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Pedagogos internacionais
condenam computadores
na educação infantil
Além disso, em dias de provas, a rede de internet sofria colapsos por causa dos milhares de alunos
que tinham os olhos cravados em seus mini-ecrãs. Assim, a exemplo de muitas outras escolas,
as autoridades decidiram recolher as máquinas, devido a demonstrarem ser uma decepção
educacional.
Outras autoridades atestaram que após setes anos não havia qualquer evidência de um
impacto positivo sobre o rendimento escolar, sendo que os computadores tinham provocado
sobretudo uma dispersão para a aprendizagem. O abandono dos computadores durante trabalhos
escolares e o crescente uso abusivo para fins particulares, mais a insuficiente preparação dos
professores e os enormes encargos financeiros, forçaram por fim os próprios professores a
boicotar o seu uso. Também um estudo do Departamento Nacional de Educação dos EUA
demonstrou que não havia diferença no sucesso académico entre estudantes que anteriormente
usaram, ou não, programas computerizados para a aprendizagem das disciplinas mais críticas: a
matemática e a leitura.
Uma pesquisa realizada pelos Drs. Clotfeiler, Ladd e Vigdor, da Harvard University, entre
quase 1 milhão de alunos, revelou que os melhores resultados em matemática e leitura foram
alcançados por crianças que não tinham acesso a computadores em casa. Entre alunos com
computadores, o acesso à internet não revelou quaisquer benefícios adicionais. Além disso, os
resultados indicaram que o acesso livre a computadores em casa resultaria contra-produtivo para
os esforços de reduzir as disparidades raciais, sociais e económicas entre os alunos.
Uwe Buermann, colaborador científico do Instituto Ipsum e docente de Ciências
Computacionais em Kiel, sublinhou que os meios electrónicos presentes na vida de uma grande
parte da população infantil são cada vez mais ingenuamente considerados pelos pais como
brinquedos, tornando-se assim algo que as crianças podem usar a bel-prazer. Conforme elas
mostram depois uma aparente habilidade superior à dos adultos para lidar com semelhantes
"brinquedos", muitos pais e educadores ficam confortados e deixam de interessar-se pelos seus
efeitos negativos, imaginando que são coisas inofensivas e infantis. Entretanto, inúmeros estudos
rigorosos já atestaram que o convívio prematuro de crianças em idade primária com computadores
e tecnologias de comunicação, impede de maneira notável o desenvolvimento de muitas
capacidades e habilidades, sendo precisamente essas crianças que posteriormente sofrerão de uma
limitação nas suas chances pessoais e profissionais, ficando dependentes para o resto da vida.
Nas escolas, cada vez mais crianças mostram debilidades do tipo Distúrbio de
Hiperactividade e Défice de Atenção (DHDA). A neurobiologia já atestou que em numerosos
casos trata-se de danos psicológicos e orgânicos derivados do consumo de meios electrónicos
na primeira fase da infância. A frase "Os computadores ensinam as crianças a lidar com
computadores" é muito popular entre os apóstolos pró-digitais, mas imaginar que isto já constitui
uma preparação para a vida constitui uma ilusão bastante elementar. O que as crianças em idade
pré-pubertária realmente aprendem com os computadores é a mera manipulação dos mesmos, o
que não deve ser confundido com uma competência medial. Uma verdadeira competência medial
exige suficiente capacidade de auto-avaliação para o uso individual de qualquer aparelhagem,
mais uma criatividade bem desenvolvida, e ainda um saudável discernimento crítico acerca dos
conteúdos – coisas que as crianças só alcançam mais tarde.
Na Universidade de Munique, um estudo sobre o meio-ambiente computacional familiar e
escolar, realizado pelos Drs. Fuchs e Woessmann com o patrocínio da Volkswagen, concluíu que
a mera presença de um computador em casa está negativamente relacionada com o rendimento
escolar. A existência de computadores na escola demonstrou uma relação insignificante com
o desempenho geral dos alunos. A disponibilidade da internet na escola mostrou inicialmente
algum efeito, mas o mesmo degradava-se rapidamente conforme aumentava o número de visitas
internéticas por semana. O estudo veio confirmar anteriores pesquisas internacionais que já
haviam determinado resultados decepcionantes para os computadores, em termos de rendimento
educacional. Os autores acabaram por concluir que, onde quer que os computadores sejam
aplicados para substituir outros tipos de instrução, quem sai prejudicado é o aluno.
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Entre muitos pais e educadores, espalhou-se a crença de que deixar crianças em frente
de qualquer aparelho de televisão, vídeo, etc. contribuirá pelo menos para torná-las mais aptas
para lidar com computadores e outros aparelhos, quando mais tarde entrarem para a escola.
Os Drs. Zimmerman e Christakis, da University of Washington, atestaram pelo contrário que
as populares séries de vídeos infantis estão a fazer mais mal do que bem, especialmente para
crianças com dificuldades de desenvolvimento da linguagem. As crianças sofrem um efeito
exactamente inverso, deixando de aprender novos vocábulos. Esse resultado negativo, mesmo
quando os programas vêm apresentados como educativos, foi verificado também na Faculdade
de Medicina da University of New Mexico. Os pesquisadores emitiram uma condenação
categórica: a exposição prematura de crianças a programas audiovisuais só pode produzir
o aparecimento de uma geração de crianças hiper-estimuladas e posteriormente deficitárias em
termos de concentração.
Na Universidade Tufts de Massachusetts, o Dr. Elkind estudou durante muitos anos
o desenvolvimento de crianças, verificando que a habilidade lúdica (brincadeiras e divertimentos
naturais) está simplesmente a desaparecer, sob o efeito conjugado de meios electrónicos e
actividades sedentárias, e ainda uma crescente pressão dos educadores para que alunos do nível
básico mostrem cada vez mais rapidamente resultados de cariz académico. Para milhões de
crianças, a infância passou a designar um período da vida confinado a quatro paredes. Até jardins
de infância estão a ser cada vez mais transformados em verdadeiras escolinhas academificadas,
onde as crianças são prematuramente tratadas como mini-adultos, sendo até submetidas a testes
elementares e recebendo tarefas para casa.
"Os efeitos sobre a posterior vida escolar e académica são desastrosos. Ao lidar com
ciências e matemática, por exemplo, as crianças sentem-se mais tarde empobrecidas em termos de
imaginação e criatividade", comentou o Dr. Elkind. Também o Dr. Bob Marvin, na University
of Virginia, salientou que décadas de pesquisas já demonstraram que as brincadeiras e as puras
vivências fora das salas de aula são aquelas que colaboram mais decisivamente para as futuras
habilidades académicas adultas, e para uma competência de aprendizagem para o resto da vida.
EFEITOS
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Apenas com estes breves dados, pais conscienciosos já estarão habilitados a repensar o uso
pretendido para aparelhos electrónicos na educação das suas crianças em idade pré-
pubertária. É útil também lembrar a autoridade que PAIS detêm em assuntos de educação,
conforme está lapidarmente estabelecido em dois documentos internacionais fundamentais:
– A Declaração Universal dos Direitos Humanos, co-assinada por Portugal junto à ONU,
estabelece no artigo 26/3: «Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de
educação a dar aos filhos».
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Informações completas em
www.defesadacrianca.net