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ANÁLISE AMBIENTAL DE TRILHA EM GOUVEIA – MG,

DESENVOLVIMENTO INICIAL DE METODOLOGIA.

MSc. Vitor Marcos Aguiar de Moura – arquiteto, autônomo


vmamoura@gmail.com / 31 – 3285-1734
MSc. Patrícia Oliveira Morais – bióloga, autônomo
pomorais@yahoo.com.br / 31-3443-5232
Fabiano Reis Silva – geógrafo, mestrando IGC-UFMG
fabianogeo@oi.com.br / 31-8808-5810
Eixo temático: A Trilha; Subeixo: Planejamento e Manejo

Introdução
Atualmente, no Brasil, as atividades de planejamento e gestão de trilhas estão
em estágio inicial de desenvolvimento, fato constatado na etapa de pesquisa
bibliográfica deste trabalho. Por outro lado existe um grande ritmo de implantação e
utilização de trilhas, principalmente em unidades de conservação, pois estas são os
caminhos e interfaces que permitem o desenvolvimento das atividades básicas de uso
público, educação e pesquisa, nestas áreas protegidas. As trilhas ligam pontos,
atravessam diferentes ambientes e são, ao mesmo tempo um dos principais
elementos causadores de impactos dentro das unidades de conservação.
Na bibliografia científica pesquisada observou-se uma grande concentração
numa análise parcial das características ambientais das trilhas, ficando quase sempre
no âmbito dos estudos de declividade, de superfícies, uso público e aspectos
construtivos de implantação, dissociados de uma análise ambiental mais profunda e
integrada. Não foram encontrados estudos que considerassem, de forma mais
abrangente, os aspectos físicos, bióticos e antrópicos, nos moldes dos estudos
ambientais mais completos. Tampouco encontramos um estudo que permitisse
desenvolver uma base metodológica ampla, para um diagnóstico das condições de
fragilidade numa trilha existente.
Dentro deste quadro detectou-se uma demanda por um estudo que abrangesse
e integrasse estas características ambientais básicas, permitindo a análise ambiental
ampla de uma trilha existente.

Objetivos
O objetivo geral do trabalho ora apresentado foi desenvolver uma metodologia
básica de análise ambiental dos principais fatores ambientais que influenciam o

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planejamento, implantação e manutenção de uma trilha. Tendo em vista uma análise s
ampla sobre a interação de fatores dos meios físico, biótico e antrópico.
Dentro desta metodologia idealizada um objetivo específico seria identificar
trechos de fragilidade da trilha em questão, visando gerar subsídios para atividades de
planejamento de trilhas existentes ou a serem implantadas.
Um segundo objetivo específico do trabalho foi, através de um estudo de caso,
desenvolver e testar esta metodologia em campo. Os autores desenvolveram este
trabalho cursando a disciplina Geomorfologia Dinâmica, oferecida dentro do currículo
do Mestrado do Programa pela Pós-graduação em Geografia, do IGC – Instituto de
Geociências da UFMG. Para tanto foi necessária a escolha do local de estudo,
pesquisa bibliográfica específica sobre a área de contexto, sobre os aspectos de
análise ambiental a serem envolvidos na análise da trilha e a identificação prévia dos
condicionantes ambientais envolvidos nesta proposição de análise.

