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ATIVIDADE DE AVALIAÇÃO

Leitura orientada:

Leia o texto abaixo e identifique os efeitos econômicos, culturais, trabalhistas e sociais da Globalização.

GLOBALIZAÇÃO DENTRO DE CASA

Nem Manoel nem Antônio sabiam direito o que significava globalização e


como isso poderia afetar suas vidas até a Transportadora Pereira, herdada do
pai, ser comprada pela multinacional International Transworld Carrier Inc. (ITC) .

Em linha com a política da nova empresa de manter os talentos locais, os


irmãos foram mantidos na direção, mas era preciso assegurar as normas
hierárquicas adotadas pela ITC e isso significava que um dos irmãos deveria se
reportar ao outro.

Criou-se um impasse. É que o fundador, Joaquim Pereira, que legara


aquele império sobre rodas, sempre acreditou no pleno entendimento entre os
filhos nos negócios. O segredo do sucesso, dizia o fundador, estava na
capacidade de harmonizar o poder entre os irmãos. Essa abordagem trouxera a
prosperidade sem rixas: mantendo a tradição dos Pereira, o irmão mais velho
assumira a função do patriarca, dando o tom das relações familiares. Irmãos, filhos, sobrinhos, mulheres e toda a grande família
seguiam à risca suas decisões.

Com a incorporação da empresa pela multinacional, o equilíbrio se desfez. É que Antônio, o irmão dez anos mais novo, era
pragmático e ambicioso... já Manoel mostrava-se, na visão da ITC, obsoleto e paternalista, não pensando duas vezes em colocar os
laços da tradição diante da razão. Esses traços de comportamento foram decisivos no estabelecimento de uma nova estrutura
organizacional. A matriz nomeou o irmão mais jovem para a presidência, fazendo de Manoel o segundo homem na cadeia de comando
da filial brasileira. A intenção era colocar sangue jovem à frente da empresa, para facilitar a introdução de novos procedimentos e
reduzir as reações às mudanças que se faziam necessárias.

No início, os irmãos ficaram perplexos com a nova orientação, que ia frontalmente de encontro ao que fora determinado pelo pai.
Depois, por consenso, chegaram a um acordo. Como em casa quem mandava eram os próprios Pereira, a estrutura de comando
permaneceu como era, ou seja: quem continuava a determinar os destinos de tudo era o irmão mais velho. Assim, durante o dia,
Antônio dava ordens na empresa e, à noite, bem como nos fins de semana, Manoel mandava nos destinos da família. E tudo
continuaria bem, não fossem os novos fatos que abalaram o mundo dos Pereira.

Tudo começou quando Antônio se recusou a demitir a tia Alzira, a todo-poderosa e assustadora irmã do fundador, dama de ferro
da empresa desde os tempos dos caminhões a gasolina... A senhora, alta, musculosa e com um olhar sombrio e ameaçador - fatores
que explicavam a inapetência masculina para ofertas de casamento - se recusava a adotar os novos processos. Não falava nem queria
aprender a língua inglesa, cada dia mais importante para os negócios da empresa. Sempre de péssimo humor, era conhecida pela
forma malcriada com que atendia das pessoas.

A gota d’água foi o tratamento dispensado ao CEO1 mundial da ITC, em sua visita ao Brasil já na condição de novo dono. Tia
Alzira, entre outras, não permitiu ao homem nem entrar na sala, nem usar o telefone na ausência do sobrinho-presidente.

O CEO, indignado, exigiu a cabeça daquela senhora. Era funcionalmente inadmissível que a empresa abrigasse uma
profissional tão desqualificada. Antônio já estava preparado, mesmo a contragosto, para demitir a tia - diga-se de passagem, com um
pacote financeiro desses que só executivos de primeira recebem quando vão para o olho da rua -, quando Manoel interveio. Lembrou
ao irmão que tia Alzira fazia parte da história da empresa, que ajudara a carregar nas próprias costas as primeiras mudanças
contratadas pela Transportadora Pereira. Não era aceitável desfazer-se de pessoas leais como se fossem velhos utensílios, e logo
quem: a irmã de seu saudoso pai....

Afinal, os dois Pereira chegaram a um consenso e tia Alzira recebeu uma mera carta de advertência. Mas a velha, de
temperamento difícil, rasgou o documento em pedacinhos na frente dos sobrinhos, jogou-os no lixo e cuspiu em cima. Os irmãos, até
pelas lembranças de terríveis surras aplicadas pela tia nos dois quando crianças, fingiram não ver.

1
Chief Executive Office, ou seja, Presidente Executivo da Companhia.
1
As coisas ficariam por aí se o CEO da ITC não voltasse a exigir uma solução definitiva para o caso. Diante da pressão do chefe,
Antônio resolveu demitir a tia. Manoel, indignado, recusou-se a cumprir a ordem do irmão-presidente. Com o poder que o cargo lhe
conferia, Antônio livrou-se de tia Alzira com uma canetada.

Em casa, pela primeira vez, houve um motim da família: - “Onde já se vira uma coisa dessas?... o velho Joaquim teria matado o
filho se vivo estivesse! Parece coisa de adolescente rebelde!... Isso é muita falta de consideração!” e outras expressões do gênero,
para não dizer mais.

Como represália, o irmão mais velho resolveu que ninguém deveria dirigir a palavra a Antônio até que a readmissão de tia Alzira
fosse consumada. A decisão foi cegamente adotada por todos, inclusive pela própria mulher e pelos filhos de Antônio.

Na empresa, Antônio resolveu responder à altura. Numa reunião de diretoria, chamou a atenção do irmão por chegar atrasado,
situação que obrigava ao congelamento do próximo aumento salarial de Manoel. Humilhado, em resposta, o irmão mais velho cancelou
a festa de aniversário que a família estava preparando para comemorar os 40 anos do irmão caçula. Aí o irmão mais novo rejeitou a
viagem de negócios de Manoel ao exterior (e para a qual até a mulher de Manoel já estava aprendendo algumas palavrinhas e
inglês...), alegando corte de despesas.

A escalada de retaliações entre os dois irmãos parecia não ter fim. Foi quando tia Alzira resolveu intervir. Um dia, ao chegarem
em casa, foram por ela chamados a um quarto. Gelaram com o convite. A senhora trancou a porta e deu uma surra de cinto nos dois
homens que os fez voltar aos piores momentos da infância.

Dias depois, a paz voltou a reinar. Na empresa, tia Alzira foi nomeada consultora externa. Jamais o CEO mundial identificou o
nome da senhora no meio de tantos outros colegas consultores. Até hoje ela não sabe bem para que serve seu cargo, mas percebeu
que esse é um problema comum à classe a que passou a pertencer. Em casa, os dois irmãos nunca mais voltaram a brigar, pelo
menos na frente da tia, que viveu muitos anos para garantir a harmonia dos Pereira, evitando que a vida familiar fosse afetada por
problemas mundanos surgidos no trabalho.

STEINBERG, Fábio. Revista Exame, n.666, p. 94-95, São Paulo. 15 jul. 1998.

Atividade:

QUESTÃO 01 - Com base na leitura e análise do texto acima, bem como nos elementos identificados e discutidos em sala, elabore uma
definição do conceito de Globalização que englobe os efeitos econômicos, culturais, trabalhistas e sociais da Globalização, apresentando
trechos do texto que exemplifiquem esses efeitos.

I. AS RELAÇÕES POLÍTICAS Desconfiai do mais trivial


na aparência do singelo.
E O ESTADO E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
1. POLÍTICA, PODER E SOCIEDADE de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
Ao estudarmos a disciplina Sociologia o que nós vemos, na verdade, são nada deve parecer impossível de mudar.
Bertodt Brecht
discussões que são foco central de análise de três ciências sociais: a sociologia
propriamente dita, a antropologia e a ciência política. Destas, a ciência política é a
mais antiga, tendo como objeto de estudo a política. Os cientistas políticos aceitam,
em geral, como local e época do nascimento desta ciência a Europa Renascentista, tendo como marco os estudos de Nicolau Maquiavel.
O debate político e as explicações sobre a natureza da política, no entanto, remontam aos gregos clássicos, passando pelo clero medieval.
Mas é a partir de Maquiavel que os estudos sobre a política vão ganhar contornos científicos a partir de sua dessacralização (separação
das questões religiosas) e da retirada de sua aura moral e valorativa presente em seus antecessores. Vejamos como se deu este
processo:

1.1. A gênese do pensamento político

A origem da palavra POLÍTICA vem do grego Polis, nome dado às cidades-estado gregas, organizadas de forma independente,
ou seja, sem um Estado Nação centralizado que as submetesse a uma administração única e um mesmo regulamento. No interior

