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z ESTÉTICA
A ordem dos conteúdos, trabalhada no Conteúdo Estruturante Es-
I
tética, percorre, de certa forma, a ordem de problemas que foram sur-
gindo à medida que as questões estéticas se colocaram na filosofia.
Beleza, gosto e arte são os três temas norteadores dos conteúdos. No
entanto, a partir deles, se descortinam muitos outros assuntos que se
n
anexam nessa discussão: categorias que não somente a beleza, mas
também diferentes idéias a respeito da arte, da sua definição e fun-
ção, outras formas artísticas e suas divergências, as questões econômi-
cas, políticas e sociais vinculadas à dimensão da arte, e a ampliação da
t
visão de mundo que a contemporaneidade convive são exemplos de
como a Estética é um assunto importante, amplo e, ao mesmo tempo,
bem delimitado no campo da filosofia.
A escolha dos filósofos que permeiam os textos não se deu alea-
r
toriamente. Além de suas relevâncias filosóficas, também se observou
a contribuição que cada um apresentou para a discussão do proble-
ma proposto. Obviamente que muitos outros autores poderiam ser tra-
balhados em cada tema, bem como muitos outros assuntos poderiam
o
ainda ser relevantes nesse conteúdo estruturante. Mas, como um dos
objetivos norteadores desse livro é de que ele não tenha que dar con-
ta de tudo ou de ser apenas uma introdução ao tema, pois é apenas
um livro de apoio ao professor, foi então preciso fazer escolhas. No
d
entanto, esse norte não está fechado, o horizonte se abre para que os
professores possam enriquecer e ampliar a discussão, onde ela se fi-
zer necessária.
No conteúdo, Pensar a Beleza, a questão da beleza é a motriz da dis-
u
cussão. Os ideais de beleza que se formam na sociedade acompanhan-
do as representações artísticas e as determinações sociais, são o cami-
nho de motivação para a discussão. A relevância desse assunto não
está apenas ligada à Estética, mas também ao campo da ética, uma vez
ç
que a busca da beleza, principalmente na contemporaneidade, está li-
gada a valores como o consumo e riqueza, o que culminam na redu-
ção da totalidade do ser humano. Esse problema apresentou-se como
norteador, de uma forma geral, para os quatro conteúdos, uma vez que
ã
a discussão sobre beleza e arte estão, de uma forma ou de outra, rela-
cionadas ao âmbito social, político e econômico. Analisou-se, ainda, o
surgimento da Estética como área específica da filosofia, sua relevância
política-social e questões próprias desse Conteúdo Estruturante, numa
o
contraposição entre as idéias de Baumgarten e a dos gregos, amplia-
da com as reflexões de Schiller, que orientara a discussão do problema
inicial. As disciplinas de Arte e História fazem as relações interdiscipli-
nares. Um breve retrato sobre as diferentes visões a respeito do corpo,
268 Introdução
Filosofia
F
sidade de gostos e a compreensão da Estética também no âmbito da
discussão sobre o conhecimento, isto é, a relação do ser humano com
o mundo sensível. Contrapôs-se, nesse debate, às idéias dos filósofos
Hume e Kant, complementadas com a visão do Materialismo Históri-
I
co sobre a relevância da arte na sua função política. Às relações inter-
disciplinares se dão com Arte e Sociologia. Em relação ao gosto pude-
mos refletir inicialmente o contexto do mercado das obras de arte, e
a formação do gosto, como um fato social, um conceito do sociólogo
L
Émile Durkheim.
O conteúdo Necessidade ou fim da Arte?, aprofunda a discussão sobre
a importância e a função da arte, sua necessidade e seu fim, com as
idéias de Ernest Fischer e de Hegel. Hegel é visto, em geral, como um
O
filósofo complicado e distante da nossa realidade. Procurou-se facili-
tar a compreensão geral de suas idéias, guiando-se para compreender
a função da arte, para que fosse possível discutir a profusão ou confu-
são a que se chegou, atualmente, com tantas expressões artísticas. As
relações interdisciplinares serão feitas com Sociologia e Arte, ao refle-
tirmos sobre o processo de criação e determinação do artista e de sua
obra às condições histórico-sociais às quais estão inseridos.
