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Mestre e discípulo

De uma mesma série de palestras, denominada "Beyond


Enlightenment", selecionamos quatro perguntas em cujas respostas
Osho nos fala sobre a relação mestre-discípulo, o que é o seu trabalho,
como esse trabalho continuaria após ele deixar o corpo e se existe algo
no sentido de uma relação discípulo-discípulo.

Querido Osho.
Somente agora eu descobri que a relação mestre-discípulo é na verdade um encontro de
mão dupla, no qual o discípulo precisa responder abertamente ao mestre, para que o mestre
possa fazer o seu trabalho. Eu mesmo, ao contrário, tenho sempre observado passivamente,
mantido uma distância e tirado minhas próprias conclusões. Por favor comente.

"O mestre nunca faz coisa alguma. E se você se mantiver separado, nada irá lhe
acontecer.
A sua receptividade e abertura não são necessárias para o mestre fazer alguma coisa. A
sua receptividade e abertura são necessárias para que a própria presença do mestre possa
fazer com que alguma coisa aconteça em você. E essas são duas coisas diferentes.
Fazer alguma coisa é um esforço muito positivo, mas simplesmente permitir sua
presença para que algo aconteça em você, é uma coisa totalmente diferente. Não há qualquer
esforço positivo.
O esforço existe do lado do discípulo.
Assim, o que você descobriu, foi uma descoberta errada. Isto não é um encontro de mão
dupla, isso não é uma estrada de mão dupla, nem uma rua de mão dupla. Você é quem decide
estar aberto, pronto e disponível.
A presença do mestre está aí, assim como a luz: você abre os olhos e a luz está aí.
A luz não vai se dirigir aos seus olhos em particular. Você
pode manter os seus olhos fechados e a luz não irá bater em sua
pálpebra pedindo: 'Por favor, abra seus olhos'. Você pode manter
seus olhos fechados; a luz é muito democrática, ela não irá
interferir. Mas se você abrir os olhos, você verá a luz. Não apenas
a luz, mas na luz você verá muitas outras coisas também: as
flores, as pessoas e todo o mundo.
Ainda assim, você não poderá dizer que a luz fez alguma
coisa para você. Alguma coisa ocorreu em você. Isso não
ocorreria sem a luz, assim, certamente, a presença da luz é
necessária, mas só a presença é necessária, não a ação.
A ação é necessária de sua parte, não apenas a sua
presença, porque você pode estar presente aqui e fechado. E
nada evolui a partir daí.
O discípulo tem que fazer tudo. E essa é a beleza de todo
o fenômeno. Senão você se tornará um fantoche nas mãos do
mestre. Aí ele irá fazer coisas que ele quiser fazer, aí ele fará de
você o que ele quiser, o ideal, o modelo. Ele destruirá a sua
individualidade e a sua liberdade. Nenhum mestre que mereça
O Mestre (Tarô Zen do Osho)
esse nome pode fazer isso.
O mestre pode dar todo o seu ser a você, pode disponibilizá-lo, mas somente como uma
presença, não como uma ação.
O fazer é da parte do discípulo. Você precisa ser receptivo, você precisa ser silencioso,
você precisa ser meditativo, você precisa confiar em tudo, porque é a sua vida e você tem que
ser responsável por ela. Você não é uma pintura que o mestre pintor pode mudar do jeito que
ele quiser. (...)
O mestre pode mudar você, mas essa mudança terá um preço alto. Ele pode fazer
muitas coisas, mas você estará se tornando mais e mais um escravo. Você veio para ser
liberado, e isso estará indo pelo caminho errado.
Nenhum mestre autêntico jamais fez coisa alguma. Ele se disponibilizou de muitas
maneiras. Ele lhe ensinou como estar disponível, como estar aberto e receptivo. E agora,
qualquer que seja o seu potencial, ele começará a crescer. Na felicidade que se derrama da
presença do mestre, o seu potencial irá crescer, mas ele irá crescer de acordo com suas
qualidades intrínsecas. Nada será imposto de fora.
Assim, por favor, tome nota: a sua observação não está certa. Isto não é um tráfego de
mão dupla. Da parte do mestre não existe tráfego algum.
Você precisa fazer algo. Certamente o mestre está presente e disponível, seu amor está
disponível. Em sua sombra, em sua amorosa radiação você começará a crescer. Mas ele não
tocará em você. Ele deixará você ser aquilo que você pode ser. Qualquer que seja o seu
destino, você não deverá ser levado para fora dele.
Ele é simplesmente uma ajuda silenciosa, sem tocar você, sem transformar você. Esse é
o milagre do mestre."