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da cidade, homens de propriedade não estrangeiros (chamados de cidadãos - politikós) participavam de debates coletivos na praça central
(Ágora) e ali decidiam, através do mútuo convencimento, os rumos a seguir.
Neste contexto, já se percebe que há um espaço específico de convívio da política: o espaço público, ou seja, a esfera do
comportamento humano em que as ações deixam de ter um sentido restrito, individual, particular e ganham corpo coletivo, passando a
interessar às ações de grupos. Ao público se contrapõe o privado. Neste último, acredita-se travar relacionamentos familiares, afetivos,
que satisfaçam ou não às aspirações individuais. Cabe aqui uma ressalva. Mesmo que o ambiente próprio da política seja o público, as
relações privadas também se compõem de esforços de convencimento e jogos de interesses, o que nos mostra que as manifestações
políticas não são exclusivas ao público ou ao privado.
Retomando a análise sobre os gregos, para qualquer um deles política tem a missão de alcançar a justiça. Para Platão, a justiça
política se estabeleceria sob a forma de um governo da razão, logo à frente da polis deveriam estar os sábios, os filósofos homens de
virtude controladores de seus apetites e de suas agressividades.
Por sua vez, Aristóteles acrescenta às qualidades ou virtudes do governante o dever de conceder igualdade entre os homens. Em
síntese, a política carregaria para os gregos o papel de estabelecer o bem comum. Seria ela uma atividade carreada por homens levados
por valores e comportamentos de destaque, qualidades sem as quais a atividade política não existiria. O governante, então, deveria ser um
homem sábio, justo e bondoso.
A Idade Média, com maior ou menor precisão, refaz a leitura dos gregos e concede à política a mesma função. Cabe ao governante
estabelecer o bem comum sob a égide da ordem. O homem da política, além de sábio, justo e bondoso, seria, por tudo isso, um enviado
de Deus, fonte última de todo o poder. Nas palavras do Antigo Testamento, “todo poder vem do alto/por mim os reis reinam e os príncipes
governam”.
Entretanto, nem os gregos nem os medievais conseguiram enxergar a política fora de uma cápsula valorativa, isto é, aquela
em que toda abordagem é refém de agentes (homens) embebidos de moral e senso de justiça, seja como virtude filosófica, seja como
graça divina. Com efeito, a política nesse contexto só poderia ser explicada e entendida a partir de elementos externos a ela, oriundos da
esfera moral ou das vontades de Deus. Só Maquiavel deu autonomia e isenção para o pensamento político.

1.2. Maquiavel e a Dessacralização da Política

(...) Maquiavel foi contemporâneo da decadência do modo de produção feudal e, por conseguinte, da acumulação primitiva de
capitais, da ascensão da burguesia, do renascimento cultural e científico e, principalmente, da formação das monarquias absolutistas.
Frente aos conflitos sociais que se apresentavam naquele momento, Maquiavel percebe que o universo da política não é imune,
como imaginavam gregos e medievais, aos embates de agentes sociais antagônicos. Para o teórico florentino, as sociedades se
dividiam em dois grupos distintos:
a) os opressores, envolvidos em ações de enriquecimento;
b) os oprimidos, que não raro careciam da proteção do Estado para a garantia da subsistência.
Para Maquiavel, a cidade é tecida por lutas internas que a obrigam a instituir um pólo superior que possa unificá-la e dar-lhe
identidade. Esse pólo é o poder político. Sendo originada desses conflitos, a sociedade jamais pode ser vista como uma comunidade una,
indivisa, voltada para o bem comum, como queriam os gregos, como se os interesses dos grandes e dos populares fossem os mesmos.
Dentre as missões de um governante, Maquiavel destacava a de proteger os oprimidos dos opressores, garantindo aos últimos a liberdade.
Para Maquiavel, legítimo é o governo que age a serviço do público e não de interesses particulares. Daí que
todo regime político em que o poderio de opressão e comando dos grandes é maior que poder do príncipe e
esmaga o povo é ilegítimo. Dessa forma, o poder do príncipe deve ser superior ao dos grandes e estar a serviço do
povo.
Daí a defesa que o teórico faz à República, em detrimento do despotismo e da tirania. Esta visão destoa em
muito do que tradicionalmente se chama de maquiavélico ou maquiavelismo. Para tais expressões, se convencionou
agregar sinônimos como diabólico, frio, calculista, cruel, etc. Como se sua obra O Príncipe fosse antes um manual
da maldade do que uma tentativa de retratar e, de certa forma, denunciar o caráter amoral da política, sobretudo dos
absolutistas de seu tempo.
Desse ponto de vista, o bom governante não se primaria por ser sábio, quiçá bondoso, como propunham
os gregos. A eficiência do governo e de seu governante se mediria pela capacidade de manter ou tomar o
poder. E, para tanto, caberia ao príncipe estimular entre seus súditos sentimentos como o amor e o medo. Caso não fosse possível a
coexistência de ambos, que se torne temido, afinal o amor é um sentimento que permite a traição.
Nota-se que agora a política perde seu caráter moral e ganha praticidade. Maquiavel está substituindo a noção de virtude grega por
Virtú, ou seja, pela capacidade que o governante tem ou deve ter em tomar a decisão correta, por via da astúcia ou flexibilidade, scilando
de acordo com as circunstâncias Fortuna. As circunstâncias de determinação da ação política ou, pelo menos, o pensamento político
cientificamente organizado passa a vigorar com independência em relação à religiosidade ou à moralidade. O que se vislumbra à frente é o
desenvolvimento de explicações para a origem do Estado e das relações políticas (marcantes nos teóricos do contrato social, Rousseu,
Montesquieu, Locke), sua natureza, os interesses, e os grupos sociais a que estão ligados e, por fim, seu futuro.
(In: Chauí, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997)

1.2. Breve síntese de conceitos básicos para a introdução à ciência política:

POLÍTICA - diz respeito ao exercício do poder cuja atividade prática implica no embate de opiniões dos agentes que decidem sobre
os destinos humanos. Toda atividade humana é, então, atividade política, pois seus reflexos ultrapassam a vida de cada um, alcançando
toda a sociedade. Assim, o desprezo pela política já é uma atividade política, pois colabora com a permanência da situação, impedindo
reflexão e tentativa de melhoria.

Reflita!! Podemos, então, afirmar que o desprezo pela política já é uma atividade política, já que esta atitude
colabora com a permanência da situação, impedindo reflexão e tentativa de melhoria das condições da sociedade?
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PODER - é a capacidade humana de alterar/influenciar a vida de outros indivíduos. Poder significa, então, a probabilidade de impor
a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda a resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade.

O Macro e o Micro poder: Foi o filósofo Michel Foucault, em seu livro Microfísica do Poder, quem argumentou que há formas de
exercício do poder diferentes da perspectiva macro em que o Estado, as instituições ou as estruturas socioeconômicas são consideradas o
lócus central de investigação do poder. Na perspectiva do Micropoder, esse nível particular de manipulação do poder permite um controle
minucioso do corpo, dos gestos, dos comportamentos, dos hábitos, das atitudes, dos discursos, enfim, inserindo-se na vida cotidiana dos
indivíduos e resultando em estratégias que se cristalizam no corpo social por completo, podendo, assim, ser caracterizado como um micro
ou subpoder. Das análises de Foucault foi possível perceber a existência de micro-poderes em diversas instâncias da vida social, na
família, num casal de namorados, entre amigos, na escola, na Igreja, etc.

(Foucault, Michel. Microfísica do Poder. 10ª Ed. Rio de Janeiro: Graal, 1992. Adaptado)

Reflita!! Observe a imagem à direita. Nos espaços de trabalho é permitido ao


trabalhador ausentar-se de sua posição de trabalho no momento em que ele
desejar, pelo tempo que quiser? E na escola? É permitido vestir-se e
comportar-se de qualquer maneira? Como você pode relacionar a idéia do
micro-poder proposto por Michel Foucault a suas experiências no
trabalho ou na escola?
Quais
são as
condições de expressão do poder?

Como vimos, uma questão que instigou sociólogos tais como Émile Durkheim, Max Weber, dentre outros, foi o que faz com que os
indivíduos permaneçam unidos em sociedade. Se por um lado as sociedades precisam de regras e normas de comportamento para que se
mantenham, por outro lado, essas regras estão relacionaas ao tipo de poder que vigora nas sociedades e que fins pretende alcançar.

1. PODER POLÍTICO - o conceito de Política, entendida como forma de atividade humana, está estreitamente ligado ao de poder.
Para alcançarmos o elemento específico do poder político parece mais apropriado o critério de classificação das várias formas de poder
que se baseia nos meios de que se serve o sujeito ativo da relação para determinar o comportamento do sujeito passivo. Podermos, então,
distinguir três grandes classes de poder: o poder econômico, o poder ideológico e o poder político. Todas as três formas de poder
fundamentam e mantêm uma sociedade de desiguais, isto é, dividida em ricos e pobres com base (Poder econômico); em sábios e
ignorantes (Poder ideológico); os meios políticos, em superiores e inferiores (Poder político).
(In: Chauí, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997 e Bobbio, N. Dicionário de Política: Brasília, Ed. UNB, 1991)

2. PODER COERCITIVO: através dele as regras ou normas podem ser impostas a partir do uso da força, que é a manifestação
máxima do poder coercitivo. Ou podem ser impostas coercitivamente através de estratégias que não usam da força, como por exemplo, a
disciplina em meios militares.

