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Capítulo 7
Sinais e Sintomas de Abuso Sexual em
Crianças
Olhando para trás, sou capaz de ver que todos os sinais [de
ASC: Abuso Sexual em Crianças] estavam ali, apenas não
podia vê-los. Se ao menos eu tivesse tido a chance de
perceber o que meu filho estava tentando me mostrar, teria
impedido aquilo antes... e ele ainda estaria vivo.
Mãe de uma criança vítima de abuso sexial que cometeu
suicídio
1. Efeitos emocionais;
2. Efeitos intepessoais;
3. Efeitos comportamentais;
4. Efeitos cognitivos;
5. Efeitos físicos;
6. Efeitos sexuais.
Cada uma dessas categorias será discutida, considerando alguns dos sinais
ou sintomas que a criança pode apresentar e o que eles representam. Pais e
professores precisam estar conscientes desses sinais, visto que, frequentemente,
as crianças mais mostram do que contam para os adultos que alguma coisa as
está perturbando. Esse é um fato importante no caso do ASC, porque tanto pode
ocorrer de o abusador silenciar a criança por meio de ameaças quanto ela pode
estar apavorada demais para dizer ou sentir-se constrangida ou culpada para
revelar o abuso.
De acordo com o Stop it Now! UK and Ireland (2002), os fatos mais
preocupantes a que se deve atentar são as mudanças no comportamento,
especialmente as listada no quadro a seguir.
Observar se a criança
• Tem comportamento sexual inadequado com brinquedos e objetos;
• Tem pesadelos e distúrbios do sono;
• Torna-se isolada e retraída;
• Passa por mudanças de personalidade, sente-se insegura;
• Retoma comportamentos de quando tinha menos idade, como por
exemplo, fazer xixi na cama;
• Tem medos inexplicáveis de lugares e pessoas em particular;
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• Tem ataques de raiva;
• Apresenta mudanças nos hábitos alimentares;
• Apresenta sinais físicos, como dor e feridas sem explicação nos
genitais, ou DSTs;
• Torna-se cheia de segredos;
• Recebe presentes e dinheiro sem motivo.
Efeitos emocionais
O impacto do ASC pode produzir uma série de efeitos emocionais (veja quadro
a seguir). O mais comum é a vergonha. A vergonha tem uma função em todas as
culturas, pois assegura que o indivíduo cumpra as normas sociais de
comportamento. Geralmente as crianças aprendem que suas partes íntimas são
algo para ser escondido e que devem se sentir nvergonhadas quando as mostram
ou quando brincam com elas em público. Dessa forma, quando a criança é coagida
a uma atividade sexual que envolva essas partes do corpo, pode se sentir
envergonhada com o que está fazendo. A sensação de vergonha também é
incitada pelo sigilo do ASC e pelo caráter furtivo que pode envolver os encontros
sexuais. A criança sentirá essa pressão porque, se é um segredo, deve haver algo
de vergonhoso a respeito da atividade – apesar das garantias em contrário do
abusador.
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sentimentos. Esse fato pode levar a uma percepção fragmentada do eu, a uma
diminuição da auto-estima e uma imagem do corpo extremamente precária.
Vergonha está relacionada com uma grande variedade de emoções, que são
desencadeadas pela experiência da vergonha. Mais frequentemente, a
vergonha evoca a ansiedade em relação a si mesma, à sobrevivência e aos
outros. A esses sentimentos somam-se ainda outros, como timidez, impotência,
desamparo, inferioridade, falta de valor próprio e aversão por si mesma. E todos
esses induzem a mais humilhação, desgosto, perplexidade e confusão,
especialmente porque a criança não entende nada e, também, por se culpar e
sentir raiva de si mesma por ser incapaz de fazer algo em relação ao abuso. A
criança passa a generalizar essa falta de confiança, duvida e desconfia de si
mesma e dos outros.
Uma profunda sensação de inadequação e de ausência de iniciativa
acompanha essa falta de confiança. A criança se sente tão sem poder interna e
externamente que é incapaz de desenvolver um senso de auto-eficácia e
competência. Ela se sente inútil, patética e estúpida, considera-se incapaz de
controlar tanto o mundo externo quanto seu caótico mundo interior e, assim,
sofre um enorme impacto em sua habilidade de equilibrar as emoções. Ou ela
não sente nada (como resultado da dissociação) ou se sente tão inundada pela
intensidade das emoções que passa a temer a combustão interna.
As emoções das crianças ficam muito polarizadas e elas não podem
controlar o que estão sentindo, pois oscilam entre esses dois pontos. Uma
consequência do fato de setem incapazes de controlar as emoções é o
insucesso em tentarem se acalmar e se reconfortar. A falta de confiança nos
outros, decorrente do ASC, faz com que elas evitem procurar conforto e
tranquilidade com os adultos. A criança fica assustadfa demais para expressar
sua ansiedade e suas necessidades emocionais para os outros por medo de
ficar exposta e de sofrer mais abuso, o que resulta em um turbilhão emocional
no qual os sentimentos não podem ser expressos nem contidos.