OSHO - Beyond Enlightenment - Discurso 8 - pergunta 3

Querido Osho,
Parece que os meus problemas estão aumentando mais e mais
desde que eu me tornei seu sannyasin. É o seu trabalho?

"É o meu trabalho.


O meu trabalho é torná-lo mais e mais consciente, e quando você
se torna mais consciente, você se torna consciente de mais problemas.
Esses problemas já estavam aí antes.
Eu não crio os seus problemas, você é que estava inconsciente,
não estava prestando atenção.Aqueles problemas já estavam aí.
É como uma casa que está na escuridão e muitas aranhas estão
tecendo suas redes, os escorpiões estão vivendo, as cobras estão se
divertindo, e, de repente, você traz a luz ali. A luz não cria as aranhas,
nem os escorpiões, nem as cobras, mas ela faz com que você fique
sabendo que eles estão ali.
E é bom ficar sabendo, porque então a casa poderá ser limpa e
você poderá evitar as cobras.
Você tem muitos problemas que você não está vendo, os quais,
na verdade, você não quer ver.Você vai deixando para depois. Você tem
muito medo de ver esses problemas porque então terá que resolvê-los.
Mas, deixando para depois, eles não serão resolvidos, isso não é tão
fácil. (...)
Mas as pessoas estão deixando para depois. Elas seguem
empurrando de um jeito ou de outro, escondendo-os em todo lugar,
pensando que algum milagre acontecerá e as coisas se acomodarão e os
problemas serão resolvidos. Isso não vai acontecer. Ao contrário, esses
problemas criarão filhotes.
Eles começarão a encontrar namorados e namoradas, dois
problemas se encontrando, e um terceiro problema será produzido, e
você estará em mais dificuldades. É melhor encarar cada problema
assim que ele surge.
Não é o sannyas que está criando os seus problemas. O sannyas
simplesmente lhe trouxe um pouco mais de consciência. Os seus
problemas sempre estiveram aí. O sannyas lhe trouxe a oportunidade de
resolvê-los.
E é bom que a pessoa resolva os seus problemas. Isso afia a sua
inteligência. Cada problema é um desafio. Cada problema faz você mais
inteligente.
Sim, é o meu trabalho.
Mas não pense que eu estou criando os seus problemas. Eu
simplesmente estou dando a você insights, consciência, silêncio, de
modo que você possa ver os seus problemas e resolvê-los."
OSHO - Beyond Enlightenment -
Discurso 6 - pergunta 4

Querido Osho,
As frutas caem no solo quando estão maduras. Um dia você nos deixará e será
impossível ter um outro mestre em seu lugar. Como pode alguém substituir o mestre dos
mestres? Osho, quando você deixar o corpo físico, suas técnicas de meditação ajudarão nosso
crescimento interior assim como agora?

