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ANÁLISE PRELIMINAR DE ESTRUTURAS MONTADAS NO DOSSEL

FLORESTAL DE TRILHAS EM ÁREAS DE MATA ATLÂNTICA NO SUL DA


BAHIA

Ms. MARCIAL COTES. Pesquisador, Professor do CPMRG/BA e Integrante do Grupo


de Pesquisa em Biologia de Dossel – Universidade Estadual de Santa Cruz / CNPq –
mbahia@uesc.br
Dra. Talita Fontoura. Pesquisadora, Universidade Estadual de Santa Cruz,
Departamento de Ciências Biológicas – talita_fontoura@uol.com.br

RESUMO
Pretendemos discutir a segurança em três estruturas distintas montadas na copa das
árvores da Mata Atlântica como mais um atrativo para trilhas interpretativas (TI) no sul
da Bahia. A primeira estrutura analisada em TI guiada de Reserva Particular do
Patrimônio Nacional (RPPN) é um conjunto de passarelas suspensas no dossel,
interligadas por três plataformas fixadas em dois Angelim e um Jatobá, sustentadas
por cabos de aço, estruturas de alumínio, redes e cordas. Elas são conectadas a
plataformas de madeira com altura máxima de 16m. A segunda estrutura de TI guiada
de RPPN é uma plataforma de madeira montada a 32 metros de altura, acessada por
uma escada de ferro, fixada com cabos de aço ao longo do tronco de Jequitibá. A
terceira estrutura, um circuito de arborismo, montado em área particular de empresa
de turismo de aventura. Ela é formada por uma trilha guiada suspensa em cabos de
aço com graus diferentes de dificuldade, interligadas por plataformas na copa de
árvores com altura máxima de 9m. O proprietário descreveu como atividade
ecoturística, denominada de “turismo de aventura com baixo impacto”, “manejo
sustentável” e “com abordagem em Educação Ambiental”. Observou-se que as três
TIs utilizam guias locais. As trilhas das duas RPPN’s podem ser classificadas como
produtos ecoturísticos, pois possuem pontos interpretativos, mas com limitações na
abordagem dos processos ecológicos do dossel florestal, provavelmente devido ao
medo de altura de alguns visitantes. O circuito de arborismo, não oferece interpretação
da trilha, e o guia exerce a função de instrutor para utilização dos equipamentos. Em
relação à segurança, relativa à altura das estruturas, na primeira RPPN não foram
identificadas eventuais situações de risco e necessidade de equipamentos de
segurança. Na segunda RPPN e no circuito de arborismo, os guias possuem limitado
domínio dos equipamentos. Os equipamentos de segurança estão presentes no
circuito de arborismo, apesar de restrições. Na plataforma da segunda RPPN,
observou-se a ausência de equipamentos de proteção individual e de aparelho auto-
blocante para segurança no rapel. Equipamentos de segurança e treinamento
especializado são indispensáveis para guias, pois as estruturas analisadas possuem
diferentes Fatores de Exposição ao Risco para os visitantes.

PALAVRAS-CHAVES: Mata Atlântica; dossel; ecoturismo; atividades físicas de


aventura na natureza.
O RETORNO DO HUMANO AO DOSSEL1 FLORESTAL

“Gostaríamos muito de estar em plena natureza,


porque ela não tem opinião alguma sobre nós.”
(Niestzsche)

Desde que os primeiros símios desceram das copas das árvores para
desenvolverem o processo de adaptação na postura bípede, que nós deixamos de
explorar o dossel das árvores emergentes (LEWIN, 1999).
Vários naturalistas coletaram epífitas e animais nas copas das árvores. Nas
décadas de 40 e 50 do século XX, Marston Bates, David Gillette e Elliott McClure, na
Amazônia Colombiana, oeste da África e Malásia, respectivamente. Estes
pesquisadores retornaram ao dossel florestal na busca de informações científicas
sobre as florestas tropicais (FT) (COTES, 2006; MULL, 1999).
Em 1968 foi instalado o primeiro sistema de acesso entre copas de árvores na
Malásia para pesquisa, em substituição aos métodos precários de amarrar cordas
comuns diretamente na cintura, andaimes e escadas de silvicultura. Na década
seguinte, Andrew Mitchell desenvolveu versões mais eficientes no Zaire, Papua Nova
Guiné e Malásia (MULL, 1999).
A partir de 1988, estruturas para pesquisa e passeios turísticos no dossel
tornaram-se realidade na Malásia, China, Peru, Gana, Costa Rica e Guiana,
semelhantes às pontes existentes no sudeste da Ásia, para transpor vales e rios.
Sempre com a preocupação de adaptar materiais mais confiáveis e leves que
possibilitassem o acesso seguro as árvores emergentes e deslocamentos entre copas
(MULL, 1999).
O Programa “O Homem e a Biosfera” do Museu de História Natural dos EUA
(Smithsonian) elaborou projetos voltados para o desenvolvimento de passeios
turísticos ecologicamente sustentáveis e econômicos no dossel florestal. Estes
projetos tiveram como objetivo, valorar as FT para fomentar políticas de conservação e
estratégias de preservação, para viabilizar o ecoturismo e estudar os impactos destes
passeios nos ecossistemas (MULL, 1989; 1993).
Por fim, recentemente no Brasil, foi montada a primeira estrutura de
passarelas suspensas no dossel da trilha interpretativa (TI) da Reserva Particular do
Patrimônio Natural Ecoparque de Una (COTES, 2004; MESQUITA; VIEIRA, 2004).

