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Como as que para o vapor tornar-se uma


Marcelo M.F. Saba
nuvens se gotinha d’água ele precisa encontrar Pesquisador do Grupo de Eletricidade
formam? na atmosfera partículas sólidas so- Atmosférica
A origem de bre as quais se condensar. Essas par- Instituto Nacional de Pesquisas
uma nuvem tículas estão sempre em suspensão Espaciais
no ar, mesmo nas regiões onde o ar C.P. 515 - 12201-970
está no calor
S. José dos Campos, SP, Brasil
que é irradia- é muito puro.
e-mail: saba@dge.inpe.br
do pelo Sol ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Todas as nuvens produzem
atingindo a
relâmpagos?
superfície de nosso planeta. Este calor
evapora a água que sobe por ser Não. Somente as nuvens de tem-
menos denso que o ar ao nível do mar. pestades, conhecidas como cumolo-
Ao encontrar regiões mais frias da nimbus, possuem os ingredientes
atmosfera o vapor se condensa necessários para produzir relâm-
formando minúsculas gotinhas de pagos: ventos intensos, grande exten-
águas que compõem então as nuvens. são vertical e partículas de gelo e água
em diversos tamanhos.

Basta então calor e umidade? Que aspecto têm as nuvens de


tempestade?
Não. Na atmosfera a tempera-
tura do ar diminui com a altura. Estas nuvens são enormes. Elas
Dependendo de quão rápida é esta têm sua base em 2 ou 3 km e o topo
diminuição, o crescimento de uma em até 20 km de altitude! Podem ter
nuvem pode ser acelerado ou ini- 10 ou mesmo 20 km de diâmetro.
Normalmente têm a sua base escura,
bido. Alguns outros fatores podem
pois a luz solar é absorvida e espa-
também dar uma “mãozinha” para
lhada pelas partículas de água e gelo
que a nuvem cresça: as montanhas,
de que são formadas. O seu topo mui-
onde ventos batem forçando o ar tas vezes atinge a base da estratosfera
quente subir, e as frentes frias, (camada da atmosfera logo acima da Neste artigo explicam-se diversos aspectos
camadas de ar frio que funcionam sobre a física envolvida na formação de nuvens
troposfera, onde vivemos). Ao atingir de tempestades e relâmpagos, fenômenos que
como uma cunha empurrando o ar a base da estratosfera, a nuvem não por milhares de anos assustaram a humanidade
quente para cima. Sabemos ainda consegue mais subir, pois a tempe- e com os quais devemos ter alguns cuidados.

