinados pelos
países produtores, e os governos dos países consumidores ainda
não descobriram meios de influenciá-los. “Os acordos com rela-
ção a preços e volumes ainda são “ fechados” entre companhias
e governos produtores, embora as condições sejam, em última
análise, impostas pelos últimos.

15. Nenhum país industrializado carente de petróleo dispõe de uma


política energética abrangente e detalhada. Os Estados Unidos não
constituem exceção. Mesmo que os países importadores de petró-
leo tivessem metas e compromissos bem definidos, não poderiam
de forma alguma alterar fundamentalmente os aspectos básicos da
geopolítica energética atual. Esforços muito grandes, durante vá-
rias décadas, parecem ser necessários para que escapem da situação
atual, na qual os países industrializados dependem do petróleo que
é controlado por um pequeno grupo de PMD.

32
A importância geopolítica do petróleo resulta de dois fatores
principais: (I) o petróleo, como combustível e matéria-prima, é o
sangue das economias industrializadas; (2) as reservas e a produ-
ção de petróleo tendem a se concentrar cm certos países menos
desenvolvidos. Com efeito, as reservas e produção de petróleo
são mais abundantes cm um pequeno número de países em de-
senvolvimento, enquanto que a necessidade de um suprimento
adequado e continuado de petróleo cm grandes volumes é mais
urgente nos países desenvolvidos, industrializados.

A Importância do Petróleo

O petróleo continuará a atender à maior parte das necessidades


globais de energia até ao final do século XX. Entretanto, existe
uma grande possibilidade de que a importância do petróleo tenha
sido subestimada nas previsões:

l. O petróleo é considerado o combustível “quebra-galho” com-


pensando todas as deficiências na produção de fontes de energia
alternativas; assim, se houver qualquer atraso no desenvolvimen-
to e produção de carvão, gás natural e energia nuclear, o petróleo
terá que compensar a diferença.

2. As previsões supõem que, no futuro, as taxas de crescimen-


to do PNB serão menores que as taxas históricas; se no futuro
as taxas de crescimento do PNB voltarem à tendência antiga ou
superarem os valores usados nas previsões, o petróleo terá que
atender a uma maior demanda de energia. Como as previsões
tendem a ser excessivamente influenciadas por eventos correntes
ou de curto prazo, existe a possibilidade de que as taxas de cres-
cimento supostas sejam, na realidade, pequenas demais.

33
3. Se a queda do consumo de petróleo foi mais uma conseqüência
da recessão do que um resultado da alta dos preços, a recupera-
ção econômica estimulará o consumo.

4. Se o preço de alternativas energéticas a curto prazo acompanhar


os preços mundiais do petróleo, os incentivos para a substituição
(que pode também envolver a compra de novos equipamentos e
Qutros investimentos iniciais) serão reduzidos, enquanto que os
incentivos para aumentar a produção interna de petróleo se tor-
narão maiores; em conseqüência, a substituição de petróleo por
outras fontes de energia poderá ser retardada.

5. A mentalidade de crise que apareceu como conseqüência do


embargo de 1973 já diminuiu, e parece haver um senso muito
menor de urgência com relação à necessidade de desenvolver al-
ternativas para o petróleo, pelo menos para o público em geral.

Além do mais, muitas das previsões dependem da capacidade dos


governos de elaborar, promulgar e implementar uma política
energética abrangente. Se os governos foram incapazes de fazê-
lo, como até agora, o desenvolvimento de formas alternativas de
energia poderá ser retardado. Como as previsões dependem da
implementação dos programas nacionais de conservação, podem
superestimar o grau de decisão política existente nos países in-
dustrializados. Em geral, o desempenho econômico sofrível dos
países industrializados tem levado os governos a manterem os
preços internos do petróleo abaixo dos preços internacionais,
diminuindo assim os efeitos de conservação e incentivo da alta
dos preços. Além disso, em alguns países a incerteza a respeito
dos papéis do governo e do setor privado inibe as atividades de
ambos no setor energético. Em todos esses casos, o resultado é o
aumento continuado da demanda do petróleo e um desenvolvi-
mento mais lento de alternativas energéticas.
34
Os prazos de maturação associados ao desenvolvimemo de fontes
alternativas ou suplementares de energia são bastante longos. Os
seguintes prazos de maturação estimados (anos entre a decisão e o
início das operações) -provavelmente otimistas -são ilustrativos:

• Desenvolvimento de campo provado, mas sem produzir, no


Oriente Médio 1-2 anos

• Aumento da produção de campo de petróleo, nos Estados Uni-


dos 1-3 anos

• Extração de petróleo da plataforma continental, nos Estados


Unidos 9-14 anos

• Mina de carvão a céu aberto 2-4 anos

• Mina de carvão subterrânea 3-6 anos

• Usina elétrica a óleo, geotérmica ou usando combustíveis sin-


téticos 5 anos

• Usina elétrica a carvão 5-8 anos

• Usina hidrelétrica 5-8 anos

• Produção de petróleo e gás natural em novos campos, nos Esta-


dos Unidos 3-12 anos

• Prospecção e mineração de urânio 8-10 anos

• Gaseificação de carvão 10-15 anos

• Areias petrolíferas e xisto 5-10 anos

35
O efeito desses longos prazos de maturação se torna mais cla-
ro quando somamos a esses números os atrasos na tomada de
decisões, resultantes de políticas governamentais ambíguas, e o
fato de que o inicio das operações não corresponde ao ponto de
máxima contribuição.

Todas as indicações disponíveis sugerem que apenas depois de de-


pois do final do século XX e as fontes alternativas de energia - óleo
de xisto, óleo de areias petrolíferas, energias marítimas, aeólicas,
biomassa, hidrogênio e solar – foto voltaica -começarão a contri-
buir significativamente para o suprimento total de energia.

