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ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

COTIDIANO EM MOVIMENTO
Cinema, Trabalho e Linguagem

Aline Simone Erédia


Bruno Pellegrini Bellucci
Camila Kawachiya Silveira
Daniela Carol Moniwa Reis
Gabriela Lancellotti Zapparolli Pupin
Leonardo da Silva de Assis
Lucas Mendes Martini
Marcela Augusta Rodrigues de Moraes
Marcello Portugal Moura Leal
Mariana Garcia Leite Cardoso
Rebeca Lourenço Vieira

SÃO PAULO
2006

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Aline Simone Erédia
Bruno Pellegrini Bellucci
Camila Kawachiya Silveira
Daniela Carol Moniwa Reis
Gabriela Lancellotti Zapparolli Pupin
Leonardo da Silva de Assis
Lucas Mendes Martini
Marcela Augusta Rodrigues de Moraes
Marcello Portugal Moura Leal
Mariana Garcia Leite Cardoso
Rebeca Lourenço Vieira

COTIDIANO EM MOVIMENTO
Cinema, Trabalho e Linguagem

Trabalho de conclusão do curso de Língua


Portuguesa, Redação e Expressão Oral I, dos
cursos Publicidade e Propaganda, Biblioteconomia
e Relações Públicas da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo.

Prof. Dra. Roseli A. F. Paulino

SÃO PAULO
2006

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 5

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 6
1.1 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 6
1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................ 6
1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................................. 6

2 HISTÓRIA DO CINEMA .................................................................................................... 7


2.1 CINEMA INTERNACIONAL .................................................................................................. 7
2.2 CINEMA NACIONAL ......................................................................................................... 10
2.3 OS GÊNEROS DE CINEMA ................................................................................................. 15
2.3.1 Documentário .......................................................................................................... 15
2.3.2 Documentário no Brasil .......................................................................................... 17
2.4 PANORAMA DO CINEMA NACIONAL NA ATUALIDADE ...................................................... 20

3 O PROCESSO CINEMATOGRÁFICO ...........................................................................23


3.1 TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE CINEMA................................. 23
3.1.1 Os pioneiros............................................................................................................. 23
3.1.2 Etapas de produção e novas tecnologias ................................................................ 26

4 ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO SELECIONADO: FALA TU ................................. 29


4.1 ANÁLISE DA LINGUAGEM E FOTOGRAFIA ......................................................................... 29
4.1.1 Técnica, Produção e Considerações ....................................................................... 29
4.1.2 O enredo, as personagens e o cotidiano ................................................................. 31
4.1.3 A música .................................................................................................................. 32
4.1.4 A Linguagem............................................................................................................ 33
4.1.5 A situação de trabalho............................................................................................. 47

5 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ....................................................................................... 53

APÊNDICE I – Modelo de questionário de classificação socioeconômica utilizado ........54

APÊNDICE II – Perguntas utilizadas na entrevista com a população.............................. 55

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APÊNDICE III – Transcrição de entrevistas – CLASSE A ............................................... 56

APÊNDICE IV – Transcrição de entrevistas – CLASSE B ............................................... 59

APÊNDICE V – Transcrição de entrevistas – CLASSE C.................................................61

APÊNDICE VI – Transcrição de entrevistas – CLASSE D ............................................... 63

APÊNDICE VII – Transcrição de entrevistas – CLASSE E .............................................. 65

APÊNDICE VIII – Cenas do documentário decupadas ..................................................... 67

APÊNDICE IX – Entrevista com a produtora Mara Mourão ........................................... 76

APÊNDICE X – Questionários de classificação socioeconômica respondidos ................. 80

ANEXO I – Entrevista de Nathaniel Leclery ao site CINEWEB..................................... 132

ANEXO II – ANCINE – Lista de lançamentos nacionais 2005........................................136

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APRESENTAÇÃO

Esta monografia surgiu a partir de uma proposta apresentada pela Profª. Drª. Roseli A.
Fígaro Paulino em sala de aula. Proposta que tem por objetivo analisar, dentro dos veículos de
comunicação do Brasil, o aparecimento do tema trabalho.

O veículo de comunicação escolhido por nosso grupo para realizar tal estudo é o
cinema, em especial o cinema Documentário. Um breve relato da história do Cinema
internacional e nacional será apresentado, sendo direcionada esta monografia às mudanças
ocorridas na sétima arte relacionadas ao tema central de pesquisa: o trabalho.

Nossa produção apresenta um material de grande riqueza em questões


socioeconômicas que envolvem nosso país. Não nos aprofundaremos a essas questões, mas
nosso trabalho é passível de apreciação para que se possa entender um pouco mais a realidade
que muitos cidadãos brasileiros vivem em seu cotidiano.

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1 INTRODUÇÃO

Desde sua chegada ao Brasil, o cinema sofre transformações geradas pelo meio
socioeconômico que o envolve. Nosso objeto de pesquisa é analisar estas mudanças
relacionadas ao campo de trabalho, ou seja, ocorridas nos processos produtivos, técnicos,
profissionais das pessoas envolvidas no fazer Cinema. O material utilizado para análise desta
questão é o documentário Fala Tu, de Guilherme Coelho.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

O objetivo da monografia é analisar as mudanças que ocorreram no Cinema referentes


ao tema trabalho. Será explorado dentro do documentário Fala Tu questões envolvidas ao
tema de pesquisa, mostrando como este é apresentado ao público.

1.1.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos do trabalho são:

• Estudar a linguagem utilizada pelo meio de comunicação Cinema ao abordar o


tema trabalho;

• Analisar a fotografia do documentário, buscando relacionar sua concepção com o


objeto de estudo.

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2 HISTÓRIA DO CINEMA

Para que possamos entender mais sobre o veículo de comunicação cinema, traçaremos
uma divisão apresentando sua origem e seu processo de introdução no país. Observamos que,
assim como outros veículos difusores de entretenimento e informação, o cinema é criação e
apreciação de esforços gerados pelo ser humano.

2.1 Cinema Internacional

Em 28 de dezembro de 1895, deu-se em Paris, capital da França, a primeira


apresentação pública de um inovador aparelho chamado Cinematógrafo. Inventado pelos
famosos irmãos Lumière, a mostra do mecanismo que mudaria a história da captação de
imagens alastrou-se rapidamente pela Europa e resto do mundo. Filmes lançados pelos irmãos
tiveram forte influência sobre a cultura da época e são considerados marcos relevantes para a
história do Cinema, como “L’Arrivée d’un train en gare de la Ciotat”, além de algumas das
primeiras tentativas de filmes cômicos, como o humor pastelão “L’Arroseur Arrosé”. Os
filmes não envolviam – em sua maioria – a participação de pessoas em atuação. Havia o
trabalho no momento da produção que, com o passar dos anos, passou a exigir um número
maior de participações. Com o desenvolvimento de técnicas na sétima arte, a França pôde
conquistar o posto de mais dinâmico da Europa continental em termos de público, de número
de filmes produzidos e de receitas geradas por suas produções. Como prova da grande
indústria cinematográfica francesa, há vários festivais de premiação de filmes, como o
Festival de Cinema de Cannes, o Festival de Cinema de Avoriaz, o Festival de Cinema
Gérardmer, entre outros.

Influenciados pelo desenvolvimento do Cinema na França, outros países europeus


acompanharam as inovações. A Alemanha, por exemplo, foi berço de grandes estéticas
artísticas e vanguardas plásticas. Logo após o término da Primeira Guerra Mundial, a
cinematografia alemã alcançou ligeiro sucesso econômico, motivada pela desvalorização do
Marco alemão que tirou dos produtores estrangeiros a vontade de exportarem para a
Alemanha, possibilitando o crescimento da sétima arte no país. Sua indústria de filmes
caracterizava-se através de uns poucos consórcios financeiros, mas obteve grande

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desenvolvimento interno. Entretanto, começou a haver uma falta de condições para o
patrocínio da nascente sétima arte, o que fez com que o consórcio “Hugenberg” passasse a se
interessar na solução do problema e conduzisse a indústria cinematográfica com objetivos de
publicidade política. Dois meses depois da tomada do poder por Hitler, Joseph Goebbels –
chefe da propaganda nazista –, comunicava o interesse ativo do novo governo em tudo que se
referia à sétima arte, leis que colocavam a censura sob direção autoritária, enrijecia os seus
princípios e se estendia a todo o processo de produção desde o “script ” até ao filme
finalizado. O governo nazista privou o Cinema alemão de todas as suas conquistas anteriores.
A idéia de uma “revolução nacional” não chegou a inspirar nenhuma obra cinematográfica,
como também, sob a ditadura, qualquer formulação crítica, mesmo no domínio meramente
publicitário do Cinema, era de todo impossível. O término da guerra libertou o Cinema
alemão da ditadura da arte do “Terceiro Reich”, porém não do conformismo e da esterilidade
de seus autores e diretores. Na medida em que se voltavam para temas atuais, o que, aliás,
acontecia raramente, permaneciam, contudo presos à apologia sentimental da mesma
passividade política que lhe havia dado projeção. A evolução do trabalho na indústria
cinematográfica alemã foi lenta. No início, as poucas técnicas e as vanguardas artísticas
minimizavam a participação de pessoas, uma vez que o enredo e a arte dramática não eram
bem desenvolvidos. A história cinematográfica alemã pós-nazista comprova que a ascensão e
queda da arte cinematográfica podem estar profundamente relacionadas ao desenvolvimento
econômico, social e político.

Seguindo a mesma linha do cinema da Alemanha, a Espanha possuiu um


desenvolvimento pautado em repreensões por parte de governos totalitários. Apesar de ter
originado-se como uma parceria entre Luis Buñuel e Salvador Dalí no filme “Un Chien
Andalou e L'Age d'Or”, uma espécie de “Cinema Oficial do da Ditadura Franquista” surgiu.
Com o fim do regime ditatorial, o cinema pôde se desenvolver, fazendo com que nomes
marcantes do setor, como Pedro Almodóvar e Julio Medem, aparecessem no cenário mundial,
com verdadeiras obras de arte ousadas e criativas.

Entretanto, ao mesmo tempo em que o cinema europeu se desenvolvia grandemente,


um país localizado no Pacífico já havia iniciado suas técnicas na sétima arte. O cinema
japonês possui uma história que se estende por mais de 100 anos. Originou-se com uma
produção de filmes mudos, o que fazia com que a maior parte das salas de cinema japonesas
da época empregasse os chamados “benshi” – narradores cujas leituras dramáticas

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acompanhavam o filme – e a música, que era, como no Ocidente, tocada ao vivo. Uma grande
quantidade de atores e atrizes surgiu, possibilitando maiores estudos na arte dramática
japonesa. Entretanto, o Terremoto de 1923, o Bombardeio Aliado a Tóquio durante a Segunda
Guerra Mundial, assim como os efeitos naturais do tempo e da umidade do país nas frágeis
películas destruíram a maior parte dos filmes realizados no período. Mas, como ocorre intenso
desenvolvimento em técnicas cinematográficas no Japão, novos e mais modernos filmes
puderam ser lançados, complementando ainda mais o cinema com produções elaboradas em
conotação artística e efeitos especiais.

Já no continente americano, o grande representante é, indubitavelmente, a Hollywood


dos Estados Unidos. Uma das maiores potências do cinema mundial, exportando não apenas a
arte cinematográfica americana, mas uma dominação econômica e cultural, mesmo que, desde
a década passada, seus filmes tenham apresentado novas temáticas, antes consideradas tabus,
como homossexualismo, racismo e até questionamentos sobre as políticas interna e externa
dos então governantes. Possuem uma das mais bem sucedidas indústrias de entretenimento do
mundo. A influência do cinema norte-americano no resto do mundo é avassaladora e
permanece, geralmente, como uma referência para o público que, em termos gerais, prefere
esta cinematografia aos filmes do seu país. Em Los Angeles, na Califórnia, os estúdios
começaram a instalar-se numa zona pacata da cidade: a futura Hollywood. Antes da Primeira
Guerra Mundial, os filmes eram feitos em várias cidades dos Estados Unidos, mas já se
notava uma certa atração em relação ao sul da Califórnia, que foi aumentando com o
desenvolvimento da indústria. David Wark Griffith e o seu “The Birth of a Nation” é
considerado, quase unanimemente, o verdadeiro pai desta cinematografia, ao definir as regras
e a linguagem própria da sétima arte.

Outros continentes têm obtido um verdadeiro “boom” na indústria cinematográfica. A


mundialmente conhecida Bollywood, localizada na cidade de Bombaim, Índia, iniciou seu
fenomenal crescimento na sétima arte a partir dos anos 70. Utilizando um vasto número de
atores, a Bollywood chega a produzir, por ano, cerca de 900 filmes. Como são faladas várias
línguas no país, as mais utilizadas têm sua própria indústria cinematográfica: Urdu /Hindi ,
Bengali , Tamil , Telugu , Malayalam , Kannada . Alguns filmes como “Monsoon Wedding”,
“Lagaan” e “Mission Kashmir” são exemplos de filmes exportados de Bollywood.

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Porém, cabe citar o mais novo país a receber a qualificação de maior produção de filmes:
Nigéria. Batizada de Nollywood, chega a produzir 1200 filmes por ano. Com uma indústria
que começou – e continua – com uma produção caseira, a Nigéria faz uso da recente
tecnologia digital, que permite captar e editar imagens sem maiores técnicas, trabalhando em
um computador. A distribuição atinge vasta parte da população por meio de vendas em
barracas de camelôs e a preços acessíveis. Além dos habitantes nigerianos, a cinematografia
do país atinge outros lugares, como vizinhos africanos e a Europa. Não há apoio
governamental, como na Índia, mas a produção movimenta aproximadamente 200 milhões de
dólares anuais, superada, apenas, pela indústria petrolífera.

2.2 Cinema Nacional

O cinema chegou ao Brasil pouco depois de sua invenção nos Estados Unidos e
França. A primeira sessão pública ocorreu no Rio de Janeiro, aproximadamente entre os anos
de 1895 e 1896. Naquele período, devido à proclamação da republica em 1889, o Rio de
Janeiro era o principal centro cultural do país, sendo que uma considerável quantia de
recursos financeiros do Estado era destinada ao desenvolvimento de ações que promovessem
a cultura, seguindo os modelos das repúblicas européias.

Os primeiros filmes aqui rodados foram exibidos em formato preto e branco/cinema


mudo. Transmitidos em casas de espetáculos, que também apresentavam outros eventos
como: números de mágicas, canções, circo, danças, entre outros. As pessoas responsáveis
pelas primeiras transmissões de Cinema no Brasil eram imigrantes, que traziam fitas em suas
viagens e transmitiam ao público os materiais de outros países.

Em 1907, as primeiras casas cinematográficas do país eram construídas. Casas geradas


a partir de modelos arquitetônicos com a capacidade de suportar um grande número de
pessoas, sendo que muitas delas possuíam de 500 a 600 lugares. Esses recintos eram vistos
como um ambientes de visitação destinado a uma pequena parcela da população, devido o alto
preço que se cobrava para assistir a um filme. Numa comparação de valores monetários, feita
pelo fotógrafo Gilberto Ferrez, observa-se: “a entrada custava mil réis, - bastante, se
consideramos que uma caixa de fósforos custava 100 e o bonde 200 réis”. (SALEM, 1988,
p.10).

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Assim, a este veículo de comunicação, foi atribuída a imagem de que seu consumo
proporcionava status em sociedade, ou seja, participar das primeiras apresentações de
películas no Brasil era confirmar superioridades econômicas e financeiras de famílias que
arrendavam grandes valores de capital produzidos no país.

No início do século XX, o Rio de Janeiro já produzia os primeiros filmes brasileiros.


Películas com cenas de centros urbanos, praias, florestas e todo material que poderia
apresentar a imagem do país para o mundo. Nesse período eram de grande valor os filmes que
mostravam nossos cenários pitorescos, que muito agradavam o público no exterior.

Contudo, o eixo de produção cinematográfica do país foi alterado, devido à


ascendência dos comerciantes de café no Oeste de São Paulo. Os fazendeiros passaram a
financiar as produções no sudeste do país. Thomas de Tullio, cinegrafista da época, apresenta
como eram feitas as primeiras filmagens em São Paulo, e como ganhava rendimentos com o
trabalho desenvolvido:

“Tratava-se de um negócio a metro. Eu fiz muito disso. Fui para as Fazendas


– naquele tempo os fazendeiros do café estavam ganhando muito dinheiro e
naturalmente eles não tinham dúvidas em fazer um filme. A gente dizia
quanto custava o metro do filme – assim uns 150 metros fazíamos um filme
– e calculávamos quanto ia custar. Então, eu filmava as vistas da
propriedade, a sede da fazenda, a família, depois a boiada, os colonos,
botava letreiros. E aí eu ia tentar exibir no Cinema. Eu vivia muito bem
fazendo essas coisas. Tinha dois vendedores, que iam sempre as fazendas e
diziam para os fazendeiros “O senhor tem uma fazenda bonita, não quer
fazer um filme?” (SALEM, 1988, p.14).

