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RESUMO
Pretendemos discutir a segurança em três estruturas distintas montadas na copa das
árvores da Mata Atlântica como mais um atrativo para trilhas interpretativas (TI) no sul
da Bahia. A primeira estrutura analisada em TI guiada de Reserva Particular do
Patrimônio Nacional (RPPN) é um conjunto de passarelas suspensas no dossel,
interligadas por três plataformas fixadas em dois Angelim e um Jatobá, sustentadas
por cabos de aço, estruturas de alumínio, redes e cordas. Elas são conectadas a
plataformas de madeira com altura máxima de 16m. A segunda estrutura de TI guiada
de RPPN é uma plataforma de madeira montada a 32 metros de altura, acessada por
uma escada de ferro, fixada com cabos de aço ao longo do tronco de Jequitibá. A
terceira estrutura, um circuito de arborismo, montado em área particular de empresa
de turismo de aventura. Ela é formada por uma trilha guiada suspensa em cabos de
aço com graus diferentes de dificuldade, interligadas por plataformas na copa de
árvores com altura máxima de 9m. O proprietário descreveu como atividade
ecoturística, denominada de “turismo de aventura com baixo impacto”, “manejo
sustentável” e “com abordagem em Educação Ambiental”. Observou-se que as três
TIs utilizam guias locais. As trilhas das duas RPPN’s podem ser classificadas como
produtos ecoturísticos, pois possuem pontos interpretativos, mas com limitações na
abordagem dos processos ecológicos do dossel florestal, provavelmente devido ao
medo de altura de alguns visitantes. O circuito de arborismo, não oferece interpretação
da trilha, e o guia exerce a função de instrutor para utilização dos equipamentos. Em
relação à segurança, relativa à altura das estruturas, na primeira RPPN não foram
identificadas eventuais situações de risco e necessidade de equipamentos de
segurança. Na segunda RPPN e no circuito de arborismo, os guias possuem limitado
domínio dos equipamentos. Os equipamentos de segurança estão presentes no
circuito de arborismo, apesar de restrições. Na plataforma da segunda RPPN,
observou-se a ausência de equipamentos de proteção individual e de aparelho auto-
blocante para segurança no rapel. Equipamentos de segurança e treinamento
especializado são indispensáveis para guias, pois as estruturas analisadas possuem
diferentes Fatores de Exposição ao Risco para os visitantes.
Desde que os primeiros símios desceram das copas das árvores para
desenvolverem o processo de adaptação na postura bípede, que nós deixamos de
explorar o dossel das árvores emergentes (LEWIN, 1999).
Vários naturalistas coletaram epífitas e animais nas copas das árvores. Nas
décadas de 40 e 50 do século XX, Marston Bates, David Gillette e Elliott McClure, na
Amazônia Colombiana, oeste da África e Malásia, respectivamente. Estes
pesquisadores retornaram ao dossel florestal na busca de informações científicas
sobre as florestas tropicais (FT) (COTES, 2006; MULL, 1999).
Em 1968 foi instalado o primeiro sistema de acesso entre copas de árvores na
Malásia para pesquisa, em substituição aos métodos precários de amarrar cordas
comuns diretamente na cintura, andaimes e escadas de silvicultura. Na década
seguinte, Andrew Mitchell desenvolveu versões mais eficientes no Zaire, Papua Nova
Guiné e Malásia (MULL, 1999).
A partir de 1988, estruturas para pesquisa e passeios turísticos no dossel
tornaram-se realidade na Malásia, China, Peru, Gana, Costa Rica e Guiana,
semelhantes às pontes existentes no sudeste da Ásia, para transpor vales e rios.
Sempre com a preocupação de adaptar materiais mais confiáveis e leves que
possibilitassem o acesso seguro as árvores emergentes e deslocamentos entre copas
(MULL, 1999).
