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TRILHAS NO PARQUE ESTADUAL DO RIO DOCE-MG: UMA REFLEXÃO

SOBRE A INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE


MANEJO EM ÁREAS PROTEGIDAS.
Francisco Neves Carvalho – IBAMA – francisco-neves.carvalho@ibama.gov.br – 031
3299 0831
Gabriel Azevedo Carvalho – autônomo – ga_carvalho@hotmail.com - 031 3282 2683
Valéria Amorim do Carmo – UFMG – vamorimbh@yahoo.com.br – 031 3499 5432
Vitor Marcos.Aguiar de Moura – autônomo – vmamoura@gmail.com – 031 3285 1734
Eixo temático – o homem: trilhas interpretativas e educação ambiental

Introdução

Apesar de existir um grande esforço, por parte dos gerentes das Unidades de
Conservação - UCs para que seja feito, junto aos visitantes, um trabalho de sensibilização
para a importância da conservação dos recursos naturais, o que se constata é que os
visitantes procuram a maioria das unidades, principalmente os Parques, tendo o lazer e a
recreação como seus objetivos mais importantes. Além disso, a visitação na maioria de
nossos Parques é ainda bastante incipiente, tanto em número de pessoas, quanto ao que
se oferece a esses visitantes.
Essa realidade aponta para a necessidade de desenvolver programas voltados
não só para estimular a visitação às Unidades de Conservação, mas também para que o
visitante ao deixar um Parque, por exemplo, leve algo mais do que boas recordações. É
fundamental que ele conheça a importância do que, naquele local, se procura preservar
ou conservar. Não só isso! É preciso cativar os visitantes, mostrar-lhes que os ambientes
e as espécies ali protegidos, os objetos e documentos que fazem parte do acervo de uma
exposição, podem ter uma estreita relação com o seu dia-a-dia e, com isso, fazer com
que os mesmos se tornem aliados daqueles que têm a responsabilidade de proteger os
patrimônios natural, histórico e cultural das Unidades de Conservação.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, instituído
pela Lei Federal 9.985/2000, estabelece como um dos objetivos para a categoria Parque:
“favorecer condições e promover a educação e a Interpretação Ambiental, a recreação em
contato com a natureza e o turismo ecológico”. Esse é, portanto, o desafio posto: conciliar
as expectativas do visitante com o que propõe o SNUC.
Um dos instrumentos que pode proporcionar os meios para se alcançar essa meta
é a Interpretação e também, a Recreação Ambiental. Seus objetivos principais residem
em buscar, através da motivação dos visitantes, o despertar para a formação de uma
consciência mais sensível, tanto em relação aos problemas ambientais, quanto aos
culturais e históricos.
Para isso, a Interpretação dispõe de técnicas que têm como vantagem, serem
desenvolvidas de forma prazerosa e descontraída, características importantes em se
tratando de atividades que serão desenvolvidas em lugares onde o visitante busca a
informalidade, o descanso e o lazer como é o caso de um Parque.
Dentre as atividades oferecidas aos visitantes, dentro de um Parque, destaca-se a
caminhada. Na maior parte das vezes, elas possuem um caráter muito mais recreativo do
que propriamente educativo. Entretanto, caminhadas em trilhas são atividades com
potencial para propiciar aos seus usuários, além do lazer e entretenimento, um maior
conhecimento sobre o caminho percorrido. A Interpretação e a Recreação Ambientais,
quando aplicadas em trilhas, por exemplo, podem promover uma melhoria da qualidade
da visitação, uma vez que estando mais sensibilizado para as causas conservacionistas,
o público irá proceder, durante sua permanência na Unidade, de uma maneira mais
responsável no que diz respeito à proteção dos recursos ambientais ali existentes.
As caminhadas, portanto, deixaram de ser apenas objetos de lazer para se
tornarem, também, “ferramentas” de fundamental importância para auxiliar na gestão das
Unidades de Conservação.

