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Biografia

Ernesto Nazareth nasceu na casa Nº 9 da Rua do Bom Jardim (atualmente Rua Vidal de Negreiros),
no antigo Morro do Nheco (hoje Morro do Pinto), na região do Porto do Rio de Janeiro. Era filho do
despachante aduaneiro Vasco Lourenço da Silva Nazareth e de D. Carolina Augusta da Cunha
Nazareth. Sua mãe foi quem lhe apresentou ao piano e lhe ministrou as primeiras noções do
instrumento, mas após a sua morte, em 1874, Nazareth passou a receber lições de Eduardo
Rodolpho de Andrade Madeira, amigo da família, e, mais tarde, de Charles Lucien Lambert, um
afamado professor de piano de Nova Orleans, aqui radicado e grande amigo de Louis Moreau
Gottschalk.

Aos 14 anos compôs sua primeira música, a polca-lundu "Você bem sabe", editada, no ano
seguinte, pela famosa Casa Arthur Napoleão.

Em 1879, escreveu a polca "Cruz perigo" (na verdade seu primeiro tango). Em 1880, com 17 anos
de idade fez sua primeira apresentação pública, no Club Mozart. No ano seguinte, compôs a polca
"Não caio n'outra", seu primeiro grande sucesso, com diversas reedições. Em 1885, apresentou-se
em concertos em diferentes clubes da côrte. Em 1890, teve publicado o tango "Cruz perigo" pela
Casa Viúva Canongia, situada na Rua do Ouvidor. Neste mesmo ano, publicou uma nova polca,
"Atraente", que, como a anterior, obteve grande sucesso no Rio de Janeiro. Em 1893, a Casa Vieira
Machado lançou uma nova composição sua, o tango "Brejeiro", com o qual alcançou sucesso
nacional e até mesmo internacional, na medida em que a Banda da Guarda Republicana de Paris
passou a incluí-la em seu repertório, chegando até mesmo a gravá-la.

Em 14 de julho de 1886, casou-se com Theodora Amália Leal de Meirelles, com quem teve quatro
filhos: Eulina, Diniz, Maria de Lourdes e Ernestinho.

Seu primeiro concerto como pianista realizou-se em 1898. No ano seguinte foi feita a primeira
edição do tango "Turuna". Em 1905, teve sua primeira obra gravada, o tango "Brejeiro" pelo cantor
Mário Pinheiro com o título de "O sertanejo enamorado", com letra de Catulo da Paixão Cearense.
No mesmo período, a Banda da Casa Edson gravou seu tango "Escovado", que fez bastante sucesso.
Em 1908, começou a trabalhar como pianista na Casa Mozart. No ano seguinte, participou de recital
realizado no Instituto Nacional de Música, interpretando a gavotta "Corbeille de fleurs" e o tango
"Batuque".

Em 1919, começou a trabalhar como pianista demonstrador da Casa Carlos Gomes - mais tarde
Carlos Wehrs - à Rua Gonçalves Dias, de propriedade do também pianista e compositor Eduardo
Souto, com a função de executar músicas para serem vendidas. Na época a maneira mais corrente
de tomar contato com as novidades musicais. Não havia rádio, os discos eram raros, e o cinema,
mudo. Em 1921, a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro gravou os tangos
"Sarambeque" e "Menino de ouro" e a valsa "Henriette". E dois anos depois, Heitor Villa-
Lobos dedicou a ele a peça "Choros nº 1", para violão.

Intérprete constante de suas próprias composições, Nazareth apresentava-se como "pianista em


salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais. De 1910 a 1913, e de 1917 a 1918, trabalhou
na sala de espera do antigo Cinema Odeon (anterior ao da Cinelândia), onde muitas personalidades
ilustres iam àquele estabelecimento apenas para ouvi-lo. Foi em homenagem à famosa sala de
exibições que Nazareth batizou sua composição mais famosa, o tango "Odeon" (em parceria com
seu aluno e amigo Ubaldo Leal). No mesmo Cine Odeon travou conhecimento, entre outros, com o
pianista Arthur Rubinstein e com o compositor Darius Milhaud, que viveu no Brasil
entre 1916 e 1918 como secretário diplomático da missão francesa.

"Seu jogo fluido, desconcertante e triste ajudou-me a compreender melhor a alma brasileira",
declarou Milhaud sobre Ernesto Nazareth. Trechos de canções de Nazareth foram aproveitadas por
Milhaud em suas composições "O Boi no Telhado" e "Saudades do Brasil".

A entrada de Ernesto Nazareth no ambiente erudito deu-se em 1922, quando, a convite do


compositor Luciano Gallet, participou de um recital no Instituto Nacional de Música do Rio de
Janeiro, onde executou os tangos "Brejeiro", "Nenê", "Bambino" e "Turuna". Esta iniciativa
encontrou muita resistência, tendo sido necessária a intervenção policial para garantir a realização
do concerto.

