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COTIDIANO EM MOVIMENTO
Cinema, Trabalho e Linguagem
SÃO PAULO
2006
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Aline Simone Erédia
Bruno Pellegrini Bellucci
Camila Kawachiya Silveira
Daniela Carol Moniwa Reis
Gabriela Lancellotti Zapparolli Pupin
Leonardo da Silva de Assis
Lucas Mendes Martini
Marcela Augusta Rodrigues de Moraes
Marcello Portugal Moura Leal
Mariana Garcia Leite Cardoso
Rebeca Lourenço Vieira
COTIDIANO EM MOVIMENTO
Cinema, Trabalho e Linguagem
SÃO PAULO
2006
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 5
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 6
1.1 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 6
1.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................ 6
1.1.2 Objetivos específicos ................................................................................................. 6
5 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 50
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52
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APÊNDICE III – Transcrição de entrevistas – CLASSE A ............................................... 56
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APRESENTAÇÃO
Esta monografia surgiu a partir de uma proposta apresentada pela Profª. Drª. Roseli A.
Fígaro Paulino em sala de aula. Proposta que tem por objetivo analisar, dentro dos veículos de
comunicação do Brasil, o aparecimento do tema trabalho.
O veículo de comunicação escolhido por nosso grupo para realizar tal estudo é o
cinema, em especial o cinema Documentário. Um breve relato da história do Cinema
internacional e nacional será apresentado, sendo direcionada esta monografia às mudanças
ocorridas na sétima arte relacionadas ao tema central de pesquisa: o trabalho.
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1 INTRODUÇÃO
Desde sua chegada ao Brasil, o cinema sofre transformações geradas pelo meio
socioeconômico que o envolve. Nosso objeto de pesquisa é analisar estas mudanças
relacionadas ao campo de trabalho, ou seja, ocorridas nos processos produtivos, técnicos,
profissionais das pessoas envolvidas no fazer Cinema. O material utilizado para análise desta
questão é o documentário Fala Tu, de Guilherme Coelho.
1.1 Objetivos
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2 HISTÓRIA DO CINEMA
Para que possamos entender mais sobre o veículo de comunicação cinema, traçaremos
uma divisão apresentando sua origem e seu processo de introdução no país. Observamos que,
assim como outros veículos difusores de entretenimento e informação, o cinema é criação e
apreciação de esforços gerados pelo ser humano.
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desenvolvimento interno. Entretanto, começou a haver uma falta de condições para o
patrocínio da nascente sétima arte, o que fez com que o consórcio “Hugenberg” passasse a se
interessar na solução do problema e conduzisse a indústria cinematográfica com objetivos de
publicidade política. Dois meses depois da tomada do poder por Hitler, Joseph Goebbels –
chefe da propaganda nazista –, comunicava o interesse ativo do novo governo em tudo que se
referia à sétima arte, leis que colocavam a censura sob direção autoritária, enrijecia os seus
princípios e se estendia a todo o processo de produção desde o “script ” até ao filme
finalizado. O governo nazista privou o Cinema alemão de todas as suas conquistas anteriores.
A idéia de uma “revolução nacional” não chegou a inspirar nenhuma obra cinematográfica,
como também, sob a ditadura, qualquer formulação crítica, mesmo no domínio meramente
publicitário do Cinema, era de todo impossível. O término da guerra libertou o Cinema
alemão da ditadura da arte do “Terceiro Reich”, porém não do conformismo e da esterilidade
de seus autores e diretores. Na medida em que se voltavam para temas atuais, o que, aliás,
acontecia raramente, permaneciam, contudo presos à apologia sentimental da mesma
passividade política que lhe havia dado projeção. A evolução do trabalho na indústria
cinematográfica alemã foi lenta. No início, as poucas técnicas e as vanguardas artísticas
minimizavam a participação de pessoas, uma vez que o enredo e a arte dramática não eram
bem desenvolvidos. A história cinematográfica alemã pós-nazista comprova que a ascensão e
queda da arte cinematográfica podem estar profundamente relacionadas ao desenvolvimento
econômico, social e político.
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acompanhavam o filme – e a música, que era, como no Ocidente, tocada ao vivo. Uma grande
quantidade de atores e atrizes surgiu, possibilitando maiores estudos na arte dramática
japonesa. Entretanto, o Terremoto de 1923, o Bombardeio Aliado a Tóquio durante a Segunda
Guerra Mundial, assim como os efeitos naturais do tempo e da umidade do país nas frágeis
películas destruíram a maior parte dos filmes realizados no período. Mas, como ocorre intenso
desenvolvimento em técnicas cinematográficas no Japão, novos e mais modernos filmes
puderam ser lançados, complementando ainda mais o cinema com produções elaboradas em
conotação artística e efeitos especiais.
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Porém, cabe citar o mais novo país a receber a qualificação de maior produção de filmes:
Nigéria. Batizada de Nollywood, chega a produzir 1200 filmes por ano. Com uma indústria
que começou – e continua – com uma produção caseira, a Nigéria faz uso da recente
tecnologia digital, que permite captar e editar imagens sem maiores técnicas, trabalhando em
um computador. A distribuição atinge vasta parte da população por meio de vendas em
barracas de camelôs e a preços acessíveis. Além dos habitantes nigerianos, a cinematografia
do país atinge outros lugares, como vizinhos africanos e a Europa. Não há apoio
governamental, como na Índia, mas a produção movimenta aproximadamente 200 milhões de
dólares anuais, superada, apenas, pela indústria petrolífera.
O cinema chegou ao Brasil pouco depois de sua invenção nos Estados Unidos e
França. A primeira sessão pública ocorreu no Rio de Janeiro, aproximadamente entre os anos
de 1895 e 1896. Naquele período, devido à proclamação da republica em 1889, o Rio de
Janeiro era o principal centro cultural do país, sendo que uma considerável quantia de
recursos financeiros do Estado era destinada ao desenvolvimento de ações que promovessem
a cultura, seguindo os modelos das repúblicas européias.
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Assim, a este veículo de comunicação, foi atribuída a imagem de que seu consumo
proporcionava status em sociedade, ou seja, participar das primeiras apresentações de
películas no Brasil era confirmar superioridades econômicas e financeiras de famílias que
arrendavam grandes valores de capital produzidos no país.
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desmobilizada. Com o golpe de 1937, o Cinema passou a ser um poderoso componente para a
manutenção do poder político, a chamada máquina de propaganda. Neste contexto foi criado
o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que tinha por objetivo sistematizar a
propaganda e exercer o poder de censura aos meios de comunicação.
Contudo, mesmo nesse contexto histórico, grandes estúdios foram construídos no país.
Muitos cineastas chamam esta fase de produção do Cinema nacional de Bela Época. Destaque
para os estúdios da Cinédia (1930), Atlântida (1941) e a Vera Cruz (1949). Obras importantes
foram filmadas, com destaque, respectivamente, para os filmes encenados por Carmem
Miranda, Grande Otelo e Amâncio Mazzaropi. Anselmo Duarte, galã de filmes pela Vera
Cruz, conta-nos como era seu trabalho naquele período.
“Sinto muita saudade daquele tempo. Porque havia muito otimismo quando
fazíamos aqueles filmes. E um otimismo geral. O Franco Zampari nunca
deixava transparecer os seus graves problemas financeiros com a companhia
– que para nós, até então, não existiam. Nós éramos muito bem pagos, e
pontualmente. Estávamos certos de que fazíamos o melhor Cinema do
mundo”. (SALEM, 1988, p.80).
Após essa fase áurea do Cinema nacional, ele sofreu grandes abalos econômicos
financeiros devido ao monopólio das produções oriundas dos estúdios de Hollywood.
Portanto, para sua sobrevivência, os cineastas brasileiros procuraram novas alternativas para
se adaptar às vicissitudes e realidades. O contexto mostrou-se favorável á produção de
documentários e de cinejornais, ambos com roteiros centrados no universo temático nacional.
Abre-se espaço para o aparecimento do Cinema independente, Cinema novo. Tanto os
documentários como cinejornais passaram a funcionar como um nicho de mercado capaz de
manter a continuidade da produção cinematográfica do país.
O cinema novo foi idealizado por jovens, que propunham a realização de projetos
independentes de autor, com temas nacionais, cenários do cotidiano e sem grandes
investimentos. Sua base teórica, por assim dizer, era estruturada na forma de questionamento
e na tentativa de modificação da realidade brasileira através da análise e denúncia, como
destaca o expoente máximo deste movimento Glauber Rocha:
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novo porque o homem brasileiro é novo e a problemática do Brasil é nova e
nossa luz é nova e por isto nossos filmes nascem diferentes dos cinemas da
Europa. Nossa geração tem consciência: sabe o que deseja. Queremos fazer
filmes antiindustriais; queremos fazer filmes de autor, quando o cineasta
passa a ser comprometido com os grandes problemas de seu tempo;
queremos filmes de combate na hora de combate e filmes para construir um
patrimônio cultural”. (Gomes, 1997, p. 135).
