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O que aqui se chama "manifestos tropi<:alistas"não tem, como pode-

se perceber de imediato, a marca explícita e organizada dos docu-


mentos produzidos por grupos criativos. Traduzem, isto sim, a
visão extremamente pessoal de Torquato Neto sobre as idéias em ebulição à
sua volta.
Do "Tropicalismo para principiantes" só se sabe o ano, 1968, pelo original
datilografado, não tendo sido possível saber com segurança onde foi publica-
do ou sequer se foi publicado. Do mesmo ano, Torquatália III saiu em O
Estudo, jornalzinho do Colégio São Fernando que era editado pelo futuro
cineasta Ivan Cardoso.
O diálogo entre Torquato e Rogério Duarte, o designer genial e poeta que
influenciou decisivamente todo o grupo tropicalista, é a transcrição de uma
gravação realizada em São Paulo, em 1968, e consiste num delicioso documen-
to de todo tipo de provocação - estética, ideológica, pessoal - cultivada pelos
tropicalistas.
Vida, paixão e banana do tropicalismo deveria ter sido o roteiro para o
que se anunciou em 1968 como "o primeiro programa de TV do tropicalismo".
Desentendimentos com o patrocinador, a Rhodia, fizeram com que se alteras-
se decisivamente o show imaginado por Torquato e Capinam, que numa ver-
são simplificada foi ao ar no dia 27 de setembro de 1968, pela TV Globo, como
"Tropicália ou Panis et circenses", gravado ao vivo na gafieira Som de Cristal,
em São Paulo.
P.R.P.
"vida - 1967
paixão
e
banana — 1968
do
tropicalismo"

De: J . C. C a p i n a m e Torquato Neto

E L E N C O : C a e t a n o Veloso, Gilberto Gil, R e n a t o Borghi, O t h o n Bastos,


Etty Fraser, ítala N a n d i , E m i l i n h a B o r b a , V i c e n t e C e l e s t i n o , L i n d a Ba-
tista, J o r g e B e n , A r a c y d e A l m e i d a , N a r a L e ã o , N a n a C a y m m i , G a l C o s t a ,
Marlene, Maria B e t h â n i a , J o s é Celso, G l a u b e r Rocha, Flávio de Car-
valho, Gilberto Freire, C h a c r i n h a , Nelson Motta, Luiz Jatobá, Grande
Otelo, O s Mutantes, Luiz Gonzaga.

GRANDE ORQUESTRA: Sob a regência do maestro Rogério Duprat.

C O N V I D A D O S : A c a d e m i a B r a s i l e i r a d e L e t r a s , M i s s e s c o m faixas, Banda
de I p a n e m a c o m J a g u a r , Escola de S a m b a v e n c e d o ra d o carnaval, Colégios
de Aplicação, Conservatórios, B a n d a d o C o l é g i o P e d r o II, P e d r o das
Flores, M e n i n o das Garrafas, T o r c i d a s u n i f o r m i z a d a s , Deputados e sena-
dores, I b r a h im Sued, Jacinto de T h o r m e s , Carlinhos de Oliveira, Nelson
Rodrigues, í n d i o s e p r o t e t o r e s de índios, Travestis, F ã - c l u b e da M a r l e n e e
E m i l i n h a , A s IO m a i s e l e g a n t e s , T u r i s t a s a m e r i c a n o s , C o r p o s d e p a z , C i r c o .
PRIMEIRA PARTE

FLLME I — Sob clima de tensão criado por tambores, a câmara se aproxi-


ma de um mapa do Hemisfério Sul. Lento zoom in vai aproximando até
enquadrar o Brasil que está pulsando. Em certo momento o Brasil come-
ça a pegar fogo. Sobre esta imagem sobrepõem-se os letreiros:

"VIDA -1967
PAIXÃO
E
BANANA -1968
DO
TROPICALISMO"

Tropicalismo, nome dado pelo colunismo oficial a uma série de ma-


nifestações culturais espontâneas surgidas durante o ano de 67 e portan-
to logo destinadas à deturpação e à morte.
CÂMERA - Hall de entrada do teatro todo decorado com bananeiras,
doceiras, macacos, leões, domadores, personalidades que são recebidas
por Grande Otelo, Norma Benguell ou Danuza Leão. Instala-se neste
local um clima de reportagem. Vão entrando os convidados: Academia
Brasileira de Letras, misses com faixas, Banda de Ipanema com Jaguar, a
Escola de Samba campeã, Colégios de Aplicação, Conservatórios, Banda
do Colégio Pedro II, Pedro das Flores, Meninos das Garrafas, torcidas
uniformizadas, Ibrahim Sued, Jacinto de Thormes, Carlinhos de
Oliveira, Nelson Rodrigues, fantasias premiadas no carnaval, índios e
seus protetores, travestis, fã-clube da Marlene e Emilinha, as IO mais ele-
gantes, turistas, corpos de paz e etc.

