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Escola Inclusiva - O Desafio de uma Experiência

Santo André é uma cidade brasileira, situada na área metropolitana da Grande São
Paulo. É de porte médio, tendo uma população aproximada de 650 mil habitantes. Seu grande
desenvolvimento e crescimento urbano, devem-se à instalação de indústrias do setor
automobilístico, cujo ápice foi na década de 70.
À partir da década de 90, com o advento da chamada terceira revolução, a revolução
tecnológica, acoplada à grande crise financeira do país, inicia uma mudança de seu perfil, de
cidade industrial para prestadora de serviços.
Neste processo, a cidade vem sofrendo uma crise de pauperização, tendo hoje 153
favelas e grande número de desempregados. A cada período as indústrias ainda presentes na
cidade, despedem milhares de trabalhadores, de um lado e de outro encerram seus trabalhos,
mudando-se para outras cidades do interior do Estado onde a mão de obra é mais barata.
Neste quadro geral insere-se o processo de exclusão social da maioria da população.
A administração atual, enfrenta este desafio, desenvolvendo em todos os setores
programas que contemplam a inclusão como os Programas de Renda Mínima, do Banco do
Povo, com linhas de crédito de pequeno porte para pessoas que queiram desenvolver de forma
autônoma seus negócios e um Movimento Popular de Alfabetização - MOVA Santo André.
Este é o cenário que contempla a proposta de Educação Inclusiva, eixo estruturante de
nossa Política Educacional.
Para explicá-la, desenvolveremos os trabalhos em dois momentos:
• o aporte teórico da inclusão escolar
• como esta vem acontecendo na cidade.

