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Caminhos da Crítica
Literária Brasileira: Roberto
Schwarz e Luiz Costa Lima
THE PATHS OF BRAZILIAN LITERARY
CRITICISM: ROBERTO SCHWARZ AND
LUIZ COSTA LIMA
Resumo A mola crítica de Roberto Schwarz pensa a relação entre o crítico e a obra di-
cotomicamente: racionalidade versus irracionalidade. Luiz Costa Lima, contemporâneo
de Schwarz, pensa o lugar da obra literária e do crítico tomando por base um mesmo
contexto. O fenômeno da mímesis tanto explica o modo de recepção da obra literária
quanto o seu modo de intelecção, pois ela não supõe exatamente a diferença, e sim a
semelhança. Enfim, a concepção crítica de Roberto Schwarz e a de Luiz Costa Lima
se opõem drasticamente. Contudo, tentaremos mostrar, neste artigo, que a atividade
crítica de cada um deles está inserida numa mesma tradição crítica. Assim, faremos
um breve questionamento sobre a existência ou não de um sistema de crítica literária SEBASTIÃO MARQUES
que se consolida no Brasil e, em seguida, trataremos separadamente de Roberto CARDOSO
Schwarz e de Luiz Costa Lima, esforçando-nos em mostrar, quase sempre, a dívida Universidade Estadual do
Centro-Oeste (Unicentro)/PR
que esses críticos têm em relação ao nosso passado crítico.
sebastiaomarques@uol.com.br
Palavras-chave CRÍTICA LITERÁRIA BRASILEIRA – ROBERTO SCHWARZ – LUIZ COS-
TA LIMA – HISTÓRIA LITERÁRIA BRASILEIRA.
Abstract Roberto Schwarz’s critical activity conceives the relationship between the
critic and the work dichotomously: rationality vs. irrationality. Luiz Costa Lima,
contemporaneous with Schwarz, conceives the place of the literary work and the
place of the critic from the same context. The phenomenon of mimesis explains both
the manner the literary work is received and its mode of intellection, because it does
not suppose the différance/difference but the similarity (homoiosis). After all, the
critical conception of Roberto Schwarz and Luiz Costa Lima are opposed drastically.
However, in this article, we attempt to show that their critical activity belongs to the
same critical tradition. Thus, we briefly question whether there is a system of literary
criticism that consolidates in Brazil and, after that, we deal with Roberto Schwarz and
Luiz Costa Lima separately, trying to show, almost always, the debt which these
critics have to our critical past.
O canto das sereias transpassava tudo e a paixão dos seduzidos teria arre-
batado mais correntes e mastro. Mas Odisseu nem pensou nisso, embora
talvez tenha ouvido falar disso. Confiava plenamente no punhado de cera e
no emaranhado de correntes e, em inocente alegria quanto a seus meiozi-
nhos, navegou em direção às sereias.
FRANZ KAFKA
D
iante do crítico, a obra literária. O crítico, com seus meio-
zinhos, esquadrinha seu discurso crítico. Como Odisseu,
o crítico acredita que com um punhado de idéias será pos-
sível ouvir o que as obras literárias têm a dizer. Talvez, essa
crença – a tradição que funda o discurso crítico – o impeça
de ouvir o que as obras também silenciam. Esse silêncio
pode significar a insuficiência dos meios críticos: um pu-
nhado de idéias bastaria para ofuscar aquilo que a obras
literárias confiariam em dizer.
Entre o discurso crítico e a obra, a diferença. Essa diferença é sentida
por Roberto Schwarz, ao analisar a obra de Kafka, em duas categorias.
Do lado do discurso crítico, a categoria que o legitima é a inteligibilidade;
do lado da obra literária, a categoria que a condiciona é a irracionalidade:
“o historiador marxista reduz o opaco, fruto da alienação, à essência hu-
mana inteligível, que é a atividade concreta; em outras palavras, compre-
ende o objeto de estudo em termos de sua própria capacidade de expe-
rimentar situações. Kafka, pelo contrário, deve reduzir a prática inteligí-
vel, fátua ilusão do homem, à essência irracional do ser”.1
Não entrando no mérito da leitura realizada por Schwarz acerca de
A Metamorfose, de Kafka, fica evidente que a mola crítica do autor pensa
a relação entre o crítico e a obra dicotomicamente: racionalidade vs. ir-
racionalidade. Luiz Costa Lima, contemporâneo de Schwarz, pensa o lu-
gar da obra literária e do crítico tomando por base um mesmo contexto.