O medo é um outro sintoma principal do ASC. Ainda que a criança
inicialmente não tema o abuso, ela temerá a revelação do segredo e suas
consequências. Uma criança pequena teme as reações dos pais diante da
descoberta do abuso e teme igualmente a perda da relação “especial” que
mantém com o abusador. Nos casos me que o ASC é acompanhado de
violência, as crianças teme pela sua vida tanto por não concordarem com o
abuso quanto por revelarem o segredo.
Crianças com menos de 5 anos, incapazes de verbalizar, manifestam seu
temor de vários modos – elas sentem medo na hora de trocar a fralda ou na
presença de determinada pessoa (geralmente o abusador) e, em certas
situações, temem ficar sozinhas em casa com uma certa babá ou ao receber
visitas. Em alguns casos, a criança pode desenvolver fortes reações de fobia a
coisas associadas ao abuso sexual. Às vezes, o medo é indiscriminado e a
criança, em geral, se apavora em qualquer situação ou em qualquer encontro
com adultos ou crianças mais velhas. Essas crianças podem desenvolver
comportamentos obssessivo-compulsivos para estabelecer uma sensação de
controle em resposta a um mundo interno caótico e fora de controle.
A criança pode parecer tensa, nervosa e ansiosa, reagindo com respostas
com alto nível de temor, constantemente atenta aos outros, procurando
reafirmação e aprovação. Ela parece vulnerável e mostra um alto grau de
dependência, carência generalizada e falta de autonomia. Um sinal freqüente é
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a “frieza”, a criança parece apática em sua cautela, sem nenhuma
espontaneidade, mais como uma observadora do que uma participante. Essas
crianças raramente mostram alegria ou vivacidade. Mostram-se assustadas e
ocas, quase mortas por dentro. De fato, parecem traumatizadas.
As crianças sexualmente abusadas também podem experimentar um
profundo sentimento de mágoa e raiva. A criança que internaliza suas respostas
ao ASC apresentará sinais de recolhimento, depressão, tristeza e autoculpa. A
criança externaliza sua mágoa e raiva com ataques, hostilidade, violência e
raiva e culpa os outros. Seja qual for o modo como responde emocionalmente, a
origem dessa resposta é um turbilhão interno de vergonha, ansiedade, medo e
confusão.
Efeitos intepessoais
Os efeitos interpessoais do ASC nas crianças se concentram em como elas
se relacionam com os outros e na qualidade de seus relacionamentos (veja
quadro a seguir). A criança que se sente profundamente envergonhada pode
evitar a intimidade nos relacionamentos por causa da necessidade de encobrir
ou negar o sentimento de vergonha. O medo da exposição é tão grande que ela
talvez venha a evitar a intimidade com membros da família e com amigos pelo
temos de que o segredo escape inadvertidamente. O medo dessa possibilidade
e o sentimento de vergonha que o acompanha são tão intensos que a criança
evita proximidade ou intimidade para proteger esse segredo. Ela pode se retrair
a tal ponto para conseguir seu intento que se torna quase invisível. O ato de
esconder-se e de evitar cronicamente a proximidade resulta em uma criança
sem vontade de ser afagada, que evita o contato visual, tenta esconder o rosto
e oculta o corpo sob várias camadas de roupa.
Efeitos comportamentais
Muitas crianças que têm sido abusadas sexualmente tentam comunicar
suas experiências por meio do comportamento. Contudo, devemos ser
cuidadosos para não considerar que, apenas por apresentar um dos
sintomas comportamentais listados (veja quadro abaixo), a criança esteja
sendo sexualmente abusada. Um veículo universal de comunicação infantil é
a brincadeira. Brincar é um modo natural e criativo pelo qual a criança
obtém significado a partir da sua experiência e dá sentido ao mundo. Brincar
é um modo de adotar diferentes papéis e experimentar como é ser um
personagem em particular. Brincar também é um modo de a criança
reencenar a própria experiência, compreendê-la e obter uma sensação de
domínio. Brincar ainda pode ser uma expressão purificadora e um alívio para
a perturbação, a confusão e as ansiedades internas. Além disso, brincar
pode revelar muito sobre o mundo interno e as experiências de uma criança
sexualmente abusada.
A criança pode reencenar seu abuso sexual por meio de uma brincadeira
tanto com outras pessoas quanto com brinquedos. Enquanto brinca de “mamãe
e papai” ou de “médico”, ela pode encenar o abuso sexual. Cenas da criança
sendo violentada podem ser revividas, inclusive atos sexuais sofridos pela
criança ou aqueles que ela teve de praticar no abusador. Nesses jogos, a
criança sexualmente abusada pode dirigir a atuação de outras crianças nesses
papéis. Ao brincar de “médico”, ela pode concentrar seus exames nos órgãos
genitais da outra criança, o que reflete o interesse no abusador em relação à
sua genitália. A inserção da medicação e objetos na vagina e no ânus como
parte do procedimento médico pode representar o que realmente ocorreu
durante o abuso sexual.