O tempo, nesse caso, se torna de importância vital. É bem possí-


vel que as fontes alternativas de energia não sejam desenvolvidas
com rapidez suficiente ou em escala suficiente para evitar cri-
ses esporádicas de energia e a ocorrência de uma escassez global
de petróleo. Será difícil coordenar os muitos aspectos da relação
oferta-demanda de petróleo, e crises esporádicas podem ser pre-
vistas, começando nos primeiros anos desta década.

A posição dominante do petróleo no supri-


mento total de energia

Está assegurada que até 2010/2020 que o petróleo seja destronado.


Se não forem adotadas medidas imediatas quanto á inovação e im-
plementação de energias alternativas, a situação no resto do século
poderá ser basicamente a mesma: o petróleo ocupará uma posição
dominante no suprimento de energia. Dar-se-á o Pico do Petróleo.

Além disso, mesmo que a participação do petróleo no suprimen-


to total de energia possa ser reduzida até o final do século, a de-
manda continuará a aumentar em termos absolutos.
36
A importância das importações de Petróleo

Os países industrializados continuarão a depender do petróleo


como principal fonte de energia, e isto por sua vez significam que
os países industrializados, como um todo, continuarão a depen-
der das importações de petróleo. Entretanto, existem diferenças
entre os países do Mundo não desenvolvidos e pobres mas ricos
em recursos naturais, quanto a: (I) a importância do petróleo
para a economia; (2) o grau de dependência de importações; (3)
as possibilidades de conservação de energia em geral e conserva-
ção de petróleo em particular; (4) a possibilidade de aumentar a
produção interna de petróleo; (5) a vulnerabilidade à escassez de
petróleo; (6) a possibilidade de usar outros recursos naturais para
substituir o petróleo.

Para o Japão, o petróleo constitui a maior parte (70-75 por cento


do consumo de energia primária. Além disso, praticamente 100
por cento do suprimento de petróleo do Japão ainda será impor-
tado. As perspectivas a longo prazo não são favoráveis, e é pouco
provável que sejam descobertas reservas significativas de petróleo.
A curto prazo, o Japão pode apenas procurar diversificar suas fon-
tes de importação, para reduzir sua dependência em relação aos
fornecimentos do Oriente Médio (75 por cento das importações
de petróleo cru do Japão ), enquanto que a criação de uma reserva
estratégica de petróleo cru poderia reduzir a vulnerabilidade do
Japão a interrupções do suprimento. A prazo mais longo, apenas o
desenvolvimento de fomes de energia alternativas particularmen-
te a energia nuclear - reduzirá a dependência japonesa em relação
ao petróleo, e portanto em relação às importações. A dependência
energética, entretanto, continuará a ser um fato da vida e da mais
grave conseqüência estratégica para o Japão, já que o país não dis-
põe de reservas significativas de nenhum recurso energético -nem
carvão, nem urânio, nem petróleo, nem gás natural.
37
A Europa também continuará a depender de importações de pe-
tróleo. O petróleo será responsável por 50 por cento do consu-
mo de energia. A produção de petróleo e gás no Mar do Norte
poderá aliviar um pouco a situação, particularmente para a Ingla-
terra, mas uma dependência em relação às importações de petró-
leo da ordem de 70 a 85 por cento é prevista para a Comunidade
Européia. O petróleo será responsável por quase 40 por cento
do consumo de energia dos Estados Unidos, o pais ainda terá
que importar 50 por cento do seu suprimento de petróleo. Talvez
esta situação perdure até ao final da 1º década de 2000. A meta
dos Estados Unidos de reduzir as importações de petróleo para
menos de 6 MBD em 1985 parece difícil de ser atingida. E difícil
acreditar que em menos de cinco anos o maior consumidor de
energia do mundo consiga este feito. (Por outro lado, o petró-
leo representa uma menor porcentagem do consumo total de
energia do que na Europa e no Japão. Além disso, a porcentagem
de petróleo importado é menor. Finalmente, os Estados Unidos
dispõem de mais recursos energéticos alternativos que as outras
duas regiões.)

A produtividade dos campos de petróleo Russo está diminuindo,


e as reservas mais promissoras estão em ambientes hostis, lon-
ge dos mercados da Rússia Européia e da Europa Oriental. Os
russos poderão desenvolver os campos da Sibéria Oriental com
seus próprios recursos, mas o processo será longo e penoso. Não
podemos excluir a hipótese de uma ajuda ocidental no futuro,
mas quanto mais essa ajuda demorar, menos será necessária. A
contribuição do petróleo da Sibéria Oriental só começará a se
fazer sentir a partir de 2000 seja uma data mais realista. Nessa
ocasião, o petróleo da Sibéria servirá apenas para compensar o
esgotamento dos campos mais antigos.

38
O programa de conversão da economia interna para o petróleo
provavelmente sofrerá certo atraso. Por outro lado, os russos po-
dem preferir importar petróleo do Oriente Médio. Na Europa
Oriental, os russos deverão encorajar países a também importar
mais do Oriente Médio. Os soviéticos se comprometeram a for-
necer 67 por cento do petróleo consumido pela Europa Oriental,
uma redução substancial mas em quantidades suficientes para
manter a influência e o controle soviéticos. Os russos vão tentar
manter as exportações para a Europa Ocidental, talvez mesmo à
custa da redução dos fornecimentos para a Europa Oriental.

Ao mesmo tempo, com o rápido aumento do consumo na Rússia


e na Europa Oriental e com o aumento dos preços do petróleo, as
exportações soviéticas para o Ocidente provavelmente se estabi-
lizarão em um certo volume abaixo do que lhes daria uma influ-
ência econômica e política significativa sobre os países da Europa
Ocidental. As exportações de petróleo para o Japão poderão au-
mentar um pouco, enquanto que exportações para a Europa Oci-
dental, da ordem de pouco menos de I MBD, parecem prováveis,
Para praticarem uma chantagem econômica, os russos teriam que
contar com a conivência de pelo menos alguns dos produtores
do Oriente Médio. Nem a Europa Ocidental nem o Japão estão
dispostos a trocar sua dependência atual do petróleo do Oriente
Médio por dependência futura do petróleo russo.

