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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

LEANDRO BOLZAN DE REZENDE

GESTÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS

CAMPO GRANDE
2008
Gestão de Desenvolvimento de Produto (GDP)

1. Considerações Iniciais

O processo de desenvolvimento de produtos constitui um ponto-chave dentro de


qualquer empresa que busca a liderança em seu setor de atuação. Antigamente, produzir
um produto a baixo custo e vender e larga escala era receita certa de sucesso. Tal premissa
não se aplica às empresas de hoje. Saber criar valor é a chave do negócio. Neste ponto, o
processo de desenvolvimento de produtos tomou outra proporção, tendo suas atividades
iniciadas na compreensão das necessidades do mercado e terminando com o fim do ciclo de
vida do produto.
O modelo genérico proposto de GDP pelo livro “Gestão de Desenvolvimento de
Produtos: uma referência para a melhoria do processo” constitui-se, portanto, uma
excelente referência para aqueles que desejam aprimorar ou, até mesmo, implantar tal
forma de trabalho em suas organizações.

2. O modelo propriamente dito

O processo de desenvolvimento de produtos pode ser dividido em três grandes fases,


quais sejam: pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento. Abaixo
podemos visualizar os processos de forma mais clara através da visão gráfica de todo o
processo.

Fig. 1 – Processo de desenvolvimento de produto

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2.1 Pré-desenvolvimento

O pré-desenvolvimento é, como o próprio nome diz, a fase que concepção do


produto. Essa grande fase é dividida em outras duas subfases, quais sejam: planejamento
estratégico de produtos e planejamento do projeto.

2.1.1 Planejamento Estratégico de Produtos

Nesta fase do processo são desenvolvidas oito atividades, a citar:


1. Definir escopo da revisão do Plano Estratégico de Negócios (PEN)
2. Planejar atividades para a revisão do PEN
3. Consolidar informações sobre tecnologia e mercado
4. Revisar o PEN
5. Analisar o portfólio de produtos da empresa
6. Propor mudanças no portfólio de produtos
7. Verificar viabilidade do portfólio de produtos
8. Decidir início do planejamento de um produto do portfólio
Como se pode observar esta subfase é voltada para verificar a viabilidade e o
alinhamento do produto ao planejamento estratégico de negócios e ao portfólio da
empresa.
Nesta oportunidade a empresa aproveita para verificar se seu PEN está adequado a
realidade atual do mercado, isto é, verifica-se a necessidade ou não de adequação através
da revisão da missão, segmentação do mercado, tendência tecnológicas, posicionamento no
mercado, competências, recursos necessários, metas, dentre outros.
No tocante ao portfólio de produtos, a empresa deve fazer um estudo visando
identificar quais produtos devem ser descontinuados, abandonados ou congelados e quais
projetos devem ser iniciados.
Nesta subfase, além da verificação do alinhamento do produto à empresa, serão
levantadas informações sobre tecnologia e mercado, através da utilização de pesquisas de
mercado, vigilância tecnológica e inteligência competitiva.

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2.1.2 Planejamento do Projeto

Esta subfase do pré-desenvolvimento é responsável pela elaboração do projeto de


desenvolvimento do produto como um todo. O modelo proposto sugere a realização de
quatorze atividades, as quais relacionamos abaixo:
1. Definir interessados do projeto
2. Definir escopo do produto
3. Definir escopo do projeto
4. Detalhamento do escopo do projeto
5. Adaptar o modelo de referência
6. Definir atividades e seqüência
7. Preparar cronograma
8. Avaliar riscos
9. Preparar orçamento do projeto
10. Analisar a viabilidade econômica do projeto
11. Definir indicadores de desempenho
12. Definir plano de comunicação
13. Planejar e preparar aquisições
14. Preparar plano de projeto
A despeito das quatorze atividades sugeridas pelo modelo, podemos dividir a subfase
em planejamento do desenvolvimento do produto e planejamento do projeto
(desenvolvimento das atividades).
No planejamento do desenvolvimento do produto serão elencadas as características
desejáveis do produto, isto é, quais parâmetros deverão ser seguidos na produção do
produto.
Definidos os parâmetros do produto, pode-se passar a fase seguinte que é detalhar
as atividades que serão realizadas, isto é, o projeto de desenvolvimento em si. Neste ponto
serão realizados estudos visando definir o escopo do projeto, o cronograma das atividades,
os riscos envolvidos no processo, o orçamento com o custos das atividades, a comprovação
da viabilidade econômica do projeto, quais indicadores de desempenho serão utilizados para
medir o sucesso do projeto, como as atividades serão comunicadas, o que será necessário
adquirir para conduzir o projeto, tudo isso devidamente documento no plano de projeto.