O conteúdo, O Cinema e uma nova Percepção, debruça-se sobre a cul-
S
tura de massa dos dias atuais e a idéia de que a arte, ou mais especifi-
camente arte erudita, parece ter chegado ao seu esgotamento, princi-
palmente com as técnicas de reprodução mecânica e digital. O cinema
é uma das formas de expressão artística marcante do século XX, e é a
partir dele que se discutirá as transformações que essas novas técnicas
O
e formas de arte trouxeram, questionaram, deformaram ou ampliaram,
na visão de mundo contemporâneo. As relações interdisciplinares são
com Física e Arte. A partir da fotografia e do cinema, principalmente,
muitas transformações no mundo da arte são visíveis, nesse sentido é
F
I
que a disciplina de Arte auxilia novamente. Para ilustrar as implicações
dessas novas tecnologias, também trouxemos, da disciplina de Física,
uma exposição, ainda que rápida, sobre a Teoria da Relatividade, e su-
as implicações na mudança de concepção de mundo.
A
No decorrer de cada Folhas são propostas atividades de estudo,
pesquisas e debates com toda a turma. Além desta, muitas outras ativi-
dades podem ser pensadas e realizadas.
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Ensino Médio
270 Estética
Introdução
Filosofia
z Busca da beleza
A busca da beleza e a melhor forma de representá-la fazem par-
te do universo de preocupações humanas. Beleza essa que pode ser
contemplada nas obras de arte, em objetos do uso cotidiano e no pró-
prio corpo humano. Na história da humanidade, entretanto, pode-se
Laocoonte. Escultura, em
notar que os padrões de beleza mudam de acordo com diferentes cul-
mármore, do século I a.C.
turas e épocas e que esses padrões não estão somente presentes nas
(Museu do Vaticano). Obser-
ve como alia harmonia e for- obras de arte.
ça expressiva; o braço direi-
to estendido num esforço de
movimento para o alto e alon- z Refletir sobre beleza
gamento do corpo em posi-
ção desconfortável oferece Mas o que faz um objeto (seja ele o corpo ou uma obra de arte)
ao contemplador a expres- ser belo? A Estética, enquanto reflexão filosófica, busca compreender,
são do sofrimento de todo num primeiro momento, o que é beleza, o que é o belo a preocupa-
o corpo e, ao mesmo tem- ção com o belo, com a arte e com a sensibilidade, próprias da refle-
po, transmite a idéia do es- xão estética, nos permite pensar, segundo Vásquez em seu livro Convi-
plendor e perfeição no movi- te à Estética, as nossas relações com o mundo sensível, o modo como
mento dos corpos, na paixão as representações da sensibilidade dizem sobre o ser humano. Não se
e dramaticidade do gesto.
trata, portanto, de uma discussão de preferências, simplesmente com
< Fonte: CD – Enciclopédia de o fim de uniformizar os gostos. Então ela não poderá ser normativa,
arte Universal – Coleção Caras determinando o que deve ser, obrigatoriamente, apreciado por todos.
Ela deve procurar, ao contrário, os elementos do conhecimento que
permitem entender como funciona o nosso julgamento de
gosto e nosso sentimento acerca da beleza, mas numa
perspectiva geral, universal, isto é, válida e comum
a todos.
Ernest Fischer, em sua obra A Necessidade
da Estética, mostra que a preocupação com
a beleza sempre acompanhou o ser hu-
mano desde a fabricação de seus utensí-
lios. O homem dedicou-se não apenas
em fabricar objetos simplesmente para
um uso prático. Além de serem funcio-
nais esses objetos, por mais primitivos
< http://archeo4.arch.unipi.it/
272 Estética
Introdução
Filosofia
DEBATE
1. Pesquise a respeito dos utensílios pré-históricos e analise, a relação entre a função mágica e a rela-
ção com o trabalho e o poder do homem sobre a natureza.
2. Com base na pesquisa realizada responda: qual a relação entre magia, trabalho e arte no contexto
da sociedade atual?
Apresente as respostas à turma para debate.