Também não é provável que o petróleo russo venha a ser encarado


como uma competição por parte dos países do Oriente Médio.
Em outras palavras, não deverão surgir tensões entre os PMD ex-
portadores de petróleo e a ex U.R.S.S. por causa dos mercados
ocidentais, já que as exportações russas tenderão a se estabilizar c
a situação de oferta-demanda no pais ficará mais equilibrada.

39
A ex União Soviética dispõe de vastas reservas “desconhecidas”
de petróleo. Assim, a partir 2000 talvez os russos recuperem sua
posição de auto - suficiência energética.

É preciso notar que a escassez de petróleo na ex União Soviética


não será causada pela exaustão das reservas, e sim pelas dificulda-
des de explorar a tempo as reservas ainda não utilizadas.

Em conclusão, o desenvolvimento de alternativas internas, a subs-


tituição, a conservação e a redução da demanda de petróleo não
eliminarão a dependência energética dos países industrializados,
particularmente Europa e Japão. Talvez a contribuição relativa
das diversas formas de energia mude um pouco, mas é evidente
que a dependência de fontes de energia importadas, inclusive o
petróleo, será uma realidade para os países industrializados.

Reservas de Petróleo

Concentração das Reservas

Em 1980, O Oriente Médio e a África foram responsáveis por


65 por cento das reservas provadas mundiais de petróleo bruto
(78 por cento das reservas provadas do Mundo ); entretanto, o
consumo do Oriente Médio e da África representou apenas 5
por cento do consumo mundial. As reservas da OPEP constituí-
am 66 por cento das reservas provadas mundiais (80 por cento),
enquanto que as da OPAEP correspondiam a 50 por cento. Ao
mesmo tempo, a América do Norte e a Europa Ocidental de-
tinham apenas 15 por cento das reservas mundiais (o Japão não
tinha reservas), mas as três regiões eram responsáveis por 65 por
cento do consumo mundial.

40
É extremamente improvável que este padrão venha a sofrer qual-
quer mudança significativa. Pelo contrário, a tendência é no sen-
tido de que as reservas se concentrem em um número de países
cada vez menor - isto é, os países do Golfo Pérsico à medida que
o consumo dos países industrializados for aumentando em rela-
ção a suas reservas. Não é provável que o aumento das reservas
de petróleo dos países industrializados seja maior que o aumento
do consumo.

A prospecção intensiva, o uso de novas técnicas de recuperação,


a adoção de medidas de conservação e a redução do consumo de
petróleo não evitarão um declínio da relação reservas/produção.
Além do mais, dados os longos prazos de maturação entre desco-
berta, desenvolvimento e produção plena, um aumento imediato
das reservas só começaria a contribuir para o suprimento do pe-
tróleo a partir de meados da próxima década.

Categorias de Reservas

Com o aumento dos preços do petróleo, tornou-se um hábito ir além


da espera das reservas provadas é falar de outras categorias de reser-
vas que, com os preços mais altos, podem tornar-se econômico.

As reservas provadas, de acordo com o American Petroleum Ins-


titute, são as “qual1lidades de petróleo cru no solo que dados ge-
ológicos e de engenharia demonstram com razoável certeza que
são recuperáveis de reservatórios conhecidos, de acordo com as
condições técnicas e econômicas de operação vigente”. Nas esta-
tísticas, geralmente são citadas as reservas provadas.

Tipicamente, a taxa de recuperação de um campo em exploração


é baixa-da ordem de 30-40 por cento na média (o mínimo é de
41
cerca de 20 por cento) -e o resto do petróleo só pode ser extraído
com o auxílio de técnicas de recuperação. Além disso, quando um
campo é desenvolvido, as estimativas das reservas muitas vezes são
corrigidas à medida que as características do campo passam a ser
conhecidas com maior precisão. “O petróleo adicional que pode ser
recuperado de um campo existente sob a forma de uma reavaliação
das reservas ou através de recuperação secundária ou terciária é
chamado de reservas prováveis”. Somando as reservas “provadas” às
reservas “prováveis”, obtemos as reservas totais descobertas.

É também possível estimar as reservas não-descobertas a partir


de indícios geológicos ou outras técnicas sofisticadas. As reser-
vas não descobertas são chamadas de “reservas possíveis”, e sua
existência e tamanho estão sujeitos a grandes incertezas. “Com-
binando as reservas descobertas e não-descobertas e supondo um
fator de recuperação de 40 por cento, obtemos um número que
é chamado de reservas ‘‘recuperáveis”.

As reservas totais de petróleo constituem uma medida de quantida-


de de petróleo que se acredita existir na Terra, deixando de lado a
questão da viabilidade técnica e econômica da recuperação.

Muitos argumentam que com o aumento dos preços as reservas


prováveis se tornarão econômicas e a prospecção de novos campos
será estimulada. Se o clima de investimento for favorável, talvez
isto venha a ocorrer. Mas isto não diz nada a respeito das limitações
impostas pela falta de conhecimentos geológicos e de engenharia, a
necessidade de grandes investimentos de capital, a disponibilidade
dos equipamentos necessários e considerações ambientais. Além
disso, o preço terá que ser suficientemente alto e aparecer no mer-
cado (isto é, estar livre de controles governamentais de preços).
Finalmente, e o que é mais importante, o petróleo terá que existir
realmente para ser descoberto e explorado.
42
Serão tomadas medidas para desenvolver as reservas prováveis
e acelerar a prospecção; mas o progresso poderá não ser suave,
rápido ou pouco oneroso.

