You are on page 1of 17

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE MECÂNICA


LABORATÓRIO DE SOLDAGEM E ASPERSÃO TÉRMICA

PARANÁ Professor Fábio Martins

CEFET-PR
PROCESSOS DE FABRICAÇÃO V
INTRODUÇÃO À METALURGIA FÍSICA

Me.ta.lur.gi.a sf (gr metallourgía)


1 Arte de extrair os metais e de os manipular
industrialmente. 2 O estudo das técnicas dessa arte: Curso
de metalurgia.

Os corpos sólidos, e em particular os metais, tem


muitas de suas propriedades relacionadas com a estrutura.
A estrutura, por sua vez, é influenciada pelos
processamentos sofridos pelo metal até que este atinja sua
forma e tamanho finais.

O termo estrutura é muito geral, e compreende desde


aspectos grosseiros, com dimensões superiores a 0,1 mm
(macroestrutura) até detalhes da organização interna dos
átomos (estrutura eletrônica). Estes níveis de ordem de
grandeza são subdivididos de acordo com a tabela I.
Tabela I – Classificação dos níveis de estrutura segundo a
ordem de grandeza
1
Nível Dimensões Exemplos de Detalhes
Estrutural aproximadas técnicas de estudo identificados
Macroestrutura > 100 µm Macrografia, Segregação,
radiografia trincas, porosidade
Microscopia Tamanho de grão,

100 µm a 0,1 µm óptica, microconstituintes,


Microestrutura microscopia microtrincas
eletrônica de
varredura (MEV)
Microscopia Precipitados
0,1 µm a 1Å eletrônica de submicroscópicos
transmissão (MET)
Estrutura Células unitárias,
Difração de
cristalina 10 Å a 1 Å parâmetros de
Raios – X
rede, defeitos
cristalinos
Estrutura <1Å Espectroscopia de Níveis atômicos,
eletrônica emissão óptica defeitos eletrônicos

ESTRUTURA CRISTALINA

Os átomos de um metal no estado sólido se agrupam


em padrões definidos, que por sua forma geométrica, são
2
comparados à cristais. Este arranjo atômico se caracteriza
pela repetição, em 3 dimensões, desta forma cristalina
básica. A grande maioria dos metais segue 3 arranjos
básicos: Cúbico de Corpo Centrado (CCC), Cúbico de
Face Centrada (CFC) e Hexagonal Compacto (HC),
conforme exemplifica a tabela II.

Tabela II – Exemplos de estruturas cristalinas dos metais


mais comuns
Estrutura cristalina Exemplo
CCC Fe (abaixo de 910 ºC), Fe
(entre 1390 ºC e 1534 ºC),
Cr, V, Mo, W, Nb
CFC Fe (entre 910 ºC e 1390 ºC),
Al, Ag, Au, Cu, Ni, Pt
HC Zn, Mg, Be, Zr, Hf

O tipo de estrutura cristalina está intimamente


relacionado com as propriedades do metal. Por exemplo,
metais com estrutura CFC apresentam elevada dutilidade,
tenacidade e condutividades elétrica e térmica. Alguns
metais assumem mais de uma configuração cristalina, de
acordo com a temperatura e pressão ambientes, como, por
exemplo, o ferro: à temperatura ambiente e pressão
3
normal, o ferro tem estrutura CCC (ferro α), estrutura
mantida até 910 ºC. Entre 910 ºC e 1390 ºC assume
estrutura CFC (ferro γ), e entre 1390 ºC e 1534 ºC, volta a
Ter estrutura CCC (ferro δ).

Uma das características dos cristais, também


chamados de células unitárias, é a de ter uma direção
preferencial de crescimento, durante a solidificação. Um
metal, ao solidificar, necessita de um substrato sólido para
servir de âncora para o crescimento da estrutura cristalina.
Este substrato é chamado de núcleo. Em um metal
fundido, prestes a solidificar, quanto maior for o número
de núcleos maior será a quantidade de grãos. A orientação
4
espacial do núcleo determina a direção de solidificação e
crescimento da estrutura cristalina. Se existirem 2 ou mais
núcleos, com orientações distintas, estes irão gerar
estruturas cristalinas com direções de crescimento
distintos. Em determinado momento, ao se encontrarem,
uma das estruturas cristalinas irá se sobrepor à outra,
truncando seu crescimento. Tal fenômeno é conhecido por
crescimento competitivo. A região de separação entre duas
estruturas cristalinas é chamada de contorno de grão.
Nesta região os átomos são levemente deslocados de suas
posições normais, provendo uma região de transição entre
as estruturas cristalinas discordantes. Um grão nada mais é
do que um conjunto de células unitárias que cresceu em
um único sentido.