Gradativamente o Cinema nacional foi se aperfeiçoando, indo das produções


artesanais – chamados Ciclos Regionais –, para as grandes filmagens. Um dos principais
fatores que impulsionou tal mudança foi à introdução de indústrias em São Paulo, gerada
pelas crises do café e internacionais – queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929. Neste mesmo
ano chega ao Brasil às primeiras filmagens que fundiram som e imagem.

Com a revolução de 1930, os meios de comunicação foram transformados em


instrumentos para a propaganda governamental. Tal utilização implicou a reiteração de
normas e padrões sociais e políticos que visavam à obtenção de uma sociedade

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desmobilizada. Com o golpe de 1937, o Cinema passou a ser um poderoso componente para a
manutenção do poder político, a chamada máquina de propaganda. Neste contexto foi criado
o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que tinha por objetivo sistematizar a
propaganda e exercer o poder de censura aos meios de comunicação.

Contudo, mesmo nesse contexto histórico, grandes estúdios foram construídos no país.
Muitos cineastas chamam esta fase de produção do Cinema nacional de Bela Época. Destaque
para os estúdios da Cinédia (1930), Atlântida (1941) e a Vera Cruz (1949). Obras importantes
foram filmadas, com destaque, respectivamente, para os filmes encenados por Carmem
Miranda, Grande Otelo e Amâncio Mazzaropi. Anselmo Duarte, galã de filmes pela Vera
Cruz, conta-nos como era seu trabalho naquele período.

“Sinto muita saudade daquele tempo. Porque havia muito otimismo quando
fazíamos aqueles filmes. E um otimismo geral. O Franco Zampari nunca
deixava transparecer os seus graves problemas financeiros com a companhia
– que para nós, até então, não existiam. Nós éramos muito bem pagos, e
pontualmente. Estávamos certos de que fazíamos o melhor Cinema do
mundo”. (SALEM, 1988, p.80).

Após essa fase áurea do Cinema nacional, ele sofreu grandes abalos econômicos
financeiros devido ao monopólio das produções oriundas dos estúdios de Hollywood.
Portanto, para sua sobrevivência, os cineastas brasileiros procuraram novas alternativas para
se adaptar às vicissitudes e realidades. O contexto mostrou-se favorável á produção de
documentários e de cinejornais, ambos com roteiros centrados no universo temático nacional.
Abre-se espaço para o aparecimento do Cinema independente, Cinema novo. Tanto os
documentários como cinejornais passaram a funcionar como um nicho de mercado capaz de
manter a continuidade da produção cinematográfica do país.

O cinema novo foi idealizado por jovens, que propunham a realização de projetos
independentes de autor, com temas nacionais, cenários do cotidiano e sem grandes
investimentos. Sua base teórica, por assim dizer, era estruturada na forma de questionamento
e na tentativa de modificação da realidade brasileira através da análise e denúncia, como
destaca o expoente máximo deste movimento Glauber Rocha:

“Nós não queremos Eisenstein, Rossellini, Bergman, Fellini, Ford, ninguém.


Nosso cinema é novo não por causa da nossa idade (...). Nosso cinema é

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novo porque o homem brasileiro é novo e a problemática do Brasil é nova e
nossa luz é nova e por isto nossos filmes nascem diferentes dos cinemas da
Europa. Nossa geração tem consciência: sabe o que deseja. Queremos fazer
filmes antiindustriais; queremos fazer filmes de autor, quando o cineasta
passa a ser comprometido com os grandes problemas de seu tempo;
queremos filmes de combate na hora de combate e filmes para construir um
patrimônio cultural”. (Gomes, 1997, p. 135).

Em 1954, Nelson Pereira dos Santos, outro grande representante deste movimento,
realizou seu primeiro longa metragem, chamado Rio, 40 Graus. Obra que causou grande
impacto no Estado nacional, pois apresentava uma realidade que até então estava afastada das
grandes telas, ou seja, uma apresentação dos centros periféricos e suas condições sociais.

Neste mesmo período de enfraquecimento dos grandes estúdios, chega ao Brasil um


veículo de comunicação que ocuparia o espaço de outros, como o rádio e o cinema, que já
eram presentes em território nacional. Trata-se da televisão. Ela foi um marco na difusão do
entretenimento e informação a população, o que gerou um grande impacto em outras mídias
que realizavam estes serviços, como apresentado por Luís Milanesi:

“A televisão passou a funcionar regularmente a partir dos anos 30 do século


XX, mas foi só a partir da década de 50 que ela suplantou o rádio em
audiência, importância cultural e atuação como força econômica”.
(MILANESI, 2002, p. 42).

Milanesi apresenta o rádio por ser ele o veículo de comunicação com maior alcance
entre os cidadãos brasileiros, mas o advento da televisão também afetou o cenário
cinematográfico do país. A televisão alterou substancialmente o envio de recursos financeiros
do governo ao Cinema, que até então recebia certo incentivo. Empresários e investidores
observaram que o mercado televisivo era de potencial valor econômico, principalmente por
individualizar necessidades diversas a população. Também se constatou a facilidade de uma
transmissão simultânea – em diversos pontos geográficos –, com custos relativamente baixos
quando comparados às produções cinematográficas, que ao contrário do sistema televisivo se
concentrava nos grandes centros econômicos do Brasil.

Após o golpe militar em 1964, o governo sinalizou objetivamente no sentido de


intervir na cultura, tanto por meio de incentivos, como mediante os órgãos de censura. Dessa
forma, em 1966, foi criado o Instituto Nacional de Cinema (INC). Suas funções básicas eram

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estimular o desenvolvimento do cinema no país, formular e executar a política governamental
relativa ao processo de produção, importação, distribuição e exibição de filmes no Brasil e no
exterior. Em 1969, tais atribuições foram transferidas para a Empresa Brasileira de Filmes
(EMBRAFILME), que marcou a passagem ao poder Executivo da tarefa de gerenciar as
atividades cinematográficas no país.

Seguindo está lógica histórica, o golpe militar foi um fator negativo para a liberdade
de expressão no cinema nacional. Departamentos de censura proibiram a produção e
apreciação de obras que não condiziam aos interesses do Estado. Nelson Pereira dos Santos
apresenta como foi esse período:

“É difícil se perguntar hoje quais foram às perdas culturais provocadas pelo


golpe de 64 e a ditadura. Um tempo perdido. Os projetos que não foram
feitos, ou aqueles que nem foram projetados, e quantas pessoas desviadas da
atividade cultural”. (SALEM, 1988, p.131).

Tem-se assim uma maior produção do Cinema de contestação, engajado em práticas


políticas. Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, entre outros, foram grandes
idealizadores dessas produções, que sofreram repressão pelos departamentos da ditadura. No
seu grande momento de produção, o cinema Novo foi atingido pelo impacto do golpe de 64 e
a repressão que se seguiu. Apesar do clima adverso, o cinema brasileiro resistiu e se adaptou
aos novos tempos do regime, consolidando, mesmo nestes moldes, uma indústria
cinematográfica no país.

Após a abertura do regime político na década de 80, um incentivo maior por parte do
Estado foi oferecido ao cinema nacional. Foram criadas Leis que propiciam a formação de
obras cinematográficas no país, com o objetivo de desenvolver a cultura em território
nacional. Incentivos que são de fundamental importância, visto que o cinema é produto de
entretenimento e informação à população. Foi criada, em 2001, a Agência Nacional do
Cinema (ANCINE), órgão oficial de fomento, regulação e fiscalização das indústrias
cinematográfica e videofonográfica do país, órgão do governo dotado de autonomia
administrativa e financeira. Veremos mais do como está o cenário atual do cinema no Brasil
no panorama feito sobre a situação do cinema hoje.

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2.3 Os gêneros de Cinema

A produção cinematográfica se divide em diferentes gêneros, cada um com um


processo de produção específico a fim de alcançar um objetivo. Entre os diversos gêneros
temos o de terror, comédia, romance, ação, suspense, documentário, entre outros. Sendo o
gênero documentário objeto de nossa pesquisa, iremos apresentar uma definição do seu
conceito e sua trajetória histórica.

2.3.1 Documentário

Filme produzido geralmente em curta metragem, o documentário registra, comenta ou


mesmo interpreta um fato, um ambiente, ou uma determinada situação.

Captar e reproduzir a realidade são os principais processos que caracterizam e


diferenciam um documentário de um método cinematográfico convencional. Estes processos
são obtidos através de entrevistas e de captação direta de imagem e som, ou seja, o maior
realismo possível transformado em registro da realidade. Entretanto, o documentário pode
também atuar como instrumento de reflexão a respeito da realidade, deste modo, integram-se
ao documentário as opiniões, os comentários e as interpretações de seus realizadores,
produzindo, a partir da realidade, linhas de pensamento que conduzem o telespectador a uma
reflexão pré-concebida.

Os primeiros filmes foram documentários, pelo simples fato de serem gravações de


acontecimentos reais. O terremoto de 1906 em São Francisco, os vôos dos irmãos Wright na
França, em 1908, e a erupção do vulcão Etna na Sicília, em 1910 são exemplos disso. Como
mencionado anteriormente, apesar do documentário ser um gênero que se caracteriza pelo
compromisso com o registro da realidade, não seria certo afirmar que ele a retrata fielmente,
mais sim que possui maior comprometimento com esta do que a ficção. Ainda assim seu uso
mostra-se extremamente relevante no estudo de determinados momentos da humanidade por
historiadores e pesquisadores.

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Há uma certa polêmica, mas costuma-se classificar as curtas gravações dos irmãos
Lumière como os primeiros documentários feitos no mundo: La Sortie des ouvriers de l'usine
Lumière (Saída dos operários das Fábricas Lumière) ou Le Déjeuner de Bébé (O almoço do
bebê).

Com a ascensão dos filmes de ficção, o documentário só teria sua importância revista
com o trabalho de Robert Flaherty, de 1922, chamado de Nanook of the North, um estudo
sobre a vida dos esquimós na Baía de Hudson, tornando-o pai do filme antropológico. Sua
importância passa pelo fato de que foram incorporadas à narrativa, cenas próprias da ficção. O
diretor não hesitou em reconstituir as cenas que queria filmar, pedindo a Nanook e à sua
família que representassem os seus próprios papéis: a preparação das refeições, a construção
de um iglu, a caça de uma foca.

Na direção oposta e seguindo o princípio base do documentarismo de registro dos


acontecimentos in loco, Dziga Vertov desenvolveu em 1918, na extinta União Soviética, uma
segunda vertente do gênero que, ao contrário da teoria flahertyana, pretendia captar as pessoas
na vida cotidiana sem interferências, de modo bastante espontâneo. Foi ele o fundador do
Cinema-Verdade, tradução da palavra russa Kono-Pravda. Vertov inovou o estilo de captação
das imagens, com o “cine-olho”, em que a câmera era o olho do mundo. Defendeu, a partir de
1920, a abolição da mise em scène dos atores, dos estúdios, para que o Cinema captasse a
vida de imprevistos, sem que as próprias pessoas filmadas se apercebessem da câmera.

Nas décadas de 30 e 40 a arte de filmar documentários atingiu seu auge na Inglaterra,


com o diretor escocês John Grierson, ao qual é creditado o uso do termo documentário. Foi
criador da Escola Britânica de Documentários, a primeira do tipo no mundo, e recebeu,
inclusive, suporte governamental para rodar filmes como: Song of Ceylon (1934), Housing
Problems (1935), e Night Mail (1936). O surgimento da gravação de sons simultaneamente à
de imagens passou, então, a revolucionar a área, possibilitando uma captação mais fiel da
realidade. Era a concretização do ideal de Vertov, passando o documentário a ter outras
denominações: Cinema Verdade ou Direto.

Quanto à classificação, pode-se dizer que os documentários são divididos em:


clássicos e modernos. Os primeiros são caracterizados por terem como referência os
ensinamentos da Escola Britânica de Grierson, baseadas em ilustrações e narrações

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construídas com finalidades, na maioria das vezes, institucionais. Em outras palavras,
constituem-se de imagens rigorosamente compostas, fusão de música e ruídos, montagem
rítmica e comentários em voz off despersonalizada. Já os últimos, presença hegemônica na
produção brasileira desde a década de 60, buscam uma interação com o público alvo, de modo
a lhes despertar o senso crítico e permitir interpretações variadas, de acordo com a realidade
de cada espectador.

Ainda, podem ser citados os modelos expositivos, que seguem a linha clássica de
Grierson, em que há um controle do conteúdo, mostrando-o sob determinado ponto de vista,
com fins meramente educativos; observacional, que se diferencia do expositivo pela ausência
de narrador, reconhecendo que a câmera deve passar despercebida pelos acontecimentos;
interativo, em que o autor dá o seu parecer sobre os temas retratados; e, finalmente, o
reflexivo, que possui intervenção ideológica do autor, podendo este participar ativamente do
filme. Segundo Sebastião Squirra, jornalista e mestre em comunicação pela Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), ainda há duas últimas
divisões dos documentários: de compilação, que se constitui basicamente de partes do acervo
de emissoras televisivas, museus e organismos governamentais; investigativo, que concentra
sua atenção em situações, como o do caso Watergate, possuindo um foco jornalístico; e, por
fim, cultural, que se centra no indivíduo, demandando grandes custos e, talvez por isso, seja
tão raro de se ver.

Portanto, o documentário constitui-se em documento histórico, representando a


realidade com certa parcialidade, inerente a qualquer expressão artística humana,
independente da interferência, direta ou não, do autor, sobre o andamento da narrativa.

2.3.2 Documentário no Brasil

Concebida junto com o cinema mudo brasileiro, a produção documentária constitui, a


partir desse panorama, uma atividade lucrativa que obtém dos picos de produção e depressão
do próprio cinema, uma estabilidade significativa como meio comunicativo e recreativo. Esse
domínio exclusivo do documentário sobre a produção cinematográfica brasileira durará até
1907.

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Por volta de 1895, seu provável início, os documentários simplesmente retratavam a
vaidade e o poder das distintas famílias burguesas que bancavam a produção das filmagens
em suas fazendas e empresas. Filmagens de visitas, viagens e chegadas de autoridades eram
também realizadas nesses registros visuais.

Durante esse início e até o período dos anos 30 e 40, além de retratar o
desenvolvimento das principais cidades e das regiões do país, o documentário mudo brasileiro
se destaca, em outras realizações, por estes importantes registros históricos: a Revolta dos
Marinheiros em novembro de 1910 no Rio de Janeiro, o fim da Primeira Guerra Mundial, a
Revolta do Forte de Copacabana em 1922, os confrontos sangrentos no Rio Grande do Sul em
1923, a Revolução Paulista de 1924, a Revolução de 1930 e o Movimento Constitucionalista
de 1932, além dos primeiros registros do Carnaval.

Com o advento do documentário sonoro, meado dos anos 30, políticas públicas de
incentivo, como o decreto de 1932 – que instaura a obrigatoriedade de exibição de curta-
metragem –, além da criação do Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE), consolidam
cada vez mais a realização dos documentários. Nesse novo cenário, surge com uma produção
significativa o documentarista Humberto Mauro. Com o Serviço de Informação getulista são
produzidos dezenas de curtas através do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e do
Ministério da Agricultura. Cresce também a produção da Cinédia que, aproveitando o decreto
de 1932, distribui diversos cinejornais e documentários. Porém, nos primeiros anos da década
de 40, a produção documentária do reduz-se bastante devido à guerra.

Nos anos 50, destaca-se a realização de documentários educativos, promocionais e


científicos, estes representados, por exemplo, pela fundação da Filmoteca Médico-Cirúrgica
Brasileira, com mais de 300 fitas. Outro fator de destaque ocorrente nesta década é a crescente
produção de documentários independentes.

A partir dos anos 60, com uma nova concepção cinematográfica brasileira, - Cinema
Novo – os conceitos do documentário estão estruturados e empregados nessa nova forma de
expressão. A geração cinemanovista introduz e mescla as técnicas do documentário às
técnicas decorrentes do cinema-verdade e, desta forma, também constitui um novo processo
na realização dos documentários, como explica Glauber Rocha:

18
“É em geral, um tipo de documentário em que se usa o som direto,
entrevistando pessoas, personagens, e recolhendo som da realidade,
fotografando de uma forma direta, procurando captar o maior realismo
possível. Daí a palavra verdade, ou seja, um tipo de documentário que
procura pelo som direto e pela imagem refletir uma verdade, uma realidade”.
(Gomes, 1997, p.161).