1
Conjunto das copas das árvores, abrangendo grande diversidade de interações biológicas,
físicas e químicas, e sendo a porção receptora da maior parte da energia que sustentam esses
ecossistemas. No seu item 2 Recomendações, 2.4 Buscar e estimular a partilha de benefícios
oriundos do dossel como, por exemplo, o uso sustentável de seus recursos e o ecoturismo
(Declaração de Ouro Preto sobre Dosséis Florestais do Brasil: Biodiversidade e Mudança
Climáticas, julho de 2004).
ANÁLISE DAS TRÊS ESTRUTRAS DISTINTAS, MONTADAS NO DOSSEL
FLORESTAL

Como esclarecimento, devemos mencionar que os objetos das análises deste


artigo, foram efetuados em três estruturas distintas montadas no dossel da Mata
Atlântica do sul da Bahia, região designada Costa do Cacau (COTES; MOREL, 2003).
A primeira estrutura analisada, em TI guiada, consta de um conjunto de quatro
passarelas suspensas no dossel, interligadas por plataformas suspensas, fixadas em
árvores2, com altura máxima de 16 metros.
Na segunda análise de estrutura montada em TI guiada de RPPN,
averiguamos uma plataforma de madeira montada a 32 metros de altura, acessada
por uma escada de ferro, fixada com cabos de aço ao longo do tronco de um
Jequitibá.
A terceira estrutura analisada foi um circuito de arborismo, montado em área
particular de empresa de turismo de aventura, formada por trilha guiada, suspensa em
cabos de aço com graus diferentes de dificuldade, interligadas por plataformas na
copa de árvores com altura máxima de 9 metros.
A estratégia metodológica foi desenvolvida na fundamentação bibliográfica da
área de escalada e pesquisa no dossel florestal, utilizando técnicas de alpinismo, para
análise da segurança nas três estruturas, tendo como base os livros Altorrescate, de
Fausulo (1998); Com Unhas e Dentes, de Beck (1995); On Rope: North American
Vertical Rope Techniques for Caning; Seanch and Rescue; Mountaineering, de
Padgett e Smith (1992); na dissertação de mestrado sobre Arquitetura de árvores
emergentes selecionadas para nidificação por gavião-real (Harpia harpyja), no centro e
leste da Amazônia Brasileira, de Luz (2004); no artigo Description of Arborist Methods
for Forest Canopy Access and Movement, de Roman Dial e Carl Tobin (1994); e da
apostila do curso Básico de Escalada em Árvores do I Encontro Brasileiro de
Pesquisadores de Dossel (UNICAMP), de autoria de Pedrosa & Vidon (2000).
Na ocasião deste primeiro Encontro Brasileiro de Pesquisadores de Dossel,
organizado pela Dra. Talita Fontoura (UESC) e pelo Dr. Flavio A. Manhãs dos Santos
(UNICAMP) foi onde despertou o desejo de realizar um curso de campo em ecologia
de dossel. Este desejo ficou incubado até a realização do I Curso de Campo de