CAETANO E GIL ( o f / )
— Somos compositores. Estamos aqui para realizar a primeira e
última manifestação conjunta de tudo que no ano de 67 e até hoje
recebeu o nome de tropicalismo foi uma tentativa crítica da cultura
brasileira através da utilização, como matéria de todas as tendências
e expressão dessa cultura. Para demonstrar a necessidade de criação
de uma cultura absolutamente nova. Por isso o tropicalismo é uma
fase crítica que se esgota quando cumpre o seu papel. Este programa
pretende mostrar p o r que sentimos essa necessidade, quand o ela
nos surgiu e de que modo daremos por concluída uma boa parte do
nosso trabalho. O tropicalismo está no fim. E apenas demos os p r i -
meiros passos de uma longa travessia.
TÉCNICA - Sobre toda esta seqüência deverá estar instalada uma série de
alto-falantes por todo o teatro, através dos quais se ouvem Villa-Lobos,
Missa Luba, Missa-Creoula etc.
CAMARA — Seqüências alternadas do hall de entrada e do interior do tea-
tro onde deverão estar colocadas inúmeras faixas como:

SÓ ME INTERESSA O QUE É MEU

TUPI OR NOT TUPI TH AT S THE QUESTIOH

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO BRASIL COMEÇA COM


A DEGLUTIHAÇÃO DO BISPO SARDINHA PELOS CAHIBAIS

NÓS N Ã O TEREMOS DESTRUÍDO N A DA SE NÃO


DESTRUIRMOS AS RUÍNAS

V A I QUE é MOLE

QUEM T E . V I U , QUEM TE V È

REINA A M A I S COMPLETA ORDEM NO PAÍS


C O N T I N U A M O S COESOS

PRIMO, VOCÊ Ê Ê QUE É FELIZ

O PETRÓLEO É NOSSO

E AGORA, JOSÉ?

EM SI PLANTANDO TUDO DÁ

ORDEM E PROGRESSO

A TEORIA NA PRÁTICA NÃO DÁ CERTO


LOCUTOR
— O tropicalismo é uma forma antropofágica de relação com a
cultura, senhores e senhoras. Devoramos a cultura que nos foi dada
para exprimirmos nossos valores culturais. Não tem nada a ver com
doces modinhas, nem surgiu para promover o xarope Bromil. Isso é
que é. A estrutura desse programa se assemelha a um ritual de puri-
ficação e modificação. E utiliza, para isso, as formas mais fortes de
comunicação de massa, tais como: missa, carnaval, dramalhão, can-
domblé, teatro, cinema, sessão espírita, poesia popular, Chacrinha,
inauguração, discurso, demagogia, sermão, orações, ufanismo,
revolução, transplante, saudosismo, regionalismo, bossa, america-
nismo, turismo, getulismo, construção e destruição tipo Judas em
sábado de aleluia. Pedimos a presença no teatro de todos os tropica-
listas assim denominados. O teatro, como os telespectadores vêem,
está decorado com citações do grande patrono do tropicalismo ines-
quecível e soberbo escritor Oswald de Andrade e a filosofia esponta-
neamente tropicalista do pára-choque de caminhão nacional.
ATENÇÃO — De acordo com a marcação a câmara deverá cortar para o
camarim de Caetano Veloso. Seu camarim estará todo decorado com
objetos pessoais do artista. Empresários, fãs, contra-regra etc. transitam
por ali. Câmara sempre no estilo reportagem enquadrou esta cena e vai
em travelling para Caetano.
LOCUTOR
— Caetano, você está nessa só pra ganhar muito dinheiro?
CAETANO
— (Resposta)

LOCUTOR
— Alô, alô seu Caetano, o tropicalismo vai entrar pelo cano?
CAETANO
— (Resposta)

CÂMARA — Idem com Gilberto Gil.


LOCUTOR
— Alô, alô Gilberto Gil, o tropicalismo é das Américas ou é só do
Brasil?
GIL
— (Resposta)

Em seguida à resposta de Gil, corte para gravação do programa de


Nelson Motta. Câmara vai em zoom até se aproximar do close do mesmo.
No movimento ouvimos voz off que pergunta:
LOCUTOR
— Alô alô Nelson Motta, o tropicalismo já é coisa morta?
NELSON M O T T A
— (Resposta)

Corte para o programa do Chacrinha. Idem.


