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MUTUALISMO E ASSOCIATIVISMO

As ideias do mutualismo nasceram no século XIX e permanecem na sociedade


até hoje, embora mais afastadas da maioria da população. As primeiras sociedades
de carácter mútuo ter-se-ão formado nos séculos V e VI, na Grécia Antiga, sendo
de cariz religioso, económico ou político. Os recursos eram obtidos através das
contribuições mensais dos associados e serviam para todos. Assim surgiu o
mutualismo, um sistema de ajuda mútua entre os associados. Desde sempre que
houve uma preocupação por parte do ser humano em garantir o seu bem-estar
através da ajuda entre todos. O mutualismo é, então, uma forma de economia social
com objectivos não lucrativos.

As Associações Mutualistas não têm fins lucrativos, mas procuram obter


resultados que permitam reunir as necessárias condições financeiras, de forma a
conceder aos seus associados os benefícios regulamentares.
Em Portugal existem mais de 900.000 associados mutualistas e perante a
conjuntura actual, torna-se cada vez mais importante a adesão ao movimento
mutualista de modo a salvaguardar a qualidade de vida no futuro, de uma forma
efectiva e solidária. Algumas associações mercê de uma boa gestão, dispõem de
variadas opções que permitem responder com eficácia às necessidades concretas
de qualquer pessoa, na área da complementaridade à Segurança Social. Cito como
exemplo A Previdência Portuguesa de Coimbra, que possui creches e jardins-de-
infância, habitações sociais, complementos na área da saúde e reforma, apoio a
idosos e outras famílias carenciadas, mães solteiras, órfãos filhos de mutualistas
etc. estas associações tem um caracter relevante na ajuda e complementaridade e
estão cada vez mais a afirmarem-se como alternativa à Segurança Social.

Estas associações funcionam um pouco como que em ambiente familiar onde as


pessoas se conhecem umas às outras, amealham e depositam as suas economias que
aliadas à boa gestão vão crescendo sendo posteriormente distribuídas conforme a
quota paga e podem intervir na gestão e indicar melhorias As leis das associações
só podem ser alteradas mediante assembleia-geral e votadas por maioria o que
parece dar outra segurança às pessoas em relação ao público. São os associados que
fazem a chamada publicidade à sua associação podendo ser apontados em caso de
incumprimento. Por norma as quotas são relativamente baixas podendo aumentar
consoante a pessoa o desejar.
Conceito de mutualismo:
O Mutualismo é um sistema privado de protecção social que visa o auxílio
mútuo das pessoas em situação de carência ou melhoramento das suas condições de
vida. A adesão é feita de forma voluntária e solidária, existindo um fundo comum

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gerado pelas quotizações dos mutualistas, o qual permite garantir o seu futuro, bem
como o dos seus familiares.

Os objectivos genéricos de protecção social mutualista são promovidos por


instituições de tipo associativo e inscrição facultativa, ditas mutualidades ou
associações mutualistas, que actuam na área da protecção complementar da
segurança social, saúde e qualidade de vida. Promover e desenvolver acções de
protecção social, solidariedade e entreajuda a favor dos associados, suas famílias e
dos beneficiários por aqueles designados são, pois, os objectivos essenciais do
mutualismo, que visa, fundamentalmente, a protecção do Homem na integridade do
seu desenvolvimento e da família.
Princípios que defendem:
Reciprocidade de serviços, na entreajuda voluntária; Ausência de fim
lucrativo; Solidariedade, democraticidade, independência e liberdade e cidadania.
Fins a que se destinam:
Garantir e conceder benefícios de previdência, destinados a reparar as
consequências da verificação de factos contingentes, relativos à vida e à saúde dos
associados, suas famílias e dos beneficiários por aqueles designados, e a prevenir,
na medida do possível, a verificação desses factos. Promover e organizar obras
sociais e outras formas de auxílio recíproco e de benefícios, tendo em vista o
desenvolvimento moral, cultural e físico dos associados, suas famílias e dos
beneficiários designados e, em especial, dos jovens, idosos e deficientes. Gerir
esquemas complementares das prestações garantidas pelos regimes de segurança
social, fundos de pensões mutualistas e outras formas de previdência colectiva.

As Associações Mutualistas são Instituições Particulares de Solidariedade Social


(IPSS) e de Utilidade Pública. e regem-se pelo Código Mutualista (Dec.-Lei 72/90
de 3 de Março).

Qualquer pessoa pode praticar o mutualismo por exemplo: praticando voluntariado


em hospitais, ONG ser dador de sangue, doando a famílias carenciadas roupas que
não veste, doando alguma importância monetária para misericórdias, casas de
pobres, intervindo até em bairros sociais problemáticos ajudando crianças e idosos
ou pessoas em risco.

Estas instituições de economia social estão a passar por uma "fase bastante
crítica". "Veja-se o que aconteceu ao movimento cooperativo, as cooperativas de
consumo praticamente desapareceram sob a difusão e a concorrência das grandes
superfícies".

