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PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE MATÉRIAS-PRIMAS VEGETAIS

UTILIZADAS PELA INDÚSTRIA COSMÉTICA BRASILEIRA.


(1)
Castellani, D.C.; Kawagushi, D.; Monteiro, R.E.;
Vasconcellos, M.; Camargo, S.; Casara, J.
(1)
Natura Inovação e Tecnologia de Produtos Ltda, P & T, Plataforma de Tecnologias Sustentáveis –
Área de Produção Vegetal. Rodovia Anhanguera Km 30.5, Polvilho, Cajamar (SP), 07750-000. Email:
deboracastellani@natura.net e raulmonteiro@natura.net

Resumo:

A utilização de matérias-primas vegetais provenientes de sistemas sustentáveis de produção tem


inúmeras vantagens sociais, econômicas e ecológicas. A pesquisa sobre sistemas agroflorestais tem
evoluído nas últimas décadas e os resultados têm mostrado os benefícios desse sistema de uso do
solo, entre eles destaca-se o aumento da ciclagem de nutrientes, a redução de processos erosivos, a
melhoria da qualidade nutricional do produtor e a minimização do risco de perda da produção pela
diversificação de culturas. A rastreabilidade das matérias-primas vegetais é fundamental para as
indústrias comprometidas com a sustentabilidade dos seus processos produtivos. A Natura é uma
indústria brasileira que valoriza a utilização de matérias-primas vegetais, provenientes da
biodiversidade, na fabricação de cosméticos e produtos de higiene pessoal. Nos sistemas produtivos
promove a utilização de boas práticas de produção e o uso de tecnologias sustentáveis. Este trabalho
teve como objetivo descrever as matérias-primas vegetais, utilizadas na fabricação de cosméticos,
produzidas em sistemas agroflorestais. Foram descritas 14 espécies vegetais produzidas em sistemas
agroflorestais (agrossilvicultura, cabruca e quintal agroflorestal), sendo 4 espécies arbóreas (açaí,
cacau, castanha e cupuaçu), 3 arbustivas (erva-mate, guaraná e pariparoba), 6 herbáceas (camomila,
capim limão, erva cidreira, estoraque, funcho e hortelã) e 1 liana (maracujá). Quanto à região de
produção, 3 fornecedores localizam-se no Norte (Camta, Campo Limpo e Reca), 2 no nordeste
(Cooperativa Onça e Cabruca), 1 no sudeste (Consórcio Terra Medicinal) e 2 no sul (Coopaflora e
Ervateira Putinguense). Além da geração de renda, os sistemas agroflorestais são importantes para
segurança alimentar e para a melhoria da qualidade de vida das populações rurais.

Palavras-chave: produção sustentável, matéria-prima vegetal, rastreabilidade, produtos florestais


não-madeireiros e geração de renda.

Introdução

Os sistemas sustentáveis de produção vegetal têm como premissa a utilização racional dos recursos
naturais, o reconhecimento da importância dos processos biológicos e a capacidade de contribuir
para o desenvolvimento sócio-econômico de comunidades rurais.

Os sistemas agroflorestais são um dos componentes do manejo da paisagem diretamente ligado ao


desenvolvimento rural sustentável (Schroth et al, 2004). Como alternativa agrícola adaptada, social e
ecologicamente, têm contribuído com a diversificação dos produtos provenientes da mesma unidade
de produção. Do ponto de vista sistêmico são modelos que aliam a produção vegetal à conservação
da biodiversidade, contribuindo para a manutenção da rede de interações do agroecosistema e para
o aumento de benefícios ambientais, sociais e econômicos.

A diversificação da produção propicia maior oportunidades no meio rural. Além de madeira e lenha,
as árvores podem oferecer uma variedade de produtos e serviços. Muitas espécies vegetais
fornecem produtos economicamente importantes para as indústrias como os óleos, resinas, taninos,
látex, gomas, ceras, óleos essenciais, inseticidas e fármacos entre outros (Balandrin et al, 1985)

As práticas agroflorestais variam entre os locais e as regiões sendo influenciadas pelas


características sócio-econônicas, culturais, geográficas e ecológicas. Como sistemas de uso múltiplo
caracterizam-se pela presença de várias espécies em um arranjo temporal e espacial, em uma
mesma unidade de produção, podendo ser classificados quanto à natureza dos seus componentes
(Nair, 1990).
A Natura é uma indústria brasileira que valoriza a utilização de matérias-primas vegetais, provenientes
da biodiversidade brasileira, na fabricação de cosméticos e produtos de higiene pessoal. Nos sistemas
produtivos utiliza boas práticas de produção e tecnologias sustentáveis. As espécies utilizadas
fornecem os insumos vegetais - óleos essenciais, extratos, manteigas, óleos fixos e extratos -
presentes nas formulações cosméticas.