Em 1954, Nelson Pereira dos Santos, outro grande representante deste movimento,
realizou seu primeiro longa metragem, chamado Rio, 40 Graus. Obra que causou grande
impacto no Estado nacional, pois apresentava uma realidade que até então estava afastada das
grandes telas, ou seja, uma apresentação dos centros periféricos e suas condições sociais.
Milanesi apresenta o rádio por ser ele o veículo de comunicação com maior alcance
entre os cidadãos brasileiros, mas o advento da televisão também afetou o cenário
cinematográfico do país. A televisão alterou substancialmente o envio de recursos financeiros
do governo ao Cinema, que até então recebia certo incentivo. Empresários e investidores
observaram que o mercado televisivo era de potencial valor econômico, principalmente por
individualizar necessidades diversas a população. Também se constatou a facilidade de uma
transmissão simultânea – em diversos pontos geográficos –, com custos relativamente baixos
quando comparados às produções cinematográficas, que ao contrário do sistema televisivo se
concentrava nos grandes centros econômicos do Brasil.
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estimular o desenvolvimento do cinema no país, formular e executar a política governamental
relativa ao processo de produção, importação, distribuição e exibição de filmes no Brasil e no
exterior. Em 1969, tais atribuições foram transferidas para a Empresa Brasileira de Filmes
(EMBRAFILME), que marcou a passagem ao poder Executivo da tarefa de gerenciar as
atividades cinematográficas no país.
Seguindo está lógica histórica, o golpe militar foi um fator negativo para a liberdade
de expressão no cinema nacional. Departamentos de censura proibiram a produção e
apreciação de obras que não condiziam aos interesses do Estado. Nelson Pereira dos Santos
apresenta como foi esse período:
Após a abertura do regime político na década de 80, um incentivo maior por parte do
Estado foi oferecido ao cinema nacional. Foram criadas Leis que propiciam a formação de
obras cinematográficas no país, com o objetivo de desenvolver a cultura em território
nacional. Incentivos que são de fundamental importância, visto que o cinema é produto de
entretenimento e informação à população. Foi criada, em 2001, a Agência Nacional do
Cinema (ANCINE), órgão oficial de fomento, regulação e fiscalização das indústrias
cinematográfica e videofonográfica do país, órgão do governo dotado de autonomia
administrativa e financeira. Veremos mais do como está o cenário atual do cinema no Brasil
no panorama feito sobre a situação do cinema hoje.
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2.3 Os gêneros de Cinema
2.3.1 Documentário
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Há uma certa polêmica, mas costuma-se classificar as curtas gravações dos irmãos
Lumière como os primeiros documentários feitos no mundo: La Sortie des ouvriers de l'usine
Lumière (Saída dos operários das Fábricas Lumière) ou Le Déjeuner de Bébé (O almoço do
bebê).
Com a ascensão dos filmes de ficção, o documentário só teria sua importância revista
com o trabalho de Robert Flaherty, de 1922, chamado de Nanook of the North, um estudo
sobre a vida dos esquimós na Baía de Hudson, tornando-o pai do filme antropológico. Sua
importância passa pelo fato de que foram incorporadas à narrativa, cenas próprias da ficção. O
diretor não hesitou em reconstituir as cenas que queria filmar, pedindo a Nanook e à sua
família que representassem os seus próprios papéis: a preparação das refeições, a construção
de um iglu, a caça de uma foca.
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construídas com finalidades, na maioria das vezes, institucionais. Em outras palavras,
constituem-se de imagens rigorosamente compostas, fusão de música e ruídos, montagem
rítmica e comentários em voz off despersonalizada. Já os últimos, presença hegemônica na
produção brasileira desde a década de 60, buscam uma interação com o público alvo, de modo
a lhes despertar o senso crítico e permitir interpretações variadas, de acordo com a realidade
de cada espectador.
Ainda, podem ser citados os modelos expositivos, que seguem a linha clássica de
Grierson, em que há um controle do conteúdo, mostrando-o sob determinado ponto de vista,
com fins meramente educativos; observacional, que se diferencia do expositivo pela ausência
de narrador, reconhecendo que a câmera deve passar despercebida pelos acontecimentos;
interativo, em que o autor dá o seu parecer sobre os temas retratados; e, finalmente, o
reflexivo, que possui intervenção ideológica do autor, podendo este participar ativamente do
filme. Segundo Sebastião Squirra, jornalista e mestre em comunicação pela Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), ainda há duas últimas
divisões dos documentários: de compilação, que se constitui basicamente de partes do acervo
de emissoras televisivas, museus e organismos governamentais; investigativo, que concentra
sua atenção em situações, como o do caso Watergate, possuindo um foco jornalístico; e, por
fim, cultural, que se centra no indivíduo, demandando grandes custos e, talvez por isso, seja
tão raro de se ver.
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Por volta de 1895, seu provável início, os documentários simplesmente retratavam a
vaidade e o poder das distintas famílias burguesas que bancavam a produção das filmagens
em suas fazendas e empresas. Filmagens de visitas, viagens e chegadas de autoridades eram
também realizadas nesses registros visuais.
Durante esse início e até o período dos anos 30 e 40, além de retratar o
desenvolvimento das principais cidades e das regiões do país, o documentário mudo brasileiro
se destaca, em outras realizações, por estes importantes registros históricos: a Revolta dos
Marinheiros em novembro de 1910 no Rio de Janeiro, o fim da Primeira Guerra Mundial, a
Revolta do Forte de Copacabana em 1922, os confrontos sangrentos no Rio Grande do Sul em
1923, a Revolução Paulista de 1924, a Revolução de 1930 e o Movimento Constitucionalista
de 1932, além dos primeiros registros do Carnaval.
Com o advento do documentário sonoro, meado dos anos 30, políticas públicas de
incentivo, como o decreto de 1932 – que instaura a obrigatoriedade de exibição de curta-
metragem –, além da criação do Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE), consolidam
cada vez mais a realização dos documentários. Nesse novo cenário, surge com uma produção
significativa o documentarista Humberto Mauro. Com o Serviço de Informação getulista são
produzidos dezenas de curtas através do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e do
Ministério da Agricultura. Cresce também a produção da Cinédia que, aproveitando o decreto
de 1932, distribui diversos cinejornais e documentários. Porém, nos primeiros anos da década
de 40, a produção documentária do reduz-se bastante devido à guerra.
A partir dos anos 60, com uma nova concepção cinematográfica brasileira, - Cinema
Novo – os conceitos do documentário estão estruturados e empregados nessa nova forma de
expressão. A geração cinemanovista introduz e mescla as técnicas do documentário às
técnicas decorrentes do cinema-verdade e, desta forma, também constitui um novo processo
na realização dos documentários, como explica Glauber Rocha:
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“É em geral, um tipo de documentário em que se usa o som direto,
entrevistando pessoas, personagens, e recolhendo som da realidade,
fotografando de uma forma direta, procurando captar o maior realismo
possível. Daí a palavra verdade, ou seja, um tipo de documentário que
procura pelo som direto e pela imagem refletir uma verdade, uma realidade”.
(Gomes, 1997, p.161).
Entre os anos 60-70, a produção documentária também passa pelo registro das
tradições populares, na procura de uma identidade nacional. Essa produção é praticamente
financiada pelo mecanismo da política cultural desenvolvida pelo MEC, através de seus
órgãos executores como: Funarte, Departamento de Assuntos Culturais e, principalmente,
Embrafilme.
Já nos anos 70, ainda influenciada pelo cinema verdade, a produção de documentários
adquire uma notória popularidade através da televisão. Tanto a TV Cultura quanto a TV
Globo buscam em seus noticiários um maior canal de comunicação com a população,
recorrem ao cinema verdade, agora, o “cinema de rua”, utilizam um microfone e uma câmera
na rua para estabelecer uma maior relação de aproximação com a população. Outro fato
importante é a criação, em 1973, da atuante Associação Brasileira de Documentaristas (ABD).
Nos anos 90, após um longo período marcado pela falta de políticas governamentais e
pela grande crise econômica, caracterizadas principalmente no Governo Collor, tanto as
produções no documentário como no cinema atinge números reduzidos e de pouca expressão.
Porém, a partir de 1995, a produção cinematográfica é retomada e documentaristas como João
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Moreira Salles, Ricardo Dias e Mônica Schmiedt, entre outros, marcam uma nova fase de
reestruturação e consolidação do documentário brasileiro.
“Em 1991, oito filmes nacionais e 231 estrangeiros; no ano seguinte, foram lançados
oito filmes nacionais e 239 estrangeiros; em 1992 após o fechamento da Embrafilme,
foram produzidos apenas três filmes nacionais contra o lançamento de 237 filmes
estrangeiros; em 1993, quatro nacionais contra 234 filmes estrangeiros; em 1994, sete
filmes nacionais contra 216 estrangeiros; em 1995, com a retomada da produção, 12
filmes nacionais contra 222 estrangeiros; em 1997, 23 filmes nacionais contra 236
estrangeiros e em 1998, 22 filmes nacionais contra 184 estrangeiros”. (ÁLVAREZ,
2005, p.248).
