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O SER NA TRANSDISCIPLINARIDADE
RESUMO
O SER NA TRANSDISCIPLINARIDADE
Este texto nasceu a partir da participação em uma mesa, onde foi ministrada uma
palestra sobre o tema “O SER na transdisciplinaridade”, em um encontro promovido pela
Rede Nordestina de Psicologia e Psicoterapia Transpessoal, que trouxe como foco “Ciência
e Espiritualidade”, a partir da “re-ligare” do SER em sua multidimensionalidade: biopsico-
social, cósmica e espiritual. O encontro foi realizado em Fortaleza-Ceará, em 2003. Para
desencadear a reflexão sobre o tema, o olhar trazido por Morin foi referência fundamental,
principalmente os estudos sobre os saberes: como ensinar a condição humana (educação,
complexidade e valores humanos) e princípios do conhecimento pertinente (fragmentação
do conhecimento humano e do pensamento linear; falsa razão/emoção e consciência
humana). Essas discussões e estudos possibilitaram, inclusive, a realização de outros
momentos de reflexão sobre “o SER na transdisciplinaridade.” Dessa forma, o texto ora
organizado tem como objetivo (re)apresentar a reflexão teórico-prática do tema O SER na
transdisciplinaridade, na perspectiva da multidimensionalidade do ser humano, que precisa
ser buscada principalmente no ato de ensinar a condição humana nesta realidade que
vivemos.
O cenário do encontro naquela época apresentou-se adequado e trouxe grande
sentido em falar desse tema. Mas hoje compreendemos que o cenário exige que se reflita
sobre o SER como multidimensional, e a necessidade dessa multidimensionalidade ser
melhor percebida, resgatada, discutida e vivida.
Nessa perspectiva, pensar na transdisciplinaridade é assumir a visão do mundo
como uma totalidade impermanente, dinâmica, sem recortes justapostos, sem disciplina,
sem especificidade rigidamente fechada, estagnada e estável; “mas como um ciclo ativo
que põe em movimento conceitos, idéias e sentimentos” (Carvalho, 2002, p. 18).
No primeiro dia do encontro, antes da participação na mesa, a palestrante se fez
presente em um mini curso com Vera Saldanha, intitulado “O que é transpessoalidade?”
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Entre tudo que vivenciou nesse minicurso, fez dois desenhos: um representando a morte,
outro a vida. Para executar essa tarefa foi orientado que ela usasse símbolo vegetal ou
animal. O símbolo utilizado foi o vegetal, através do qual foram retratadas a vida e a morte
como transformação.
No desenho 1 foi retratada uma planta em germinação, ele foi intitulado como
“Vida (Trans)formação”. O desenho 2 recebeu o mesmo título e representava uma planta já
crescida, que deixava cair e espalhava as sementes para outras germinações, compondo um
ciclo.
Foram realizados movimentos corporais, como sugeriu Vera, em que a participante
ora era a semente, ora a árvore, a folha, o fruto. Logo, morte e vida. A vivência com os
desenhos, as reflexões e discussões e mais o movimento corporal aqueceram-na a escrever,
por fim, uma síntese deste momento dizendo:
Eu sou a semente! / Trago em mim a raiz, o tronco, os galhos, as folhas, / a flor, o
fruto./ Uma nova semente. / Necessito da luz solar, da fotossíntese, da água, do vento, da
terra. / Para eu ser verde, viçosa, viva e saudável. / Existir na plenitude do meu ser e
ultrapassando minha forma. / Numa ação nova e velha, de vida e morte, sendo o que eu
sou, fui e posso vir a ser...
Morin (1998) considera, ainda, que a ética, nesse caso, não se impõe
imperativamente nem universalmente a cada cidadão. Cada um tem que escolher por si
mesmo os seus valores e idéias, isto é praticar a auto-ética. Sobre religação o autor ensina:
“engloba tudo aquilo que faz comunicar, associar, solidarizar, fraternizar; ela se opõe a tudo
que fragmenta, desloca, disjunta (corta qualquer comunicação), reduz (ignorando o outro, o
vizinho, o humano, o egocentrismo e o etnocentrismo).