"A minha abordagem para o seu crescimento é basicamente torná-lo independente de


mim. Qualquer tipo de dependência é escravidão e a dependência espiritual é a pior escravidão
de todas.
Eu tenho feito todo esforço para torná-lo consciente de sua
individualidade, sua liberdade, sua capacidade absoluta de crescer
sem qualquer ajuda de ninguém. Seu crescimento é algo
intrínseco de seu ser. Ele não vem de fora; não é uma imposição,
é um desabrochar.
Todas as técnicas de meditação que eu dei para você não
dependem de mim - minha presença ou ausência não farão
nenhuma diferença - elas dependem de você. Não é a minha
presença, mas a sua presença que é necessária para que elas
funcionem.
Não é o meu estar aqui, mas o seu estar aqui, seu estar no
presente, seu estar alerta e consciente que irá ajudar. (...)
Na verdade ninguém pode salvar ninguém; isso vai contra
a verdade fundamental da liberdade e individualidade. Quanto a
mim, eu estou simplesmente fazendo todo o esforço para torná-lo
livre de todos - inclusive de mim - e estar simplesmente só no
caminho da busca.
Essa existência respeita a pessoa que ousa estar só na
O Silêncio (Tarô Zen do Osho)
busca pela verdade. Escravos não são respeitados de maneira
alguma pela existência. Eles não merecem nenhum respeito; eles não respeitam a si mesmos,
como podem esperar que a existência seja respeitosa para com eles?
Então lembre-se: quando eu me for, você não vai perder nada.Talvez você possa ganhar
algo do qual esteja absolutamente inconsciente.
Neste momento, eu estou disponível a você apenas no corpo, aprisionado num certo
aspecto e forma. Quando eu me for, para onde eu posso ir? Eu estarei aqui nos ventos, no
oceano; se você me amou, se você confiou em mim, você me sentirá de mil e uma maneiras.
Em seus momentos de silêncio, você, de repente, sentirá a minha presença.
Uma vez que eu esteja fora do corpo, minha consciência é universal.
Neste momento você tem que vir a mim. Depois, você não precisará buscar e procurar
por mim. Onde quer que eu esteja... sua sede, seu amor... e você me encontrará no seu próprio
coração, na própria batida do seu coração."

OSHO - Beyond Enlightenment - Discurso 11 - pergunta 1


Querido Osho,
Depois de anos estando junto a você, eu estou familiarizado com
a relação mestre-discípulo. Por favor, você poderia comentar sobre a
relação discípulo-discípulo?

"Não existe tal coisa.


No passado, discípulos criaram organizações. Esse era o
relacionamento deles: esse 'nós somos cristãos', esse 'nós somos
muçulmanos', esse 'nós pertencemos a uma religião, a uma fé, e porque
nós pertencemos a uma fé, nós somos irmãos e irmãs. Nós viveremos
pela fé e morreremos pela fé.'
Todas as organizações tiveram origem no relacionamento entre
discípulos.
Na verdade, dois discípulos não estão em absoluto conectados
um com o outro.
Cada discípulo está conectado com o mestre em sua capacidade
individual.
Um mestre pode estar conectado com milhões de discípulos, mas
a conexão é pessoal, não organizacional.
Discípulos não têm qualquer relacionamento.
Sim, eles tem uma certa 'amistosidade', uma certa amorosidade.
Eu estou evitando a palavra relacionamento porque ela é
comprometedora.
Eu não estou chamando isso nem mesmo de amizade, mas de
'amistosidade', porque eles são todos companheiros de viagem seguindo
no mesmo caminho, com amor ao mesmo mestre, mas eles se
relacionam através do mestre.
Eles não se relacionam um com o outro diretamente.
Essa foi a coisa mais infeliz no passado: discípulos organizaram-
se, relacionando-se, e todos eles eram ignorantes. E pessoas ignorantes
só conseguem criar mais chateação no mundo do qualquer outra coisa.
Todas as religiões têm feito exatamente isso.
Meu povo está relacionado comigo individualmente. E por eles
estarem no mesmo caminho, certamente eles se tornam conhecidos
entre si. Uma 'amistosidade' surge, uma atmosfera amorosa, mas eu
não quero chamar isto de qualquer tipo de relacionamento.
Nós já temos sofrido demais devido ao relacionamento direto de
discípulos entre si, criando religiões, seitas, cultos, e depois brigando.
Eles não conseguem fazer nada mais.
Pelo menos comigo, lembre-se disso, você não está se
relacionando com nenhum outro, absolutamente de jeito algum.
Apenas uma 'amistosidade' líquida, não uma amizade sólida, é
suficiente e muito mais bela, sem qualquer possibilidade de causar
danos à humanidade no futuro."

OSHO - Beyond Enlightenment -


Discurso 2 - pergunta 2
tradução:
Sw.Bodhi Champak

Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.


Todos os direitos reservados.

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