Podemos observar que, no período citado, a produção de cinema no país sofreu sérios
problemas, mas uma retomada neste setor está presente após a criação da ANCINE, como
afirma Sidney Ferreira Leite:
“O cinema nacional vice uma nova fase. Nesse contexto, pode-se afirmar que
experimenta uma etapa peculiar no processo de retomada que teve início com as leis
de incentivo fiscal”. (LEITE, 2005, p.136).
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A ANCINE não tem apenas como objetivo a promoção de filmes no país, mas também
outras atividades como:
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Entre os filmes-documentários, também produções de sucesso tiveram apoio e
investimentos oriundos de fontes governamentais, mesmo que grande parte dessas produções
ainda atravesse dificuldades para receber tal incentivo. Trabalhos como Janela da Alma, Surf
Adventures, Fala Tu, Doutores da Alegria estão entre as produções nacionais mais vistas nos
últimos anos e são frutos desta nova política.
Como apresentado pela produtora Mara Mourão, o acesso aos filmes brasileiros sofre
uma grande concorrência com os filmes internacionais (ver Apêndice IX, item 9). Muitas
salas de cinema estão reservadas para exibição de filmes internacionais que trazem receitas –
lucros – às grandes empresas que controlam a exibição de filmes no país.
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3 O PROCESSO CINEMATOGRÁFICO
3.1.1 Os pioneiros
O jogo de sombras do teatro de marionetes oriental surge na China, por volta de 5.000
a.C., e é considerado um dos mais remotos precursores do cinema, uma vez que figuras
humanas, animais ou objetos recortados e manipulados são projetados sobre paredes ou telas
de linho, enquanto o operador narra a ação, que quase sempre envolve príncipes, guerreiros e
dragões. Posteriormente, surgiram a câmara escura e a lanterna mágica, bases da ciência
óptica e que tornaram possível a realidade cinematográfica. A Câmara escura é uma caixa
fechada, com um pequeno orifício coberto por uma lente; através dele penetram e se cruzam
os raios refletidos pelos objetos exteriores. A imagem invertida é projetada na face do fundo,
no interior da caixa. A Lanterna mágica, por sua vez, baseia-se no processo inverso da
câmara escura. É composta por uma caixa cilíndrica iluminada à vela, que projeta as imagens
desenhadas em uma lâmina de vidro.
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Mas, para que o cinema surgisse como é hoje, não bastava saber projetar imagens
sobre um retângulo de pano branco ou sobre o fundo de uma caixa escura. Era necessário
também que as imagens fossem animadas e não imóveis como as das lanternas mágicas. Para
animar essas imagens, precisava-se não somente ter inventado a fotografia, mas ainda realizar
instantâneos e multiplicar tais imagens sobre uma fita transparente, maleável e perfurada, que
mais tarde recebeu o nome de filme.
O cinema não surgiu, portanto, da noite para o dia no cérebro de um inventor genial.
Foi necessário para que nascesse, acumular o trabalho de centenas de investigadores e
curiosos em numerosos países, durante mais de meio século.
A Mesa Posta, primeira fotografia de Niepce, feita por volta de 1823, exigira 14 horas de
pose. Os primeiros objetos utilizados foram naturezas mortas ou paisagens, pois o tempo de
pose necessária em 1839 ainda ultrapassava meia hora. Depois de 1840, esse tempo reduziu-
se para 20 minutos, obtendo-se então os primeiros retratos de modelos maquiados, imóveis e
transpirando ao sol intenso. Logo, bastavam apenas um ou dois minutos. Foi preciso esperar
até 1851, quando surgiu o processo que empregava colódio úmido, para que a fotografia
contasse com clichês de vidro, dos quais se permitia fazer muitas cópias em papel. Com o
tempo de pose reduzido há alguns segundos, surgiu uma nova profissão: o fotógrafo.
Em 1872, um milionário americano fez uma aposta. Ele garantia que, quando o cavalo
galopa, há um momento em que este fica com as quatro patas no ar. O fotógrafo inglês
Muybridge decidiu fazer a demonstração. Colocou lado a lado 24 câmeras fotográficas presas
por fios que, ao serem tocados pelas patas do cavalo, acionavam as máquinas tirando 24 fotos
que registraram todos os movimentos do galope. Ele provou assim que, de fato, há um
momento em que as quatro patas não tocam o chão. Sem o saber, acabou dando um passo
fundamental para o nascimento do cinema.
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1882, Marey passou a utilizar as chapas de gelatino-brometo em seu Fuzil Fotográfico
(inspirado no Revólver Fotográfico criado pelo astrônomo Janssen em 1876) e em seguida em
seu cronofotógrafo. Seis anos mais tarde, consegue adaptar neste último aparelho os rolos de
películas Kodak, que haviam sido lançados recentemente no comércio, criando, assim, o
primeiro aparelho de filmagem.
Os filmes dos irmãos Lumière eram de curta duração (um minuto) e não contavam uma
história. Apenas registravam cenas da vida cotidiana: a chegada de um trem na estação, a
saída de operários da fábrica, a queda de um muro, um bebê sendo alimentado, etc.
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Para os irmãos Lumière, o cinematógrafo era apenas "uma invenção sem futuro", mas
sua apresentação pública marca oficialmente o início da história do cinema.
No começo, o filme era mudo. Não tinha som. Colocavam um pianista no palco para
tocar, dando mais emoção às cenas. O gênio do cinema silencioso foi o inglês Charles
Chaplin, que criou o inolvidável personagem de Carlitos, mescla de humor, poesia, ternura e
crítica social.
Assim, como inicialmente os filmes não tinham som, eles também só eram filmados a
luz do dia. Os recursos do claro e escuro com a luz artificial são descobertos depois.
Segundo Andrucha Waddington, diretor que trabalhou nas filmagens de “Eu, Tu,
Eles”, dirigir um filme é:
“Uma tarefa árdua, pois ele é constituído por várias etapas, começando na
construção de um roteiro, captação de recursos, filmagem, montagem, pós-produção
de som e imagem e a tarefa mais difícil de todas é o lançamento, onde o filme passa
a pertencer ao público”. (CHAT..., 2006).
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A primeira etapa de produção de uma película é o roteiro – história escrita na língua
do cinema, com todos os seus termos técnicos – e nele devem estar indicados todos os planos,
pontos de vista, enquadramentos, movimentos de câmera, diálogos, ruídos, elementos do
cenário e figurinos, entre outros. O roteiro de um filme muitas vezes é acompanhado de
desenhos que indicam como devem ser os planos, o que facilita sua interpretação correta.
Depois de tudo filmado, ainda há muito trabalho para fazer. Começa a fase da
montagem que é o que imprime o ritmo do filme. Depois da filmagem, onde as cenas são
repetidas várias vezes, o filme é revelado. O montador seleciona os planos melhores, faz os
cortes, colagens e, com recursos técnicos de laboratório, as superposições e trucagens que dão
como resultado efeitos especiais. Antes de filmar cada plano, usa-se a claquete e baseando-se
em suas numerações é que o montador organiza a montagem.
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Com as tecnologias digitais, observa-se que muitas mudanças ocorreram no trabalho
dos profissionais de cinema. A moviola, máquina na qual são organizadas, selecionadas,
emendadas e avaliadas as cenas e seqüências dos filmes, formando inicialmente o copião e,
depois, a montagem final, dificilmente é usada atualmente, conforme explica Bruno Freitas:
“Hoje em dia este processo está obsoleto, e por isso todos os que filmam em
película, seja em 16 ou 35mm, telecinam seu material para digital, a fim de editarem
em ilhas digitais não-lineares. Depois do filme editado, eles levam a marcação do
negativo para o laboratório, onde este é cortado e emendado de acordo com a edição
feita digitalmente. Depois da emenda, o filme é copiado e tem sua primeira cópia
pronta para ser exibida nos cinemas”. (TÉCNICA..., 2006).
“No âmbito técnico houve grandes mudanças com a chegada das câmeras digitais,
que baratearam os custos tornando a produção de cinema mais acessível”. (ver
Apêndice IX).
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4 ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO SELECIONADO: FALA TU
O documentário selecionado para a análise foi “Fala Tu”. Filmado durante nove meses
– entre 2002 e 2003 – e lançado em 2004, tem a direção de Guilherme Coelho e o roteiro de
Nathaniel Leclery, ambos criadores da produtora A Matizar, no ano de 2002. A produção foi
feita por Nathaniel Leclery – pela A Matizar e pela VideoFilmes – e Érika Safira, Alberto
Bellezia Neto foi responsável pela fotografia, e a edição foi realizada por Márcia Watzl.
A equipe acompanhou o dia a dia de três moradores da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Com poucos integrantes e profissionais, Guilherme Coelho e Nathaniel Leclery entraram em
um contato muito próximo com tais pessoas, no qual a câmera os acompanhava diariamente.