Metodologia
A trilha escolhida deveria estar em local com estudos científicos já realizados,
fato primordial, frente ao tempo reduzido para o desenvolvimento do estudo, dentro da
já citada disciplina acadêmica. Seriam especialmente interessantes estudos na área
de geomorfologia e pedologia, que se mostraram, de início, como disciplinas
fundamentais e determinantes para o trabalho. A área de Gouveia-MG tem sido alvo,
há mais de 10 anos, de diversos estudos do IGC – Instituto de Geociências da UFMG,
dentro da Geografia e Geologia.
O local escolhido, parte da Bacia do Córrego Quebra, localiza-se no município
de Gouveia, na região central de Minas Gerais, especificamente na porção Meridional
da Serra do Espinhaço. Este município possui grande parte de sua área incluída numa
depressão alongada no sentido N-S escavada em seqüências de origem pré-
cambriana do Espinhaço Meridional (SAADI & VALADÃO, 1987). Essa depressão é
denominada “Depressão de Gouveia” e é circundada, em todas às direções por
escarpamentos quartzíticos do Espinhaço.
A rede hidrográfica do município é composta por subsidiários do Rio Paraúnas,
que pertence à Bacia do Rio São Francisco. Cerca de 80 % do relevo do município é
do tipo montanhoso ou ondulado, sendo reflexo da geologia (quartzitos e xistos) que
predomina na região. A altitude média do município encontra-se em torno de 1050
metros. As maiores altitudes estão concentradas sobre os topos residuais das cristas
monoclinais dos quartzitos pertencentes ao Supergrupo Espinhaço, em média 1400
metros, e as menores altitudes encontram–se ao longo dos fundos dos vales inferiores
a 1000 metros (SAADI & VALADÃO , 1987).

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O Município possui uma área de 874,9 Km2 (IBGE, 2001) e sua população gira
em torno de 11.738 habitantes (IBGE, 2001). A sede do município de Gouveia fica
próximo a Diamantina, a cerca de 50 km de distância, especificamente na micro-região
mineradora de Diamantina (ver Figura 1), estando a cerca de 250 km de Belo
Horizonte, tendo como principais acessos as BR’s 040, 135 e 259. O município possui
rico patrimônio natural, composto por inúmeras cachoeiras e pelas serras de Santo
Antônio e do Chapéu do Sol (PREF. MUN. DE GOUVEIA, 2002).
A área específica de estudo localiza-se na Bacia do Córrego do Quebra, a NW
da sede do município, próximo ao vilarejo de Cuiabá. Foi analisada uma trilha
existente que atravessa duas vertentes nas margens esquerda e direita do córrego do
Quebra. As vertentes apresentam uma paisagem bastante alterada por fatores de
origem antrópica, entre eles estradas, cercas, muros e valos de divisa, áreas de
desmatamento e de pecuária extensiva. Existem nesta área grandes voçorocas,
provavelmente causadas por fatores naturais, climáticos, pedológicos e
geomorfológicos e intensificadas pelo o modelo de uso e ocupação antrópica da área,
principalmente pelos processos de mineração e desmatamento.

Figura 1 – Localização do Município de Gouveia e da Micro-região Mineradora de


Diamantina, (in: SALGADO, 2002, adaptado de PORTILHO et al., 2000).

A realização do trabalho foi concretizada pelo levantamento/análise de fontes


secundárias, principalmente buscando informações geográficas, biológicas e
geológicas, e por trabalho de campo na área de estudo. Tendo em vista, que a
disponibilidade de metodologias para o estudo e o levantamento de trilhas é escassa;
buscamos desenvolver uma seleção de fatores que permitisse a análise e o

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levantamento dos elementos e processos, naturais e antrópicos, que seriam
importantes para o condicionamento da implantação e utilização de uma trilha ao
longo de uma área já bastante alterada pelo homem. Neste sentido, o trabalho foi
dividido em três etapas, descritas a seguir, a fim de facilitar a identificação e a
caracterização dos elementos presentes ou atuantes na trilha.

Etapa 1- levantamentos preliminares

A primeira etapa do projeto iniciou-se pelo levantamento do material de


referência junto a mapas e perfis (topográficos, pedológicos, geológicos e
vegetacionais), imagens de satélite, metodologias para o levantamento de trilhas
turísticas, trabalhos acadêmicos realizados na área de estudo e referências
bibliográficas.