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2.2 Desenvolvimento

A fase do desenvolvimento do produto é onde o mesmo será de fato produzido. É


subdivida em cinco subfases:
1. Projeto Informacional
2. Projeto Conceitual
3. Projeto Detalhado
4. Preparação da Produção do Produto
5. Lançamento do Produto

2.2.1 Projeto Informacional

Esta subfase do desenvolvimento será responsável pelas especificações de metas,


isto é, definir os requisitos com valores metas e adicionar informações qualitativas. Seis
atividades principais são desenvolvidas no projeto informacional:
1. Atualizar o plano do projeto informacional
2. Revisar e atualizar o escopo do produto
3. Detalhar ciclo de vida do produto e definir seus clientes
4. Identificar os requisitos dos clientes do produto
5. Definir requisitos do produto
6. Definir especificações meta do produto
Durante o projeto informacional, quando da revisão e atualização do escopo do
produto, serão feitas pesquisas para analisar tecnologias disponíveis e necessárias, padrões,
normas, patentes, legislações, produtos concorrentes ou similares.
O detalhamento do ciclo de vida como o próprio nome diz, será responsável por
projetar toda a vida do produto, aproveitando nesse momento para definir os possíveis
clientes em cada fase. Aproveitando deste estudo deve-se identificar os requisitos dos
clientes para o produto, isto em todas as fases de seu desenvolvimento, não somente as
necessidades imediatas.
Feito o estudo, passa-se a definição dos requisitos finais do produto, onde os
requisitos são transformados em valores mensuráveis e hierarquizados entre si.
A atividade final desta subfase é a definição de especificações meta do produto, que
nada mais é do que valorar os requisitos do produto, analisar perfil técnico e de mercado e

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as restrições de projeto do produto, isto é, contrato, ambiente, legislação, normas, dentre
outros.

2.2.2 Projeto Conceitual

A segunda subfase do desenvolvimento do produto é o projeto conceitual, que é


onde será realizado o modelo conceitual do produto através da integração dos princípios de
solução, a arquitetura do produto (Bill of materials – BOM inicial e interfaces), Layout e
estilo do produto, macro-processo de fabricação e montagem e a lista inicial dos sistemas,
subsistemas e componentes (SSC).
O projeto conceitual é constituído de dez atividades essenciais, quais sejam:
1. Atualizar o plano do projeto conceitual
2. Modelar funcionalmente o produto
3. Desenvolver princípios de solução para as funções
4. Desenvolver as alternativas de solução para o produto
5. Definir arquitetura do produto
6. Analisar sistemas, subsistemas e componentes
7. Definir ergonomia e estética
8. Definir fornecedores e parcerias de co-desenvolvimento
9. Selecionar a concepção do produto
10. Planejar o processo de manufatura macro / Definir plano macro de processo
Como se pode verificar, nesta subfase o produto será modelado de forma a definir
suas funções, a arquitetura, isto é, seu layout e estilo, a definição de ergonomia e estética,
tudo aquilo necessário para dar forma ao produto.
Modelado o produto, é possível definir o BOM do produto, fim de permitir a
fabricação do mesmo. Após a definição do BOM devem-se definir fornecedores e parcerias
de co-desenvolvimento, verificando a qualificação de fornecedores externos ou a viabilidade
de fabricação própria.
Após todos esses passos, algumas concepções para o produto foram desenvolvidas,
restando, portanto a escolha da mais adequada para que se possa realizar o planejamento
do processo de manufatura.