A capacitação dos produtores, a promoção de práticas agroecológicas e a certificação (orgânica e


manejo florestal) são processos adotados que favorecem o bom manejo dos agroecossistemas.
Conhecer a origem das matérias-primas vegetais e a maneira como são produzidas, bem como as
condições socioeconômicas dos produtores são informações fundamentais para rastreabilidade.

Este trabalho teve como objetivo descrever as matérias-primas vegetais, provenientes de sistemas
agroflorestais, utilizadas na produção de cosméticos pela Natura.

Metodologia

Por meio de levantamento de informações e sistematização de dados foram descritas as espécies


vegetais utilizadas como matérias-primas e seus fornecedores rurais. A classificação dos tipos de
sistemas agroflorestais foi determinada em função da natureza dos componentes.

Resultados

Foram identificadas 14 espécies vegetais produzidas em sistemas agroflorestais e utilizadas na


fabricação de cosméticos. Os sistemas agroflorestais foram classificados em agrossilvicultura, quintal
agroflorestal e cabruca. O propósito da classificação dos SAFs é essencialmente o de prover as
bases estruturais, referindo-se à composição dos elementos do sistema. A integração de espécies
(árvores com culturas agrícolas) contribui na redução de riscos para o produtor e no aumento de
produtividade total, além de outros benefícios. A Tabela 1 mostra as espécies vegetais utilizadas pela
indústria de cosméticos Natura, os fornecedores rurais e os tipos de sistemas agroflorestais.

Tabela 1 – Espécies produzidas em sistemas agroflorestais e utilizadas como matérias-primas


vegetais pela empresa Natura.

Ativo Espécie Botânica Fornecedor Rural Parte Tipo de SAF´s


usada
Açaí solteiro Euterpe precatória Reca (1) Frutos Agrossilvicultura
Cacau Theobroma cação Cabruca (2) Sementes Cabruca
Camomila Matricaria recutita Coopaflora (3) Flores Quintal Agroflorestal
Capim Limão* Cymbopogon citratus Coopaflora Folhas Quintal Agroflorestal
Castanha Bertholletia excelsa Reca Sementes Agrossilvicultura
Cupuaçu Theobroma grandiflorum Reca Sementes Agrossilvicultura
Erva cidreira Melissa officinalis Coopaflora Folhas Quintal Agroflorestal
Erva mate Ilex paraguariensis Ervateira Putinguense (4) Folhas Agrossilvicultura
Estoraque Ocimum americanum Campo Limpo (5) Folhas Quintal Agroflorestal
Funcho* Foeniculum vulgare Coopaflora Sementes Quintal Agroflorestal
Guaraná Paullinia cupana Cooperativa Onça (6) Sementes Agrossilvicultura
Hortelã* Mentha piperita Coopaflora Folhas Quintal Agroflorestal
Maracujá Passiflora edulis Camta (7) Sementes Agrossilvicultura
Pariparoba Pothomorphe umbellata CTM (8) Folhas Agrossilvicultura
* Espécies vegetais utilizadas na produção de chá
(1)
Projeto de Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado – Nova Califórnia - RO
(2)
Cooperativa de Produtores Orgânicos do Sul da Bahia – Ilhéus - BA
(3)
Cooperativa de Produtos Agroecológicos Florestais e Artesanais de Turvo – Turvo - PR
(4)
Ervateira Putinguense – Putinga - RS
(5)
Comunidade de Campo Limpo – Santo Antonio do Tauá - PA
(6)
Cooperativa Agrícola Mista do Projeto Onça – Taperoá - BA
(7)
Cooperativa Mista de Tomé-açu – Tomé Açu - PA
(8)
Consórcio Terra Medicinal – Barra do Turvo e Registro - SP
A associação de árvores com culturas de ciclo curto é provavelmente a prática agroflorestal mais
empregada, sendo uma opção para aumentar a fertilidade dos solos a um custo muito baixo. Os
quintais agroflorestais são caracterizados pelo uso intensivo de espécies arbóreas de uso múltiplo e
espécies medicinais e/ou alimentícias, em um mesmo local e ao mesmo tempo. São sistemas
bastante diversificados, com alta densidade tanto de espécies arbóreas como agrícolas, com uma
estrutura vertical bastante complexa. As cabrucas representam um relevante papel na conservação
da biodiversidade, funcionando como corredores biológicos entre os fragmentos florestais e um
importante banco de espécies nativa. No Sul da Bahia apresentam altos valores de área basal e de
taxa de crescimento indicando a possibilidade do uso das cabrucas para o seqüestro e estoque de
carbono (Sambuichi, 2006).