Objetivo

O presente artigo tem como objetivo fazer uma reflexão com base na revisão de
conceitos e no planejamento técnico executivo, enfatizando os aspectos ligados à
Interpretação e Recreação Ambientais em áreas protegidas, especialmente em Unidades
de Conservação.

Metodologia

Este trabalho resulta de vários anos de observação e análise, principalmente em função


de pesquisas realizadas durante a execução do Projeto Doces Matas1, no que se refere

1 O Projeto Doces Matas foi um projeto de cooperação técnica Brasil/Alemanha, desenvolvido em parceria com Instituto
Estadual de Florestas - IEF, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA/Superintendência de Minas Gerais, a Fundação Biodiversitas e a Agência Alemã de Cooperação Técnica –GTZ.
às atividades oferecidas aos visitantes de nossas Unidades de Conservação. A
metodologia aplicada pode ser sintetizada da seguinte forma:
1 - Identificação de trabalhos de Interpretação Ambiental.
Dentro do Grupo Temático de Interpretação Ambiental foram realizados por parte dos
autores deste artigo, levantamentos em Unidades de Conservação mineiras, de Santa
Catarina, Bahia, Costa Rica e Chile com o objetivo de diagnosticar o "estado da arte" da
Interpretação Ambiental, dentro das Unidades de Conservação. Esses lugares foram
escolhidos a partir de um levantamento prévio sobre unidades que adotam a prática da
Interpretação Ambiental com seus visitantes.
2 - Análise sobre o Uso Público em Unidades de Conservação.
Além das atividades de Interpretação Ambiental propriamente, buscou-se conhecer de
uma maneira mais geral, alguns aspectos relacionados ao Uso Público como: a natureza
das atividades oferecidas na Unidade (caminhadas, contemplações, passeios náuticos,
dentre outros), a análise do perfil dos visitantes e o seu comportamento durante a estada
na Unidade (deposição do lixo, cuidados com os recursos ambientais, principalmente em
relação à fauna e flora, e com o patrimônio material), além da expectativa e demandas em
relação à visita.
3 - Consolidação e divulgação da Interpretação e da Recreação Ambientais.
A vivência com as temáticas de Interpretação e Recreação Ambientais proporcionadas
pelas etapas anteriores somadas à publicação de trabalhos como o “Manual de
Introdução à Interpretação Ambiental”, “Recomendações para Planejamento de Uso
Público em Unidades de Conservação”, “Brincando e Aprendendo com a Mata”, criou
condições para que alguns dos autores deste artigo, passassem a divulgar a
Interpretação e a Recreação Ambientais. Dentre os meios utilizados destacam-se: as
palestras; a publicação e apresentação de trabalhos em Congressos; a inserção da
disciplina de Interpretação Ambiental na grade curricular de cursos de graduação em
Geografia e Turismo da Universidade Federal de Minas Gerais; a elaboração de planos e
projetos de Uso Público para UCs, enfatizando a Interpretação e a Recreação Ambientais;
e a elaboração de projetos específicos de trilhas e outras atividades em Unidades de
Conservação, incluindo a Interpretação e a Recreação Ambiental.
4 - Revisão de Conceitos e Reflexão sobre a necessidade do planejamento das atividades
de Interpretação e Recreação Ambientais.

Contou em sua estrutura com alguns grupos temáticos, como o de Planos de Manejo, Ecoturismo, Interpretação Ambiental
e Práticas Ambientais Sustentáveis.
A partir da experiência acumulada e da elaboração de projetos para seis trilhas do
Parque Estadual do Rio Doce – MG, realizado para o Instituto Estadual de Florestas de
Minas Gerais / Projeto de Proteção da Mata Atlântica – PROMATA, os autores realizaram
a reflexão acima assinalada, resultando no presente artigo.

