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Transcrição integral da crónica do jornalista João Gobern na rubrica "Pano

para mangas" da Antena 1, no dia seguinte ao programa "Prós e Contras"


realizado a 25/02/2008

«Infelizmente, ainda há quem se deixe ficar do lado mais fácil,


aquele que olha para Maria de Lurdes Rodrigues, como uma
mistura de reformadora iluminada e padeira de Aljubarrota, em
luta contra a molenguice e os boicotes dos professores, essa classe
repetidas vezes apresentada como ingovernável e reactiva a
qualquer mudança.
Para quem alimentasse esta imagem de uma cruzada ministerial,
pela conversão mesmo à bruta dos infiéis, entregues a uma
comunicação social populista e que mal sabe fazer contas de
somar, oferecidos a um grupo de "articulistas", que há muitos
anos se benze por protecção, de cada vez que tem de passar mais
perto de escola ou de um professor; espera-se que as 3 longas
horas do "Prós e Contras", da noite de ontem tenham provado de
uma vez por todas, que o sr. Primeiro-Ministro mostrou afinal, ser
falível ao ensaiar uma micro-mudança de titulares e ao deixar
intocada a srª Ministra da Educação.
Do alto do seu gabinete, só mesmo a ministra, uma equipa servil
de ditos académicos e uns quantos agentes infiltrados no terreno;
há sempre, mas sempre, aqueles que com mira em promoções,
louvores ou pequenos estipêndios, se dispõem a ser mais
"papistas do que o papa", só esses, vêem com bons olhos, a
continuidade na avaliação dos professores, tal como está a ser
feita e na aplicação do novo modelo de gestão escolar, como uma
melhoria.
Mais: só essa poderosa minoria dá como arrumadas a contento as
questões das aulas de substituição e o concurso dos professores
titulares.
A Sr.ª Ministra parece ter ensurdecido há muito. Ontem (dia 25 de
Fevereiro), passou sinais para o exterior, de que já está a ser
atormentada pela cegueira. Fechou os olhos a todos os
argumentos que dão a avaliação, como um processo injusto,
apressado e inexequível, apesar de ter diante de si, muito mais do
que as "excomungadas" reticências sindicais. Nunca conseguiu
demonstrar (apesar da pose explicativa!), qualquer vantagem no
modelo de gestão que quer por força, aplicar às escolas. Refugiou-
se nos feitos, "abespinhou-se" quando puseram em causa o seu
perfil, muito mais de gestora do que de pedagoga, tentou sempre
demonstrar que a sua luta é contra uma minoria que se agita. Foi-
se apagando, lenta, mas inexoravelmente, diante de episódios, de
vivências, de casos, que se não eram novidade para quem os

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acompanha no dia-a-dia, pareceram surpreendê-la e até chocá-la.
O que vem confirmar, que até neste campo de tantas
consequências, se continua a legislar com fúria, mas a viver de
costas para a realidade do país.
Deixou por abordar, aquela que para mim como lei, é a questão
decisiva: o facto de com tantas reuniões, papéis, burocracias,
justificações, definições de objectivos, avaliações e substituições;
continuarem os professores a ser desviados da sua função
primordial e "abençoada": dar aulas e formar pessoas.
Quem não entende isto na prática, não percebeu nada, o que é
grave, ao fim de 3 anos, pelo que estou à vontade na sentença:
Não haverá reforma da educação, sem se começar pela reforma
antecipada, mas tardia, da Sr.ª Ministra da Educação.»
(João Gobern – Antena 1)

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