Nesta época, destacam-se os trabalhos do próprio Glauber Rocha em Amazonas,


Amazonas (1965), Maranhão 66 (1966), de Joaquim Pedro em Garrincha, alegria do povo
(1962) e de Paulo Gil Soares em A morte do boi (1969), entre outros.

Entre os anos 60-70, a produção documentária também passa pelo registro das
tradições populares, na procura de uma identidade nacional. Essa produção é praticamente
financiada pelo mecanismo da política cultural desenvolvida pelo MEC, através de seus
órgãos executores como: Funarte, Departamento de Assuntos Culturais e, principalmente,
Embrafilme.

Já nos anos 70, ainda influenciada pelo cinema verdade, a produção de documentários
adquire uma notória popularidade através da televisão. Tanto a TV Cultura quanto a TV
Globo buscam em seus noticiários um maior canal de comunicação com a população,
recorrem ao cinema verdade, agora, o “cinema de rua”, utilizam um microfone e uma câmera
na rua para estabelecer uma maior relação de aproximação com a população. Outro fato
importante é a criação, em 1973, da atuante Associação Brasileira de Documentaristas (ABD).

O passo adiante dado pelo gênero documentário é correspondente à fase democrática


dos anos 80. Nela é abordada uma nova forma de narrativa condensada e relacionada
principalmente em personagens políticas e personalidades históricas, um estudo a partir de
antigos documentários no desenvolvimento e na concepção de novos registros. Podemos citar:
Anos JK — uma trajetória política (1980), Jango (1984) de Sílvio Tendler; Jânio a 24
Quadros (1981) de Luiz Alberto Pereira; Jânio vinte anos depois (1980) de Sílvio Back.

Nos anos 90, após um longo período marcado pela falta de políticas governamentais e
pela grande crise econômica, caracterizadas principalmente no Governo Collor, tanto as
produções no documentário como no cinema atinge números reduzidos e de pouca expressão.
Porém, a partir de 1995, a produção cinematográfica é retomada e documentaristas como João

19
Moreira Salles, Ricardo Dias e Mônica Schmiedt, entre outros, marcam uma nova fase de
reestruturação e consolidação do documentário brasileiro.

2.4 Panorama do Cinema nacional na atualidade

Após a criação da Agência Nacional do Cinema (ANCINE) em 2001, a produção


cinematográfica no país recebeu grande incentivo por parte do Governo Federal. Sucessivos
projetos e leis foram criados com o objetivo de aumentar a produção de filmes no país. Com
essa prática, resultados foram alcançados e grandes sucessos de bilheteria produzidos deste
então. Alguns exemplos de filmes como Carandiru, Cidade de Deus, Lisbela e o Prisioneiro,
Dois filhos de Francisco, Vinicius, entre outros, fazem parte dessa nova fase do cinema
brasileiro.

Essa retomada da produção cinematográfica nacional já traz bons resultados. Em


dados coletados pela ANCINE, no ano de 2005, a produção de filmes no país gerou um lucro
de 77.535.817,50 de reais (ver Anexo II), sendo produzidos nesse período 42 filmes. Se
levarmos em consideração os dados anteriores a criação da ANCINE, vemos quão importante
é sua atuação. Como apresenta Gabriel O. Alvarez:

“Em 1991, oito filmes nacionais e 231 estrangeiros; no ano seguinte, foram lançados
oito filmes nacionais e 239 estrangeiros; em 1992 após o fechamento da Embrafilme,
foram produzidos apenas três filmes nacionais contra o lançamento de 237 filmes
estrangeiros; em 1993, quatro nacionais contra 234 filmes estrangeiros; em 1994, sete
filmes nacionais contra 216 estrangeiros; em 1995, com a retomada da produção, 12
filmes nacionais contra 222 estrangeiros; em 1997, 23 filmes nacionais contra 236
estrangeiros e em 1998, 22 filmes nacionais contra 184 estrangeiros”. (ÁLVAREZ,
2005, p.248).

Podemos observar que, no período citado, a produção de cinema no país sofreu sérios
problemas, mas uma retomada neste setor está presente após a criação da ANCINE, como
afirma Sidney Ferreira Leite:

“O cinema nacional vice uma nova fase. Nesse contexto, pode-se afirmar que
experimenta uma etapa peculiar no processo de retomada que teve início com as leis
de incentivo fiscal”. (LEITE, 2005, p.136).

20
A ANCINE não tem apenas como objetivo a promoção de filmes no país, mas também
outras atividades como:

• Ampliar e fortalecer os instrumentos reguladores da ANCINE para os


diferentes elos da cadeia produtiva cinematográfica e videofonográfica.

• Aplicar parâmetros econômicos na atividade cinematográfica e


videofonográfica brasileira.

• Promover o desenvolvimento da atividade cinematográfica e videofonográfica


brasileira com vistas à sua maior competitividade nos diferentes segmentos do
mercado.

• Ampliar o acesso do público às obras cinematográficas e videofonográficas


brasileiras.

• Estimular a presença das obras cinematográficas e videofonográficas


brasileiras nos diferentes segmentos de mercados mundiais.

Em entrevista com Caio e Fabiano Gullane, produtores de Bicho de Sete Cabeça,


Castelo Rá-Tim-Bum, Através da Janela, entre outros, é ressaltada a atuação da ANCINE, e a
criação de leis que promovem o cinema nacional:

“A Lei do audiovisual sofreu, desde a sua criação, inúmeros ajustes que a


aperfeiçoaram como instrumento de financiamento do nosso cinema. Ela é ainda
necessária, enquanto não forem solucionados os problemas de distribuição e exibição
que o nosso cinema ainda sofre. A ANCINE foi criada para ajudar a equacionar todos
esses problemas. As empresas que investem em cinema estão tendo um retorno
institucional surpreendente até para quem é do setor. Isso só as encorajam a investir
cada vez mais. Nosso cinema está cada vez mais profissional e isso permite que as
empresas planejem melhor seu "retorno de imagem" em cada projeto. Pelo menos é
isso que nos dizem nossos principais patrocinadores e parceiros”. (THE GULLANE...,
2006).

21
Entre os filmes-documentários, também produções de sucesso tiveram apoio e
investimentos oriundos de fontes governamentais, mesmo que grande parte dessas produções
ainda atravesse dificuldades para receber tal incentivo. Trabalhos como Janela da Alma, Surf
Adventures, Fala Tu, Doutores da Alegria estão entre as produções nacionais mais vistas nos
últimos anos e são frutos desta nova política.

Entretanto, mesmo com o incentivo oferecido pelo governo federal, os produtores de


cinema no Brasil enfrentam alguns problemas. Problemas que se dividem em dois: o pequeno
número de salas de exibição para filmes nacionais e o tempo de exibição dos filmes nos
circuitos versus a vantagem das distribuidoras na transformação para o formato DVD.

Como apresentado pela produtora Mara Mourão, o acesso aos filmes brasileiros sofre
uma grande concorrência com os filmes internacionais (ver Apêndice IX, item 9). Muitas
salas de cinema estão reservadas para exibição de filmes internacionais que trazem receitas –
lucros – às grandes empresas que controlam a exibição de filmes no país.

Outro problema acontece com o tempo de permanência de filmes brasileiros nos


circuitos de exibição. Problema que surge com a popularização do sistema de vídeo em
formato DVD. O tempo mínimo estabelecido para a transformação de um filme em DVD, de
acordo com a ANCINE, é de seis meses. Contudo, essa regra foi quebrada por títulos como
Dois Filhos de Francisco. Viu-se, pela empresa produtora, que a transformação deste filme
para o formato DVD traria um lucro até maior que o arrecadado com sua exibição nas salas de
cinema.

Portanto, o cinema nacional está sofrendo um processo de incentivo por parte de


políticas governamentais. Contudo, ainda os produtores esbarram em problemas como os
apresentados acima. Muito que há o quê se fazer para que o cinema nacional alcance um
maior espaço entre a população brasileira.

22
3 O PROCESSO CINEMATOGRÁFICO

Atrelada aos avanços tecnológicos, a produção de filmes sofreu inúmeras alterações


durante sua evolução histórica. As novas tecnologias proporcionaram a criação de películas de
melhor qualidade, mais fáceis de manusear, com câmeras digitais que tornaram o processo de
filmagem mais dinâmico e barato. Além disso, o trabalho dos profissionais envolvidos com o
cinema também sofreu mudanças com a evolução tecnológica.

3.1 Transformações no trabalho dos profissionais de Cinema

3.1.1 Os pioneiros

Indícios históricos e arqueológicos comprovam que é antiga a preocupação do homem


com o registro do movimento. O desenho e a pintura foram as primeiras formas de representar
a dinamicidade da vida humana e da natureza uma vez que, tinham e ainda têm, o poder de
produzir narrativas por meio de figuras. Em algumas cavernas de Altamira na Espanha foram
encontrados desenhos com mais de 12 mil anos nas quais bisões apresentam oito patas; uma
tentativa clara de seus autores de decompor o movimento desses animais.

O jogo de sombras do teatro de marionetes oriental surge na China, por volta de 5.000
a.C., e é considerado um dos mais remotos precursores do cinema, uma vez que figuras
humanas, animais ou objetos recortados e manipulados são projetados sobre paredes ou telas
de linho, enquanto o operador narra a ação, que quase sempre envolve príncipes, guerreiros e
dragões. Posteriormente, surgiram a câmara escura e a lanterna mágica, bases da ciência
óptica e que tornaram possível a realidade cinematográfica. A Câmara escura é uma caixa
fechada, com um pequeno orifício coberto por uma lente; através dele penetram e se cruzam
os raios refletidos pelos objetos exteriores. A imagem invertida é projetada na face do fundo,
no interior da caixa. A Lanterna mágica, por sua vez, baseia-se no processo inverso da
câmara escura. É composta por uma caixa cilíndrica iluminada à vela, que projeta as imagens
desenhadas em uma lâmina de vidro.

23
Mas, para que o cinema surgisse como é hoje, não bastava saber projetar imagens
sobre um retângulo de pano branco ou sobre o fundo de uma caixa escura. Era necessário
também que as imagens fossem animadas e não imóveis como as das lanternas mágicas. Para
animar essas imagens, precisava-se não somente ter inventado a fotografia, mas ainda realizar
instantâneos e multiplicar tais imagens sobre uma fita transparente, maleável e perfurada, que
mais tarde recebeu o nome de filme.

O cinema não surgiu, portanto, da noite para o dia no cérebro de um inventor genial.
Foi necessário para que nascesse, acumular o trabalho de centenas de investigadores e
curiosos em numerosos países, durante mais de meio século.

A Mesa Posta, primeira fotografia de Niepce, feita por volta de 1823, exigira 14 horas de
pose. Os primeiros objetos utilizados foram naturezas mortas ou paisagens, pois o tempo de
pose necessária em 1839 ainda ultrapassava meia hora. Depois de 1840, esse tempo reduziu-
se para 20 minutos, obtendo-se então os primeiros retratos de modelos maquiados, imóveis e
transpirando ao sol intenso. Logo, bastavam apenas um ou dois minutos. Foi preciso esperar
até 1851, quando surgiu o processo que empregava colódio úmido, para que a fotografia
contasse com clichês de vidro, dos quais se permitia fazer muitas cópias em papel. Com o
tempo de pose reduzido há alguns segundos, surgiu uma nova profissão: o fotógrafo.

Em 1872, um milionário americano fez uma aposta. Ele garantia que, quando o cavalo
galopa, há um momento em que este fica com as quatro patas no ar. O fotógrafo inglês
Muybridge decidiu fazer a demonstração. Colocou lado a lado 24 câmeras fotográficas presas
por fios que, ao serem tocados pelas patas do cavalo, acionavam as máquinas tirando 24 fotos
que registraram todos os movimentos do galope. Ele provou assim que, de fato, há um
momento em que as quatro patas não tocam o chão. Sem o saber, acabou dando um passo
fundamental para o nascimento do cinema.

Marey, um fisiologista francês que estudava os movimentos dos homens e dos


animais, dispôs-se pelos trabalhos de Muybridge e utilizou daí em diante a fotografia em suas
pesquisas. A tarefa se facilitou porque a fotografia inaugurara, depois de 1880, uma nova era
técnica, a do gelatino-brometo de prata que agilizou o processo de captação de imagens. Em

24
1882, Marey passou a utilizar as chapas de gelatino-brometo em seu Fuzil Fotográfico
(inspirado no Revólver Fotográfico criado pelo astrônomo Janssen em 1876) e em seguida em
seu cronofotógrafo. Seis anos mais tarde, consegue adaptar neste último aparelho os rolos de
películas Kodak, que haviam sido lançados recentemente no comércio, criando, assim, o
primeiro aparelho de filmagem.

Em 1889, Thomas Edison aproveitando os trabalhos de Marey e utilizando as


películas de celulóide fabricadas pelas usinas Eastman-Kodak, conseguiu resultados
importantes que o levaram a conceber o filme padrão perfurado de 35mm, ainda hoje de uso
universal. Em 1894, Edison põe à venda o Quinetoscópio, que é considerado o primeiro
produto da história cinematográfica, consistindo em uma caixa na qual o espectador vê
diretamente as imagens das fitas, ampliadas por intermédio de uma lupa, contendo um filme
quase igual ao filme moderno. Por toda parte, procura-se projetar para o público tais fitas na
tela, e os primeiros êxitos ocorrem nos Estados Unidos, Alemanha e França. Foi na França, na
época em que os pintores impressionistas decompõem o movimento e a luz, que nasceu o
cinematógrafo.

Auguste Lumière (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948) nascem em Besançon,


na França. Filhos de um fotógrafo e proprietário de indústria de filmes e papéis fotográficos,
eram praticamente desconhecidos no campo das pesquisas fotográficas até 1890. Após
freqüentarem a escola técnica, realizam uma série de estudos sobre os processos fotográficos,
na fábrica do pai, até chegarem ao cinematógrafo.

A primeira apresentação do Cinematógrafo Lumière no subsolo do Grand Café, em


Paris, marcou a estréia de uma arte e de uma indústria, que na maior parte dos países, acabou
incorporando a abreviatura do nome do aparelho francês: Cinema.

Os filmes dos irmãos Lumière eram de curta duração (um minuto) e não contavam uma
história. Apenas registravam cenas da vida cotidiana: a chegada de um trem na estação, a
saída de operários da fábrica, a queda de um muro, um bebê sendo alimentado, etc.

25
Para os irmãos Lumière, o cinematógrafo era apenas "uma invenção sem futuro", mas
sua apresentação pública marca oficialmente o início da história do cinema.

No começo, o filme era mudo. Não tinha som. Colocavam um pianista no palco para
tocar, dando mais emoção às cenas. O gênio do cinema silencioso foi o inglês Charles
Chaplin, que criou o inolvidável personagem de Carlitos, mescla de humor, poesia, ternura e
crítica social.

Em 1927, o cinema falado causou grandes modificações na linguagem do cinema, e


também alguns problemas: disfarçar o ruído do motor da câmera, afastar alguns atores cujas
vozes eram muito finas (o que, invariavelmente, causava riso no público), etc.

O advento do som, nos Estados Unidos, revolucionou a produção cinematográfica


mundial. Os anos 30 trouxeram a consolidação de grandes estúdios e consagram astros e
estrelas em Hollywood. Os gêneros de filmes diversificam-se e multiplicam-se. Além disso, o
musical acaba ganhando destaque. A adesão de quase todas as produtoras ao novo sistema
abala convicções, causa a não adaptação de atores, roteiristas e diretores e reformula os
fundamentos da linguagem cinematográfica. Diretores como Charles Chaplin e René Clair
estão entre os que resistem à novidade, mas acabam aderindo.

Assim, como inicialmente os filmes não tinham som, eles também só eram filmados a
luz do dia. Os recursos do claro e escuro com a luz artificial são descobertos depois.

3.1.2 Etapas de produção e novas tecnologias

Segundo Andrucha Waddington, diretor que trabalhou nas filmagens de “Eu, Tu,
Eles”, dirigir um filme é:
“Uma tarefa árdua, pois ele é constituído por várias etapas, começando na
construção de um roteiro, captação de recursos, filmagem, montagem, pós-produção
de som e imagem e a tarefa mais difícil de todas é o lançamento, onde o filme passa
a pertencer ao público”. (CHAT..., 2006).

26
A primeira etapa de produção de uma película é o roteiro – história escrita na língua
do cinema, com todos os seus termos técnicos – e nele devem estar indicados todos os planos,
pontos de vista, enquadramentos, movimentos de câmera, diálogos, ruídos, elementos do
cenário e figurinos, entre outros. O roteiro de um filme muitas vezes é acompanhado de
desenhos que indicam como devem ser os planos, o que facilita sua interpretação correta.