2
Ver Cotes (2004), dissertação de mestrado apresentada ao Programa Regional de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Sub-programa Universidade
Estadual de Santa Cruz, com o título “Avaliação do nível de dificuldade da trilha interpretativa
da RPPN Ecoparque de Una a partir de aspectos físicos, biológicos e de parâmetros de esforço
físico dos visitantes”.
Ecologia de Dossel3 (RIBEIRO; FONTOURA; SANTOS, 2002), um convênio entre a
UNICAMP, UESC e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), com o apoio da
Global Canopy Programme (GCP).
Posteriormente foi realizado o II e III curso, proporcionando neste período, a
troca de experiências entre os profissionais professores escaladores, que resultou na
elaboração de técnicas próprias, seguras e eficazes para os alunos acessarem o
dossel florestal, com o objetivo de pesquisa científica (SOLER; LUZ, 2000; COTES,
2001; COTES, 2002, 2002 a; SOLER; LUZ; CAVALCANTE, 2002, 2003; COTES,
2003, 2003 a; LUZ, 2004;).

O SISTEMA DE ASCENSÃO COM BACK-UP UTILIZADO NOS


CURSOS DE PESQUISA EM ECOLOGIA DE DOSSEL NO BRASIL

No Workshop “Projetos em Ecologia de Longa Duração” (PELD) realizado em


Ouro Preto (GCP, 2004), comparamos os procedimentos adotados pelos escaladores
do GCP – doublé rope –, com os elaborados por Luz e Soler, adaptados para os
cursos de campo de ecologia de dossel no Brasil – single rope –, o que resultou no
artigo Método de acesso ao dossel em pesquisa de Harpia harpyja (COTES; LUZ;
SOLER, 2006). Com a presença de dois escaladores do GCP, comparamos os dois
métodos, doublé rope (GCP) com o single rope, adotado pelos escaladores nos cursos
de campo do Brasil.
Analisamos alguns aspectos nos dois métodos como: (1) peso total do
equipamento necessário para levar ao campo; (2) quantidade de cordas utilizadas; (3)
deslocamentos em solitário na copa; (4) treinamento específico; (5) resgate em
ascensão e descenso; (6) resgate em deslocamento na copa; (7) acesso rápido a
copa; (8) facilidade para levantar dados para pesquisa.
Observamos que ambas as técnicas são seguras, e, quanto aos aspectos
analisados nos dois métodos, concluímos ser um ou outro mais ou menos eficiente
quando comparados, porém ambos os métodos são passíveis de falhas4.
Em função desta constatação, concluímos ser imperativo a necessidade da
presença de dois sistemas independentes5, o que denominamos de redundância. O
método utilizado consiste de um sistema principal, com corda estática para ascensão e
deslocamento na copa pelo escalador, em que é aplicado todo o seu peso, e um
secundário em corda dinâmica, operacionalizado do solo ou da copa pelo segundo ou

3
Oferecido como disciplina do curso de Pós-Graduação em Ecologia da UNICAMP.
4
Grifo nosso.
5
Adaptados por Luz e Soler e adotado pelos escaladores nos cursos de campo do Brasil.
segurador, para entrar em ação em qualquer eventualidade de falha do primeiro
sistema (COTES; LUZ; SOLER, 2006).
Para proporcionar maior segurança, o método adaptado e utilizado pelos
escaladores brasileiros nos cursos de campo, apresenta uma vantagem adicional.
Consiste de ancoragem dinâmica do primeiro sistema no chão – onde fica todo o peso
do escalador na ascensão –, para em qualquer eventualidade, como por exemplo, em
um ataque de vespas, o escalador ser baixado rapidamente ao solo, sem necessidade
de troca de equipamento, quando pendurado na corda (COTES; LUZ; SOLER, 2006).
Entendemos que em cursos de campo de ecologia de dossel, devemos reduzir
os riscos em risco aparente6. Devido à responsabilidade de estarmos lidando com
pesquisadores que não almejam ser escaladores profissionais, mas simplesmente
adquirir informações suficientes, durante o período do curso e posteriormente em sua
vida profissional, supostamente para acessar copas de árvores emergentes com
segurança executando coletas de dados necessários, no desenvolvimento de suas
pesquisas.
Nossa intenção, além das análises de segurança, nas três estruturas montadas
no dossel, foi contribuir na formatação e adequação de sistemas de segurança em
estruturas implantadas em copas de árvores, colaborando nos trabalhos de
normatização do GT arborismo, documento em fase de desenvolvimento para
Regulamentação, Normatização e Certificação do Turismo de Aventura do Ministério
do Meio Ambiente e Instituto de Hospitalidade (2005).
Temos o discernimento que ao prestarmos serviços turísticos na área que
Betrán (1995), denominou de atividades físicas de aventura na natureza (AFAN),
possuímos toda responsabilidade com seus praticantes. Com isto, torna-se premente,
procedimentos e normas de segurança, visto que o maior percentual do público
consumidor, nunca viu ou manuseou qualquer tipo de equipamento, tendo total
desconhecimento do seu uso e funções.
No documento de Regulamentação, Normatização e Certificação do Turismo
de Aventura do Ministério do Meio Ambiente e Instituto de Hospitalidade (2005), afirma
que “falhas humanas aparecem como o principal fator de ocorrência de acidentes”
(p.20), também “admite que a causa pareça ser a falta de equipamentos e capacidade
de orientação” (p.21).
Para corroborar com estes dados, no Relatório Institucional do Ministério do
Turismo, referente ao GT arborismo, no item 4 de supervisão e operacionalização de

