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Histórico
A Bulimia começou a ser mais estudada a partir de 1940, quando foi descrita junto
com a anorexia. Russel teve uma participação marcante nessa época, pois desenvolveu
um trabalho que se tornou muito importante na caracterização da Bulimia Nervosa, e
nas histórias dos transtornos alimentares em geral.
A partir dos anos 60 começou a crescer o interesse pelos transtornos alimentares no
campo da pesquisa e no público de maneira geral; com o aumento de divulgação da
mídia, a ocorrência em pessoas famosas e a maior valorização da forma física.
A Bulimia não tinha sido reconhecida como um transtorno psiquiátrico até os anos
70, sendo que apareceu no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
III (DSM III) somente nos anos 80.
A partir daí, houve uma maior conscientização deste transtorno e o aprimoramento
das técnicas do diagnóstico e dos métodos de tratamento.
Etiologia
Fatores Biológicos:
Foram feitas entrevistas clínicas e testes de personalidade com 2.163 gêmeos
idênticos e fraternos. Dentre as gêmeos do sexo feminino foi percebido que a
hereditariedade do binge-eating ( comer compulsivamente) é muito alta.
De acordo com um estudo retirado da Internet, quando uma das gêmeas monozigóticas,
ou seja idênticas, desenvolve Bulimia, a chance da outra também vir a desenvolver é
de 23%, essa porcentagem é 8 vezes maior do que a da população em geral.
Já para gêmeas dizigóticas, ou seja fraternas, a possibilidade da outra vir a
desenvolver é de 9%, sendo 3 vezes maior do que a taxa para a população em geral.
Outras pesquisas apontaram que os níveis de endorfina plasmática estão aumentados
em alguns pacientes com Bulimia Nervosa, que vomitam, levando a possibilidade de
que os sentimentos de bem estar experimentados por alguns deles após o vômito,
possam ser mediados por aumento nos níveis de endorfinas.
Fatores Sociais:
O contexto social em que o indivíduo está inserido influencia seu auto conceito,
temos como exemplo a mídia, que veicula a imagem de que para ser bonita e feliz é
necessário estar com um corpo magro, criando assim uma pressão para que as pessoas
tentem se adequar a este padrão.
Fatores Familiares:
Em uma pesquisa retirada da Internet, foi constatado que os indivíduos que
desenvolvem Bulimia pertencem a uma família que em geral dá extrema importância à
aparência. Ao menos um dos pais é muito exigente e crítico com relação aos filhos,
são aqueles pais que comparam seus filhos entre si, e o indivíduo que
posteriormente vem a desenvolver Bulimia é, normalmente, o mais desvalorizado.
Nessas famílias ocorre muita proteção por parte dos pais, pois estes não dão
autonomia aos filhos, sendo na maior parte do tempo rígidos a mudanças,
apresentando dificuldades em aceitar o crescimento do indivíduo. Há ainda uma
dificuldade na comunicação e expressão dos sentimentos, o que dificulta ainda mais
a solução do problema.
Fatores Psicológicos:
Os indivíduos com tendência a desenvolver Bulimia, são auto críticos,
perfeccionistas e sensíveis a críticas, o que os deixam vulneráveis às pressões
sociais. Usualmente esses indivíduos tem baixa auto estima e têm algum quadro de
ansiedade.
Pacientes com Bulimia apresentam dificuldades em controlar seus impulsos, o que
pode levar a dependência em substâncias, como por exemplo o álcool, além de comer
compulsivamente e induzir a purgação; sendo que as duas últimas são
características marcantes desse transtorno alimentar.
Epidemiologia
Tratamento
Tratamento cognitivo Comportamental:
Tratamento Hospitalar:
Envolvimento Familiar:
Tratamento medicamentoso:
O mais novo medicamento aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration) é o
Prozac (fluoxetine), o qual inibe a recaptação de serotonina nas terminações
sinápticas.
1) Indicações:
Em Bulimia, Prozac vem mostrando uma redução significante do episódio de comer
compulsivamente.
2) Dosagem:
Adultos: a dosagem recomendada é de 60 mg/dia, embora estudos mostram que doses
menores também podem ser eficazes.
Crianças: o tratamento seguro e eficaz em pacientes com menos de 18 anos de idade,
ainda não foi administrado.
3) Precauções:
Ansiedade e Insônia:
Durante o período de tratamento, a ansiedade e a insônia foram notados em 10 a 15%
dos pacientes. Esses sintomas foram a causa de 5% das pessoas interromperem o
tratamento.
Mudança de Peso:
A perda significativa de peso pode ser um resultado não muito desejado no
tratamento com Fluoxetine.
