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Processo de Conhecimento

Aula 1 – 03/02/2009

Processo e Procedimento

Processo e procedimento tecnicamente não se confundem.


O processo corresponde a um sistema voltado a compor a lide em juízo
através de uma relação jurídica vinculativa de direito público. É um complexo
de atividades que se desenvolvem tendo por objetivo uma prestação
jurisdicional.
Temos uma sucessão ordenada de atos dentro de modelos previstos em
lei que são os procedimentos.
O processo é então instrumento de que se utiliza o Estado para outorgar
a prestação jurisdicional. É um instrumento através do qual se opera a
jurisdição.
O processo não se desenvolve do mesmo modo em todos os casos;
exterioriza-se de maneira diferente dependendo das peculiaridades da
pretensão do autor e da defesa do réu. Uma ação de cobrança não se
desenvolve do mesmo modo que uma ação de prestação de contas ou de
consignação em pagamento.
O modo próprio de desenvolver-se o processo conforme a exigência de
cada caso é exatamente o procedimento, ou seja, o rito.
A cada tipo de processo corresponde a mais de um procedimento. O
procedimento corresponde então a maneira pela qual os atos se desenvolvem
no processo. É a forma material com que o processo se realiza em cada caso
concreto. É o aspecto formal do processo.
Autos correspondem à materialidade dos documentos em que se
corporificam os atos do procedimento.
O correto, portanto, é falar em “arquivamento dos autos do processo” e
em “fases do procedimento”.

Processo e Procedimentos de Cognição

Tendo em vista o conteúdo da prestação jurisdicional, o processo pode


ser de conhecimento, de execução e cautelar.

Processo de conhecimento: tem por finalidade a decisão sobre uma


lide e se encerra, em princípio, com uma sentença de mérito. As partes buscam
então um julgamento com a declaração do direito material aplicável ao caso
concreto.
O juiz irá conhecer nas alegações das partes e das provas produzidas
emitindo um pronunciamento final sobre a lide. A sua função é precipuamente
declaratória.
O processo de conhecimento se subdivide de acordo com a natureza do
provimento pretendido pelo autor. Pode ser: meramente declaratório,
condenatório ou constitutivo.
- Processo meramente declaratório: a simples declaração judicial já esgota a
finalidade da ação. Ex.: ação declaratória de nulidade de negócio jurídico,
usucapião, investigação de paternidade, etc. (art. 4°, CPC);
Art. 4o O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência ou da inexistência de
relação jurídica; II - da autenticidade ou falsidade de documento. Parágrafo único. É
admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

- Processo condenatório: temos a declaração do direito aplicável mais a


imposição de uma sanção. O juiz determina o cumprimento de obrigação de
fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia atribuindo um título executivo
ao vencedor da demanda (art. 475-I, CPC);
Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-A desta Lei ou,
tratando-se de obrigação por quantia certa, por execução, nos termos dos demais artigos deste
Capítulo. § 1o É definitiva a execução da sentença transitada em julgado e provisória quando
se tratar de sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo.
§ 2o Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover
simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.

- Processo constitutivo: temos a declaração do direito aplicável mais uma


inovação específica no mundo jurídico. O provimento jurisdicional cria, extingue
ou modifica um estado ou uma relação jurídica. Ex.: ação de rescisão de
contrato, de divórcio, separação judicial, de anulação do negócio jurídico por
vício do consentimento, etc.

Processo de execução: visa à satisfação de uma obrigação expressa em


título produzido em processo de conhecimento (ver títulos executivos judiciais –
art. 475-N, CPC) ou em negócio jurídico documentado (ver títulos executivos
extrajudiciais – art. 585, CPC).
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: I – a sentença proferida no processo civil que
reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II – a
sentença penal condenatória transitada em julgado; III – a sentença homologatória de
conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo; IV – a sentença
arbitral; V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI – a
sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; VII – o formal e a certidão
de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a
título singular ou universal. Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado
inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou
execução, conforme o caso.
Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a
duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado
pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o
instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos
advogados dos transatores; III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e
caução, bem como os de seguro de vida; IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio; V - o
crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de
encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; VI - o crédito de serventuário
de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou
honorários forem aprovados por decisão judicial; VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda
Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios,
correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; VIII - todos os demais títulos a que, por
disposição expressa, a lei atribuir força executiva. § 1o A propositura de qualquer ação relativa
ao débito constante do título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução. § 2o
Não dependem de homologação pelo Supremo Tribunal Federal, para serem executados, os
títulos executivos extrajudiciais, oriundos de país estrangeiro. O título, para ter eficácia
executiva, há de satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua
celebração e indicar o Brasil como o lugar de cumprimento da obrigação.
A idéia é alcançar a realização concreta do direito material emergente do
título executivo. Não se busca, portanto, uma sentença de mérito, mas atos
materiais voltados à solução do direito de crédito.

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