6
Sobre risco aparente e risco real consultar Costa (1999) e Bruhns (2000).
circuitos de arborismo, afirma que os usuários podem ser amparados por monitores
maiores de 16 anos.
Discordamos mais uma vez, da utilização de instrutores/monitores com idade
inferior a 18 anos, independente de sua habilidade e conhecimento, para monitorar
estes produtos turísticos. A Constituição Federal de 1988, afirma que menores de 18
anos não são responsáveis pelos seus atos, apesar de possuírem o direito ao voto.
Compreendemos que os instrutores que desconhecem funções de
equipamentos e confecção de nós – o mínimo necessário –, não estão habilitados
para lidar com o público consumidor. O exemplo disto é a prática seguindo as normas
de guias da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, adotadas por várias
federações no país e no exterior.
Consideramos pertinentes todos os argumentos veiculados no Jornal Mountain
Voices (Informe Brasileiro de Montanhismo e Escalada/Ano XVI - # 84 – Mai/Jun
2005/p. 12) na entrevista do advogado e presidente da Federação Brasileira de
Paraquedismo, com o título: “Ministério versus entidades Nacionais: O Ministério do
Turismo passa por cima da legitimidade das entidades esportivas nacionais e
patrocina um processo de certificação do turismo de aventura que afeta entre outros,
os montanhistas”.

ANÁLISE DAS ESTRUTURAS

Adotamos durante a análise, averiguar as normas de segurança, equipamentos


de proteção individual (EPI’s) utilizados, homologações, altura máxima das estruturas,
grau de exposição, utilização adequada dos equipamentos, nós utilizados,
conhecimento dos nós pelos instrutores e classificação dos produtos em AFAN ou
ecoturismo, conforme tabela 1.
Diante das análises feitas nas três estruturas montadas em copas de árvores,
em áreas de Mata Atlântica no sul da Bahia, região denominada Costa do Cacau,
consideramos relevante, contribuir com sugestões e adequações, que entendemos ser
prementes para melhoria das condições de segurança das estruturas. Visando uma
prática segura e hedonista para os visitantes, propomos mudanças ou alterações para
cada equipamento quando necessário for.
TABELA 1. ITENS ANALISADOS NAS TRÊS ESTRUTURAS MONTADAS NAS
COPAS DE ÁRVORES EM ÁREAS DE MATA ATLÂNTICA NO SUL DA BAHIA,
REGIÃO DENOMINADA COSTA DO CACAU.
Itens analisados Passarelas suspensas Plataforma Jequitibá Arborismo
Altura máxima 16 metros 32 metros 9 metros (1)
Grau de exposição (2) A A M (3)
Necessidade de EPI’s Não necessita Sim Sim
Utilizam EPI’s Não necessita Incompleto Incompleto
Necessita utilizar nós Não necessita Sim Sim
Domínio dos nós pelos guias. Não necessita Sim, com restrições Não
Equipamentos usados são homologados Não necessita Sim Sim (4)
Ecoturismo Sim Sim Não
AFAN Sim Sim Sim
É necessária Intervenção indispensável Sim Sim Sim
(1)
A operadora não permitiu medir algumas distâncias, que nitidamente são superiores a 9 metros. Todas as alturas
foram aferidas com trena de 50 metros.
(2)
Consideramos três níveis de graus de exposição, Leve (L) até 5 metros de altura, Moderado (M) de 5 a 10 metros e
Alto (A) acima de 10 metros.
(3)
Consideramos ser imprecisa esta avaliação, pois não nos foi permitido, medir alguns locais, considerados por nós
com altura superior a 9 metros.
(4)
Com restrição dos cordeletes utilizados no prussik.

