Charles Perrault Obras Reunidas
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Charles Perrault Obras Reunidas - Charles Perrault
CHARLES PERRAULT
Obras reunidas
Esta edição pertence à Cigana Publicações, embora o texto é de domínio público assim como as Ilustrações: Gustave Doré (Louis Auguste Gustave Doré, 1832-1883), francês.
Charles Perrault (1628-1703)
Quem nunca ouviu, adormeceu, teve curiosidade, sonhou ou se imaginou na figura de algum personagem de Charles Perrault? Escritor francês, foi o gênio criador de um enorme número de personagens que enriqueceram contos infantis no século 17. Dele nasceram A Bela Adormecida, O Gato de Botas, A Gata Borralheira (Cinderela), Chapeuzinho Vermelho e o Pequeno Polegar.
Charles Perrault nasceu em Paris, França, no dia 12 de janeiro de 1628. Filho de Pierre Perrault e de Paquette Le Clerc, estudou no Colégio de Beauvais, onde chamou a atenção com um brilhante estudo de literatura. Ali já prenunciava como passaria para a imortalidade na história humana, mesmo que seu curso de formação nada tivesse com sua carreira literária, formou-se em Direito em 1651.
Os contos de fadas surgiram de verdade quando já com quase setenta anos, Charles Perrault começou a fazer registros de histórias populares que ninguém sabia ao certo como começaram, mas que eram do cultivo das matronas da época e das avós para entreter e educar suas crianças. Ele registrava cuidadosamente, dando acabamento mais chamativo e buscando a moral de cada história popular, inclusive dando nome aquelas que não tinham consenso de título.
Então, em 1697 publicou a coletânea com título de Contos da Mamãe Gansa
onde reunia histórias, como Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, A Gata Borralheira, O Gato de Botas, Cinderela, Barba Azul, As Fadas e O Pequeno Polegar.
Poucos anos mais tarde, Charles Perrault faleceu em Paris, no dia 16 de maio de 1703 deixando imortalizadas histórias que rodaram o mundo em versões para desenho animado, livros didáticos, peças teatrais, músicas, festividades, televisão e cinema.
Sumário
O GATO DE BOTAS
A BELA ADORMECIDA
CHAPEUZINHO VERMELHO
RIQUETE DO TOPETE
AS FADAS
PELE DE BURRO
O PEQUENO POLEGAR
A GATA BORRALHEIRA
BARBA AZUL
O GATO DE BOTAS
Gustave Doré (1832-1886) Ilustração para o conto O Gato de Botas de Charles Perrault | O gato de botas, Gustave dore, GatosUm moleiro não deixou para os três filhos nada além de seu moinho, de seu burro e de seu gato. Imediatamente fez-se a partilha dos bens, sem ser preciso chamar o advogado e o tabelião, que logo teriam devorado todo o pobre patrimônio. O mais velho ficou com o moinho e o segundo com o burro, restando ao mais novo apenas o gato.
Este último, incapaz de se consolar com a modesta parte que lhe coubera, dizia:
– Os meus irmãos, trabalhando juntos, poderão ganhar a vida honestamente; mas eu, depois que tiver comido o meu gato e fizer com o pelo dele um rolinho para esquentar as mãos, irei morrer de fome.
O gato, ouvindo bem essas palavras, mas sem demonstrar que ouvia, disse-lhe então, com ar ponderado e sério:
– Não fique aflito, mestre, basta você me dar um saco e mandar fazer para mim um par de botas para eu entrar nos matagais, e logo verá que não se saiu tão mal assim na partilha como pensa.
Embora não confiasse muito nisso, o dono do gato já o tinha visto fazer tantas proezas para pegar ratos e camundongos, como se dependurar pelas patas ou se esconder na farinha bancando o morto, que manteve esperança de poder ser ajudado em seu desamparo.
Depois de conseguir tudo o que havia pedido, o gato calçou as botas, todo prosa, pendurou o saco no pescoço, puxando os cordões com as duas patas da frente, e foi para um matagal onde havia coelhos em grande quantidade. Botou no saco um pouco de farelo com verdura e, esticando-se como se estivesse morto, esperou que algum coelho novo, ainda pouco iniciado nas espertezas do mundo, viesse se enfiar no saco para comer o que ele tinha posto lá.
Mal se espichou no chão, o Gato de Botas se encheu de alegria; um coelhinho estouvado entrou no saco e ele logo o pegou, puxou na mesma hora os cordões e o matou sem piedade.
Todo orgulhoso de sua presa, foi até o palácio do rei e pediu para lhe falar.
Ao subir para o apartamento de Sua Majestade, onde lhe fez uma grande reverência, assim que entrou disse ao rei:
– Majestade, trago este coelho do mato que o senhor marquês de Carabás (foi o nome que lhe deu na veneta atribuir a seu dono) – me encarregou de lhe oferecer de sua parte.
Diga a seu dono – respondeu o rei – que eu o agradeço pelo prazer que me causou.
De outra vez, ele se escondeu numa plantação de trigo, tendo sempre seu saco aberto; assim que duas perdizes entraram, ele puxou os cordões e pegou as duas.
Foi em seguida oferecê-las ao rei, como tinha feito com o coelho do mato. O rei recebeu com igual prazer as duas perdizes e mandou que lhe dessem uma