Selecionado o tema, pessoal técnico e artístico pelos produtores e obtido o


financiamento, inicia-se a filmagem, orientada pelo diretor, considerado o autor da obra.

Depois de tudo filmado, ainda há muito trabalho para fazer. Começa a fase da
montagem que é o que imprime o ritmo do filme. Depois da filmagem, onde as cenas são
repetidas várias vezes, o filme é revelado. O montador seleciona os planos melhores, faz os
cortes, colagens e, com recursos técnicos de laboratório, as superposições e trucagens que dão
como resultado efeitos especiais. Antes de filmar cada plano, usa-se a claquete e baseando-se
em suas numerações é que o montador organiza a montagem.

Após a montagem, o montador ou editor tem a tarefa de inserir no filme os diálogos,


ruídos e música, gravados antes, durante ou após as tomadas de imagem. O processo de
acabamento final se chama mixagem, combinação dos processos de gravação que confere ao
filme equalização e sincronização audiovisual (imagem e som). Para a comercialização dos
filmes em idiomas estrangeiros, nos países que não utilizam letreiros sobrepostos ou legendas,
é necessária a dublagem, que substitui as vozes originais por diálogos gravados por
dubladores.

Pronto o negativo do filme, este é multicopiado e comercializado por uma companhia


distribuidora que pode pertencer ao mesmo grupo da produtora ou dedicar-se exclusivamente
à distribuição. Ela se encarrega de alugar o produto a diversas salas de exibição,
acompanhado de material publicitário, repartindo-se as rendas entre produtor, distribuidor e
exibidor, segundo conveniências e normas comerciais que variam de país a país.

27
Com as tecnologias digitais, observa-se que muitas mudanças ocorreram no trabalho
dos profissionais de cinema. A moviola, máquina na qual são organizadas, selecionadas,
emendadas e avaliadas as cenas e seqüências dos filmes, formando inicialmente o copião e,
depois, a montagem final, dificilmente é usada atualmente, conforme explica Bruno Freitas:

“Hoje em dia este processo está obsoleto, e por isso todos os que filmam em
película, seja em 16 ou 35mm, telecinam seu material para digital, a fim de editarem
em ilhas digitais não-lineares. Depois do filme editado, eles levam a marcação do
negativo para o laboratório, onde este é cortado e emendado de acordo com a edição
feita digitalmente. Depois da emenda, o filme é copiado e tem sua primeira cópia
pronta para ser exibida nos cinemas”. (TÉCNICA..., 2006).

Na edição digital, o processo é um pouco diferente: depois de filmar, ou gravar, o


cineasta pode ir direto para a ilha digital e editar seu filme. Com o filme pronto, basta enviar
para os laboratórios especializados e fazer sua cópia em película 16 ou 35mm. Este processo é
chamado de transfer, kinescopagem ou ampliação. A imagem não é a mesma de um filme
realizado em película, já que os grãos da película dificilmente são reproduzidos, mas o gasto é
infinitamente menor.

A vantagem do sistema digital está em transformar a imagem em sinal eletrônico,


diferente do cinema em película, que sensibiliza o filme virgem. O processo de revelar,
telecinar, criar efeitos especiais e editar em película torna o cinema caro demais, dificultando
a produção de filmes independentes. O cinema digital reduz custos e tem tudo para provocar
uma disparada de produções que mostrem novos diretores, como afirma a produtora Mara
Mourão que produziu o documentário Doutores da Alegria:

“No âmbito técnico houve grandes mudanças com a chegada das câmeras digitais,
que baratearam os custos tornando a produção de cinema mais acessível”. (ver
Apêndice IX).

Portanto, podemos observar que as novas tecnologias proporcionaram alterações no


trabalho dos profissionais da sétima arte. Os recursos disponíveis para a produção de filmes
são infinitamente maiores do que os utilizados nas décadas passadas. Atreladas a esse motivo,
estão as questões que envolvem os custos de produção, barateados com a inserção desses
equipamentos. Necessita-se cada vez menos de pessoas e grandes máquinas para a produção
de um filme, no entanto, depende-se cada vez mais das novas tecnologias existentes no
mercado.

28
4 ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO SELECIONADO: FALA TU

4.1 Análise da linguagem e fotografia

4.1.1 Técnica, Produção e Considerações

O documentário selecionado para a análise foi “Fala Tu”. Filmado durante nove meses
– entre 2002 e 2003 – e lançado em 2004, tem a direção de Guilherme Coelho e o roteiro de
Nathaniel Leclery, ambos criadores da produtora A Matizar, no ano de 2002. A produção foi
feita por Nathaniel Leclery – pela A Matizar e pela VideoFilmes – e Érika Safira, Alberto
Bellezia Neto foi responsável pela fotografia, e a edição foi realizada por Márcia Watzl.

O filme tem a duração de 74 minutos e foi captado em formato DV Cam e ampliado


para 35mm, o que criou uma melhor adaptação para as telas do cinema.

A equipe acompanhou o dia a dia de três moradores da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Com poucos integrantes e profissionais, Guilherme Coelho e Nathaniel Leclery entraram em
um contato muito próximo com tais pessoas, no qual a câmera os acompanhava diariamente.

Em entrevista ao website Cineweb, Nathaniel Leclery discorre sobre o processo de


idealização, escolha do tema e das pessoas a serem filmadas, sobre a produção do
documentário. Fala também sobre o modo de aceitação do filme e sobre como as pessoas
interpretaram o cotidiano das três personagens (ver Anexo I).

O documentário é um relato da vida real. Como Nathaniel Leclery afirma na


entrevista, até mesmo o modo como encarariam o rap nas filmagens mudou, passando da
vontade de apenas mostrar o rap na vida de um grande número de pessoas – as influências,
entre outros – à filmagem íntima do cotidiano de três cariocas, evidenciando os problemas, os
dramas, as felicidades e as dificuldades na música de cada um.

O cenário marcante é o ambiente de vida da população carioca sem melhores


condições de sobrevivência. É o ambiente da favela, de bairros mais pobres, de trabalho ilegal
ou mesmo informal. As três pessoas escolhidas para a filmagem são conseqüência de tal

29
cenário, cujos trabalhos são informais ou mesmo ilegais, são realizados na busca pela
sobrevivência ou para o sustento familiar – condição comum brasileira.

Paradoxalmente, o que é mostrado no documentário – sobrepondo toda a miséria em


evidência – são os sonhos e os ideais de cada um dos três personagens filmados. O rap é uma
forma de “válvula de escape”, de forma de transformação e mudança das condições de
sofrimento dos que moram em lugares parecidos e têm vidas semelhantes às deles. Apesar de
os três já haverem entrado em contato com a música, terem feito shows e disseminado suas
criações por determinadas partes do Rio de Janeiro, não podem encarar o rap como forma de
sobrevivência. Possuem outros empregos, moram em lugares perigosos e ainda sofrem
discriminação por parte de outras camadas sociais – mesmo que não entrem com freqüência
em contato com elas.

O documentário dá a entender que o sonho é necessário para continuar em frente com


a necessidade de sobrevivência. O rap é a solução e a razão de realização e felicidade de cada
um dos três participantes das filmagens. Para Macarrão, uma das três personagens, o rap é
uma representação do cotidiano (ver Apêndice VIII, item 3).

Há, também, a preocupação de mostrar para a sociedade, através do rap, as condições


de quem mora na favela. Mas o maior objetivo do rap cantado no documentário é passar força
de vontade para quem vive nas mesmas condições que eles. Tal assunto passará por uma
análise mais adiante no trabalho.

Entre os personagens na tela e o espectador, não surge um abismo provocado por uma
miséria exacerbada. Fala Tu traz protagonistas que refletem com lucidez a situação em que
vivem e discorrem de forma articulada sobre as saídas que têm ou deixam de ter. Longe de
qualquer otimismo raso, o documentário tampouco omite a dor nas biografias ou as enormes
dificuldades no percurso dos retratados. A câmera, afinal, está ali para mostrar exatamente
isso. O caráter sui generis do documentário está em não excluir, por princípio, aqueles que
escolhe colocar na tela. Em não expor a miséria alheia para o olhar curioso do “outro”, mas
expor esse “outro” como alguém que poderia ser o próprio espectador.

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O diretor Guilherme Coelho resume o que foi produzir tal documentário:

“Fala Tu, documentário que eu tive privilégio de construir junto com o Nathaniel
Leclery, foi a aventura da minha vida. Aliás, continua sendo, pois essas coisas que a
gente faz acabam criando vida própria, saindo por aí sem que a gente possa fazer
nada. É um filme-crônica, pelo menos é o que nós queremos pensar que é. Através do
hip-hop tentamos esboçar uma certa crônica da cidade do Rio de Janeiro neste
começo de século. Zona Norte, nossa escolha. Um filme sobre pessoas comuns que
sonham em não ser pessoas comuns. E conseguem isso através da música. Nós somos
do tamanho dos nossos sonhos. E isso que Combatente, uma das personagens do
nosso filme, quer nos mostrar. Esse foi o filme de minha vida por ter proporcionado
um maravilhoso encontro com a nossa cidade partida (ou, talvez, perdida). Um filme
com o qual eu me identifico, apesar de ser um "intruso" no meio. Um filme com o
qual acredito todos possam se identificar, em qualquer lugar deste urgente país.
Quem não sonha, e quem não quer chegar lá”. (GUILHERME..., 2006).

4.1.2 O enredo, as personagens e o cotidiano

Trata-se de um acompanhamento do cotidiano de três moradores da Zona Norte


carioca que têm em comum a paixão pelo rap.

• Macarrão tem 34 anos e é apontador do jogo do bicho. Morador do Morro do


Zinco, vive com duas filhas e com sua mulher.

• Toghum, 32 anos, tem como característica o modo de vida budista. É rapper do


Morro do Cavalcante – sendo um dos pioneiros do movimento rap no Rio de
Janeiro –, mas ganha a vida vendendo artigos esotéricos.

• Combatente, com 21 anos, é moradora de Vigário Geral e adepta à Igreja do


Santo Daime. Trabalha como operadora de telemarketing e vive com sua mãe,
avó, duas tias e um sobrinho.

Durante os nove meses de filmagem, a equipe acompanhou o dia a dia dessas três
pessoas, o crescimento dos seus sonhos e suas transformações. Há um contato entre o
telespectador e as pessoas que têm suas vidas mostradas através da tela do cinema, não surge
um abismo pela miséria exarcebada que é mostrada sem cortes no filme. Os dramas e
situações problemáticas dos moradores da Zona Norte do Rio de Janeiro não são mascarados,

31
evidenciando a verdadeira face do cotidiano de pessoas que estão em busca pela
sobrevivência.

O documentário mostra a favela, a vida difícil e o sonho do rap. Mostra, também, que
cada um deles possui um trabalho para que possa haver um sustento melhor que a iniciação na
carreira da música poderia dar. Apesar disso, nenhum deles deixa de cantar e fazer do rap uma
música que alastra um sentimento de transformação e bem estar para quem o escuta.

Macarrão é o único dos três que possui um emprego ilegal, pois o jogo do bicho é
condenado pela constituição brasileira. Ele trabalha como apontador durante o dia, sentado
em um banco na calçada. Discussões com sua mulher sobre condições financeiras e o perigo
de morar no Morro do Zinco são comuns (ver Apêndice VIII, item 5).

A fala de Macarrão denota, claramente, a necessidade de trabalhar para sobreviver.


Realidade comum a muitos brasileiros, é uma das conseqüências da alta competitividade do
mercado, na qual ganha quem tem maior grau de instrução, ou mesmo quem possui maior
quantidade de contatos. O documentário evidencia tal condição, mostrada, neste caso, pelo
trabalho ilegal de apontador de jogo do bicho.

Já Toghum é representante do trabalho informal, como vendedor de porta em porta de


artigos esotéricos. É também um tipo de atividade recorrente no país, assim como o trabalho
ilegal.

Combatente é a única dos três que possui um trabalho formal, como atendente de
telemarketing. É, também, a única que desiste do emprego para seguir a carreira musical
como rapper (ver Apêndice VIII, item 5).

4.1.3 A música

O principal tema do documentário é o rap. Na maioria das vezes, como alternativa,


salvação. No caso de Macarrão, é visto como mensagem de força para a sociedade da Zona
Norte, sociedade mais pobre (ver Apêndice VIII, item 3).

32
O rap feito por Toghum segue a mesma linha que o feito por Macarrão, como
mensagem de força, porém, mais voltado para a tentativa de mudança de vida, na busca por
melhores condições de sobrevivência. Para ele, a música também é um caminho alternativo
(ver Apêndice VIII, item 5).

Toghum teve uma infância sofrida, com um pai ausente. Reencontraram-se muitos
anos depois, quando seu pai trabalhava como cobrador de ônibus. Desde então, Toghum cuida
do pai, que adoeceu de câncer. A reconciliação deu-se, em boa parte, através da música, sendo
que seu pai era sambista.

Cantar tornou-se possível para Toghum devido à oportunidade dada por terceiros, o
que é considerado raro por tantos artistas brasileiros, principalmente os de classe mais pobre
(ver Apêndice VIII, item 3).

No caso de Combatente, o rap é prioridade maior. Torna-se motivo para se demitir do


emprego de operadora de telemarketing e seguir mais a sério com a banda de rap As
Negativas.

Entretanto, ela possui trabalhos paralelos, como cantar em uma rádio comunitária,
alastrando seu principal ideal na música, que é dar forças a comunidades mais carentes e
evidenciar a verdadeira face da criminalidade (ver Apêndice VIII, item 3).

4.1.4 A Linguagem

O tema não é discutido durante o documentário, mas é claramente evidenciado nas


falas de cada pessoa mostrada nas filmagens. Por ser um relato do cotidiano de moradores da
Zona Norte carioca, a linguagem torna-se uma característica própria e delatora de tal classe
social.

33
Trata-se de uma linguagem simples, que designa pessoas que não tiveram total acesso
a uma educação escolar de qualidade. O falar coloquial é marcante, repleto de gírias e
expressões características. Erros gramaticais também são comuns, devido ao já citado pouco
acesso à educação escolar. Cabe, agora, analisar o modo de falar de cada um dos participantes
do documentário.

Macarrão, por ser apontador do jogo do bicho, possui uma linguagem mais rápida e
coloquial, aproximando-o de seus clientes. O falar rápido denota, também, o medo por prática
de um trabalho ilegal, de apreensão por parte de fiscalizadores (ver Apêndice VIII, item 1).

Toghum, assim como Macarrão, utiliza uma linguagem para uma maior proximidade
com seus clientes – por ser comerciante itinerante. Por ser um vendedor que vai à porta
vender seus artigos, Toghum necessita ser persuasivo, o que é notado em seu modo de falar e
atender os compradores. Entretanto, o vocabulário ainda é restrito e há muitas marcas de
coloquialidade (ver Apêndice VIII, item 1).

Já em Combatente, duas formas de falar são facilmente perceptíveis. Uma delas, a


utilizada enquanto trabalha como atendente de telemarketing, é fortemente marcada pelo uso
do gerúndio e por todas as características de fala de tal ocupação, como o uso da palavra
“certo”, em concordância com a necessidade de continuidade do atendimento e com seus
interlocutores. A outra, que é utilizada em seu cotidiano, é marcada pela coloquialidade assim
como a dos outros dois integrantes do documentário e pelo uso intenso de gírias (ver
Apêndice VIII, item 1).

Pela análise das linguagens das personagens do documentário, evidencia-se uma


situação existente na realidade de muitos brasileiros. O pouco nível de ensino ainda grassa no
país e o filme demonstra isso. As pessoas que compõe o ambiente de filmagem fazem parte da
já citada realidade de tantos brasileiros. A linguagem coloquial composta pelo falar
característico da população moradora da Zona Norte denota fala de uma determinada classe
social.

34
No questionário realizado pelo grupo responsável por este Trabalho de Conclusão de
Curso no período do mês de junho de 2006, na cidade de São Paulo, foi avaliada a questão
sociolingüística. Em análise comparativa das entrevistas com o documentário, fez-se um traço
das características lingüísticas das cinco classes econômicas que existem no Brasil.

Quanto à classe A:

Apesar das perguntas estarem escritas na 3ª pessoa, mostrando impessoalidade, alguns


entrevistados as compreendiam como sendo dirigidas à sua situação de trabalho.Exemplo:

Entrevistador: “Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização


profissional?”.
1. Maria Adelaide: “Ahhh... Dá! Dá!”.