Etapa 2- trabalho de campo


A segunda etapa foi realizada em campo na área de estudo, entre os dias 26 e
30/10/2003. Foram feitas observações, descrições e análises da área, focalizando e
mapeando o traçado de uma trilha existente, que liga duas vertentes específicas da
Bacia do Córrego do Quebra. A partir da identificação do traçado inicial da trilha,
iniciamos o percurso pelo interflúvio da “vertente menor”, a oeste, finalizando no
interflúvio da “vertente maior”, a leste (ver Figura 3). Ao longo da trilha foram
identificados e plotados 19 pontos que apresentavam elementos importantes para a
construção do projeto de análise. Foram observadas e descritas as suas principais
características nos seguintes aspectos:

• solo – classificação (de acordo, com as referências bibliográficas e estudos


realizados na área), cor, textura, compactação, presença de seixos ou
cascalhos, afloramentos rochosos, presença de veios de quartzo;
• vegetação – classificação (de acordo, com as referências bibliográficas) e
descrição, espécies predominantes, densidade e altura das espécies, cobertura
do solo, raízes, formação de serrapilheira;
• drenagem da água – formação de canais de escoamento, proximidade da
calha do rio;
• indícios de ação antrópica – cercas, muros de pedra, valos, presença de
pecuária, estradas, vestígios de queimadas;
• erosão – voçorocas, ravinas, escorregamentos, trincheiras;
• presença de cupinzeiros, formigueiros e buracos de tatu;
• morfologia das vertentes; e outros.

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Em cada ponto, foram plotadas as coordenadas geográficas (sistema UTM, Datum
Córrego Alegre), utilizando o receptor GPS Garmin 12. Este procedimento se mostrou
indispensável para a representação futura dos resultados em mapa e para a
realização de perfil topográfico da trilha, que foi traçado conjuntamente com o
processo de mapeamento. Para o traçado do perfil os pontos foram plotados em mapa
topográfico detalhado, fornecendo a altitude exata, segundo o levantamento com
eqüidistância de curvas de nível de 1m.

Foi realizada a documentação fotográfica (ver Figura 2), que incluiu documentação
de detalhes, de contexto e os aspectos mais característicos de cada ponto analisado.

O trabalho de campo na área de estudo possibilitou a observação e a interpretação


dos componentes antrópicos e naturais que estão presentes ao longo da trilha, além
de permitir a descrição e análise preliminar dos processos ambientais presentes na
área de estudo.

Figura 2 – De cima para baixo, da esquerda para a direita, fotos dos pontos 2, 5, 8
e 15, mostrando diferentes aspectos da trilha estudada no trabalho.

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Figura 3 – Mapa topográfico da área de estudo com inserção da trilha, representação
cartográfica dos resultados do trabalho prático executado dentro da disciplina
Geomorfologia Dinâmica/Mestrado em Geografia – IGC-UFMG.

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Etapa 3 – análise dos dados

A terceira etapa iniciou-se pela organização e a análise dos dados colhidos em


campo; e partindo disto foram elaborados mapas e perfis finais acompanhados de
suas referidas caracterizações e interpretações da trilha. As informações gráficas
foram desenvolvidas e optou-se pela representação dos resultados em diagrama.
Junto ao perfil foram elaboradas barras analíticas contemplando as seguintes
categorias de condicionantes:
• Classificação de vegetação;
• Morfologia das vertentes;
• Processos geomorfológicos;
• Tipos de solo;
• Presença de elementos de origem antrópica;
• Declividade;
• Presença de raízes transversais.

A utilização destes elementos justifica-se pela importância que possuem para a


construção e a manutenção de uma trilha, além de facilitarem uma melhor análise
ambiental da área, por conjugarem elementos de origem natural e humana na
organização dos espaço. Foi utilizado o parâmetro de cores (Vermelho – Maior
Fragilidade, Laranja – Média Fragilidade e Amarelo – Baixa Fragilidade) como um
meio aplicável para identificar e comparar os trechos de maior ou menor fragilidade
ambiental ao longo da trilha estudada.
Com o objetivo de sintetizar os resultados foi criada uma barra síntese que
representa o cruzamento de todos os sete parâmetros escolhidos. Esta barra foi
elaborada usando um critério conservador, onde a cor de cada trecho seria decorrente
do cruzamento das sete barras analíticas, levando-se em conta o maior índice de
fragilidade presente.

