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Para isso, é essencial fazermos uma releitura do background social e cultural no qual nos
desenvolvemos, enquanto sociedade e enquanto indivíduos. Afinal de contas, como
afirmamos no ensaio anterior, vivemos sob a égide de uma dicotomia existencial: de um
lado, olhando o mundo pelo prisma cultural, científico e filosófico, estamos vivendo sob os
fundamentos valorativos do chamado pós-modernismo; por outro lado, olhando, agora, o
mundo pelo prisma moral-religioso e institucional, estamos vivendo sob a égide e os
fundamentos valorativos da chamada “Era Cristã”.
Pois bem. O objetivo do ensaio de hoje e da próxima semana é tentar levar o leitor a
entender o primeiro prisma desta dicotomia: o “Pós-modernismo”. As indagações a serem
respondidas para que atinjamos esse fim são: no que se constitui a cultura pós-moderna?
ou, na linguagem do filósofo francês Jean-François Lyotard (que cunhou o termo pós-
modernismo), no que se constitui a condição pós-moderna? Ou ainda: quais seriam as
bases ideológicas do projeto (pós)moderno, como denominou o filósofo alemão Jünger
Habermas? Enfim, quais são os valores que fundamentam o pós-modernismo, já que,
como temos afirmado contundentemente, tendo em vista a impregnação cultural do seu
conjunto de valores e ideais, temos vivido uma espécie de anarquia ou anomia moral, seja
no âmbito das relações interpessoais, seja no âmbito das relações institucionais? Vejamos,
então.
Seja como for, esta frase, explica bem, o que foi (ou o que é) a Modernidade da
humanidade. Não é por outra razão que o filósofo polonês Zygmunt Bauman –
comentando esse arrogante e soberbo projeto que a humanidade, a partir do século
XVIII (o erroneamento denominado século das luzes) construiu para si mesma,
esquecendo-se do Princípio e do Criador de todas as coisas – afirma que tal se
constititui em um grande sonho que a humanidade elaborou para si mesma, como um
audacioso projeto da Razão como libertadora.
Por que isso? Porque o projeto moderno da humanidade entendia que somente a
partir da Ciência, da Razão – como elementos de transformação do mundo e dos
sistemas sociais pelo Homem – poderíamos chegar ao Bem, ao Belo e a Verdade de
todas as coisas e, assim, atingiríamos, na sociedade, os ideais de um “Welfare State”
(Estado de Bem-Estar Social). Nesse sentido, Cheviratese, em “As razões da Pós-
Modernidade” (ISBN 85-88319-07-1), escreve-nos: “A aplicação ampla da
racionalidade na organização social prometia a segurança de uma sociedade estável,
democrática, igualitária (...). A possibilidade de domínio científico representava o
aceno de uma ambicionada segurança, que nos afastaria dos infortúnios ligados a
imprevisibilidade do mundo natural (desde condições climáticas e de relevo, a doenças
físicas e mentais): a natureza deveria submeter-se ao poder da Razão humana. Estes
foram sonhos demasiadamente caros para a humanidade, pelos quais se permitiu a
hipervalorização do conhecimeno objetivo e científico”. Esse foi (ou é) o ideário do
mundo moderno. Com o advento dele, houve um processo crescente de racionalização
intelectualista inversamente proporcional aos valores que fundamentam a “Era
Cristã”.