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ENTREVISTA ABRH-NEWS - Rio de Janeiro.

Fábio Otuzi Brotto – Projeto Cooperação.


01/03/05

Por Marcelo Reis

Antes de iniciar as perguntas, gostaria de dizer que fiquei bastante impressionado com seu
trabalho e proposta. Sou um defensor dos ideais do trabalho cooperativo, entretanto,
como jornalista, gostaria de tocar nas últimas perguntas dessa entrevista em alguns pontos
que, na minha visão, são críticos.

1) Conte um pouco da sua história. Como começou o seu trabalho com jogos cooperativos?

FOB: Minha história com os Jogos Cooperativos seria muito diferente se contada
separadamente a da história do Projeto Cooperação. Nascemos em 1992, sonhando
realizar ações que estimulassem a prática da Cooperação em organizações de todos os
tipos: empresariais, escolares, comunitárias, familiares, governamentais e não
governamentais. De lá para cá, temos realizado uma boa parte desse sonho (que se
atualiza a cada momento) através de palestras, oficinas, cursos e consultoria; da
publicação de livros, realização de eventos (em especial, o Circulando Cooperação... no
Rio, em setembro de 2003) e do programa de Pós-graduação em Jogos Cooperativos, em
parceria com a Unimonte, em Santos-SP. Hoje, estamos sendo desafiados a descobrir
como ampliar e aprofundar a pratica da Cooperação dentro de nossa própria
Organização, para que possamos seguir em frente como uma Comum-Unidade viva e
cheia de Com-Fiança na Cooperação (im) possível para todos e em todos os lugares.

2) Você pode citar algum caso de sucesso em empresas, registrado após a aplicação de suas
oficinas?

FOB: Nos termos da Cooperação, os indicadores de sucesso estão bem próximos aos da
felicidade, sendo que um deles, é a vontade de continuar jogando juntos! Podemos dizer
que ao longo de 14 anos de atuação, nós do Projeto Cooperação temos tido muitos
motivos para nos sentirmos bem sucedidos e felizes, especialmente, porque temos tido a
honra e o prazer de Jogar com muitos bons parceiros, entre eles: Motorola, Unilever,
Petrobrás, Gerdau, Caixa Econômica Federal, Redecard, Nestlé, Banco do Brasil, SBT,
Eliane, Unimed, Viacredi, Natura, Seagram do Brasil, Hospital 9 de Julho, Hospital
Oswaldo Cruz, entre outros.

Os desdobramentos do trabalho são muito vigorosos, como podemos reparar nos


diversos depoimentos a seguir:

• Oportunidades. Penso que esta palavra expressa muito bem aquilo


que vivenciamos no seio do “Projeto Cooperação”. As oportunidades
de: interagir com as pessoas e vê-las enquanto totalidade, re-visitar
nosso passado, reconhecer o papel das experiências, olhar para nós
mesmos, nos depararmos com nossos defeitos e virtudes, alegrias e
tristezas, traumas e mágoas, carinhos e afetos dados e recebidos. Mas
sobretudo, reafirmar o pacto da vida com a felicidade, com a paz-
ciência, interagindo permanentemente com a comunidade. (Secretaria
de Educação de Florianópolis-SC)

• O aproveitamento foi ótimo, pois nos mostra que para alcançar os


nossos objetivos e os da empresa, precisamos trabalhar em equipe.
Sabemos que para a Viacredi crescer, deverá ter a cooperação de
todos.(Viacredi- Blumenau-SC)

• É essencial que a oficina seja proporcionada ao maior número de


colaboradores do Sebrae-SP. Essa semente deve ser plantada na
mente e coração de todos. O Sebrae-SP trabalhando de forma
cooperativa, fomentando essa semente, pode favorecer a mudança
desta cultura fundamentada na competição. (M.B.X.Z. – ER
Ourinhos-SP)

• Estou neste mês justamente iniciando uma nova fase na minha vida
profissional, (...) a partir de agora assumirei a gerência de um grupo
de 17 pessoas. Vocês não imaginam o quanto o curso e tudo que
vivenciamos juntos está me ajudando nesta empreitada! E como com
a visão um pouco mais ampliada estou me sentindo muito mais
tranquila e preparada para lidar com o grupo, resolver os conflitos,
buscando o consenso e procurando harmonizar o grupo e o ambiente
de trabalho. (M.Y. – Banco do Brasil – Brasília-DF)

Atualmente, os reflexos desse impulso para a Cooperação proporcionado


pelo trabalho que realizamos está alcançando esferas realmente
impressionantes e curiosas. Entre tantas, destacamos o trabalho realizado
na Penitenciária de Segurança Máxima de São Vicente-SP, quando
reunimos aproximadamente 200 detentos e seus familiares, em alguns
programas com Jogos Cooperativos. O impacto em nós foi maravilhoso
(veja, em anexo, a carta enviada por eles, vale a pena!).