Muito nesse jogo é de natureza sexual e bem diferente da exploração
sexual mútua e consensual encontrada em crianças que não foram
sexualmente exploradas. A maioria das crianças apenas participa esporádica e
espontaneamente de explorações sexuais. A criança abusada sexualmente
sempre vai querer trazer elementos sexuais para a brincadeira, tornando-a
repetitiva e obssessiva. Em geral, essa criança brinca de modo muito sério e
não demontra a alegria que a maioria das crianças exibe quando participa de
explorações sexuais consensuais. As brincadeiras sexuais podem parecer
planejadas, premeditadas e controladas pela criança, que quase sempre não
quer se desviar da seqüência dos eventos – o que indica a necessidade da
repetição do trauma para ganhar uma sensação de domínio sobre ele.
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Quando brinca sozinha, a criança pode encenar o ASC com seus
brinquedos, bonecas ou bichos de pelúcia. Nessa brincadeira, ela deseja
dominar seu próprio reino e pode se identificar com o abusador submetendo os
brinquedos às mesmas violações às quais foi submetida. A criança também
pode externalizar nos brinquedos a raiva contida, algo que não pode fazer na
vida real com o abusador. É util ouvir a linguagem que acompanha essas
encenações, já que podem indicar com o abusador tem agido com a criança e
com essa vê a si mesma em relação ao abusador.
Durante a brincadeira, as crianças comunicam seu mundo interno e
social por meio de desenhos e pinturas. Crianças pequenas sempre
desenham imagens de pessoas significativas em seu mundo, que
geralmente são representadas por simples bonecos de pauzinhos. Esse
bonecos de pauzinhos quase sempre não têm sexo e não contêm
características sexuais declaradas, além de cabelos longos ou possivelmente
uma forma de saia. Raramente os desenhos incluem as partes escondidas do
corpo, como mamilos, nádegas ou genitália.
Isso contrasta com os desenhos das crianças que foram abusadas
sexualmente. O desenho delas sempre apresenta as partes sexuais do corpo
em detalhes. A criança pode desenhar abertamente enormes pênis e vaginas
em imagens de adultos. Também podem incluir peitos grandes com mamilos.
Os desenhos podem relatar atividades sexuais atuais, objetos utilizados
durante o abuso sexual e, também, outros aspectos presentes. Imagens
detalhadas da genitália masculina são raras, se é que aparecem, nos desenhos
de crianças que não foram sexualmente abusadas.
Outras crianças que foram abusadas sexualmente podem sentir
desconforto em incluir órgãos sexuais em detalhes, mas podem ressaltar
algumas características – como grandes mãos o grandes bocas –, as quais
representam aspectos e características do abusador. Grandes lábios vermelhos
ou mãos enormes, deproporcionais, podem representar simbolicamente beijos
desconfortáveis, sexo oral ou carícias. Uma menininha que tomava remédios
para dormir toda vez que era abusada sexualmente desenhou repetidadas
vezes figuras em que calmantes apareciam, mas sem saber de fato por que
eles estavam lá. Outras crianças podem relatar sua falta de poder e impotência
diante do abusador em desenhos que apresentam monstros que abusam de
crianças.
As crianças também podem tentar comunicar suas experiências de abuso
sexual ao contar histórias, pequenas narrativas que eventualmente incluem
suas experiências atuais de abuso sexual ou representações simbólicas de
serem dominadas, ameaçadas ou caçadas por monstros. Ainda que as crianças
teham imaginação vívida, é importante ouvir cuidadosa e atentamente suas
histórias para extrair o sentido subjacente e o que estão tentando comunicar.
Apesar de as histórias sobre monstros fazerem parte do imaginário da criança,
é a qualidade da história e o que está sendo representado que pode dar uma
pista se ela está sendo abusada sexualmente ou não.
O uso da linguagem também pode nos dar pistas e indícios das
experiências da criança. Se a linguagem contiver frases e palavras muito
adultas, especialmente sexuais, eis aí um indício de um conhecimento muito
sofisticado sobre comportamento e atividade sexual. A criança pode estar
imitando a linguagem utilizada pelo abusador sem saber realmente o que ela
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significa. Ao tentar compreender a linguagem, ela se põe a repeti-la na
esperança de extrair algum significado.
As atividades recreativas cotidianas da criança também podem fornecer
pistas de seu mindo interno e social. Jogos que representam temas de
destruição, atos extremados de violência, violação, aniquilação etc. Podem
indicar as experiências atuais da criança. Atos punitivos, cruéis e sádicos
contra objetos, brinquedos, animais, bichos de estimação e outras crianças
podem representar a experiência de abuso sexual. A fusão de raiva e erotismo
também pode ser reencenada, representando a confusão da criança quanto ao
amor, à traição e à explosão presentes nos ASC.