O fenômeno da mímesis tanto explica o modo de recepção da obra lite-
rária quanto o seu modo de intelecção, pois a atitude mimética não supõe
exatamente a diferença, e sim a semelhança:
Seu componente diferença (relativo à mímesis) só se deixa ver por
contraste com o esperado, a semelhança, vê-la não é entendê-la. Sua
compreensão só é atingível por um ato analítico, que, enquanto ana-
lítico, já não é estético. Mas, por não ser estético, não compreende
senão o que se lhe mostra em uma experiência estética. A mímesis
artística, em suma, é a condição para nos compreendermos como su-
cuperáveis torcicolos, o vício intelectual de sem- daquela; a existência de uma cidade e nela
pre estar com uma teoria nova, o remédio defini- de uma sociedade bastante culta e opulen-
tivo para os piores males de nossa má formação ta e amiga do grande luxo, que empre-
cultural. guem o artista e lhe remunerem o traba-
lho, é a primeira e indispensável.3
Portanto, as resistências ao pensamento crí-
tico no Brasil não devem ser entendidas como Além de a arte literária ter sobre as belas-ar-
posturas ideológicas contrárias de origem especi- tes a vantagem de dispensar as condições materiais
ficamente políticas. Nem por isso queremos di- de produção indispensáveis a elas, o gosto do bra-
zer que eventos políticos dessa ordem não inter- sileiro pela literatura tem suas raízes na tradição
ferem sub-repticiamente na formação ou de-for- literária portuguesa:
mação de um povo. Contudo, não será essa a
principal questão a ser abordada por nós, haja vis- A causa desta nossa florescência poética
ta que nosso maior interesse concentra-se sobre- não foi a terra, nem essa beleza exagerada
que lhe emprestou o nosso nativismo, de
tudo no terreno da crítica literária brasileira.
que muitos poetas nossos foram os can-
Como entraves à progressão do pensamento crí-
tores conscientes e entusiastas, e que se
tico em nossa gleba, consideraremos, pois, ques- sistematizaria, é quase um dever de patrio-
tões mais elementares, como o nosso atraso ma- tismo reconhecer, em Rocha Pita. Foi a
terial em relação às nações mais desenvolvidas, o herança portuguesa, a tradição literária e
nosso passado colonial e a precariedade de nosso poética de um povo cuja poesia, no século
meio cultural. da conquista, era das mais ilustres da Eu-
Há, hoje em dia, condições favoráveis para ropa.4
o desenvolvimento de diversas artes no País. A
O atraso material pode ter sido positivo
pintura, o teatro, o cinema, a escultura, a arquite-
quanto à produção literária até o momento de sua
tura, a dança, bem como outras formas de ex-
consolidação no Brasil, mas não o foi igualmente
pressão em arte já podem ser produzidas no Bra-
para o campo das idéias. A ausência de bibliotecas
sil por conta de políticas de incentivos financei-
em nosso meio, dificultando a recepção de textos
ros. Um bom exemplo disso foi o projeto Rou-
literários e críticos, obrigava o leitor, quando dis-
anet, lei governamental que permite destinar
punha de condições materiais favoráveis, a recor-
parte das verbas do setor privado à produção ci-
rer a bibliografias estrangeiras. Elas acabavam in-
nematográfica. Mas a arte cultivada em momen-
cidindo na formação teórica de um intelectual,
tos iniciais de nossa formação e que, ao longo do
cujas idéias acerca das condições de produção
tempo, atingiu a maioridade, sendo ainda hoje
literárias brasileiras pouco se diferençavam das
responsável por grande parte de nossa produção
posições críticas estrangeiras, demonstrando
cultural, é, sem dúvida, a arte literária.