3. PODER NÃO COERCITIVO:

O antropólogo Pierre Clastres, ao estudar as sociedades indígenas sul-americanas, como os Guayaki, Guarani e Chulupi - todos do
Chaco Paraguaio -, os Yanomami da Venezuela e os migrantes Guaranis mbyá das redondezas da cidade de São Paulo, identificou que
nelas o poder não se destaca nem se separa, não forma uma instância acima dela (como o Estado em nossa sociedade). Existe chefia,
porém não é um poder de mando que a comunidade obedece. A comunidade decide por si mesma, de acordo com suas tradições e
necessidades, regulando por si mesma conflitos pessoais entre seus membros. Existem regras e normas nestas sociedades, mas elas vão
sendo aprendidas no cotidiano ou nos rituais e não são impostas por meios coercitivos, tal como a polícia em nossas sociedades
ocidentais. O papel do chefe é trocar presentes, fazer a paz e falar. Nestas sociedades não existe o poder de mando, tal como nas
sociedades ocidentais. Uma ordem, nessas sociedades, não tem significado, podendo até ser mesmo fonte de risos.
De acordo com o antropólogo essa ausência do poder de mando está diretamente relacionada a dois elementos: 1) ausência a
propriedade privada e 2) inseparabilidade entre o político e o social, caracterizando-as como sociedades sem Estado. Neste último,
significa que não há um órgão do poder separado da sociedade, tal como o Estado nas sociedades com Estado. Dessa forma, o poder
está localizado no interior do próprio corpo social, da própria sociedade. As sociedades primitivas, ao contrário do que pensavam os
teóricos evolucionistas, não são sociedades a-políticas e sem-poder. Nelas existe o poder não coercitivo que faz com que as pessoas
ajam num único projeto: manter a sociedade unida, indivisa, impedindo que a desigualdade entre os homens se instale e se estabeleça,
assim, a divisão da própria sociedade

“... as sociedades primitivas são sociedades sem Estado, são as sociedades cujo corpo não possui órgão separado do poder
político. É conforme a presença ou a ausência do Estado que se opera uma primeira classificação das sociedades, pela qual
elas se distribuem em dois grupos: as sociedades sem Estado e as sociedades com Estado, as sociedades primitivas e as
outras. (...) E reconhecemos aqui a definição etnológica dessas sociedades: elas não tem órgão separado do poder, o poder
não está separado da sociedade. (...) nelas não se pode isolar uma esfera política distinta da esfera do social. (...) os que são
chamados líderes são desprovidos de todo poder, a chefia institui-se no exterior do exercício do poder político”

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Aos nossos olhos, formados sob uma concepção ocidental moderna da “necessidade imperativa” do Estado para regular os conflitos
no interior da sociedade e garantir o bem comum, parece-nos descabido pensar em uma chefia sem poder, não é mesmo? No
entanto, Pierre Clastres nos esclarece:

“Funcionalmente isso parece absurdo: como pensar na disjunção entre chefia e poder? De que servem os chefes se lhes falta
o atributo essencial que faria deles justamente chefes, a saber, a possibilidade de exercer o poder sobre a comunidade? Na
realidade, que o chefe selvagem não detenha o poder de mandar não significa que ele não sirva para nada: ao contrário, ele é
investido pela sociedade de um certo número de tarefas e, sob esse aspecto, poder-se ia ver nele uma espécie de funcionário
(não remunerado) da sociedade”

Mas o quê, efetivamente, faz um chefe sem poder? Para Clastres, a chefia nas sociedades primitivas
pode ser entendida sob dois aspectos:
1) De um lado, nas relações com outros grupos, algo similar ao nosso Ministro de Relações Internacionais. Para
estas sociedades, os outros são ou inimigos ou amigos. Com os primeiros trata-se de estabelecer ou reforçar laços,
vínculos alianças, com os segundos, coragem e disposição guerreira para enfrentá-los, capaz de assegurar uma defesa eficaz contra seus
ataques.
2) De outro, nas relações internas ao próprio grupo. Seu reconhecimento como líder, como porta-voz quando afirma a própria
sociedade face às demais confere-lhe prestígio (que entre nós é confundido com poder). Esse prestígio faz com que sua opinião seja,
eventualmente, ouvida com mais consideração que a dos outros indivíduos sem, no entanto, transformar-se em voz de comando. Assim,
nessas ocasiões media conflitos apaziguando-os ao referir-se a todo momento à tradição de bom entendimento legada, desde sempre,
pelos ancestrais. Essa mediação, portanto, é feita sem recorrência a uma lei institucionalizada em algum órgão de um Estado, mas por
meio da tradição, dos costumes conferidos pelos ancestrais.

Para Pierre Clastres, disso resulta que as sociedades primitivas, sendo sociedades sem Estado, com estas características
apresentadas, são além disso, sociedades contra o Estado. Sua tese central é a de a sociedade civil pode prescindir da figura do Estado, e
isso pode ser verificado – empiricamente – na experiência de boa parte dos povos indígenas da América do Sul.

“Com efeito, a política dos selvagens é exatamente opor-se o tempo todo ao aparecimento de um órgão separado do poder,
impedir o encontro de antemão fatal entre instituição da chefia e exercício do poder. Na sociedade primitiva não há órgão
separado do poder porque o poder não está separado da sociedade, porque ela o detém, como totalidade uma, a fim de
manter seu ser indiviso, a fim de afastar, de conjurar o aparecimento em seu seio da desigualdade entre senhores e súditos,
entre o chefe e a tribo. Deter o poder é exercê-lo; exercê-lo é dominar aqueles sobre os quais ele se exerce: eis aí, muito
precisamente, o que as sociedades primitivas não querem (não quiseram), eis aí por que os chefes não têm poder, por que o
poder não se separa do corpo uno da sociedade. Recusa da desigualdade, recusa do poder separado: mesma e constante
preocupação das sociedades primitivas”

In: Clastres, Pierre Clastres. A sociedade contra o Estado. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978 e
Arqueologia da Violência. São Paulo: Cosac Naify, 2004, pags. 143-152.

Exercício de aplicação:
1. “A Política não se ocupa de todos os processos de formulação de tomada de decisões, mas somente daqueles
que afetem, de alguma forma, a coletividade”.
In: Ribeiro, João Ubaldo. Política: quem manda, por que manda e como manda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1986

Tomando como referência o texto acima, assinale a alternativa a seguir sobre o significado de “Política”
I. Atividade intrinsecamente suja, exercida por gente mentirosa e enganadora.
II. Processo de formulação e tomada de decisões com conseqüências sobre nossa prosperidade ou pobreza, nossa educação ou
falta de educação e nossa felicidade ou infelicidade.
III. Ocupação de um grupo de pessoas surgidas fora de nossa própria sociedade, denominada classe política.
IV. Posição do cidadão de não fazer nada para melhorar o bem-estar público perpetuando uma situação inaceitável.

a) Apenas II e IV estão corretas.


b) Apenas III e IV estão corretas.
c) I e III estão corretas
d) I e II estão corretas.

Lembra-se que
1.3. Poder e dominação em Max Weber
diferentemente de Max
Weber, para Durkheim o Como você já sabe, a sociologia de Max Weber é fundada nas condutas humanas
que mantêm as pessoas dotadas de motivo e sentido individual,orientanda nas ações de outros indivíduos (ação social).
unidas em sociedade é o Quando tais ações assumem uma forma recíproca, são chamadas de relações sociais. Para
tipo de solidariedade Weber, as relações sociais têm a tendência de perdurarem no tempo, graças à dominação
social prevalecente na social. Para ele, a DOMINAÇÃO é o fundamento da organização social, a base da regularidade
sociedade em questão?
das ações das pessoas, ou ainda, o que mantém as pessoas unidas em sociedade.
Tida como uma relação social que, tal como a noção de poder, depende de um
compartilhamento de um instrumental simbólico, o conceito de dominação é diferente do conceito de poder, uma vez que este pode
ser exercido mesmo contra a vontade de quem a ele é submetido.
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Já no caso da dominação, trata-se de uma relação social que depende da produção da LEGITIMIDADE na submissão de um grupo
a um mandato, ou seja, a dominação é aceita como legítima para aqueles que são dominados.
Para Weber (...) o conceito de poder é sociologicamente amorfo, pois não se limita a nenhuma circunstância social específica e a
imposição da vontade de alguém pode ocorrer em inúmeras situações. “Os meios utilizados para alcançar o poder podem ser muito
diversos, desde o emprego da simples violência até a propaganda e o sufrágio por procedimentos rudes ou delicados: dinheiro, influência
social, poder da palavra, sugestão e engano grosseiro, tática mais ou menos hábil de obstrução dentro das assembléias parlamentares”
(In: Weber, Max. Economia e Sociedade, p. 693).
A dominação baseia-se numa probabilidade de obediência a um certo mandato (...) o que mantém a coesão social, o que garante a
permanência das relações sociais e a existência da própria sociedade é a dominação. Ela se manifesta sob diferentes formas que vão
desde a interpretação da história, de acordo com a visão do grupo dominante numa certa época, passa pela imposição de normas de
etiqueta e de convivência social consideradas adequadas e chegam à organização de regras para a vida política. É importante ressaltar
que a dominação não é um fenômeno restrito à esfera política, mas um elemento essencial que percorre todas as instâncias da vida social.