Física na Escola, v. 2, n. 1, 2001 A Física das Tempestades e dos Raios 19


ratura nessa camada tende a aumen- como outra experiência não devem ser
tar devido à absorção do ultravioleta repetidas por ninguém. Várias pessoas
pela camada de ozônio. Assim ela se morreram tentando repeti-las!
espalha horizontalmente na direção
Como funciona o pára-raios?
dos ventos nessa altitude, fazendo que
a nuvem tenha o aspecto de uma bi- Um pára-raios nem atrai nem
gorna. As nuvens de tempestade repele os raios. Ele também não des-
geralmente estão associadas a: chuvas carrega a nuvem como pensava Ben-
torrenciais e enchentes, granizo ou jamin Franklin. Ele simplesmente ofe-
“chuva de pedra”, ventos intensos ou rece ao raio um caminho fácil até o
“rajadas de vento”, e eventualmente solo que é ao mesmo tempo seguro
os temíveis tornados. A quantidade para nós e para o que pretendemos
de energia envolvida em apenas uma proteger.
tempestade modesta é assustadora.
Quais os tipos de relâmpagos?
Ela é várias vezes superior à energia
liberada pela primeira bomba atômica Aqueles que tocam o solo (80%)
detonada em um deserto dos Estados Por que existem relâmpagos? podem ser divididos em descendentes
Unidos em 1945. A diferença é que a Quando a concentração de cargas (nuvem-solo) e ascendentes (solo-nu-
bomba atômica libera toda sua ener- no centro positivo e negativo da vem). Os que não tocam o solo podem
gia em uma fração de segundo, en- nuvem cresce muito, o ar que os cir- ser basicamente de três tipos: dentro
quanto uma tempestade o faz durante cunda já não consegue isolá-los eletri- da nuvem, da nuvem para o ar e de
um período de muitos minutos ou camente. Acontecem então descargas uma nuvem para outra. O tipo mais
várias horas. elétricas entre regiões de concentração freqüente dos raios é o descendente.
de cargas opostas que aniquilam ou O raio ascendente é raro e só acontece
Qual o efeito das tempestades a partir de estruturas altas no chão
pelo menos diminuem essas concen-
sobre o clima? (arranha-céus) ou no topo de mon-
trações. A maioria das descargas
As tempestades são como gran- (80%) ocorre dentro das nuvens, mas tanhas (torres, antenas). Os raios
des trocadores de calor. Ou seja, o ar como as cargas elétricas na nuvem ascendentes têm sua ramificação
que próximo ao chão encontrava-se, induzem cargas opostas no solo, as voltada para cima.
em dias de verão, a quase 40 °C, pode descargas podem também se dirigir a O que é um raio bola?
ser transportado até o topo da ele.
tempestade onde pode chegar com a O raio bola é o mais misterioso
temperatura de -70 °C. Existem es- Quando e quem descobriu que os dos raios e, portanto o que mais in-
timativas de que o nosso planeta sem raios eram enormes descargas triga os cientistas. Ele já foi observado
essas nuvens trocadoras de calor teria (faíscas) elétricas? por milhares de pessoas e, no entanto
uma temperatura média 10 °C maior. Em 1752, Benjamin Franklin não há até hoje medidas suficientes
propôs uma experiência para verificar que possam comprovar qualquer
Por que as nuvens se eletrificam? se as nuvens possuíam eletricidade. uma das várias teorias elaboradas
Ainda não há uma teoria defi- Sugeria que uma pessoa subisse no para explicá-lo. Normalmente o seu
nitiva que explique a eletrificação da alto de uma montanha em um dia de tamanho varia entre o de uma bola
nuvem. Há, no entanto, um consenso tempestade e verificasse se de uma de ping-pong e o de uma grande bola
entre os pesquisadores de que a eletri- haste metálica isolada do chão pula- de praia, e sua duração é em média
ficação surge da colisão entre riam faíscas em direção aos dedos da 15 segundos; possui um colorido na
partículas de gelo, água e granizo no sua mão. Era uma experiência arris- maioria das vezes amarelado e
interior da nuvem. Uma das teorias cadíssima que ele mesmo não a rea- luminosidade menor do que uma
mais aceitas nos diz que o granizo, lizou, talvez por não haverem monta- lâmpada de 100 W. Flutua pelo ar não
sendo mais pesado, ao colidir com nhas suficientemente altas na Filadél- muito longe do chão, e não segue
cristais de gelo, mais leves, fica car- fia, onde morava. Quem a realizou necessariamente a direção do vento.
regado negativamente, enquanto os pela primeira vez foi Thomas François Costuma desaparecer silenciosamente
cristais de gelo ficam carregados posi- Dalibard, na França, em maio de ou acompanhado de uma explosão.
tivamente. Isso explicaria o fato de a 1752. Um mês depois, sem saber do
maioria das nuvens de tempestade ter sucesso da experiência na França, Existem raios positivos e negativos?
um centro de cargas negativas embai- Franklin conseguiu uma maneira de Sim. Os raios têm a sua polari-
xo e um centro de cargas positivas na a realizar na Filadélfia. Em um dia de dade atribuída conforme o tipo de
sua parte superior. Algumas nuvens tempestade empinou uma pipa e carga que neutralizam na nuvem.
apresentam também um pequeno observou faíscas pularem de uma Portanto, se um raio neutralizar
centro de cargas positivas próximo à chave amarrada próximo da extremi- cargas negativas na nuvem ele é um
sua base. dade da linha à sua mão. Tanto uma raio negativo. Na prática não pode-