As crianças podem apresentar, ainda, distúrbios comportamentais e de
conduta, que se manifestam como ataques de raiva ou ódio em com
freqüência histéricos. Elas são facilmente excitáveis, a ponto de ficarem
hiperexcitadas, têm pouco controle e pouca capacidade de suportar frustração.
Essas crianças vivem em busca de estimulação e atenção e tendem a ser
muito mandonas. Em geral, são agressivas e intimidadoras tanto em relação
aos adultos quanto a outras crianças. Um sintoma mais grave associado ao
ASC é atrar fogo nas coisas, como no exemplo seguinte:
Tim
Melaine
O abusador de Malaine sempre dizia que ela era uma “garotinha muito suja” levá-
lo a fazer o que ele fazia com ela. Ela não entendia exatamente o que ele queria
dizer porque na verdade ela não fazia nada. Melanie detestava que o pênis dele
espirrasse uma coisa esbranquiçada sobre ela porque a fazia sentir-se toda
grudenta e aquilo não cheirava bem. A primeira vez que isso aconteceu achou
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que ele tinha urinado nela o que a fez se sentir muito suja. Sempre que Melanie
pensava sobre o que o abusador fazia com ela, sentia se suja e precisava ir-se
lavar. Por mais que se lavasse, nunca se sentia limpa. Apesar de três banhos bem
quentes todos os dias, ela ainda se sentia suja e não conseguia entender o
motivo. Mesmo o ato de se esfregar com desinfetante e pedra-pomes não
mudava como ela se sentia por dentro.
Carlos
Carlos tinha sido abusado sexualmente pelo irmão mais velho dos 8 aos 12 anos.
Sabia que se tratava de abuso sexual. Aos 12 anos, Carlos conheceu um homem
mais velho que lhe ofereceu dinheiro para acompanhá-lo até seu quarto de hotel.
Carlos concordou. Depois de tê-lo violentado brutalmente o homem se mostrou
muito amável, abraçando, acariciando e afagando o menino e dando lhe bastante
atenção. Carlos adorou esse aspecto do encontro e sentlu que isso, mais do que o
dinheiro, fora sua recompensa por ter deixado o homem violentá-lo. Esse foi o início
da carreira de Carlos como garoto de programa e prostituto. Durante os 25 anos
como profissional do sexo, seu estímulo foi mais o afeto do que o dinhelro que
recebia.
Além disso, a violência que acompanhou o primeiro contato sexual por dinheiro
ficou misturada com o amor e o afeto que recebia depois. Isso significava que Carlos
poderia sempre participar de atividades sexuais de extremo sadomasoquismo em
que apanhava muito, era chicoteado e violentado antes de ser abraçado e conseguir
ter orgasmos. Quando começou a terapia, Carlos estava certo de que sua primeira
experiência como garoto de programa não tinha sido um caso de abuso sexual em
crianças porque ele consentira em trocar sexo violento por afeto.
Sintomas cognitivos
Como discutido no capítulo anterior, o impacto do abuso sexual na criança
resulta em vários transtornos cognitivos, não só quanto à concentração,
atenção e memória deficientes como a uma compreensão limitada do mundo
(veja o quadro na página 224). Os psicólogos usam o termo cognitivo para
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descrever processos como a percepção, a atenção e o modo de contar,
consolidar a informação e retrabalhá-la. Vários outros processos também são
cruciais, como a forma pela qual a criança compreende o mundo, lhe dá
sentido, interpreta suas experiências, estratégias de planejamento e testes de
como usar a informação de modo adequado, a tomada de decisão e todas as
funções envolvidas na aprendizagem da experiência em um modo adaptativo.
Já vimos como o ASC e o trauma podem afetar a capacidade da criança de se
dissociar das próprias experiências e como isso afeta a integração da auto-
identidade e dos sistemas de memória.
Um dos efeitos do ASC é distorcer a percepção de mundo da criança. Um
relacionamento aparentemente amoroso pode se tornar um pesadelo abusivo
sexualmente, levando a uma confusão sobre quais os comportamentos
adequados e inadequados entre adultos e crianças. Crianças sexualmente
abusadas quase sempre se sentem culpadas e, de alguma forma, culpam-se
pelo que está acontecendo com elas. Isso distorce a realidade, já que, embora
não estejam fazendo nada, elas culpam a si mesmas por algo que alguém está
fazendo com elas e sobre o qual não têm poder nem controle. Isso também
distorce sua percepção do que é certo e o que é errado, o que as faz se
sentirem bem ou mal. Crianças pequenas quase sempre acreditam que as
coisas ruins só acontecem a pessoas más, crença reforçada por livros de
histórias e filmes. Uma criança em um estágio de desenvolvimento cognitivo
inicial, que ainda não é capaz de pensar de modo abstrato acreditará que,
como algo ruim está acontecendo com ela, então, ela é má.