Reservas Recuperáveis

Acredita-se que as reservas recuperáveis mundiais são da ordem


de 1,6 trilhões de barris; desse total, 37 por cento ou 608 bilhões
de barris já foram descobertos. A conversão de reservas prováveis
em (reservas provadas não altera a concentração de reservas de
petróleo que mencionamos há pouco. Dos 608 bilhões de barris
de reservas descobertas (provadas mais prováveis), 360 bilhões
estão localizados no Oriente Médio.

As reservas recuperáveis totais (provadas mais prováveis mas não


descobertas) do Oriente Médio são estimadas em mais de 510
bilhões de barris. Desse total, 360 bilhões já foram descober-
tos, mas apenas uma pequena parte foi explorada, de modo que
ainda restam imensas reservas para exploração futura. Acredita-
se que as maiores reservas não-descobertas estejam na ex União
Soviética e na China. Estima-se que dos 380 bilhões de barris de
reservas recuperáveis na ex U.R.S.S., apenas 80 bilhões foram
descobertos. Assim, cerca de 300 bilhões de barris, a maior parte
na Sibéria Oriental, ainda serão descobertos.

Grandes aumentos das reservas dos Estados Unidos, Europa Ocidental


e Japão não são previstos. Já observamos que de qualquer forma um
aumento “grande” não seria suficiente; apenas uma descoberta real-
mente gigantesca poderia ameaçar a posição dos produtores do Orien-
te Médio. O aumento das reservas do petróleo decorrerá da ampliação
de campos existentes e da extração de petróleo das plataformas sub-
marinas, ou pelo menos esta é a opinião da maioria dos observadores.
43
Produção de Petróleo

As reservas estabelecem um limite máximo para o que pode ser


feito; entretanto, não dizem muita coisa a respeito do que realmen-
te será feito. E evidente que níveis diferentes de reservas sustentam
níveis diferentes de produção, dependendo da demanda, preço,
disponibilidade de apoio logístico para exportações, características
geológicas das áreas produtoras, capacidade tecnológica, conside-
rações de conservação e os objetivos políticos e econômicos do
governo produtor. Assim, por exemplo, os Estados Unidos, com
cerca de 27 bilhões de barris de reservas provadas e prováveis, pro-
duziu 3,1 bilhões de barris em 1979, enquanto o Iraque, com 31
bilhões de reservas provadas e prováveis, produziu apenas 1,2 bi-
lhão de barris em 1979. O ponto essencial aqui é que a intensidade
com que uma dada quantidade de reservas será explorada depende-
rá de muitos fatores, alguns econômicos e algumas políticas.

Existe, entretanto, uma correlação positiva entre reservas e pro-


dução. Assim, não é de surpreender que encontremos a produ-
ção concentrada em regiões fora dos países industrializados A
partir de 1985, a produção ficou estabilizada, talvez até 2010,
quando começará a diminuir -a menos que as reservas do Mar
do Norte correspondam á expectativas dos mais otimistas. De
qualquer forma, assim como o aumento das reservas será menor
que a produção (provocando assim uma diminuição das reservas),
a produção será menor que o consumo, c o aumento da produção
não evitará a necessidade de grandes importações de petróleo.

Com os países industrializados produzindo o máximo possível de


petróleo, a produção desses países passará por um pico e começa-
rá a decair pouco depois de 2010. A produção japonesa continuará
a ser insignificante até o final do século, a menos que sejam des-
cobertas reservas na plataforma continental. A taxa de aumento
44
da produção soviética deverá ser pequena até que os campos da
Sibéria Oriental entrem em produção, o que não deverá ocorrer
antes de 2000. Nessa ocasião, a produção da Sibéria não deverá
contribuir muito para o aumento global, servindo apenas para
compensar a queda da produção dos campos mais antigos.

Secundária e Terciária

Hoje em dia muitos depositam grande confiança no uso de técni-


cas especiais para aumentar a produtividade dos campos petrolí-
feros. Nos campos dos Estados Unidos, a quantidade de petróleo
que é extrai da de um campo sem o auxilio de técnicas especiais é
da ordem de 30 a 40 por cento. Os norte-americanos têm maior
experiência do uso das técnicas de recuperação do que todos os
outros países. Assim, a discussão do uso dessas técnicas se aplica
basicamente aos Estados Unidos, embora o Irã e a Arábia Saudita
também estejam fazendo experiências neste sentido.

De acordo com a estimativa de uma grande companhia de petróleo-


que não difere significativamente de outras estimativas-as reservas
recuperáveis de petróleo dos Estados Unidos são da ordem de 252
bilhões de barris, sendo que a produção total até 2000 foi de 106
bilhões de barris. O resto, 146 bilhões de barris, está “disponível”,
supondo que a produção, as técnicas de recuperação e a economia
justifiquem o esforço. Calcula-se que o uso de técnicas de recupe-
ração eficientes poderia aumentar a porcentagem de petróleo re-
cuperado de 20 por cento para 37-47 por cento. No caso de novas
descobertas, a taxa de recuperação poderá ser da ordem de 32 por
cento, a porcentagem mais baixa refletindo o fato de que os campos
futuros ficarão provavelmente na plataforma continental ou, se em
terra, em reservatórios menores, mais profundos e de pior qualida-
de -campos mais difíceis de atingir e de exploração mais cara.
45
Assim, o uso de técnicas especiais de recuperação é extrema-
mente importante. Entretanto, o que muitos esquecem é que
as técnicas de recuperação secundária -uso de água, vapor, gás e
produtos químicos, bombeados em um reservatório para facilitar
a extração do petróleo têm sido aplicadas com sucesso em um
número relativamente pequeno de campos e apenas quando as
características do campo são muito bem conhecidas e as técnicas
são usadas corretam ente; é preciso usar uma combinação de ha-
bilidade com um sistema complexo e sofisticado de exploração.
Não se trata de um processo simples, aplicável a todos ou mesmo
à maioria dos campos.