• Percebe-se maior incidência de satisfação dos entrevistados com suas profissões.

• Os entrevistados vislumbram maiores possibilidades de mudança na sua área de


atuação frente a insatisfações quanto ao seu trabalho ou de outras pessoas. Já no
documentário, os protagonistas tentam reacender esperança de um futuro melhor
para os residentes da “comunidade”.

• Entrevistados mostraram segurança na compreensão das perguntas, apesar de,


algumas vezes, entenderem-nas como assertivas (afirmativas) ou falarem muito e
não responderem o ponto real do questionamento.

• Entrevistados da classe “A” costumam dar como exemplo suas experiências


pessoais ou contextualizar conforme a realidade do entrevistador. Exemplo:

1. Maria Adelaide: “(...) o que você faz, e o que é bem feito, por exemplo, vocês
tão fazendo um trabalho de pesquisa, vocês devem ficar: ai, que saco! Ainda falta,
num tem gente que me aceita, que num quer isso, num sei o quê!”.
2. Flávio: “Então, eu faço parte de uma minoria, como vocês também tão na,
faculdade”.

35
• Possuem uma idéia de que na vida está-se sempre pensando no aprimoramento.
Exemplo:

1. Maria Adelaide: “Cada vez você se exige mais e consegue melhor, entendeu?
Melhorar sempre as coisas”.

2. Flávio: “(...) acho que se você faz o que gosta, já é um passo... bom passo pra isso,
né? Você tem novas idéias, você... até pensa em fazer melhor (...)”.

• Entrevistados raramente apresentam erro de concordância verbal ou nominal.


Exemplo:

Flávio: “(...) profissões... que estejam na mídia (...)”.

Isso mostra o domínio da linguagem graficamente correta pela classe mais abastada,
contrastando com o povo que mora nos morros, mostrado pelo documentário.

Homem 2: “É 5 real”

• Presença de anacolutos (termo solto na frase, quebrando a estruturação lógica.


Normalmente, inicia-se uma determinada construção sintática e depois se opta por
outra). Exemplo:

1. Maria Adelaide: “Sabe que nesse trabalho, assim, bacana!”.

2. Flávio: “(...), mas é... deve ser terrível”.

• Não há predominância entre frases longas ou curtas.

1. Uso de períodos curtos e objetivos. Exemplo:


Maria Adelaide: “Mas eu não sei se é isso que dá dinheiro”.

36
2. Uso de períodos longos, com uso de conectivos. Exemplo:
Flávio: “Eu sei disso porque eu conheço algumas pessoas que... trabalham, até
comigo, que estão insatisfeitas e atrapalham o ambiente profissional e isso não é
legal...”.

• Uso raro de gírias por parte dos entrevistados, diferindo sensivelmente do


documentário:

1. Macarrão: “Dá frente, dá frente”.

2. Toghum: “(...) eu sou representante de uns produtos “ aí”.”

Apesar disso, Combatente aparece usando uma linguagem mais culta, aprendida em
razão da profissão que exerce e o tipo de público com o qual lida:

1. Combatente: “Alô, boa tarde. Por gentileza o senhor Márcio Valério?”.

2. Combatente: “Reside sozinha, senhora Maria?”.

• Uso freqüente de termos para manter a comunicação, como “né?”, “entendeu?”.


Exemplo:

1. Maria Adelaide: “(...) se exige mais e consegue melhor, entendeu?”.

2. Maria Adelaide: “(...) já faz uns 15 anos que eu trabalho com isso e eu gosto,
entendeu?”.

3. Flávio“(...) ter vontade de trabalhar, né?”.

Estas palavras são usadas pela população como um todo, não constituindo elemento
diferencial entre as classes. Isso se percebe também no documentário, em que outras
expressões aparecem, como “tá ligado?”, “certo?”:

4. Primeira Mulher: “Hoje deu peru, né?”.


37
Macarrão: “Oi?”.
Primeira Mulher: “Deu peru né?”.
Macarrão: “Deu”

5. Macarrão: “(...) o tema que ninguém quer escutar, tá ligado? (...)”.

6. Toghum: “fazê jus a toda minha criação, entendeu?”.

7. Macarrão: “num é também querê sê derrotista, certo?”.

• Regionalismo (provavelmente nordeste): “T” pronunciado isoladamente e “R”


arrastado. Exemplo:

1. Flávio: “(...) na mídia, tipo... as... esportistas, famosos (...)”.

No documentário também está presente, nas falas do carioca => Som de “S” arrastado:

2. Vendedora: “Ta, gostei. Mas no momento não quero encomendar”.

• Supressão de letras, como o “r” no fim de verbos ou de uma consoante no encontro de


duas, ou, ainda, a abreviação de está para “tá”. Exemplo:

1. Flávio: “(...) mudá a sua situação de trabalho (...)” (Flavio).

2. Macarrão: “É esse memo 77”.

3. Flávio: “(...) se você gosta daquilo que você tá fazendo (...)”.

Outros verbos também são freqüentemente suprimidos no documentário:

4. Macarrão: “Se eu pudé vencê de alguma forma eu vô, parcero, vô agarrá e vô


vencê, parcero”.

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• Uso mais freqüente de palavrões pela classe baixa, mostrada no documentário, e
inexistente nas entrevistas da classe A:

1. Macarrão: “Certo, porra! Tu quer mais vitória di que isso? Porra, parceiro!”

2. Toghum: “Muitos perceberam que... Caramba!”.

Contudo, percebe-se que a conotação altamente negativa é um pouco aliviada pelo


contexto em que estas palavras são empregadas.

Quanto à classe B:

Considerando a situação do discurso dos entrevistados, de uma entrevista mais


informal, feita por universitários jovens, o nível de respeito à norma culta da língua pode ser
caracterizado como bom. De um modo geral, percebe-se, no entanto, que há uma falta de
compreensão das perguntas e uma fuga constante do foco central da pesquisa. O que reforça a
crítica de que os brasileiros são analfabetos funcionais, sabendo ler, mas não interpretar os
textos.

• Exemplo:

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?

1. Railete: O meu trabalho eu adoro. Adoro meu trabalho.

Outro aspecto muito notado no discurso dessa classe foi o uso da interjeição “né”,
contração do adjunto de negação “nunca” com o verbo “ser”. Isso revela a preocupação por
parte do entrevistado com a qualidade de suas respostas.

2. Socorro: Satisfação no trabalho é você... Quem faz o patrão é você e quem faz você
é o patrão, né? Então, ter gosto e vontade de trabalhar e tudo se resolve.
39
Além disso, há uma falta de planejamento de discurso que resulta constantemente em
frases inacabadas, sem sentido ou retomadas de forma errônea que danifica o entendimento do
discurso. Porém, como dito anteriormente, os discursos coletados são de linguagem
despreocupada e informal, ou seja, tolerante a erros.

3. Railete: Ah, eu acho, assim, nem todo mundo faz o que gosta, né? Faz o que... Faz o
que precisa. Mas independente disso, o tem que dar o melhor”.

4. Socorro: Que que eu penso sobre isso? Que não tem vontade de trabalhar.Trabalho
não é peso. Se você tem coragem você trabalha

Quanto à classe C:

• Falta de nexo entre as frases; dificuldade de dar continuidade á uma mesma idéia.
Exemplo:

1. Júllio: “Ai meu Deus... Acaba sendo um peso? Ah, mas, trabalhar naquilo que
gosta, né? Tem que trabalhar naquilo que tem amor, que gosta, que a pessoa gosta de
trabalhar, né? Tem quer ser um... Não serviço pesado, né? Depende dá pessoa. Não
ser um serviço pesado. Depende, né? Depende do serviço”.

A falta de conexão no discurso também ocorre em Fala Tu. Exemplo:

2. Toghum: “Então... cara, mas se eu tive lucidez suficiente pra buscá cultura, pra buscá
entendê diferença social, pra buscá entendê... se eu já nasci excluído, se eu não me
direcioná pra sai dessa camada de excluído, nem que seja 10%, entendeu?”.

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• Dificuldade de compreensão sobre o que foi perguntado. Exemplo:

1. Fernanda: “Ah, eu acho que a área da saúde, que eu acho que é uma área que
nunca vai... Sempre vai precisar de profissionais. Eu acho que executivo...”.

2. Júllio: “Reconhecimento? É... A profissão do metalúrgico, né? Metalúrgico. Lula.


Lula foi metalúrgico, né? Lula. Eu vou votar no Lula, né? Eu sou Lula”.

• Repetição de palavras (“né”); vocabulário pouco extenso. Exemplo:

1. Fernanda: “Ah, eu acho que hoje em dia as pessoas não tem muita alternativa, né?
Tem que trabalhar. E muitas vezes elas trabalham no que elas não gostam, mas
precisam do dinheiro”.

2. Fernanda: “Ah, é me sentir realizada no que eu escolhi, né?”.

3. Júllio: “Manter a minha vida, né? Um salário esperto, né? De acordo com o que eu
gasto, né? É isso aí”.

Além da repetição do “né”, no documentário também podemos notar a freqüente


repetição de expressões. Exemplo:

4. Macarrão: “Gostá eu num gosto não. Escravização, né?”.

5. Toghum: Eu vou continuar fazendo, mais eu preciso duma renda, preciso duma
renda, num dá pra ficá desempregado.

6. Macarrão: “Se eu pudé vencê de alguma forma eu vô, parcero, vô agarrá e vô


vencê, parcero”.

41
• Falta de concordância (“as duas profissão”). Exemplo:

1. Júlio: “Realização profissional? Aí eu não to entendendo. Raciocinar. Você olha


para as duas coisas, né? Tem uma hora adequada para as duas coisas, né? Tem
uma hora adequada para os dois serviços. Para as duas profissão”.

A falta de concordância é freqüente na fala e também no canto dos “personagens” do


documentário. Exemplo:

2. Macarrão: “Agora não, que agora ta bom, mar já passei várias vergonha ali...”

3. Toghum: “Nessa dura vida existe dois caminhos: um é dourado, sim, o outro,
cheio de espinhos”.

• Uso de palavras características de uma faixa etária ou grupo social. Exemplo:

1. Fernanda: “Ah, acho que, tipo, começar de novo, eu acho”.

2. Macarrão: “Num tem como, se é a música que fala em favor de quem num tem
porra nenhuma, pô!”.

No caso de Mônica, podemos perceber a repetição de verbos no gerúndio, caso comum


entre as pessoas que trabalham envolvidas com telemarketing.

3. Combatente: “Certo, é que hoje a senhora está sendo beneficiada através do seu
cartão de crédito com um benefício diretamente da Credicard, onde trata-se de um
cartão adicional. No qual a senhora poderá estar presenteando até três pessoas do
seu relacionamento com idade igual ou superior á dezesseis anos gratuitamente,
correto?”.

Observamos o uso de um vocabulário extremamente coloquial, sem utilização de muitas


gírias, mas também sem nenhuma palavra mais rebuscada. Dificuldade de compreensão sobre
o que foi perguntado, acarretando em respostas sem nexo, sem muita conexão entre as
palavras. Todas as características apontadas possibilitam uma melhor compreensão sobre a

42
classe social estudada. Classe média, que possui um pouco de instrução, mas ainda assim não
consegue abstrair o significado total das perguntas.

Quanto à classe D:

• Observa-se o uso freqüente de expressões como “eu penso”, “eu acho”, “eu digo”,
que enfatiza sua opinião sem generalizar as respostas a um pensamento coletivo.
Exemplo:

1. Antonio: “Eu penso assim, o meio de “milhorar” a situação e o meio, o meio do


horário de trabalho né? Convocado para todos os trabalhadores brasileiros né? Que
“teja” uma situação melhor e salário mínimo, que é o menor salário da América
Latina “somo o nosso” brasileiro né? Eu acho assim, que nós “trabalhador” deveria
ter mais acesso a uma “milhora” né? É isso eu digo pra você”.

• Repetição do “né?”, “entendeu?” e de outras palavras, que mostra a necessidade do


entrevistado em ser compreendido, de deixar claro o que quer ser dito. Exemplo:

1. Antonio: “Depende da “homorização” de cada um, né? Da “homorização” de


cada um, da capacidade de cada um faz, né? Da sua habilidade”.

2. Antonio: “Satisfação no trabalho é prazer de trabalhar. Entendeu? O prazer de


cumprir um horário, o prazer de trabalhar e chegar ao final da semana, do mês e
“ta” com,e poder “ta” com seu dinheirinho ali,pra poder comprar uma cesta
básica que é útil dentro de casa,”pras” criança né?”.

3. Everaldo: “É um médico, advogado. Médico porque dá uma força pra gente, né?
E o advogado também”.

Toghum apresenta, diversas vezes, em seu discurso essa tentativa de ser compreendido,
de se fazer entender, ou mesmo manter contato com a pessoa a que se refere. Exemplo:

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4. Toghum: “É querê sê melhor pra mos... fazê jus a toda minha criação, entendeu?
Fazê jus a tudo o que eu passei, a todo o sofrimento que eu passei, a todo... a toda
a minha virada, entendeu? Essa minha virada de lucidez, de crescimento, de querê
tê, de querê sê, entendeu?”.

• Erros de concordância nominal e falta de linearidade do pensamento são freqüentes.


Exemplo:

1. Antonio: “Olha, a profissão que eu deveria “dizê” que era pra “tê” mais
conhecimento era o médico e o padeiro, porque são as coisa que são um bem pela
natureza, porque através do médico agente tem saúde,né? E através do padeiro a
gente tem o pão do dia, né?”.

• Falta de compreensão das perguntas e uso de gírias. Exemplo:

1. Antonio: “Conciliar quer dizer que... é uma palavra que...então é que nem eu digo
ai depende da capacidade única de cada ser humano a poder sobreviver, né? Poder
manter sua realidade, poder manter seu dia-a-dia, né?”.

2. Everaldo: “Não... não sei responder esse barato, não...”.

3. Everaldo: “Piorou, piorou...”.

5. Everaldo: “Malandro, se pegou o truta mal...não sei responder esses baguio


não....”.

As gírias ocorrem com grande freqüência na fala dos cariocas retratados no


documentário. Exemplo:

6. Mônica: “é ruim pra caramba tu ficá sem grana mar num me sinto mais tão
escrava assim, caraca, trabalhava direto”.

7. Macarrão: Num basão sinistro? Geral tomando em cima da laje, como? Mó


bondão...caralho! Fala tu!

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Nas entrevistas realizadas, observamos a falta de compreensão e expressão oral dos
entrevistados. Uso de gírias, como “barato”, “baguio”, “truta”, e erros de concordância que
mostram falta de instrução e de vocabulário, característico das entrevistas da classe D. Como
se pode perceber com as entrevistas, o vocabulário e linguagem apresentados nas entrevistas
se aproximam dos utilizados pelos integrantes do documentário.

Quanto à classe E:

Nas entrevistas com a classe E, observamos muitos registros lingüísticos que também
aparecem no documentário selecionado. Todos os entrevistados possuem ínfimo grau de
instrução educacional, chegando alguns a serem analfabetos. Ocorrências foram selecionadas
para demonstrar os desvios lingüísticos encontrados nessa classe social e a dificuldade de
compreensão das perguntas pelos entrevistados.

• Aparecimento de erros de concordância verbal e nominal.

1. Sônia: “... um meio melhor né da gente sobreviver né, sem faze o que agente não
gosta né”.

2. Sônia: “Trabalhando numa firma registrado né, carteira registrado tudo...”.

3. Sônia: “Satisfação é deu ser uma cidadã e trabalha e ganhar meu dinheiro
honesto”.

4. Alice: “Trabalha, recebe, cuidá da minha família, da minha filha, podê ajudá o
meu próximo também”.

5. Alice: “ ...me arrumano um bom emprego, né?! Até de doméstica”.

Os integrantes do documentário também apresentam erros de concordância em seus


discursos. Exemplos:

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6. Mônica: “Não tô mais trabalhano, tudo bem, é ruim pra caramba tu ficá sem grana
mar num me sinto mais tão escrava assim...”.

8. Macarrão: “Os cara que começa a cantar rap lá já têm sonho de ficar
milionário... pô, e o, no Brasil o cara tem a preocupação de levar a mensagem”

9. Homem 2 : “É 5 “real”.”

10. Macarrão: “ Vai ser meus amigo, vai ser... a comunidade, parceiro”

• Repetição de palavras como uma forma de fazer com que o que está sendo dito seja
compreendido. Exemplo:

1. Sônia: “Ha, o que eu penso sobre isso... a eu acho que deveria ter um ma... um
meio melhor né da gente sobreviver né, sem faze o que agente não gosta né. Um
meio ma... melhor. O governado qualquer um ajuda as pessoas, porque você vê
muita gente carregando lixo, não gosta né e se sente às vezes humilhado. Então é
isso que eu acho”.