A negação é um efeito difundido do ASC não apenas pelas crianças como
também pelos abusadores, por outros adultos e pela sociedade em geral. As
crianças horrorizadas pelo abuso sexual podem negar o que esteja
acontecendo. Negar a realidade do ASC para si mesma pode ser o único modo
de a criança sobreviver ao abuso. Muitos abusadores negam o ASC por
acreditarem que ele seja uma expressão de amor. Pais e outros adultos
desejam negá-lo porque é horrível demais acreditar que alguém possa fazer
isso com crianças. A sociedade pode também negar o ASC por não o
compreender ou por não saber como lidar com ele. O medo das conseqüências
da revelação pode levar a criança a negar o ASC mesmo que já tenha sido
constatado, como no exemplo a seguir.
Alexandra
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É importante saber em que estágio de desenvolvimento cognitivo a criança
se encontra no que diz respeito à compreensão do significado que extrai de
suas experiências. Uma criança que ainda não domina o conhecimento do
mundo e baseia-se mais nos adultos para guiá-la e ensinar-lhe os
comportamentos adequados acreditará no que os adultos lhe disserem. Além
disso, se uma criança com menos de 5 anos, que tem pouco ou nenhum
conhecimento do comportamento sexual adequado, ouve dizer que é normal
adultos e crianças fazerem sexo, ela acreditará nisso. Uma criança para quem
se diz “Olhe o que você me obrigou a fazer” ou “Percebo que você gosta que eu
toque seu pênis” acreditará no adulto, mesmo que isso contraste com o que ela
realmente sente e vivencia. Essa distorção da percepção e da realidade da
criança causa um enorme impacto nela, pois mina sua capacidade de acreditar
nas próprias experiências e julgamentos.
Um outro efeito da distorção da realidade é a fuga, pela criança, da
realidade do ASC para um mundo interior de confusão e perturbação. Esse
recolhimento é necessário para se proteger e, assim, conseguir sobreviver à
experiência. Como alternativa, a criança pode entrar em um mundo de fantasia
em que tem o poder e o controle que lhe faltam no mundo real. Ela pode se
refugiar sonhando acordada, o que influencia sua capacidade de perceber o
que acontece à sua volta. A criança fica preocupada com sua dor interna, o que
a impossibilita de se concentrar no mundo exterior.
A falta de concentração é mais evidente na escola. Uma criança que está
sempre preocupada, com medo, terror, confusão ou que antecipa o próximo
acesso sexual não vai conseguir prestar atenção no que se espera que aprenda
na escola. Essas crianças se comportam como se estivessem em um mundo de
sonho e parecem aéreas na classe, quase rudes em suas respostas. O medo e
o terror da realidade do ASC tornam irrelevante o aprendizado na escola. Em
sua vida de criança, saber que Paris é a capital da França não está na sua lista
de prioridades. Essa criança estará preocupada com o próximo assédio sexual,
em como lidar com ele, e focaliza toda sua atenção na sobrevivência.
Para essas crianças, pode ser muito difícil aprender qualquer coisa na
escola. A dificuldade em se concentrar faz com que elas não absorvam ou
não armazenem informações nem aprendam ou tentem relembrá-las. Por
isso, crianças abusadas sexualmente podem ter um desempenho
insuficiente na escola. O baixo nível de desempenho educacional é
freqüentemente confundido com dificuldades de aprendizagem e, se
ignorado, pode impedir que a criança obtenha um sentimento de conquista,
habilidade e aproveitamento acadêmico.
Muitas dessas crianças também podem ser estudantes brilhantes e
entusiásticos, que nada pecam em inteligência, apesar de não serem
capazes de acompanhar as aulas ou de se aplicar nos trabalhos escolares.
Mais tarde, esse subaproveitamento servirá para reforçar uma auto-imagem
já frágil em que se acreditam idiotas e estúpidas, podendo provocar a
ridicularização por parte de professores e colegas e aumentar a sensação de
isolamento e alienação. Conseqüentemente, acabará por semear a solidão, a
sensação de impotência e de inutilidade e aumentará a vulnerabilidade a
mais abuso sexual.
Por outro lado, algumas crianças podem se sobressair na escola, pelo
fato de ser esse o único lugar seguro para elas. Essas crianças sempre
chegam cedo e são as últimas a sair, já que a escola é como um refúgio do
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abuso sexual que ela vivencia fora dali. A criança pode evitar voltar para
casa se isso estiver associado a ser sexualmente abusada. A escola também
dá oportunidade para que ela se distraia de sua confusão emocional ao
concentrar toda sua energia em adquirir conhecimento. Esse apoio a
mantém a salvo do sentimento de devastação emocional e permite que
construa habilidades acadêmicas que não demandam muita energia
emocional.