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cenário, cujos trabalhos são informais ou mesmo ilegais, são realizados na busca pela
sobrevivência ou para o sustento familiar – condição comum brasileira.
Entre os personagens na tela e o espectador, não surge um abismo provocado por uma
miséria exacerbada. Fala Tu traz protagonistas que refletem com lucidez a situação em que
vivem e discorrem de forma articulada sobre as saídas que têm ou deixam de ter. Longe de
qualquer otimismo raso, o documentário tampouco omite a dor nas biografias ou as enormes
dificuldades no percurso dos retratados. A câmera, afinal, está ali para mostrar exatamente
isso. O caráter sui generis do documentário está em não excluir, por princípio, aqueles que
escolhe colocar na tela. Em não expor a miséria alheia para o olhar curioso do “outro”, mas
expor esse “outro” como alguém que poderia ser o próprio espectador.
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O diretor Guilherme Coelho resume o que foi produzir tal documentário:
“Fala Tu, documentário que eu tive privilégio de construir junto com o Nathaniel
Leclery, foi a aventura da minha vida. Aliás, continua sendo, pois essas coisas que a
gente faz acabam criando vida própria, saindo por aí sem que a gente possa fazer
nada. É um filme-crônica, pelo menos é o que nós queremos pensar que é. Através do
hip-hop tentamos esboçar uma certa crônica da cidade do Rio de Janeiro neste
começo de século. Zona Norte, nossa escolha. Um filme sobre pessoas comuns que
sonham em não ser pessoas comuns. E conseguem isso através da música. Nós somos
do tamanho dos nossos sonhos. E isso que Combatente, uma das personagens do
nosso filme, quer nos mostrar. Esse foi o filme de minha vida por ter proporcionado
um maravilhoso encontro com a nossa cidade partida (ou, talvez, perdida). Um filme
com o qual eu me identifico, apesar de ser um "intruso" no meio. Um filme com o
qual acredito todos possam se identificar, em qualquer lugar deste urgente país.
Quem não sonha, e quem não quer chegar lá”. (GUILHERME..., 2006).
Durante os nove meses de filmagem, a equipe acompanhou o dia a dia dessas três
pessoas, o crescimento dos seus sonhos e suas transformações. Há um contato entre o
telespectador e as pessoas que têm suas vidas mostradas através da tela do cinema, não surge
um abismo pela miséria exarcebada que é mostrada sem cortes no filme. Os dramas e
situações problemáticas dos moradores da Zona Norte do Rio de Janeiro não são mascarados,
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evidenciando a verdadeira face do cotidiano de pessoas que estão em busca pela
sobrevivência.
O documentário mostra a favela, a vida difícil e o sonho do rap. Mostra, também, que
cada um deles possui um trabalho para que possa haver um sustento melhor que a iniciação na
carreira da música poderia dar. Apesar disso, nenhum deles deixa de cantar e fazer do rap uma
música que alastra um sentimento de transformação e bem estar para quem o escuta.
Macarrão é o único dos três que possui um emprego ilegal, pois o jogo do bicho é
condenado pela constituição brasileira. Ele trabalha como apontador durante o dia, sentado
em um banco na calçada. Discussões com sua mulher sobre condições financeiras e o perigo
de morar no Morro do Zinco são comuns (ver Apêndice VIII, item 5).
Combatente é a única dos três que possui um trabalho formal, como atendente de
telemarketing. É, também, a única que desiste do emprego para seguir a carreira musical
como rapper (ver Apêndice VIII, item 5).
4.1.3 A música
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O rap feito por Toghum segue a mesma linha que o feito por Macarrão, como
mensagem de força, porém, mais voltado para a tentativa de mudança de vida, na busca por
melhores condições de sobrevivência. Para ele, a música também é um caminho alternativo
(ver Apêndice VIII, item 5).
Toghum teve uma infância sofrida, com um pai ausente. Reencontraram-se muitos
anos depois, quando seu pai trabalhava como cobrador de ônibus. Desde então, Toghum cuida
do pai, que adoeceu de câncer. A reconciliação deu-se, em boa parte, através da música, sendo
que seu pai era sambista.
Cantar tornou-se possível para Toghum devido à oportunidade dada por terceiros, o
que é considerado raro por tantos artistas brasileiros, principalmente os de classe mais pobre
(ver Apêndice VIII, item 3).
Entretanto, ela possui trabalhos paralelos, como cantar em uma rádio comunitária,
alastrando seu principal ideal na música, que é dar forças a comunidades mais carentes e
evidenciar a verdadeira face da criminalidade (ver Apêndice VIII, item 3).
4.1.4 A Linguagem
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Trata-se de uma linguagem simples, que designa pessoas que não tiveram total acesso
a uma educação escolar de qualidade. O falar coloquial é marcante, repleto de gírias e
expressões características. Erros gramaticais também são comuns, devido ao já citado pouco
acesso à educação escolar. Cabe, agora, analisar o modo de falar de cada um dos participantes
do documentário.
Macarrão, por ser apontador do jogo do bicho, possui uma linguagem mais rápida e
coloquial, aproximando-o de seus clientes. O falar rápido denota, também, o medo por prática
de um trabalho ilegal, de apreensão por parte de fiscalizadores (ver Apêndice VIII, item 1).
Toghum, assim como Macarrão, utiliza uma linguagem para uma maior proximidade
com seus clientes – por ser comerciante itinerante. Por ser um vendedor que vai à porta
vender seus artigos, Toghum necessita ser persuasivo, o que é notado em seu modo de falar e
atender os compradores. Entretanto, o vocabulário ainda é restrito e há muitas marcas de
coloquialidade (ver Apêndice VIII, item 1).
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No questionário realizado pelo grupo responsável por este Trabalho de Conclusão de
Curso no período do mês de junho de 2006, na cidade de São Paulo, foi avaliada a questão
sociolingüística. Em análise comparativa das entrevistas com o documentário, fez-se um traço
das características lingüísticas das cinco classes econômicas que existem no Brasil.
Quanto à classe A:
1. Maria Adelaide: “(...) o que você faz, e o que é bem feito, por exemplo, vocês
tão fazendo um trabalho de pesquisa, vocês devem ficar: ai, que saco! Ainda falta,
num tem gente que me aceita, que num quer isso, num sei o quê!”.
2. Flávio: “Então, eu faço parte de uma minoria, como vocês também tão na,
faculdade”.
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• Possuem uma idéia de que na vida está-se sempre pensando no aprimoramento.
Exemplo:
1. Maria Adelaide: “Cada vez você se exige mais e consegue melhor, entendeu?
Melhorar sempre as coisas”.
2. Flávio: “(...) acho que se você faz o que gosta, já é um passo... bom passo pra isso,
né? Você tem novas idéias, você... até pensa em fazer melhor (...)”.
Isso mostra o domínio da linguagem graficamente correta pela classe mais abastada,
contrastando com o povo que mora nos morros, mostrado pelo documentário.
Homem 2: “É 5 real”
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2. Uso de períodos longos, com uso de conectivos. Exemplo:
Flávio: “Eu sei disso porque eu conheço algumas pessoas que... trabalham, até
comigo, que estão insatisfeitas e atrapalham o ambiente profissional e isso não é
legal...”.
Apesar disso, Combatente aparece usando uma linguagem mais culta, aprendida em
razão da profissão que exerce e o tipo de público com o qual lida:
2. Maria Adelaide: “(...) já faz uns 15 anos que eu trabalho com isso e eu gosto,
entendeu?”.
Estas palavras são usadas pela população como um todo, não constituindo elemento
diferencial entre as classes. Isso se percebe também no documentário, em que outras
expressões aparecem, como “tá ligado?”, “certo?”:
No documentário também está presente, nas falas do carioca => Som de “S” arrastado:
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• Uso mais freqüente de palavrões pela classe baixa, mostrada no documentário, e
inexistente nas entrevistas da classe A:
1. Macarrão: “Certo, porra! Tu quer mais vitória di que isso? Porra, parceiro!”
Quanto à classe B:
• Exemplo:
Outro aspecto muito notado no discurso dessa classe foi o uso da interjeição “né”,
contração do adjunto de negação “nunca” com o verbo “ser”. Isso revela a preocupação por
parte do entrevistado com a qualidade de suas respostas.
2. Socorro: Satisfação no trabalho é você... Quem faz o patrão é você e quem faz você
é o patrão, né? Então, ter gosto e vontade de trabalhar e tudo se resolve.
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Além disso, há uma falta de planejamento de discurso que resulta constantemente em
frases inacabadas, sem sentido ou retomadas de forma errônea que danifica o entendimento do
discurso. Porém, como dito anteriormente, os discursos coletados são de linguagem
despreocupada e informal, ou seja, tolerante a erros.
3. Railete: Ah, eu acho, assim, nem todo mundo faz o que gosta, né? Faz o que... Faz o
que precisa. Mas independente disso, o tem que dar o melhor”.