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"Do ponto de vista da eficácia económica essas formas tradicionais estão em
grande dificuldade, embora surjam novas, protagonizadas por outras classes ou
grupos sociais mais ricos. A maioria das associações de socorros mútuos existentes
em Portugal são de pequena dimensão e não foram capazes de encontrar formas de
fidelização para atrair os mais jovens. Mas há casos positivos: a maioria de
associados da Benéfica e Previdente tem menos de 45 anos.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foi nacionalizada e é, por isso, menos


afectada pela crise. A única instituição que conseguiu sobreviver e desenvolver-se
sem ser nacionalizada foi o Montepio Geral. Acredita-se que isso se deveu a algum
tipo de ajuda dos poderes públicos. Algumas destas associações que não se
conseguiram impôr, hoje estão condenadas à subsidiodependencia do Estado o que
as torna muito vulneráveis, estão mais salvaguardadas desta crise as associações
sindicais, de municípios ou associações políticas, em virtude de estas serem mais
empreendedoras, cativando os seus associados com formações profissionais tempos
de laser, descontos em comércios, clínicas médicas, sistemas de reformas mais
aliciantes, formulando acordos com bancos e seguradoras.

Também já existem empresas que através do seu empreendedorismo conseguem


cativar os operários estimulando-os social e emocionalmente, com creches ou
infantários nos locais de trabalho, bónus na produção, seguros de saúde
substituindo-se à Segurança Social, habitação etc.

Associativismo:

A expressão associativismo designa, por um lado a prática social da criação e gestão


das associações (organizações providas de autonomia e de órgãos de gestão
democrática: assembleia geral, direcção, conselho fiscal) e, por outro lado, a
apologia ou defesa dessa prática de associação, enquanto processo não lucrativo de
livre organização de pessoas (os sócios) para a obtenção de finalidades comuns. O
associativismo, enquanto forma de organização social, caracteriza-se pelo seu
carácter, normalmente, de voluntariado, por reunião de dois ou mais indivíduos
usado como instrumento da satisfação das necessidades individuais humanas (nas
suas mais diversas manifestações).

No Direito Internacional

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em 10 de Dezembro de


1948 estipula na alínea 1 do Artigo 20 que "Toda a pessoa tem direito à liberdade
de reunião e de associação pacíficas.".

A Convenção Europeia dos Direitos do Homem, aprovada para ratificação, pela Lei
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nº 65/78, de 13 de Outubro, convenciona que "1. Qualquer pessoa tem direito à
liberdade de reunião pacífica e à liberdade de associação, incluindo o direito de,
com outrem, fundar e filiar-se em sindicatos para a defesa dos seus interesses." e
ainda que "2. O exercício deste direito só pode ser objecto de restrições que,
sendo previstas na lei, constituírem disposições necessárias, numa sociedade
democrática, para a segurança nacional, a segurança pública, a defesa da ordem e a
prevenção do crime, a protecção da saúde ou da moral, ou a protecção dos direitos
e das liberdades de terceiros."

No Direito Português

A Constituição da República Portuguesa, aprovada em 2 de Abril de 1976, na


redacção que lhe foi dada pelas Leis Constitucionais n.º 1/82, de 30 de Setembro,
n.º 1/89, de 8 de Julho. N.º 1/92, de 25 de Novembro, n.º 1/97, de 20 de Setembro
e n.º 1/2000, de 20 de Novembro e 1/2004 de 24 de Julho, constitui no seu artigo
46º que "1. Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer
autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a
violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei penal."; "2. As associações
prosseguem livremente os seus fins sem interferência das autoridades públicas e
não podem ser dissolvidas pelo Estado ou suspensas as suas actividades senão nos
casos previstos na lei e mediante decisão judicial."; "3. Ninguém pode ser obrigado a
fazer parte de uma associação nem coagido por qualquer meio a permanecer nela." e
"4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou
paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista"

Dá ainda destaque na alínea 3. do artigo 60º, aos direitos dos consumidores, em que
constitui que "As associações de consumidores e as cooperativas de consumo têm
direito, nos termos da lei, ao apoio do Estado e a ser ouvidas sobre as questões que
digam respeito à defesa dos consumidores, sendo-lhes reconhecida legitimidade
processual para defesa dos seus associados ou de interesses colectivos ou difusos."
O Código Civil Português (CCP), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 473 de 25 de
Novembro de 1996, protege igualmente a criação de associações.
O associativismo, nas suas múltiplas expressões, e em especial as
colectividades de cultura, desporto e recreio, constituem uma poderosa realidade
social e cultural. Para muitas centenas de milhares de portugueses, o associativismo

constitui a única forma de acesso a actividades desportivas, culturais, recreativas,


ou de acção social. Para além disso, é através do exercício do direito de associação
por muitos cidadãos que são asseguradas formas de participação cívica da maior
relevância.

É inquestionável que as associações promovem a integração social e assumem


um papel determinante na promoção da cultura, do desporto, na área social,
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substituindo a própria intervenção do Estado. A verdade é que a prática associativa
assenta na vontade dos indivíduos, sendo uma emergência social que não pode ser
tida fora do seu contexto – a sociedade em que vivemos – porque não se trata de um
fenómeno de geração espontânea, releva da vontade de uns tantos que tenazmente
se opõem à corrente. E os exemplos são mais que muitos.