20 A Física das Tempestades e dos Raios Física na Escola, v. 2, n. 1, 2001


mos dizer com certeza se um raio é em direção a ela para formar o cami- tentam drenar as cargas elétricas das
positivo ou negativo a não ser com o nho do raio. nuvens de tempestade com o auxílio
auxílio de instrumentos adequados. de potentíssimos raios laser. A idéia é
Por que os raios se ramificam?
tentar, com o auxílio do laser, guiar o
Quais as fases de um raio? A primeira descarga do raio ge- raio até um local onde fosse possível
Um raio começa com pequenas ralmente apresenta-se muito ramifi- armazenar a sua energia.
descargas dentro da nuvem. Estas cada pois no seu caminho até o solo
descargas liberam os elétrons que as cargas elétricas buscam o caminho Qual a sua espessura e
começarão seu caminho de descida em mais fácil (em termos de menor re- comprimento?
direção ao solo. Esse caminho de des- sistência do ar) e não o mais curto O raio pode ter até 100 km de
cida é tortuoso e truncado em passos (que seria uma linha reta). O caminho comprimento. Raios com esse com-
de 50 metros, como que buscando o mais fácil, geralmente em zigue- primento geralmente envolvem mais
caminho mais fácil. Esta busca de zague, é determinado por diferentes de uma nuvem de tempestade. Apesar
uma conexão com a terra é muito características elétricas da atmosfera, de seu grande comprimento, a espes-
rápida (330.000 km/h) e pouco lu- que não é homogênea. sura do canal de um raio é de apenas
minosa para ser visto a olho nu. alguns centímetros.
Qual a duração de um raio?
Quando essa descarga, conhecida
Um raio composto de várias des- Qual a temperatura de um
como ‘líder escalonado’, encontra-se
cargas pode durar até 2 segundos. No relâmpago?
a algumas dezenas de metros do solo,
parte em direção a ela uma outra des- entanto, cada descarga que compõe o A temperatura é superior a cinco
carga com cargas opostas, chamada raio dura apenas frações de milésimos vezes a temperatura da superfície so-
de ‘descarga conectante’. Forma-se de segundo. lar, ou seja, a 30.000 graus Celsius.
então o que é conhecido como o ca- Quando um raio atinge e penetra so-
Qual a sua voltagem e corrente? los arenosos a sua alta temperatura
nal do raio, um caminho ionizado e
altamente condutor. Por ele passa um A voltagem de um raio encontra- derrete a areia, transformando-a em
gigantesco fluxo de cargas elétricas se entre 100 milhões a 1 bilhão de uma espécie de tubo de vidro chamado
denominado ‘descarga de retorno’. É Volts. A corrente é da ordem de 30 mil fulgurito.
neste momento que o raio acontece Ampères, ou seja, a corrente utilizada
por 30 mil lâmpadas de 100 W jun- O que é o trovão?
com a máxima potência, liberando
grande quantidade de luz. tas. Em alguns raios a corrente pode Muita gente acha que o trovão é o
chegar a 300 mil Ampères! barulho causado pelo choque entre nu-
O raio pisca? vens. Esta idéia é errada e muito antiga.
Qual a energia envolvida em um
Se houver cargas disponíveis na Lucrécio (98-55 a.C.) acreditava que
raio?
nuvem, uma outra descarga intensa tanto o raio como o trovão eram
(chamada ‘subseqüente’) pode acon- Grande parte da energia de um produzidos por colisões entre nuvens.
tecer logo após a primeira. Aproxi- raio é transformada em calor, luz, Na verdade é o rápido aquecimento do
madamente metade dos raios possui som e ondas de rádio. Apenas uma ar pela corrente elétrica do raio que pro-
descargas subseqüentes. Eles são cha- fração dela é convertida em energia duz o trovão. Assim como uma cor-
mados de raios múltiplos. Em média elétrica. Sabemos que a duração de rente elétrica aquece a resistência de
o número de descargas subseqüentes um raio é extremamente curta, assim, nossos aquecedores, a corrente do raio,
em raios múltiplos é três, mas já fo- apesar dos grandes valores de corrente ao passar pelo ar (que é um péssimo
ram observadas mais de 50 descargas e voltagem envolvidos a energia elé- condutor), aquece-o e ele se expande
subseqüentes em um mesmo raio. O trica média que um raio gasta é de com violência, produzindo um som in-
tempo entre uma descarga e outra é 300 kWh, ou seja, aproximadamente tenso e grave. Nos primeiros metros a
às vezes suficientemente longo possi- igual à de uma lâmpada de 100 W expansão ocorre com velocidade super-
bilitando ao olho humano ver não acesa durante apenas quatro meses. sônica. Um trovão intenso pode chegar
uma, mas várias descargas aconte- a 120 decibéis, ou seja, uma intensi-
É possível utilizar a energia de um
cendo no mesmo local; é quando dade comparável à que ouve uma
raio?
vemos o raio piscar. pessoa nas primeiras fileiras de um
Para que pudéssemos utilizar essa show de rock.
Sobe ou desce? energia, necessitaríamos não só
As duas coisas. Se pensarmos em capturá-la mas também armazená-la, Como saber se o raio “caiu” perto?
termos das cargas elétricas que fluem o que é ainda impossível. Para captu- A luz produzida pelo raio chega
no raio, concluiremos, como foi expli- rar raios seria necessária uma quan- quase que instantaneamente na vista
cado anteriormente, que as cargas tidade muito grande de hastes metá- de quem o observa. Já o som (trovão)
descem um bom trecho do caminho licas para aumentar a chance de que demora um bom tempo, pois a sua
antes de se encontrarem com uma fossem atingidas. No entanto, encon- velocidade é aproximadamente um
descarga que parte do solo subindo tram-se em andamento pesquisas que milhão de vezes menor. Para saber a