4. Socorro: Que que eu penso sobre isso? Que não tem vontade de trabalhar.Trabalho
não é peso. Se você tem coragem você trabalha
Quanto à classe C:
• Falta de nexo entre as frases; dificuldade de dar continuidade á uma mesma idéia.
Exemplo:
1. Júllio: “Ai meu Deus... Acaba sendo um peso? Ah, mas, trabalhar naquilo que
gosta, né? Tem que trabalhar naquilo que tem amor, que gosta, que a pessoa gosta de
trabalhar, né? Tem quer ser um... Não serviço pesado, né? Depende dá pessoa. Não
ser um serviço pesado. Depende, né? Depende do serviço”.
2. Toghum: “Então... cara, mas se eu tive lucidez suficiente pra buscá cultura, pra buscá
entendê diferença social, pra buscá entendê... se eu já nasci excluído, se eu não me
direcioná pra sai dessa camada de excluído, nem que seja 10%, entendeu?”.
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• Dificuldade de compreensão sobre o que foi perguntado. Exemplo:
1. Fernanda: “Ah, eu acho que a área da saúde, que eu acho que é uma área que
nunca vai... Sempre vai precisar de profissionais. Eu acho que executivo...”.
1. Fernanda: “Ah, eu acho que hoje em dia as pessoas não tem muita alternativa, né?
Tem que trabalhar. E muitas vezes elas trabalham no que elas não gostam, mas
precisam do dinheiro”.
3. Júllio: “Manter a minha vida, né? Um salário esperto, né? De acordo com o que eu
gasto, né? É isso aí”.
5. Toghum: Eu vou continuar fazendo, mais eu preciso duma renda, preciso duma
renda, num dá pra ficá desempregado.
41
• Falta de concordância (“as duas profissão”). Exemplo:
2. Macarrão: “Agora não, que agora ta bom, mar já passei várias vergonha ali...”
3. Toghum: “Nessa dura vida existe dois caminhos: um é dourado, sim, o outro,
cheio de espinhos”.
2. Macarrão: “Num tem como, se é a música que fala em favor de quem num tem
porra nenhuma, pô!”.
3. Combatente: “Certo, é que hoje a senhora está sendo beneficiada através do seu
cartão de crédito com um benefício diretamente da Credicard, onde trata-se de um
cartão adicional. No qual a senhora poderá estar presenteando até três pessoas do
seu relacionamento com idade igual ou superior á dezesseis anos gratuitamente,
correto?”.
42
classe social estudada. Classe média, que possui um pouco de instrução, mas ainda assim não
consegue abstrair o significado total das perguntas.
Quanto à classe D:
• Observa-se o uso freqüente de expressões como “eu penso”, “eu acho”, “eu digo”,
que enfatiza sua opinião sem generalizar as respostas a um pensamento coletivo.
Exemplo:
3. Everaldo: “É um médico, advogado. Médico porque dá uma força pra gente, né?
E o advogado também”.
Toghum apresenta, diversas vezes, em seu discurso essa tentativa de ser compreendido,
de se fazer entender, ou mesmo manter contato com a pessoa a que se refere. Exemplo:
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4. Toghum: “É querê sê melhor pra mos... fazê jus a toda minha criação, entendeu?
Fazê jus a tudo o que eu passei, a todo o sofrimento que eu passei, a todo... a toda
a minha virada, entendeu? Essa minha virada de lucidez, de crescimento, de querê
tê, de querê sê, entendeu?”.
1. Antonio: “Olha, a profissão que eu deveria “dizê” que era pra “tê” mais
conhecimento era o médico e o padeiro, porque são as coisa que são um bem pela
natureza, porque através do médico agente tem saúde,né? E através do padeiro a
gente tem o pão do dia, né?”.
1. Antonio: “Conciliar quer dizer que... é uma palavra que...então é que nem eu digo
ai depende da capacidade única de cada ser humano a poder sobreviver, né? Poder
manter sua realidade, poder manter seu dia-a-dia, né?”.
6. Mônica: “é ruim pra caramba tu ficá sem grana mar num me sinto mais tão
escrava assim, caraca, trabalhava direto”.
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Nas entrevistas realizadas, observamos a falta de compreensão e expressão oral dos
entrevistados. Uso de gírias, como “barato”, “baguio”, “truta”, e erros de concordância que
mostram falta de instrução e de vocabulário, característico das entrevistas da classe D. Como
se pode perceber com as entrevistas, o vocabulário e linguagem apresentados nas entrevistas
se aproximam dos utilizados pelos integrantes do documentário.
Quanto à classe E:
Nas entrevistas com a classe E, observamos muitos registros lingüísticos que também
aparecem no documentário selecionado. Todos os entrevistados possuem ínfimo grau de
instrução educacional, chegando alguns a serem analfabetos. Ocorrências foram selecionadas
para demonstrar os desvios lingüísticos encontrados nessa classe social e a dificuldade de
compreensão das perguntas pelos entrevistados.
1. Sônia: “... um meio melhor né da gente sobreviver né, sem faze o que agente não
gosta né”.
3. Sônia: “Satisfação é deu ser uma cidadã e trabalha e ganhar meu dinheiro
honesto”.
4. Alice: “Trabalha, recebe, cuidá da minha família, da minha filha, podê ajudá o
meu próximo também”.
45
6. Mônica: “Não tô mais trabalhano, tudo bem, é ruim pra caramba tu ficá sem grana
mar num me sinto mais tão escrava assim...”.
8. Macarrão: “Os cara que começa a cantar rap lá já têm sonho de ficar
milionário... pô, e o, no Brasil o cara tem a preocupação de levar a mensagem”
9. Homem 2 : “É 5 “real”.”
10. Macarrão: “ Vai ser meus amigo, vai ser... a comunidade, parceiro”
• Repetição de palavras como uma forma de fazer com que o que está sendo dito seja
compreendido. Exemplo:
1. Sônia: “Ha, o que eu penso sobre isso... a eu acho que deveria ter um ma... um
meio melhor né da gente sobreviver né, sem faze o que agente não gosta né. Um
meio ma... melhor. O governado qualquer um ajuda as pessoas, porque você vê
muita gente carregando lixo, não gosta né e se sente às vezes humilhado. Então é
isso que eu acho”.
Macarrão prendia a atenção de quem o estava entrevistando por meio das repetições.
Exemplo:
2. Macarrão: “O rap, o rap nunca me deu nada, como eu nunca dei nada pu rap. A
gente nunca trocou nada. Eu nunca dei nada pu rap. Eu não sou ninguém no rap,
certo?”.
46
• Não entendimento das perguntas. Exemplo:
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elevada para os da classe baixa que têm aquele mesmo nível de escolaridade. Caso
comprovado pela situação trabalhista de Toghum, que terminou os estudos e mantém o sonho
de ingressar em uma faculdade, mas possui a necessidade de trabalhar informalmente, visto
que conseguir um vínculo empregatício consistente não foi possível. O mercado de trabalho é
muito restrito no Brasil, além de haver um grande preconceito em relação às classes mais
baixas.
O também chamado “trabalho por conta própria” não funciona com maiores garantias,
mas às vezes, como única solução para a necessidade de sobrevivência.
48
Já os representantes de classes mais baixas, como D e E, são pertencentes à realidades
destoantes das de representantes da classe A, evidentemente. A situação de trabalho condiz
mais com a necessidade de sobrevivência do que com a satisfação profissional. Há um
exemplo de uma pessoa entrevistada que pertence à classe E que esta a par da situação
trabalhista do cidadão brasileiro e que reclama por melhores condições nos empregos:
49
5 CONCLUSÕES
O trabalho é encarado pela população brasileira como um grande dever de suas vidas.
Alguns o vêem como necessário e bom, outros como vilão. Há uma concentração de
trabalhadores satisfeitos nas classes mais elevadas enquanto as classes mais baixas são
esmagadas por um sistema desigual que obriga a população de baixa renda a se expor a uma
vida penosa e sofrida.
Por último, há a relação entre a linguagem e a profissão, que, como dito anteriormente,
é responsável por mais uma segmentação lingüística, uma vez que o modo de fala não
50
depende só do grau de instrução e da classe social, mas sim da ocupação profissional de cada
cidadão. Aspecto esse que também foi percebido no documentário escolhido e nas pesquisas
de campo.
51
REFERÊNCIAS
COTRIM, Gilberto. História Global: Brasil e Geral. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 608 p.
FALA TU. Direção: Guilherme Coelho. Produção: Nathaniel Leclery e Érika Safira. Brasil:
Matizar Produções Artísticas, 2004. 1 DVD (74 min), son., color.
GOMES, João Carlos Teixeira. Glauber Rocha esse vulcão. Rio de Janeiro: Editora Nova
Fronteira, 1997. 637 p.
LABAKI, Amir. É tudo verdade: Reflexões sobre a cultura do documentário. São Paulo:
W11 Editores, 2005. 314 p.