Embora os metais puros sejam eventualmente


utilizados industrialmente, as ligas tem maior aplicação.
Por liga metálica entende-se uma mistura de um metal
com um ou mais elementos diferentes, metálicos ou não,
chamados de elementos de liga. Contudo, ligas e metais
puros inevitavelmente irão conter uma certa quantidade de
outros elementos, chamados de elementos residuais ou

5
simplesmente impurezas. A presença de elementos de liga
e impurezas afeta radicalmente as propriedades dos
metais. Por exemplo, a presença de carbono no ferro,
formando a conhecida liga de ferro e carbono chamada de
aço, ou de zinco no cobre (latão) tende a aumentar a
resistência mecânica e a dureza e a diminuir a
condutividade térmica.

Na estrutura cristalina dos metais (também chamada


de matriz metálica) um elemento de liga pode estar
presente em solução sólida ou então dar origem a novas
fases. Uma fase é definida como uma parte homogênea do
sistema (no caso, a liga metálica) cujas composição,
propriedades físicas e químicas são idênticas ao longo de
seu domínio, que está separado das outras partes do
sistema por uma superfície de divisão visível, chamada
interface. Como exemplo pode-se citar a mistura de água e
gelo. Para a metalurgia física esta definição é muito rígida,
aceitando-se, por exemplo, pequenas variações de
composição química dentro de uma fase.

6
Uma solução sólida pode ser de 2 tipos: intersticial
ou substitucional.

A solução intersticial ocorre quando os átomos do


elemento de liga são significativamente menores que os
átomos da matriz metálica. Os átomos do elemento de liga
se alojam nos espaços entre as células.
A solução substitucional acontece quando os átomos do
material e do elemento de liga tem tamanhos
aproximadamente iguais. Neste caso ocorre a substituição
de um dos átomos do metal pelo do elemento de liga.

Uma estrutura cristalina perfeita, ideal, é


necessariamente irreal. Na realidade, em uma rede
7
cristalina existe uma quantidade de defeitos muito grande,
cujos principais são:

• Lacunas: ausência de um átomo na célula unitária


• Defeito intersticial: presença de um átomo um uma
posição do cristal que não deveria estar ocupada
(interstício).
• Deslocação ou discordância: defeito linear caracterizado
como uma distorção na rede cristalina que pode ser
caracterizada como uma linha.
• Contorno de grão: É a superfície de separação entre
grãos adjacentes sendo, portanto, um defeito superficial
e que resulta das diferenças de orientação cristalina
entre os grãos.

O acúmulo de imperfeições na rede cristalina tende a


tensionar a mesma, diminuindo a dutilidade do material
e aumentando sua resistência mecânica.

FASES PRESENTES NOS AÇOS

8
Os aços são ligas de ferro com, no máximo, 2 % de
carbono em peso, contendo ainda outros elementos,
resultantes do processo de fabricação (impurezas ou
elementos residuais) ou adicionados intencionalmente
(elementos de liga). No primeiro caso temos os aços
carbono e no segundo, aços ligados.
De acordo com o teor de elementos de liga, os aços
ligados podem ser subdivididos em baixa (teor de
elementos de liga inferior a 5%), média (entre 5 e 10%) e
alta liga (superior a 10%).
Variações na composição química e tratamentos
térmicos e mecânicos aplicados durante a fabricação
possibilitam a obtenção de aços com propriedades
variando dentro de uma ampla faixa. Esta extensa gama de
propriedades, juntamente com o baixo custo e facilidade
de obtenção explicam a enorme utilização atual do ferro,
particularmente na forma de aço, como material de
engenharia.
Para o estudo dos efeitos da soldagem no aço é
necessário um conhecimento prévio de sua microestrutura
e de como esta pode ser alterada pelos tratamentos

9
térmicos e variações de composição química. Para isto,
inicialmente veremos o diagrama de equilíbrio Fe-C.

Campo γ: Austenita (CFC)


Resfriamento: Transformação em ferrita e perlita (ferrita +
cementita)
Ferrita: macia, dútil e tenaz, contudo a baixas
temperaturas torna-se frágil
Perlita: mais duro e menos tenaz, composto por ferrita e
cementita, um carboneto de ferro (Fe3C)

10
A proporção de perlita aumenta gradativamente até
que, para um aço com 0,8% de carbono a estrutura de
solidificação é 100% perlítica. Acima de 0,8% a estrutura
passa a ser de perlita e cementita.