As famosas técnicas de recuperação terciária, que utilizam uma


tecnologia mais avançada para aumentar ainda mais o rendimento
dos campos, ainda não foram usadas fora dos laboratórios; tal-
vez só possam ser aplicadas daqui a dez anos. E difícil calcular a
quantidade adicionai de petróleo que essas técnicas permitirão
recuperar.

Relação Reservas-Produção

A relação reservas/produção é um indicador da longevidade das


reservas de petróleo aos níveis de produção correntes. Na prática,
os níveis de produção não se mantêm constantes e as estimativas
das reservas são corrigidas à medida que a própria exploração reve-
la novas informações a respeito das características do campo. Além
disso, a utilidade do indicador é suspeita, já que, até hoje, nenhum
país foi capaz de definir uma relação reservas/produção ideal. Na
verdade, a pergunta: “por quantos anos um campo deve ser explo-
rado, e com que nível de produção?” ainda não foi respondida.

46
O relatório do Congressional Research Service “Toward Pro-
ject Interdependence: Energy in the Coming Decade” contém
um cálculo interessante. Se a produção de petróleo aumentar
à razão de 4 por cento ao ano e se a demanda de petróleo au-
mentar à razão de 4 por cento ao ano, 844 bilhões de barris de
reservas recuperáveis serão necessários para manter uma rela-
ção reservas/produção de trinta e cinco anos. Subtraindo a pro-
dução acumulada das reservas recuperáveis atuais, chegamos à
conclusão de que para isso será preciso descobrir novas reservas
que totalizem 490 bilhões de barris. Para fazermos uma compa-
ração, a produção mundial de petróleo entre 1918 e 1973 foi de
pouco menos de 300 bilhões de barris, e as novas reservas vêm
sendo descobertas à razão de apenas 15-20 bilhões de barris por
ano desde a década de 1940, um número que inclui os fabulosos
campos do Oriente Médio e da ex U.R.S.S.

Se, como previsto, a taxa futura de aumento das reservas for de


apenas 15-20 bilhões de barris por ano, a produção anual será
cada vez maior que as descobertas do mesmo período, de modo
que as reservas tenderão a diminuir. Se excluirmos, por motivos
de segurança, as reservas descobertas no Oriente Médio e no ex
Bloco Soviético, a incapacidade do mundo de obter reservas su-
ficientes se tornará evidente: no período 1950-1973, apenas 105
bilhões de barris de reservas provadas foram encontrados fora da
ex U.R.S.S. e do Oriente Médio, o que corres.?

Por outro lado, as estimativas de reservas não-descobertas su-


gerem que é tecnicamente viável que reservas maiores que os
últimos cinqüenta e cinco anos de produção sejam acrescentadas
às reservas recuperáveis. Entretanto, o progresso provavelmente
será lento: a prospeção dessas reservas será muito dispendiosa, e
47
elas estarão localizadas em ambientes hostis. De qualquer forma,
apenas uma parcela dessas reservas adicionais estará localizada
nos países industrializados. Além disso, os longos prazos de ma-
turação tornam improvável que essas reservas sejam descobertas
e exploradas a tempo de atenderem aos aumentos da demanda.
Lembrando a finalidade da relação reservas/produção, a conclu-
são é a de que haverá uma escassez de petróleo no período entre
2010 e o final do século.

Muitos países nunca chegarão a uma relação reservas/produção


de trinta e cinco anos e não conseguirão nem mesmo manter a
relação atual. As reservas dos Estados Unidos representam talvez
dez anos de produção aos níveis atuais. É provável que esta rela-
ção diminua ainda mais, com a entrada em produção dos campos
do Alasca. Na Europa, a relação reservas/produção pode levar
a conclusões errôneas: as reservas do Mar do Norte estão in-
cluídas, mas a produção do Mar do Norte ainda é relativamente
pequena. Na Rússia, tanto a produção como as reservas tendem a
aumentar, mas a relação reservas/produção, que é atualmente de
vinte anos, deverá diminuir.

Não vale a pena continuarmos a analisar a relação reservas/produ-


ção. O que é importante é que o aumento das reservas provavel-
mente será pequeno demais e lento demais para manter as relações
reservas/produção correntes. Além disso, a deterioração ocorrerá
mais rapidamente nos países industrializados. A partir de 2010, a
capacidade ociosa do Oriente Médio também começará a cair.

48
Consumo e Demanda de Petróleo

As vantagens do petróleo como combustível incluem: (I) disponi-


bilidade em quantidade suficiente e, até recentemente, por baixo
preço; (2) facilidade de transporte; (3) versatilidade e facilidade
de substituir outras fontes de energia. O consumo mundial de
petróleo quintuplicou nos últimos vinte e cinco anos. O consumo
dos Estados Unidos quase triplicou, passando de 6 MBD para 17
MBD no mesmo período, enquanto que o consumo de petróleo
nos países do Este Europeu aumentou por um fator de dez.

Os fatores que determinam os níveis de produção incluem:

I. População. Já que países com populações maiores necessitam de


rendas maiores para assegurar um mínimo de investimentos eco-
nômicos e sociais, e assim manter a estabilidade política e encorajar
o desenvolvimento econômico e o crescimento econômico auto-
sustentado, os países altamente populosos precisam maximizar a
renda proveniente do petróleo. Embora o tamanho da população
tenha sem dúvida alguma influência sobre a necessidade de renda
do petróleo, as metas do governo estão ligadas mais diretamente ás
necessidades de renda do que a uma simples estatística de popula-
ção. Quanto mais ambiciosas as metas do governo com relação ao
futuro do país, maiores as necessidades de renda.