Acontece, porém, que como em tudo na vida, há que vencer a resistência à


mudança, logo o associativismo requer aprendizagem, treino, interiorizarão de uma
postura de partilha, sendo também entendido como uma questão cultural.

Associações de Caça e Pesca

As associações de caça e pesca contribuem decisivamente para o movimento do


associativismo, considerando os cerca de 2000 caçadores inscritos nestas
associações, com peso significativo no âmbito das actividades cinegéticas, de lazer
e ocupação dos tempos livres, fazem aumentar a qualidade de vida dos participantes
em face do constante contacto com a natureza, privilegiando o espírito de amizade
e camaradagem em face dos convívios nas jornadas de caça e no antes e depois das
mesmas e, finalmente contribuindo para a conservação das espécies, com
ordenamento, correcção, repovoamentos e alterando o panorama cinegético
negativo que existia.
Contribuem ainda para a preservação da natureza, vigilância rural e prevenção de
incêndios, procedendo muitas vezes também à limpeza das matas.
Associações de pais e encarregados de educação, associações de estudantes:
De todas as associações existentes a nível local, Nacional e Internacional
quer sejam mutualistas ou simplesmente associativas, todas se revertem de grande
importância para a sociedade ou meio em que se inserem. Como cidadão também
faço parte de uma associação desportiva da minha localidade, pagando assiduamente
as quotas que me são impostas pelos seus regulamentos estatutários. Também já fiz
parte de associações de estudantes, de pais, sindicais etc. Em todas participei com
entusiasmo e dedicação pois vivia e acompanhava problemas de vária ordem dos
associados ajudando-os e acompanhando-os sempre que era solicitado ou que me
apercebia que estavam a necessitar de ajuda. Nas escolas onde estudei, contribui

para a resolução de alguns problemas relacionados com os alunos, e também já


ajudei mutuamente outras pessoas com dificuldades de vária ordem e em momentos
muito difíceis das suas vidas e alguns ainda hoje o reconhecem embora outros
simplesmente o ignorem. A vida é assim!
Mas é de uma associação de pais e encarregados de educação de uma escola
primária de Coimbra que vou falar um pouco: corria o ano de 1994 quando os pais e
encarregados de educação foram convocados por uma professora para uma reunião
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na escola primária. Julgando tratar-se de algum motivo relacionado com o
comportamento de algum aluno ou de questões de interesse mútuo os pais
compareceram na dita reunião.
A senhora professora, como era hábito, começou por saudar os presentes e
foi direita ao assunto: informando-nos que havia dois alunos (irmãos) na escola que
são muito carenciados não só ao nível de alimentação como do vestuário, e que
segundo relatos a única alimentação que recebiam era um pacote de leite escolar
distribuído diariamente pela contínua. Fez-se silêncio, e a senhora professora
voltou ao diálogo para então dizer: não devemos permitir que estas crianças andem
a passar fome!
Apesar de os pais dos alunos não serem pessoas que fossem assistir a
reuniões escolares mesmo quando eram convidados, todos murmuravam como era
possível, nos nossos dias, acontecer isto. Foi então que a senhora professora
apresentou o plano que tinha em mente: se todos estiverem de acordo combinamos
dar 20$00 por mês, cada pai, que fica à guarda da senhora contínua e a fábrica
Triunfo oferece quatro pacotes de bolinhos por dia e assim as crianças deixam de
passar fome. O pouco que nós damos para eles é muito.

Ficou então combinado que todos os pais participariam solidariamente na


iniciativa e que a senhora contínua receberia e administraria o dinheiro, comprando
comida no supermercado para os miúdos. Parecia tudo correr às mil maravilhas até
ao momento em que os miúdos começaram a vaiar os outros e a desperdiçar comida
chegando ao ponto de exigirem o dinheiro que os encarregados de educação davam.
Perante isto, a senhora professora um dia resolveu investigar por conta
própria e num belo domingo de manhã, antes de ir à missa, foi fazer uma visita à
casa dos citados alunos. Ficou estupefacta pois tinham electrodomésticos a dobrar
ou seja: televisão em todas as dependências da casa, duas máquinas de lavar roupa e
loiça, vídeos, aparelhagens de alta-fidelidade, microondas, um razoável automóvel,
etc.
Na semana seguinte convocou nova reunião para nos dar conta daquilo que
tinha observado e para nos dizer, que Doravante, se estivéssemos de acordo, o
nosso tratado, ficaria sem efeito visto que a pobreza dos pais das crianças era
infelizmente de espírito. Todos estivemos de acordo com o que foi dito e conforme

começou assim acabou a associação. O capital remanescente foi entregue a um


jardim-de-infância local.

Resumindo: quando as pessoas querem tudo se faz, quer seja através de


associações, mutualismo, organizações etc. Desde que haja vontade, predisposição
empreendedora e um líder audacioso e de confiança, tudo se consegue porquanto o
querer move montanhas.
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Fontes: Associação de Socorros Mútuos de Lisboa
Wikipédia, a enciclopédia livre, Dicionários Porto Editora

Coimbra, 9 de Março de 2009

José António da Costa Silva

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