LOCUTOR
— Alô, alô Chacrinha, o tropicalismo já ia quando você vinha?
CHACRINHA
— (Resposta)

Em seguida â resposta do Chacrinha corta para o filme II.


f l l m e I I — Casa de Flávio de Carvalho em Vahnhos. Enquanto é feita a
entrevista a câmara descreve o interior da residência detendo-se nos deta-
lhes mais interessantes. Se possível, a maquete do Palácio do Governo.
L O C U T O R (off)
— Flávio de Carvalho, prêmio Bienal de São Paulo de 67, amigo
e contemporâneo do furor antropofágico-tropicalista de Oswald de
Andrade, lançador em I9W da moda masculina para os trópicos, o
maior arquiteto tropicalista brasileiro, poderá falar sobre aquele
projeto do Palácio Presidencial para as Repúblicas sul-americanas?
FLÁVIO
— (Resposta)

Em seguida câmara corta para o filme 111.


Filme I I I - En trevista com Gilberto Freyre em Recife. Idem.
Documentar casa etc.
LOCUTOR
— Professor Gilberto Freyre, sociólogo da Casa grande e senzala,
ilustre pensador da Casa de Apicucos, a sua ciência tropicalista está
s e n d o d e t u r p a d a p o r esses j o v e n s c o m p o s i t o r e s , t e a t r ó l o g o s e
cineastas?

GILBERTO FREIRE
— (Resposta)

Concluindo a entrevista projetada no filme III cortamos novamente


para o teatro. Sobre esta imagem entra a voz de Luiz Jatobá.

JATOBÁ
— O tropicalismo não é confuso. E livre. Cada um diz o que bem
entende. E a democracia dos trópicos. O eclipse, o apocalipse, as
riquezas naturais, o berço de o u r o . . . A beleza cafona da alma brasi-
leira... Uma missa verde-amarela... O tropicalismo é urbe bandei-
ra. Vem com o grande elenco da Rádio Nacional. Com as terras e as
bananas em transe. Assistam ao direito de nascer e morrer do tropi-
calismo. O tropicalismo é a graça de Deus em sua casa. Em sua TV.
Assistam: está instaurado o tropicalismo na televisão brasileira. O
programa mais livre do Brasil.

CAMARA — Corta para o maestro Rogério Duprat. Este entra colocando


uma vasta peruca. Sobe ao Pão de Açúcar, de onde regerá a orquestra.
Câmara detalha a mão do maestro, que dá a batidinha de atenção com a
batuta. Câmara corta para Caetano e Gil, que se benzem aguardando o
momento de entrar em cena. Detalhe do pé direito etc. etc. etc.

O maestro ataca grande abertura com montagem de Chiquita Bacana,


Aquarela do Brasil, Hino do carnaval brasileiro e Tropicália.
Neste instante a câmara focaliza o elenco que atravessa o teatro em di-
reção ao palco. São eles: Caetano Veloso? Gilberto Gil? Nana Caymmi?
Gal Costa? Etty Fraser? Renato Borghi? Othon Bastos e séquito.
No palco estão um coral e Chacrinha. O coral deverá ser, se possível,
de presidiários. Desce um telão com reprodução do quadro A primeira
missa no Brasil de Victor Meirelles.
Slide em sobreposição com nome da obra e do autor.
Slide em sobreposição com o nome da obra e do autor. Desco-
brimento do Brasil — cantam Nana Caymmi e coral.
Plano superior do cenário. Decoração americana. Estilo musicais da
Metro. Lennie Dale, Eliana Pittman e o Balé Momento 68, com mari-
nheiros e girls.
"We have no bananas", cantam Lennie, Eliana e balé para Caetano e
Gil. Slide em sobreposição com o nome da obra e do autor.
Em seguida o elenco do Rei da vela, Caetano e Gil respondem ufanis-
ticamente com: "Yes nós temos banana ".
Slide em sobreposição com nome da obra e do autor. Após o número
Caetano diz:
CAETANO
— Estamos vivos na g r a n d e capital política do t r o p i c a l i s m o .
Alegria! Estamos no templo da fé tropicalista. Alegria! A L E G R I A !
Apenas lamentamos que não exista televisão em cores no Brasil,
senhores telespectadores...
Os atores, que já estão espalhados pelo teatro, ocupando cada qual um
monumento da decoração, puxam, um de cada vez, os panos que cobrem,
inaugurando-os.
CÂMARA - Detalha Gilberto Gil.
GIL

— Há muito verde-esperança e amarelo de desespero...