Resultados/Discussão

Para descrever a reflexão proposta por este artigo, inicialmente relata-se uma
breve revisão dos conceitos de Interpretação e Recreação Ambientais, seguida de uma
apresentação das principais diretrizes que devem nortear o planejamento das atividades
interpretativas e recreativas dentro das Unidades de Conservação. Finalmente apresenta-
se uma síntese dos principais aspectos dos projetos de seis trilhas elaborados para o
Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais.
a) Revisão de conceitos
Tilden, em 1957, formulou o que se conhece como o primeiro conceito de
Interpretação: uma atividade educativa, que se propõe revelar significados e inter-
relações por meio do uso de objetos originais, do contato direto com o recurso e de meios
ilustrativos, em vez de simplesmente comunicar informação literal (TILDEN, 1977:8)
Embora claro para aqueles que vivenciavam a Interpretação do Patrimônio,
especialmente nos Estados Unidos da América, país de origem do autor desse conceito, a
Interpretação para ser entendida de forma mais completa, necessitava apoiar-se em
entendimentos complementares, mormente, aqueles que se referem aos seus princípios,
que também foram estabelecidos, na mesma ocasião, por Tilden.
Esses princípios, em número de seis, são:
Princípio 1 -Qualquer Interpretação que não relaciona, de alguma forma, o que
se está exibindo ou descrevendo, com algo da personalidade ou experiência do visitante
será estéril.
Princípio 2 - A informação, como tal, não é Interpretação. Elas se diferenciam,
sendo que a Interpretação utiliza revelações baseadas em informação. Toda
Interpretação, portanto, inclui informação. Mas isso não significa que só informação seja
Interpretação.
Princípio 3 - A Interpretação é uma arte que combina com muitas outras artes;
independente dos materiais apresentados serem científicos, históricos ou arquitetônicos.
Como arte, é possível, de alguma forma, ser ensinada.
Princípio 4 - O propósito principal da Interpretação não é a instrução, o ensino,
mas sim, a provocação para estimular a curiosidade e o interesse do visitante.
Princípio 5 -A Interpretação dirigida às crianças não deve ser um
desmembramento da apresentação para adultos, mas, sim, ter uma abordagem
fundamentalmente diferente. Neste caso, o melhor é dispor de programas separados e
específicos.
Princípio 6 - A Interpretação deve apresentar os fatos na sua totalidade,
evitando a fragmentação. Ou seja, eles não devem ser tratados de uma forma isolada e
sem suas respectivas inter-relações no contexto.
São esses seis princípios que permitem caracterizar a Interpretação como
atividade, significativa, prazerosa, diferenciada, organizada e sobretudo, temática2 .
Mais tarde, outros princípios foram agregados a esses seis, tanto por Tilden,
quanto por outros autores. Alguns desses, por sua vez, formularam também novos
conceitos sobre a Interpretação. Dentre eles são aqui destacados:
(...) a Interpretação Ambiental envolve a tradução da linguagem técnica de
uma ciência natural, ou outro campo relacionado, em termos e idéias, para
que as pessoas em geral, não cientistas, possam facilmente compreender.
E isto implica fazê-lo de uma maneira divertida e interessante para essas
pessoas. (HAM, 1992:3)

(...) a Interpretação Ambiental é uma técnica didática, flexível moldável às


mais diversas situações, que busca esclarecer os fenômenos da natureza,
para determinado público-alvo, em linguagem adequada acessível,
utilizando os mais variados meios auxiliares para tal. (PAGANI et al,
1998:154)

No Brasil, não obstante a Interpretação ser um tema que se discute há algumas


décadas, observa-se que há uma lacuna na literatura técnica disponível sobre o assunto.
São poucas as publicações nacionais que tratam da Interpretação do ponto de vista
teórico.
Se os exemplos teóricos são poucos, os práticos são ainda mais rarefeitos. Em
alguns locais, atividades oferecidas a um determinado público, especialmente aquelas
realizadas em trilhas, são muitas vezes classificadas como interpretativas, quando na
verdade, tratam mais de recreação do que propriamente interpretação.
É comum encontrarem-se trilhas que apresentam aos seus usuários placas com
informações, ou mesmo falas de um guia, que transmitem apenas fatos pontuais e