O conceito de DOMINAÇÃO compreende, então:

“um estado de coisas pelo qual uma vontade manifesta (mandato) do dominador ou dos
dominadores influi sobre os atos de outros (do dominado ou dos dominados), de tal modo que
estes atos acontecem como se os dominados tivessem adotado, por si mesmos e como
máxima de sua ação, o conteúdo do mandato (obediência)” (op.cit. pag. 699).
De que
modo, então, Max Weber estuda as relações de dominação nas sociedades? O método que utiliza é chamado por ele de
compreensivo. Parte do princípio de que a realidade é composta de uma diversidade quase infinita de elementos, para a qual não é
possível uma explicação a partir de uma análise exaustiva das relações causais que a constituem. Deste modo, o pesquisador escolhe
algumas destas relações causais por meio da avaliação das influências ou efeitos que delas podem se esperar, acentuando os traços mais
relevantes dos objetos que compõem estas relações causais, criando assim um tipo ideal
Um tipo puro ou tipo ideal é uma
relativo a este objeto, no caso aqui em questão, a dominação.
construção teórica (conceito) criado a
partir da observação empírica. Os tipos Deste modo, considerando que todas as esferas da ação social são influenciadas pela
ideais são modelos utilizados para a Dominação, Weber distingue três tipos puros ou tipos ideais de dominação legítima:
classificação das ações sociais, 1) Tradicional: Aquela que se justifica sobre a autoridade do "ontem eterno", isto é, dos
permitindo ao sociólogo a mores santificados pelo reconhecimento inimaginavelmente antigo e da orientação
compreensão do sentido e da habitual para o conformismo. É o domínio "tradicional" exercido pelo patriarca e pelo
motivação dos sujeitos. Como são
modelos, não pretendem substituir o príncipe patrimonial de outrora.
real, obviamente muito mais dinâmico e 2) Carismática: Há a autoridade do dom da graça
complexo, nem se verifica tal e qual o (carisma) extraordinário e pessoal, a dedicação
modelo, na realidade. absolutamente pessoal e a confiança pessoal na revelação,
heroísmo ou outras qualidades da liderança individual. É o
domínio "carismático" exercido pelo profeta ou -no campo da política- pelo senhor de guerra eleito, pelo
governante plebiscitário, o grande demagogo ou o líder do partido político.
3) Legal: Finalmente, há o domínio da "legalidade", em virtude da fé na validade do estatuto legal e da "competência" funcional,
baseada em regras racionalmente criadas. Nesse caso, espera-se o cumprimento das obrigações estatutárias. É o domínio exercido pelo
moderno "servidor do Estado" e por todos os portadores do poder que, sob este aspecto, a ele se assemelham.

Weber realizou um longo estudo sobre essas estruturas de dominação especialmente sob duas formas: a burocrática e a carismática.
O tipo especificamente moderno de administração, burocraticamente organizado, ao qual tendem as sociedades ocidentais e que
pode aplicar-se, tanto a empreendimentos econômicos e políticos, quanto àqueles de natureza religiosa, profissional, etc., baseia-se na
dominação racional. Nela se estabelece a legitimidade através da crença na legalidade das normas estatuídas e dos direitos de mando
dos que exercem a autoridade. Mas as formas de dominação tradicionais ou racionais podem ser rompidas pelo surgimento do
carisma. A dominação carismática é aquela que se baseia na "entrega extra-cotidiana à santidade, heroísmo ou exemplaridade de uma
pessoa e às regras por ela criadas ou reveladas".
Há nas sociedades ocidentais modernas, para Weber, uma tendência à racionalização das ações relações e formas de dominação
sociais. Isso se deve ao processo inaugurado ela ética protestante que, ao vincular a salvação religiosa com o sucesso econômico,
estabeleceu critérios objetivos em que os fiéis devem se guiar para alcançar o reino dos céus. Por isso, a longo prazo, as formas de
dominação carismática e tradicional tendem a ser substituídas pela forma legal. O exercício da autoridade racional depende de um quadro
administrativo hierarquizado e profissional. Para Weber, por foca da tendência à racionalização, as profissões públicas ou privadas
deixariam, gradativamente, outras influências como a amizade e a parentela, para se guiarem por objetivos claros e previamente definidos.
A isso Weber dá o nome de burocracia. A administração racional se caracteriza, tipicamente, pela existência de uma burocracia.

“O tipo ideal do burocrata seria o indivíduo que age em cooperação com outros, cujo ofício é separado de sua vida familiar
e pessoal, regulamentado por mandatos e pela exigência de competência, conhecimento e perícia. A organização
burocrática é hierárquica, e o recrutamento e a ascensão se dão com base em concursos e outros critérios objetivos. A
burocracia organiza a dominação racional-legal por meio de uma incomparável superioridade técnica que garante precisão,
velocidade, clareza, unidade, especialização de funções, redução de atrito, dos custos de material e pessoal, etc.”

(In: Quintaneiro, T.; Barbosa, M. L.; Oliveira, M. G. Um toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999).

Exercícios de Aplicação:

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UFU/2001 (Adaptada): Analise o trecho de texto a seguir:
“Deve-se entender por ‘dominação’(....) a probabilidade de encontrar obediência dentro de um grupo determinado para mandatos
específicos (ou para toda sorte de mandatos). Não consiste, portanto, em toda espécie de probabilidade de exercer ‘poder’ ou ‘influência’
sobre outros homens (...) Nem toda dominação serve do meio econômico. E ainda menos tem toda dominação fins econômicos”.
Weber, Max. In: Castro, Ana Maria; Dias, Edmundo Fernandes. Introdução ao pensamento sociológico. Rio de Janeiro, 1976)

Com base no texto acima, analise as alternativas abaixo e marque V ou F:

1. ( ) O poder decorrente de qualquer tipo ideal de dominação tem sempre um conteúdo que lhe atribui legitimidade, seja esta
jurídica, costumeira ou afetiva.
2. ( ) O poder decorre da posse básica e exclusiva de meios econômicos, sem a qual não há poder nas sociedades capitalistas.
3. ( ) O poder emerge de mandatos extra-econômicos, que são obtidos com ou sem legitimidade, apenas por agentes do Estado
nas sociedades capitalistas.
4. ( ) Para ser exercido, o poder depende de coerções objetivas, físicas e materiais, embora dispense coerções morais para operar
legitimamente.

2. ESTADO E SOCIEDADE
O Estado é filho da Idade Moderna. Conhecido, portanto, como Estado Moderno, ele é relativamente recente. Surgiu na Europa, no
começo do século XVII. As grandes transformações sócio-econômicas desencadeadas pela sociedade européia naquela época criaram
um novo mundo, onde já não havia lugar para os particularismos da antiga sociedade feudal.
O entendimento da questão do Estado e suas relações com a sociedade, requer, primeiramente, a compreensão e domínio de alguns
conceitos que seguem:

* PAÍS - é o território, geográfica e politicamente delimitado, no qual reside determinado agrupamento nacional (nação) e um poder
estatal.

* NAÇÃO - contingente populacional que tem em comum: origens étnicas, tradições, idioma, história, valores, etc., e que independe da
existência de um Estado, como é o caso da nação palestina, ou da nação basca.

* SOBERANIA - Capacidade de um Estado de garantir sua independência política em relação aos demais Estados. As relações
capitalistas internacionais, nestes tempos de globalização aprofundam-se, promovendo a interdependência como marca do modo de
produção, colocando em questão a soberania para a maior parte dos Estados.

* ESTADO: Forma de organização política de um país constituído, por vezes, em estados-membros e União,
sugerindo daí a idéia de Federação. Trata-se de um aparato jurídico-administrativo que possui: governo,
território e nação, e deve ser pensado juntamente com seu par direto: a sociedade civil.

Por Federação, entende-se uma união política entre estados ou províncias que gozam de relativa
autonomia e que se associam sob um governo central.

São formas de Estado:

Monárquico - nesse regime de governo o representante máximo de um Estado recebe o poder geralmente de forma hereditária de
acordo com os princípios da tradição, não sendo conferido por assembléia ou eleição, logo, a soberania não é popular em situações
monárquicas. No caso britânico, sendo uma monarquia parlamentarista, o monarca tem seu papel resumido à representante internacional
do Estado (chefe de Estado), enquanto o parlamento (Poder Legislativo) elege o chefe de governo (Poder Executivo).

Republicano - Segundo a origem grega, Res é coisa. Pública, do povo. Nesse forma de Estado, em última instância, a fonte de poder é o
povo, suas políticas, sua razão de existir, suas preocupações, sua prestação de contas diz respeito àqueles em quem reside a soberania.
A república, então, é uma forma de Estado orientada para o bem comum, em que as leis se aplicam igualmente a todos, inclusive aos
governantes. Uma república pode ser presidencialista ou parlamentarista.

* SOCIEDADE CIVIL: Alguns termos ou conceitos só podem ser trabalhados e entendidos aos pares. Assim acontece com Sociedade
Civil e Estado. Comumente costuma-se chamar de sociedade civil aquilo que sobra, uma vez delimitado o âmbito no qual se exerce o
poder estatal.
Na definição marxista, sociedade civil é definida como “o lugar onde surgem e se desenvolvem os conflitos econômicos, sociais,
ideológicos, religiosos, que as instituições têm o dever de resolver ou através da mediação ou através da repressão.

Quem são os sujeitos desses conflitos?


A sociedade civil, enquanto contraposta ao Estado, é representada por um amplo leque de sujeitos coletivos. Podemos destacar as
classes sociais, ou mais amplamente os grupos, os movimentos, as associações, as organizações que as representam ou se declaram
seus representantes.