Em geral, essas crianças parecem extremamente brilhantes, inteligentes,
sensatas para além de sua idade. Elas podem se tornar leitores ávidos,
sempre procurando saciar sua sede de conhecimento. Ler e aprender se
tornam um meio de escapar de sua realidade aterrorizante e obter
significado em um mundo muito desestruturado e confuso, em que coisas
inexplicáveis acontecem. Crianças sexualmente abusadas, na maioria das
vezes, desenvolvem habilidades cognitivas, como estratégias de
planejamento, tomada de decisão e fuga, mais cedo do que as crianças não
abusadas sexualmente. Isso acontece em parte porque elas precisam
decifrar o incompreensível e também desenvolver estratégicas para
antecipar e evitar o abuso sexual.
O desenvolvimento precoce dessas habilidades pode levar a um
aproveitamento acadêmico alto, tornando-as estudantes muito bem-
sucedidos, que apresentam grande maturidade intelectual, ao passo que a
maturidade emocional fica presa em um nível de desenvolvimento referente
a uma criança muito mais nova. Refugiar-se nos livros pode impedi-las de
aprender habilidades sociais com os colegas, o que também pode mantê-las
a salvo de se aproximar demais dos outros por medo de serem expostas ao
abuso. Seu relacionamento se dá com a aprendizagem e o conhecimento, o
que difere do modo de se relacionar com os demais a sua volta.
Outros sintomas cognitivos associados às crianças que têm sido
sexualmente abusadas incluem a hipervigilância, ou seja, a criança fica
superalerta o tempo todo, procurando farejar qualquer ameaça. Algumas
negam o abuso sexual como estratégia para sobreviver a ele, o que pode
fazer com que minimizem o abuso sexual e seu efeito sobre elas. Outras
podem sofrer de pensamentos recorrentes em que o assédio sexual é
repetidamente revivido ou ter fantasias violentas incontroláveis.
Dependendo do estágio de desenvolvimento cognitivo em que a criança
esteja, ela pode ficar "presa" em um modo particular de pensamento e
compreensão do abuso. Distorções cognitivas comuns associadas ao ASC
são: "tudo ou nada", a supergeneralização, a rotulação inadequada, a
filtragem mental, a desqualificação do positivo, as conclusões precipitadas,
o aumento ou a minimização, a racionalização emocional, as declarações
"deveria" e a personalização.
No pensamento tudo ou nada, a criança tende a ver o mundo em uma
categorização como "Não tenho absolutamente nenhum valor" ou "Todo
mundo é brilhante". Esse pensamento é característico de crianças mais
novas que não são capazes de levar em conta as sutilezas entre duas idéias
extremas. Enquanto as crianças mais velhas em um estágio de
desenvolvimento cognitivo posterior são mais capazes de tolerar a
ambivalência, a criança mais nova sexualmente abusada tende a se engajar
em pensamentos extremos. Na supergeneralização, a criança ge-neraliza
sua própria experiência para outras situações. Exemplos disso podem incluir
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"Sou abusada por um homem, logo todos os homens são abusadores
sexuais". Essa tese pode contribuir para um medo generalizado de todos os
homens, fazendo com que essas crianças acreditem que todos os homens
querem ser sexuais com elas, o que pode ser visto em uma criança mais
nova que só consegue se relacionar de modo sexual com adultos do mesmo
sexo que o abusador.
A rotulação inadequada é caracterizada pela criação de uma auto-
imagem completamente negativa, pela criança, baseada em uma única falha
como "Eu não disse não e não me defendi o suficiente do abuso sexual, por
isso sou fraca e patética, o que mostra quanto sou inútil". De modo
semelhante, na filtragem mental, a criança concentra-se exclusivamente em
todos os aspectos negativos do eu e, conseqüentemente, filtra os aspectos
positivos. Isso está relacionado com a desqualificação do positivo, em que a
criança pensa ser impossível deixar entrar qualquer experiência positiva em
outras áreas de sua vida ou desconsidera qualquer atributo ou habilidade
positiva. Exemplo disso poderia ser o da criança que nega sua capacidade
de ir bem na escola ao dizer para si mesma que "Foi pura sorte eu ter tirado
um 10" ou "O professor deve ter sentido pena de mim e resolveu me dar
uma nota alta".
Nas conclusões precipitadas ou inferências arbitrárias, a criança
invariavelmente imagina uma conclusão negativa, que não está baseada em
nenhuma evidência real. Exemplo comum disso é "Todo mundo que me
conhece vai me culpar pelo abuso sexual; eles não vão mais querer ser
meus colegas". A minimização ou o aumento pode ser extremamente
devastador da auto-estima da criança. Na minimização, a criança diminui os
efeitos devastadores do abuso sexual como forma de proteger do impacto
real que ele tem. Essa minimização ou negação permite que a criança
sobreviva à experiência, visto que o impacto total poderia ser devastador
demais para a percepção de si mesma. No aumento, ela exagera os erros e
deficiências para além da proporção, o que pode levar ao fatalismo do tipo
"Fui tão devastada pelo abuso sexual que nunca mais vou ser capaz de levar
urna vida normal, vou sempre permanecer ferida".
