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6.1 - Introdução
Em engenharia mecânica, uma das principais aplicações das vibrações está na manutenção. A existência de
vibrações em máquinas e equipamentos é, geralmente indicação de mal funcionamento. A manutenção preditiva tem
como um dos seus pilares a análise qualitativa e quantitativa das vibrações. Basicamente, o estudo das vibrações requer
três passos básicos:
1- a medição da vibração;
2- a análise do sinal vibratório medido;
3 - o controle da vibração, mediante algum procedimento de manutenção.
A análise das vibrações exige que as mesmas sejam perfeitamente identificadas. Isto acontece por meio de um
processo de medição. É extremamente importante a correta medição da vibração para que o processo de análise e a
conseqüente correção não sejam comprometidos. A medição serve então para assegurar o bom funcionamento de uma
máquina, confirmar suposições teóricas, auxiliar no projeto e operação de sistemas de isolamento ativos, identificação
de sistemas através da medição de variáveis de entrada e saída, informação de vibrações originadas por terremotos,
ação de turbulência fluida, ação de vento em estruturas, irregularidades de vias, e no acompanhamento do estado de
máquinas no processo da manutenção preditiva.
O processo de medição, ilustrado na Fig. 6.1, parte da identificação de uma característica do fenômeno
vibratório que possa ser medida, geralmente uma variável mecânica (deslocamento, velocidade, aceleração ou força). O
elemento que entra em contato com a máquina para medir esta variável é o transdutor que cumpre a função de converter
o sinal mecânico em um sinal elétrico (corrente elétrica) que é amplificado e convertido em um sinal digital ou
mostrado em um display. O sinal digital pode ser armazenado em um computador. Ainda antes de sofrer a conversão
para digital, o sinal pode ser gravado em um gravador especial. Após armazenados, os dados estão disponíveis para a
análise.
Unidade de
Máquina ou Transdutor Instrumento apresentação ou Análise de
estrutura ou sensor de de conversão armazenagem
(display, gravador dados
vibratória vibração do sinal ou computador)
Shaker 80
2.5
Amplificador
Sensor
Máquina
vibratória
Figura 6.2
117
Unidade 6 – Medição de Vibrações
6.3 - Transdutores
Os transdutores, como foi dito acima, transformam variáveis físicas em sinais elétricos equivalentes. Os tipos
de transdutores dependem, fundamentalmente, da variável que os mesmos transformam. São apresentados nesta seção
os principais tipos de transdutores e o seu princípio de funcionamento.
6.3.1 - Transdutores de Resistência Variável
Este tipo de transdutor tem um princípio de funcionamento que se baseia na variação na resistência elétrica de
um elemento, produzida pelo movimento. O movimento gera a deformação de uma resistência elétrica, alterando suas
características de forma a produzir uma variação da voltagem de saída do circuito elétrico do qual este elemento faz
parte. O transdutor mais utilizado deste tipo é o extensômetro cujo esquema é mostrado na Fig. 6.3.
Arame fino X
Arame fino
Papel fino
Massa
Filamentos
X
Papel fino
Figura 6.3 - Extensômetro
Um extensômetro elétrico consiste de um arame fino cuja resistência varia quando o mesmo é submetido a
uma deformação mecânica. Quando o extensômetro é colado a uma estrutura, sofre a mesma deformação que a
estrutura e, portanto, a variação em sua resistência indica a deformação sofrida pela estrutura. O arame é montado entre
duas lâminas de papel fino. O material com que mais comumente é construída a resistência é uma liga de cobre e níquel
conhecida como Advance.
Quando a superfície em que o extensômetro foi montado sofre uma deformação normal ε, o extensômetro
também sofre a mesma deformação e a variação em sua resistência é dada por
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Unidade 6 – Medição de Vibrações
∆R
K= R = 1 + 2ν + ∆r ∆L ≈ 1 + 2ν (6.1)
∆L r L
L
onde K é o fator de ponte do arame, R a resistência inicial, ∆R a variação da resistência, L o comprimento inicial do
arame, ∆L a variação no comprimento do arame, ν o coeficiente de Poisson do arame, r a resistividade do arame e ∆r a
variação na resistividade do arame.