Em 1926, a Cultura Artística de São Paulo preparou uma homenagem ao compositor, que ainda deu
recitais no Teatro Municipal e no Conservatório Dramático e Musical de Campinas. No mesmo ano,
o escritor Mário de Andrade proferiu conferência sobre o compositor na qual afirmou: "Por todos
esses caracteres e excelências, a riqueza rítmica, a falta de vocalidade, a celularidade, o pianístico
muito feita de execução difícil, a obra de Ernesto Nazaré se distancia da produção geral congênere.
É mais artística do que a gente imagina pelo destino que teve, e deveria estar no repertório dos
nossos recitalistas. Posso lhes garantir que não estou fazendo nenhuma afirmativa sentimental não.
É a convicção dessassombrada de quem desde muito observa a obra dele. Se alguma vez a
prolixidade encomprida certos tangos, muitas das composições deste mestre de dança brasileira são
criações magistrais, em que a força conceptica, a boniteza da invenção melódica, a qualidade
expressiva, estão dignificadas por uma perfeição de forma e equilíbrio surpreendentes". Em 1927,
Nazareth retornou ao Rio de Janeiro.

Foi um dos primeiros artistas da Rádio Sociedade (atual Rádio MEC do Rio de Janeiro). Em 1930,
concluiu sua última composição, a valsa "Resignação". No mesmo ano, gravou ao piano a polca
"Apanhei-te cavaquinho" e o tango brasileiro "Escovado", de sua autoria. Em 1932, apresentou pela
primeira vez um recital só com músicas de sua autoria em um concerto precedido por uma
conferência de Gastão Penalva. Neste mesmo ano realizou uma turnê pelo sul do país.

Vivia em uma casa no bairro de Ipanema. Nos final dos anos 1920, Nazareth passou a sofrer uma
contínua perda da audição. Oficialmente, atribuiu-se o mal a um tombo, mas na verdade a surdez
era decorrente das primeiras manifestações de sífilis. A mesma doença o faria enfrentar uma série
de problemas mentais, que motivaram sua internação na colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá.

No dia 1 de fevereiro de 1934, Nazareth fugiu do manicômio. Seu corpo só foi encontrado três dias
depois, em avançado estado de decomposição, próximo a uma cachoeira. Foi sepultado
no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, mesma região da cidade onde nasceu.
Deixou 211 peças completas para piano. E suas obras mais conhecidas são: "Apanhei-te,
cavaquinho!…", "Ameno Resedá" (polcas), "Confidências", "Coração que sente", "Expansiva",
"Turbilhão de beijos" (valsas), "Bambino", "Brejeiro" e "Duvidoso" (tangos brasileiros).
[editar]Importância musical

Ernesto Nazareth junto ao piano


Suas composições, apesar de extremamente pianísticas, por muitas vezes retrataram o ambiente
musical das serestas e choros, expressando através do instrumento a musicalidade típica do violão,
da flauta, do cavaquinho, instrumental característico do choro, fazendo-o revelador da alma
brasileira, ou, mais especificamente, carioca. A esse respeito, diz o musicólogo Mozart de Araújo:
"As características da música nacional foram de tal forma fixadas por ele e de tal modo ele se
identificou com o jeito brasileiro de sentir a música, que a sua obra, perdendo embora a sua
funcionalidade coreográfica imediata, se revalorizou, transformando-se hoje no mais rico
repositório de fórmulas e constâncias rítmico-melódicas, jamais devidas, em qualquer tempo, a
qualquer compositor de sua categoria". Na produção musical do compositor, destacam-se
numericamente os tangos (em torno de 90 peças), as valsas (cerca de 40) e as polcas (cerca de 20),
destinando-se o restante a gêneros variados como mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas
etc. É sabido que o compositor rejeitava a denominação de maxixe a seus tangos, distinguindo-se
daquele fundamentalmente pelo caráter pouco coreográfico e predominantemente instrumental de
sua obra. Deve-se ainda ressaltar em sua produção a influência de compositores europeus,
notadamente de Chopin, compositor cuja obra se dedicou a estudar meticulosamente e cuja
inspiração se reflete, sobretudo, na elaboração melódica de suas valsas.

Ernesto Nazareth ouviu os sons que vinham da rua, tocados por nossos músicos populares, e os
levou para o piano, dando-lhes roupagem requintada. Sua obra se situa, assim, na fronteira do
popular com o erudito, transitando à vontade pelas duas áreas. Em nada destoa se interpretada por
um concertista, como Arthur Moreira Lima, ou um chorão como Jacob do Bandolim. O espírito do
choro estará sempre presente, estilizado nas teclas do primeiro ou voltando às origens nas cordas do
segundo. E é esse espírito, essa síntese da própria música de choro, que marca a série de seus quase
cem tangos-brasileiros, à qual pertence "Odeon".
Mário de Andrade assim definiu Nazareth: "compositor brasileiro dotado de uma extraordinária
originalidade, porque transita com fôlego entre a música popular e erudita, fazendo-lhe a ponte, a
união, o enlace".

Em 2004, por ocasião dos 70 anos da morte do compositor, a STV em parceria com a produtora
paulistana We Do Comunicação apresentou o documentário "Ernesto Nazareth", com direção de
Dimas de Oliveira Junior e Felipe Harazim, refazendo a trajetória artística do compositor desde seu
primeiro sucesso, "Você bem que sabe", de 1877, quando tinha 14 anos. Estão presentes no
documentário declarações das pianistas Eudóxia de Barros e Maria Tereza Madeira, do compositor
Oswaldo Lacerda, e do biógrafo e compositor Luiz Antonio de Almeida, entre outros.
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