Esse tipo de pensamento está relacionado com a racionalização
emocional, que pode ser própria da idade e certamente reflete com
precisão a experiência da criança. Um bom exemplo disso é quando os
sentimentos de vergonha e culpa sobre o abuso são equacionados com o
sentimento de responsabilidade por ele. A criança racionaliza que "Eu fui
responsável pelo abuso porque me sinto muito mal sobre não ter dito não".
Muitas crianças sexualmente abusadas têm expectativas irreais de si
mesmas, acreditando que deveriam sempre se comportar de acordo com
essas altas expectativas. O fracasso em realizar essas expectativas causa
culpa, baixa auto-estima e raiva. Urna declaração deveria é "Eu deveria ter
dito não ou ter chutado o abusador onde machuca". Essas crianças são
geralmente perfeccionistas ao tentar desfazer o quão mal se sentem a
respeito de si mesmas. Finalmente, na personalização, ou atribuição
inadequada, a criança assume a responsabilidade de algo em que não
deveria haver nenhuma. Exemplo comum disso é a criança que toma para si
toda a responsabilidade pelo abuso sexual ao fazer declarações como "Devo
ter sido responsável pelo abuso sexual porque gostei e porque meu corpo
respondeu ao abuso". Os abusadores que colocam essa responsabilidade
sobre a criança ajudam a reforçar a atribuição inadequada.
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Quando a criança confessa o ASC, é crucial que os adultos forneçam
informações factuais e precisas para corrigir qualquer informação errada
dada a ela pelo abusador. As crenças da criança e o significado que ela
extraiu do ASC precisam ser confrontados e substituídos por pensamentos
mais precisos e compreensivos. Uma criança nunca é responsável pelo
abuso sexual, não importa como ela se comporte; e o fato de o abuso ser
algo ruim e ter acontecido com ela não faz dela uma criança má. A escuta
cuidadosa, sensível e gentil da criança, ajudando-a a obter uma percepção
mais acurada do abuso, pode ser um caminho longo para melhorar sua auto-
estima e permitir que ela se livre do fardo da responsabilidade.
Sintomas físicos
Um dos aspectos mais difíceis do abuso sexual em crianças é que ele
freqüentemente não deixa nenhum sinal nem marcas físicas (veja quadro
abaixo). Esse é particularmente o caso de crianças que foram aliciadas por um
longo período no qual não houve nenhuma penetração na vagina ou no ânus.
Isso torna bastante difícil detectar o ASC apenas por meio do exame fisico. Se
o abuso sexual for acompanhado de violência e penetração forçada, podem
existir sinais físicos explícitos dele. Se a força e a violência foram utilizadas, a
criança pode apresentar hematomas e, em alguns casos, sangramentos,
especialmente nas coxas e na área genital. Traumas nos seios, nádegas, baixo
ventre e coxas podem estar igualmente presentes.
Também podem ocorrer traumas nas regiões oral, genital e retal. Se houve
penetração, a presença de sêmen pode ser detectada na área genital e anal.
Se não houve penetração, mas o abusador ejaculou sobre a criança, pode
haver sêmen sobre seu corpo, sua boca ou suas roupas. Forçar a criança a
tomar banho depois do assédio sexual, contudo, pode apagar esses sinais.
Pode haver evidência de doenças sexualmente transmissíveis, Incluindo o risco
da infecção pelo HIV. Alguns abusadores que não penetram a criança com o
pênis podem causar danos visíveis com a penetração dos dedos ou a inserção
de objetos estranhos nos orifícios genitais, do reto e da uretra.
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Muitos abusadores não deixam sinais visíveis de hematomas,
sangramento ou traumas. A masturbação mútua ou o sexo oral não deixam
necessariamente quaisquer sinais físicos. Contudo, pode haver sintomas
físicos associados ao ASC. A criança pode ter coceira, inflamação ou infecção
persistentes e recorrentes nas áreas oral, vaginal, retal ou uretral. Se esses
sintomas não puderem ser explicados do ponto de vista médico, podem
indicar abuso sexual. Odores vaginais estranhos também podem ser um
indício. Em crianças mais velhas do sexo feminino há o risco de gravidez.
Geralmente, a criança está assustada demais para dizer quem a engravidou,
e é sempre mais fácil dizer que foi o namorado ou o resultado de uma relação
sexual consensual.
Sinais físicos mais sutis são as doenças psicossomáticas recorrentes,
especialmente dor genital e retal sem nenhuma explicação médica ou
infecção presente. Algumas crianças têm dores de garganta recorrentes, sem
infecção presente, o que pode simbolizar o abuso sexual oral. Problemas
estomacais recorrentes, sem explicação médica, podem representar o medo
da criança de danos em decorrência da ingestão de sêmen ou do medo de
gravidez.