2 Em Interpretação o tema é representado por uma mensagem, expressa por uma oração completa.
mesmo que essas sejam agradáveis e bem formuladas não podem concorrer para que a
atividade seja classificada como interpretativa, pois lhes faltam as características mais
marcantes da Interpretação: temáticas e organizadas. São, portanto, atividades que
devem ser classificadas como recreativas e não interpretativas.
Essa constatação gerou uma certa inquietação em relação à aplicação da teoria
da Interpretação, no Brasil. Observou-se que o entendimento do que é Interpretação,
muitas vezes é prejudicado em função do desconhecimento de tudo aquilo que contribuiu
para a formulação dos conceitos de Interpretação, ou seja, dos seus princípios.
É importante, dessa forma, que os conceitos de Interpretação sejam internalizados
de forma inseparável de seus princípios e ainda que se diferencie a Interpretação, da
Recreação. Essa última também deve ser diferenciada da recreação física, onde o
esforço físico é o principal valor agregado. A Recreação Ambiental é considerada como
uma “atividade lúdica, educativa e recreativa, que tem como objetivo principal transmitir
conhecimentos sobre os recursos naturais e seus processos biológicos, levando em conta
as intervenções antrópicas." (PROJETO DOCES MATAS, 2005).
Ambas, Interpretação e Recreação, podem e devem ser utilizadas como
instrumentos de sensibilização daqueles que as utilizam. Em muitos casos a segunda
pode representar, inclusive, um meio interpretativo a ser considerado no projeto de
Interpretação.
Em resumo, entendem os autores, que a Interpretação e a Recreação Ambientais
devem ser apresentadas com suas características mais marcantes de modo a diferenciá-
las.
b)Planejamento de atividades interpretativas e recreativas.
De um modo geral as atividades de Interpretação e de Recreação são aplicadas
em áreas protegidas e nessas, em sua maior parte, nas Unidades de Conservação3. De
acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação de Natureza – SNUC,
todas as Unidades devem dispor de um Plano de Manejo, que é entendido como um
“documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais
de uma Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as
normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos
naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à
gestão da Unidade” (Ibama, 2002).

3 Unidade de Conservação é o espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,
ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.
Os planejamentos para as Unidades de Conservação (planos de manejo), de
acordo com a metodologia4 utilizada pelo Ibama, são elaborados com base em Áreas de
Atuação5, enquadrando-se as atividades propostas em Programas Temáticos. São esses
programas temáticos, por sua vez, que podem incluir as atividades de Interpretação e
Recreação.
Essas atividades, normalmente incluídas nos planos de manejo em programas
temáticos de visitação, educação ou uso público, têm a grande finalidade de sensibilizar
os usuários levando-os a entender os propósitos de criação da Unidade de Conservação
visitada.
No entanto, sabe-se que essa base teórica nem sempre é aplicada nas Unidades
de Conservação de nosso país, como pode se constatar quando se observa a natureza
de grande parte das atividades oferecidas. Em algumas dessas atividades que envolvem
a prática de recreação física, embora sejam agregados alguns valores sobre a proteção
ambiental, falta-lhe algo mais que, no entendimento dos autores, poderá permitir uma
maior sensibilização dos visitantes.
Esse algo mais refere-se à Interpretação e à Recreação Ambientais que, se bem
aplicadas, podem se constituir em importantes instrumentos de manejo nas áreas
protegidas. Para que isso possa acontecer há que se planejar essas atividades com maior
embasamento técnico, cujo fundamento, entendem os autores, deve residir,
especialmente, na observância aos conceitos estabelecidos para essas matérias, assim
como no cuidado em se propiciar uma maior diversidade possível das ações a serem
propostas.
No planejamento global de uma Unidade de Conservação, propõem-se as ações
para os diversos programas temáticos com base no zoneamento da unidade e levando
em conta, ainda, os objetivos gerais e específicos dessa área protegida.
Da mesma forma, ao se pensar no planejamento da Interpretação e Recreação
Ambientais é preciso considerar esses mesmos aspectos (objetivos e zoneamento da
Unidade) e é precisamente nesse ponto que se destaca a importância da diversidade das
ações a serem planejadas.
Essa diversidade é que propiciará ao visitante um claro entendimento de tudo
aquilo que se protege naquela unidade, assim como seus objetivos e a razão de ter sido