quase sempre desconhecimento e preconceito
A arte literária se expandiu pelo País pari quanto às atividades culturais nacionais. Cria-
passu à nossa formação cultural, em decorrência vam-se lentamente um ódio e um desprezo inte-
de nossa herança cultural e de nossa precariedade lectual sem precedentes às coisas do Brasil.
material, como bem atesta José Veríssimo:
Para agravar ainda mais a situação, o Brasil
O próprio aparelho técnico indispensável Colônia deixou-nos uma herança cultural ainda
à produção da obra de arte, seja em mú- forte em nosso meio: a crítica louvaminheira.
sica, seja em pintura, seja em escultura, Essa crítica da corte, para alegrar o paço, impreg-
seja em arquitetura, é muito mais consi- nada de efusivos adjetivos e erudição, que, mais
derável e custoso que o preciso para a tarde passa a ocupar considerável espaço nos jor-
produção da obra literária. Um conjunto
de condições sociais, menos de rigor na 3 VERÍSSIMO, 1977, p. 46.
produção desta, é quase obrigatório na 4 Ibid., p. 48-49.
nais republicanos, foi uma tendência e continua to crítico sistematizado. Conseqüentemente, ape-
sendo, infelizmente, o que reduziu o espaço da sar de efervescente, surgiu no Brasil uma crítica
crítica ao comentário elogioso ou, quando não, superficialmente teórica, que demonstrava pro-
impregnado de sentimentalismos e idéias infun- fundo desprezo à produção literária brasileira,
dadas. A bem dizer, a ausência de critérios e a quando não caía simplesmente na moda nacional:
prosa solta são sua marca maior, atestando o seu a crítica louvaminheira, que perdurou até nossos
alto grau de inobjetividade. Comentando a pro- dias.
dução literária e crítica do período modernista de Contra a crítica louvaminheira, uma crítica
nossa literatura, Sérgio Milliet a define, ao mes- empenhada e bastante consciente de seu papel
mo tempo em que levanta os perigos que nossas crítico, uma crítica de pressupostos teóricos mais
letras correm quando estão sob os auspícios des- firmes, uma crítica que representa uma releitura
ses críticos do paço: de nossa incipiente tradição crítica e literária, en-
A grande miséria de nosso romance não
fim, uma crítica literária que se assume como dis-
está no romance mas na crítica. É a crítica curso crítico sistematizado no Brasil. Esse mode-
jornalística e radiofônica publicitária e lo de crítica consolida-se, no País, com a publica-
sem critério, a culpa de todo mal (...). É a ção da Formação da Literatura Brasileira (1959),6
crítica louvaminheira de quaisquer medio- de Antonio Candido. Podemos perceber que, na
cridades bem apadrinhada e ignorante das crítica empreendida por Antonio Candido, con-
obras mais sólidas. É a crítica noticiarista vergem tanto nosso passado crítico (José Veríssi-
empanturrada de adjetivos, sem pondera- mo e Sílvio Romero, por exemplo) quanto a pro-
ção nem convicções. Entre a plêiade de dução crítica posterior a ela (Roberto Schwarz,
bons ensaístas das levas intelectuais surgi-
Luiz Costa Lima e outros).