Outros sintomas físicos que podem indicar algum trauma ou perturbação
emocional na criança são os vários tipos de distúrbios do sono, como medo de
ir para a cama, insônia e pesadelos recorrentes. Algumas crianças sofrem de
sonambulismo e terrores noturnos, mas isso nem sempre está associado com o
ASC, já que podem ocorrer distúrbios neurológicos nos padrões do sono.
Distúrbios alimentares, falta de higiene e de asseio também podem indicar a
dor emocional da criança.
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Sintomas sexuais
A criança abusada sexualmente pode tentar comunicar sua experiência de
abuso por meio de comportamentos sexuais incomuns (veja quadro a seguir).
Crianças que tentam lidar com o ASC e compreendê-lo podem apresentar
comportamentos sexuais repetitivos e persistentes. Esses podem se manifestar
em relação a outras crianças ou serem dirigidos aos adultos. Crianças mais
novas ingenuamente acreditam que é isso o que os adultos querem e de que
gostam, assim como o abusador, e estão, portanto, compelidas a agir desse
modo. A criança acredita que o único meio de se relacionar com outros adultos
é tocá-los nas áreas sexuais ou se comportar de modo sexualmente sedutor.
Essas crianças vão tocar os adultos de forma inadequada e pedir para eles
tocarem suas áreas sexuais. A criança pode se esfregar no adulto, simulando
uma relação sexual ou masturbação. Também pode beijar outros adultos –
além do abusador – de um modo sexual. Esses comportamentos geralmente
representam o que a criança aprendeu a fazer com o abusador sexual e, por
este ter dito a ela que é normal, a criança não consegue entender por que os
outros adultos ficam incomodados quando ela age assim com eles ou com
outras crianças.
Uma compreensão mais acurada do comportamento sexual, incorporando
temas adultos que destoam do conhecimento apropriado ao nível de
desenvolvimento da criança, também pode indicar que ela vivenciou o ASC. A
masturbação compulsiva, geralmente praticada em público, pode ser urna
forma de comunicar a experiência de abuso sexual da criança. Em geral, a
masturbação compulsiva não é completamente satisfatória para a criança.
Algumas ficam totalmente perturbadas depois da masturbação, rolando no
chão em profunda dor psicológica e emocional. O exibicionismo repetitivo e
compulsivo é outro modo do qual a criança pode lançar mão para tentar
comunicar as experiências de abuso.
Em crianças mais velhas, a promiscuidade precoce pode ser urna forma de
elas repetirem as experiências de abuso sexual. Embora a criança possa não
estar deliberadamente procurando por contato sexual com os colegas, ela
acredita que esse é o único meio de obter atenção e afeto e, assim, quer
oferecer sexualmente a si mesma para satisfazer suas necessidades. Essa
promiscuidade pode às vezes levar não apenas à gravidez como também à
prostituição, uma vez que a criança de alguma forma já foi capaz de perceber
que pode obter algum tipo de controle sobre a experiência de abuso sexual se,
ao menos, for paga por isso. Muitas crianças que são prostitutas ou garotos de
programa têm uma história de abuso sexual.
São vários os sinais e sintomas que podem ser apresentados por crianças
sexualmente abusadas. Alguns deles são uma forma de a criança chamar a
atenção para o abuso sexual e constituem o modo escolhido de comunicar sua
dor interna em lugar da revelação verbal. Em alguns casos, os sintomas são
reencenações repetitivas do abuso sexual que a criança se sente compelida a
representar para lhe dar um significado e ter domínio sobre ele. Em outras
circunstâncias, os sintomas são comportamentos aprendidos que têm sido
praticados e repetidos durante o abuso sexual e tornaram-se o único modo
conhecido pela criança de se relacionar com os outros.
O que está claro é que o impacto do ASC varia de criança para criança e
que seus sinais e sintomas também podem variar muito. Devemos evitar
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tirar conclusões precipitadas de que a criança esteja sendo abusada
sexualmente diante da presença de apenas um ou dois dos sintomas, pois
alguns deles podem estar associados a outros problemas e dificuldades. É
essencial que os adultos contextuali-zem os sinais e sintomas observados e
percebam a constelação de indícios antes de assumir que a criança esteja
sendo abusada sexualmente.
Esses sinais e sintomas podem apenas alertar o adulto sobre a dor e a
pertur-bação da criança e não são critérios de diagnóstico seguros por si
mesmos. O importante é ter conhecimento de quais sintomas têm sido
relacionados ao ASC. Tendo adquirido esse conhecimento e essa consciência
dos vários sintomas e si-nais, a atenção deve ser concentrada em como
interpretá-los e compreendê-los em relação à criança sexualmente abusada.
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