4) Efeitos Colaterais:
Em uma pesquisa retirada da Internet, Prozac foi receitado para 5.600 pessoas.
Aproximadamente 4% destas desenvolveram erupções na pele e/ou urticária. Embora
esses eventos sejam raros, eles podem se tronar sérios, envolvendo os pulmões, os
rins ou ainda o fígado. Uma vez constatada a aparição de erupções na pele ou alguma
outro tipo de alergia, na qual etiologia não pode ser identificada, deve-se
interromper o uso de Prozac. Em pacientes que já tiveram alguma história de reação
alérgica, deve-se ter um cuidado especial com o medicamento.
5) Overdose:
Náuseas ou vômitos são proeminentes em overdoses, incluindo doses altas de
fluoxetine.
É recomendado que o indivíduo fique em um lugar ventilado. O carvão ativado, que
pode ser usado com Sorbitol, é tão ou mais efetivo que a lavagem estomacal.
Deve-se monitorar as funções cardíacas e vitais do paciente.
Não existem antídotos específicos para Fluoxetine.
As partes ativas do Prozac demoram de 1 a 2 meses para serem eliminadas do
organismo.
O fígado pode afetar a eliminação pelo organismo: em pacientes com cirroses causada
pelo alcoolismo, a eliminação de Fluoxetine foi prolongada. Isso denota que o uso
de Prozac deve ser administrado com cautela.
Entrevista
Por que existem mais mulheres do que homens que desenvolvem Bulimia?
“ Eu vejo assim, curiosamente eu trabalhei com emagrecimento, a parte psicológica,
mental do emagrecimento, da dificuldade da pessoa para emagrecer e neste tempo, meu
trabalho era muito focado, o que eu pude observar é realmente isso, como a fobia de
dirigir, raramente você vê um homem, não existe, eu tenho 22 anos de consultório e
não tive nenhum caso de fobia de trânsito que viesse buscar tratamento (homem).
Tanto a fobia de dirigir quanto a Bulimia é mais comum em mulher. E no caso da
Bulimia é essa perfeição, é o corpo perfeito, é essa coisa toda de ter que manter
o peso, é esse culto ao corpo, que não é nem um pouco positivo a gente sabe, eu
trabalhei muito nessa área, a gente vê cada aberração, primeiro uma desinformação
muito grande, você vê, querem emagrecer 10 quilos em uma semana, não dá para
acreditar que tenha uma coisa dessas e tudo isso para que tenha um corpo perfeito,
você tem que ser magra, esquelética, eu falo que é aquele peso da Barbie, porque se
não é anormal quando a gente fala de peso tem o peso factível, é o peso da pessoa,
e o peso ideal que não é aquele que você está dentro das normas de saúde, mas
aquele que você se sente bem física, visual e cinestesicamente, quando a pessoa não
incorpora isso, não sabe fazer esse ajuste, vamos dizer assim, como é que eu me
sinto bem, ela vai buscar uma forma de emagrecimento, o corpo trabalha com um
mecanismo de auto-compensação, não adianta, se faltou alguma coisa ele vai buscar
de alguma forma, então vem uma vontade de comer e essa pessoa passa a comer, e o
que acontece, esse é um problema genético, o objetivo é a nutrição corporal, e se a
pessoa mexe com esse mecanismo – por isso é tão longo o tratamento- mexe nesse
programa que é genético, se a pessoa mexe com isso ela perde seu limite de
saciedade, “comi, estou me sentindo satisfeita, agora meu organismo já
digeriu...vou comer de novo” ela tem no final a sensação de saciedade, na Bulimia a
pessoa perde esse controle completamente, ela come come come, é genético, ela come
porque tem fome, se alimenta e não deixa de engordar. Pois bem é o componente
cultural que faz com que as mulheres apresentem mais esse problema, porque somos
vítimas do peso.”
Quais os sintomas mais freqüentes de Bulimia, que apareceram nos casos que a
senhora tratou ?
“Quase sempre, nas experiências que eu tive, a pessoa foi trazida pela família, não
é próprio a pessoa vir pedir ajuda, um “help”. Primeiro porque nós temos que pensar
que em todos os distúrbios que se manifestam através do somático, isso tem uma
função para a pessoa.