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2.2.3 Projeto Detalhado

A fase anterior, projeto conceitual, gerou uma concepção de produto, a qual poderá
na fase seguinte, projeto detalhado, ser transformada em um produto final. Nessa subfase
do desenvolvimento serão realizadas as configurações finais do produto, desenhos finais
com tolerâncias, planos de processo de fabricação, projeto de embalagem, material de
suporte do produto, protótipo funcional, projeto dos recursos e o plano de fim de vida.
O projeto detalhado conta com treze atividades chaves, listadas abaixo:
1. Atualizar o plano de projeto detalhado
2. Criar e detalhar SSCs, documentação e configuração
3. Decidir por fazer ou comprar SSC
4. Desenvolver fornecedores
5. Planejar o processo de fabricação e montagem
6. Projetar recursos de fabricação
7. Avaliar SSCs, configuração e documentação do produto e processo
8. Otimizar produto e processo
9. Criar material de suporte do produto
10. Projetar embalagem
11. Planejar fim de vida do produto
12. Testar e homologar produto
13. Enviar documentação do produto a parceiros
Durante o projeto detalhado serão realizadas muitas atividades direcionadas ao SSCs.
No tocante a este assunto procura-se criar, reutilizar, procurar, codificar, calcular e
desenhar, especificar tolerâncias, integrar os SSCs, bem como finalizar desenhos,
documentos e o BOM. Informações de custos, tempo, capacidade e competências para o
desenvolvimento/fornecimento dos SSCs serão fundamentais nesta subfase, pois se deve
definir entre comprar ou fazer, necessitando, portanto, de orçamentos dos fornecedores.
Caso seja necessário comprar os SSCs, devem-se selecionar os fornecedores, através
do envio das especificações e análise das amostras recebidas. Aprovado o custo e a amostra
o fornecedor é homologado para o processo.
Definidos os processos de obtenção dos SSCs, passa-se ao planejamento do processo
de fabricação e montagem. Nessa atividade deve-se definir e seqüenciar operações,

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especificar máquinas, equipamentos, pessoal, habilidades, inspeção, métodos, ferramental,
dentre outros.
Durante o planejamento detalhado é interessante que se faça a simulação do
processo de fabricação, fins de se identificar possíveis problemas ainda na fase de
planejamento. Nessa oportunidade serão avaliados SSCs, configuração e documentação do
produto e processo, bem como é uma oportunidade de otimização do produto e processo.
Nesta subfase será desenvolvido, além do produto em si, o material de suporte do
produto, que nada mais é do que o manual de operação do produto, material de
treinamento e manual de descontinuidade do produto.
Outra atividade importante do projeto detalhado é o desenvolvimento da
embalagem, onde se deve avaliar a distribuição do produto (transporte e entrega), definir
normas e as sinalizações das embalagens do produto, identificar os elementos críticos,
adequar embalagens aos elementos críticos, projetar a forma propriamente dita da
embalagem, bem como planejar o processo de embalagem.
Como todo produto tende a ter um fim, durante esta subfase planeja-se o fim de vida
do produto, através da elaboração do plano de retirada do mercado, plano de
descontinuidade da produção, plano de descarte e plano de reciclagem.
Feitas todas as outras atividades do projeto detalhado, deve-se testar e homologar o
produto. Nessa atividade serão verificadas as documentações, funcionalidade do produto,
atendimento aos requisitos, atendimento às normas, para, por fim, obter o certificado de
homologação.

2.2.4 Preparação da Produção do Produto

Na subfase anterior, verificamos que todo o planejamento referente ao produto e


sua fabricação foi realizada. O próximo passo é a preparação da produção do produto, onde
serão realizadas a liberação da produção, documentos de homologação, especificação do
processo de produção, especificação do processo de manutenção e a capacitação do
pessoal.
Podemos dividir a preparação da produção do produto em dez partes, a citar:
1. Obter recursos de fabricação
2. Planejar produção piloto
3. Receber e instalar recursos

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4. Produzir lote piloto
5. Homologar processo
6. Otimizar produção
7. Certificar produto
8. Desenvolver processo de produção
9. Desenvolver processo de manutenção
10. Ensinar pessoal
Na primeira atividade, devem-se desenvolver os recursos não comprados e comprar
os que tiveram fornecedores desenvolvidos. De posse dos mesmos passamos a verificação
da disponibilidade dos equipamentos em uso e a operacionalidade dos recursos novos, fins
de preparar todos os recursos para a produção do lote piloto, o qual será avaliado para que
se possa homologar o processo de fabricação e montagem.
Caso seja necessária alguma alteração no processo de manufatura, deve-se fazer
nesse momento, pois a próxima fase é a certificação do produto, na qual são avaliadas
exigências de regulamentação, o produto é submetido ao cliente para aprovação, bem como
são avaliados os serviços associados ao produto.
Sendo o produto certificado, passa-se a desenvolver o processo de produção, onde
são desenvolvidos processos de planejamento e controle da produção, processos de logística
e relação de entrega dos produtos aos clientes.
Para que todo o processo de manufatura sai a contento, deve-se realizar a
capacitação do pessoal. Para tal devem-se mapear competências necessárias, definir cursos
de treinamento, contratar instrutores, desenvolver cursos, desenvolver instrutores, treinar,
avaliar e certificar pessoal e montar cursos contínuos.