O valor do fator K é dado pelo fabricante do extensômetro e, portanto, o valor de normal ε, pode ser
determinado, medindo-se ∆R e R, na forma
∆L ∆R
ε= = (6.2)
L RK
Quando o transdutor é usado em conjunto com outros componentes que permitem o processamento e a
transmissão do sinal, se transforma em um sensor (pickup). Em um sensor de vibração o extensômetro é montado em
um elemento elástico de um sistema massa-mola como mostra a Fig. 6.4. A deformação em qualquer ponto do membro
elástico (viga engastada-livre) é proporcional à deflexão da massa, x(t), a ser medida. A variação na resistência do
arame ∆R pode ser medida usando uma ponte de Wheatstone, um circuito potenciométrico e um divisor de voltagem.
Uma ponte de Wheatstone típica, representando um circuito que é sensível a pequenas mudanças na resistência, é
mostrado na Fig. 6.5. Aplica-se uma voltagem de alimentação d.c. V entre os pontos a e b.
b
R1 R2
x(t) a c E
Extensômetro
Filamentos
m R4 R3
Viga engastada
Base V
Inicialmente as resistências são balanceadas, de forma que a voltagem de saída é zero. Portanto, para balanço
inicial, a eq. (6.3) produz
R1 R3 = R2 R4 (6.4)
Quando as resistências (Ri) variam em pequenas quantidades (∆Ri), a variação na voltagem de saída pode ser
expressa como
∆R ∆R2 ∆R3 ∆R4
∆E ≈ V r0 1 − + + (6.5)
R1 R2 R3 R4
onde
R1 R2 R 3 R4
r0 = = (6.6)
(R + R2 ) (R + R4 )
2 2
1 3
Se os terminais do extensômetro são conectados entre os pontos a e b , R1 = Rg, ∆R1 = ∆Rg, e ∆R2 = ∆R3 = ∆R4
= 0, e a eq. (6.5) nos dá
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Unidade 6 – Medição de Vibrações
∆R g ∆E
= (6.7)
Rg V r0
ou
∆E = KV r0 ε (6.9)
e, como a voltagem de saída é proporcional à deformação, o instrumento pode ser calibrado para que a deformação
possa ser lida diretamente.
6.3.2 - Transdutores Piezoelétricos
Transdutores piezoelétricos são aqueles que utilizam materiais naturais ou artificiais, como quartzo, turmalina,
sulfato de lítio e sal de Rochelle, que geram carga elétrica quando submetidos a uma deformação (esta é chamada de
propriedade piezoelétrica). A carga elétrica gerada no cristal devida a uma força Fx é dada por
Q x = K p Fx = K p A p x (6.10)
onde Kp é chamada de constante piezoelétrica (2,25x10-12 Coulomb/Newton para o quartzo, quando a maior face está ao
longo do eixo x do cristal, Fig. 6.6), A é a área em que atua a força Fx, e px é a pressão devida à mesma força. A
voltagem de saída do cristal é
E = υ t px (6.11)
ν é a sensibilidade de voltagem (0,055 volt-metro/Newton para o quartzo, também quando a maior face está ao longo
do eixo x do cristal, Fig. 6.6) e t a espessura do cristal.
Fx = A p x
(a) Fx
Mola
Massa
Discos
Filamentos
piezoelétricos
(b)
Figura 6.6 - Acelerômetro piezoelétrico.
A Fig. 6.6b mostra o esquema de um acelerômetro piezoelétrico. Uma pequena massa é pressionada contra um
cristal piezoelétrico por meio de uma mola. Quando a base vibra, a carga exercida pela massa sobre o cristal varia com
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Unidade 6 – Medição de Vibrações
a aceleração e, portanto, a voltagem de saída gerada pelo cristal será proporcional à aceleração. Os acelerômetros
piezoelétricos são compactos, resistentes, com alta sensibilidade e utilizáveis em altas faixas de frequência.