Resultados/Discussão
Os dados obtidos durante o trabalho de campo foram sistematizados e
transformados em uma descrição ponto a ponto da trilha percorrida (ver Anexo), um
mapa (Figura 3), um diagrama relacionando um perfil topográfico, barras de análise
dos fatores ambientais e de síntese dos trechos de fragilidade (ver Figura 4).

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Figura 4 – Diagrama Perfil topográfico da trilha/ Barras analíticas/ Barra síntese; representação gráfica do trabalho executado
dentro da disciplina Geomorfologia Dinâmica/Mestrado em Geografia – IGC-UFMG.
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A fragilidade da trilha foi o parâmetro utilizado para analisar a viabilidade da
mesma passar por uma determinada área. Por exemplo, no caso do parâmetro
“classificação de vegetação”, a passagem da trilha pelo campo rupestre, na encosta
de quartzito da vertente maior, foi interpretada como possuindo uma fragilidade alta.

Os campos rupestres são formações extremamente ricas em número de


espécies e número de espécies endêmicas e devido a pequena área que ocupam e
forte ação antrópica e/ou do fogo, muitas espécies estão extintas ou em vias de
extinção, MENEZES & GIULIETTI (2000).

Por exemplo, em um trecho, se associarmos a fragilidade do campo rupestre à


presença do neossolo litólico, um solo pouco estruturado e propício ao
desenvolvimento de processos erosivos, e também à alta declividade, segundo
MACKINNON et al. (1990), com declividade acima de 17%, teríamos certamente um
trecho classificado como de alta fragilidade. Este tipo de cruzamento de dados foi
realizado ao longo da trilha, dando origem à barra síntese.

No parâmetro tipo de solo, o neossolo litólico foi o que mais influenciou para
aumentar a fragilidade da trilha, uma vez que a passagem por este solo acabaria
aumentando a velocidade de desagregação dos cascalhos e conseqüentemente os
processos erosivos. Se associarmos ao mesmo trecho do neossolo, outros
parâmetros, como a presença de afloramento rochoso, declividade, talude, talvegue e
planície de inundação, teríamos um trecho altamente frágil e, portanto
desaconselhável para a passagem de pessoas.

A presença de raízes transversais à trilha, que apesar de indicarem processos


erosivos, estavam contribuindo para a estruturação superficial, foi um fator que pesou
a favor da mesma quanto à estabilidade. Outros fatores benéficos à estabilidade
superficial da trilha foram a presença de veios de quartzo, trechos com declividade
suave, o latossolo, ou mesmo a vegetação de cerrado – que segundo BRANDÃO
(2000) possui um estrato subarbustivo-herbáceo capaz de sempre rebrotar no período
de chuva e um estrato arbóreo composto de árvores com troncos de casca grossa e
retorcida e raízes profundas, sendo uma vegetação menos frágil ao pisoteio, que
protege a superfície do solo.

Desta forma, interpretando as barras analíticas em conjunto e cruzando as


informações verticalmente, obtivemos a barra síntese usando como base um critério
conservador. Nos trechos onde existiam as cores amarela e laranja, a barra síntese
seria laranja, uma fragilidade média. Quando se cruzavam as cores laranja com uma

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vermelha a barra síntese apresentava a cor vermelha, ou seja, os trechos mais frágeis
da trilha, onde apareceriam problemas mais críticos.

A barra síntese, ao final, apresentou 10 trechos distintos, que foram numerados


de 1 a 10. A tabela abaixo ilustra estas informações e representa parte dos resultados
do trabalho de análise das condições ambientais da trilha.