SUGESTÕES PARA PASSARELAS SUSPENSAS

No equipamento Passarelas Suspensas, propomos a contribuição segundo


tabela 2, com objetivo de tornar mais seguro o trânsito de crianças.

TABELA 2. CONTRIBUIÇÕES SUGERIDAS PARA O EQUIPAMENTO


PASSARELAS SUSPENSAS.
Passarelas Suspensas
Contribuição
Adicionar
Plataformas 1, 2, 3 e 4 Tela de proteção até altura do parapeito, igual às utilizadas nas passarelas

SUGESTÔES PLATAFORMA JEQUITIBÁ

Ao analisar o equipamento Plataforma Jequitibá, identificamos a necessidade


de lapidar os procedimentos, incluindo novos itens de segurança, e, a aquisição de
EPI’s, ausentes e indispensáveis para a segurança dos visitantes e monitores.
O equipamento apresenta um grau alto de exposição, inclusive para os
visitantes e monitores que aguardam no chão. A espécie onde se encontra a
Plataforma, é um forófito7 com grande abundância de epífitas como orquidáceas e
bromeliáceas, está última é possível ver no solo quantidade significativa de touceiras,

7
Árvore hospedeira de epífitas.
que regularmente desprende-se ou com seu peso quebram galhos, podendo atingir
quem está no chão.
Outras sugestões são referentes à prática de rapel, padronização das
informações dos monitores para não gerarem insegurança aos visitantes. As
sugestões estão relacionadas na tabela 3.

TABELA 3. CONTRIBUIÇÕES SUGERIDAS PARA O EQUIPAMENTO PLATAFORMA


JEQUITIBÁ.
Plataforma Jequitibá
Contribuições
Itens Adicionar
(1)
Grau de exposição Cabo de aço no fuste na altura da plataforma para ancoragem dos usuários
Necessidade de EPI’s Capacete, solteiras em Y, baudrier (2) aparelho auto-blocante
Acesso pela escada Segurança dos visitantes no acesso a plataforma com sistema de top rope (3)
(4)
Rapel da plataforma Obrigatoriedade do back up com corda estática e aparelho auto-blocante
Nós utilizados pelos guias Padronização dos procedimentos na confecção dos nós por parte dos guias
(1)
Alto grau de exposição devido à altura de 32 metros.
(2)
Cadeirinha de escala somente utilizada para o visitante que deseja fazer o rapel.
(3)
Segurança com corda dinâmica do alto da plataforma, ancorada no tronco do jequitibá utilizando aparelho auto-
blocante tanto para descida como subida.
(4)
No rapel, o visitante deve fazer o descenso em corda estática com back up do guia, em corda dinâmica e aparelho
auto-blocante. Para maior segurança, é interessante utilizar no visitante, um sistema denominado por Fasulo (1998), de
auto-segurança no rapel, que consiste na utilização de um nó prusik curto, conectado abaixo do aparelho descensor na
corda, unido através de um mosquetão à perneira do baudrier ou um substituto mecânico (Ex. aparelho Shunt da
Petzl).

SUGESTÕES ARBORISMO

O terceiro equipamento que fez parte de nosso objeto de análise, um circuito


de arborismo, é merecedor de algumas considerações, sugestões e mudanças
pertinentes (tabela 4).

TABELA 4. CONTRIBUIÇÕES SUGERIDAS PARA O EQUIPAMENTO CIRCUITO DE


ARBORISMO.
Circuito de Arborismo
Contribuições
Itens Modificações necessárias
Grau de exposição (1) Necessário mais um cabo de aço em todo o percurso como back up (2)
Nós utilizados na solteira O nó para conectar-se indicado pela UIAA (3) é o oito, o que não ocorre
Conhecimento dos nós Dois guias abordados não sabiam confeccionar os nós, nem os nomes
Equipamentos homologados Todos menos os cordelete do prusik (4)
AFAN e não ecoturismo Abordagem da flora e dos processos ecológicos para ter perfil ecoturístico
(1)
Alto grau de exposição, devido à altura da tirolesa que não nos foi permitido medir.
(2)
Este back up também pode ser feito com corda dinâmica com nó borboleta/mariposa no meio, conectado a solteira
do visitante. Para isso é necessário que dois monitores/guias estejam um em cada plataforma, com aparelho auto-
blocante ancorado na árvore. Durante a tirolesa o guia da plataforma de saída, libera corda e o da plataforma de
chegada, recolhe corda.
(3)
União Internacional da Associação de Alpinistas.
(4)
Para encurtar a altura do praticante durante a tirolesa, é utilizado um sistema interessante com cordelete para o
visitante não ficar na distancia das solteiras em Y, o que provocaria um choque na chegada a plataforma.
Percebemos que os guias tiveram orientação muito superficial, a ponto de não
saber os nomes dos nós e suas confecções. Fica evidente que os nós foram
confeccionados pelos profissionais que montaram o circuito e não são desfeitos em
momento algum. É importante salientar que os guias seguem a risca todos os
procedimentos para a passagem pelo circuito, apesar das suas limitações.
Mendonça & Neiman (2003, p.74) apontam uma definição para esses produtos
que se intitulam com ecoturismo