As regras para o debate encontram-se na introdução deste livro.
z Entre os gregos
Foi entre os gregos antigos que a reflexão sobre o belo se abriu ao
pensamento. Entretanto, como a arte, para eles, estava vinculada a al-
guma função (moral, social e política), ela não tinha sua identidade
própria. Sócrates (470 ou 469 a.C. – 399 a.C.) vai associar o belo ao útil.
Portanto, um objeto que se adapta e cumpre sua função é belo, mes-
mo que não esteja adornado. Ele inaugura um tipo de estética funcio-
nal, utilitária que, se prestarmos atenção, está muito presente no nos-
so cotidiano, na produção dos objetos de uso corriqueiro, que também
apresentam uma preocupação estética.
Platão (427 a.C. – 348 a.C.) já não tem essa preocupação prática de
encontrar objetos belos. Ele não se pergunta o que é belo, mas o que < Fonte: CD – Enciclopédia de arte
é “O Belo”. Ele não está preocupado com a beleza que se encontra nas Universal – Coleção Caras (Alpha-
Betum – mulimídia)
coisas, mas numa beleza ideal. Isso quer dizer que os objetos só são
belos na medida em que participam do ideal de beleza, que é perfei- Cena de combate. De-
to, imutável, atemporal e supra-sensível, isto é, está além da dimensão talhe de uma crátera em
material. Platão afirma que a beleza que percebemos no mundo ma- Coríntia.
terial participa de um Belo ideal: “Quando se der a ocorrência de be- Museu do Louvre, Paris.
los traços da alma que correspondam e se harmonizem com um exte-
Um escudo que não servisse
rior impecável, por participarem do mesmo modelo fundamental, não
para a defesa, por mais ador-
constituirá isso o mais belo espetáculo para quem tiver olhos de ver?” nado que fosse não seria be-
(PLATÃO, 1997, p. 22) A característica fundamental nessa determinação do belo
lo para Sócrates.
é a proporção do quanto um objeto consegue imitar o ideal de bele-
za; então pode-se caracterizá-lo como belo. A contemplação dessa be-
leza ideal também deve elevar a alma deixando o cidadão livre de su-
as paixões e dos prazeres do mundo material, afinal “... o mais belo é
também o mais amável...”. (Ibidem)
ATIVIDADE
z Na idade média
Essa visão grega sobre o corpo humano muda na Europa da Idade
Média. A partir do século X, quando as invasões bárbaras terminaram,
a Europa começou a se reorganizar politicamente e o cristianismo se
tornou um dos elementos importantes dessa cultura. O corpo humano,
nesse período, é associado ao mundo material, aos valores terrenos e
274 Estética
Introdução
Filosofia
A Virgem e a Criança com São Nícolas, São João Evangelhista, São Pedro e São Benedito (1300). Galeria de Uffizi, Florença, Itália.
Têmpera em painel, de Giotto (1266-1337)
Observe nessa figura que, além do seu tema ser religioso, não existe a preocupação em retratar fielmente a figura dos corpos. As ca-
pelinhas, nas quais as personagens estão inseridas direcionam nosso olhar para o alto, embora os olhares delas estejam para baixo,
numa referência à atenção e proteção dada aos homens.
ATIVIDADE
1. Compare as preocupações em relação à forma, aos conteúdos, às técnicas utilizadas e aos objeti-
vos para os quais as obras se destinavam, entre os gregos e os medievais.
2. De que forma a Igreja Católica utilizava, na Idade Média, obras de arte para a catequização e educa-
ção moral dos fiéis?
3. Analise a arte como uma forma de educação moral e espiritual. Ela tem obrigatoriamente essas fun-
ções? Justifique.
z No renascimento
< http://pt.wikipedia.org
ATIVIDADE
Responda às questões abaixo.
1. Como são as formas de controle e poder sobre o corpo na sociedade capitalista?
2. Compare a visão renascentista com a visão moderna sobre o corpo.
Apresente as conclusões à turma.
276 Estética
Introdução
Filosofia
z No mundo contemporâneo
< www.pralmassi.blig.ig.com.br/
A partir do século XIX, com o desenvolvimento da sociedade in-
dustrial e nova realidade urbana, esse ideal de beleza vai mudando e
as artes passam a representar os problema gerados pela nova estrutu-
ra social, como a exploração do trabalho, as guerras, os contrastes en-
tre cidade e campo e os demais conflitos sociais. Os Comedores de Bata-
O desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação inter- ta (1885), óleo sobre tela
fere na formação de novos padrões de gosto e redimensionam os pa- de Van Gogh (1853-1890).