No caso de uma jovem que eu tive, ela foi trazida pela família. Geneticamente ela
tinha uma predisposição muito grande para a obesidade, a família do pai era obesa,
da mãe não, mas ela herdou os genes do pai, ela tinha muita dificuldade em manter
seu peso, ela estava com 30 quilos e pouco. O pai se chocava, porque seus amigos
ficam com boatos de que ela está com AIDS, e essa história toda...ela relutou
porque para ela...ela achava que ia conseguir se manter magra através da privação e
depois detonando a geladeira e tinha a função principal, era enfrentar o pai, era
a coisa da autoridade, ela tinha descendência alemã, então a coisa era muito
rígida, e nessa família o que eu observei é que tudo se relacionava a alimentação,
na linha do tempo, lá no passado, essa garotinha já tinha brigas homéricas com a
mãe porque não queria levar lanche para a escola, a mãe colocava na lancheira e
quando voltava da escola, a mãe ia verificar se ela tinha comido, e a menina não
tinha comido, não tinha nada a ver com o problema de peso até então , pois ela era
uma garotinha de 5, 6 anos. Já era a forma dela contrariar a autoridade parental,
somatizando a problemática familiar. Ela era louca, a doente quando todo mundo ali
estava precisando de um “help”.”
Em sua experiência qual o transtorno que mais aparece associado à Bulimia? Por
que ?
“A depressão, por ser uma auto destruição...”
10) Sabemos que hoje em dia o medicamento aprovado para tratamento de Bulimia é o
Prozac. Em sua opinião, quais seriam as vantagens e des-
vantagens do uso desse medicamento?
“Para algumas pessoas dá resultado a nível de peso, na perda da peso, inclusive ele
é indicado por alguns médicos com o intuito de emagrecer, mas ele é um anti-
depressivo e para algumas pessoas tem efeito de emagrecer e outras não. Essa moça
que eu citei para vocês já tinha danos no aparelho digestivo e ela fez uso do
Prozac e foi muito bom.”
11) Tendo em vista sua experiência, como a família pode ajudar no tratamento de um
indivíduo bulêmico? Isso vem acontecendo na maioria dos casos?
“Na maioria das vezes a família atrapalha...a gente tem que pensar sempre no
sujeito-problema, ele é o que somatiza, isso não quer dizer que ele é o mais
comprometido, às vezes nem é; ele é aquele que tem coragem, que vai, que faz, que
desafia, que vai procurar terapia, encontrar uma família que ajude é um sonho.”
Conclusão
Com base em toda pesquisa que foi realizada, concluímos que a Bulimia Nervosa é um
transtorno que tem se tornado cada vez mais freqüente
A sociedade em que vivemos, tem privilegiado, cada dia mais, um padrão de beleza
no qual a figura de destaque é aquela que ostenta um corpo magro. Esse padrão de
beleza é mantido por interesses econômicos por parte das indústrias do
emagrecimento, através dos meios de comunicação, que vendem a idéia de que sucesso
e felicidade, só podem ser alcançados se a pessoa tiver determinada forma física.
Ao mesmo tempo é lançado no mercado um número grande de produtos de alto valor
calórico e de rápido consumo, os quais estão presentes na alimentação cotidiana dos
indivíduos, por diversas razões, das quais podemos destacar a falta de tempo para
fazer uma refeição balanceada, saudável.
A procura por esse tipo de alimento, faz grande parte da população ter complicações
com o próprio peso, levando ao desenvolvimento de transtornos como a Bulimia.
Concluímos, ainda, que a Psicologia pode agir no sentido de mostrar às pessoas que,
para alcançarem seus objetivos, não é necessário estar dentro de padrões rígidos,
estabelecidos pela cultura na qual estamos inseridos, mas que é preciso respeitar
nossos próprios limites.
Bibliografia
KAPLAN, Harold. I.; SADOC J.; GREEB, Jack A.; Compêndio de Psiquiatria,
Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica, 7ª edição, Editora Artes Médicas,
Porto Alegre – RS, 1997.
NASIO, J. D.; Nos Limites da Transferência, Editora Papirus, Campinas – SP, 1987.
INTERNET:
http://pharmainfo.com/pubs/msb/seroton.html - “Serotonin and the Eating
Disorders”, Outubro de 1994.
http://www.concernedcounseling.com/EatingDisorders/bulimiatreatment.htm -
“Treatment for Bulimia Nervosa – Concerned and Counseling Eating Disorders
Website”, 1998.
http://www.laureate.com/nedobulimia.html – “NEDO Bulimia Nervosa”, 1998.
http://www.nyspi.cpmc.columbia.edu/NYSPI/depts/psypharm/eating~1/diagBuli.htm –
“Diagnostic Criteria for Bulimia”, 6 de setembro de 1996.
Autoras:
Mônica Soligueto
Priscila Rebouças de Carvalho Molina (pri8@hotmail.com)
UNIVERSIDADE MACKENZIE, Novem