LEITE, Sidney Ferreira. Cinema brasileiro: das origens à retomada. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2005. 160 p.
NASCIMENTO, Hélio. Cinema Brasileiro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1981. 120 p.
52
SALEM, Helena. 90 Anos de Cinema: Uma Aventura Brasileira. Rio de Janeiro: Sogeral,
1988. 136 p.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRASIL. Agência Nacional do Cinema. Relatório de gestão: exercício de 2005. Brasília, DF,
2005.
GEORGES, Sadoul. História do Cinema Mundial. São Paulo: Martins Editora, 1963.
RAMOS, Fernão (org.); MIRANDA, Luiz Felipe (org.). Enciclopédia do cinema brasileiro.
São Paulo: SENAC, 2000.
53
APÊNDICE I – MODELO DE QUESTIONÁRIO DE CLASSIFICAÇÃO
SOCIOECONÔMICA UTILIZADO
QUESTIONÁRIO
Nome: ___________________________________________________________________
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APÊNDICE II – PERGUNTAS UTILIZADAS NA ENTREVISTA COM A
POPULAÇÃO
1. Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o trabalho é
um peso. O que você pensa sobre isso?
3. Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
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APÊNDICE III – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE A
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Maria Adelaide: Acho real, acho real, isso... Eu acho que as pessoas que trabalham não são
felizes e deviam procurar trabalhos que deixem as pessoas felizes. Eu, por exemplo, eu... eu
faço o que eu gosto, eu trabalho com... revista, com Moda, há muito tempo, já faz uns 15 anos
que eu trabalho com isso e eu gosto, entendeu? Eu gosto do que eu faço, embora eu ganhe
pouco, mas, eu gosto do que eu faço. Quer dizer, não sei se sou feliz, ou não. Mas é a
realidade, tem muita gente que inveja, às vezes, o teu trabalho. É por isso, entendeu? Porque
não é aqueles que ele faz... Mas eu acho que as pessoas deveriam ser felizes no trabalho,
porque faz parte do seu dia-a-dia, faz parte da sua história, não é isso? Mais alguma coisa?
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Maria Adelaide: Eu acho que tudo que tá ligado a marketing e imagem visual, tudo, eu acho
que, é... é o que é moderno, hoje. Mas eu não sei se é isso que dá dinheiro.
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devem ficar: ai, que saco! Ainda falta, num tem gente que me aceita, que num quer isso, num
sei o quê! Só que vocês estão aqui batalhando, uma hora vocês vão ter retorno disso. As
pessoas vão reconhecer, entendeu? Teu trabalho... E... Eu acho que qualquer trabalho é
importante, sabe? Não importa se você faz direito, computação, sabe? Publicidade, ou
revista... Uma hora, você vai ter retorno disso... E o dinheiro vem junto, certo?
Nome: Flávio
Classificação socioeconômica A
Local: Rua Oscar Freire
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Flávio: Olha, trabalhar naquilo que você não gosta deve ser... terrível! Eu sei disso porque
eu conheço algumas pessoas que... trabalham, até comigo, que estão insatisfeitas e
atrapalham o ambiente profissional e isso não é legal... Algumas delas já mudaram de
profissão, mas é... deve ser terrível.
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Flávio: Olha, é... Que tipo de profissão? Eu não sei te dizer se existe um tipo específico de
profissão com mais reconhecimento... Talvez as profissões... que estejam na mídia, tipo... as...
esportistas, famosos, jogadores de futebol, cantores talvez sejam... porque vendam, né? Sejam
os mais... reconhecidos, né?
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trabalhando... né? Então tentar modificar alguma coisa dentro do... da área, se você acha
que gosta daquilo mesmo, veja bem se você gosta daquilo que você tá fazendo, né?
58
APÊNDICE IV – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE B
Nome: Railete
Classificação socioeconômica B
Local: Estação Sumaré do metrô
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Railete: Ah, eu acho, assim, nem todo mundo faz o que gosta, né? Faz o que... Faz o que
precisa. Mas independente disso, tem que dar o melhor.
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Railete: Nenhuma. Nenhuma. Na minha opinião, nenhuma. Eu acho que o mais que você dá
de você, o máximo que você dá não é o suficiente pra.
Nome: Socorro
Classificação socioeconômica B
Local: Estação Sumaré do metrô
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
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Socorro: Que que eu penso sobre isso? Que não tem vontade de trabalhar.Trabalho não é
peso. Se você tem coragem você trabalha.
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Socorro: Eu acho que a profissão é você estudar e você escolher o que você quer na vida, por
que você vai estudar... Profissão quem escolhe é você, estudando, né?
Entrevistador: Mas você acha, assim, que tem alguma que as pessoas dão mais valor?
Socorro:“Ah, eu não sei não.”
60
APÊNDICE V – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE C
Nome: Fernanda
Classificação socioeconômica C
Local: Estação Clínicas do metrô
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Fernanda: Ah, eu acho que hoje em dia as pessoas não tem muita alternativa, né? Tem que
trabalhar. E muitas vezes elas trabalham no que elas não gostam mas precisam do dinheiro.
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Fernanda: Ah, eu acho que a área da saúde, que eu acho que é uma área que nunca vai...
Sempre vai precisar de profissionais. Eu acho que executivo...
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
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Júllio: Ai meu Deus... Acaba sendo um peso? Ah, mas, trabalhar naquilo que gosta, né? Tem
que trabalhar naquilo que tem amor, que gosta, que a pessoa gosta de trabalhar, né? Tem
quer ser um... não serviço pesado, né? Depende dá pessoa. Não ser um serviço pesado.
Depende, né? Depende do serviço.
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Júllio: Reconhecimento? É... a profissão do metalúrgico, né? Metalúrgico. Lula. Lula foi
metalúrgico, né? Lula. Eu vou votar no Lula, né? Eu sou Lula.
62
APÊNDICE VI – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE D
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Antônio: Eu penso assim, o meio de “milhorar” a situação e o meio,o meio do horário de
trabalho né?Convocado para todos os trabalhadores brasileiros né?Que “teja” uma situação
melhor e salário mínimo, que é o menor salário da América Latina “somo o nosso”
brasileiro né?Eu acho assim, que nós “trabalhador” deveria ter mais acesso a uma
“milhora” né?É isso eu digo pra você.
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Antônio: Olha, a profissão que eu deveria “dizê” que era pra “tê” mais conhecimento era o
médico e o padeiro, porque são as coisa que são um bem pela natureza, porque através do
médico agente tem saúde,né? e através do padeiro a gente tem o pão do dia, né?
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Nome: Everaldo dos Santos
Classificação socioeconômica D
Local: Jardim Ideal – Zona Sul de São Paulo
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Everaldo: Não...não sei responder esse barato,não...
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Everaldo: É um médico, advogado.Médico porque dá uma força pra gente, né? E o advogado
também
64
APÊNDICE VII – TRANSCRIÇÃO DE ENTREVISTAS – CLASSE E
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Sônia: Ha, o que eu penso sobre isso...a eu acho que deveria ter um ma... um meio melhor né
da gente sobreviver né, sem faze o que agente não gosta né. Um meio ma...melhor. O
governado qualquer um ajuda as pessoas, porque você vê muita gente carregando lixo, não
gosta né e se sente as vezes humilhado. Então é isso que eu acho.
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Sônia: Que tem reconhecimento, acho que numa firma né. Trabalhando numa firma
registrado né, carteira registrado tudo.
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Sônia: Ha, se eu ganhasse mais né, se eu tivesse um apoio ganhasse mais. Porque o que
agente ganha é muito poco também né, mesmo trabalhando registrado. Perto do muito poco.
Principalmente quem tem criança, que tem..é..as veis vem renda mínima pra um, não vem pra
outro. Agente sofre muito com isso.
Entrevistador: Muitas pessoas trabalham a vida toda fazendo o que não gostam e, para elas, o
trabalho é um peso. O que você pensa sobre isso?
Alice: Pra elas é um peso, pra mim que tô desempregada ia sê um alívio.
Entrevistador: Ia ser um alívio?
Alice: É, ia sê um alívio...tô desempregada.
Entrevistador: Que tipo de profissão você acha, hoje, que tem reconhecimento? Por quê?
Alice: É, na verdade, é sê gerente, né?! Encarregado. Mai no momento tá todo mundo memo
na recicrage, que a recicrage é o único que a gente ta podeno recorrê.
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APÊNDICE VIII – CENAS DO DOCUMENTÁRIO DECUPADAS
Macarrão, 33 anos.
Mulher 1 : Hoje deu peru,né?
Macarrão: Oi?
Mulher 1 : Deu peru né?
Macarrão: Deu
....
Homem 1 Qual o resultado daqui “desse” ?
Macarrão: É esse “ memo”.77.
Homem 1 : É .
...
Macarrão: Dá frente,dá frente.
Mulher 2: Deu peru denovo. Todo dia agora dá ...(não foi possível compreender o final da
frase.)
...
Homem 2: ...Anota aí o que eu vou falar.52,77.( O início da frase também não foi possível
compreender o que o homem disse.)