4 Roteiro Metodológico de Planejamento – Parque Nacional -Reserva Biológica –Estação Ecológica


5 Áreas de Atuação são espaços específicos que visam o gerenciamento da unidade de conservação, estabelecendo, tanto em seu interior
quanto em seu exterior (zona de amortecimento e região) áreas estratégicas, as ações a serem desenvolvidas em cada uma destas áreas,
organizando seu planejamento segundo programas temáticos (Ibama, 2002)
criada. Resumindo, faz-se necessário planejar e posteriormente elaborar projetos
específicos, cujos objetivos sejam sensibilizar os visitantes para os vários aspectos da
conservação da unidade incluindo todos os elementos protegidos: flora, fauna, águas,
paisagens, histórico-cultural, etc.
Em atividades diferentes (caminhadas, observações de animais, passeios
náuticos, observações de paisagens, etc.), portanto, deve-se enfocar um ou mais tópicos6
(aves , floresta, a importância das águas, o modo de vida dos povos antigos, etc.) para
que o visitante ao término de sua visita possa entender como já mencionado, a razão da
criação daquela unidade.
No planejamento devem se buscar ainda, formas de propiciar aos visitantes
alternativas quanto à realização das atividades propostas. Ou seja, salvo riscos para o
visitante ou o ambiente, as atividades não devem ser oferecidas somente de uma forma
como, por exemplo, guiadas. Há que se respeitar aqueles que desejam andar sozinhos
por trilhas e outros espaços. Da mesma maneira deve-se diversificar quanto à utilização
da Interpretação ou mesmo da Recreação. Daí a diversidade a ser planejada: guiada,
autoguiada, interpretativa e/ou recreativa. O importante é que sejam agregados valores da
proteção ambiental à cada uma das atividades propostas.
Ainda quanto à diversidade é importante destacar a que se refere ao público-alvo.
Os visitantes de nossas unidades devem merecer atividades preparadas especificamente
para o segmento ao qual pertencem: crianças, adultos, cientistas, pessoas com
deficiência, etc. O conteúdo, a linguagem, o local e modo de realizar essas atividades
devem ser cuidadosamente planejados com a finalidade de evitar constrangimentos ao
grupo com o qual se trabalha.
A diversidade do planejamento pode ser graficamente resumida na figura abaixo
(FIG.1) transcrita da publicação, ”Recomendações para Planejamento de Uso Público em
Unidades de Conservação”, do Projeto Doces Matas.

6 Em Interpretação, tópico é o assunto que se trata.


Figura 1- Características do Plano de Uso Público, quanto à diversificação das atividades

TIPO FORMA PÚBLICO-


ALVO

A 1 - G UIA D A IN T ER PR ETA TI VA A1 - CRIANÇAS

ATIVIDADE A A 2 - G UIAD A NÃ O IN TERP RETAT IVA A2 - ESTUDANTES

A3 - A U T O G U I A D A INTERPRETATIVA A3 - ADULTOS
Pressupõe vários
tipos: caminhadas,
passeios náuticos,
observação de
animais,
contemplações,
etc...

COMPLEMENTARIDADE

As atividades propostas devem conectar-se entre si, no sentido de propiciarem a seus


usuários um entendimento sobre o maior propósito da Unidade, a conservação dos recursos
ambientais.

c) Os Projetos elaborados para o Parque Estadual do Rio Doce.