CÂMARA — Detalha Etty Fraser, que inaugura o monumento das bandeiras.
ETTY
— Não faça esforço para ser tropicalista. Continue moralista, e
será. Continue cristão, e será. O trópico é fatal.
CÂMARA - Detalha Oth on Bastos, que inaugura o Borba Gato.
OTHON
— O tropicalismo é toda manifestação contra ou a favor, mas ter-
rivelmente aquém da realidade. E muito pelo contrário.
CÂMARA — Detalha Renato Borghi, que inaugura o monumento do Ipi-
ranga.
RENATO
— Qual a diferença entre um boi e a classe média? Leve os dois ao
matadouro. O que mais berrar na hora da morte é o boi.
CÂMARA — Detalha ítala Nandi, que inaugura o Corcovado.
ÍTALA
— Tropicalismo: ausência de consciência da tragédia em plena
tragédia. Tropicalismo é uma arte sadomasoquista. Tropicalismo é
você mesmo. É O DA B O C A PRA F O R A .
CÂMARA — Detalha Chacrinha, que corta a fita sobre o pano que envolve
o grande monumento do palco.
CHACRINHA
— Alô, alô Dona América, a senhora está com medo ou está com
Pedro? Uma vez começada a luta tropicalista é indispensável ser muito
quente e pra frente, bater onde mais doer. Sempre contragolpeando,
seu Fernando, sempre respondendo a cada agressão, seu João, com
uma forte pressão deste auditório e de todos os auditórios. E a forma
de triunfar neste programa, seu Pindorama.
Caetano e Gil puxam o pano verde-amarelo que cobre o monumento,
inaugurando-o ao som dos acordes da "Tropicália ". O monumento será
construído de isopor e terá por base o monumento das imagens descritas em
"Tropicália ". Será um grande boneco construído sobre uma escadaria e
nele estará escrito: TROPICÁLIA.
Caetano Veloso canta "Tropicália" após a inauguração.
Slide em sobreposição com nome do autor e da obra.
Durante o número serão projetados filmes ou slides com aviões, uru-
bus, palhoças etc.
Em seguida, Gilberto Gil canta "Marginália".
Em sobreposição, slide com nome do autor e da obra.
ATENÇÃO - O arranjo para "Marginália " será feito valorizando a letra.
Lento e psicológico até o verso "... negra solidão". Daí prossegue em ritmo
normal, voltando ao clima do início no verso "... minha terra até morte .
CÂMARA — Zoom sempre em "aqui é o fim do mundo e planos diversos
do boneco e do público.
No final, a partir do verso "Yes, nós temos banana ", projeção.
Explosões e bombas enquanto Chacrinha e todo o elenco do palco
apanham bananas do boneco e atiram para o público.
ILUMINAÇÃO — Neste ponto o teatro começa a escurecer. Velas vão se acen-
dendo.
TÉCNICA - Expl osões e bombas.
Renato Borghi faz o O r e i d a v e l a . O elenco vai acendendo velas.
Slide em sobreposição, Renato Borghi faz O r e i da vela (ig6y~ig68)
de Oswald de Andrade (1933).
RENATO BORGHI
— Aqui é o fim do m u n d o . Mas há o trabalho construtivo das i n -
dústrias. As grandes empresas elétricas fecharam com a crise.
Ninguém mais podia pagar o preço da luz.. Avela voltou ao mercado
pela minha mão previdente. Eu me tornei o rei da vela. Com muita
honra. Produzo de todos os tamanhos e cores. Para o mês de Maria,
para cidades caipiras, para os contrabandistas do mar, para a hora
de medo das crianças. Mas a grande vela é a vela da agonia. Essa
pequena velinha de sebo espalhei pelo Brasil i n t e i r o. N u m país
como o nosso quem se atreve a ultrapassar os umbrais da eternidade
sem uma vela na mão? Herdo um tostão em cada morto nacional.
Entra fundo de órgão e voz off do repórter. Renato acende uma gran-
de vela no boneco.
REPÓRTER
— O rei da vela acabou de representar o Brasil em festivais de tea-
tro da Itália e da França. Foi considerado pela crítica como primei-
ro representante de um p e n s a m e n t o especificamente tropical e
antiocidental.
CÂMARA — Corta para palco. Ao fundo projeção de Terra em transe. Voz
off entrevista com Glauber Rocha.
Slide em sobreposição.
Terra em transe de Glauber Rocha — 196J.
Gal Costa canta "Bachianas brasileiras " N° 5. tendo ao fundo a pro-
jeção. Canta Gal (música de Villa-Lobos e letra de Caetano).
CÂMARA - Corta para entrevista do Glauber.
LOCUTOR
— Glauber Rocha, o tropicalismo é um movimento em transe?
GLAUBER
— (Resposta)
Câmara volta para o auditório. Em sobreposição slide "De uma entre-
vista de Glauber Rocha ".
Etty Fraser lê.
O elenco forma um grupo no palco e a orquestra toca introdução de
arranjo reduzido do "Descobrimento do Brasil" de Villa-Lobos.
ETTY
— O Brasil é u m c o n t i n e n t e maravilhoso, com o amarelo do
ouro, o verde das florestas, o azul do céu, a força do mar, o paladar
do feijão, a nutrição do arroz, a beleza das tradições. Rui Barbosa
foi o Águia de Haia que respondeu em todas as línguas aos analfabe-
tos da Europa. O nosso futebol é o melhor do mundo. Só perdemos