2.2.5 Lançamento do Produto

Como o próprio nome desta subfase diz, será nessa oportunidade que o produto será
apresentado ao mercado, necessitando nessa subfase de algumas especificações, tais como
processos de vendas, de distribuição, de assistência técnica e de atendimento ao cliente.
Nove atividades compõem o lançamento do produto:
1. Planejar lançamento
2. Desenvolver processo de vendas
3. Desenvolver processo de distribuição

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4. Desenvolver processo de atendimento ao cliente
5. Desenvolver processo de assistência técnica
6. Promover marketing de lançamento
7. Lançar produto
8. Gerenciar lançamento
9. Atualizar plano de fim de vida
No desenvolvimento de processos de vendas devem-se desenhar os processos de
vendas, adquirir os recursos necessários, preparar a documentação comercial, desenvolver
sistemas de apoio a vendas, contratar ou alocar pessoal e treinar a força de vendas e pessoal
de apoio a vendas.
Para desenvolver o processo de distribuição devem-se desenhar o processo de
distribuição, definir a logística do processo, fechar acordo com fornecedores, adquirir
recursos, desenvolver sistemas de apoio a distribuição e treinar pessoal de apoio a
distribuição.
O desenvolvimento de atendimento ao cliente conta com o desenho do processo de
atendimento ao cliente, a necessidade de comprar recursos, desenvolver documentação e
sistema de apoio ao cliente, a contratação e alocação de pessoal, bem como o treinamento
para o atendimento ao cliente.
A assistência técnica, assim como os outros processos, necessita do desenvolvimento
de algumas atividades, quais sejam: desenhar o processo de assistência técnica, comprar os
recursos necessários, desenvolver documentação e sistema de apoio a assistência técnica,
contratar e alocar pessoal, promover o treinamento do pessoal de assistência técnica.
Para o sucesso do lançamento, uma boa campanha de marketing deve ser realizada.
Além de propagandas deve-se realizar o evento de lançamento. Após o lançamento do
produto, o departamento de marketing verificará os resultados, isto é, mensurar a aceitação
inicial e a satisfação do cliente.

2.3 Pós-desenvolvimento

Realizado o desenvolvimento e lançamento do produto a organização deve atentar


para as atividades pós-desenvolvimentos, que são o acompanhamento do produto e
processo e descontinuação do produto no mercado.

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2.3.1 Acompanhar Produto e Processo

Como o nome diz, a subfase de acompanhamento do produto e processo é quando a


organização verificará os níveis de aceitação e desempenho do produto. Essa subfase conta
com três atividades, quais sejam:
1. Avaliar satisfação do cliente
2. Monitorar desempenho do produto
3. Realizar auditoria pós-projeto
Na primeira atividade deve-se planejar cuidadosamente a avaliação, aplicá-la e
analisar e consolidar os dados de nível de satisfação do cliente, fins de entender o impacto
do produto sobre o cliente.
O monitoramento do desempenho do produto conta a verificação do desempenho
técnico do produto no mercado e serviços associados e na produção. São monitorados,
ainda, o processo de produção, as vendas, o custo de produção, bem como a avaliação
econômica do produto.
A auditoria pós-projeto nada mais é do que a verificação de lições aprendidas no
processo, que podem auxiliar no desenvolvimento de novos produtos no futuro.