O Parque Estadual do Rio Doce7, através de seu Plano de Uso Público, propõe
várias caminhadas, distribuídas em alguns pontos do Parque, porém mais concentradas
na Zona de Uso Intensivo, local mais visitado pelos turistas e onde se situa a Lagoa do
Bispo, principal atrativo do Parque. Dessas caminhadas, atualmente, apenas uma delas é
oferecida ao público visitante, de forma sistematizada. O Programa de Proteção da Mata
Atlântica – PROMATA, originado de acordo de cooperação com o Governo da Alemanha
e concebido para ajudar a desenvolver as Unidades de Conservação que integram a Mata
Atlântica no Estado de Minas Gerais, inclui entre essas Unidades o Parque Estadual do
Rio Doce. Com vistas a implementar a atividade turística nesse Parque, o PROMATA, se
propôs a promover a execução de algumas trilhas, daquelas que estão previstas no Plano
de Uso Público. No total são seis trilhas, cujos projetos foram elaborados pelos autores e
concebidas com o objetivo de ampliar a diversidade de roteiros e de públicos
diferenciados, ao mesmo tempo em que se procurou, também, proporcionar ao Parque

7 Localiza-se na Região Leste do Estado de Minas Gerais, mais precisamente no Vale do Aço, abrangendo terras dos municípios de
Marliéria, Timóteo e Dionísio.
uma melhor adequação das atividades de Uso Público, em especial as que se referem a
caminhadas.
No quadro abaixo (FIG.2), de forma resumida, são apresentadas as principais
características das trilhas, observando-se que entre elas há uma complementaridade em
relação ao que de mais importante se tem para apresentar quanto à conservação dos
recursos ambientais do Parque. É também destacada a diversidade dessas atividades
representada pelas várias maneiras de se realizar a atividade de caminhada: guiada e/ou
autoguiada, interpretativa ou não. Outro ponto importante é a diferenciação: oferta de
atividades para vários públicos-alvo.

Figura 2 – Principais características das trilhas propostas para o Parque Estadual do Rio
Doce
Nome da Modalidade Objetivos Tópicos a Públicos-
Trilha Desenvolver alvo
Trilha para Guiada e • Sensibilizar as Os cuidados com Crianças
Crianças autoguiada crianças para a os habitantes da
necessidade de se mata
cuidar dos animais;
• Dar a conhecer
Interpretativa

algumas das espécies


da fauna, existentes no
Parque, e seus
hábitos;
• Sensibilizar as
crianças para a
necessidade de um
comportamento
diferenciado dentro de
áreas protegidas.
Nome da Modalidade Objetivos Tópicos a Públicos-
Trilha Desenvolver alvo
Trilha do Guiada • Sensibilizar os A Adulto e
Vinhático visitantes para as interdependência Jovem
interdependências e entre os seres da
relações entre os floresta;
elementos da floresta, A mata depois do
principalmente árvores incêndio
e animais e ainda,
mostrar o seu papel na
Interpretativa

recomposição da mata
após o incêndio;
• Propiciar aos visitantes
uma vivência na mata;
• Explorar o uso dos
sentidos (paladar,
visão e tato);
• Dar a conhecer
algumas espécies
botânicas da mata do
Parque.
Trilha do Autoguiada • Sensibilizar os A importância da Comum a
Pescador visitantes para a mata ciliar; a vários
importância da mata pescaria públicos-
ciliar; alvo
• Possibilitar a
contemplação de
paisagens da Lagoa
Interpretativa

do Bispo;
• Dar a conhecer um
pouco da história da
pescaria no Parque;
• Mostrar os efeitos do
Incêndio de 1967, na
área de mata dessa
trilha;
• Convidar o visitante a
conhecer o Centro de
Visitantes e outros
atrativos da Unidade.
Nome da Modalidade Objetivos Tópicos a Públicos-
Trilha Desenvolver alvo
Trilha da Guiada • Transmitir Mata Atlântica Crianças,
Campolina conhecimentos através jovens e
de processos adultos
pedagógicos sobre a
Não Interpretativa