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Ao lado das organizações de classe, os grupos de interesse, as associações de vários gêneros com fins sociais, e indiretamente
políticos, os movimentos de emancipação de grupos étnicos, de defesa dos direitos civis, de
libertação da mulher, os movimentos de jovens, etc.
Os partidos políticos têm um pé na sociedade civil e um pé nas instituições (...). Na
verdade, um dos modos mais freqüentes de definir os partidos políticos é o de mostrar que eles
cumprem a função de selecionar, portanto, de agregar e de transmitir, as demandas provenientes
da sociedade civil e destinadas a se tornarem objeto de decisão política.
Na figura ao lado, podemos ver o Congresso Nacional, lugar de última instância de tomada de
decisões políticas que, em princípio, devem representar as demandas da sociedade civil.

* GOVERNO - grupo dirigente que tem sob seu controle o aparato de Estado. Fazem parte do
governo brasileiro todos os indivíduos que ocupam cargos como presidente, vice-presidente e ministros de Estado (na União),
governador, vice-governador e secretários (no Estado) e prefeito, vice-prefeito e secretários (no Município).

São sistemas de governo:

Presidencialismo - na qual o Presidente - representante do poder Executivo - é a figura central do poder; cabe a ele dirigir o Estado
(chefe de governo) e representá-lo em situações internacionais que impliquem em relações entre países (chefe de Estado). Ao Congresso
- representante do poder Legislativo , cabe o papel de criar, alterar e destruir as Leis. Por conta de uma particularidade constitucional, o
presidente pode também participar do processo legislativo propondo leis, emendas constitucionais e medidas provisórias.

Parlamentarismo, na qual a partir de um Parlamento ou Congresso - representante do Poder Legislativo - forma-se uma coalizão que irá
governar, indicando quem ocupará o posto de chefe do Executivo - Primeiro Ministro. Nessa forma de governo, o parlamento comporta-se
como legislativo e executivo ao mesmo tempo. Isso se explica pelo fato de, em média, os parlamentares serem eleitos diretamente por voto
popular e, em sessão especial, elegerem diretamente o primeiro ministro. Este fará o papel do executivo em uma forma parlamentarista,
enquanto o parlamento resume-se na função legislativa. No caso britânico, o líder do partido da maioria ocupa automaticamente o posto
de primeiro ministro.

São regimes de governo:


Despotismo: regime político marcadamente
Ditadura - Designa a classe dos regimes antidemocráticos ou não-democráticos monocrático, em geral caracterizado pela
sacralização do déspota, que aparece como
modernos, caracterizados por uma acentuada concentração do poder e pela
um Deus ou como um descendente de um
transmissão da autoridade política de cima para baixo. É de notar, no entanto, que as
Deus ou ainda como um sumo-sacerdote.
características antidemocráticas presentes neste regime de governo podem ser Absolutismo: nova forma tomada pelo
encontradas também em regimes políticos geralmente designados por nomes despotismo nas monarquias absolutas
diversos do de Ditadura, tais como o Despotismo, o Absolutismo e a Tirania. européias entre os séculos XVI e XVIII. Nele,
os poderes legislativo, executivo, judiciário
Democracia - A palavra democracia vem do grego. Demos quer dizer povo; Kratos concentram-se nas mãos do soberano, sobre
quer dizer poder. o qual não há qualquer limitação jurídica,
mesmo quando pode dividir o exercício do
A idéia de República é muitas vezes confundida com a de Democracia, mas poder com uma equipe de colaboradores, tal
como ocorreu na monarquia absoluta de
ainda que hoje em dia boa parte das repúblicas seja democrática e boa parte das
Henrique VIII na Inglaterra.
democracias sejam republicanas, os dois termos não querem dizer a mesma coisa e,
além disso, é possível viver em uma república que não é democrática e em uma Tirania: regime de governo no qual o chefe
democracia que não é república. Por exemplo, a Inglaterra é uma democracia que governava com poder ilimitado. Também
não é uma república, e sim uma monarquia. caracterizado pelas ameaças às liberdades
Enquanto a democracia está diretamente vinculada à questão “Quem individuais e coletivas.
governa? (governa o povo), a idéia de república está vinculada à questão “Como
governa?” A resposta, neste caso, a partir de sua definição, é: “Governa em prol do bem comum”.
Fonte: EISENBERG, J.; THANY P. Onde está a democracia? Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2002.

Diferenças entre República e Democracia:

República: diz respeito à maneira como o poder é conferido. Nesse caso, o poder é conferido pelo povo, e não por
hereditariedade.
Democracia: diz respeito à maneira como o poder é exercido. Neste caso o poder é exercido pelo povo. Pode ser
representativa ou participativa.
Bobbio, Norberto. Dicionário de Política: Brasília, Ed. UNB, 1991 - adaptado.

PARTIDOS POLÍTICOS - Modernamente podem ser definidos como um grupo de pessoas com idéias comuns que se organizam
para conquistar o poder, seja pela via eleitoral, seja pela via revolucionária ou golpista. Também podem ser definidos como a manifestação
institucional dos interesses oriundos de determinados segmentos da sociedade (agricultores, trabalhadores, empresários, profissionais
liberais, etc). Os partidos políticos buscam parcelas do poder do Estado através das quais possam garantir a manutenção ou expansão dos
interesses de seus representados, bem como a diminuição do atendimento aos interesses de grupos rivais.
Os sistemas partidários podem ser:
Bipartidarismo: aquele em que independentemente do número de partidos apenas dois têm chances legítimas de chegar ao poder.
Neste, o conceito chave é a alternância de poder.
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Pluripartidarismo: aqueles que contam com mais de dois partidos com chances de governar: é nos sistemas pluripartidaristas que se
observa maior freqüência de instabilidade política.
In: Bobbio, Norberto. Dicionário de Política. Brasília, Ed. UNB, 1991

E o ANARQUISMO?

Etimologicamente, Anarquismo vem do grego anarchia e anarchos, ambas significando "sem governantes". Embora o
anarquismo e a anarquia sejam, no senso comum, associadas a vários tipos de desordem, eles possuem também um significado
mais limitado: a ausência de autoridade coercitiva usada para manter a ordem social, em especial quando a autoridade é exercida
pelo Estado. Os anarquistas, portanto, não são contrários a um estilo de vida organizado, mas sim ao uso indevido da coerção e da
força para mantê-lo.
Alguns anarquistas sustentam que o Estado infringe os direitos dos indivíduos de viverem como querem. Comunistas e
anarquistas socialistas argumentam que o Estado serve principalmente para defender os interesses da dominação e exploração
capitalistas e que, se a posse privada do capital e o trabalho assalariado pudessem ser eliminados, as pessoas tenderiam
naturalmente para arranjos sociais coletivos, cooperativos, nos quais a ordem poderia ser mantida sem a coerção de uma
autoridade centralizada. A discórdia entre marxistas e anarquistas surge da questão de se haveria necessidade de manter um
Estado coercitivo no período de transição entre a queda do capitalismo e a emergência do comunismo autêntico.
Como movimento social, as várias correntes do anarquismo foram mais ativas durante o século XIX e princípios deste século,
sobretudo como reação à ascenção do capitalismo industrial na Europa e nos Estados Unidos, mas continua vigorando entre alguns
dos atuais movimentos anti-globalização.
Em seu livro O que é anarquismo, Caio Túlio Costa discorre sobre as diferentes correntes do anarquismo: o Mutualismo,
proposto pelo francês Pierre-Joseph Proudhon; o Coletivismo, de Michail Bakunin; o Anarco-Comunismo impulsionado por P.
Kropotkin; o Anarco-sindicalismo, criado inicialmente na França e desenvolvido posteriormente na Europa e nas Américas e o
Individualismo Anarquista que desembocou na violência de cunho político.

Exercícios de aplicação

Questão 01. (VEST/UFU-2000) As afirmativas abaixo referem-se ao significado de "Anarquismo".


I- Perspectiva política que repudia os Governos, compreendendo que a ordem social só é possível na
ausência do Estado.
II- Aceitação do Estado democrático como legítimo, uma vez que o relacionamento governante-governado baseia-se
no consenso.
III- Defesa de que o Estado pode exercer a função de proteger os direitos humanos, pois as organizações
voluntárias não podem executar essa função.
IV- Reconhecimento da autoridade legítima, moralmente impositiva, advinda de cooperativa de trabalhadores que tomam decisões de
modo participativo.

Assinale a alternativa CORRETA:

A) I e II estão corretas.
B) II e III estão corretas.
C) III e IV estão corretas.
D) I e IV estão corretas.

Questão 02. (UFU/2003). “A análise das formas de governo é tida como conceitualmente distinta da análise referente às formas de Estado
ou de regime. (...) A bipartição clássica distingue a forma de governo parlamentar e a forma de governo presidencial”
In: Bobbio. Dicionário de Política. Brasília: Ed. UNB, 1986. P. 517
Assinale a alternativa que corresponde à forma de governo presidencial:

a. O sistema gira em torno da figura do primeiro-ministro.


b. O governo tem o poder de dissolver o parlamento
c. O presidente acumula os poderes de Chefe de Estado e de Chefe de Governo
d. O presidente não tem poder para nomear e demitir ministros.