das em nosso mundo literário depois de
1922, quantos ocupam os rodapés dos Não é possível responder à pergunta “O
jornais? Não são estes entregues quase Brasil tem um sistema intelectual?” por, pelo me-
sempre a gente mais ou menos desclassi- nos, dois motivos. Primeiramente, porque ela é
ficada no mundo das letras, ou por sua in- ampla, o que faz cair numa generalização sem ta-
cultura ou pela sua incapacidade criado- manho. Mesmo que, como Luiz Costa Lima for-
ra?5 mula, em “Da existência precária: o sistema inte-
lectual no Brasil”,7 especifiquemos o conceito de
Podemos concluir, até então, que, no refe-
sistema (termo emprestado de Antonio Candi-
rente à produção literária no Brasil, o atraso ma-
do), a intelectualidade brasileira parece bastante
terial contribuiu para a formação de nossa litera-
dispersa, não podendo, assim, ser considerada sis-
tura, cujas raízes têm a literatura portuguesa
como matriz. Entretanto, no que diz respeito à têmica. Em segundo lugar, falta-nos dados preci-
produção crítica, esse atraso dificultou a leitura e sos acerca do movimento intelectual, desde suas
a recepção de textos literários no País, provocan- origens até os dias de hoje, no Brasil. Desconhe-
do um desconhecimento generalizado acerca da cemos trabalhos que tratam o assunto de maneira
produção literária nacional, e obrigou esses leito- profunda e exaustiva. Rotineiramente, temos
res críticos a importar teorias européias, sem maio- especulações e muitos questionamentos sobre a
res reflexões. Assim, enquanto Machado de Assis inexistência ou não de uma vida intelectual orgâ-
dava o golpe de misericórdia na literatura de fei- nica no País, não chegando a constituir uma mas-
ções ainda portuguesas, Silvio Romero, Araripe 6 Colocamos o ano de 1959 para fazer referência à primeira edição da
Júnior e José Veríssimo davam os passos iniciais, obra crítica de Antonio Candido, servindo-nos apenas como baliza
mas decisivos, para a formação de um pensamen- temporal. Para a demonstração crítica da obra, utilizaremos, neste
ensaio, a oitava edição da Formação da Literatura Brasileira, publicada
pela Editora Itatiaia, em 1997.
5 MILLIET, 1944, p. 21. 7 Cf. LIMA, 1981.
Antonio Candido em relação a Machado de As- de literatura como sistema, a entrada na crítica
sis, como também presume que, na própria for- literária pela porta dos fundos, uma forte tendên-
mação teórica do crítico, a fórmula de Eliot tam- cia pelo ensaísmo crítico e um deliberado desas-
bém se aplica: sossego em relação à teoria são as marcas de Can-
dido assimiladas por Schwarz, sem muita resis-
Vê-se (...) que mesmo com a fórmula de tência. Isso decorre, talvez, da exagerada e íntima
Eliot muito presente, Antonio Candido
proximidade intelectual entre um e outro, bem
ajustou-se antes de tudo pela lição de Síl-
vio Romero e José Veríssimo, natural-
como da forte tendência sociológica de Roberto
mente revista e corrigida, como se depre- Schwarz, como bem o declara no prefácio de seu
ende desta reconstituição da carreira de Um Mestre na Periferia do Capitalismo: “Devo
Machado de Assis, que finalmente cum- uma nota especial a Antonio Candido, de cujos
pria o programa de continuidade cultural livros e pontos de vista me impregnei muito, o
por canalização do influxo interno, e cor- que as notas de pé-de-página não têm como re-
respondente desprovincianização da fletir. Meu trabalho seria impensável igualmente
consciência literária, traçado pelos dois sem a tradição − contraditória − formada por
críticos nas linhas tortas que se viu.12 Lukács, Benjamin, Brecht e Adorno, e sem a ins-
A entrada de Antonio Candido na crítica piração de Marx”.13
literária pela porta dos fundos − ao rever o método Isso posto, como Schwarz vai equacionar o
crítico de Sílvio Romero e as concepções literárias problema da teoria? A experiência de Schwarz
de José Veríssimo, por exemplo − possibilitou-lhe com a teoria não está tão distante da experiência
um olhar descurado e profundo acerca de nossa de Antonio Candido, em virtude da proximidade
frágil produção literária e intelectual. Pela porta de ponto de vista. Candido nunca temeu a teoria,
dos fundos, a crítica literária brasileira se conso- temia apenas o ridículo local de confundi-la com
lidou. Contudo, Antonio Candido demonstrou resenha bibliográfica e a habitual colcha de cita-
uma singular desconfiança em relação à teoria (a ções a esmo, no conjunto, involuntariamente pa-
prata da casa) ou, dito de outra maneira, percebeu ródica.14
e procurou purgar tudo aquilo que é acessório em No curso de Letras, Roberto Schwarz as-
literatura, ou seja, tudo aquilo que se passava no siste ao passeio dessas teorias que passam por
País como teoria. Essa aversão à teoria, embora nossa academia sem deixar rastros ou quaisquer
justificável, não deixa de ser polêmica. Como ve- vestígios de proveito em nossa tradição crítica:
remos a seguir, Luiz Costa Lima tocará o dedo na
Nos vinte anos em que tenho dado aula
ferida, não poupando nenhuma crítica que possa
de literatura assisti ao trânsito da crítica
gerar incômodo nos seguidores mais eloqüazes por impressionismo, historiografia positi-
de Antonio Candido. vista, new criticism americano, estilística,
Como já afirmamos anteriormente, Rober- marxismo, fenomenologia, estruturalis-
to Schwarz é o discípulo mais imediato e bem mo, pós-estruturalismo e agora teorias da
comportado de Antonio Candido, pois segue as recepção. A lista é impressionante e atesta
linhas do mestre com muita cautela. Machado de o esforço de atualização e desprovinciani-
Assis, por exemplo, ponto chave da sua Forma- zação em nossa universidade. Mas é fácil
ção da Literatura Brasileira, recebe dois cuidado- observar que só raramente a passagem de
uma escola a outra corresponde, como se-
sos estudos por parte de Roberto Schwarz, o que
ria de esperar, ao esgotamento de um pro-
atesta indiscutivelmente a continuidade do proje- jeto; no geral ela se deve ao prestígio ame-
to de Antonio Candido, agora sob o influxo de ricano ou europeu da doutrina seguinte.
