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Instituto Politécnico de Portalegre ESCOLA SUPERIOR DE EDUCACAO Texto de Apoio 1 Tema: O processo de intervencio social ‘Titulo: “O processo de intervengao social em comunidades” In CARMO, H. (1999). Desenvolvimento comunitdrio. Lisboa: Universidade Aberta, pp. 33-43, Ano es 2687 dole faoy, 1, Elementos em jogo num processo de intervengao social Ao iniciar o estudo de uma disciplina cujo principal objectivo é ajudar o estudante a aprender uma metodologia de intervengdo social convém, antes de mais, desmontar uma ideia feita da sociedade industrial, a de que tudo © que & tradigdo & cristalizado, antiquado, substituivel, e de que 0 que se apresenta como novidade, moderno, é em si mesmo bom e adoptivel para melhorar a qualidade de vida das populagées. Consideremos duas situagdes reais, uma relatada por George Foster! (1974; 14-15) e outra vivenciada pelo autor deste manual, que ilustram as conse- quéncias deste modo de pensar e agi. Caso 2.1 Construgio de balnedrios e lavadouros em Vera Cruz (México? No ambito de um programa de saiide publica promovido pela administra- do mexicana um engenheiro projectou ¢ construiu um equipamento para uma aldeia que combinava balnedrios ¢ lavadouros. Tal empreeendimento obedecia aos critérios de economia e de espago a que ele estava habituado. Deste modo mandou implantar os lavadouros lado a lado virados para uma parede onde foi instalada a canalizagdo que os servia ¢ que, simultinea- mente, abastecia 0 conjunto de balnedrios construidos do outro lado da referida parede. O desenho do projecto permitiu uma construg%o a baixo custo e uma poupanga de tempo as mulheres, as quais passaram a dispor de acesso imediato a Agua potivel junto das suas habitagdes em vez de terem, penosamente, de ir ao rio lavar a roupa, lavar-se e abastecer-se de gua para a confecgio de refeigdes. Qual nao foi o seu espanto quando verificou que as mulheres, longe de Ihe agradecerem a sua obra, o acusaram de as estar castigando: Questionadas, explicaram que seriam obrigadas a traba- Ihar voltadas para a parede tal como os seus filhos, quando se portavam, mal ¢ eram, desse modo, punidos pelo’ professor. As novas instalagées, acrescentaram, nfo: hes permitiriam conversar comodamente. enquanto. lavavam a roupa. Caso 2.2 O caso do xarope para a sarna No inicio dos anos setenta, no decorrer de uma epidemia de sarna ocorti- da num bairro de lata de Lisboa, varios médicos voluntétios colaboraram com 0 Centro de Acgilo Social Universitério (CASU), aconselhando medi- das preventivas & populagdo, diagnosticando a doenga e preconizando tera- " Professor da Universidade ‘de Berkeley (California) este antropSlogopatcipu desde © inoio dos anos cinquenta como perito de diversas crganiarbes ligadas 8 pro- gramas de desenvolvimento ‘comunitro nos dominios da snide, educazio e enges ria, entre as quis ® UNES- COA sunexperignciano ter reno, omeadamente no Mé- _/xico, Colémbia, Peru, Brasil, Indi, Paquistio, Filipinas, ‘Afeganisio e noutos paises fem desenvalvimento, gran- jeoulhe justa fara come cspecaista em mudanga de sotiededs traicionas.Dois dos seus principais livros, eos = clissicos da tropologia Aplicads, ako citadosno final deste capti- To-em leiuras complementa- 33 Nenmttmeozeares > Considera-te sistema -eliente, par fits diner vengio sci toda pessoa, ‘rupo,erganizagdo, comuni- dade ‘ou rede social com necessidades sociais que requerem qualquer tipo de intervengio social plaseae, 34 péuticas adequadas. Em dada altura uma jovem pediatra pertencente & quipa medicou um bébé fortemente afectado na cabega com um xarope de efeito sistémico. Dias depois, fomos confrontados com uma violenta grita- tia oriunda do posto médico do CASU. Aproximando-tios, apercebemo-nos da indignagao da mée da crianga que invectivava a médica com abundan. tes insultos, acusando-a de incompeténcia profissional por ter mandado ér um champ6 que s6 fez com que a cabega da crianga infectasse até cha. mando as moscas...!, A médica por seu turno, extremamente ofendida, acusava a mulher de ignorante, uma vez que ndo se tratava de um champ6 mas de um xarope. Se ndo percebeu tinka obrigagdo de ler a bula. Actividade 2.1 Analise com cuidado os dois casos apresentados procurando responder as soguintes questées (em meia pagina): 1. Que factores estiveram na base dos incidentes criticos ocorridos? 2. Como poderiam ter sido evitados de modo a que a acco fosse mais eficaz? 3. Como caracteriza os elementos de tradig&io e de mudanga nos dois casos? Considera que os elementos de tradig&io so todos maus? E os que se associam & mudanga? 4. Leia agora o texto que se segue ¢ confionte-o com as respostas que deu, Em qualquer dos casos encontramos os principais elementos presentes em qualquer processo de interveng&o social (figura 2.1): a) uma pessoa ou conjunto de pessoas a quem chamamos sistema-_ " oliefte” que aperéita um conjunto de necessidades sociais; ») uma outra pessoa ou pessoas que se constitui(em) em recurso do sis tema cliente para responder as referidas necessidades ¢ a que cha- maremos sistema-interventor; c) uma interaceao entre o-sistema-cliente e sistema interventor que se ‘traduz num conjunto de comunicagdes, através das quais se preten- dem identificar necessidades-e recursos ¢ organizar respostas ade- quadas as primeiras através dos segundos;

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