“Esse discurso pretende diferenciar essa atividade do chamado


‘turismo convencional’ ou ‘turismo de massa’, pelo seu caráter
educativo. Mas na prática, o que se faz hoje no Brasil é ‘turismo
convencional em áreas naturais’. Normalmente não existe uma
preocupação maior por trás das atividades. Para que vamos levar um
cliente para determinado destino ecoturístico? Para fazer esporte de
aventura? Isso é muito pouco... Vamos utilizar os esportes de
aventura para conscientizá-lo à conservação, por meio de um objetivo
oculto, não explícito, e atividades estrategicamente preparadas para
tal. Esta deveria ser a missão do ecoturismo: ‘Levar seus clientes a
repensar a sua vida social, suas relações com os semelhantes, com a
cidade em que vivem, com o meio natural, suas ações, sem se
apegar a discursos ecológicos simplistas e inflamados’. A mídia já se
encarrega do ufanismo.”

O produto definido como atividade de aventura ecoturístico, não apresenta as


características necessárias para ser classificado como ecoturismo. Pois os guias
somente orientam nos aspectos técnicos de conectar e desconectar mosquetões, sem
fazer nenhuma abordagem que venha caracterizá-lo como ecoturístico, portanto sendo
qualificado como AFAN (COTES, 2006).

REFLETINDO SOBRE OS EQUIPAMENTOS EXISTENTES NO


DOSSEL FLORESTAL DA COSTA DO CACAU

Fizemos o “cume” no dossel florestal da Mata Atlântica do sul da Bahia, região


que pela sua história passada, rica culturalmente, e uma área de grande
biodiversidade, amplamente divulgada nas palavras de Jorge Amado, é hoje
conhecida como Costa do Cacau.
A história da saga do cacau tem muito a nos ensinar, uma das lições e que
todas as riquezas que o cacau proporcionou, foram perdidas por motivos diversos. Tão
diversos como sua rica fauna e flora. O que devemos perceber é a importância de
possuirmos produtos turísticos, ou melhor, ecoturísticos bem formatados para explorar
este rico potencial natural da região, um dos 25 hotspots8 existentes no planeta.
As três estruturas distintas aqui analisadas, implantadas nas copas das
árvores, são referências no país para quem deseja implementar mais um atrativo em
trilhas.
O que deve ficar claro em todas as considerações aqui expostas foi o intuito de
contribuir para o desenvolvimento do mercado ecoturístico no pólo Costa do Cacau.
Nossas sugestões possuem como objetivo singular proporcionar segurança, diversão
e compromisso educacional para os usuários destas estruturas implantadas em trilhas.
Nossa intenção foi colaborar de forma crítica para a melhoria destes destinos
ecoturísticos.
Consideramos relevante a indicação do pólo ecoturístico Costa do Cacau e as
estruturas montadas no dossel, um destino surpreendente para quem deseja observar
de outra perspectiva a Mata Atlântica. Tal como o olhar aguçado do Gavião Real
(Harpia Harpyja), de cima das árvores, que apesar de toda fragmentação, exploração
e consumo dos recursos naturais deste hotspots, pelo humano neste quinhentos anos
de história, insiste em sobreviver pela matas da Bahia.
Ainda temos tempo de evoluir de Homo sapiens sapiens, que tudo indica não
possuir sapiência alguma, para Homo sapiens ecoturisticus. Depende de nós, como
ilustrado nos versos de Fernando Pessoa.

De tudo ficaram três coisas:


a certeza de que estamos sempre começando,
a certeza de que é preciso continuar e
a certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar. Fazer da interrupção um
caminho novo; fazer da queda um passo de
dança; do medo, uma escada; do sonho,
uma ponte; da procura, um encontro.

8
Regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta.
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