uma pena de outro autor. Em síntese, a concepção
13 SCHWARZ, 1990, p. 13.
12 ARANTES, 1992, p. 240. 14 ARANTES, 1992, p. 245.
gado e a obnubilação teórica da Formação da Li- Hoje em dia, podemos afirmar que temos
teratura Brasileira atestam o alto grau de compro- um pensamento crítico sistemático e consolidado
metimento do seu autor com a cultura auditiva.22 no Brasil. Guardadas as proporções, o papel de
nossos primeiros mestres (Sílvio Romero, José
PASSADO, PRESENTE E FUTURO CRÍTICO Veríssimo, Araripe Júnior e demais críticos que se
Nossa reflexão partiu do questionamento seguiram) foi decisivo para a formação de um
se havia ou não, no Brasil, um sistema crítico cânone crítico notadamente brasileiro. Tal pensa-
consolidado, e como esse sistema teria se com- mento se firmou com a publicação da Formação
portado durante as nossas primeiras incursões no da Literatura Brasileira, de Antonio Candido:
terreno crítico. Percebemos, então, que a crítica essa obra crítica viria a ser o divisor de águas de
louvaminheira foi a primeira manifestação crítica nossa ainda frágil, porém empenhada, crítica lite-
no Brasil. Trata-se de uma vertente que, ainda ho- rária brasileira. Por um lado, teríamos uma crítica
je, repercute na crítica diletante, com ecos, às ve- ao rés-do-chão, que procura desvendar no loca-
zes, em trabalhos de alguns renomados profissio-
lismo as frinchas mais atávicas do universalismo,
nais da crítica. Contra a crítica da corte: a crítica
empreendida por Roberto Schwarz; por outro,
séria, científica, acadêmica e empenhada. É esse
uma crítica que exige não só o reconhecimento
último modelo que abordamos ao falar da crítica
de nosso debilitado contexto intelectual, como
literária produzida no século XIX, da capacidade
de síntese crítica da Formação da Literatura Bra- também a sua superação por meio de uma tra-
sileira, de Candido, do desdobramento do proje- dição teórica tornada visível a olho nu, empreen-
to desse autor, por força da pena de Roberto dida por Luiz Costa Lima. Assim, partindo do
Schwarz, e da releitura de nosso passado crítico, mesmo punhado de cera e de correntes (nossa tra-
porém não menos compromissada, sob o influxo dição crítica), Schwarz e Costa Lima navegam em
do pensamento de Luiz Costa Lima. direção às sereias (obra literária), esquadrinhando,
com seus meiozinhos particulares, a história da crí-
22 LIMA, 1992, p. 153-169. tica literária brasileira.
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Dados do autor
Professor no Departamento de Letras da
Universidade Estadual do Centro-Oeste
(Unicentro), Guarapuava/PR, atuando na área de
literatura brasileira e teoria literária. Doutorando em
letras (teoria e história literária) pela Unicamp e
mestre em letras (teoria literária e literatura comparada)
pela Unesp.