Homem 2: ( Ele diz algo sobre fazer novas apostas no jogo do bicho,não foi possível entender
o que foi dito.)
Macarrão: É o que,12?
Homem 2 : 13 e 17.
Homem 2 : É 5 “real”.
67
Toghum, 32 anos
Toghum: Belford Roxo “ta”na área.
Toghum: Oi, tudo bem?
Toghum: Tudo bem.É, eu sou representante de uns produtos “ aí”.Dá uma olhada.
Vendedora: Preciso de óculos.
Toghum: Uma graça.
Vendedora: Você é cantor?
Toghum: Também, eu canto “ rapper”.
68
Combatente, 21 anos
Combatente: Alô, boa tarde. Por gentileza o senhor Márcio Valério?
Interlocutor:...
Combatente: Estou falando com ele?
Interlocutor:...
Combatente: O senhor tem filhos?
Interlocutor:...
Combatente: E atualmente não possui uma nova companheira ou namorada?
Interlocutor:...
Combatente: Ta certo então seu Márcio.Obrigada pela sua atenção e uma ótima tarde.
2 - Cantando rap
Macarrão
Macarrão: Ai eu digo pá você, Senhor, estou pedindo o seu perdão, ultimamente eu ando
cheio de ódio no coração, pois não consigo entender o motivo. Não sou culpado de aqui ter
nascido. Não sei se concorda comigo, devo respeito, sou seu filho. Sei. Mas não sou culpado
do que aprontei, pode crê, meio difícil o “cao” sê evitado quando você está bolado, derrubado.
Sou a vítima perfeita do diabo, que já joga do meu lado um amigo com tudo dado. Dinheiro
mole nunca foi tão fácil, pode crê, e é assim que ele compra você. O diabo age sujo, tapinha
nas costas, me fez sonhar acordado feito um idiota. Móveis que faltam, casa própria. Aceitar
de cara a proposta, questão de tempo, pra não aceitar tem de ter procedimento. Desesperei.
Não pensei. Não deu tempo, quando eu vi, já tava dentro, e não dava pá voltá. Sei que tava
errado, mas não vô chorá.Eu não pedi pra nascer na favela, no meio da miséria, do ódio e da
69
guerra, ai já era, endurece o coração. Por isso elevo o pensamento e peço compreensão, se me
julgar merecedor, Senhor, retire de mim o rancor!
Macarrão começa a conversar com o entrevistador: Caralho! Fala tu?! Vai ficá de acordo?
Macarrão: Num basão sinistro? Geral tomando em cima da laje, como? Mó bondão...caralho!
Fala tu!
Toghum
Toghum: Não adianta desesperar, aja com calma e coração. Isso é apenas uma canção.
Depende de você. Encontre sua direção. Dê uma virada certa na vida. Serás uma pessoa bem
sucedida. Larga essa vida cheia de perigos. Tire a cara das drogas, põe a cara nos livros.
Nessa dura vida existe dois caminhos: um é dourado, sim, o outro, cheio de espinhos. Se você
não mudar, não vai vencer, não vai fazer a sua vida acontecer, pois depende apenas de você,
porque a vida é uma.
Mônica
Mônica: Eternamente hips. Paz, amor, antiguerra. Será que isso já era no mundo capitalista?
Isso é papo de ativista, careta, talvez, mas amanhã é a sua vez. Uma bala perdida vai roubar o
seu futuro e agonizando vai lembrar que quis mudar o mundo. A nossa hipocrisia é o que nos
mata, cara. Aquele revolucionário já queimou a farda e se rendeu ao comodismo e finge que
não vê. Mas o descaso dominou você e nem deu tempo de correr e refazer o futuro. Passamos
nossas vidas sempre em cima do muro.
3 - Porque da música
Macarrão
70
Macarrão: A minha música não é de bandido, minha música... Ela vai ser considerada música
de bandido porque... É o, é o tema que ninguém quer escutar, tá ligado? É a agonia que, que, é
a agonia que quem vive é a gente. Eu não faço música de protesto. Eu faço, faço crônica do
cotidiano, tá ligado? Eu num quero protestar. Negócio de protesto... cunversa fiada. Num é
música de bandido, mas bandido vai gostar de ouvir, trabalhador também vai gostar, agora
playboy num vai gostar, polícia num vai gostar... É por aí. Playboy num vai gostar, polícia
num vai gostar... Playboy vai gostar de repente tamém porque acha fantástico... tá ligado?
Acha viaje o... o... o... cotidiano de se viver numa favela e coisa e tal.
Macarrão: Num tem como, se é a música que fala em favor de quem num tem porra nenhuma,
pô! O rap é nosso!... De repente eles inventaram, mas é mais nosso di que deles. Os cara que
começa a cantar rap lá já têm sonho de ficar milionário... pô, e o, no Brasil o cara tem a
preocupação de levar a mensagem, de levar um, de levar um alento pro cara que vai escutar,
tá ligado? De tentar dizer pro cara que num é bem assim...
Macarrão: Hã?
Macarrão: O rap, o rap nunca me deu nada, como eu nunca dei nada pu rap. A gente nunca
trocou nada. Eu nunca dei nada pu rap. Eu não sou ninguém no rap, certo? Escrevo umas
rima, vou tentar leva o trabalho pra frente, tá ligado? Na humildade, parceiro... Num vou
esperar que ninguém goste da minha letra tamém... tá ligado? Pra mim, o termômetro de dizer
se o trabalho tá bom ou ruim... Num vai ser o próprio cara do rap, vai ser a... Comunidade... tá
ligado? Vai ser meus amigo, vai ser... A comunidade, parceiro... Se eu sair daqui do ZincoRap
e for pra outra comunidade, lá, que nem um maluco me tocou, sexta-feira, o som toca no
Jacaré e nego pede pá botá direto...
Macarrão: É...
71
Entrevistador: Qual?
Entrevistador: Ah é?
Macarrão: Certo, porra! Tu quer mais vitória di que isso? Porra, parceiro!
Toghum
Toghum: Muitos perceberam que... Caramba! Num vai dar pra mim viver de música, eu num
sei, agora... Num vai dar pra mim vive de música. Se num fosse por esse cara me chama, pra
fazê um backing pra ele, eu num voltava nunca mais a cantar. Ia ficar só estudando, na minha,
me fortalecendo, fazendo minha faculdade... Num ia voltar a cantar mais!
Mônica
Mônica: Importância? Pô... De você levar o rap pra uma comunidade carente. E... Assim... O
mais engraçado, o maravilhoso de você trabalhar em rádio comunitária, é que assim... É você,
sabe, é como você chegar assim, na casa das pessoas, sem pedir licença, com a sua música. E
conquistar todo mundo, sabe? É ser um carinho assim, enorme. Quantas vezes a gente já
recebeu carta de mães que têm seus filhos presos, entendeu? Mães de presidiários, dizendo
assim: Poxa! Se tantas outras vezes o meu filho tivesse ouvido essas músicas, tivesse ouvido
esse programa de vocês...
72
4 - Perspectivas de futuro
Macarrão
Pô, e eu fico satisfeito com isso, demoro, já é! Ta ligado? Ma num é também querê sê
derrotista, certo? É apenas analisano a realidade. Num sô derrotista, parcero. Se eu pudé
vencê de alguma forma eu vô, parcero, vô agarrá e vô vencê, parcero. Só que no momento as
condições e a pespectiva num ta me deixano vê essa vitória, ta ligado? Se ela existe, ela ta
obscurecida.
Toghum
Toghum: Me formá em jornalismo, puxá a minha faculdade pra rádio e por eu tê 32 anos, eu
invés de uma já fazê duas, entendeu? Duas faculdades que basicamente o que vai acontecê e
nesse meio tempo eu fazê uma prova pro setor de comunica...pra Polícia Federal e i pro setor
de comunicação. Eu lá, eu sei que eu vou consegui ganhar o suficiente pra mim movimentá
minha vida, estabilizar minha vida, tê meu filho tranqüilamente. Num pecisa nem vivê tão
bem, mas vivê e quem sabe, sei lá, me dando bem no setor de Comunicação e Assessoria de
Imprensa, quem sabe possa sê o primeiro porta-voz negro do Presidente da República. Teve
ninguém até hoje. Entendeu? Eu falo isso, às vezes, pros meus colegas eles começam a rir,
cara. Mas eles não têm a intensidade do desejo que eu tenho, em querê sê melhor. Num é
querê sê melhor pra pisá em ninguém. É querê sê melhor pra mos...fazê jus a toda minha
criação, entendeu? Fazê jus a tudo o que eu passei, a todo o sofrimento que eu passei, a
todo...a toda a minha virada, entendeu? Essa minha virada de lucidez, de crescimento, de
querê tê, de querê sê, entendeu? E o mais engraçado é que o hip hop, ele foi a minha linha
divisória, é a minha linha divisória com o que eu posso tê de bom, entendeu? O que eu possa
proporcionar de bom e toda podridão que ta ai fora, entendeu? Então...Cara, mas se eu tive
lucidez suficiente pra buscá cultura, pra buscá entendê diferença social, pra buscá entendê...Se
eu já nasci excluído, se eu não me direcioná pra sai dessa camada de excluído, nem que seja
10%, entendeu?