De acordo com Altieri (1989) a sustentabilidade do sistema à longo prazo, preferencialmente, deve
reduzir o uso de energia e recursos, empregar métodos de produção que maximize a capacidade de
múltiplo uso do solo, estimular a produção de alimentos regionais, reduzir os custos e aumentar a
eficiência e a viabilidade econômica de pequenas e médias propriedades, promovendo um sistema
diversificado e potencialmente resistente.

Foram descritas 14 espécies vegetais produzidas em sistemas agroflorestais (agrossilvicultura, cabruca


e quintal agroflorestal), sendo 4 espécies arbóreas (açaí, cacau, castanha e cupuaçu), 3 arbustivas
(erva-mate, guaraná e pariparoba), 6 herbáceas (camomila, capim limão, erva cidreira, estoraque,
funcho e hortelã) e 1 liana (maracujá). Quanto à região de produção, 3 fornecedores localizam-se no
Norte (Camta, Campo Limpo e Reca), 2 no nordeste (Cooperativa Onça e Cabruca), 1 no sudeste
(Consórcio Terra Medicinal) e 2 no sul (Coopaflora e Ervateira Putinguense).

Os sistemas agroflorestais, dos quais são provenientes os ingredientes cosméticos, apresentam


características próprias e produções variadas, com arranjos espaciais e temporais diversos, onde se
incluem principalmente espécies agrícolas, frutíferas, oleaginosas, produtoras de fibras, resinas, látex
e madeira. De maneira geral, estes sistemas podem ser caracterizados pelo amplo número de
produtos florestais não madeireiros que contribuem para a auto-subsistência e para a economia local.
Além da geração de renda, os sistemas agroflorestais são importantes para segurança alimentar e para
a melhoria da qualidade de vida das populações rurais.

Conclusão:

Os sistemas agroflorestais são adotados por muitos agricultores em diferentes regiões do Brasil.
Podem fornecer inúmeros produtos com potencial industrial, incluindo os ingredientes cosméticos. A
rastreabilidade contribui para valorização de matérias-primas e/ou produtos oriundos de sistemas
sistemas sustentáveis de produção, que agregam valores como qualidade, ética e eqüidade.

Além da geração de renda, os sistemas agroflorestais são importantes para segurança alimentar e
para a melhoria da qualidade de vida das populações rurais, fornecendo diversos serviços
socioambientais.

Referências Bibliográficas

Balandrin, M. F. , J. A. Klocke , E. S. Wurtele , and W. H. Bollinger . 1985. Natural plant chemicals:


sources of industrial and medicinal materials. Science 228:1154–1160.
Nair, P. K. R. Classification of agroforestry systems. IN: MacDicken, K. G. & Vergara, N. T. (Ed.).
Agroforestry: classification and management. New York, Wiley Intercience Publication, 1990, p.31-57.
Sambuichi, R. H. R. Estrutura e dinâmica do componente arbóreo em área de cabruca na região
cacaueira do sul da Bahia, Brasil. Acta Bot. Bras., vol.20, no.4, São Paulo Oct./Dec., 2006
Schroth, G.; Fonseca G.A.B.; Harvey, C.A.; Gascon, C.; VasconcelosH.L. & Izac, A.M.N. (eds.).
Agroforestry and biodiversity conservation in tropical landscapes. Washington: Island Press, 2004. 523 p.

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