Fundação Vincent van Gogh,
drões de beleza. Essas mudanças podem ser percebidas mais facilmen-
Amesterdã.
te com o advento da mídia, e são fortemente influenciadas por ela.
Pelo poder desses veículos de comunicação de massa, esses ideais de Observe nessa obra a des-
beleza tornam-se cada vez mais uniformizados e voltados para o con- preocupação em retratar a
sumo. A comercialização que se faz em torno desses novos padrões de beleza, mas representar o
beleza geram novas preocupações com o corpo, que torna-se um ob- cotidiano de uma família.
jeto de propaganda e de consumo. Por trás desse olhar sobre o corpo,
produzem-se discursos que visam controle e poder. Neste caso, com
fins econômicos explícitos e com sérias conseqüências éticas a serem
discutidas.
ATIVIDADE
z A estética moderna
A Estética, enquanto uma reflexão própria sobre a beleza, surgiu
no século XVIII, com o filósofo alemão Baumgarten (1714-1762). Seu
surgimento se deu no contexto do Iluminismo, movimento filosófico-
cultural ocorrido na Europa, que conhecia, naquele momento, os gran-
des reis absolutistas. Foi contra aos abusos desses governantes que
ATIVIDADE
Escreva um texto individualmente sobre como o corpo, representado atualmente pela mídia, em su-
as diversas formas e propostas, pode ser também um espaço ou motivo de discussão política.
z Baumgarten e o belo
É no contexto acima que Baumgarten inaugura, em sua obra Estéti-
ca, essa ciência ou teoria da beleza, “...como arte de pensar de modo
belo, como arte análoga da razão...” (BAUMGARTEN, 1997, p. 74), como “...ciência
do conhecimento sensitivo...” (Ibidem). Por que conhecimento do be-
lo? Conhecimento sensitivo? Reveja os conceitos sobre o conhecimen-
to expostos nos Folhas de Teoria do Conhecimento.
O saber filosófico privilegia os conceitos: abstrações e sínteses que
reúnem diversas idéias numa espécie de chave-geral, a partir da qual
se compreende uma visão de mundo, uma teoria. Esses conceitos, por
serem abstratos, foram supervalorizados e passaram a ter como que
existência própria. Assim a filosofia construiu a chamada Metafísica.
Uma dimensão do saber que, por referir-se ao que está além do físi-
co, do material, parece ter dado as costas ao que é sensível. O pensa-
mento conceitual, próprio da filosofia, durante muitos séculos deixou
em segundo plano o terreno do mundo prático, da sensibilidade e dos
afetos humanos.
Nesse sentido é que Baumgarten refere-se à Estética como um co-
< www.georgetown.
280 Estética
Introdução
Filosofia
DEBATE
282 Estética
Introdução
Filosofia
ATIVIDADE
1. Analise a distância entre a dimensão racional e a dimensão do sensível, proposta por Schiller.
2. A arte está mais para que lado: da razão, do pensamento abstrato ou da prática artística criativa?
O Estado Estético
Na dimensão estética, proposta por Schiller, entra em campo o jogo
imaginativo. Nesse jogo não se vêem os objetos em sua materialida-
de, apenas em seu conteúdo ou praticidade. Nessa dimensão, não se
visa a pura utilização prática ou apenas um conhecimento teórico so-
bre as coisas. Uma obra de arte, por exemplo, não será analisada ape-
nas pelo seu tema ou conteúdo expresso, tão pouco pelas suas qua-
lidades materiais ou técnicas (se a tinta é boa ou não, numa pintura).
O valor de uma obra se dá pela forma, isto é, pela aparência formal
que ela assume, pelo conteúdo que se modifica em uma determinada < MAGRITTE, René. O balcão.
forma, a qual me desperta para a fruição do pensamento, da razão e
da sensibilidade intuitiva.
284 Estética
Introdução
Filosofia
ATIVIDADE
z Referências
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ANOTAÇÕES
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Introdução
Filosofia
ANOTAÇÕES