Professional Documents
Culture Documents
Educação é
comunicação!
Prefácio
Pelo amor de deus!, ou, pelo amor a nós mesmos, segundo nós, panteístas!, por que
há dois prédios nas universidades fazendo a mesma tarefa? Quais? A pedagogia ou
faculdade de educação e a faculdade de comunicação social. Por que se tenta reinventar a
roda quando ela já existe?
Nesta presente obra, provaremos que o labore de um magister não difere em nada do
labore de um comunicador, quer seja um jornalista, quer seja um publicitário, quer seja um
relações públicas, tarefas que um mesmo profissional, um comunicador realiza.
Como chegamos a esta tese? A partir da observação de que um professor toma
teorias antigas, as tira de livros e as põe em um quadro, uma mídia, um meio de transmissão
das informações. Como um comunicador deve saber quando e como uma informação se
torna conhecimento, isto é, é compreendida por um aluno ou por um espectador,
telespectador, ouvinte ou leitor. Mesmo quando o professor transmite teorias que ele
mesmo criou, precisa transmiti-las a sua audiência, de um modo que ela entenda e não do
jeito que ele gostaria de fazer.
Não é por acaso que a grande justificativa do por quê a escola não atrai a atenção
dos alunos é que ela não é tão atrativa quanto os meios de comunicação. Isto, por si só, é o
que definimos como 1a verdade de nossa presente tese: “se os meios de comunicação
competem com a escola pela atenção discente, é porque a educação é uma forma de
comunicação!”
Eu tinha a idéia de que a sala de aula ideal fosse repleta de computadores, mas, o
que são eles, janelas para o mundo, só que janelas fechadas ou alguém já a atravessou e
tocou com as mãos os objetos e os seres que a tela de computador nos apresenta? Com três
anos de experiência em sala de aula, fazendo o possível e o impossível para tornar minhas
aulas atraentes aos alunos e provocar neles aquele momento de maravilhamento, em que os
olhos brilham diante da descoberta, oferecendo aulas diferentes, para perceber suas reações
e suas preferências, para descobrir quais metodologias, vejo, hoje, que a melhor aula é
aquela que trás o mundo até nós ou nos leva ao mundo, teoria que encontramos em
Aristóteles (pela prática alcançamos uma teoria, embora, para mim, teoria é outro nome que
damos à prática ou muitas práticas reunidas em uma definição geral) e Jean-Jaques
Rousseau (ensinar os alunos a lerem o livro do mundo, isto é, a aprenderem na interação
com o mundo real). Assim, não me parece que imitar as mídias seja suficiente para pôr a
educação em rumo certo. A internet, a televisão, o MP3 ou MP4 ou MP “sei lá que
número”, poderá oferecer a sensação muito próxima de, por exemplo, correr em um carro
em alta velocidade, mas ainda, assim, você precisará recorrer a suas experiências em que
correu de verdade em algum veículo automóvel. E a escola levará grande vantagem se fizer
os seus alunos construírem um veículo para eles andarem, mesmo que precise ser
empurrado pelos outros alunos.
Etimologia
Será útil para nosso presente trabalho investigar a origem das palavras “educação” e
“comunicação”? Uma rápida olhada, descobrimos que “comunicare” significava, na Roma
antiga, partilhar, tornar comum, uma coisa física (PETERS, J.D. Speaking into the air: A
history of the idea of communication. (1999))e “educare”, nutrir ou conduzir, daí “duque”,
aquele que comanda soldados em uma guerra. O filósofo Nicola Abbagnano, no verbete
“educação” a define como a “transmissão e o aprendizado das técnicas culturais”
(Dicionário de Filosofia: ed. Martins Fontes, 1988)!
Wittgenstein disse algo como a palavra ser a roupa das idéias. Não basta, conhecer a
origem das palavras, é preciso conhecer as experiências a que elas se referem. E, se no
passado, uma palavra se referia a coisas físicas e outra, a coisas do espírito, digamos assim,
hoje, em dia, professores e comunicadores estão tão próximos que não distinguimos uns
dos outros, exceto pelo fato de que:
(a) o primeiro grupo trabalha em escolas e o segundo, em organizações e,
(b) o primeiro grupo fala para trinta ou quarenta alunos e o segundo grupo, para
milhares ou milhões.
Tanto em (a) quanto em (b) se constituem em diferenças secundárias, pois um
professor pode escrever uma coluna em um jornal e um jornalista pode dar aula em um
colégio. Quantos de nós não aprendemos mais facilmente vendo um programa de tevê sobre
um assunto científico do que sentado em uma sala de aula monótona?
(c) o primeiro grupo transmite verdades e o segundo apenas versões, mas tal
assertiva pode ter tido valor no passado, não mais hoje em dia. E isto não porque a verdade
se transmutou em opinião por ação de algum demônio que vê graça em nos confundir, mas
porque sempre foi difícil encontrar a verdade, ela foge de nós quando nos aproximamos
dela, no máximo conseguimos arrancar-lhe um pedaço, sempre insuficiente para conhece-la
toda. O que ocorre hoje é que perdemos nossa arrogância, nossa crença em um Deus que
não nos enganaria sobre as respostas que encontrássemos. Reconhecemos nossa
incapacidade, nos tornamos humildes após tanto bater cabeça, tanto fracassar. Já a
comunicação, sempre conviveu com versões, mas, também, teve momentos em que
instituições monopolizaram as notícias e escreveram, por breves instantes, uma história
oficial;
(d) na “educação” há uma ação prolongada para produzir um efeito duradouro,
enquanto na “comunicação”, há uma ação temporária. Mas, sabemos, nós professores, que
depois de dias, semanas ou anos, nossos alunos, e nós mesmos, pouco lembraremos do que
aprendemos em sala de aula ou lemos no jornal.
(e) a educação ensina códigos, símbolos e sons que as pessoas usarão nas relações
com as outras pessoas e a comunicação faz uso destes conhecimentos. Há professores que
adquiriram experiência para ensinar o alfabeto e o cálculo para crianças, porém, as letras
são apenas uma das formas de linguagem, ao lado da música, das cores, das formas. Das
impressões tácteis, dos gostos, dos cheiros.
Para um visitante de primeira vez, este livro como um todo e este específico
dicionário poderão parecer uma propaganda daqueles que querem transformar a educação
em objeto de lucro e a escola em organização capitalista. Discordamos, pelo menos, por
esta nossa proposta, uma vez que tanto em regimes de livres do Estado, quanto em regimes
estatais, a comunicação sempre foi usada em ambos. Não digam que uma arma ou uma faca
sejam coisas perigosas, exceto se souberem nas mãos de quem estes objetos estão, certo?
Conclusão.