2. Estrutura da Economia. Se as metas do governo puderem ser


atendidas por rendas de várias fontes, a necessidade de rendas de
petróleo não será tão premente. Embora não seja provável que
nenhum país produtor concorde em vender petróleo por um pre-
ço menor que o que considera como justo, a existência de outras
fontes de renda pode permitir que um país limite a produção, de
modo a prolongar a vida das reservas. A produção de petróleo
como porcentagem do Produto Nacional Bruto, a renda do pe-
49
tróleo como porcentagem da receita do governo e as exportações
de petróleo como porcentagem das exportações totais são indica-
dores da importância do petróleo em uma dada economia.

3. Planos de Desenvolvimento. Os planos de desenvolvimento


do governo, embora em muítos países da OPEP os orçamentos
raramente sejam cumpridos, constituem uma indicação dos ru-
mos que os líderes da nação gostariam de tomar e dos preços que
estão dispostos a pagar. Os planos de desenvolvimento permitem
inferir a necessidade de importações e portanto a renda neces-
sária para pagar essas importações. Indicam ainda as possibilida-
des e limitações de outras fontes de renda. Assim, os planos de
desenvolvimento podem ser importantes indicadores das futuras
necessidades de renda de um país.

4. Reservas de Petróleo. Os governos com menores reservas po-


dem ser mais cautelosos com os níveis de produção permitidos.
Para prolongar a vida das reservas, níveis de produção conserva-
dores podem ser adotados. Por outro lado, os países que dispõem
de reservas maiores podem-Produzir mais sem comprometer a
produção futura. Um país com pequenas reservas, mas com boas
possibilidades de desenvolver fontes alternativas pode preferir
uma grande produção, mesmo com o risco de esgotar as reservas,
para financiar os selares econômicos mais promissores.

5. Preços. O preço também é um fator muito importante, Quando


os preços estão elevados, os países com pequenas reservas de pe-
tróleo podem obter uma renda aceitável com um nível de produ-
ção relativamente baixo, liberando assim o governo do dilema de
escolher entre a conservação e a necessidade de receita. A estrutura
do mercado de petróleo também é importante. Em um mercado
com pequena capacidade ociosa e em uma situação de grande de-
manda, torna-se necessário limitar deliberadamente a produção.
50
6. Política Regional. A decisão da Arábia Saudita, em dezembro
de 1976, de romper com quase todos os outros membros da
OPEP e aumentar o preço do petróleo em apenas 5 por cento
em 1977, em lugar do aumento de 10 por cento proposto pela
OPEP, com um aumento de mais 5 por cento em julho de 1977,
foi seguida por um aumento da produção da Arábia Saudita. Este
é apenas um exemplo em que a política regional influenciou os
níveis de produção. A decisão da Arábia Saudita de aumentar a
produção para baixar os preços pode ter sido motivada, em parte,
pelo receio de que o Irã aumentasse suas rendas de petróleo e
conseqüentemente suas aquisições de equipamentos militares; o
objetivo também pode ter sido mostrar ao mundo que as deci-
sões quanto ao comércio mundial do petróleo estavam nas mãos
dos sauditas, e não do Irã. Além disso, os sauditas deixaram
bem claro que sua decisão estava condicionada ao “progresso” nas
negociações de paz no Oriente Médio (Israel) e ao progresso no
diálogo Norte-Sul em Paris. Assim, os níveis futuros de produção
de petróleo podem ser influenciados por fatores políticos.

Nenhum desses fatores é determinístico, isto é, embora possa


parecer lógico para um observador de fora que um fator isolado
deva enunciar a produção de certa forma, é possível que, visto de
um ponto de vista diferente, o mesmo fator implique outra linha
de ação. Além do mais, os fatores podem ter influências opostas.
Na verdade, os fatores sugeridos não apontam necessariamente
uma direção única. Além disso, os fatores não são independentes,
de modo que os níveis reais de produção serão determinados por
uma combinação complexa de todos esses fatores e outros.

É precisamente uma mistura complexa de fatores econômicos e


objetivos políticas que determina a hoje famosa capacidade de
absorção, que, por sua vez, deverá determinar os níveis de pro-
dução. Uma definição de capacidade de absorção não pode ser
51
separada dos objetivos dos estadistas-das opiniões dos lideres a
respeito da estrutura econômica e política e do papel do seu país,
tanto no plano interno como no plano externo, incluindo a impor-
tância atribuída a gastos militares. Nunca será correto afirmar que
uma nação não pode fazer uso dos fundos gerados pela produção do
petróleo para fomentar o desenvolvimento interno, porque o uso
dos fundos está ligado a certos horizontes e imagens nas mentes
dos estadistas. O próprio aumento da receita contribui para alargar
esses horizontes. O aumento de influência internacional é acompa-
nhado por metas externas mais ambiciosas, maiores oportunidades
de aventura e maiores responsabilidades internacionais.

Refinação

A maior parte do comércio internacional de petróleo é feita sob


a forma de petróleo bruto. As exportações e importações de pro-
dutos do petróleo são muito menos importantes, confirmando
o fato de que a maioria das nações optou pela auto-suficiência no
setor de refinação. Os produtos refinados representam apenas 15
por cento do comércio mundial de petróleo. Esses produtos fo-
ram responsáveis por 20 por cento das importações de petróleo
dos Estados Unidos e as Antilhas foram o principal fornecedor.
Os Estados Unidos, por sua vez, foram responsáveis por mais de
40 por cento do comércio mundial de produtos do petróleo. Ou-
tros países industrializados dependem ainda menos de importa-
ções de produtos refinados.

