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Alguma comunicação social portuguesa, em particular O Público, a propósito dos salários auferidos pelos
professores portugueses, continua a divulgar informação que, por análise deficiente dos dados, não cumpre o seu
dever fundamental: informar os leitores segundo critérios de objectividade e rigor. Vem esta afirmação a propósito
do artigo da jornalista Isabel Leiria, na edição de 10 de Setembro, intitulado Portugal é o país da UE que menos
tempo dedica à língua e à Matemática, onde se afirma: “Em relação aos salários, e apesar de Portugal ter um PIB
per capita baixo, as remunerações estão ao nível de países mais ricos, constata a OCDE. Sobretudo entre os
professores no topo da carreira, que ganham cerca de 2,5 vezes mais do que os que estão no início da sua
actividade profissional”.
Salário anual dos professores em 2006 (em euros e em paridade do poder de compra)
Consoante se verifica no quadro, que colige os dados divulgados no último Education at a glance, que também
serviu de suporte ao artigo, a conclusão a retirar é exactamente oposta à afirmação da jornalista. Na verdade, de
um modo global, as remunerações dos professores portugueses estão abaixo da média dos países da OCDE (30
países no total, embora a Polónia e a Eslováquia não tenham apresentado dados), situando-se Portugal
posicionado geralmente no último terço de países. Apenas os professores situados no escalão de topo da carreira
(16% do total, segundo dados de 2007, aquando da candidatura ao concurso para professor titular) auferem um
salário acima da média da OCDE, e mesmo esta afirmação diz respeito apenas aos professores do ensino básico,
na medida em que para os docentes do ensino secundário o salário corresponde à média da OCDE. Assim, não é
aceitável que, tendo em consideração os dados relativos apenas a uma pequena percentagem, se continuem a
produzir notícias sobre a proximidade do salário dos professores portugueses, no seu conjunto (cerca de 140 000),
em relação aos seus congéneres dos países mais ricos.
Mário Sanches
Grândola