Macarrão prendia a atenção de quem o estava entrevistando por meio das repetições.
Exemplo:

2. Macarrão: “O rap, o rap nunca me deu nada, como eu nunca dei nada pu rap. A
gente nunca trocou nada. Eu nunca dei nada pu rap. Eu não sou ninguém no rap,
certo?”.

3. Macarrão: “Pra mim, o termômetro de dizer se o trabalho tá bom ou ruim... num


vai ser o próprio cara do rap, vai ser a... comunidade... tá ligado? Vai ser meus
amigo, vai ser... a comunidade, parceiro”.

• Difícil pronúncia das palavras, afetando em seu entendimento. Exemplo:

1. Alice: “É, na verdade, é sê gerente, né? Encarregado. Mai no momento tá todo


mundo memo na recicrage, que a recicrage é o único que a gente ta podeno recorre”.

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• Não entendimento das perguntas. Exemplo:

1. Sônia: “Como assim? É...”.

2. Alice: “Essa é uma boa...”.

Portanto, os entrevistados da classe E apresentam uma grande ocorrência de desvios da


norma padrão. Tal fato está ligado intimamente com o grau de instrução educacional dos
entrevistados, muitos deles analfabetos.

4.1.5 A situação de trabalho

A situação empregatícia do brasileiro de classe menos favorecida pode ser considerada


grave. Muitos deles estão desempregados e, até mesmo, realizando trabalhos ilegais ou não
registrados na busca pelo sustento próprio e familiar.

O documentário evidencia bem a situação exposta acima. Macarrão representa o


trabalhador ilegal, como apontador de jogo do bicho. As filmagens mostram sua vida sofrida,
sua necessidade de trabalhar para sustentar as duas filhas, a mulher, o aluguel, enfim, garantir
condições de vida. Seus relatos condizem com a situação dos muitos brasileiros que buscaram
um trabalho que proporciona melhores resultados do que uma ocupação – como afirmado por
Macarrão, de carteira assinada – que pagaria um salário com valor menor do que muito do
necessário à sobrevivência. Já Toghum é representante do trabalho informal. Atua como
vendedor de artigos esotéricos, realizando sua função nas ruas, enquanto anda de porta em
porta mostrando seus produtos. A situação do trabalho informal no Brasil chega a ser
preocupante, uma vez que o número de trabalhadores com carteira assinada diminuiu
consideravelmente de 2004 a 2006. Um dos principais problemas do mercado de trabalho no
Brasil foi que o tipo de emprego oferecido pelas empresas mudou muito mais rapidamente do
que as características do trabalhador brasileiro. Desta forma, criou-se um desequilíbrio entre o
que os patrões querem e o que os potenciais empregados oferecem, aumentando tanto o
desemprego quanto à informalidade. Há estudos que apontam para uma provável influência
do preconceito e do favorecimento no mercado de trabalho: a taxa de desemprego cai para as
pessoas das classes média e média-alta que têm mais de nove anos de estudo, mas se mantém

47
elevada para os da classe baixa que têm aquele mesmo nível de escolaridade. Caso
comprovado pela situação trabalhista de Toghum, que terminou os estudos e mantém o sonho
de ingressar em uma faculdade, mas possui a necessidade de trabalhar informalmente, visto
que conseguir um vínculo empregatício consistente não foi possível. O mercado de trabalho é
muito restrito no Brasil, além de haver um grande preconceito em relação às classes mais
baixas.

O também chamado “trabalho por conta própria” não funciona com maiores garantias,
mas às vezes, como única solução para a necessidade de sobrevivência.

No caso de Combatente, é a única representante dos participantes do documentário que


possui um emprego formal, atuando como atendente de telemarketing. O trabalho formal
ainda é o ideal para a população brasileira. Há a garantia de salário e de seguros como de
saúde, refeição e transporte. Entretanto, não são todos os empregadores que respeitam os
direitos dos trabalhadores, o que, aliado ao desemprego, faz com que muitas pessoas
procurem outras formas de trabalho, como as já citadas ilegais ou informais – que podem
garantir maiores resultados.

Comparando a situação evidenciada no documentário de Guilherme Coelho com as


entrevistas já citadas que foram realizadas na cidade de São Paulo, comprova-se muito do que
é afirmado em relação à situação de trabalho de muitos brasileiros.

A maioria das pessoas entrevistadas que são pertencentes à classe econômica A,


afirmam satisfação com o emprego atual. A realidade de tal classe social diferencia-se
grandemente das outras. Tanto pelo nível escolar e de especializações, quanto pela maior
facilidade de emprego em relação às outras classes. Como exemplo, tem-se o relato de um
representante da classe A, respondendo à pergunta “Como conciliar a necessidade de
sobrevivência com a realização profissional?”: “Olha, isso aí é uma pergunta que você tem
que... que fazer antes de, de escolher a sua profissão, né? Acho que é uma coisa que eu fiz.
E... eu, hoje, faço uma coisa que eu gosto e... tenho, ganho, acho que, muito bem pra
isso... Assim, tenho uma... em relação à população brasileira, né? (...)”.

Como se pode perceber, é um caso de consciência em relação à condição de trabalho


da população brasileira não pertencente à classe A.

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Já os representantes de classes mais baixas, como D e E, são pertencentes à realidades
destoantes das de representantes da classe A, evidentemente. A situação de trabalho condiz
mais com a necessidade de sobrevivência do que com a satisfação profissional. Há um
exemplo de uma pessoa entrevistada que pertence à classe E que esta a par da situação
trabalhista do cidadão brasileiro e que reclama por melhores condições nos empregos:

“Eu penso assim, o meio de “milhorar” a situação e o meio, o meio do horário de


trabalho né? convocado para todos os trabalhadores brasileiros né? Que” teja “uma
situação melhor e salário mínimo, que é o menor salário da América Latina” somo o nosso
“brasileiro né? Eu acho assim, que nós”trabalhador“ deveria ter mais acesso a uma
“milhora” né? É isso eu digo pra você”.

Encarar a realidade é difícil para os trabalhadores. Há sempre tentativas na busca por


melhores condições de emprego e, conseqüentemente, de vida.

No caso de Combatente, houve a coragem de abrir mão de um emprego seguro, com


garantia de salário, entre outras, para seguir um sonho: o de cantar. Na maioria das vezes, o
trabalhador aceita submeter-se a situações que não o satisfazem profissionalmente, apenas
para a garantia de sobrevivência. É a realidade brasileira que não permite a todos a colocação
que desejam no âmbito trabalhista, uma realidade de grande número de desempregados.

49
5 CONCLUSÕES

O trabalho e a fala são duas atividades puramente humanas e necessárias a nossa


sobrevivência. Ocupam, portanto, uma grande parte da nossa vida. A linguagem está muito
relacionada ao trabalho, especialmente nos dias atuais, quando a comunicação atingiu um
grande papel no cotidiano mundial. As formas de expressão, que eram diferentes em cada
sociedade e classe social passam a também ganhar um diferencial profissional. A percepção
desses aspectos da vida dos personagens do documentário Fala Tu, dos entrevistados pelos
integrantes do nosso grupo e da população brasileira como um todo foi essencial para a
dissertação desse trabalho que aborda e relaciona os temas trabalho, linguagem e cinema
documentário.

Há, primeiramente, o entendimento de que o cinema documentário é a fotografia de


uma realidade. Apesar de ter sua origem e desenvolvimento ligados ao cinema, o
documentário é um relato histórico, e não somente uma obra de arte. Por isso, a utilização
dessa ferramenta para relatar o cotidiano de cidadãos comuns da periferia de uma grande
cidade do Brasil é mais do que válida para a análise das modificações e situações dos
trabalhadores no nosso país e do uso da fala pela população.

O trabalho é encarado pela população brasileira como um grande dever de suas vidas.
Alguns o vêem como necessário e bom, outros como vilão. Há uma concentração de
trabalhadores satisfeitos nas classes mais elevadas enquanto as classes mais baixas são
esmagadas por um sistema desigual que obriga a população de baixa renda a se expor a uma
vida penosa e sofrida.

A linguagem também apresenta sua qualidade obviamente segmentada entre as classes


sociais. Há, porém, uma interpretação errônea generalizada que atinge todas as classes
brasileiras de forma que a população ganhe a fama de “analfabetos funcionais”, que sabem ler
mas carecem de uma boa interpretação textual. Isso é notado tanto nas cenas do documentário
quanto nas respostas das perguntas do trabalho de campo.

Por último, há a relação entre a linguagem e a profissão, que, como dito anteriormente,
é responsável por mais uma segmentação lingüística, uma vez que o modo de fala não

50
depende só do grau de instrução e da classe social, mas sim da ocupação profissional de cada
cidadão. Aspecto esse que também foi percebido no documentário escolhido e nas pesquisas
de campo.

51
REFERÊNCIAS

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cinematográfica. Porto: Afrontamento, 1982.

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pela renda por cópia. Brasília, DF, 2005.

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FALA TU. Direção: Guilherme Coelho. Produção: Nathaniel Leclery e Érika Safira. Brasil:
Matizar Produções Artísticas, 2004. 1 DVD (74 min), son., color.

GOMES, João Carlos Teixeira. Glauber Rocha esse vulcão. Rio de Janeiro: Editora Nova
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<http://www.vermelho.org.br/diario/2004/0423/especial_0423.asp?NOME=Especial&COD=
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THE GULLANE brothers. Disponível em:


http://www.cinemando.com.br/200211/entrevistas/gullane_02.htm. Acesso em: 15 de abril de
2006.

ÁLVAREZ, Gabriel O. Industrias Culturais no Mercosul. Brasília: Instituto brasileiro de


Relações Internacionais, 2003.

LABAKI, Amir. É tudo verdade: Reflexões sobre a cultura do documentário. São Paulo:
W11 Editores, 2005. 314 p.

LEITE, Sidney Ferreira. Cinema brasileiro: das origens à retomada. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2005. 160 p.

MILANESI, Luís. Biblioteca. São Paulo: Ateliê, 2002. 116 p.

NASCIMENTO, Hélio. Cinema Brasileiro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1981. 120 p.

52
SALEM, Helena. 90 Anos de Cinema: Uma Aventura Brasileira. Rio de Janeiro: Sogeral,
1988. 136 p.

TÉCNICA cinematográfica. Disponível em:


<http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A9cnica_cinematogr%C3%A1fica>. Acesso em: 15 de
março de 2006.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Agência Nacional do Cinema. Relatório de gestão: exercício de 2005. Brasília, DF,
2005.

ETAPAS da produção. Disponível em:


<http://www.cinemanet.com.br/etapasdaproducao.asp>. Acesso em: 15 de maio de 2006.

GEORGES, Sadoul. O cinema. São Paulo: Casa do Estudante do Brasil, 1956.

GEORGES, Sadoul. História do Cinema Mundial. São Paulo: Martins Editora, 1963.

RAMOS, Fernão (org.); MIRANDA, Luiz Felipe (org.). Enciclopédia do cinema brasileiro.
São Paulo: SENAC, 2000.

NATHANIEL Leclery faz a crônica de três vidas no rap. Disponível em:


<http://www.cineweb.com.br/index_textos.php?id_texto=501>. Acesso em: 27 de março de
2006.

53
APÊNDICE I – MODELO DE QUESTIONÁRIO DE CLASSIFICAÇÃO
SOCIOECONÔMICA UTILIZADO
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: ___________________________________________________________________

Classificação Socioeconômica: ________________

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno(a): ______________________________________________ Data: ____/____/____

Local em que foi aplicado: ____________________________________________________

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica


POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores
Rádio (vale do carro)
Banheiro
Automóvel
Empregada mensalista
Aspirador de pó
Máquina de lavar
Videocassete
Geladeira
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex)

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

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APÊNDICE II – PERGUNTAS UTILIZADAS NA ENTREVISTA COM A
POPULAÇÃO

1. Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o trabalho é
um peso. O que você pensa sobre isso?

2. O que é, para você, ter satisfação no trabalho?

3. Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?

4. Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?

5. Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?

55
APÊNDICE III – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE A

Nome: Maria Adelaide


Classificação socioeconômica A
Local: Rua Oscar Freire

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Maria Adelaide: Acho real, acho real, isso... Eu acho que as pessoas que trabalham não são
felizes e deviam procurar trabalhos que deixem as pessoas felizes. Eu, por exemplo, eu... eu
faço o que eu gosto, eu trabalho com... revista, com Moda, há muito tempo, já faz uns 15 anos
que eu trabalho com isso e eu gosto, entendeu? Eu gosto do que eu faço, embora eu ganhe
pouco, mas, eu gosto do que eu faço. Quer dizer, não sei se sou feliz, ou não. Mas é a
realidade, tem muita gente que inveja, às vezes, o teu trabalho. É por isso, entendeu? Porque
não é aqueles que ele faz... Mas eu acho que as pessoas deveriam ser felizes no trabalho,
porque faz parte do seu dia-a-dia, faz parte da sua história, não é isso? Mais alguma coisa?

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Maria Adelaide: O que eu falei, tem que fazer o que você gosta. Sabe que nesse trabalho,
assim, bacana! Você olha... O resultado... Você se sente bem, sabe? Você foi capaz de fazer.
Cada vez você se exige mais e consegue melhor, entendeu? Melhorar sempre as coisas. Então
é isso! Eu acho que... Depende, tudo, muito da gente.

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Maria Adelaide: Eu acho que tudo que tá ligado a marketing e imagem visual, tudo, eu acho
que, é... é o que é moderno, hoje. Mas eu não sei se é isso que dá dinheiro.

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?


Maria Adelaide: Não sei, acho que tem... Pode fazer outras coisas.

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Maria Adelaide: Ahhh... Dá! Dá! É... Eu acho assim: você, tudo o que você faz, o que você
faz, e o que é bem feito, por exemplo, vocês tão fazendo um trabalho de pesquisa, vocês

56
devem ficar: ai, que saco! Ainda falta, num tem gente que me aceita, que num quer isso, num
sei o quê! Só que vocês estão aqui batalhando, uma hora vocês vão ter retorno disso. As
pessoas vão reconhecer, entendeu? Teu trabalho... E... Eu acho que qualquer trabalho é
importante, sabe? Não importa se você faz direito, computação, sabe? Publicidade, ou
revista... Uma hora, você vai ter retorno disso... E o dinheiro vem junto, certo?

Nome: Flávio
Classificação socioeconômica A
Local: Rua Oscar Freire

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Flávio: Olha, trabalhar naquilo que você não gosta deve ser... terrível! Eu sei disso porque
eu conheço algumas pessoas que... trabalham, até comigo, que estão insatisfeitas e
atrapalham o ambiente profissional e isso não é legal... Algumas delas já mudaram de
profissão, mas é... deve ser terrível.

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Flávio: É você todo dia acordar e ter vontade de trabalhar, né? Voltar pra casa feliz com o
que você fez...

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Flávio: Olha, é... Que tipo de profissão? Eu não sei te dizer se existe um tipo específico de
profissão com mais reconhecimento... Talvez as profissões... que estejam na mídia, tipo... as...
esportistas, famosos, jogadores de futebol, cantores talvez sejam... porque vendam, né? Sejam
os mais... reconhecidos, né?

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?


Flávio: Olha, mudar a situação de trabalho... ... Acho que se você... É difícil responder essa
pergunta... Mudar a situação de trabalho... Acho que se você faz o que gosta, já é um passo...
bom passo pra isso, né? Você tem novas idéias, você... até pensa em fazer melhor, mas... se
você ta querendo... mudar a sua situação de trabalho é porque indica que você num tá
fazendo, num tá satisfeito com o que tá... talvez você esteja atuando na área certa, mas num
tá satisfeito com a sua atuação, ou com a sua atuação, ou com o local como você tá

57
trabalhando... né? Então tentar modificar alguma coisa dentro do... da área, se você acha
que gosta daquilo mesmo, veja bem se você gosta daquilo que você tá fazendo, né?

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Flávio: Olha, isso aí é uma pergunta que você tem que... que fazer antes de, de escolher a sua
profissão, né? Acho que é uma coisa que eu fiz. E... eu, hoje, faço uma coisa que eu gosto e...
tenho ganho, acho que, muito bem pra isso... Assim, tenho uma... em relação à população
brasileira, né? Então, eu faço parte de uma minoria, como vocês também tão na faculdade.
Então... acho que isso... a, essa pergunta deve ser feita no começo, né?

58
APÊNDICE IV – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE B

Nome: Railete
Classificação socioeconômica B
Local: Estação Sumaré do metrô

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Railete: Ah, eu acho, assim, nem todo mundo faz o que gosta, né? Faz o que... Faz o que
precisa. Mas independente disso, tem que dar o melhor.