As refinarias geralmente são instaladas nas proximidades dos


mercados consumidores, evitando assim a necessidade de usar
navios especializados. Com O aumento da capacidade de refi-
no, os governos dos países consumidores puderam fazer uso do
valor acrescentado, e alguns países chegam a pagar o petróleo
bruto que importam com o lucro.
52
A Demanda de Produtos Refinados

A demanda de produtos refinados está concentrada nos países


industrializados. A América do Norte, a Europa Ocidental e o
Japão foram responsáveis por 80 por cento da demanda de pro-
dutos refinados do petróleo em (um total de 36.025 mil bar-
ris por dia para,as três regiões). No mesmo ano, a América do
Sul, o Oriente Médio, a Africa, o Extremo Oriente e a Oceania
contribuíram com apenas 20 por cento. As questões relativas aos
produtos refinados têm muito menos a ver com o nível ou o au-
mento da demanda do que com o modo como essa demanda é
satisfeita.

Capacidade de Refino

A capacidade de refino está altamente concentrada nos países de-


senvolvidos. Todas as regiões são auto-suficientes, exceto os Es-
tados Unidos.

Entretanto, se incluídas as refinarias das Antilhas, das quais são o


principal consumidor, os Estados Unidos se tornam auto-suficien-
tes e mesmo adquirem capacidade ociosa. Em verdade, todas as re-
giões dispõem de uma considerável capacidade ociosa. No primei-
ro semestre de 1980, as refinarias norte-americanas funcionaram
a cerca de 85 por cento da capacidade máxima; as refinarias das
Antilhas funcionaram a 50 por cento; as da Europa, a 60 por cento;
as do Japão, a 80 por cento. Na média, as refinarias do mundo fun-
cionaram a cerca de 75 por cento da capacidade máxima.

O aumento da capacidade de refino da OPEP poderia contribuir


com mais. Os países da OPEP estão custando a iniciar os gran-
diosos projetos de refinarias que surgiram na euforia causada pela
53
alta dos preços do petróleo. Os números absolutos podem estar
errados, pode levar mais tempo que o previsto para que esses
projetos sejam completados, mas a tendência parece nítida.

As implicações especiais para a segurança da dependência de pro-


dutos refinados (em lugar da dependência de petróleo bruto) são
evidentes. Uma escassez de petróleo bruto pode ser compensada
por outras fontes. Entretanto, no caso da escassez de um produto,
pode não existir uma fonte alternativa, dependendo da política
dos países da OPEP, que podem exigir o uso de suas refinarias,
ou dependendo da capacidade ociosa das refinarias de exporta-
ção (localizadas em outras regiões) para atenderem à emergên-
cia. Além do mais, os produtos refinados geralmente têm que ser
transportados em navios especiais, que constituem apenas uma
pequena parcela da frota mundial de petroleiros; a capacidade
desses navios pode não ser suficiente para manter o abastecimen-
to a partir de refinarias mais distantes do que aquelas cuja parali-
sação iniciou a crise.

A Frota Mundial de Petroleiros e a Logística


do Abastecimento

A frota de petroleiros do Mundo é a principal responsável pelo


transporte de petróleo das regiões produtoras para os centros
de consumo. Dos quase 32 MBD de petróleo bruto e 5 MBD de
produtos do petróleo que constituem o comércio internacional,
aproximadamente 95 por cento são transportados, pelo menos
em parte da viagem, por um petroleiro. A adequabilidade, pro-
priedade e controle da frota de petroleiros constituem, portanto
elementos essenciais da geopolítica energética.

54
A adequabilidade da frota se refere à capacidade de transportar o
petróleo em quantidades suficientes. Além disso, a frota pode ser
avaliada em termos de sua capacidade de transportar outras fontes
de energia como o carvão, que, embora hoje em dia de pequena
importância relativa, podem tornar-se mais importantes no co-
mércio internacional do futuro. Finalmente, a adequabilidade pode
também ser avaliada em termos da capacidade de servir a certas lo-
calidades; adequabilidade implica uma certa flexibilidade para lidar
com acontecimentos imprevistos, que exijam remanejamentos.

As questões de propriedade e controle envolvem a intenção de-


clarada dos países exportadores de petróleo de ingressarem no
setor de transportes da indústria petrolífera e as conseqüências
de mudança se ela realmente ocorrer. O volume da participação
dos produtores será importante; e os setores em que concentra-
rem suas atividades serão também importantes.

Uma segunda consideração que resulta da possível mudança na


propriedade da frota de petroleiros para os países exportadores
de petróleo.

Como o comércio de petróleo ocupa uma posição de destaque


no comércio marítimo mundial (49 por cento), o transporte do
petróleo é importante para a viabilidade das indústrias nacionais
de transportes marítimos.

Além da preocupação com a frota de petroleiros em si, mas in-


timamente ligada à logística do abastecimento, está a questão da
segurança das rotas marítimas. A preocupação com a segurança
das rotas existentes deve ser suplementada por uma avaliação de
rotas alternativas e as implicações para: (I) a defesa de rotas alter-
nativas e (2) a rapi.dez do fornecimento de petróleo se as rotas
alternativas tiverem que ser usadas. Além disso, a possibilidade de
55
os Estados Unidos impedirem o fornecimento de petróleo de um
país estrangeiro para outro também é de interesse.

Finalmente, a segurança e defesa de portos e terminais, tanto nas


regiões produtoras como nas regiões consumidoras, são de impor-
tância estratégica. Os portos e terminais marítimos também po-
dem ser avaliados em termos de sua adequabilidade, isto é, sua ca-
pacidade de processar exportações e importações em quantidades
suficientes para atender às necessidades. A segurança dos grandes
terminais de exportação, como o de Ras Tanura na Arábia Saudita e
Kharg lsland no Irã, é essencial. O mesmo se pode dizer dos gran-
des terminais de recepção nos países consumidores de petróleo.