Tabela 1 – Análise dos resultados da Barra Síntese

Trechos Índice de Critérios de maior peso para determinação da fragilidade


da barra fragilidade (informações detalhadas nas barras analíticas)
síntese

1 2 3 4 5 6 7
Classif. Morf. das Processos Tipos de Elementos Decliv. Presença
Vegetal vertentes geomorf. solos antrópicos raízes
superf.
1 médio x x x x
2 alto x x
3 médio x
4 alto x x x
5 médio x x x x
6 alto x x
7 médio x x x x
8 alto x x
9 médio x x x x x
10 alto x x x x

Com a tabela podemos ver em cada trecho quais são os fatores de maior peso
para a determinação dos índices de fragilidade, podendo constituir um importante
instrumento para a determinação do planejamento de implantação e uso da trilha.

Neste estudo de caso a trilha escolhida apresentou somente trechos com


média e alta fragilidade, ou seja, não seria muito indicada para utilização sem
intervenções como proteções de superfícies, equipamentos de transposição,
drenagens e combates a processos erosivos. Se houvesse real interesse para
visitação, e se não existissem outras opções de passagem da trilha, uma alternativa
seria determinar a capacidade de carga nos trechos mais críticos, de modo que o
impacto para o ambiente fosse um pouco menor. A análise dos resultados permite a
definição dos trechos em que são necessárias intervenções e instalação de
equipamentos, determinando em cada local a extensão e a natureza destas
intervenções.

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Conclusão

A busca pela utilização de trilhas, dentro ou fora de áreas protegidas, pode


causar sérios impactos ambientais. Percebemos, ao realizar o trabalho, que hoje ainda
carecemos de investigações científicas que possibilitem a identificação, análise e
planejamento de medidas de controle e gestão para uma utilização de trilhas com
mínimos impactos ambientais e máximo aproveitamento.

A metodologia de análise ambiental de trilhas, apenas inicialmente


desenvolvida, se mostrou potencialmente rica para proporcionar a identificação,
análise e relacionamento de aspectos ambientais dos meios físico, biótico e antrópico,
que influenciam a utilização de uma trilha. Esta metodologia deve ainda ser avaliada e
testada em novas situações, buscando seu aprimoramento e adequação.

A representação e espacialização da análise ambiental através do mapa e do


diagrama Perfil topográfico/ Barras de análise/ Barra síntese se mostrou legível e com
potencial para utilização prática. Especialmente em unidades de conservação este
método é potencialmente mais utilizável, pelos técnicos, do que outros, como por
exemplo análises de capacidade de carga (CIFUENTES ARIAS, 1992; CEBALLOS-
LASCURÁIN, 1996), de fragilidade, ou de monitoramento sem uma intenção clara de
produzir resultados espacializados, de representação gráfica e cartográfica dos
resultados.

Bibliografia citada
BRANDÃO, M. Cerrado. In: Lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção da
flora de Minas Gerais. Belo Horizonte, Fundação Biodiversitas e Fundação
Zoobotânica, 2000.

CEBALLOS-LASCURÁIN, Héctor. Tourism, ecotourism, and protected areas. The


World Conservation Union/Protected Areas Programme. Bellegard, Sadag ed., 1996.

CIFUENTES ARIAS, M. Determinación de Capacidad de Carga Turística em Áreas


Protegidas. Turrialba – Costa Rica, Ed. CATIE, 1992.

IBGE, CENSO 2001. Acesso ao site: www.ibge.gov.br, em 10-11-2003.


MACKINNON, K. Mackinnon, J. Child, G. Thorsell, J. Manejo de Áreas Protegidas em
los Trópicos. Gland. Suiza, UICN, 1990.

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MENEZES, N.L. & Giulietti, A.M. Campos Rupestres. In: Lista vermelha das espécies
ameaçadas de extinção da flora de Minas Gerais. Belo Horizonte, Fundação
Biodiversitas e Fundação Zoobotânica, 2000.