a última copa por sabotagem. As nossas mulheres são as melhores
mulheres e cozinheiras do universo, a nossa música é a mais inspira-
da e o nosso cinema já ganhou Palma de O u r o . No plano das rique-
zas naturais, tivemos os maiores ciclos econômicos do mundo, como
o ciclo do açúcar, o do cacau, o do café, o do ouro, o da borracha, e
agora estamos tendo o ciclo do petróleo. Todos estes ciclos deixaram
belíssimas ruínas arquitetônicas e só faliram por causa da bondade
nacional, que não quis discutir muito com seus civilizados fregueses.
O nosso regime político é dos mais perfeitos da história. Aqui vigora
uma perfeita democracia. No campo do folclore, encontramos uma
plebe que não tem complexos e conta todo dia com sambas e macum-
bas. Sua ventura de habitar em tão bela terra. Nossos índios são os
melhores mesmos, maravilhosos tarzãs do grande José de Alencar, e
vivem n u m paraíso terrestre. Para mim o Brasil é o país do amor, do
improviso, do jeitinho, onde qualquer um dorme b u r r o e acorda
gênio, onde o esquerdista de hoje é o direitista de amanhã, onde o
direitista de hoje é o chinês de amanhã. Amo minha terra, dádiva de
Deus. Morrerei por ela em qualquer guerra onde for preciso salvar as
tradições e a democracia.
Corta para Renato Borghi, em sobreposição slide "História do
Jujuba de Oswald de Andrade e Caetano Veloso.
RENATO BORGHI
— (Canta "História doJuju ba".)
PROJEÇÃO — A canção do Jujuba está ilustrada por filmes com cachorros,
o cachorro da RCA Victor de costas para o gramofone etc.
LUZ — No verso "Será a "revolução tropical" as luzes se acendem, e uma
rumba furiosa explode da orquestra.
Abre-se um imenso telão com mapa da América do Sul onde está
escrito: "Soy loco por ti América. Gilberto Gil e J. C. Capinam ".
G I L e CAETANO
— Somos vários, chilenos, baianos, piauienses, mineiros, arara-
quarenses, porto-riquenhos, guatemaltecos. Somos vários, latino-
americanos, my baby, I love you. Kiss me, kiss me, em português,
em portunhol, nós falamos tudo. Somos vários, vivos, muertos.
A orquestra sobe e Gil e Caetano cantam: "Soy loco por ti, América.
No final os dois, ainda em cena, abrem livros e saem.
Slide em sobreposição: Sermão.
Ao fundo órgão toca "Guantanamera ".
GIL
— EI que es b u e n o para ellos es bueno para nosotros. Descul-
pem. Quisera recordar-lhe la brisa que besa e balança la palma do
coqueiro e ai sabiá. Mas ai de nosotros. Non subiéramos nuestros
muertos sobre la tierra de Latino América. Quisera ser contento
para saludar os mares, espumas e vientos, nossas bandeirras. Mas ai
de nosotros, não llorassemos pelo desperdício de nuestras virtudes e
riquezas. Simon Bolívar, eu quero viver livre e morrer cidadão. Por
que não encontramos nuestra vereda tropical? Uma vez começada la
lucha tropicalista es indispensable ser conseqüente. E a forma de
triunfar. Encontrar a vereda tropical de América Nuestra.
CAETANO
— Auditório da América do sol, do sol, do sul. Nuestros inimi-
gos han querido isolar, el tropicalismo do resto da América, para
que seu ejemplo não frutificasse em todo el continente. Entretanto
n u n c a entuvimos tan estreitamente ligados aos demais povos da
América. Eles forjaram o estribilho de que o tropicalismo quer
i m p o r ao continent e uma cultura extracontinental. Os povos da
América, porém, compreenderam a nossa posição.
Estranhos a Latino América são eles e sua posição paternalista,
folclorista, que piensa que la autenticidad solamente existe em la
samba. Conosco se realizam todas as aspirações de los artistas da
América Latina. Tentaram isolamos, e com tal procedimento con-
seguiram estreitar ainda mais os laços da indestrutível unidade do
grupo baiano e de los demás grupos de América, que constituem
uma g r a n d e e única família h u m a n a , oposta a u n adversário
comum, o inimigo principal de toda a H u m a n i d a d e: ELES. Pelo
encontro de la vereda tropical em América Nuestra.
A orquestra executa introdução bombástica de "Passa manana" e
Aracy de Almeida entra para cantar.
Slide em sobreposição: "Passa Manana " de Denis Brean e Blota Jr.
Deverá haver um momento em que a orquestra prossegue e Aracy
improvisa e brinca com o auditório em portunhol.
Terminado o número, entra Emilinha Borba seguida de balé de rum-
beiros e rumbeiras.
A orquestra funde para pot-pourri de Emilinha.
ORQUESTRA - "Esca ndalosa ", "Chiquita Bacana ", "Três caravelas".
Emilinha canta, slide em sobreposição com nomes das músicas e
autores.
ATENÇÃO — No "Três caravelas" entram Caetano e Gil que cantam com
ela. Apoteose: Tropicana com grande balé. Todos se dão as mãos. Fim da
primeira parte.
Um grande cartaz é aceso no teatro:
"O SÉCULO XXI SERÁ DOS TRÓPICOS"