73
5 - Necessidade e Realidade
Macarrão
Entrevistador: Má tu ta recebeno!
Macarrão: Pô, mar sentado no mermo lugar? Tomando tapa di polícia. Agora não, que agora
ta bom, mar já passei várias vergonha ali di i preso na frente da mia mulhé, de os cara querê
batê nela, eu tê que tomá a frente e ganhá porrada. Ma aí que que adianta eu saí dali e assiná
cartera pá ganhá 200 conto, parceiro, por mês? O aluguel dessa casa aqui é 200, cumpadre.
Macarrão falando com o entrevistador na casa dele, segurando o filho nos braços enquanto
fala: Porra, cara, tu qué que eu te falo legal? Minha vida acabo, bandido. Isso é uma realidade
que não vai mudá. Eu to massacrado mermo, legal. Né, meu mozão? To igual robô, cara!
Desço, trabalho, subo. Desço di novo, subo outra veiz. Desço di novo, subo outra veiz e acabo
aquele negócio de ter as coisa dentro de casa e tudo mais. Sem referência dentro do barraco.
Trabalho porque tenho que sustentar as criança, se não eu tinha vasado.
Toghum
Meu negócio é o rap, mas por enquanto não ta dando certo. Eu vou continuar fazendo, mais
eu preciso duma renda, preciso duma renda, num dá pra ficá desempregado.
74
Mônica
Mônica: Não tô mais trabalhano, tudo bem, é ruim pra caramba tu ficá sem grana mar num me
sinto mais tão escrava assim, caraça, trabalhava direto.
Entrevistador: Cê acha que vai dá pra vivê de música, vai dá pra vivê de rap?
Mônica: Só pra quem qué, sabe qual é?! Cê num pode ficá contando os dias, as horas...eu vô
vivê da música.
75
APÊNDICE IX – ENTREVISTA COM A PRODUTORA MARA MOURÃO
1 - Mara, você poderia nos descrever sua formação, seus trabalhos realizados?
Sou formada em cinema na FAAP, com curso de cinema na New York University (duração de
1 ano). Fui assistente de direção em publicidade durante 6 anos. Depois dirigi inúmeros
comerciais, até 1995. Em 1996 escrevi, produzi e dirigi meu primeiro longa-metragem:
"Alô?!". Depois vieram "Avassaladoras" (2001), "Doutores da Alegria" (2005) e
"Avassaladoras - série" (2006).
Um autor pode querer retratar a realidade através de um filme documentário apenas para
levar este conhecimento ao público, ou também para denunciar algum aspecto que ache de
interesse da sociedade. Outro autor pode fazer um documentário que não tenha tanto
compromisso com a realidade, mas sim com o que ele autor pensa à respeito da realidade.
Nestes filmes o que se vê é uma tentativa de provar um ponto de vista, mostrar a fatia de
realidade que o autor crê ser relevante. Acredito que ambos os filmes sejam totalmente
válidos. E gosto muito dos docudramas, que misturam ficção com documentário. Na minha
opinião, o real objetivo de um filme, tanto faz se é um documentário ou um filme ficcional, é o
de transformar a realidade, ensinar ou pelo menos mudar e o estado de espírito das pessoas
no momento da projeção.
76
Porém acredito que um filme que fale de uma verdade ainda não muito explorada, ou mostre
esta verdade por um angulo inovador pode, mesmo alcançando um número pequeno de
pessoas, causar modificações na sociedade.
Que um filme toque o coração de uma só pessoa, mas que a leve a repensar a nossa
sociedade, já terá cumprido o seu papel. Acho que o documentário aos poucos está rompendo
o preconceito do público, chegando às salas de cinema, TV e DVD. Com certeza terá um
papel importante para fazer-nos repensar nossa realidade.
Acho que a visão de documentário com câmera invisível, na tentativa de interferir o menos
possível na realidade, está tendo que dividir espaço com o filmes que misturam ficção
(inclusive com atores), na tentativa de contar uma história.
No âmbito técnico houve grandes mudanças com a chegada das câmeras digitais, que
baratearam os custos tornando a produção de cinema mais acessível.
Argumento
Roteiro
Pré-produção
Produção / filmagem
Edição de imagem
Edição de som
Trilha sonora
Mixagem de som
Finalização de imagem e som
Distribuição
Cada diretor tem uma metodologia para entrevistar. Eu tive longas conversas com meus
entrevistados antes das filmagens e, portanto sabia o que queria perguntar na hora de rodar.
77
Mas isso funcionou para o filme DOUTORES DA ALEGRIA. Não funcionaria noutro tipo de
documentário. A maior parte das vezes é chegar e usar a sensibilidade para tentar deixar o
entrevistado à vontade para abrir seu coração.
6 - Que diferenças existem entre o cinema e o documentário com relação às suas produções e
às suas equipes técnicas?
O filme de ficção geralmente tem um orçamento maior, uma equipe maior. Afinal, a maior
parte dos documentários não tem figurinista, cenógrafo, maquiador, etc.
No caso do DOUTORES DA ALEGRIA precisei usar uma equipe mínima para interferir o
menos possível no ambiente hospitalar. Quando se produz um filme de ficção de época,
existem grandes cenários, muitos figurinos, adereços, etc.
Não acredito na imparcialidade. O mesmo assunto visto por 20 diretores dará 20 filmes
completamente diferentes. E esta diferença chama-se visão do diretor.
Existem filmes que refletem muito a opinião de um autor, como "Farenheit" do Michael
Moore que é apenas uma visão dele sobre o Bush, e nem por isso deixa de ser importante.
Documentário é um filme e, portanto pode ser inscrito na Ancine como outro filme qualquer.
Também existem concursos específicos para documentário.
O Brasil tem um problema gravíssimo que afeta a ficção da mesma forma que o
documentário: FALTA DE SALAS DE CINEMA Temos muito poucas, por volta de 2 mil
salas. Imaginem que um filme como Código Da Vince entra com 500 cópias, está ocupando
78
1/4 de todas as salas de um país. Se 3 blockbusters estão em cartaz ao mesmo tempo, temos
muito pouco espaço sobrando para o resto da cinematografia mundial. É isso que tem que
mudar.Além disso, precisamos de mais verba para a produção e distribuição.
79
APÊNDICE X – QUESTIONÁRIOS DE CLASSIFICAÇÃO SOCIOECONÔMICA
RESPONDIDOS
80
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
81
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
82
QUESTIONÁRIO
Nome: Betina
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
83
QUESTIONÁRIO
Nome: Daniele
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
84
QUESTIONÁRIO
Nome: Flávio
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
85
QUESTIONÁRIO
Nome: Jorge
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
86
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
87
QUESTIONÁRIO
Nome: Nádia
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
88
QUESTIONÁRIO
Nome: Rita
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
89
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: A
POSSE DE ITENS
90
QUESTIONÁRIO
Nome: Carina
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
91
QUESTIONÁRIO
Nome: Danilo
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
92
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
93
QUESTIONÁRIO
Nome: Josemir
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
94
QUESTIONÁRIO
Nome: Maurício
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
95
QUESTIONÁRIO
Nome: Railete
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
96
QUESTIONÁRIO
Nome: Sales
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
97
QUESTIONÁRIO
Nome: Sérgio
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
98
QUESTIONÁRIO
Nome: Socorro
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
99
QUESTIONÁRIO
Nome: Vanessa
Classificação Socioeconômica: B
POSSE DE ITENS
100
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
101
QUESTIONÁRIO
Nome: Celso
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
102
QUESTIONÁRIO
Nome: Fernanda
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
103
QUESTIONÁRIO
Nome: Jennifer
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
104
QUESTIONÁRIO
Nome: Jonas
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
105
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
106
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
107
QUESTIONÁRIO
Nome: Priscila
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
108
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
109
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: C
POSSE DE ITENS
110
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
111
QUESTIONÁRIO
Nome: Camila
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
112
QUESTIONÁRIO
Nome: Caroliny
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
113
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
114
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
115
QUESTIONÁRIO
Nome: Joaquina
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
116
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
117
QUESTIONÁRIO
Nome: Manuel
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
118
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
119
QUESTIONÁRIO
Nome: Rosana
Classificação Socioeconômica: D
POSSE DE ITENS
120
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
121
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
122
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
123
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
124
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
125
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
126
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
127
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
128
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
129
QUESTIONÁRIO
Classificação Socioeconômica: E
POSSE DE ITENS
130
131
ANEXO I – ENTREVISTA DE NATHANIEL LECLERY AO SITE CINEWEB
132
133
134
135
ANEXO II – ANCINE – LISTA DE LANÇAMENTOS NACIONAIS 2005
136
137
138