PREFEITURA MUNICIPAL DE GOUVEIA, 2002. Acesso ao site:


www.almg.gov.br/prefeituradegouveia, em 12-11-2003.

SAADI & VALADÃO. Domínios Morfo-estruturais da Depressão de Gouveia. Belo


Horizonte, UFMG, 1987.

SALGADO, André Augusto Rodrigues & Valadão, Roberto Célio. Qualidade da Água
em Área com Potencial para o Ecoturismo no Espinhaço Meridional / MG (Gouveia-
MG). Belo Horizonte, UFMG. 2002.

VELOSO, H.P. Rangel, A.L.R. Lima, J.C.A. Classificação da vegetação brasileira,


adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro, IBGE, 1991.

Agradecimentos
Ao professor Dr. Roberto Célio Valadão, que ministrou a disciplina
Geomorfologia Dinâmica, parte do currículo do Mestrado do Programa de Pós-
graduação em Geografia do IGC-UFMG, e orientou o trabalho que deu origem
ao presente artigo. Aos colegas da UFMG que participarão das atividades em
Gouveia.

Anexo
A análise e demarcação da trilha foi iniciada a partir do interflúvio da vertente
menor, a oeste, e finalizada no interflúvio da vertente maior, a leste. Os aspectos
ambientais foram descritos ao longo do trecho, sendo demarcados 19 pontos que
apresentavam características particulares. A seguir é apresentada a descrição de
campo de alguns pontos, mais representativos para exemplificação dos diferentes
aspectos ambientais da trilha:

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Ponto 1
Começo da trilha no interflúvio, que é um platô, a 1.107m de altitude. Solo
arenoso e compactado com formação de canais fluviais anastomosados. Cambissolo
com coloração bruno amarelada. Presença de cupinzeiros.
Solo recoberto por uma fina serrapilheira composta, principalmente, por folhas
secas dos arbustos. Vegetação de gramíneas nativas e arbustos que variam de 50cm
a 4m de altura, formando um cerrado gramíneo-lenhoso típico. Os principais
representantes são: Hymenaea stigonocarpa (Jatobá), Campomanesia adamantium
(Gabiroba), Eugenia desenteryca (Cagaitera), Stryphnodendron adstringens
(Barbatimão), Byrsonimia verbacifolia (Murici), Erytroxylum tuberosum e E. tortuosum,
Eremanthus sp (Candeia), Solanum lycocarpum (Lobeira), Enterolobium sp (Orelha de
negro), além de outros representantes de Myrtaceae, Fabaceae, Malpighiaceae,
Melastomataceae, dentre outras famílias.

Ponto 3
Neste ponto a trilha passa a menos de 2m de distância da cabeceira da
voçoroca que se aproxima do interflúvio. Presença de cerca e gado (ação antrópica).
Solo amarelado, sem cascalho e bastante compactado. O escoamento superficial é
evidente e ocorre ao longo da trilha seguindo a declividade da escarpa e formando
feixes anastomosados.
A vegetação se torna menos densa com predomínio de gramíneas nativas
cobrindo o solo e arbustos com até 1,5m de altura, embora apareçam alguns
indivíduos arbóreos distribuídos esparsamente, como a cagaita (Eugenia
desenteryca), o barbatimão (Stryphnodendron adstringens) e a candeia (Eremanthus
sp).

Ponto 4
Há um grande aumento na declividade do ponto anterior para este. A trilha,
neste ponto, está passando a aproximadamente 3-4m de distância da voçoroca.
Presença de escoamento superficial pluvial em lençóis.
A vegetação é similar à descrita no ponto anterior.

Ponto 7
Neste ponto a trilha passa por um talude que se encontra altamente erodido e
apresenta aluvião na sua porção intermediária. Existe um grande acúmulo de
sedimentos próximo a calha do rio, na planície de inundação. Solo amarelo bem claro,

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com seixos de vários diâmetros, área de escorregamentos. Aparecem pequenas
“trincheiras” bem marcadas na trilha, onde o solo tende a ser mais compactado.
Há formação de uma pequena mata ciliar com representantes arbóreos de 8-
10m de altura, sendo as principais famílias: Rutaceae, Fabaceae, Cecropiaceae,
Myrtaceae, Melastomataceae, Flacourtiaceae e Rubiaceae.