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Railete: O meu trabalho eu adoro. Adoro meu trabalho.

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Railete: Nenhuma. Nenhuma. Na minha opinião, nenhuma. Eu acho que o mais que você dá
de você, o máximo que você dá não é o suficiente pra.

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?


Railete: Ah... Buscar informações, estudar mais e lutar pelo seu objetivo.

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Railete: É... Primeiro a sobrevivência, né? Primeiro lugar a sobrevivência. Dá sim, dá por
que eu fazia alguma coisa que eu não gostava e fui... Trabalhava e praticamente passava o
dia inteiro fora. Sabe? Não via minhas crianças e... Mas eu estou agora numa área que eu
gosto. Quer dizer, deu pra conciliar mais ou menos. Não é fácil, mas dá.

Nome: Socorro
Classificação socioeconômica B
Local: Estação Sumaré do metrô

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?

59
Socorro: Que que eu penso sobre isso? Que não tem vontade de trabalhar.Trabalho não é
peso. Se você tem coragem você trabalha.

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Socorro: Satisfação no trabalho é você... Quem faz o patrão é você e quem faz você é o
patrão, né? Então, ter gosto e vontade de trabalhar e tudo se resolve.

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Socorro: Eu acho que a profissão é você estudar e você escolher o que você quer na vida, por
que você vai estudar... Profissão quem escolhe é você, estudando, né?
Entrevistador: Mas você acha, assim, que tem alguma que as pessoas dão mais valor?
Socorro:“Ah, eu não sei não.”

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?


Socorro: Não sei. Não sei! Tanta pergunta pra isso, né? E a gente não sabe nem o que
responde.

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Socorro: Eu acho que é fazer aquela profissão que você gosta. Não adianta você querer fazer
uma coisa que você não gosta se você não vai em frente, né?

60
APÊNDICE V – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE C

Nome: Fernanda
Classificação socioeconômica C
Local: Estação Clínicas do metrô

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Fernanda: Ah, eu acho que hoje em dia as pessoas não tem muita alternativa, né? Tem que
trabalhar. E muitas vezes elas trabalham no que elas não gostam mas precisam do dinheiro.

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Fernanda: Ah, é me sentir realizada no que eu escolhi, né?

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Fernanda: Ah, eu acho que a área da saúde, que eu acho que é uma área que nunca vai...
Sempre vai precisar de profissionais. Eu acho que executivo...

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?


Fernanda: Ah, acho que, tipo, começar de novo, eu acho.

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Fernanda: Necessidade de sobrevivência? Ah, tem muita gente que começa trabalhando com
uma coisa, depois faz faculdade e vai pra outro setor. Eu não sei. Eu estou pensando na
minha área...

Nome: Júllio César Nunes


Classificação socioeconômica C
Local: Estação Clínicas do metrô

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?

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Júllio: Ai meu Deus... Acaba sendo um peso? Ah, mas, trabalhar naquilo que gosta, né? Tem
que trabalhar naquilo que tem amor, que gosta, que a pessoa gosta de trabalhar, né? Tem
quer ser um... não serviço pesado, né? Depende dá pessoa. Não ser um serviço pesado.
Depende, né? Depende do serviço.

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Júllio: Manter a minha vida, né? Um salário esperto, né? De acordo com o que eu gasto, né?
É isso aí.

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Júllio: Reconhecimento? É... a profissão do metalúrgico, né? Metalúrgico. Lula. Lula foi
metalúrgico, né? Lula. Eu vou votar no Lula, né? Eu sou Lula.

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?


Júllio: Trabalhar sem registrar. É, trabalhar registrado, né? Trabalhar registrado.

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Júllio: Realização profissional? Aí eu não to entendendo. Raciocinar. Você olha para as duas
coisas, né? Tem uma hora adequada para as duas coisas, né? Tem uma hora adequada para
os dois serviços. Para as duas profissão.

62
APÊNDICE VI – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE D

Nome: Antônio José da Silva Filho


Classificação socioeconômica D
Local: Jardim Ideal – Zona Sul de São Paulo

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Antônio: Eu penso assim, o meio de “milhorar” a situação e o meio,o meio do horário de
trabalho né?Convocado para todos os trabalhadores brasileiros né?Que “teja” uma situação
melhor e salário mínimo, que é o menor salário da América Latina “somo o nosso”
brasileiro né?Eu acho assim, que nós “trabalhador” deveria ter mais acesso a uma
“milhora” né?É isso eu digo pra você.

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Antônio: Satisfação no trabalho é prazer de trabalhar. Entendeu? O prazer de cumprir um
horário, o prazer de trabalhar e chegar ao final da semana, do mês e “ta” com,e poder “ta”
com seu dinheirinho ali,pra poder comprar uma cesta básica que é útil dentro de casa,”pras”
criança né?

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Antônio: Olha, a profissão que eu deveria “dizê” que era pra “tê” mais conhecimento era o
médico e o padeiro, porque são as coisa que são um bem pela natureza, porque através do
médico agente tem saúde,né? e através do padeiro a gente tem o pão do dia, né?

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar sua situação de trabalho?


Antônio: Depende da “homorização” de cada um, né? Da “homorização” de cada um, da
capacidade de cada um faz, né? Da sua habilidade.

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Antônio: Conciliar quer dizer que...é uma palavra que...então é que nem eu digo ai depende
da capacidade única de cada ser humano a poder sobreviver, né? Poder manter sua
realidade, poder manter seu dia-a-dia, né?

63
Nome: Everaldo dos Santos
Classificação socioeconômica D
Local: Jardim Ideal – Zona Sul de São Paulo

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Everaldo: Não...não sei responder esse barato,não...

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Everaldo: Piorou, piorou....

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Everaldo: É um médico, advogado.Médico porque dá uma força pra gente, né? E o advogado
também

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar sua situação de trabalho?


Everaldo: Sei não, é difícil....

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Everaldo: Malandro, se pegou o truta mal...não sei responder esses baguio não....

64
APÊNDICE VII – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE E

Nome: Sônia da Silva


Classificação socioeconômica E
Local: Jardim Ideal – Zona Sul de São Paulo

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Sônia: Ha, o que eu penso sobre isso...a eu acho que deveria ter um ma... um meio melhor né
da gente sobreviver né, sem faze o que agente não gosta né. Um meio ma...melhor. O
governado qualquer um ajuda as pessoas, porque você vê muita gente carregando lixo, não
gosta né e se sente as vezes humilhado. Então é isso que eu acho.

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Sônia: Satisfação é deu ser uma cidadã e trabalha e ganhar meu dinheiro honesto
Entrevistador: Isso é uma satisfação.
Sônia: É, lógico!

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Sônia: Que tem reconhecimento, acho que numa firma né. Trabalhando numa firma
registrado né, carteira registrado tudo.

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?


Sônia: Mudando é..eu acho assim...situação de trabalho...é lutando né, indo em frente. Se não
der certo nenhum vai pra outro, e aí vai indo até conseguir objetivo né. Lutando, estudando
também né. To cheio de sobrinho tudo que tá lutando, estudando pra ver se consegue né uma
vida melhor né, então.

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Sônia: Como assim? é...
Entrevistador: Por exemplo, você tem a sua necessidade de sobrevivência de todo dia –
comer, se alimentar –, como você pode conciliar essa sua necessidade com sua profissão,
realização na profissão. Estar satisfeito com aquilo que está fazendo.

65
Sônia: Ha, se eu ganhasse mais né, se eu tivesse um apoio ganhasse mais. Porque o que
agente ganha é muito poco também né, mesmo trabalhando registrado. Perto do muito poco.
Principalmente quem tem criança, que tem..é..as veis vem renda mínima pra um, não vem pra
outro. Agente sofre muito com isso.

Nome: Alice da Cruz


Classificação socioeconômica E
Local: Jardim Ideal – Zona Sul de São Paulo

Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Alice: Pra elas é um peso, pra mim que tô desempregada ia sê um alívio.
Entrevistador: Ia ser um alívio?
Alice: É, ia sê um alívio...tô desempregada.

Entrevistador: O que é, para você, ter satisfação no trabalho?


Alice: Trabalha, recebe, cuidá da minha família, da minha filha, podê ajudá o meu próximo
também.

Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Alice: É, na verdade, é sê gerente, né?! Encarregado. Mai no momento tá todo mundo memo
na recicrage, que a recicrage é o único que a gente ta podeno recorrê.

Entrevistador: Como as pessoas podem mudar a sua situação de trabalho?


Alice: Me empregando...me arrumano um bom emprego, né?! Até de doméstica.

Entrevistador: Como conciliar a necessidade de sobrevivência com a realização profissional?


Alice: Essa é uma boa...
Entrevistador: Tem como fazer isso?
Alice: Só se o governo ajuda né. Abrir mais emprego pra todo mundo, porque ta difícil.

66
APÊNDICE VIII – CENAS DO DOCUMENTÁRIO DECUPADAS

1 - Apresentação dos personagens

Macarrão, 33 anos.
Mulher 1 : Hoje deu peru,né?
Macarrão: Oi?
Mulher 1 : Deu peru né?
Macarrão: Deu
....
Homem 1 Qual o resultado daqui “desse” ?
Macarrão: É esse “ memo”.77.
Homem 1 : É .
...
Macarrão: Dá frente,dá frente.
Mulher 2: Deu peru denovo. Todo dia agora dá ...(não foi possível compreender o final da
frase.)

...
Homem 2: ...Anota aí o que eu vou falar.52,77.( O início da frase também não foi possível
compreender o que o homem disse.)
Homem 2: ( Ele diz algo sobre fazer novas apostas no jogo do bicho,não foi possível entender
o que foi dito.)
Macarrão: É o que,12?
Homem 2 : 13 e 17.
Homem 2 : É 5 “real”.

67
Toghum, 32 anos
Toghum: Belford Roxo “ta”na área.
Toghum: Oi, tudo bem?

Toghum: Tudo bem.É, eu sou representante de uns produtos “ aí”.Dá uma olhada.
Vendedora: Preciso de óculos.
Toghum: Uma graça.
Vendedora: Você é cantor?
Toghum: Também, eu canto “ rapper”.

Toghum: Tem esse livrinho aqui também.


Vendedora: Ta, bonitinho.E aí?Gostei.
Toghum: Tem prazo, tem preço.
Vendedora: Ta, gostei. Mas no momento não quero encomendar.
Toghum: É? Tá.

Toghum: Obrigado, tchau para a senhora.

Toghum: “Xô” mostrar.

Toghum: E não é caro.


Vendedora: Eu gostei mais desses dois.Gostei de ambos,todos,tá?
Toghum: “Vô” fazer o seguinte, “boto” o que? “Boto” quinze bauzinhos para você.
Vendedora: Quinze “desses” e quinze “desse” aqui.
Toghum: E de vidro as mensagens para você.
Vendedora: Quinze da garrafinha.
Toghum: “ Cê qué” meio kit da garrafinha?São quinze.

Toghum: Mando mensagem para você de que?Amor, aniversário, amizade?


Vendedora: Os “homi” de Belford Roxo “ama” demais.
Toghum: Sério?
Vendedora: Pelo “meno” quando briga com a mulher, o que mais tem que falar é que ama.
Toghum: Então vou mandar cinco de amor e dez de...tá.

68
Combatente, 21 anos
Combatente: Alô, boa tarde. Por gentileza o senhor Márcio Valério?
Interlocutor:...
Combatente: Estou falando com ele?
Interlocutor:...
Combatente: O senhor tem filhos?
Interlocutor:...
Combatente: E atualmente não possui uma nova companheira ou namorada?
Interlocutor:...
Combatente: Ta certo então seu Márcio.Obrigada pela sua atenção e uma ótima tarde.

Combatente: Reside sozinha senhora Maria?


Maria:...
Combatente: Certo, e tem contato com seus pais?
Maria:...
Combatente: Certo, é que hoje a senhora está sendo beneficiada através do seu cartão de
crédito com um benefício diretamente da Credicard, onde trata-se de um cartão adicional.No
qual a senhora poderá estar presenteando até três pessoas do seu relacionamento com idade
igual ou superior á dezesseis anos gratuitamente, correto?

2 - Cantando rap

Macarrão

Macarrão: Ai eu digo pá você, Senhor, estou pedindo o seu perdão, ultimamente eu ando
cheio de ódio no coração, pois não consigo entender o motivo. Não sou culpado de aqui ter
nascido. Não sei se concorda comigo, devo respeito, sou seu filho. Sei. Mas não sou culpado
do que aprontei, pode crê, meio difícil o “cao” sê evitado quando você está bolado, derrubado.
Sou a vítima perfeita do diabo, que já joga do meu lado um amigo com tudo dado. Dinheiro
mole nunca foi tão fácil, pode crê, e é assim que ele compra você. O diabo age sujo, tapinha
nas costas, me fez sonhar acordado feito um idiota. Móveis que faltam, casa própria. Aceitar
de cara a proposta, questão de tempo, pra não aceitar tem de ter procedimento. Desesperei.
Não pensei. Não deu tempo, quando eu vi, já tava dentro, e não dava pá voltá. Sei que tava
errado, mas não vô chorá.Eu não pedi pra nascer na favela, no meio da miséria, do ódio e da
69
guerra, ai já era, endurece o coração. Por isso elevo o pensamento e peço compreensão, se me
julgar merecedor, Senhor, retire de mim o rancor!

Macarrão começa a conversar com o entrevistador: Caralho! Fala tu?! Vai ficá de acordo?

Entrevistador: Sem palavras!

Macarrão: Num basão sinistro? Geral tomando em cima da laje, como? Mó bondão...caralho!
Fala tu!

Toghum

Toghum: Não adianta desesperar, aja com calma e coração. Isso é apenas uma canção.
Depende de você. Encontre sua direção. Dê uma virada certa na vida. Serás uma pessoa bem
sucedida. Larga essa vida cheia de perigos. Tire a cara das drogas, põe a cara nos livros.
Nessa dura vida existe dois caminhos: um é dourado, sim, o outro, cheio de espinhos. Se você
não mudar, não vai vencer, não vai fazer a sua vida acontecer, pois depende apenas de você,
porque a vida é uma.

Mônica

Mônica: Eternamente hips. Paz, amor, antiguerra. Será que isso já era no mundo capitalista?
Isso é papo de ativista, careta, talvez, mas amanhã é a sua vez. Uma bala perdida vai roubar o
seu futuro e agonizando vai lembrar que quis mudar o mundo. A nossa hipocrisia é o que nos
mata, cara. Aquele revolucionário já queimou a farda e se rendeu ao comodismo e finge que
não vê. Mas o descaso dominou você e nem deu tempo de correr e refazer o futuro. Passamos
nossas vidas sempre em cima do muro.

3 - Porque da música

Macarrão

Macarrão conversa com o entrevistador na sala de sua casa

Entrevistador: E a tua música, tua música é de bandido?

70
Macarrão: A minha música não é de bandido, minha música... Ela vai ser considerada música
de bandido porque... É o, é o tema que ninguém quer escutar, tá ligado? É a agonia que, que, é
a agonia que quem vive é a gente. Eu não faço música de protesto. Eu faço, faço crônica do
cotidiano, tá ligado? Eu num quero protestar. Negócio de protesto... cunversa fiada. Num é
música de bandido, mas bandido vai gostar de ouvir, trabalhador também vai gostar, agora
playboy num vai gostar, polícia num vai gostar... É por aí. Playboy num vai gostar, polícia
num vai gostar... Playboy vai gostar de repente tamém porque acha fantástico... tá ligado?
Acha viaje o... o... o... cotidiano de se viver numa favela e coisa e tal.

Macarrão falando com o entrevistador na van

Macarrão: Num tem como, se é a música que fala em favor de quem num tem porra nenhuma,
pô! O rap é nosso!... De repente eles inventaram, mas é mais nosso di que deles. Os cara que
começa a cantar rap lá já têm sonho de ficar milionário... pô, e o, no Brasil o cara tem a
preocupação de levar a mensagem, de levar um, de levar um alento pro cara que vai escutar,
tá ligado? De tentar dizer pro cara que num é bem assim...

Macarrão falando com o entrevistador na laje da sua casa

Entrevistador: E o rap fez o quê, pra você?

Macarrão: Hã?

Entrevistador: O rap... Fez o quê?