Bases teóricas da inclusão


Os programas educacionais, as prioridades institucionais e os atendimentos a pessoas
com deficiência, convergem modernamente para a inclusão dos mesmos nas diversas
modalidades das atividades humanas.
Organizações internacionais dedicadas a essas pessoas têm sensibilizado as nações, os
estudiosos da infância e do conhecimento, propondo trabalhos dentro de inovações educacionais.
"O estudo da atividade cognitiva dos deficientes mentais aponta-nos à inclusão escolar
dessas pessoas no ensino regular, como uma condição que poderá contribuir significamente para
estimulá-las a se comportarem ativamente diante dos desafios do meio, abandonando, na medida
do possível, os estereótipos, os condicionamentos, a dependência que lhe são típicos" (Mantoan -
1997).
As pesquisas realizadas sobre o "como" e o "para que", ou seja, referentes à dimensão
prática, do comportamento adaptativo de deficientes mentais, estão clareando cada vez mais a
compreensão sobre a aprendizagem dessas pessoas e apontam a importância de se criar situações
que favoreçam a inclusão.
A inclusão não deve porém, ser entendida como interesse para os alunos deficientes,
mas igualmente para os alunos regulares e seus professores.
Quando incluirmos porém o aluno como deficiência mental na escola regular, na
verdade estamos exigindo desta instituição, novos posicionamentos diante dos problemas de
ensino e de aprendizagem, à luz de concepções e práticas pedagógicas mais evoluídas. A inclusão
é pois um motivo para que a escola se modernize e os professores aperfeiçoem suas práticas e
assim sendo, torna-se conseqüência natural de todo um esforço de atualização e de reestruturação
das condições atuais do ensino básico.
Em relação à contribuição da Psicologia, esta tem avançado no sentido de integrar os
processos metacognitivos aos trabalhos de base aos projetos de inclusão escolar, fazem uma
análise da deficiência intelectual e são unânimes em destacar a ausência de consciência
metacognitiva nos deficientes mentais , consideram essa incapacidade um elemento central das
limitações na adaptação e na autonomia dessas pessoas (Feuertein, 1978; Iternberg, 1983;
Borkowski e Pressley, 1987; etc.).
"Sabemos porém que há meios de se atualizar as possibilidades intelectuais das pessoas
em geral, o que permite melhorar de modo significativo a tomada de consciência, com a ajuda
graduada de um mediador, as estratégias de adaptação de sujeitos com déficits intelectuais"
(Mantoan, 1997).
Certas habilidades intelectuais, como a resolução de problemas, foram encontradas no
comportamento de alunos regulares e de alunos com déficits mentais por Audry (1991) que
demonstrou melhoras significativas em muitas pessoas e ainda um crescimento geral da auto-
estima e da adaptação sócio-afetiva.
Estudos sobre a questão da maturação feitas por Borkowski e Pressley (1987) apontam
para a necessidade de se estimular a motivação e de se guiar o processo de resolução de
problemas nas pessoas com deficiência mental. O aspecto do processo cognitivo emerge nesses
casos, e, enquanto o problema continua presente e a auto-imagem permanece negativa, os
sujeitos tendem a aprofundar suas dificuldades, podendo até se tornarem crônicas.
Em nossa proposta de inclusão, estamos tentando exercitar a mobilidade dos deficientes
mentais na escola, não como um fim em sim mesmo.
A atualização das habilidades intelectuais alternativas dos alunos com deficiência
mental decorrem de uma prática de ensino que a curiosidade, o interesse, a significação do objeto
de conhecimento mobilizam o sujeito a pensar, a descobrir, a criar, para alcançar seus objetivos.
Em outras palavras, o desenvolvimento de habilidades intelectuais alternativas e a
mediação para estimular o subfuncionamento mental no meio escolar, acontecem quando os
alunos estão inseridos em um meio escolar livre de imposições e de tensões sociais, afetivas e
intelectuais.
Assim podemos dizer que os estudos referidos nos apontam que a inserção escolar
dessas pessoas no ensino regular poderá contribuir significativamente para estimulá-las a se
comportarem ativamente, diante dos desafios do meio.
As bases teóricas da inclusão são oriundos de pesquisa psicológica e pedagógica, como
"as escolas heterogêneas" (Falvey e Haney, 1989), "escolas acolhedoras" (Puibsey e Novak,
1984), etc.
A execução de propostas de educação escolar inclusiva suscita inúmeras questões, como
a competência dos deficientes mentais, para enfrentar as exigências acadêmicas, especialmente
nos sistemas de ensino em que o paradigma vigente dicotomize o ensino em regular e especial e
em que o ultrapassar dessa subdivisão é dificultado pela falta de capacitação dos professores.
Podemos reunir os problemas suscitados pela inclusão de deficientes mentais conjunto
de respostas pedagógicas que buscamos para desvendar essa competência, porque esses alunos
tem o direito de viver desafios para desenvolver suas capacidades e de conquistar autonomia
social e intelectual, decidindo, escolhendo, tomando incitavas, em função de suas necessidades e
motivações.