2.3.2 Descontinuar Produto no Mercado

Ao fim do ciclo de vida do produto deve-se verificar a viabilidade de descontinuação


do produto no mercado. Para atingir o objetivo, duas atividades devem ser realizadas:
1. Analisar e aprovar descontinuidade do produto
2. Planejar a descontinuidade do produto
Quando chegar o ciclo final de vida do produto a organização deve realizar uma
pesquisa de mercado para analisar a oportunidade de descontinuidade do produto. Devem
ser levados em conta se as metas do produto foram alcançadas, o que está estipulado no
plano de fim de vida do produto, o relatório de auditoria pós-projeto, demanda pelo
produto, dentre outros.
A retirada do mercado do produto deve ser uma atividade bem planejada, fins de não
deixar o cliente confuso sobre a descontinuação.

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2.4 Processos de Apoio

O modelo proposto de gestão de desenvolvimento de produtos conta com dois


processos de apoios, quais sejam:
1. Gerenciamento de mudanças de engenharia
2. Melhoria do processo de desenvolvimento de produtos
O gerenciamento de mudanças de engenharia visa permitir que mudanças
identificadas durante o processo sejam avaliadas e implementadas se for o caso. A avaliação
é realizada pelo Control Change Board – CCB, grupo encarregado de gerenciamento de
mudança durante o projeto. As fases do gerenciamento de mudanças são basicamente:
identificar, propor, alterar e implementar mudanças. Os pedidos são realizados através de
documento intitulado de Engineering Change Request – ECR e as ordens realizadas através
do Engineering Change Order – ECO. A figura 2 ilustra as fases de gerenciamento de
mudanças de engenharia.

Fig. 2 – Gerenciamento de mudanças de engenharia

A melhoria do processo de desenvolvimento de produtos é realizada através da


analise encadeada da seguinte forma: entender a motivação das melhorias, analisar
situação, definir ações e implantar, o qual é realizado através de projetos de melhoria de
processo, faseados em planejar, requisitos, desenhar, executar e liberar. O processo
assemelha-se ao conhecido ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act). A imagem abaixo representa
melhor o processo.

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Fig. 3 – Melhoria no processo de desenvolvimento de produtos

3. Ferramentas utilizadas na GDP

Diversas ferramentas podem e devem ser utilizadas na Gestão de Desenvolvimento


de Produtos. Nesse trabalho focaremos em duas ferramentas, quais sejam: Quality Function
Deployment – QFD e Analise e Engenharia de Valor.

3.1 Quality Function Deployment - QFD

3.1.1 Conceito

A ferramenta QFD se aplica perfeitamente a Gestão de Desenvolvimento de Produtos


e pode ser assim conceituada:
O QFD consiste em um poderoso instrumento de planejamento. O termo quality não tem o significado
de qualidade, mas de atributos ou características; deployment assume o sentido de desenvolvimento e
difusão. Conseqüentemente, “desdobramento da função qualidade” não é a tradução do termo QFD,
por não refletir todo o seu significado. (MARSHALL JÚNIOR, 2003, p. 47).

A ferramenta consiste, portanto, em transformar dados obtidos prioritariamente com


os clientes e, submetendo tais informações a uma série de processamentos sucessivos
chega-se ao refinamento, de modo que os atributos estabelecidos pelo cliente se traduzam
no produto final.

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O QFD permite a observância das necessidades do mercado de modo a transformar
desejo em algo tangível. Podemos dizer que o método QFD permite a redução de erros, uma
vez que tenta projetar o produto já na forma desejada pelo consumidor final.
Essa ferramenta contribui para o desenvolvimento do produto, sendo possível
apontar como objetivos e, portanto, conseqüências os seguintes pontos:
 Redução do tempo de desenvolvimento de produtos;
 Redução do número de alterações nos projetos;
 Redução de problemas no início da produção;
 Redução dos custos;
 Aumento da satisfação dos clientes;
 Ampliação da base de conhecimento dos participantes do projeto de QFD.

3.1.2 Metodologia

O QFD possui quatro etapas básicas, quais sejam:


1. Planejamento do produto;
2. Desenvolvimento dos componentes;
3. Planejamento do processo; e
4. Planejamento da produção.

Como resultado da fase de planejamento do produto é elaborada a Casa da


Qualidade, a qual pode ser seqüenciada na forma abaixo:
1. Definição do objetivo:
É a descrição da meã, do objetivo, do problema, da dificuldade que se quer
resolver ou para qual vai se direcionar todo o esforço da equipe.
2. Lista de “ques” – o que o cliente quer:
São as características do produto, bem ou serviço tal como definida pelo
cliente.
3. Ordem de importância:
Nessa etapa os clientes atribuem pesos aos “ques” levantados.
4. Avaliação da concorrência pelo cliente:
Análise do bem ou serviço oferecido pela concorrência, em comparação com
o bem ou serviço estudado.

