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42 VELÓRIOS EM BETEL

Sempre me intrigou a narrativa da ida de Eliseu a Betel, após o arrebatamento


de Elias, quando ele foi escarnecido pelos rapazes e moças da cidade e,
amaldiçoando-os, causou a morte de 42 daqueles jovens, provavelmente
adolescentes e crianças, em plena flor da idade, com todo um caminho pela
frente. Se nós vivêssemos lá, naquela época, bem poderiam ter sido nossos
filhos e filhas. Por que aqueles jovens se comportaram daquela maneira? Os
nossos jovens hoje são verdadeiramente diferentes daqueles da época de Eliseu?
Como compreender, à luz da Palavra de Deus, o que se passou?
Betel era o centro da adoração a Baal e o quartel-general de sua idolatria. Ali,
Jeroboão havia erguido um altar e colocado uma estátua em forma de bezerro,
ao qual ele sacrificava e queimava incenso (1Rs.12:32). Então, aquele povo
idólatra, que conhecera de perto o profeta Elias (2Rs.2:2), certamente odiava
aquele que derrotara e matara os 450 profetas de Baal e os 400 profetas do
poste-ídolo, em Samaria.(1Rs18:19-40).
Agora, Elias já havia subido aos céus em uma carruagem de fogo, e Eliseu, seu
discípulo havia assumido seu ministério. Será que Eliseu representaria para
aqueles adoradores de Baal o mesmo perigo que Elias? O texto em português
fala de “rapazinhos”, ou “meninos”, e ainda “rapazes pequenos”, que saíram
atrás de Eliseu gritando “sobe, calvo, sobe, calvo”, zombando do profeta, mas a
palavra original não tem apenas o significado de crianças, meninos, mas sim,
jovens rapazes, e moças também. Não foram crianças, moleques de rua, como
poderíamos pensar à primeira vista, mas provavelmente, toda a juventude ou
grande parte dela (se considerarmos que sempre haverá um remanescente fiel),
que zombava do homem de Deus.
A palavra traduzida por “rapazinhos” ou “meninos”, também significa no
original “servos”, “criados”, aqueles que seguem ordens; portanto, podemos
deduzir que aqueles jovens estavam sendo instigados àquele ato por adultos,
seus próprios pais e autoridades da cidade. Um povo que não temia ao Senhor
gerara filhos profanos e desrespeitosos que, ao invés de receber o servo do
Senhor como era de costume, com hosanas, ao longo de suas ruas, o recebe com
zombaria, contenda, preconceito e, por causa disso, são severamente punidos.
Mas os gritos de “sobe, calvo”, não estavam apenas se referindo à possível
calvície natural de Eliseu, mas o alvo da zombaria era o seu caráter como
profeta do Senhor. Eles não zombavam apenas do homem, mas também do
seu ofício e ministério. Eles gritavam “sobe”, provavelmente referindo-se à
assunção de Elias. “Seu mestre”, diziam eles, “subiu aos céus; por que você não
sobe também? (Aqui, um contraste com Jesus na cruz: “Se és Filho de Deus,
desce daí!” Satanás trabalha da mesma maneira há milênios). Sobe, careca!
Cadê a carruagem de fogo? Quando nos livraremos de você também?”
Outro ponto que me parece importante nesta zombaria é o fato de ele ser
chamado de “calvo”, pois esta palavra tem a mesma raiz no hebraico que a
palavra Coré, o nome daquele homem que, juntamente com Datã e Abirão,
desafiou a autoridade de Moisés e Arão, quando o povo de Israel estava no
deserto. Coré, que em hebraico quer dizer calvo, careca, é o símbolo da
presunção, da usurpação, daquele que queria tomar o lugar do escolhido de
Deus, Moisés. Então, a provocação tinha também este caráter de “sobe,
usurpador, você é como Coré, você queria tomar o lugar de Elias e conseguiu”.
Nada pior do que confundir um servo do Senhor com um traidor.
Creio que aquela não era a primeira vez que homens de Deus eram tratados
desta forma, senão o castigo não teria sido tão duro. Zombar dos mensageiros
do Senhor era um dos pecados mais terríveis em Israel, conforme 2Cr.36:16:
"Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e
mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do SENHOR contra o seu povo,
e não houve remédio algum."
Eliseu ouviu suas zombarias, por um bom tempo, com paciência; mas
finalmente o fogo do zelo de Deus ardeu em seu peito por causa da contínua
provocação, e ele se voltou e olhou para eles, numa tentativa de, com um olhar
grave e severo, por fim àquela situação, e obrigá-los a desistir e se retirar, ou
para ver se eles não se sentiriam envergonhados; contudo, eles continuavam,
sem sentir por isso vergonha; nem sabem que coisa é envergonhar-se(Jr.6:15).
Então, virando-se ele para trás, os amaldiçoou em nome do SENHOR (vs.24),
não como uma vingança pessoal, por causa da afronta contra sua pessoa, mas
como boca da justiça divina, para punir a desonra feita a Deus. Neste momento,
duas ursas saíram de um bosque próximo, e mataram 42 deles.
Hoje, talvez possamos pensar se não teria sido melhor Eliseu ter invocado duas
varas de correção que os açoitassem, do que as duas ursas que os mataram, mas
Eliseu sabia, pelo Espírito, como era o mau o caráter daqueles jovens. Ele sabia
o tipo de víboras que eles eram e que terríveis inimigos ele se tornariam para os
profetas de Deus se fossem deixados vivos. Ele também queria com este ato
punir seus pais, que os instigaram, e fazer com que eles se tornassem temerosos
dos julgamentos de Deus. Deus deve ser glorificado como um Deus justo, que
odeia o pecado, e o castiga severamente, mesmo nos jovens.
Pais, ensinemos nossos filhos a temer a Deus e a respeitar os outros,
principalmente os mais velhos e aqueles que estão investidos de autoridade, seja
ela divina ou mesmo humana. Ensinemos nossas crianças a não zombar das
pessoas por conta de suas deficiências físicas ou mentais, e especialmente a não
zombar ou falar mal dos ministros de Deus, nossos líderes e autoridades
eclesiásticas.
A criança que aprende desde cedo a honrar pai e mãe, jamais se tornará um
jovem ou adulto desrespeitoso para com seu próximo. A criança que é ensinada
no caminho que deve andar, dele nunca se desviará (Pv.22:6).
Alguém disse o seguinte: “Em vão procuraremos o bem naquelas crianças cuja
educação nós temos negligenciado; e em vão lamentaremos pelos erros que
nosso cuidado para com elas poderia ter impedido de acontecer.”

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