Como estamos fazendo a inclusão


A rede municipal de Santo André conta com 21.350 alunos. sendo na Pré-escola, 11.500
no Ensino Fundamental, 4.000 nas Creches, 2.700 nas classes de Educação de Adultos e 3.150 no
Movimento Popular de Alfabetização.
Contamos ainda com 660 professores, 350 monitores. São 60 escolas, tendo 24
Assistentes Pedagógicas e 06 Professores de Educação Especial.
Na Secretaria temos 04 Gerências: de Educação infantil, de ensino Fundamental, de
Jovens e Adultos e de Educação Especial.
Para desenvolver com seriedade e competência a inclusão escolar de deficientes, temos
uma assessoria de uma das principais universidades brasileiras, a UNICAMP.
A assessoria a este programa se traduz por uma sustentação dos princípios da Política
Educacional, (Democratização do Acesso e da Gestão) e postulam a qualidade de ensino na
perspectiva da formação dos seus professores e na garantia dos excluídos, resguardadas as
diferenças culturais, sociais e étnicas.
As escolas inclusivas se caracterizam por respeitar e reconhecer em suas turmas, a
diversidade dos alunos e as diferentes manifestações destes diante do conhecimento. Não
excluem os alunos, pois não têm valores e medidas pré-determinantes de desempenho escolar,
considerando fundamental essa diversidade para o desenvolvimento das áreas curriculares.
Os professores estão sendo formados para darem conta de práticas pedagógicas
adequadas ao trabalho com grupos heterogêneos.
Por entendermos também que seria fundamental para a transformação de nossas escolas
em escolas inclusivas, no ano passado trabalhamos na formação de todos os Diretores e
Assistentes Pedagógicas , as implicações da inclusão escolar.
Este ano, nossas ações de formação estão sendo realizadas com grupos de professores,
representantes de todas as escolas que poderão se transformar em multiplicadores que levarão as
discussões realizadas nos referidos cursos a todos os coletivos da Escola.
Ao mesmo tempo os professores de Educação Especial trabalham junto com as
Assistentes Pedagógicas e Diretores, procurando discutir os problemas pedagógicos da inclusão e
o como ele se dá em sala de aula.
Temos hoje 240 alunos portadores de diferentes deficiências, sendo o maior grupo o de
deficientes mentais.
Ao mesmo tempo estamos já em fase de implantação de um Centro Diagnóstico e de
Acompanhamento composto por uma equipe multidisciplinar composta por 02 psicólogos, 01
psiquiatra, 02 fonoaudiólogos, 01 assistente social e 06 pedagogos.
Esta equipe trabalha na perspectiva da inclusão procurando apoiar as escolas nas
informações e tratamentos das crianças, jovens e adultos do ponto de vista clínico.
Através de um convênio com o Centro especializado com problemas do crânio e Face,
estão sendo feitos diagnósticos e tratamentos de crianças com deficiência auditiva.
A equipe de médicos responsáveis está capacitando os professores nas escolas, para que
eles possam detectar o quanto antes os problemas de audição das crianças de 4 a 7 anos de idade,
quando iniciam a pré-escola e o ensino fundamental.
Completando este conjunto de ações, está sendo implantada a Escola de Pais, para que
os mesmos entendam a deficiência e acreditem nas possibilidades de seus filhos. Este projeto
tem como principal objetivo o trabalho na melhoria das relações da família, escola e dos pais e
filhos.
Usamos para representar a inclusão a metáfora do caleidoscópio. Este precisa de todos
os pedaços que o compõem e quando se retira uma de suas partes, o desenho se torna menos
complexo, menos rico.
As crianças, como aquele, se desenvolvem , aprendem e evoluem melhor em um
ambiente rico e variado.
Não acreditamos que conseguiremos mudar a escola em um passe de mágica. Mas
sabemos que nosso sonho é possível, pois a busca das utopias é a certeza de realizá-las.
Na sociedade inclusiva ninguém é bonzinho, somos apenas cidadãos responsáveis pela
qualidade de vida do nosso semelhante, por mais diferentes que eles sejam ou nos pareça ser.
(Werneck)

Sugestões Bibliográficas
• Mantoan, Maria Teresa Eglér e colaboradores - A integração de pessoas
com deficiência - Editora Memmon - SP., 1997.
• Werneck, Cláudia - Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva
- Editora WVA - RJ, 1997.
• Kasumi, Romen - Inclusão, construindo uma sociedade para todos - Editora
WVA - RJ, 1997.
• Mantoan, Maria Teresa Eglér - A inclusão nas escolas brasileiras: desafios,
ações e perspectivas - MEMO, 1998.
• Caminhos Pedagógicos da inclusão: A formação do professor tal como a
concebemos e realizamos - LEPED - UNICAMP - 1998
• Integração X Inclusão - Revista Pátio - Maio/Julho, 1998.
• Integrar ou Incluir - projeto Caleidoscópio, 1998.
Responsável: Solange ferranezi
Secretária de Educação Adjunta
Telefone: 4433-0703

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