Ponto 8

Neste ponto a trilha passa ao lado do talvegue, na borda da mata ciliar.


Neossolo com muitos seixos rolados e cascalhos, processos erosivos presentes ao
longo de todo o terraço fluvial. O talvegue se apresenta muito assoreado,
principalmente no ponto em que a voçoroca desemboca.
A mata ciliar é composta por uma serrapilheira bem espessa com sub-bosque
em regeneração. Há formação de um estrato herbáceo, representado por várias
espécies de ervas e plântulas no chão da mata, um estrato arbustivo com 3-4m de
altura, e um estrato arbóreo bem desenvolvido com indivíduos de até 15m de altura.
Além de trepadeiras (cipós), algumas epífitas (bromélias), samambaias e musgos nos
barrancos. Há formação de um canal de escoamento superficial intermitente, formado
pela água da chuva, ao lado da trilha, além de muitos galhos caídos e raízes de vários
tamanhos e diâmetros interceptando a trilha (foto 8.2).

Ponto 12
Solo mais estruturado, compactado, bruno amarelado, arenoso com
granulometria fina, sem cascalhos, formação de latossolo. Canais superficiais da água
acompanhando a trilha, com presença de escoamento superficial pluvial em lençóis.
Trilha na cabeceira da voçoroca vegetada.
Estrato arbustivo-arbóreo com até 5m de altura, espécies típicas do cerrado (já
listadas), além de gramíneas e algumas ervas cobrindo a superfície do solo, exceto
onde a trilha passa (foto12).

Ponto 13
Neste ponto a trilha é cortada por uma estrada na direção norte-sul, com canais
laterais e ravinas formadas a partir do escoamento superficial pluvial concentrado (foto
13). Há também presença de pequenas bacias de sedimentos arenosos formadas a
partir do escoamento superficial pluvial em lençóis. A trilha segue a curva de nível
contornando o afloramento rochoso. Formação de latossolo.
Solo mais exposto com poucas gramíneas e algumas espécies arbustivas.

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Ponto 14
Inclinação maior da vertente, em relação ao ponto anterior, transição para o
cambissolo, presença de seixos, solo mais compactado e arenoso. Cupinzeiros com
terra amarelada e arenosa. Pequenas raízes interceptando a trilha (foto 14.1).
Presença de processos de ravinamento e também pequenas bacias de sedimentos
arenosos formadas a partir do escoamento superficial pluvial em lençóis.
Vegetação idem ao ponto anterior.

Ponto 16
Neste ponto a trilha se encontra com a estrada. Há cercas de arame farpado e
um muro de pedra separando propriedades, além de gado e muitos formigueiros.
Litossolo com afloramentos rochosos, solo arenoso e coberto por cascalhos.
Superfície pouco inclinada e início da subida da encosta de quartzito.
Vegetação em regeneração onde antes existia um pasto com gramíneas
exóticas e arbustos com predomínio de cagaitera. Vestígios de fogo recente.

Ponto 17
Vários afloramentos rochosos, solo frágil e compactado, neossolo litólico
acinzentado, com cascalhos de vários diâmetros e grande erosão superficial com
acúmulo de material arenoso. Meio da rampa de talo.
Vegetação de transição para o campo rupestre, com poucos indivíduos
arbustivos (até 1,5m de altura) distribuídos esparsamente, além de gramíneas nativas.

Ponto 19
Afloramento rochoso no interflúvio com escarpa. Litossolo com cascalhos de
quartzo. Presença de cupinzeiros, ruminantes e ação antrópica.
Vegetação de campo rupestre com indivíduos arbustivos até 4m de altura.

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