3) O conceito de cooperação é momentâneo e temporal. Geralmente está ligado a um


desafio específico. Hoje, você pode estar trabalhando em equipe para realizar um projeto,
amanhã, pode estar competindo com os mesmos pares que integraram seu time, seja para
disputar uma promoção, ou mesmo para garantir seu emprego. É possível implementar
uma verdadeira cultura de cooperação dentro das organizações nesse tempo em que a
competitividade é a palavra de ordem?

FOB: Antes eu perguntaria: O que aconteceria se excluíssemos a Cooperação do universo


das Organizações, especialmente, neste tempo onde sustentabilidade é a condição para
que continuem vivas e evoluindo? Por estranho que pareça, quando falamos em maior
competitividade, o que estamos dizendo, também, é que precisamos aumentar o grau de
Cooperatividade intra e inter pessoas-grupos-organizações-nações. E ainda, se
considerarmos o caráter cada dia mais transitório de nossos vínculos profissionais e
pessoais (que estão se expandindo), como o que ocorre, por exemplo, com os jogadores de
futebol profissional, que a cada temporada mudam de time e passam de adversários
para parceiros de uma hora para outra; poderemos perceber ainda mais claramente a
importância de estabelecermos relações interpessoais cada vez mais vinculadas a uma
ampla PermaCultura da Cooperação, ao invés de condiciona-las ao campo mais estreito
da MonoCultura da Competição.

4) Muitos gestores são os primeiros a incentivar o individualismo em suas equipes ao


premiar colaboradores por produção. Como reconhecer e estimular o talento sem criar um
ambiente de competição velada?

FOB: Estamos todos aprendendo com cada experiência que convivemos. Por isso é
importante que sejamos estimulados a seguir descobrindo melhores maneiras para
realizar metas, solucionar problemas e harmonizar conflitos. Nesse sentido, um dos
desafios fundamentais de toda Liderança é saber reconhecer e estimular o
desenvolvimento das Co-opetências Essenciais em cada pessoa. Essas Co-opetências
estão muito mais ligadas à Vocação e menos relacionadas à Ocupação. Quando somos
motivados a Ser-e-Fazer quem somos e o que trazemos como potencial original,
restauramos o vigor e a beleza da Cooperação, através da qual, realizamos o que
sozinhos jamais realizaríamos tão bem e com tanta economia e satisfação.

5) Seu trabalho procura despertar valores como o cuidado com o meio-ambiente, a


responsabilidade social e a convivência harmoniosa entre pessoas e nações. O Congresso
da ABRH-RJ, do qual você será um dos convidados, traz como tema "Um olhar além
das Fronteiras". Nesse tempo de tanta violência e intolerância, qual a receita, se você
pudesse dar uma, para construir um mundo melhor?

FOB: Considerando que tudo e todos estão interdependentemente ligados, queiramos ou


não, uma boa coisa é buscar compreender-se como uma pessoa singular e em constante
processo de transformação. Hoje, sinto que prestar atenção no modo como cada um
pratica a própria vida é uma das estratégias mais adequadas para cooperar com o bem
Como-Um. Este pode ser “um olhar além das fronteiras” de si mesmo, para um enxergar
mais amplo e profundo sobre um VenSer (vir-a-ser-quem-eu-sou) real. Diante de tantos
desafios e da alta turbulência que vivemos no mundo e nas organizações, focar a
Cooperação como um Jogo Interior, pode não ser uma receita ideal... mas, confio que
seja um pequeno e simples ingrediente Real, um fermento vigoroso, para fazer crescer o
sentido de Comum-Unidade em todos os lugares.

FAÇA COM-TATO

PROJETO COOPERAÇÃO – COMUNIDADE DE SERVIÇOS


www.projetocooperacao.com.br
fabiobrotto@projetocooperacao.com.br
(48) 3237.4048

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