No contexto da religação, o autor aborda as seguintes concepções, em relação aos
termos interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade:
a interdisciplinaridade pode significar, pura e simplesmente, que
diferentes disciplinas são colocadas em volta de uma mesma sala, como
diferentes nações se posicionam na ONU, sem fazerem nada além de
afirmar, cada qual, seus próprios direitos nacionais e suas próprias
soberanias em relação às invasões do vizinho(...) A multidisciplinaridade
constitui uma associação de disciplinas, por conta de um projeto ou de um
objeto que lhes seja comum; a transdiciplinaridade trata-se
freqüentemente de esquemas cognitivos que podem atravessar as
disciplinas, às vezes com tal virulência, que as deixem em transe. De fato,
são os complexos de inter-multitrans-disciplinaridade que realizaram e
desempenharam um fecundo papel na história das ciências; é preciso
conservar as noções chave que estão implicadas nisso, ou seja,
cooperação; melhor, objeto comum; e, melhor ainda, projeto comum.
(MORIN, 2001, p. 115)
Logo, na transdisciplinaridade o SER deve se ver e ser visto, não como definitivo:
sou um ser biológico, um ser psicológico, um ser social, um ser cósmico, um ser
espiritual; porque essas definições, nem mesmo dentro de uma mesma dimensão dessas,
está definitiva, se o SER for visto como vivo, encarnado e não abstrato.
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Se preservar a vida for nosso compromisso como “SER no mundo”, teremos que
favorecer as condições propícias para que isso aconteça a partir de projetos comuns que
com certeza não deixam de ter características pessoais, mas irão além, se tornarão
transpessoal, fazendo parte do processo de auto-eco-organização. Segundo Morin (2001, p.
84), “a distinção é evidente, é próprio de um ser vivo distinguir-se pela sua individualidade
e singularidade dos outros seres do seu meio [...] o ser organizador de si.” Mas, diz o autor,
que para este ser organizar sua autonomia precisa não só de fechamento em relação ao seu
meio, mas também de abertura para o ambiente onde se encontra; não só a energia, mas a
“complexidade organizada” e eco-organização são necessárias à sua existência. Portanto,
não podemos pensar o ser vivo como objeto fechado em si mesmo.
Logo, em uma ciência pautada pela razão aberta, também o sujeito terá que
perceber-se e ser percebido como sujeito aberto e fechado, dependente e independente.
Assim, o prefixo auto, segundo Morin (2001, p. 129), torna-se plural, autos, o que desperta
e regenera o prefixo auto restituindo-lhe os seus dois sentidos inseparados: o “o mesmo” e
o reflexivo a “si mesmo”. Acrescenta Morin que sem esquecer a relação de
independência/dependência devemos perceber que ao mesmo tempo:
“o “si” se converte em autos”; / a existência se converte em vida;
o ser se converte em indivíduo; / o vivo se autogera a partir do vivo.
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Como percebemos, o ser humano é ao mesmo tempo singular e plural, mas a educação com
os seus ensinamentos separatistas não nos deixou aprender a nossa própria diversidade
humana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É esse movimento transdisciplinar que fará com certeza o SER vivo se autogerar a
partir da sua existência, se convertendo em vida; e a sua singularidade, individualidade se
convertendo em pluralidade, e assim (trans)cendendo da sua própria condição de matéria. A
educação deve comprometer-se em ensinar no presente e no futuro a condição humana, pois
refletir sobre o tema: “O Ser na transdisciplinaridade” foi e é, em primeiro lugar, também,
refletir sobre a nossa posição no mundo como unidade humana e múltiplas diversidades.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Ed.
Cultrix, 2002.
CARVALHO, Edgard de Assis. Prefácio. In.: CARVALHO, Edgard de Assis; et al.. Ética,
solidariedade e complexidade. São Paulo: Palas Athena, 1998.
MORIN, E. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Tradução e notas: Flávia
Nascimento. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
_____. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
_____. O método 2: a vida da vida. Tradução: Marina Lobo. Porto Alegre: Sulina, 2001.
_____. A cabeça bem-feita: repensar a reforma – reformar o pensamento. 2ª ed. Rio de
Janeiro : Bertrand Brasil, 2001
_____. Os sete saberes necessarios á educação do futuro. 8. Ed. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2003.
PENA-VEJA, Alfredo; ALMEIDA, Cleide R. S.; PETRAGLIA, Izabel. (orgs.). Edgar
Morin: ética, cultura e educação. São Paulo: Cortez, 2001.