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5. Lista dos “comos” – como traduzir/entender os desejos dos clientes:
Nessa fase, traduzem-se aquelas necessidades em requisitos técnicos. Os
“comos” devem ser mensuráveis.
6. Direção de melhoria:
Estabelece para cada “como” a sua direção de melhoria, isto é, “para cima”
ou “para baixo”.
7. Matriz de correlação (telhado):
É uma matriz triangular que busca estabelecer a correlação entre os “comos”.
8. Quanto:
Estabelece para cada “como” uma valor-alvo (meta) que deve ser alcançado
de modo a garantir a satisfação do cliente.
9. Avaliação técnica da concorrência:
Similar à avaliação da concorrência feita pelo cliente, a diferença reside no
fato de a comparação se basear em cada “como” e não em cada “que”.
10. Matriz de relações:
É uma forma sistemática de identificar um nível de relação entre uma
característica do bem ou serviço (“ques”) e a maneira de obtê-los (“comos”).
11. Fatores de dificuldade ou probabilidade:
São valores que indicam a maior ou menor dificuldade que a empresa tem
para atender cada um dos itens “como”.
12. Escores absoluto e relativo:
Seleção dos “comos” que deverão passar à próxima fase. Multiplica-se os
graus de intensidade pela ordem de importância fornecida pelo cliente.

Como dito no início, o QFD é constituído de quatro fases, veremos adiante as quatro
fases pormenorizadamente:
Fase 1 – Planejamento do produto:
É a finalidade do produto. Nessa fase, convertem-se as exigências do cliente
em “ques”. A equipe passa a desenvolver a matriz, criando diferentes
maneiras de traduzir os requisitos.
Fase 2 – Desenvolvimento de componentes:

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Nela determinam-se os detalhes e componentes necessários para fabricar o
produto ou prestar o serviço, resultando em ponto que apresentam maior
relação com a satisfação dos requisitos do produto estipulados pelo cliente.
Fase 3 – Planejamento do processo
Esta fase tem como resultado a escolha do processo a ser aplicado para
desenvolver o bem ou sérico que atenderá aos requisitos do cliente.
Fase 4 – Planejamento de produção
Na fase 4 desenvolvem-se os requisitos de fabricação do produto. Os
métodos de produção para atender ao processo estipulado na terceira fase
permitirão à empresa fabricar um produto ou prestar um serviço
inteiramente de acordo com as necessidades do cliente.
Abaixo segue uma imagem das etapas do QFD (fig. 4) e uma Casa da Qualidade já
desdobrada (fig. 5)

Fig. 4. QFD genérico Fig. 5. QFD desdobrado

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3.2 Análise de Valor

3.2.1 Conceito

Outra ferramenta que auxilia na gestão de desenvolvimento de produtos é a análise


de valor. Abaixo conceituamos analise de valor:
O conjunto de técnicas denomina-se análise de valor quando aplicado a produtos acabados, engenharia
de valor quando empregado em novos projetos e gerenciamento de valor quando conduzido em
atividades administrativas. A engenharia de valor tem natureza sobretudo preventiva, por minimizar
custos previsíveis, que pesariam sobre o produto durante seu clico de existência. Mas a utilização eficaz
da engenharia de valor de modo algum evita um trabalho posterior pautado na análise de valor.
Em suma, análise de valor constitui uma aplicação sistemática de técnicas com o objetivo de identificar
as funções e provê-las ao menor custo possível, sempre garantindo nível de qualidade igual ou superior
ao do produto inicial. (MARSHALL JÚNIOR, 2003, p. 57).

Podemos definir os objetivos da ferramenta como:


 Reduzir custos (principalmente os de produção);
 Elevar os níveis de qualidade do produto; e
 Elevar o grau de satisfação dos clientes, do market-share e dos resultados
organizacionais.

3.2.2 Metodologia

A metodologia da análise de valor tem como principais características:


1. Pensamento na função:
Preocupação em entender as funções dos objetos em estudo.
2. Qualificação dos objetos:
Preocupação em traçar uma meta inicial.
3. Trabalho em equipe:
Preocupação em trabalhar de forma interdisciplinar.
4. Criatividade:
Uso da criatividade para lidar com os paradigmas existentes.
5. Sistematização do trabalho:
Seguir uma metodologia entendida por todos.