Nossa análise se concentrará nas quatro áreas seguintes:

Adequabilidade da frota mundial de petroleiros

1. propriedade e controle da frota

2. segurança das rotas marítimas

3. adequabilidade e segurança dos portos e terminais

Adequabilidade da Frota

Atualmente, a frota mundial de petroleiros dispõe de uma grande


capacidade ociosa. Em 1975, em uma fase de recessão, a capa-
cidade ociosa atingiu 114 milhões de toneladas de peso morto
(DWT), o que correspondia a 40 por cento da capacidade dis-
ponível. No primeiro trio mestre de 1977, a capacidade ociosa
foi estimada em 100 milhões de DWT - um desastre comercial,
conseqüência da queda da demanda, resultante da recessão mun-
dial, e também da construção de navios em excesso.

56
No final de 1979, a frota mundial de petroleiros totalizava 327
milhões de DWT. Embora tenham sido canceladas as encomendas
de muitos navios novos e cerca de 13 milhões de DWT tenham
deixado o serviço ativo em 1977 e no primeiro semestre de 1978
(comparados com 10,5 milhões de DWT nos dez anos anterio-
res), o excedente de petroleiros continuou sério. Além disso, em
meados de 1978, o volume de encomendas era de 56 milhões de
DWT. Se todos os navios continuassem em uso, a frota mundial
de petroleiros chegaria a 362 milhões de DWT.

A adequabilidade da Frota só pode ser avaliada em relação às


qualidades e tipos de produtos que a Frota terá que carregar e
as localidades a que terá que atender. Entretanto, a seriedade da
situação de capacidade ociosa pode ser demonstrada através de
um exemplo.

A longo prazo, a capacidade ociosa pode diminuir. Do lado da


demanda, as previsões podem revelar-se excessivamente modes-
tas, e a demanda de petróleo pode aumentar com um melhor
desempenho econômico dos países industrializados. Um maior
interesse norte-americano pelo mercado do transporte das gran-
des distâncias também pode ocasionar um aumento da demanda
de petroleiros. Entretanto, apenas os navios menores (menos de
80.000 DWT) podem utilizar os portos norte-americanos exis-
tentes, e embora a demanda de navios desse porte possa aumen-
tar (alguns analistas prevêem uma escassez de pequenos petrolei-
ros quando os já existemes Forem aposentados, pois atualmente
a construção de pequenos petroleiros é limitada), o excesso de
“Very LargeCrude Carriers” ou VLCC (Superpetroleiros) conti-
nuará a preocupar a indústria.

Os petroleiros continuarão a ser construídos, mas em menor nú-


mero. Os altos custos de substituição (combinados com os baixos
57
Fretes) não encorajam a construção de novos navios. Os altos
custos de substituição também não encorajam a retirada dos na-
vios antigos, mas a pressão para esta retirada é inerente â situação
atual de excesso de capacidade ociosa. Uma demanda de petróleo
maior que a prevista, o começo da exploração de novas reservas,
a redução do número de novos navios e a retirada de navios anti-
gos podem reduzir os excedentes.

Entretanto, vários fatores podem contribuir para manter esses


excedentes: (I) o aumento da produção de campos localizados nas
proximidades dos centros de consumo (Mar do Norte e Alasca);
(2) a possibilidade de que os países consumidores de petróleo
encorajem o desenvolvimento de campos próprios ou em países
próximos; (3) a possibilidade de que alguns países, particular-
mente os Estados Unidos, promulguem leis dando preferência
aos petroleiros nacionais, o que estimulará a construção de navios
em todos os países que adotarem essas leis; (4) a intenção dos
países produtores de entrarem no setor de transportes (se isto
envolver a construção de novos navios, em lugar da compra ou
aluguel de navios já existentes).

Segurança das Rotas Marítimas

A importância das rotas marítimas do Oriente Médio para os Es-


tados Unidos, Europa Ocidental e Japão é evidente. Mais de 75
por centa da frota ativa de petroleiros oceânicos está empenhada
cm transportar petróleo do Oriente Médio para o resto do mun-
do. Além disso, 66 por cento da frota mundial de petroleiros está
ocupada no transporte de petróleo do Oriente Médio e do norte
da África para os mercados do mundo industrializado, isto é, Es-
tados Unidos, Canadá, Europa Ocidental e Japão.
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No momento, a situação parece estável, com mas nada garante
que esse estado de coisas possa evoluir para eventos graves, com
reais perigos para o mundo inteiro. O conflito serviu para de-
monstrar a fragilidade política dos estados árabes, aparentemente
unidos em torno da OPEP -quando se trata de aumentar os pre-
ços dessa matéria-prima e auferir mais lucros mas travando entre
si uma luta surda pela predominância na região.

As grandes potências firmaram um pacto tácito de não-intervenção


na guerra, receosas todas de um alastramento das hostilidades e en-
vidando todos os seus esforços para um cessar-fogo imediato. Mas
os países vizinhos, direta ou indiretamente, estão tomando parti-
do. A Siria, tradicional adversária política do Iraque, ajuda o Irã, o
mesmo acontecendo com a Líbia e Israel, que nunca leve grandes
simpatias pelo Irã dos aiatolás. Como se vê, a situação é bastante
confusa, não se podendo prever os desdobramentos dessa crise.

No momento, tanto para os Estados Unidos quanto para a Eu-


ropa Ocidental como Japão, o importante é que o conflito não
se alastre e que permaneça sem alteração o fluxo de petróleo
proveniente dos demais países do Golfo Pérsico que passa pelos
Estreitos de Hormuz.

Se o Canal de Suez fosse usado para transportar maiores quanti-


dades de petróleo bruto, os petroleiros não evitariam necessaria-
mente os Estreitos de Hormuz. O Canal hoje em dia não parece
ser uma rota desejável - os fretes estão baratos, e o Canal não
serve para navios de grande porte.

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2009

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