Questão 03. As expressões Estado, nação e governo são comumente utilizadas como sinônimas. Entretanto, as distinções são
importantes para identificarmos o objeto da ciência política com maior exatidão. Assinale, então, a alternativa INCORRETA sobre esta
diferenciação:

a. O Estado é um aparato institucional de regulação dos vários aspectos da vida social que, de acordo com Karl Marx, foi originário
da necessidade da manutenção do poder de uma dada classe dominante. Portanto, o Estado nasce como produto da propriedade
privada, da divisão de classes e da relação dominado/dominador.
b. O Estado aparece para institucionalizar as diferenças de classes montando um complexo sistema jurídico que regula a
coletividade.
c. Ele é a organização jurídica e política oficial da sociedade.
d. O governo representa o grupo dirigente que, através do controle do aparato do Estado, imprime nele um certo direcionamento,
uma certa postura, ações e políticas.
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e. Uma nação é um agrupamento social que possui hábitos e costumes comuns, sobretudo uma mesma língua. Para ser
reconhecida como tal é exigido dela um território sob a regulamentação de um aparato estatal.

2.1. AS FORMAS HISTÓRICAS DO ESTADO


O Estado Moderno é relativamente recente; surgiu na Europa no começo do século XVII, juntamente com a sociedade moderna. As
grandes transformações sócio-econômicas e políticas desencadeadas pela sociedade européia naquela época criaram um novo mundo,
onde já não havia lugar para os particularismos da antiga sociedade feudal.

O Estado Absolutista - Produto da crise feudal, marcado por forte centralização do poder político nas mãos do monarca que
representa, em última instância, os interesses das classes detentoras da propriedade privada: nobreza e clero. Teoricamente esta forma de
Estado foi defendida pela teoria do direito divino dos reis e a teoria do Contrato Social. A prática econômica desse Estado fazia-se
representar pelo mercantilismo, altamente interventor. Com o passar do tempo o absolutismo não mais suportava as transformações da
sociedade e cedeu ao avanço da burguesia.

O Estado Liberal - O Estado Liberal foi um defensor público das


Liberalismo: filosofia que exaltava a liberdade nos
questões privadas, sendo que suas funções foram realocadas após a revolução, planos político, econômico e social, em oposição ao
garantindo a soberania e esvaziando suas atuações na economia. As bases da Absolutismo, ao Mercantilismo e às limitações à plena
defesa da não intervenção do Estado na economia foram lançadas por manifestação dos direitos individuais. Assumiu formas
economistas como Adam Smith e sua teoria da mão invisível do mercado. Em distintas segundo os países. O liberalismo econômico,
comum acordo estava Locke, que propunha que o Estado se comportasse como fundamento doutrinário do capitalismo, exaltava o direito
de propriedade individual e a riqueza, opondo-se à
um “guarda-noturno”, um defensor dos direitos inalienáveis (igualdade, liberdade intervenção do Estado na economia, onde haveria total
e propriedade). liberdade de produção, circulação e venda, baseado no
A origem do Estado Liberal está no movimento intelectual denominado lema “Laissez-faire, laissez-passer”. Liberalismo
Iluminismo que combatia o Estado Absoluto. Os filósofos iluministas adotaram o político condenava o Absolutismo sob todas as formas,
princípio de que a natureza fez com que todos os homens nasceram iguais. Isso defendendo governos representativos, constitucionais e
parlamentares. Ao defender os direitos ou liberdades
quer dizer que a lei deve ser universal, ou seja, todos os homens exatamente por “naturais” dos indivíduos, a burguesia justificava sua
terem nascido humanos, têm os mesmos direitos. Portanto, o regime político só ascensão política, paralela à sócio-econômica, daí sua
seria justo se estabelecesse a igualdade jurídica. Repare que não se trata da associação às concepções democráticas.
igualdade social e econômica. Os iluministas não aceitavam as leis e tribunais
especiais para os nobres, nem que principais cargos do Estado fossem reservados para as famílias nobres. Admitiam apenas as
diferenças de riqueza na sociedade, contanto que elas fossem resultado do “mérito individual” (esforço, talento, etc.). Essa idéia tocava
principalmente a burguesia. Afinal, muitos burgueses eram ricos mas quase não tinham influência no governo. Eles queriam ter pelo menos
alguma voz, algum reconhecimento. Além disso, não agüentavam mais ter que pagar impostos a um Estado que enchia os nobres de
privilégios que o rei havia concedido a uns poucos mercadores e donos de manufaturas. É por isso que alguns historiadores analisaram o
Iluminismo como uma corrente de pensamento da burguesia revolucionária do século XVIII. As idéias iluministas fundamentaram aquilo
que conhecemos hoje como os direitos do cidadão. Quais eram os direitos de cidadania defendidos pelos iluministas? O mais importante
era o direito à liberdade. Nenhum ser humano deveria ser submetido à escravidão, nem à servidão. Ninguém poderia ser preso ou
incomodado por causa de suas opiniões religiosas ou políticas. Nenhum indivíduo seria impedido de falar em público ou de escrever um
livro para defender uma idéia. Nenhuma pessoa obediente à lei poderia ser molestada pelo Estado.

Podemos perceber que os iluministas foram muito influenciados pelo liberalismo para atacar o regime absolutista. Tais
influências têm início com o filósofo Voltaire (1694-1778), que condenava o Absolutismo, porém defendia a necessidade de uma
monarquia centralizada em que o governante seria assessorado pelos filósofos. Era o Despotismo Esclarecido, a política reformista
empreendida por diversos soberanos europeus. Empenhou-se em mostrar que havia muitos sábios e pessoas honestas nos povos com
costumes e religiões diferentes dos europeus. Portanto, os homens de todo o mundo poderiam dialogar e chegar a um acordo. Em vez
da guerra e do preconceito, a paz e o entendimento. Afinal de contas, existe algo que iguala os homens: todos são dotados de razão.
O filósofo inglês John Locke (1632-1704) propunha que o governo existe para proteger os direitos dos cidadãos, que têm o
direito de se rebelar contra a opressão. O francês Montesquieu (1689-1755), por sua vez, argumentava que sempre que o governante
acumula muitos poderes, há risco de se tornar opressor. Por isso, o próprio poder deve limitar o poder por meio da separação dos três
poderes para limitar os poderes dos governantes. O governo deveria se repartido entre pessoas diferentes. O poder executivo (que
administra o país) poderia ser entregue ao rei ou a uma pessoa eleita para isso. O poder legislativo (que faz as leis e fiscaliza o
executivo) deveria estar nas mãos de uma assembléia de representantes eleitos pelos cidadãos. O poder judiciário (que garante o
cumprimento da lei) seria exercido por juízes e tribunais. Já o francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi o mais radical dos
iluministas. Defensor de um governo baseado em assembléias populares, acreditava que só poderia haver direitos de cidadania quando
as pessoas participassem das decisões do governo. Criticava a propriedade privada, pois para ele a raiz das infelicidades humanas
estava em seu aparecimento, que acabava com a igualdade. Rousseau diferenciava Estado de Governo. Estado tinha o sentido genérico
de sociedade organizada em termos políticos, ao passo que o Governo não passava de executor da vontade da maioria, expressa pelo
voto universal. O contrato social garantiria, por sua vez, a igualdade, pois todos os associados têm direitos iguais e a liberdade depende
estreitamente da igualdade.

O Estado Liberal-Democrático - Ainda no século XIX, o Estado Liberal mostrava fraquezas diante das novas condições
colocadas pela Revolução Industrial. O movimento operário partia em busca de melhores condições de vida e de trabalho, pressionando o
Estado. As reformas a que teve que se submeter o Estado Liberal reforçaram o papel do parlamento enquanto espaço de conflito e de
decisões da sociedade civil. Um dos aspectos relevantes deste Estado foi a abertura ao voto universal e a “sensibilidade” parlamentar para
a redução da super-exploração do operariado urbano.

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O Estado de Bem-Estar Social - Ao final do século passado, o mercado em livre concorrência já ameaçava provocar crises de
superprodução, tornando necessário refazer o papel interventor do Estado e implementar condições de satisfação e bem-estar social para
afastar as ameaças das revoluções socialistas.
Já no início do século XX a situação da economia capitalista mundial se acirrou, demonstrada pela crise de 1929. O estado
investiu pesadamente em setores sociais (saúde, educação, moradia, etc.) e controlou rigorosamente a economia. Seguramente esse novo
modelo estatal deu uma sobre vida ao capitalismo, sendo hegemônico até meados da década de 70.
Estado Socialista (socialismo real) - Modelo de organização político, econômico e social baseado no controle estatal da
propriedade privada dirigido por um partido único (a maioria das vezes o PC - Partido Comunista) de orientação Stalinista, que vigorou na
URSS, China, Cuba, Leste Europeu, entre outros, e que em essência se diferenciou do marxismo por: abandonar a tese de Revolução
Mundial; substituir a ditadura do proletariado pela do Partido Comunista; abandonar a busca da destruição do Estado; aliar-se à burguesia
por interesses que não eram do proletariado; implementar o nacionalismo e imperialismo; submeter o operário ao partido único; buscar o
controle social por meio da propaganda e educação; eleger como inimigos do povo socialista os opositores ao Stalinismo; impor uma fé
cega e obediente da sociedade ao Estado; manter-se sob as mesmas bases do capitalismo: como uma sociedade produtora de
mercadorias.