Os principais elementos da análise de valor são quatro e serão detalhados a seguir:


1. Objeto:

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É o bem ou serviço, projeto ou processo de trabalho em estudo.
2. Função:
São as tarefas que os objetos procuram desempenhar. Devem ser descritas
por um verbo acompanhado de um substantivo, como “armazenar conteúdo”
(pote).
a. Funções de uso:
Relacionadas com o valor de uso, como “conduzir energia” (fio).
b. Funções de sétima:
Relacionadas com o valor de estima do produto, em geral não
mensurável, como “criar status” (cadeira).
c. Função principal:
Relacionada com a razão principal da existência do produto, como
“permitir assento” (cadeira)
d. Função secundária:
Relacionada com as funções que têm por objetivo auxiliar ou expandir
o desempenho das funções principais. Podem ser necessárias,
desnecessárias ou acessórias. São exemplos: “suportar peso”
(necessária), “servir de escada” (desnecessária) e “pendurar roupa”
(acessória).
3. Custo:
O custo representa a avaliação dos insumos e processo necessários para a
produção de um bem ou serviço.
4. Valor:
Consiste basicamente em quatro tipos de valor:
a. Valor de uso:
Relacionado com as funções que o objeto deve cumprir.
b. Valor de estima:
Relacionado com o poder que o objeto exerce sobre as pessoas e que
as leva a desejar possuí-lo (associado à atratividade)
c. Valor de custo:
Soma dos custos necessários para a produção do objeto.
d. Valor de troca:

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Soma dos valores de uso e de estima que permite a venda pelo
cliente.

Para elucidar melhor a ferramenta, descreveremos abaixo as etapas de


desenvolvimento de um projeto de análise de valor. As fases são sucessivas, portanto deve-
se terminar a primeira para começar a seguinte.
1. Etapa preparatória
a. Escolher o objetivo;
b. Selecionar o grupo de trabalho;
c. Determinar a meta de redução de custos;
d. Planejar as atividades;
e. Traçar o cronograma.
2. Etapa informativa
a. Colher informações sobre o objeto e suas partes;
b. Determinar o custo e a função das partes;
c. Traçar diagrama da árvore.
3. Etapa crítica
a. Selecionar as funções representativas do objeto;
b. Estabelecer o custo real de cada função escolhida;
c. Valorar cada função.
4. Etapa criativa
a. Gerar soluções alternativas.
5. Etapa analítica
a. Analisar e selecionar as soluções;
b. Desenvolver estudo de viabilidade técnica e econômica.
6. Etapa de implantação
a. Desenvolver a solução e sua implantação;
b. Implantar e medir os resultados;
c. Realimentar o sistema com informações.

A primeira fase, preparatória, consiste em adotar as providências preliminares


necessárias ao desenvolvimento de um projeto. O objeto de estudo é definido, a equipe é

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formada, determina-se o escopo e pode-se, então, planejar as atividades e estipular o
cronograma.
Na fase informativa o objeto é estudado para que se possa classificar o objeto nas
características apresentadas acima (função, custo, valor e objeto).
A etapa crítica é realizada a comparação do custo estimado com o valor sugerido. A
equipe deve conhecer bem o objeto para estipular os custos e ter boa percepção do valor
que o cliente atribui ao objeto.
A quarta etapa é a fase criativa, onde a equipe deve gerar uma gama de idéias, de
modo a identificar materiais ou componentes que poderiam, a custos menores, atender
àquelas funções selecionadas como prioritárias.
A fase seguinte, analítica, cabe o estudo das soluções encontradas, elegendo-se as
melhores, que passam à etapa de implantação.
Por fim, a implantação, requer a solução destacada na fase anterior seja
aperfeiçoada, implementada e reavaliada.

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REFERÊNCIAS

PORTAL de compartilhamento de conhecimentos sobre Gestão do Desenvolvimento de


Produtos (GDP). Disponível em: <http://www.pdp.org.br>. Acesso em: 11 maio 2008.

MARSHALL JUNIOR, Isnard et al. Gestão da Qualidade. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

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