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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA PARTE

ESPECIAL

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O Código Penal brasileiro é composto de duas partes: a geral, que inclui os arts. 1º a
120, e a especial, integrada pelos arts. 121 a 361, distribuídos em 11 títulos. Na parte geral,
estão contidas apenas normas não incriminadoras, explicativas – que esclarecem o
conteúdo de outras normas ou questões penais –, justificantes – que tornam lícitos fatos
definidos como crime – e exculpantes – que isentam de pena fatos típicos e ilícitos,
excluindo a imputabilidade ou a culpabilidade –, contendo as normas e os princípios
gerais do Direito Penal, sobre os quais são construídas a teoria da lei penal, a teoria geral
do delito e a teoria geral da pena.
Já na parte especial predominam as normas penais incriminadoras – que definem
crimes e cominam penas –, acompanhadas de normas explicativas – que contêm causas
de aumento ou de diminuição de pena, outras sobre a ação penal etc. – e outras normas
justificantes e exculpantes específicas.
A parte especial do Código contém, de conseguinte, o conjunto dos tipos legais de
crimes, definidores das condutas proibidas, que estão agrupados, topograficamente,
conforme a natureza dos bens jurídicos que visam proteger.
Está dividida em 11 títulos. No Título I estão definidos os crimes contra a pessoa,
divididos em 6 capítulos: os crimes contra a vida – homicídios, participação em suicídio,
infanticídio e abortos –, as lesões corporais, os crimes de periclitação da vida e da saúde, a
rixa, os crimes contra a honra, e os crimes contra a liberdade individual.
No Título II, encontram-se os crimes contra o patrimônio – furto, roubo e extorsão,
usurpação, dano, apropriação indébita, estelionato e outras fraudes, e receptação.
O Título III é integrado pelos crimes contra a propriedade imaterial, o Título IV,
pelos crimes contra a organização do trabalho, e o Título V, pelos denominados crimes
contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos.
No Título VI, estão os indevidamente chamados crimes contra os costumes, uma
vez que contemplam também as agressões à liberdade sexual das pessoas, especialmente
2 – Direito Penal II – Ney Moura Teles

das mulheres, que, conquanto constituam ataques a bens personalíssimos, deveriam


integrar os crimes contra a pessoa.
O Título VII é composto dos delitos contra a família; já o Título VIII contempla os
crimes contra a incolumidade pública. No Título IX, os crimes contra a paz pública, e no
Título X os praticados contra a fé pública, as diversas falsidades.
O último título, o XI, traz os crimes contra a administração pública.
Como se pode observar, os tipos legais de crime foram agrupados tendo em vista a
natureza dos bens jurídicos a que se referem. Essa técnica é fundamental para permitir ao
operador do Direito Penal maior segurança no momento da interpretação da lei penal,
visando descobrir sua vontade diante dos casos concretos. Aqui e ali, entretanto, é possível
encontrar, em títulos diferentes, construções típicas assemelhadas, o que impõe muita
atenção do operador do Direito, para solucionar os vários conflitos aparentes de normas.
O método adequado para a descoberta da vontade da lei é o finalístico, ou
teleológico, cujo elemento principal é a ratio legis, que vai considerar o bem jurídico
protegido como ponto de partida. Assim, diante de um fato concreto, o intérprete deve, em
primeiro lugar, analisá-lo em sua totalidade, para descobrir qual o bem jurídico atingido
pela conduta do agente e, em seguida, buscar, no ordenamento jurídico-penal, a norma
incidente, a que se ajusta perfeitamente ao fato. O elemento sistemático é também
importantíssimo, daí que a organização dos tipos no Código Penal brasileiro facilita essa
tarefa do intérprete.
Importante observar que há, no ordenamento jurídico brasileiro, um grande número de
leis especiais que tipificam outros crimes importantes, tais como as que tratam dos crimes
que envolvem o tráfico de substâncias entorpecentes (nº 6.368/76 e nº 10.409/2002), a
que define os crimes contra o sistema financeiro nacional (nº 7.492/86), a referente aos
crimes contra a ordem tributária (nº 8.137/90), a Lei de Imprensa (nº 5.250/67), a lei
que trata dos crimes contra a criança e o adolescente (nº 8.069/90, chamada Estatuto da
Criança e do Adolescente), e a dos crimes de tortura (nº 9.455/97). Os tipos penais
contidos nessa legislação dita complementar ao Código Penal não são objeto deste manual,
mas serão comentados, aqui e ali, quando se fizerem necessários esclarecimentos
adicionais, mormente quando integrarem conflitos aparentes de normas.
Algumas leis penais especiais contêm tipos penais específicos em relação a tipos
genéricos do Código Penal, os quais serão objeto destes comentários.
Em sua atividade interpretativa, a primeira tarefa do operador do Direito é a de
descobrir a tipicidade do fato, sua adequação perfeita ao tipo legal de crime. Em seguida,
Introdução ao Estudo da Parte Especial - 3

deve enfrentar os problemas da ilicitude e, por último, os da culpabilidade.


Neste manual, procura-se analisar cada tipo penal na ordem de sua apresentação
no Código Penal, e discutir não apenas os vários elementos da tipicidade e as causas de sua
exclusão, mas também as situações aplicáveis, em cada caso, de exclusão da ilicitude e da
culpabilidade, de modo a permitir ao leitor o mais amplo conhecimento dos mais diversos
problemas possíveis em cada hipótese.

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