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Grupo Parlamentar

Exma. Senhora Presidente da Comissão Parlamentar de Saúde, Deputada


Maria de Belém Roseira

1. Em funções há quatro anos, o governo não conseguiu


concretizar uma das mais importantes medidas do seu
Programa: “alargar, progressivamente, a prescrição por DCI
a todos os medicamentos comparticipados pelo SNS”.
A prescrição por substância activa está hoje como estava há
quatro anos: apenas é praticada nos serviços de
internamento dos hospitais do SNS. Os médicos prescrevem
de uma forma dentro dos hospitais e de forma diferente fora
deles, sistema que não faz qualquer sentido nem tem
fundamento.
Esta dualidade tem atrasado a afirmação dos genéricos e o
crescimento da sua quota no mercado do medicamento,
sendo igualmente responsável por uma parte muito
significativa da despesa em medicamentos tanto para os
cidadãos como para o estado.
As medidas que o governo tem lançado diminuíram a
despesa para o estado mas aumentaram a despesa
directamente suportada pelos utentes, de acordo com as
estatísticas do próprio Infarmed.

2. A decisão anunciada e aplicada nalgumas farmácias pela


ANF, unilateralmente e à revelia da legislação, aproveita e
resulta da incapacidade do governo em generalizar a
prescrição por substância activa e em conseguir uma
diminuição efectiva dos preços dos medicamentos para os
utentes.
Os propósitos da ANF não são a diminuição do preço dos
medicamentos mas, sim, dar início a um processo de venda
de medicamentos exclusivos por ela produzidos e que
comercialmente são mais rentáveis para as farmácias e para
a própria ANF. A prazo os preços não deixarão de subir.
Para baixar o preço dos medicamentos a ANF pode recorrer
a outras soluções, se fosse essa a sua verdadeira intenção.
A situação criada pela ANF introduz graves desigualdades
no acesso ao medicamento. Numas farmácias vendem-se os
medicamentos escolhidos pelo farmacêutico e por
determinados preços, noutras vendem-se os medicamentos
escolhidos pelos médicos e por preços diferentes.
Esta situação não é aceitável. O governo mostra-se incapaz
de intervir, tal como se mostrou incapaz de mudar em quatro
anos o sistema de prescrição.
Os preços dos medicamentos baixarão quando for
generalizada a prescrição por substância activa.

3. A ministra da Saúde, perante as decisões da ANF, disse que


“a receita médica é para respeitar, apelou ao bom senso dos
farmacêuticos e garantiu fazer respeitar a lei e accionar
mecanismos legais se necessário”. No entanto, em entrevista
hoje publicada, o presidente da ANF afirma que “estas
declarações não têm nada a ver com a conversa que tive
ontem com a senhora ministra. Não acredito que tenha dito
isso”. Não sendo admissível que a ministra da saúde tenha
discursos diferentes consoante o interlocutor, é necessário
esclarecer exactamente o que pensa e o que pretende fazer a
responsável pela política de saúde.

4. Ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais


aplicáveis, o Grupo Parlamentar requer a Audição da
Ministra da Saúde pela Comissão Parlamentar de Saúde,
para prestar esclarecimentos sobre a posição do governo
quanto à política do medicamento, à generalização da
prescrição por princípio activo e à situação criada pela ANF
no acesso aos medicamentos.

Lisboa, 3 de Abril de 2009

O Deputado do Bloco de Esquerda

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