Física na Escola, v. 2, n. 1, 2001 A Física das Tempestades e dos Raios 21


que distância aconteceu o raio, comece podem localizar o local de sua ocor-
a contar os segundos ao ver o seu cla- rência com precisão simplesmente
rão e pare de contar ao ouvir o seu recebendo a onda eletromagnética
trovão. Divida o número obtido por produzida pelos raios.
três e você terá a distância aproximada
do raio até você em quilômetros. Essa O que são os raios induzidos?
conta se explica se tivermos em conta Uma grande dificuldade no estudo
que a velocidade do som é de aproxi- dos raios é não poder reproduzi-los em
madamente 330 m/s, ou seja, um laboratório. Como a natureza não avisa
terço de quilômetro por segundo. onde e quando o raio vai ocorrer, uma
maneira alternativa de estudá-lo con-
Se o raio dura apenas frações de siste em provocar o raio para que acon-
segundo, porque o trovão é tão teça próximo aos instrumentos de
longo? medida e no momento em que estive-
O som do trovão inicia-se com a rem preparados. Para que isso aconteça,
expansão do ar produzida pelo trecho foguetes especialmente preparados são
do raio que estiver mais próximo do lançados em direção à base de uma
observador e termina com o som nuvem de tempestade. Eles têm apro-
gerado pelo trecho mais distante (sem ximadamente 1 metro de comprimento
considerar as reflexões que possa ter). e levam consigo uma bobina de fio de
Como vimos, o canal do raio pode ter cobre que se desenrola ao longo da
dezenas de quilômetros. Assim, o som subida. O fio de cobre atua como um
gerado por uma extremidade que Foto do primeiro raio artificial induzido gigante pára-raios cuja presença induz
esteja muito distante pode chegar de- no Brasil. a ocorrência do raio. A corrente elétrica
zenas de segundos depois de ouvirmos do raio passa pelo fio e por instrumen-
o som gerado por um trecho do canal cima passando por cima do obser- tos de medida na base de lançamentos.
que estiver mais próximo. vador. Outras medidas podem ser feitas
também ao redor da base. Raios indu-
A que distância pode-se ouvir o Além da luz, o raio produz alguma zidos foram feitos pela primeira vez no
trovão? outra radiação? Brasil na sede do INPE em Cachoeira
Um trovão dificilmente pode ser Além de produzir luz, o raio pro- Paulista, em novembro de 2000.
ouvido se o raio acontecer a uma dis- duz ondas eletromagnéticas em várias
tância maior do que 25 quilômetros. outras freqüências, inclusive raios-X. Notas
Isso deve-se à tendência que o som É comum ouvirmos ruídos e chiados Mais informações sobre o assunto podem
tem de curvar-se em direção a cama- ao sintonizarmos uma rádio AM em ser encontradas na internet: www.lightning.
das de ar com menor temperatura dia de tempestade. Isso ocorre porque dge.inpe.br e com o autor, Marcelo Saba, pelo
(refração). Como a temperatura da o raio também produz ondas nesta e-mail: saba@dge. inpe.br
faixa de freqüência. Graças a essa Osmar Pinto Jr. e Iara de A. Pinto. Relâm-
atmosfera geralmente diminui com a
pagos. Ed. Brasiliense, 1996.
altura, o som do trovão curva-se para característica, antenas sincronizadas
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Imagens Múltiplas

Material alumínio. Feche a caixa e aponte-a pa- transparente) e veja a imagem for-
ra alguma coisa bem iluminada (ou mada no papel vegetal. Faça outro
• caixa de sapato;
mesmo o filamento de uma lâmpada furo no papel alumínio.
• papel vegetal;
• papel alumínio. Observe que...
Procedimento Para cada furo feito no papel alu-
mínio, aparece uma nova imagem
Corte um retângulo grande em sobre o papel vegetal.
um dos lados menores de uma caixa
de sapato e cubra-o com papel vege- Tópicos de Discussão
tal. No lado oposto abra um • Propagação retilínea da luz
quadrado de 1,5 cm de lado e cubra- • Formação de imagens na
o com papel alumínio (ver figura). câmara escura
Faça um furo pequeno no papel • Princípios da fotografia

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