(intervalo comercial)
SEGUNDA PARTE

Abre com toques de macumba, enquanto as luzes sobem em resistên-


cia. Entram Caetano e Gil acompanhados do elenco. Vêm novamente
pela platéia. As luzes baixam em resistência enquanto Gil e Caetano
falam, com percussão de fundo.
GIL
— Há um m o n u m e n t o na encruzilhada da Vereda Tropical. Nós
e nossos antepassados fomos seus arquitetos. Nós o construímos.
Nós o destruímos.
CAETANO — ( C o m e c o )
— Vamos regredir no tempo, em busca de sua pedra fundamen-
tal. Daqueles que o construíram e se deram em risos quand o ele
balançava.
O elenco sacode o monumento com violência, com coreografia. A
orquestra responde como no velho programa de rádio:
Balança...
ORQUESTRA (toca) — Balança/Balança/Mas não cai.
O elenco volta e o texto seguinte será distribuído entre coro, atores,
Caetano e Gil.
TEXTO
— Vamos regredir no tempo. Em busca daqueles que o construíram
com seu pranto, quando ele entrava seus sonhos mais imediatos.
— E daqueles que se ofereceram em holocausto, por temerem o
esforço maior de destruí-lo.
— Vamos expor o que encerram seu peito e suas entranhas.
— Rasguem o peito do boneco. Os tambores crescem e continuam.
— Um coração que bate...
— Um estômago vazio...
O elenco forma uma corrente e se concentra em transe.
— Corrente! FIRMA!
CORO
— Q u e vejo?
CAETANO
— Uma coluna desenha um ponto de interrogação no mapa do
Brasil?
CORO
— Que vejo?
ETTY

— O crack da Bolsa de Nova York.


CORO
— Q u e vejo?
RENATO
— A guerra nas grandes potências. E o m u n d o rico nos esquecen-
do um pouco. Desviando seus olhos de nós.
CORO
— Q u e vejo?
Othon
— As cidades se enchem de gente. Macacões azuis. Trabalhadores
do Brasil... trabalhadores do Brasil...
CORO
— Q u e vejo?
GIL
— A possibilidade de surgir uma grande nação tropical.
A orquestra toca introdução de "O guarani". Renato vai à boca do
palco e apresenta D alva de Oliveira.
RENATO BORGHI
— Completamente rainha do meu coração ufanista e de todos os
corações tropicalistas do nosso querido Brasil... Q u e m é? Q u e m
será? Por quem batem assim tão forte os pobres, tristes, felizes cora-
ções amantes do nosso Brasil? Q u e m já gravou até em Londres com
Roberto Inglês e sua orquestra? Q u e m vem lá?
Uma, duas, três! Animai-vos, gente brasileira, pois aí vem Dalva
de Oliveira.
Entra Dalva de Oliveira sobre introdução de "O guarani", modifica-
da para introdução do samba que vai cantar com Gilberto Gil. No final do
número as câmaras voltam para a corrente, que está refeita. Voltam tam-
bores.
P R O J E Ç Ã O — Filme de multidões.
CORO
— Mas que vejo?
— E um menino que chora em verdes veredas. Vem tropeçando
sozinho.
— Corrente! Firme!
Discursos ufanistas, trabalhistas, otimistas, oportunistas.
CORO

— Já ganhou! Já ganhou! Já ganhou! — Trabalhadores do Brasil!


Um dos atores põe faixa no monumento: O Pai dos Pobres ".
CORO

—Corrente! Firme!

PROJEÇÃO - Entra filme de futebol...


CORO
— Goooollll.. .
— A copa que nos vem...
CORO
— Goooollll...
— A copa que nos vai...
Um dos atores coloca uma taça da Copa do Mundo no boneco.
PROJEÇÃO - Entra filme Getúlio Vargas.
CORO
— Corrente! Firme!
— Escuto um passo com medalhas e guizos.
— Salve lindo pendão da esperança...
— Corrente! Firme!
— As multidões. U m frêmito. U m delírio.
— Um grito!
— Riso sem dente.
— Corrente! Firme!
— Os nossos primeiros ídolos. Carregando nas costas a necessi-
dade de minorias em milhares de lares: a quotidiana ilusão do p r o -
gresso.
— Pão e Circo!
— Salário mínimo e Rede Nacional!
— Corrente! Firme!
— Orai, irmãos.
— Corrente! Firme!
— Cada um deles, como todos nós, deu o que pôde inutilmente.
Para com a liberdade das lágrimas e dos risos construir este símbolo.
— Era a grande possibilidade de construir uma nação tropical.
Este m o n u m e n t o é nosso.
CORO
— Mas que vejo?
— C o n s t r u í m o s um grande m o n u m e n t o marginal, marginália
tropicália.
— Amar para conhecer. Conhecer para destruir...
— Vamos voltar.
— Corrente! Firme!
— Rádio Nacional e salário mínimo.