O Estado Neoliberal - Com a crise da década de 1970, iniciou-se nos países desenvolvidos, uma campanha pela redução dos
gastos sociais promovidos pelo Estado de Bem-Estar Social, e pela desregulamentação dos mercados de trabalho, de bens e serviços,
implicando numa contração no âmbito de atuação estatal. Como pontos mais importantes para o Estado Neoliberal, colocavam-se os
cortes nos orçamentos previdenciários e as privatizações de empresas estatais.

2.2. OS CONCEITOS SOCIOLÓGICOS DE ESTADO


Estado - na sua definição geral, o Estado é tido como um conjunto de instituições responsáveis pela regulamentação das relações
sociais, formado por uma aparato jurídico-administrativo que possui governo, território e nação, e deve ser pensado juntamente com seu
par direto: a sociedade civil.

Émile Durkheim: Estado como instituição social - Produto da consciência


coletiva, atuando como fato social, o Estado exerce uma formatação da
consciência dos indivíduos, regulamentando as relações sociais. Sendo a
instituição um conjunto de atos e das idéias já instituídas que os indivíduos
encontram perante de si e que se impõe sobre estes, ao nascer encontramos um
conjunto de regras de funcionamento político de nossa sociedade, os cargos, as
leis e os atributos de cada membro. E para o bom funcionamento de toda a
sociedade é necessário que esta instituição (Estado) cumpra bem seu papel
segundo o princípio organicista de organização da sociedade.

Exemplo dessa interpretação : Ao nascer, todo estudante da Escola Profa. Juvenília já encontrou previamente definidas, as regras de
funcionamento político de nossa sociedade, os cargos, as leis e os atributos de cada membro. E para o bom funcionamento de toda a
sociedade é necessário que esta instituição ( Estado) cumpra bem seu papel segundo o princípio organicista de organização da sociedade

Max Weber: Estado como detentor do monopólio legítimo da força - Para Weber, o Estado é fruto do
processo de racionalização, sendo, portanto, representação do tipo de dominação legal. Realiza uma
dominação “burocrática”, uma espécie dentro da racional-legal. Detém o monopólio da norma jurídica, bem
como do uso legítimo da força/violência.

Exemplo dessa interpretação: O uso da força pela polícia tem um limite, que é a legitimidade, a aceitação
do grau de uso da força pela sociedade ou pelo grupo. Quando ultrapassa-se este limite, deixa de haver uma
dominação mas uma atuação do poder pois há resistência do grupo
ou comunidade. É o caso do massacre de Carandiru em que o uso da força pela polícia ultrapassou o limite
da legitimidade, usando de um grau de violência não aprovado pela sociedade.

Karl Marx: Estado como instrumento da classe dominante - Para Marx, o Estado, é expressão da
sociedade civil, isto é, das relações de produção que nela se instalaram. Portanto, é produto da luta de
classes que legitima as desigualdades e a exploração capitalista, sendo instrumento da dominação
burguesa. Faz parte da superestrutura (aparato político-juridico). Uma vez que é instrumento da dominação
de classes, deve ser destruído.

Exemplo dessa interpretacão : O Estado escravista garante a dominação sobre os escravos, o Estado
feudal garante as corporações, e o Estado capitalista garante o predomínio das relações de produção
capitalistas, protege-as, liberta-as dos laços de subordinação à renda fundiária absoluta, e garante a
exploração do trabalho assalariado pelo capital.

Exercícios de aplicação:

Analise as alternativas abaixo e marque V ou F:

1. ( ) Na acepção marxista, o Estado existe para garantir os interesses do proletariado.


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2. ( ) O Estado, na perspectiva durkheimeana é um fato social, através do qual as regras de funcionamento político da sociedade
são estabelecidas, as quais os indivíduos encontram perante si e se impõem a estes.
3. ( ) Para Max Weber, o tipo de dominação exercida pelo Estado é a dominação racional-legal.
4. ( ) Para Weber, o Estado enquanto detentor do monopólio legítimo do uso da força é o único cuja autoridade para utilizá-la lhe
permite fazê-lo de modo autoritário.
5. ( ) Para Karl Marx, é a emergência da sociedade de classes que deu origem ao surgimento do Estado.
6. ( ) Segundo Durkheim, o Estado, enquanto instituição social, precisa cumprir bem seu papel social, para garantir a coesão
social, num princípio organicista de organização da sociedade.

3. Democracia e participação política.


3.1. Democracia.
Na sua definição mais geral, Democracia quer dizer governo do povo, para o povo.
Norberbo Bobbio, em seu Dicionário de Política, propõe que “ Na teoria política
contemporânea (...), as definições de Democracia tendem a resolver-se e a esgotar-se
num elenco mais ou menos amplo, (...) de regras de jogo, ou, como também se diz, de
‘procedimentos universais’ .
Entre estes procedimentos universais temos:
1) o órgão político máximo, a quem é assinalada a função legislativa, deve ser composto de
membros direta ou indiretamente eleitos pelo povo, em eleições de primeiro ou de segundo
grau;
2) junto do supremo órgão legislativo deverá haver outras instituições com dirigentes eleitos, como os órgãos da administração local ou o
chefe de Estado (tal como acontece nas repúblicas;
3) todos os cidadãos que tenham atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente de sexo, devem ser
eleitores;
4) todos os eleitores devem ter voto igual;
5) todos os eleitores devem ser livres em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, isto é, numa disputa livre
de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional;
6) devem ser livres também no sentido em que devem ser postos em condição de ter reais alternativas ( o que exclui como democrática
qualquer eleição de lista única ou bloqueada;
7) tanto para as eleições dos representantes como para as decisões do órgão político supremo vale o princípio da maioria numérica, se
bem que podem ser estabelecidas várias formas de maioria segundo critérios de oportunidade não definidos de uma vez para sempre;
8) nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os direitos da minoria, de um modo especial o direito de tornar-se maioria, em
paridade de condições; 9) o órgão do Governo deve gozar de confiança do Parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua vez,
eleito pelo povo.
In: Bobbio, N. Dicionário de Política: Brasília, Ed. UNB, 1991

O que se percebe, entretanto, é que a Democracia pode garantir os princípios acima, mas pode manter-se apenas como
Democracia formal. Desde a Revolução Francesa de 1789 a democracia declara os direitos universais do homem e do cidadão, mas a
sociedade está estruturada de maneira que tais direitos não podem existir concretamente para a maioria da população, afastando-se de
uma Democracia Concreta.
As formações sociais totalitárias, de um lado, consideram a democracia liberal responsável pela desordem e o caos
socioeconômico, porque abandona a sociedade à cobiça ilimitada dos ricos e poderosos.
Por outro lado, na luta contra os totalitarismos, os Estados capitalistas afirmaram tratar-se dos combate entre a opressão e a
liberdade, a ditadura e a democracia.
Nos dois casos, a democracia, erguida ora como mal, ora como bem, deixava de ser encarada como forma de vida social
(Democracia Concreta), para tornar-se apenas um regime de governo e, ao mesmo tempo, um instrumento ideológico para esconder o
que ela realmente é, uma Democracia formal, apenas. Tanto assim, que os grandes Estados capitalistas, ‘campeões da democracia’, não
tiveram dúvida em auxiliar na implantação de regimes autoritários (portanto, antidemocráticos) toda vez que lhes pareceu conveniente.
Tanto o liberalismo político como o Estado de Bem-Estar Social defendem a democracia porque lhes parece um regime
favorável à apatia política. Ao mantê-la, apenas como Democracia formal, aparece como ideologia. A política seria assunto apenas dos
representantes, que são políticos profissionais – favorecendo a formação de uma elite de técnicos competentes, aos quais cabe a direção
do Estado – evitando a participação política efetiva que traria à cena os “extremistas” e “radicais da sociedade”, isto é, os tecnicamente
“incompetentes”.
In: Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1997.

Entretanto, é preciso entender que Democracia e República não são sinônimos: REPÚBLICA é a exigência da separação entre o
espaço privado e o espaço público e da existência da constituição escrita. Sua definição como regime de governo em que o poder é
conferido pelo povo não está necessariamente vinculada à idéia de um direito universal à participação política e ao exercício do Poder pelo
povo através de uma participação política efetiva, que vai ser a idéia da DEMOCRACIA.

A democracia é constituída por duas idéias principais. Primeiro, pela idéia de que ela é uma forma social de criação de direitos
pela ação da própria sociedade (num movimento de baixo para cima, poderíamos dizer), e esses direitos têm de ser conservados e
garantidos pela sociedade. A segunda coisa é que a democracia se caracteriza por considerar que o conflito é legítimo e que ele exprime
a vida democrática. Em todas as outras formas políticas, o conflito é aquilo que é considerado um perigo, ilegítimo, ilegal, e ele é reprimido.
Na democracia, ele é considerado o coração mesmo do regime.