dinâmica da floresta;
• Possibilitar aos
visitantes uma vivência
na mata;
• Sensibilizar o visitante
para a importância da
mata como
ecossistema e
elemento de proteção
dos cursos dá água.
Trilha da Guiada • Propiciar aos visitantes Uma aventura na Adulto e
Juquita uma vivência na mata; mata Jovem
• Dar a conhecer
algumas
características da Mata
Atlântica e os
problemas que vem
Não Interpretativa

enfrentando;
• Possibilitar a
contemplação de
paisagens da Lagoinha
e da Lagoa Juquita;
• Propiciar a
possibilidade de uma
atividade física mais
intensa representada
por arvorismo8 de
baixo impacto e
caminhada de
percurso mais extenso

8 Esporte que conta com cabos e cordas para que o usuário possa atingir as copas das árvores, assim como deslocar-se entre uma árvore e
outra.
Nome da Modalidade Objetivos Tópicos a Públicos-
Trilha Desenvolver alvo
Trilha do Guiada • Transmitir Floresta, solos e Adulto e
Angico conhecimentos através árvore crianças
Vermelho de princípios
pedagógicos e
Não Interpretativa

recreativos, sobre os
processos biológicos
que envolvem a mata,
os solos, etc.;
• Possibilitar a
contemplação de
paisagens da Lagoa
do Bispo;
• Oferecer atividades
recreativas.

Conclusões

Após as reflexões apresentadas, pode-se chegar a algumas conclusões:


1 - A Interpretação Ambiental deve ser aplicada em nossas Unidades de Conservação
como um instrumento de manejo, objetivando a sensibilização dos visitantes para o
entendimento dos propósitos que levaram uma UC a ser criada.
2 - A Recreação Ambiental deve ser diferenciada da Interpretação podendo, entretanto, a
primeira ser utilizada como meio interpretativo da segunda.
3 - A Interpretação e a Recreação devem ser planejadas com base nos objetivos gerais e
específicos da Unidade de Conservação, levando-se em conta ainda o zoneamento dessa
Unidade.
4 - O Planejamento das atividades de Interpretação e Recreação Ambientais, assim como
a elaboração dos projetos específicos, deve considerar a maior diversidade possível em
relação ao: tipo de atividade (caminhadas, observações, etc); forma como é realizada
(guiada, autoguiada, interpretativa ou não, recreativa, etc); e público-alvo ao qual se dirige
(adultos, crianças, pessoas com deficiência,etc)

Bibliografia citada

BRASIL. Lei 9.985, de 18 de julho de 2000. Dispõe sobre o sistema nacional de


unidades de conservação da natureza.
CARVALHO et al. Manual de Introdução à Interpretação Ambiental. Belo Horizonte.
2002. 108p
HAM, S. H. Environmental Interpretation: a practical guide for people with big ideas
and small budgets. Colorado: North American Press. 1992.456p
IBAMA. Roteiro Metodológico de Planejamento – Parque Nacional, Reserva
Biológica, Estação Ecológica. Brasília:2002. 135p
PAGANI, F et alli. As Trilhas Interpretativas da Natureza e o Ecoturismo. In: Vasconcelos,
F. P. (org.) Turismo e meio ambiente. Fortaleza: FUNECE, 1998. 151 a 163 P.
PROJETO DOCES MATAS. Recomendações para planejamento de uso público em
unidades de conservação. Belo Horizonte. 2005. 36 p.
PROJETO DOCES MATAS. Brincando e aprendendo com a mata: manual para
excursões guiadas. Belo Horizonte. 2002. 407p
TILDEN, F. Interpreting our heritage. 3ª edition. North Carolina: The University of North
Carolina Press. 1977. 117p.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos coordenadores, técnicos e demais integrantes do Programa


de Proteção da Mata Atlântica – PROMATA, pelo apoio e disponibilidade das informações
necessárias à elaboração do presente artigo.

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