O Programa “O Homem e a Biosfera” do Museu de História Natural dos EUA
(Smithsonian) elaborou projetos voltados para o desenvolvimento de passeios
turísticos ecologicamente sustentáveis e econômicos no dossel florestal. Estes
projetos tiveram como objetivo, valorar as FT para fomentar políticas de conservação e
estratégias de preservação, para viabilizar o ecoturismo e estudar os impactos destes
passeios nos ecossistemas (MULL, 1989; 1993).
Por fim, recentemente no Brasil, foi montada a primeira estrutura de
passarelas suspensas no dossel da trilha interpretativa (TI) da Reserva Particular do
Patrimônio Natural Ecoparque de Una (COTES, 2004; MESQUITA; VIEIRA, 2004).
1
Conjunto das copas das árvores, abrangendo grande diversidade de interações biológicas,
físicas e químicas, e sendo a porção receptora da maior parte da energia que sustentam esses
ecossistemas. No seu item 2 Recomendações, 2.4 Buscar e estimular a partilha de benefícios
oriundos do dossel como, por exemplo, o uso sustentável de seus recursos e o ecoturismo
(Declaração de Ouro Preto sobre Dosséis Florestais do Brasil: Biodiversidade e Mudança
Climáticas, julho de 2004).
ANÁLISE DAS TRÊS ESTRUTRAS DISTINTAS, MONTADAS NO DOSSEL
FLORESTAL
2
Ver Cotes (2004), dissertação de mestrado apresentada ao Programa Regional de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Sub-programa Universidade
Estadual de Santa Cruz, com o título “Avaliação do nível de dificuldade da trilha interpretativa
da RPPN Ecoparque de Una a partir de aspectos físicos, biológicos e de parâmetros de esforço
físico dos visitantes”.
Ecologia de Dossel3 (RIBEIRO; FONTOURA; SANTOS, 2002), um convênio entre a
UNICAMP, UESC e Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), com o apoio da
Global Canopy Programme (GCP).
Posteriormente foi realizado o II e III curso, proporcionando neste período, a
troca de experiências entre os profissionais professores escaladores, que resultou na
elaboração de técnicas próprias, seguras e eficazes para os alunos acessarem o
dossel florestal, com o objetivo de pesquisa científica (SOLER; LUZ, 2000; COTES,
2001; COTES, 2002, 2002 a; SOLER; LUZ; CAVALCANTE, 2002, 2003; COTES,
2003, 2003 a; LUZ, 2004;).
3
Oferecido como disciplina do curso de Pós-Graduação em Ecologia da UNICAMP.
4
Grifo nosso.
5
Adaptados por Luz e Soler e adotado pelos escaladores nos cursos de campo do Brasil.
segurador, para entrar em ação em qualquer eventualidade de falha do primeiro
sistema (COTES; LUZ; SOLER, 2006).
Para proporcionar maior segurança, o método adaptado e utilizado pelos
escaladores brasileiros nos cursos de campo, apresenta uma vantagem adicional.
Consiste de ancoragem dinâmica do primeiro sistema no chão – onde fica todo o peso
do escalador na ascensão –, para em qualquer eventualidade, como por exemplo, em
um ataque de vespas, o escalador ser baixado rapidamente ao solo, sem necessidade
de troca de equipamento, quando pendurado na corda (COTES; LUZ; SOLER, 2006).
Entendemos que em cursos de campo de ecologia de dossel, devemos reduzir
os riscos em risco aparente6. Devido à responsabilidade de estarmos lidando com
pesquisadores que não almejam ser escaladores profissionais, mas simplesmente
adquirir informações suficientes, durante o período do curso e posteriormente em sua
vida profissional, supostamente para acessar copas de árvores emergentes com
segurança executando coletas de dados necessários, no desenvolvimento de suas
pesquisas.
Nossa intenção, além das análises de segurança, nas três estruturas montadas
no dossel, foi contribuir na formatação e adequação de sistemas de segurança em
estruturas implantadas em copas de árvores, colaborando nos trabalhos de
normatização do GT arborismo, documento em fase de desenvolvimento para
Regulamentação, Normatização e Certificação do Turismo de Aventura do Ministério
do Meio Ambiente e Instituto de Hospitalidade (2005).