Macarrão: O rap, o rap nunca me deu nada, como eu nunca dei nada pu rap. A gente nunca
trocou nada. Eu nunca dei nada pu rap. Eu não sou ninguém no rap, certo? Escrevo umas
rima, vou tentar leva o trabalho pra frente, tá ligado? Na humildade, parceiro... Num vou
esperar que ninguém goste da minha letra tamém... tá ligado? Pra mim, o termômetro de dizer
se o trabalho tá bom ou ruim... Num vai ser o próprio cara do rap, vai ser a... Comunidade... tá
ligado? Vai ser meus amigo, vai ser... A comunidade, parceiro... Se eu sair daqui do ZincoRap
e for pra outra comunidade, lá, que nem um maluco me tocou, sexta-feira, o som toca no
Jacaré e nego pede pá botá direto...

Entrevistador: Teu som?

Macarrão: É...

71
Entrevistador: Qual?

Macarrão: Na rádio comunitária, da visita.

Entrevistador: Ah é?

Macarrão: Certo, porra! Tu quer mais vitória di que isso? Porra, parceiro!

Toghum

Toghum cantando no estúdio

Toghum: Só daí, só daí!

Cara no estúdio: Não, vou começar de novo.

Toghum: Muitos perceberam que... Caramba! Num vai dar pra mim viver de música, eu num
sei, agora... Num vai dar pra mim vive de música. Se num fosse por esse cara me chama, pra
fazê um backing pra ele, eu num voltava nunca mais a cantar. Ia ficar só estudando, na minha,
me fortalecendo, fazendo minha faculdade... Num ia voltar a cantar mais!

Mônica

Mônica falando com o entrevistador no sofá da sala na sua casa

Entrevistador: Qual é a importância?

Mônica: Importância? Pô... De você levar o rap pra uma comunidade carente. E... Assim... O
mais engraçado, o maravilhoso de você trabalhar em rádio comunitária, é que assim... É você,
sabe, é como você chegar assim, na casa das pessoas, sem pedir licença, com a sua música. E
conquistar todo mundo, sabe? É ser um carinho assim, enorme. Quantas vezes a gente já
recebeu carta de mães que têm seus filhos presos, entendeu? Mães de presidiários, dizendo
assim: Poxa! Se tantas outras vezes o meu filho tivesse ouvido essas músicas, tivesse ouvido
esse programa de vocês...

72
4 - Perspectivas de futuro

Macarrão

Macarrão indo de van para a casa da tia

Pô, e eu fico satisfeito com isso, demoro, já é! Ta ligado? Ma num é também querê sê
derrotista, certo? É apenas analisano a realidade. Num sô derrotista, parcero. Se eu pudé
vencê de alguma forma eu vô, parcero, vô agarrá e vô vencê, parcero. Só que no momento as
condições e a pespectiva num ta me deixano vê essa vitória, ta ligado? Se ela existe, ela ta
obscurecida.

Toghum

Toghum em sua casa

Entrevistador: e aonde você qué chegá?

Toghum: Me formá em jornalismo, puxá a minha faculdade pra rádio e por eu tê 32 anos, eu
invés de uma já fazê duas, entendeu? Duas faculdades que basicamente o que vai acontecê e
nesse meio tempo eu fazê uma prova pro setor de comunica...pra Polícia Federal e i pro setor
de comunicação. Eu lá, eu sei que eu vou consegui ganhar o suficiente pra mim movimentá
minha vida, estabilizar minha vida, tê meu filho tranqüilamente. Num pecisa nem vivê tão
bem, mas vivê e quem sabe, sei lá, me dando bem no setor de Comunicação e Assessoria de
Imprensa, quem sabe possa sê o primeiro porta-voz negro do Presidente da República. Teve
ninguém até hoje. Entendeu? Eu falo isso, às vezes, pros meus colegas eles começam a rir,
cara. Mas eles não têm a intensidade do desejo que eu tenho, em querê sê melhor. Num é
querê sê melhor pra pisá em ninguém. É querê sê melhor pra mos...fazê jus a toda minha
criação, entendeu? Fazê jus a tudo o que eu passei, a todo o sofrimento que eu passei, a
todo...a toda a minha virada, entendeu? Essa minha virada de lucidez, de crescimento, de
querê tê, de querê sê, entendeu? E o mais engraçado é que o hip hop, ele foi a minha linha
divisória, é a minha linha divisória com o que eu posso tê de bom, entendeu? O que eu possa
proporcionar de bom e toda podridão que ta ai fora, entendeu? Então...Cara, mas se eu tive
lucidez suficiente pra buscá cultura, pra buscá entendê diferença social, pra buscá entendê...Se
eu já nasci excluído, se eu não me direcioná pra sai dessa camada de excluído, nem que seja
10%, entendeu?

73
5 - Necessidade e Realidade

Macarrão

Macarrão conversa com o entrevistador na laje de sua casa

Entrevistador: Tu gosta de trabalhá no bicho?

Macarrão: Gostá eu num gosto não. Escravização, né?!

Entrevistador: Má tu ta recebeno!

Macarrão: Ué, e daí? Oito da manhã às nove da noite. Tu bancava?

Entrevistador: Ah, muita gente trabalha assim.

Macarrão: Pô, mar sentado no mermo lugar? Tomando tapa di polícia. Agora não, que agora
ta bom, mar já passei várias vergonha ali di i preso na frente da mia mulhé, de os cara querê
batê nela, eu tê que tomá a frente e ganhá porrada. Ma aí que que adianta eu saí dali e assiná
cartera pá ganhá 200 conto, parceiro, por mês? O aluguel dessa casa aqui é 200, cumpadre.

Macarrão falando com o entrevistador na casa dele, segurando o filho nos braços enquanto
fala: Porra, cara, tu qué que eu te falo legal? Minha vida acabo, bandido. Isso é uma realidade
que não vai mudá. Eu to massacrado mermo, legal. Né, meu mozão? To igual robô, cara!
Desço, trabalho, subo. Desço di novo, subo outra veiz. Desço di novo, subo outra veiz e acabo
aquele negócio de ter as coisa dentro de casa e tudo mais. Sem referência dentro do barraco.
Trabalho porque tenho que sustentar as criança, se não eu tinha vasado.

Toghum

Toghum conversa com o entrevistador em sua casa

Meu negócio é o rap, mas por enquanto não ta dando certo. Eu vou continuar fazendo, mais
eu preciso duma renda, preciso duma renda, num dá pra ficá desempregado.

74
Mônica

Mônica conversa com o entrevistador em sua casa

Mônica: Não tô mais trabalhano, tudo bem, é ruim pra caramba tu ficá sem grana mar num me
sinto mais tão escrava assim, caraça, trabalhava direto.

Entrevistador: Cê acha que vai dá pra vivê de música, vai dá pra vivê de rap?

Mônica: Só pra quem qué, sabe qual é?! Cê num pode ficá contando os dias, as horas...eu vô
vivê da música.

75
APÊNDICE IX – ENTREVISTA COM A PRODUTORA MARA MOURÃO

Entrevista realizada com a produtora Mara Mourão, em 24 de maio de 2006.

1 - Mara, você poderia nos descrever sua formação, seus trabalhos realizados?

Sou formada em cinema na FAAP, com curso de cinema na New York University (duração de
1 ano). Fui assistente de direção em publicidade durante 6 anos. Depois dirigi inúmeros
comerciais, até 1995. Em 1996 escrevi, produzi e dirigi meu primeiro longa-metragem:
"Alô?!". Depois vieram "Avassaladoras" (2001), "Doutores da Alegria" (2005) e
"Avassaladoras - série" (2006).

2 - Na sua opinião, qual o real objetivo na produção de um documentário?

Um autor pode querer retratar a realidade através de um filme documentário apenas para
levar este conhecimento ao público, ou também para denunciar algum aspecto que ache de
interesse da sociedade. Outro autor pode fazer um documentário que não tenha tanto
compromisso com a realidade, mas sim com o que ele autor pensa à respeito da realidade.
Nestes filmes o que se vê é uma tentativa de provar um ponto de vista, mostrar a fatia de
realidade que o autor crê ser relevante. Acredito que ambos os filmes sejam totalmente
válidos. E gosto muito dos docudramas, que misturam ficção com documentário. Na minha
opinião, o real objetivo de um filme, tanto faz se é um documentário ou um filme ficcional, é o
de transformar a realidade, ensinar ou pelo menos mudar e o estado de espírito das pessoas
no momento da projeção.

3 - Mara, qual o papel representativo que o documentário pode desempenhar na realidade


social brasileira?

O documentário no Brasil ainda tem um alcance pequeno quando veiculado apenas no


cinema. Os documentários de maior sucesso alcançaram 300 mil espectadores. Quando
chegam à TV, podem alcançar um número mais expressivo de espectadores.

76
Porém acredito que um filme que fale de uma verdade ainda não muito explorada, ou mostre
esta verdade por um angulo inovador pode, mesmo alcançando um número pequeno de
pessoas, causar modificações na sociedade.
Que um filme toque o coração de uma só pessoa, mas que a leve a repensar a nossa
sociedade, já terá cumprido o seu papel. Acho que o documentário aos poucos está rompendo
o preconceito do público, chegando às salas de cinema, TV e DVD. Com certeza terá um
papel importante para fazer-nos repensar nossa realidade.

4 - Quais mudanças – conceituais e técnicas - ocorreram na produção de documentários ao


longo dos anos?

Acho que a visão de documentário com câmera invisível, na tentativa de interferir o menos
possível na realidade, está tendo que dividir espaço com o filmes que misturam ficção
(inclusive com atores), na tentativa de contar uma história.
No âmbito técnico houve grandes mudanças com a chegada das câmeras digitais, que
baratearam os custos tornando a produção de cinema mais acessível.

5 - Desde a concepção da idéia até a finalização do documentário, quais são as principais


etapas a serem realizadas? Você poderia nos descrever como são feitas as entrevistas com as
pessoas retratadas no documentário?

Argumento
Roteiro
Pré-produção
Produção / filmagem
Edição de imagem
Edição de som
Trilha sonora
Mixagem de som
Finalização de imagem e som
Distribuição

Cada diretor tem uma metodologia para entrevistar. Eu tive longas conversas com meus
entrevistados antes das filmagens e, portanto sabia o que queria perguntar na hora de rodar.

77
Mas isso funcionou para o filme DOUTORES DA ALEGRIA. Não funcionaria noutro tipo de
documentário. A maior parte das vezes é chegar e usar a sensibilidade para tentar deixar o
entrevistado à vontade para abrir seu coração.

6 - Que diferenças existem entre o cinema e o documentário com relação às suas produções e
às suas equipes técnicas?

O filme de ficção geralmente tem um orçamento maior, uma equipe maior. Afinal, a maior
parte dos documentários não tem figurinista, cenógrafo, maquiador, etc.
No caso do DOUTORES DA ALEGRIA precisei usar uma equipe mínima para interferir o
menos possível no ambiente hospitalar. Quando se produz um filme de ficção de época,
existem grandes cenários, muitos figurinos, adereços, etc.

7 - Existe imparcialidade por parte do documentarista na realização de um trabalho? Caso não


exista, até que ponto a sua parcialidade pode interagir com o documentário sem
descaracterizá-lo?

Não acredito na imparcialidade. O mesmo assunto visto por 20 diretores dará 20 filmes
completamente diferentes. E esta diferença chama-se visão do diretor.
Existem filmes que refletem muito a opinião de um autor, como "Farenheit" do Michael
Moore que é apenas uma visão dele sobre o Bush, e nem por isso deixa de ser importante.

8 - Existem incentivos fiscais ou alguma forma de patrocínio para a realização de um


documentário?

Documentário é um filme e, portanto pode ser inscrito na Ancine como outro filme qualquer.
Também existem concursos específicos para documentário.

9 - Na sua opinião, quais as medidas a serem traçadas – governamentais ou particulares –,


para que haja maior acessibilidade do público aos documentários produzidos?

O Brasil tem um problema gravíssimo que afeta a ficção da mesma forma que o
documentário: FALTA DE SALAS DE CINEMA Temos muito poucas, por volta de 2 mil
salas. Imaginem que um filme como Código Da Vince entra com 500 cópias, está ocupando

78
1/4 de todas as salas de um país. Se 3 blockbusters estão em cartaz ao mesmo tempo, temos
muito pouco espaço sobrando para o resto da cinematografia mundial. É isso que tem que
mudar.Além disso, precisamos de mais verba para a produção e distribuição.

79
APÊNDICE X – QUESTIONÁRIOS DE CLASSIFICAÇÃO SOCIOECONÔMICA
RESPONDIDOS

80
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Ana Caroline

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

81
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Ana Lúcia

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

82
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Betina

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

83
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Daniele

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

84
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Flávio

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

85
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Jorge

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Tietê do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

86
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Maria Adelaide

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

87
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Nádia

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

88
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Rita

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Tietê do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

89
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Tiago Eduardo Ferraz

Classificação Socioeconômica: A

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Bruno e Daniela Data: 03 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Liberdade (bairro)

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

90
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Carina

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Terminal Vila Madalena de metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

91
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Danilo

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Sumaré do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

92
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Durval Negrini

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Tietê do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

93
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Josemir

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Terminal Rodoviário do Tietê

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto X
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

94
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Maurício

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo X

95
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Railete

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Sumaré do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

96
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Sales

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Tietê do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

97
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Sérgio

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

98
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Socorro

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Terminal Vila Madalena de metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

99
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Vanessa

Classificação Socioeconômica: B

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Tietê de metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto X
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

100
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Alexandre Rodrigues

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Terminal Vila Madalena de metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

101
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Celso

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 25 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Rua Oscar Freire

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

102
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Fernanda

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Clínicas do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto X
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

103
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Jennifer

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Terminal Rodoviário do Tietê

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto X
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

104
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Jonas

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Tietê do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto X
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

105
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Júllio César Nunes

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Clínicas do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto X
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

106
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Mauro de Ciqueira

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

107
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Priscila

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Paraíso do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

108
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Rômulo Martins

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Terminal Vila Madalena de metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto X
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

109
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Vagner da Silva Batista

Classificação Socioeconômica: C

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Paraíso do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

110
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Antônio José da Silva Filho

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

111
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Camila

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Marcello Portugal Data: 09 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Parque Trianon

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto X
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

112
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Caroliny

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Marcello Portugal Data: 09 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Parque Trianon

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto X
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

113
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Everaldo Pereira

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

114
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: João Laerte

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Gabriela e Camila Data: 13 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Clínicas do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores
Rádio (vale do carro) X X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto X
Superior completo

115
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Joaquina

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Estação Clínicas do metrô

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto X
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

116
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Luciano José da Silva

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

117
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Manuel

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Lucas, Mariana e Marcelo Data: 31 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Terminal Rodoviário do Tietê

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

118
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Marli Pereira da Silva

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

119
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Rosana

Classificação Socioeconômica: D

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Marcello Portugal Data: 09 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Parque Trianon

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto X
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

120
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Alice da Cruz

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores
Rádio (vale do carro) X X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto
Primário completo / Ginasial incompleto X
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

121
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Ediudo Valério de Barros

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Bruno e Daniela Data: 03 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Liberdade (Albergue)

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

122
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: João Batista

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Bruno e Daniela Data: 03 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Liberdade (Albergue)

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

123
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: José Carlos do Rosário e Irene Maria de Jesus

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

124
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: José Ferreira Lopes

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Bruno e Daniela Data: 03 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Liberdade (Albergue)

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

125
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Marconi Sabino

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Bruno e Daniela Data: 03 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Liberdade (Albergue)

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

126
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Maria Joseleine de Almeida Sousa

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Bruno e Daniela Data: 03 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Liberdade (Albergue)

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

127
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Sônia da Silva

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores
Rádio (vale do carro) X X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

128
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Valdir Luiz Greff

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Bruno e Daniela Data: 03 / 06 / 06

Local em que foi aplicado: Liberdade (Albergue)

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

129
QUESTIONÁRIO

I.) Caracterização do entrevistado

Nome: Valtelânia Costa

Classificação Socioeconômica: E

II.) Caracterização do entrevistador

Aluno (a): Leonardo e Marcela Data: 27 / 05 / 06

Local em que foi aplicado: Jardim Ideal – Zona Sul

III.) Tabela de Classificação Socioeconômica

POSSE DE ITENS

ITENS NÃO TEM


TEM 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores X
Rádio (vale do carro) X
Banheiro X
Automóvel X
Empregada mensalista X
Aspirador de pó X
Máquina de lavar X
Videocassete X
Geladeira X
Freezer (aparelho independente ou
parte da geladeira duplex) X

GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA


Analfabeto / Primeiro grau incompleto X
Primário completo / Ginasial incompleto
Ginasial completo / Colegial incompleto
Colegial completo / Superior incompleto
Superior completo

130
131
ANEXO I – ENTREVISTA DE NATHANIEL LECLERY AO SITE CINEWEB

132
133
134
135
ANEXO II – ANCINE – LISTA DE LANÇAMENTOS NACIONAIS 2005

136
137
138

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