Termina o filme. Luz total no palco.


ORQUESTRA - "Luar do sertão ".
A partir deste número a figuração se comporta — no palco — como
se estivesse no auditório. Caetano apresenta Vicente Celestino.
CAETANO
— E como todos nós, ofertando o melhor de seu, ele traz flores
para o m o n u m e n t o . A voz de ouro do Brasil. Palmas, muitas pal-
mas, porque vamos receber Vicente Celestino.
VICENTE CELESTINO - (Canta.)
Slide em sobreposição com o nome e autores de "Mandem flo-
res do Brasil ".
Entra Gilberto Gil.
GIL
— A oferta de uma das mais queridas sambistas do Brasil. Ela traz
a grande dor de cotovelo nacional. Linda Batista.
LINDA BATISTA (Canta)
— " E n l o u q u e c i " . "Se você não me q u e r i a ". "Nega maluca" e
"Madalena".
Slide em sobreposição com nome e autores das músicas. No final do
número entra Caetano.
CAETANO
— A favorita de todas as armas! A primeira cantora brasileira a se
apresentar triunfantemente no glorioso Olympia de Paris. A p r i -
meira de uma série. Ela oferece ao nosso m o n u m e n t o as duras penas
do salário mínimo. Sambas inesquecíveis. Nossa queridíssima, ver-
satilíssima, maravilhosa Marlene.
Entra Marlene e faz pot-pourri.
Marlene canta — "Sapato de pobre", "Zé marmita ", "Lata d água na
cabeça ".
No final do número entra Caetano.
Caetano canta Coração materno ".
Entra em seguida Gilberto Gil.
GIL
— O pintor e escultor Rubens Gerschman, Nara Leão, Caetano
Velo so e eu acrescentamos nossos nomes a todos os auditórios per-
didos e anônimos nos descaminhos da vereda tropical. Vamos ouvir
um bolero, meu e de Caetano. Cantado por Nara Leão.
Entra Nara, que é recebida por Gil. O grande telão de "Lindonéia
ao fundo.
NARA LEÀO (Canta)
— "Lindonéia".
No final volta Gil.
GIL
— Ele tem para oferecer ao grande m o n u m e n t o da Tropicália a
esperança sempre frustrada e sempre renovada em novos rumos, no
novo Nordeste, n u m novo ritmo. E um dos mais respeitáveis artis-
tas do Brasil. Vem com sua sanfona e sua simpatia, o Rei do Baião:
Luiz Gonzaga.
Gil e Caetano provocam ovação.
Luiz Gonzaga canta "Paulo Afonso".
Entra Caetano no final.
PROJEÇÃO — Filme de Carmem Miranda.
CAETANO
— Isso tudo é o Brasil, sem ilusão. A luz dos trópicos, das flores-
tas verdes e barrocas, das marmóreas catedrais e casas de ciência eu
respiro o doce e melancólico vazio brasileiro. C a r m e m Miranda
bole comigo no meu sono.

PROJEÇÃO — Filme do enterro de Getúlio.


GIL

— Getúlio cartatestamenteia minha sobrevivência.


GIL
— Os turistas me dão um ideal. E o que fizemos para retirar esse
m o n u m e n t o do meio do trânsito? Quisemos esquecer o terceiro
m u n d o e limpar as nossas mãos. E com o cruzeiro novo compramos
a ilusão de fotos na carruagem e violas elétricas.
No final volta para o palco. Gil fere o coração do monumento. Ao
mesmo tempo guitarras off tocam "Bonnie and Clyde". Música ao
fundo.
Orquestra sobe e abre para Os Mutantes.