6.3.3 - Transdutores Eletrodinâmicos
Quando um condutor elétrico, na forma de um solenóide, se move em um campo magnético, produzido por um
imã permanente ou por um eletroimã, como mostra a Fig. 6.7, é gerada uma voltagem V neste mesmo condutor, dada
por
V = Dlv (6.12)
onde D é a densidade de fluxo magnético (em Teslas), l é o comprimento do condutor (em metros), e v é a velocidade
do condutor em relação ao campo magnético (em metros/segundo). Em virtude da proporcionalidade entre a velocidade
relativa entre imã e solenóide e a voltagem de saída, os transdutores eletromagnéticos são freqüentemente utilizados em
sensores de velocidade. A eq. (6.12) pode ser escrita na forma
V F
Dl = = (6.13)
v I
onde F é a força que age sobre o solenóide quando pelo mesmo passa uma corrente I. Desta forma este tipo de
transdutor pode também ser utilizado como um excitador de vibrações (a partir de uma corrente elétrica introduzida
gera-se uma força mecânica)
E
EO = Voltagem
de saida
v
Deslocamento
S N S
N
Ei
Voltagem de Enrolamento
alimentação primário
Enrolamentos
secundários
Figura 6.7 - Transdutor eletrodinâmico. Figura 6.8 - LVDT.
121
Unidade 6 – Medição de Vibrações
x(t)
k T c
y(t)
cω 2ζr
φ = tan −1 2
= tan −1 (6.21)
k − mω 1− r 2
ω c
com r = eζ= .
ωn 2 mω n
As Figuras 6.10 e 6.11 mostram as curvas correspondentes às equações (6.20) e (6.21), respectivamente. O
tipo de instrumento é determinado pela faixa mais adequada de frequências da curva mostrada na Fig. 6.10.
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Unidade 6 – Medição de Vibrações
4 ζ=0
180o
ζ = 0,25
z=0 ζ = 0,5
150o
3
Z/Y
ζ = 0,7
Relação de amplitudes
120o
z = 0,25
1 ζ = 0,7
60o
ζ = 0,5
z = 1,0
z = 0,7
30o
ζ = 0,25
0 1 2 3 4 5
Razão de frequências (r) ζ=0
Faixa do vibrômetro 0 1 2 3 4 5
Faixa do
acelerômetro Razão de frequências (r)
6.4.1 - Vibrômetro
Um vibrômetro, também chamado de sismômetro é um instrumento que mede o deslocamento de um corpo
vibratório. A Fig. 6.10 mostra que Z Y ≈ 1 para ω ω ≥ 3 . Nesta faixa de frequências a amplitude do deslocamento
n
relativo entre a massa e a base é igual à amplitude do deslocamento da base. Este deslocamento é identificado pelo
transdutor. Para uma análise exata, consideremos a eq. (6.20). Para esta faixa de frequências pode-se escrever
z( t ) = Y sen(ωt − φ ) (6.22)
r2
se ≈1 (6.23)
[ ( ) ]
1
(1 − r ) 2 2 2
2
+ 2ζr
Uma comparação da eq. (6.22) com (6.14) mostra que z(t) representa diretamente o deslocamento y(t) com
uma defasagem dada por φ. O deslocamento registrado z(t), então está atrasado t’=φ/ω em relação ao deslocamento que
deve ser medido y(t). Este tempo de atraso não é importante se o deslocamento da base y(t) consiste de um único
componente harmônico.
Como r = ω/ωn, deve ser grande e ω depende da vibração medida, a frequência natural do sistema massa-
mola-amortecedor deve ser baixa. Isto implica em que a massa deve ser grande e a mola deve possuir uma rigidez
baixa. O instrumento resultante pode ser demasiado grande e pesado.
