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PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE


OUTREM

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9.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO


CRIME

Art. 132: “expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente”. A pena é de
detenção de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

É um tipo subsidiário de outros crimes mais graves, segundo consta da exposição


de motivos do Código Penal. Somente ocorrerá esse crime se o fato não constituir outra
infração danosa.

O bem jurídico é a vida e a saúde das pessoas, expostas a uma situação de perigo
direto e iminente.

Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo e sujeito passivo do crime.

9.2 TIPICIDADE

O tipo fundamental está no caput do art. 132, e a causa de aumento de pena está
contida no parágrafo único.

9.2.1 Conduta

O verbo expor é empregado aqui em seu sentido mais amplo e genérico,


significando colocar em perigo a vida ou a saúde de outra pessoa. Não há, assim, como no
crime de perigo de contágio venéreo, restrição quanto ao meio empregado pelo agente.

Poderá realizar esse tipo pelas mais diversas formas de ação ou até mesmo de
2 – Direito Penal II – Ney Moura Teles

omissão, desde que colocando em perigo a vida ou a saúde da vítima. Na forma omissiva
não é indispensável que o agente seja um garante, pois o que importa é a sua conduta
perigosa, que não se volta necessariamente à produção de qualquer resultado.

9.2.2 Elementos objetivos

Indispensável que a conduta do agente coloque a vida ou a saúde da vítima numa


situação de perigo de lesão. Esse perigo deve ser direto e iminente. Há perigo direto
quando relacionado a uma pessoa determinada, o que significa dizer que a conduta do
agente deve voltar-se contra alguém certo. Iminente é o perigo que está prestes a
acontecer.

Trata-se de perigo concreto, o qual deve ser demonstrado e provado, porque deve
ter sido provável e não apenas possível.

9.2.3 Elemento subjetivo

Deve haver dolo de perigo. O agente deve ter consciência do perigo que sua conduta
pode causar à vida ou à saúde da vítima, e a vontade livre de, ainda assim, realizá-la, com
vista em sua produção. Pode ser apenas dolo eventual quando o agente, mesmo sem querer
criar a situação de perigo, nela consente, se eventualmente acontecer.

9.2.4 Consumação e tentativa

A consumação ocorre no momento em que, realizada a conduta, o bem é exposto à


situação de perigo. Esse perigo deve ser concreto, portanto deve ser demonstrado e
provado, não podendo ser presumido.

Em tese é possível a tentativa, na forma comissiva, porém muito difícil de acontecer


na prática.

9.2.5 Aumento de pena

O parágrafo único, introduzido pela Lei nº 9.777, de 29 de dezembro de 1998,


contém uma causa de aumento de pena, de um sexto a um terço, “se a exposição da vida
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ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de


serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas
legais”.

A situação de perigo deve guardar nexo de causalidade com a maneira como a


vítima é transportada para o local onde prestará serviços ou trabalhará. Utilizar veículos
inadequados para o transporte coletivo ou sem os dispositivos de segurança exigidos pelas
leis de trânsito, permitir a lotação excessiva ou que o mesmo seja conduzido por pessoa
inabilitada, constituem circunstâncias que autorizam o aumento de pena.

O fim dessa norma é proteger, principalmente, os trabalhadores rurais chamados


de “bóia-frias”, cidadãos brasileiros transportados irregular e desumanamente por
proprietários rurais gananciosos, ávidos de lucros e grávidos de insensibilidade para com
seu semelhante.

Terão a pena aumentada o condutor do veículo e o responsável pelo transporte, seja


o preposto ou o proprietário da empresa para quem a vítima trabalhe. Enfim, todos que
para ele concorrerem.

9.3 ILICITUDE E CULPABILIDADE

Perfeitamente ajustáveis às situações de legítima defesa, estado de necessidade,


exercício regular de direito ou estrito cumprimento do dever legal, desde que satisfeitos
todos os pressupostos, objetivos e subjetivos, destas excludentes, em condutas que,
dirigidas para a realização do fim do direito, acabam por expor a vida e a saúde de outrem
a um perigo direto e iminente.

O agente que repele um agressão injusta, atual ou iminente, usando do meio


necessário moderadamente, pode, ao agir, colocar em perigo direto e iminente a vida ou a
saúde de pessoas que estejam próximas do agressor, e aí não haverá crime.

Do mesmo modo poderá sua culpabilidade ser excluída nas hipóteses de erro de
proibição, mormente de legítima defesa e estado de necessidade putativos, quando vem,
em decorrência do erro, realizar conduta perigosa para a vida de alguém. Também na
hipótese de coação moral irresistível e sempre que por inexigibilidade de conduta diversa a
conduta não for reprovável.
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9.4 AÇÃO PENAL

A ação penal é pública incondicionada, e a competência é do juizado especial


criminal, possível, ainda, a suspensão condicional do processo, consoante dispõe o art. 89
da Lei nº 9.099/95.

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