torq.uatdlia { 8 2 } d o l a d o de dentro
Os MUTANTES
— "Bonnie and Clyde .
Entra em seguida Bethânia.
Bethânia canta — "Era um garoto que como eu " e "Parque industrial".
No final entra Gil que canta Geléia geral" com discursos no meio.
Termina o número gritando.
GIL
— Fundi a cuca! Fundi a cuca!
Fundo musical discreto e sombrio. Entra Caetano e fala.
CAETANO
— Alô, alô pesquisadores do m u n d o particular do som, alô, alô
pescadores do som puro, como vai a minhoca? Alô, alô, o som pelo
som, não serve à música popular brasileira nem ao homem . O som
tem alternativas infinitas e eu escolho o que melhor serve para ferir,
saturar, finalizar, sorrir, comover, destruir. Eu escolho a tropica-
lista, que é mais pornográfica, livre e abrangente de todas. O som é
só para se conseguir as coisas, não é Gil?
Marcha fúnebre.
GIL
— O tropicalismo está quase morto. Perto das seduções da moda,
dos artifícios do tempo, da veleidade de ser o que não somos, ele
morre. Mas antes de velarmos este cadáver tropical, vamos prestar o
hino a todos os queridos tropicalistas de ontem, de hoje, de amanhã
e sempre, que são eles, vocês e nós. Maestro: 'Aquarela do Brasil."
A orquestra ataca "Aquarela do Brasil", que é cantada por todos os
participantes da cerimônia. Os atores seguram tabuletas com slogans. VAI
QUE É MOLE - AMO COM FÉ E ORGULHO - SEM ORDEM CADÊ PROGRESSO -
CRIANÇA. NÃO VEREI - REINA A MAIS PERFEITA ORDEM - no final os tambores
rufam. Silêncio. Entra música eletrônica. Transplante.
LOCUTOR
— Estamos assistindo neste m o m e n t o ao transplante do coração
do monumento da Tropicália, que vai falecer. O momento é de enor-
me tensão coletiva. A é o doador. Até o presente momento não pode-
mos informar quem será o receptor do coração tropicalista. Há notí-
cias de que será o PODERJOVEM. Mas por enquanto o coração restará
entregue a si mesmo, conservado numa solução de sangue, suor e
lágrimas.
O coração é colocado ritualmente no mapa da América do Sul.
Percussão. No instante em que os tambores param, Caetano e Gil se dis-
paramentam, ficando com roupas comuns.
GIL
— Você quase cai, h e i n ? Pensou que a onda era mesmo tropica-
lista e já tinha plantado bananeira na sala de visita...
CAETANO
— Não vamos sair daqui com alegria n e n h u m a . . . A hora É de
queimar toda a alegria. Queime, baby. Q u e i m e . ..

CORO
— Abaixo o tropicalismo! Viva o tropicalismo!
Entra um canhão em cena, a orquestra toca introdução do Miserere".
Gil canta "Miserere nobis ".
Slide em sobreposição com nome da obra e do autor. No final, quan-
do o canhão dispara, o monumento cai.
CORO
— Viva o tropicalismo! Abaixo o tropicalismo!
Caetano canta "E proibido proibir ". No final, desce com os atores e
comanda a destruição, enquanto Othon Bastos, de místico, faz a pregação
sobre uma escada Magirus, que sobe pelo telhado.
OTHON
— Q u e i m e m suas alegrias. Rasguem, rasguem. Tragam alegria
nova para o próximo programa. Nada de guardar passado, levem o
cenário para casa. Façam barracas. Levem os quadros para sua sala de
visitas. Os slogans para a rua. Não deixem nada de coisa n e n h u m a .
Somente os nossos patrocinadores. Livrem a cara dos nossos patro-
cinadores. Levem tudo para casa. Há de chover uma grande chuva de
estrelas e aí será o fim do m u n d o . Em 1980 se apagarão as luzes e em

TORQ,uAfa/i'a { 84. } DO LADO de dentro


1964 mil velas se acenderão e mais mil tantas. Em 1968 haverá o tro-
picalismo e depois disso as novas gerações. Levem tudo para casa, ras-
guem. Gastem aqui toda a alegria do país. No próximo programa
nasce viva e toma o poder jovem.
Gil canta "Bat macumba " com Os Mutantes, enquanto Caetano conti-
nua "E proibido proibir ". A decoração está sendo totalmente destruída.
Uma revoada de pombos negros. A bolha cresce no palco expulsando todo
mundo para o auditório. E o fim.
T E A T R O DEPOIS DA DESTRUIÇÃO -Música alegre. Caetano Veloso, Gil-
berto Gil, Capinam, Torquato, Palmari, Duprat, Cyro, Casé trabalham.
(Voz off) — Somos compositores. Este programa foi escrito por nos-
sos parceiros Capinam e Torquato Neto, que também dirigiu. A produ-
ção foi de Roberto Palmari e a direção musical do Rogério Duprat. Foi
editado por Geraldo Casé. Os cenários foram do Cyro dei Nero. O pro-
grama foi Vida, paixão e bananas do tropicalismo. Vocês viram no que
deu... Aderimos ao tropicalismo por força de tudo, da verdade e da men-
tira... Porque queríamos fazer música brasileira, sem preconceitos...
Latino-americana. Quem está perdendo, a saúva ou o Brasil? Recebi com
afeto que se encerra em nosso peito a contribuição inflacionária de todos
os nossos generosos erros. Um baiano, um coco. Dois baianos, uma coca-
da. Somos vários. Viva a Tropicália! Abaixo a Tropicália!
Entra filme com texto:
"Cada geração deve, numa opacidade relativa, descobrir sua missão. E
cumpri-la ou traí-la. "

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