6.4.2 - Acelerômetro
Um acelerômetro é um instrumento que mede a aceleração de um corpo vibratório (Fig. 6.12). Os
acelerômetros são amplamente utilizados em medições de vibrações industriais e terremotos. Uma das vantagens da
medição da aceleração é que a velocidade e o deslocamento podem ser obtidos por integração, o que é
computacionalmente fácil. A equação (6.19) combinada com (6.20), pode ser escrita na forma
ω n2 z( t ) =
1
[ω Y sen(ωt − φ )]
2
(6.24)
[( 1 − r ) ( ) ]
1
2 2 2
2
+ 2ζr
Se
1
≈1 (6.25)
[ ( ) ]
1
(1 − r ) 2 2 2
2
+ 2ζr
ω n2 z( t ) = ω 2 Y sen(ωt − φ ) (6.26)
123
Unidade 6 – Medição de Vibrações
a amplitude da função harmônica expressa na eq. (6.26) é igual à da eq. (6.27). Então, nestas condições, o
deslocamento relativo z(t) expressa a aceleração da base, com o sinal invertido, um atraso que é função do ângulo de
fase φ, e com um fator de escala determinado pela frequência natural ao quadrado.
1,25
ζ=0
Elemento
Anel de pré-carga triangular central
1 ζ = 0,25
(1 − r ) + ( 2ζr )
2 2 2
ζ = 0,5
Elemento
piezoelétrico
1,00
Massa
sísmica ζ = 0,7
ζ=1
0,75
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0
(
z&(t ) = ωY cos ωt − φ ) (6.30)
que, comparada com a eq. (6.28) mostra que a velocidade do movimento relativo é igual à velocidade do movimento da
base, com um atraso determinado pelo ângulo de fase. Como nesta situação o valor de r deve ser grande, o instrumento
deve possuir uma frequência natural baixa.
Os sensores de velocidade são largamente utilizados em medição de vibração na manutenção em indústrias,
porque são normalmente de baixo custo por serem de fácil construção (transdutores eletromagnéticos).
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Unidade 6 – Medição de Vibrações
(a) (b)
Figura 6.14 - Medidores de frequência.
125
Unidade 6 – Medição de Vibrações
x(t) = r sen ωt
F(t) = kr sen ωt
k
F(t) = mω2r sen ωt
(a) (b)
Figura 6.16 - Excitadores mecânicos.
Conhecidos em laboratórios como shakers, ou mais popularmente como vibradores, são, normalmente,
transdutores que funcionam na forma inversa dos medidores: transformam uma grandeza elétrica em uma grandeza
mecânica. São utilizados para provocar a vibração com amplitude e frequência controladas em um sistema, e com isto,
determinar características dinâmicas dos mesmos sistemas e realizar testes de fadiga em materiais. Podem ser
mecânicos, eletromagnéticos, eletrodinâmicos ou hidráulicos.
6.6.1 - Excitadores Mecânicos
A Fig. 6.16 ilustra a aplicação de transdutores mecânicos. Constitui-se de um mecanismo biela-manivela que
pode ser utilizado para aplicar na estrutura uma força de inércia harmônica (Fig. 6.16a) ou uma força elástica
harmônica (Fig. 6.16b). São normalmente usados para produzir vibração de baixa frequência (até 30 Hz) e pequenas
cargas (até 700 N).
Outro tipo de excitador mecânico, mostrado na Fig. 6.17, produz vibração originada pela força centrífuga
criada por duas massas excêntricas girando com a mesma velocidade de rotação em sentidos opostos. Este tipo de
excitador pode gerar cargas de 250 N a 25000 N. Se as duas massas m, girando com velocidade angular ω com uma
excentricidade R, a força vertical gerada é
F ( t ) = 2mRω 2 cos ωt (6.31)
As componentes horizontais das duas massas se cancelam. A força F(t) será aplicada à estrutura em que o
excitador for fixado.
ω ω
Excitador m m
R R
Viga
Colunas
126
Unidade 6 – Medição de Vibrações
O excitador eletrodinâmico, ilustrado na Fig. 6.18, funciona de forma inversa ao transdutor eletrodinâmico.
Quando a corrente elétrica passa em um enrolamento de comprimento l, imerso em um campo magnético, é gerada uma
força F, proporcional à corrente I e à intensidade de fluxo magnético D, acelerando a base do excitador.
F = DIl (6.32)
Mesa
excitadora
Suporte
flexível
Elemento
móvel
Solenóide Imã
(a)
Aceleração
constante
Frequência
Faixa de operação
(b)
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