RODRIGUES, Maria Lucia; CARVALHO, Edgard de Assis (orgs). Em busca dos
fundamentos perdidos. Porto Alegre: Sulina, 2002.
SOUSA, Maria do Socorro de. Professor: a subjetivação do SER, do ensinar e do aprender.
fortaleza, 2003.104 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade de Fortaleza –
UNIFOR.
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O SER NA TRANSDISCIPLINARIDADE
OBJETIVO
(Re)apresentar a reflexão teórico-prática do tema O SER na transdisciplinaridade, na
perspectiva da multidimensionalidade do ser humano, buscada principalmente no ato de
ensinar a condição humana nesta realidade que vivemos.
GÊNESE DO TEXTO
Ele nasceu a partir da participação em uma mesa, onde foi ministrada uma palestra sobre
seu tema. Os estudos de Morin foram referência fundamental, principalmente os saberes:
como ensinar a condição humana (educação, complexidade e valores humanos) e princípios
do conhecimento pertinente (fragmentação do conhecimento humano e do pensamento
linear; falsa razão/emoção e consciência humana).
REFLEXÕES
Pensar na transdisciplinaridade é assumir a visão do mundo como uma totalidade
impermanente, dinâmica, sem recortes justapostos, sem disciplina, sem especificidade
rigidamente fechada, estagnada e estável; “mas como um ciclo ativo que põe em
movimento conceitos, idéias e sentimentos” (Carvalho, 2002, p. 18).
Na transdisciplinaridade o SER deve se ver e ser visto, não como definitivo: sou um ser
biológico, um ser psicológico, um ser social, um ser cósmico, um ser espiritual; porque
essas definições, nem mesmo dentro de uma mesma dimensão dessas, está definitiva, se o
SER for visto como vivo, encarnado e não abstrato.
Isso significa que nenhum de nós, como SERes na transdisciplinaridade, pode se fechar
em uma dessas dimensões, e nem ser no mundo, a partir de papéis sociais estratificados,
dizendo: eu sou biólogo, físico, espiritualista. Isso nos reduziria a apenas uma parte de nós.
Dessa forma não compreenderíamos, como Morin (2001), que nem mesmo o auto de auto-
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conhecimento é singular, mas plural. Considerando autos e não auto, estamos admitindo
que como “SER no mundo” nossa autonomia nunca será 100%, ela se concretizará sempre
a partir de relações dependentes e independentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É esse movimento transdisciplinar que fará com certeza o SER vivo se autogerar a partir da
sua existência, se convertendo em vida; e a sua singularidade, individualidade se
convertendo em pluralidade, e assim (trans)cendendo da sua própria condição de matéria. A
educação deve comprometer-se em ensinar no presente e no futuro a condição humana, pois
refletir sobre o tema: “O Ser na transdisciplinaridade” foi e é, em primeiro lugar, também,
refletir sobre a nossa posição no mundo como unidade humana e múltiplas diversidades.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Ed.
Cultrix, 2002.
CARVALHO, Edgard de Assis. Prefácio. In.: CARVALHO, Edgard de Assis; et al.. Ética,
solidariedade e complexidade. São Paulo: Palas Athena, 1998.
MORIN, E. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Tradução e notas: Flávia
Nascimento. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
_____. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
_____. O método 2: a vida da vida. Tradução: Marina Lobo. Porto Alegre: Sulina, 2001.
_____. A cabeça bem-feita: repensar a reforma – reformar o pensamento. 2ª ed. Rio de
Janeiro : Bertrand Brasil, 2001
_____. Os sete saberes necessarios á educação do futuro. 8. Ed. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2003.
PENA-VEJA, Alfredo; ALMEIDA, Cleide R. S.; PETRAGLIA, Izabel. (orgs.). Edgar
Morin: ética, cultura e educação. São Paulo: Cortez, 2001.
RODRIGUES, Maria Lucia; CARVALHO, Edgard de Assis (orgs). Em busca dos
fundamentos perdidos. Porto Alegre: Sulina, 2002.
SOUSA, Maria do Socorro de. Professor: a subjetivação do SER, do ensinar e do aprender.
fortaleza, 2003.104 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade de Fortaleza –
UNIFOR.