As relações e estruturas finais de solidificação


mostradas nos diagramas de equilíbrio são verdadeiras
apenas para estas situações, ou seja, de equilíbrio, com o
material a temperaturas homogêneas e resfriamento lento,
condições que não se verificam durante a soldagem.

Quando a velocidade de resfriamento aumenta, a


temperatura de transformação da austenita torna-se menor.
Menores temperaturas de transformação implicam em
menor mobilidade atômica, isto é, maior dificuldade para a
formação das fases mostradas anteriormente, perlita,
ferrita e cementita. Devido a estas condições, surgem as
chamadas fases metaestáveis: bainita e martensita.

11
A bainita, da mesma forma que a perlita, é um
agregado de ferrita e carbonetos, porém com maior dureza.
É formada, basicamente, de lâminas ou agulhas de ferrita
com uma fina dispersão de carbonetos. A martensita, por
sua vez, é uma fase metaestável não prevista nos
diagramas de equilíbrio Fe-C. Tem estrutura cristalina
tetragonal de corpo centrado (semelhante ao CCC, mas
com uma das arestas maior do que as outras), uma
morfologia de lâminas ou agulhas e é o constituinte de
maior dureza nos aços.
As fases formadas em função da velocidade de
resfriamento podem ser previstas com o auxílio dos
diagramas TRC (velocidade de resfriamento constante),
representados esquematicamente abaixo.

12
TRATAMENTOS TÉRMICOS DOS AÇOS

Tratamentos térmicos podem ser definidos como


processos em que um metal no estado sólido é submetido
a um ou mais ciclos térmicos de aquecimento e
resfriamento para alterar, da forma desejada, uma ou mais
de suas propriedades. Os aços podem ser submetidos a

13
tratamentos térmicos visando a um dos seguintes
objetivos:
• Remover as tensões induzidas pelo trabalho a frio ou
remover as tensões originadas pelo resfriamento não
uniforme de peças aquecidas.
• Diminuir a dureza e aumentar a dutilidade
• Aumentar a dureza, a resistência mecânica e a
resistência ao desgaste.
• Aumentar a tenacidade de forma a combinar uma alta
resistência à tração e uma boa dutilidade, permitindo
suportar choques de maior intensidade.
• Melhorar a usinabilidade
• Melhorar as propriedades de corte das ferramentas
• Alterar as propriedades elétricas e magnéticas.
Os principais tratamentos térmicos são abordados a
seguir.

Têmpera: Consiste do aquecimento do aço até a


temperatura de austenitização, seguido de um resfriamento
rápido o suficiente para permitir a formação de martensita.
A têmpera pode causar um aumento significativo na

14
dureza e resistência dos aços, particularmente daqueles
com maior teor de carbono. Contudo, o aumento da
resistência é acompanhado por uma perda proporcional de
dutilidade.

Revenimento, ou revenido: Normalmente realizado após a


têmpera, com o objetivo de diminuir a fragilidade do aço,
com alguma perda de dureza. É realizado a temperaturas
inferiores à de austenitização.

Recozimento: Este tratamento tem como objetivo obter no


material uma estrutura próxima àquelas exibidas em
diagramas de equilíbrio. Após o recozimento o aço tende a
se tornar macio, dútil e fácil de ser dobrado (maleável) e
cortado. Consiste da austenitização do material seguido de
resfriamento lento, normalmente dentro do forno.

Normalização: Consiste da austenitização do material


seguido de resfriamento ao ar. É utilizado para a obtenção
de uma estrutura mais fina e mais dura do que a obtida
pelo recozimento, e para tornar a estrutura mais uniforme
ou melhorar a usinabilidade.

15
Alívio de tensões: Consiste do aquecimento do material a
temperaturas abaixo da de austenitização, com o objetivo
de minimizar as tensões internas do material, resultantes
de processos de conformação mecânica, soldagem, etc.

16
QUESTÕES PROPOSTAS
1. Se eu desejo determinar o tamanho de grão de um aço,
que tipo de técnica devo utilizar? Esta determinação
pode ser caracterizada como macrografia ou
micrografia? Por quê?
2. Defina estrutura cristalina de um metal.
3. Explique o fenômeno do crescimento competitivo.
4. Defina contorno de grão.
5. O que você entende por fase?
6. Defina solução sólida e explique os tipos que podem
ocorrer.
7. Em condições de equilíbrio, quais são as fases que
surgem em aços com composição química variando
entre 0 a 0,8%?
8. Quais as condições para o surgimento das fases
metaestáveis?

17

You might also like