Temos o discernimento que ao prestarmos serviços turísticos na área que
Betrán (1995), denominou de atividades físicas de aventura na natureza (AFAN),
possuímos toda responsabilidade com seus praticantes. Com isto, torna-se premente,
procedimentos e normas de segurança, visto que o maior percentual do público
consumidor, nunca viu ou manuseou qualquer tipo de equipamento, tendo total
desconhecimento do seu uso e funções.
No documento de Regulamentação, Normatização e Certificação do Turismo
de Aventura do Ministério do Meio Ambiente e Instituto de Hospitalidade (2005), afirma
que “falhas humanas aparecem como o principal fator de ocorrência de acidentes”
(p.20), também “admite que a causa pareça ser a falta de equipamentos e capacidade
de orientação” (p.21).
Para corroborar com estes dados, no Relatório Institucional do Ministério do
Turismo, referente ao GT arborismo, no item 4 de supervisão e operacionalização de
6
Sobre risco aparente e risco real consultar Costa (1999) e Bruhns (2000).
circuitos de arborismo, afirma que os usuários podem ser amparados por monitores
maiores de 16 anos.
Discordamos mais uma vez, da utilização de instrutores/monitores com idade
inferior a 18 anos, independente de sua habilidade e conhecimento, para monitorar
estes produtos turísticos. A Constituição Federal de 1988, afirma que menores de 18
anos não são responsáveis pelos seus atos, apesar de possuírem o direito ao voto.
Compreendemos que os instrutores que desconhecem funções de
equipamentos e confecção de nós – o mínimo necessário –, não estão habilitados
para lidar com o público consumidor. O exemplo disto é a prática seguindo as normas
de guias da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, adotadas por várias
federações no país e no exterior.
Consideramos pertinentes todos os argumentos veiculados no Jornal Mountain
Voices (Informe Brasileiro de Montanhismo e Escalada/Ano XVI - # 84 – Mai/Jun
2005/p. 12) na entrevista do advogado e presidente da Federação Brasileira de
Paraquedismo, com o título: “Ministério versus entidades Nacionais: O Ministério do
Turismo passa por cima da legitimidade das entidades esportivas nacionais e
patrocina um processo de certificação do turismo de aventura que afeta entre outros,
os montanhistas”.
7
Árvore hospedeira de epífitas.
que regularmente desprende-se ou com seu peso quebram galhos, podendo atingir
quem está no chão.
Outras sugestões são referentes à prática de rapel, padronização das
informações dos monitores para não gerarem insegurança aos visitantes. As
sugestões estão relacionadas na tabela 3.
SUGESTÕES ARBORISMO
8
Regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta.
BIBLIOGRAFIA
COTES, M.; LUZ, B.B.; SOLER, I. Método de acesso ao dossel em pesquisa de Harpia
harpyja. Ilhéus/BA: CD Rom dos anais do VII Congresso Internacional sobre manejo
da vida silvestre na Amazônia e América Latina, apresentação oral, 2006.
DIAL, R.; TOBIN, S. C. Description of Arborist Methods for Forest Canopy Access and
Movement. Selbyana 15 (2): 24 – 37, 1994.
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GCP, INPA e LBA. Brasília, 2004.
LEWIN, Roger. Evolução Humana. Trad. De Danusa Munford. São Paulo: Atheneu
Editotra, 1999.
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UNESCO C 1: 29-33, 1989.
PADGETT, A.; SMITH, B. On Rope: North American Vertical Rope Techniques for
Caning; Search and Rescue; Mountaineering. Vertical Section national cave Avenue
Speleological Society. Nº87-60477, Huntsville, Alabama, 1992.
RIBEIRO, S. P.; FONTOURA, T.; SANTOS, F.A.M. The seeds for a canopy training
school: the canopy research field course of State University of Campinas, Brazil. The
Newsletter of the International Canopy Network, v. 9, n. 1, 2002.