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3.2. Participação política

A história da humanidade revela a existência de uma luta constante para que um maior número de pessoas participe das decisões
políticas.
No final da Idade Média, com o aparecimento e o crescimento da burguesia, apenas os reis, os nobres, os bispos da Igreja Católica
e, em alguns lugares, os grandes proprietários, os banqueiros e os comerciantes mais ricos, é que tomavam decisões políticas.
Nos séculos XVII e XVIII, a burguesia conquistou o direito de participação, eliminou a diferença entre nobres e plebeus e
estabeleceu os direitos políticos a todos os que tinham propriedade ou bons rendimentos, ampliando-se desse modo o número de
participantes.
No século XIX, o proletariado urbano, através de muitas lutas, conseguiu conquistar o direito de participação política (...)
participando das decisões, embora sofrendo ainda muitas restrições. A partir de então, as Constituições vão sendo modificadas, afirmando
a igualdade de direitos e consagrando o sistema chamado de “sufrágio universal”, que significa o sistema em que todos têm o direito
de votar. (...) Outro exemplo, ainda mais recente, foi a extensão dos direitos políticos às mulheres (....).
Nos tempos modernos a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, garante que a todos os indivíduos deve ser
assegurado o mesmo DIREITO de participação política.
Todos os indivíduos têm o DEVER de participar da vida política, procurando exercer influência sobre as decisões de interesse
comum. (...) A participação não depende de se desejar ou não, pois mesmo aqueles que não tomam qualquer atitude são utilizados
pelos grupos mais ativos, visto que o silêncio e a passividade são interpretados como sinais de concordância com as decisões do grupo
dominante.
Participação política não é apenas participação eleitoral, mas existe hoje o reconhecimento generalizado de que o processo
eleitoral pode ser muito útil, embora não se deva esquecer que ele é fortemente influenciado pelo poder econômico, bem como pelas
forças políticas dominantes. Isso reduz seu alcance e torna disponível o seu aperfeiçoamento.
Assim, num regime democrático, a participação através de eleições não deve ser excluída, ao contrário, deve ser considerada
num quadro mais amplo, que inclui outras formas de participação, algumas vezes bem mais importantes do que a via eleitoral e que
sempre poderão influir sobre esta, tornando-a mais honesta e mais autêntica.
Para que o povo escolha representantes autênticos, é preciso antes de tudo, que haja plena liberdade de informação, permitindo às
pessoas formarem livremente sua opinião com base no maior número possível de dados.

Reflita!!!
Qual é o papel que os meios de comunicação têm exercido na veiculação de assuntos referentes às
questões políticas de nosso país?

Ao lado das restrições que podem se impostas pelos governos existe o problema das empresas e dos interesses que controlam os
meios de comunicação. Os grupos econômicos mais poderosos usam a imprensa para apresentar os fatos do modo que Ihes
convém, e com freqüência o povo é mais enganado do que informado.

“... para a efetiva participação política o primeiro passo deve ser dado no plano da
consciência. (....) a participação é um compromisso de vida, exigida como um direito e
procurada como uma necessidade”.
Democracia
In: Dallari, Dalmo. O que é participação política. São Paulo: Brasiliense, 2004.
Democracia que me engana
Na gana que tenho dela
Cigana ela se revela, aiê 3.2.1 3.2.1 Formas de participação política:
Democracia que anda nua
Atua quando me ouso • Participação individual: cada um pode participar falando, escrevendo, discutindo,
Amua quando repouso denunciando, cobrando responsabilidade, encorajando os tímidos e indecisos, aproveitando
todas as oportunidades para acordar as consciências adormecidas. Isso pode ser feito em
É o demo o demo a demo
é a democracia
casa, no lugar de trabalho, na escola, no clube, nas reuniões de amigos, nos veículos de
É o demo o demo a demo transporte coletivo e em qualquer outra circunstância em que as pessoas possam conversar.
é a democracia.
Tom Zé • Participação coletiva: se dá por meio da integração em qualquer grupo social, bem
como aquelas formas que apresentam um objetivo, uma ideologia e um projeto de
transformação da sociedade, ou seja, os diversos movimentos sociais. As formas e
finalidades das associações são infinitas. Basta um pequeno grupo de pessoas, com um projeto, uma ideologia e uma organização, para
se ter uma associação. (...) Não importa o objetivo do grupo, a posição social, a condição socioeconômica, o nível intelectual ou a
atividade profissional de seus integrantes.

Todo grupo organizado tem a possibilidade de exercer alguma influência política. Entre esses dois pólos (participação
coletiva e individual) existem diversas outras formas de participação política, ora direta, ora indireta, como por a filiação a um partido
político, o exercício de uma função pública, a participação em reuniões do colegiado da escola, em associações de bairro, a participação
nos diversos movimentos sociais, o próprio reflexão crítica a respeito de uma informação veiculada nos meios de comunicação, e outras,
são consideradas formas de participação política na vida social.

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3.3. Democracia e desigualdades sócio-econômicas e culturais.

Por volta do século XV, as desigualdades sociais eram explicadas pelo fato de que os indivíduos nascem diferentes e, portanto,
devem assumir essa condição.
A partir da Declaração de direitos da Virgínia, EUA, de 1776, a existência da desigualdade entre as classes já era evidente e
procurava-se igualá-Ias perante a lei. Assim, os homens foram tidos como não mais iguais porque nascem iguais e livres, mas porque são
iguais perante a lei, que é feita por quem domina na sociedade.
Com o crescimento da produção e do comércio, principalmente na Inglaterra, houve necessidade crescente de mão-de-obra, e a
pobreza e a miséria passaram a ser interpretadas como resultado da preguiça e da indolência dos indivíduos que não queriam trabalhar,
uma vez que havia muitas oportunidades de trabalho.
Ao final do século XVIII, com o fortalecimento do liberalismo, uma outra idéia ou justificativa apareceu: os homens são
responsáveis pelo seu próprio destino e ninguém é obrigado a dar trabalho ou assistência aos mais pobres.
Quando os trabalhadores começaram a se organizar e lutar por melhores condições de trabalho e de vida, foi descartada a idéia de
que os pobres deveriam ser abandonados à sua própria sorte. Altera-se o discurso e procura-se difundir a idéia de que todo indivíduo
competente pode vencer na vida. Surge, então, a idéia de que "os capitalistas de hoje foram os trabalhadores de ontem e os
trabalhadores de hoje serão os capitalistas de amanhã".
Desde o século XVIII, entretanto, afirmava-se que as desigualdades eram fruto das relações sociais específicas que se desenvolvem
nas sociedades capitalistas. Essas sociedades se mantêm e se desenvolvem porque têm por base a exploração do trabalho de muitos por
alguns poucos.
Na sociedade brasileira, a partir dos primeiros anos do século XX, há um crescente processo de urbanização que irá se consolidar a
partir dos anos 50, com a industrialização, levando a um crescimento vertiginoso das grandes cidades e um esvaziamento progressivo da
zona rural. Como nem toda a mão-de-obra é absorvida pela indústria, e somando-se a isso as transformações ocorridas na agricultura, vai
se constituindo nas cidades uma espécie de "lumpemproletariado" (massa de desempregados, de mendigos e desocupados) que vive à
margem do sistema produtivo capitalista. Hoje, com os avanços tecnológicos, essa massa praticamente não encontra nenhuma chance de
colocação, por tratar-se de mão-de-obra desqualificada.
É essa massa de indivíduos que evidencia, sem sombra de dúvida, como o capitalismo, no processo Todos iguais
de seu desenvolvimento, vai criando as desigualdades que se apresentam também como desigualdades Todos iguais
sócio-culturais. Isto explica o fato de que situação social dos negros pode também ser pensada a partir de Mas uns mais iguais
toda uma construção histórica e cultural sobre a posição do negro nas sociedades. Que os outros...
A distinção entre República e Democracia permite identificar que a sociedade brasileira é uma Titãs
sociedade vertical, hierárquica, que distingue as pessoas em superiores e inferiores, tem uma enorme
dificuldade para assimilar a noção de direitos, para trabalhar com a noção de soberania, com as idéias de liberdade, igualdade e
participação, próprias da concepção de Democracia. É uma sociedade que opera por exclusão, pratica a violência e o poder
hierarquicamente estabelecido e justificado.
Enquanto a República no Brasil foi um processo que ocorreu de cima para baixo, através de um golpe militar, foi a partir dos anos 50
do século XX que a sociedade brasileira se engajou de maneira mais expressiva por uma sociedade mais igualitária. Na década de 1960,
com lutas revolucionárias aspirando passar da república direto para o socialismo. Depois, na década de 1980, as lutas se transformaram
em lutas pela democracia, portanto, pelo abandono da concepção hierárquica, vertical e excludente própria da república brasileira.
A Constituinte que tivemos nos anos 1980 foi essencial para o processo democrático, fez parte dessas lutas políticas, sociais e
democráticas, mas, no caso, significa também a ampliação da noção de democracia, na qual a democracia não é confundida apenas como
um tipo de governo, mas é pensada como a presença de direitos sociais, econômicos e culturais.
Entretanto, enquanto a sociedade brasileira não efetivar o abandono da concepção hierárquica, vertical e excludente, a própria
Democracia conquistada com a constituinte corre sérios riscos de permanecer apenas como Democracia Formal (apenas em lei) seguirá
associada ao autoritarismo, cada vez mais distante de uma Democracia concreta ou substantiva (efetiva).

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